De espuma? De pedra? De ferro? De vidro? De tecido? De carne? Afinal, de que matéria são feitos os sonhos? Ou mais especificamente, como pensar a questão da materialidade das produções oníricas à luz dos escritos de Walter Benjamin? Aliás, é preciso, antes, enfrentar o desafio desta incômoda interrogação: o sonho possuiria, de fato, uma densidade rigorosamente material? Nesse caso, contrariando Heráclito de Éfeso, seria possível partilhar um mundo comum precisamente a partir da espectral objetividade do que sonhamos? Certamente, esta é uma perspectiva tão improvável quanto inquietante. Se assim não fosse, as ideias de Benjamin teriam sido aceitas sem maiores objeções a respeito. Mas, como sabemos, este não foi bem o caso. Do romantismo à dialética materialista; do estoicismo ao barroco; da psicanálise ao surrealismo: todas essas passagens, justaposições, atritos, metamorfoses e desencaixes circunscrevem a constelação do sonho em Walter Benjamin, imprimindo a suas discussões uma enorme relevância para se pensar os múltiplos nexos e as tensões produtivas entre a experiência das vanguardas artísticas, a Traumdeutung freudiana e os estudos marxistas.