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POSSIBILIDADES DE CONVERGÊNCIA ENTRE AS
HUMANIDADES DIGITAIS E A CIÊNCIA DA
INFORMAÇÃO
Monica Marques Carvalho Gallotti
1 INTRODUÇÃO
A ciência e suas diversas áreas epistêmicas têm sofrido
significativas e constantes alterações, que são um reflexo da
sociedade atual complexa e multidimensional. As mudanças, cada
vez mais céleres, ocorrem, dentre outros motivos, por causa da
convergência entre duas ou mais áreas científicas, o que faz com
que surjam novos ramos do conhecimento que se pautam em
práticas interdisciplinares, inclusive em movimentações
transdisciplinares.
Para Japiassu (1976, p.129), a interdisciplinaridade
fomenta, sobretudo, a integração entre as disciplinas e promove
um diálogo harmônico entre elas, sem que haja perda das
especificidades. Já Pombo (1993, p.10) indica que a
interdisciplinaridade pode variar desde a “[...] simples cooperação
de disciplinas ao seu intercâmbio mútuo e integração recíproca ou
ainda a uma integração capaz de romper a estrutura de cada
disciplina e alcançar uma axiomática comum”. A
interdisciplinaridade é um terreno fértil de cooperação entre
várias áreas científicas, mas parte de “[...] diálogo interdisciplinar,
que aproxime os saberes específicos, oriundos dos diversos
campos do conhecimento, em uma fala compreensível, audível aos
diversos interlocutores” (ALVES, et al, 2004, p. 140).
Souza e Dias (2011, p. 53) referem que a
interdisciplinaridade acontece por meio de uma dinâmica da
integração que “[...] se dá em dois movimentos convergentes de
forças centrípetas e centrífugas, que promovem, ao mesmo tempo,
sua identidade disciplinar e sua participação em um movimento
mais amplo de integração da ciência”. Japiassu (1976) entende que
se deve preservar a disciplina original, que é mantida
autonomamente. Para ele, a interdisciplinaridade não pode existir
se não se cumprir esse pré-requisito. Esses novos discursos que
surgem nesse escopo requerem análises mais detalhadas por parte
da comunidade científica. É necessário identificar pontos de
coincidência entre os discursos da axiomática comum supracitada,
a fim de se perceber quais são seus produtos, as metodologias e a
forma como essas “novas” disciplinas respondem aos problemas
existentes. Convém ressaltar que são necessários novos padrões de
avaliação, uma vez que projetos interdisciplinares necessitam de
parâmetros diferenciados de análises. Para além desses motivos,
por meio do estudo de áreas convergentes, é possível prever
padrões e antever tendências que possibilitem ajustar ou antecipar
estratégias e aperfeiçoar métodos de trabalho colaborativos
vigentes.
Um dos exemplos de discursos convergentes é o que se
encontra na fronteira entre as áreas das Humanidades Digitais
(HD) e a Ciência da Informação. Esses dois saberes se articulam
por meio de projetos, metodologias híbridas e produtos pontuais
de ciência.
O objetivo geral deste capítulo é de analisar o discurso
convergente entre as HD e a Ciência da Informação.
Especificamente, visa identificar as características dessa
convergência, as metodologias comuns, as novas possibilidades e
a atuação nesse campo. Com vistas a atender esses objetivos,
partimos das seguintes questões de investigação: Qual a relação
possível entre HD e Ciência da Informação? 2) Como essa
convergência tem sido representada na literatura científica da área
de Ciência da Informação?
No que diz respeito à metodologia, foram utilizadas
estratégias de pesquisa bibliográfica que visaram levantar a
fundamentação teórica expressa em conceitos relativos às HD e à
Ciência da Informação, separadamente ou de forma conjunta.
Foram consultadas fontes de informação convencionais e digitais,
como livros e artigos científicos disponíveis em bases de dados
nacionais, como a Base de Dados em Ciência da Informação
(BRAPCI), e internacionais, como SCOPUS, Web of Science, Library,
Information Science & Technology Abstracts (LISTA) e Library and
Information Science Abstracts (LISA). Para a coleta dos dados, foram
utilizadas as expressões de busca combinadas ‘Digital Humanities’
and ‘Library and Information Science’. O período da coleta foi de
novembro de 2019 a fevereiro de 2020.
2 A CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
Antes de nos reportarmos à análise dos pontos
convergentes entre as áreas supracitadas, será necessário um
entendimento geral relativo à Ciência da Informação
1
. Podemos
dizer, em linhas gerais, que essa área do conhecimento surgiu
como uma resposta a uma necessidade de organização,
processamento, tratamento e difusão da informação e de seus
produtos. Desde os tempos mais remotos, foi preciso organizar a
informação e, posteriormente, os diversos tipos de registros
gerados. A demanda de organização da informação se acentuou
no contexto pós-Segunda Guerra Mundial e deu origem à Ciência
da Informação.
Na história da Ciência da Informação, destacam-se marcos
importantes, como: o Traité de Documentation, de Paul Otlet, em
1934, considerado um documento precursor da área da
Documentação; o Repertório Bibliográfico Universal (RBU); a
criação do Mundaneum e do Instituto Internacional de
Bibliografia (IIB) e a Classificação Decimal Universal (CDU)
(PEREIRA, 2000). Todas essas iniciativas são de fundamental
importância e contribuem com a história dessa importante área.
Esses produtos inovadores têm em comum o foco voltado para a
organização e o tratamento da informação. Gilchrist (2009, p. xxiii,
tradução nossa) refere que, no início, a Ciência da Informação
objetivava aperfeiçoar e melhorar as atividades do profissional da
informação. Mais adiante foi que passou a explorar aspectos
relativos ao processo empregado para tornar as pessoas
informadas, em contraposição ao foco anterior de cunho mais
técnico. Inicialmente, a área tinha um foco mais técnico. Depois,
começou a se preocupar com o comportamento informacional e
com o atendimento às necessidades diversas de informação dos
usuários.
Outro importante elemento histórico foi a publicação do
artigo ‘As We May Think’, de Vannevar Bush, em 1945. Esse artigo
tratava o fenômeno do excesso de informação e sua recuperação.
Mais adiante, em 1958, no Reino Unido, foi fundado o Institute of
Information Scientists como resposta à necessidade crescente de
tratar dados com vistas a transformá-los em informação e
conhecimento, com o objetivo de propor metodologias nesse
campo (SILVA; FREIRE, 2012).
Pinheiro (2005, p.17) indica uma linha do tempo e aponta a
década de 1961 a 1969 como o “alvorecer de um novo campo
científico” e o firmamento de suas bases e conceitos. Nessa fase,
ressalta-se “a interface, principalmente com a Documentação, a
1
Como esse assunto tem sido coberto de forma extensiva na literatura (BELKIN, 1978,
BORKO, 1968, BUCKLAND; FREIRE, 2006, LIU, 1996; PINHEIRO, 2005;
ROBREDO, 2003, SARAECEVIC, 1996, dentre outros), não será nosso propósito
esgotar todos os aspectos históricos, mas traçar um panorama geral da Ciência da
Informação.
Informática e a Biblioteconomia, numa proliferação e
multiplicidade de conceitos e definições”. A autora reforça que,
desde que surgiu, essa área é essencialmente interdisciplinar, pois
comunga objetos científicos comuns com outras áreas científicas e
necessita de contributos de outras ciências para operar e se
consolidar. Mais adiante, ela indica a segunda fase como de 1970
a 1989. Nesse marco temporal, destaca a delimitação de seus
aspecto epistemológicos bem como a inserção das tecnologias
digitais, que contribuem sobremaneira para o avanço e a
idealização do sistema de processamento de informações. Numa
fase posterior - de 1990 em diante - destaca-se “a consolidação de
sua denominação e de alguns princípios, métodos, teorias e
debates [...]”. Depois disso, devido à ascensão das tecnologias
digitais e da Internet, surgiram possibilidades variadas no tocante
à difusão da informação.
Uma compreensão geral da Ciência da Informação é
indicada por Capurro (2003), quando situa sua evolução em
paradigmas distintos. Inicialmente menciona seu surgimento
inserindo-a como parte do paradigma físico
2
que se moldou a
partir de sistemas informáticos apoiados por terias matemáticas
da comunicação, como a proposta por Shannon e Weaver
3
. A
informação seria o foco, mas valorada do ponto de vista técnico,
ou seja, voltada para medir e processar esse recurso, observado em
seu fluxo em detrimento de seu aspecto semântico. Outro aspecto
menos enfatizado nesse paradigma é o receptor da informação - o
usuário.
Em seguida, nos anos 70 do século passado, a Ciência da
Informação evoluiu para o paradigma cognitivo e, nesse sentido,
passou a valorizar elementos ligados à percepção do usuário e seu
conhecimento (ou a falta dele) pré-existente e voltou-se para os
estudos de satisfação de suas necessidades de informação. Nesse
ínterim, valoriza as contribuições interdisciplinares oriundas da
Psicologia e da Sociologia, que auxiliam a compreender estratégias
utilizadas por usuários para o processamento mental das
informações. Uma grande contribuição são os estudos de usuários
e o design de serviços customizados para atender à demanda de
informações.
Apesar de mais abrangente, essa abordagem não tinha
como foco o contexto ou a realidade social em que se encontrava o
usuário da informação. Como alternativa para essa limitação,
surgiu, recentemente, o paradigma social, voltado para algo que
2
Grifo nosso.
3
WEAVER, Warren; SHANNON, Claude. A teoria matemática da comunicação.
Comunicação e indústria cultural. São Paulo: Companhia Editora Nacional, p. 25-37, 1978.
vai além de abarcar as necessidades informacionais do sujeito e
suas habilidades interpretativas, porquanto passa a valorizar sua
visão de mundo e o contexto social onde está inserido. O
diferencial desse paradigma consiste em compreender que a
informação é um fenômeno essencialmente social, que o sujeito é
produto do seu meio e de suas experiências e dialoga com o
próprio repertório intelectual. E para entender a informação,
aciona um conjunto de percepções de habilidades (literacias)
dirigidas ao fazer sentido da informação que recebe. O
conhecimento também é construído e difundido por meio de
motivações intrínsecas. Tanus (2014), ao relacionar os paradigmas
da Ciência da Informação com os “estudos de usuários”, ressalta:
“[...] no caso da Ciência da Informação, a noção básica que
perpassa os paradigmas é o conceito de informação que,
conforme a sua inserção nos distintos modelos, modifica o
entendimento que se faz do usuário e, consequentemente, da
própria Ciência da Informação” (TANUS, 2014, p. 144).
É no paradigma social que o usuário recebe mais atenção,
porque o próprio conceito de informação passa a ser atrelado à
interpretação desse usuário vinculado aos múltiplos contextos
sociais em que vive e com os quais se relaciona cotidianamente
(TANUS, 2014). Assim, a informação começou a ser valorizada
ligada a um domínio em que “[...] seria melhor compreendida
sendo estudada a partir dos domínios de conhecimento (domain
analysis) relacionados à suas comunidades discursivas (discourse
communities)” (HJØRLAND, 2017, p. 437).
Fica evidente que a Ciência da Informação alterou sua
compreensão epistêmica, devido à mudança dos conceitos centrais
de usuário e de informação que estão intimamente ligados às
transformações sociais e tecnológicas. As respostas para as
necessidades dos usuários e o trato quanto à organização, ao
armazenamento e à disseminação da informação foram caminhos
mais complexos que demandaram o diálogo com outras áreas.
Diante do exposto, vimos que a Ciência da Informação
evolui como resposta ao desenvolvimento das tecnologias digitais
e da necessidade de consumir informação organizada, tratada e
ligada aos sujeitos que a consomem. Saracevic (1996, p. 42) a
reconhece como um campo interdisciplinar, pois considera que ela
partilha elementos comuns com outros campos, mas identifica que
essas relações são mutantes e que a evolução interdisciplinar está
longe de ser completada. Para o autor, a Ciência da Informação
está “[...] inexoravelmente ligada à tecnologia da informação” e o
“[...] imperativo tecnológico está impondo a transformação da
sociedade moderna em sociedade da informação, era da
informação ou sociedade pós-industrial”. Por fim, considera que
essa ciência desempenha um papel ativo na evolução da sociedade
da informação.
Araújo (2017, p. 27) assevera que “[...] a história da Ciência da
Informação é marcada por diversidade de modelos e campos de
estudos, e variados objetos empíricos têm evidenciado a
inexistência de um corpo teórico unificado e acabado”.
Consideramos que a Ciência da Informação ainda está em
constante processo de mudança e tem sob sua responsabilidade e
a de sua comunidade de prática o atendimento a mudanças
complexas impostas pela sociedade. Para atender a esse pré-
requisito, suscita contribuições interdisciplinares, convergência de
conteúdos e metodologias híbridas que surgem como forma de
resolver os problemas atuais.
3 HUMANIDADES DIGITAIS
No contexto específico das Ciências Sociais e Humanas, um
fenômeno do uso intensivo de novas tecnologias e metodologias
no tratamento de dados e de informação, sua produção,
digitalização e comunicação vem sendo reconhecido como
Humanidades Digitais (HD).
As HD têm sido descritas de forma profícua na literatura
científica e expressas por meio de várias contribuições, como as de
Fitzpatrick (2012), Gibbs (2011), Kirschenbaum (2012), Lunefeld et
al. (2012), Mccarty et al. (2004) e Warwick (2015), dentre outros. O
interesse por esse tema vem crescendo significativamente,
portanto, é preciso conceituá-lo, saber como se caracteriza, como
surge e quais as principais críticas associadas a esse contexto.
Esse termo adveio de um anseio de se classificar o que estava
ocorrendo na área das Humanidades, em âmbito geral, com a
introdução e o uso ampliado das tecnologias digitais aplicadas aos
projetos e às diversas áreas epistêmicas envolvidas. Trata-se, na
realidade, de uma nomenclatura que visa descrever, analisar e
repensar o papel das humanidades na era atual. O conceito de HD
vai além da soma dos termos Humanidades e Digitais. Essa área de
investigação revela-se como uma maneira de enquadrar e propor
teoricamente novas formas de trabalho e metodologias sobre o que
vem ocorrendo na área das Humanidades e suas subáreas no
contexto da chamada Sociedade da Informação na Era Digital.
Como se trata de um fenômeno em constante evolução, suas bases
ainda estão sendo solidificadas. Estamos testemunhando
importantes avanços na área e cada vez mais pesquisas de
importantes institutos de investigação surgem, formando hoje um
corpus teórico reconhecido e avançado sobre o assunto.
Inicialmente, a área não foi denominada de HD, mas de
Humanities Computing
4
, que expressava diretamente uma
aplicação da tecnologia às Humanidades. De acordo com
Fitzpatrick (2012) e Kirschenbaum (2012), a designação original
Digital Humanities foi utilizada, pela primeira vez, em 2004, na
obra Companion to Digital Humanities (MCCARTY, et al. 2004).
Fitzpatrick (2012) acrescenta que houve uma sugestão para se
utilizar o termo Digital Humanities em vez de Humanities
Computing, para dissociar o aspecto de “serviço” atrelado
comumente à prática recorrente da “digitalização” imbuída na
computação aplicada às Humanidades. É sabido que o conceito
ainda sofre contínuas transformações, em parte, para responder a
uma sociedade que muda constantemente, com novas variáveis
sendo introduzidas ao longo do processo. A esse respeito,
Svensson (2010) coloca que a HD ainda é um campo não unificado
e em construção. É um conjunto de práticas convergentes que
exploram um universo cujo item impresso não é mais o exclusivo
ou o meio normativo por meio do qual o conhecimento é
produzido e/ou disseminado. Em vez disso, a cultura impressa foi
absorvida, transformou-se e deu espaço a uma nova configuração
multimídia. Trata-se do uso e da aplicação de ferramentas e
técnicas digitais, que alteram a disseminação do conhecimento nas
artes e nas ciências humanas e sociais.
Quanto mais metodologias e projetos desenvolvidos e mais
resultados são alcançados, mais a sociedade e a Academia se
consolidam sua relação. A passagem mencionada anteriormente é
corroborada, conforme observamos:
Humanidades digitais é um campo vasto e ainda emergente que
engloba a prática de pesquisa em ciências humanas com uso das
tecnologias da informação. Trabalha a exploração a formas de
como as ciências humanas podem evoluir através de seu
envolvimento com a tecnologia, mídia e métodos computacionais,
(ALLIANCE OF DIGITAL HUMANITIES ORGANIZATION,
2014).
A área das HD incorpora os processos de produção e de
modelização do conhecimento e atua em sua concepção,
organização e difusão. São objetos de interesse dessa área
elementos que se reportam à criação de metodologias para
visualizar e minerar os dados, recuperar a informação e aplicar a
4
O termo está sendo utilizado no original – do inglês - porque não existe uma
tradução satisfatória para o idioma português.
tecnologia no ciclo da produção científica. Além disso, reporta-se
a elementos relativos à cultura acadêmica, ao papel das
instituições de ensino superior na era digital, ao papel dos
cientistas, dentre outros aspectos. Conforme Svensson (2010, p.
VER), os estudiosos da área se voltam para
[...] trabalhar os modelos nativamente digitais do discurso
acadêmico vigente para o público recém-emergente na esfera atual
para alcançar excelência e inovação nestes domínios, e para
facilitar a formação de redes de produção de conhecimento,
intercâmbio e difusão que são, ao mesmo tempo, global e local.
São novas linguagens, novas ferramentas e novos tempos
que requerem novas estruturas de pensamento e reflexão. No
entanto, é importante compreender como o interesse pelo assunto
ocorreu desde o seu início.
Embora não recebesse essa denominação no início, a
primeira fase do que foi considerado posteriormente como HD
5
se
deu dos anos 1990 aos anos 2000, com os primeiros projetos de
digitalização de acervos. Essa época também foi marcada pela
criação e pela melhoria de uma infraestrutura tecnológica propícia
para tais projetos e houve grande evolução de sistemas de
marcação de linguagem, sistemas de organização e classificação
da informação em ambiente computacional. Atribui-se a Roberto
Busa, um padre jesuíta italiano, o pioneirismo no uso de
computadores aplicados à área das Ciências Humanas. Ele
realizou experimentos com a análise linguística e o uso de
computadores em meados de 1940. Assim, inaugurou o que, mais
tarde, ficou conhecido como Humanities Computing.
Um segundo momento experimentado pelas HD,
denominado de ‘Humanidades Digitais 2.0’, em início de 2000,
coincide com a evolução da web 2.0, que propicia ambientes e
metodologias para se refinar informação, que passa a nascer já em
formato digital em fontes de informações também digitais. Esse
período foi profícuo para se debater sobre novos paradigmas
disciplinares e se discutir sobre a crescente convergência das áreas
e o uso de metodologias híbridas, realizadas e conjunto com as
comunidades de prática interdisciplinares. Nesse período,
destacou-se a criação de laboratórios, denominados de
collaboratories, e de grupos de pesquisa voltados para investigar e
aprofundar essas práticas
6
.
5
Em sua memória, existe o Busa Prize, que celebra os melhores projetos de HD.
Sobre isso, ver: https://bit.ly/3crWeci.
6
Na Europa, existem centros de excelência com vasta produção documental, como:
The Centre for e-Research, do Department of Digital Humanities (King’s College
Na atualidade, as HD estão se legitimando devido ao papel
marcante que a tecnologia digital vem exercendo em todas as
áreas. Conforme mencionamos, a inserção das HD é transversal às
várias áreas científicas, portanto, não é exclusiva de determinado
tipo de ciência. Ela visa propor soluções para os diversos tipos de
perguntas de pesquisa por meio de metodologias computacionais
inovadoras.
Assim, com a diversidade de culturas epistêmicas existentes,
é necessário criar estratégias para incrementar a colaboração entre
pares, possibilitar a convergência de conteúdos e as contribuições
de cada uma das áreas sobre um objetivo comum, elaborar
metodologias de trabalho adequadas que atendam ao panorama
multidimencional atual e discutir sobre o papel da Academia no
tocante às formações profissionais, dentre outros aspectos. Essas
reflexões são imprescindíveis para se avançar mais no assunto.
Esse é um novo modo de pensar na cultura e nas ciências sociais
com a incorporação do digital em suas variadas práticas de
manifestações. As HD propõem novos constructos e abrigam
novas ideologias e novas formas de mediar e de representar o
corpus e o conhecimento produzido pela ciência por via da
tecnologia digital. Assim, suscitam um olhar mais rico e menos
pautado por fronteiras artificiais de organização do conhecimento,
o que possibilita, novas práticas para interpretar a realidade.
Entendemos que as HD se configuram como resposta para
um anseio, uma necessidade de (re) pensar as práticas de
comunicação e produção que estão ocorrendo na sociedade. Nessa
London), o Univeristy College London Centre for Digital Humanities, do Reino Unido,
e o Trinity College, que reúne especialistas de áreas variadas que convergem para a
área das HDs. Dentre outras iniciativas importantes na Europa, há a Digicult, a
Europeana e a European Association for Digital Humanities (EADH). Já nos Estados
Unidos da América, devido à sua vasta extensão territorial, existe uma quantidade
maior de centros de investigação na área. Nesse contexto, destacam-se: o The
Catapult Center for Digital Humanities & Computational Analysis, da Indiana
University, a Maryland Institute for Technologies in the Humanities, o Center for Digital
Humanities, da University of California. O Canadá também apresenta boa
representatividade por meio da Canadian Society for Digital Humanities e da
University of Victoria, na Faculty of Humanities. Em outros países, como Portugal e
Brasil, o assunto também tem recebido mais atenção. Em relação a Portugal,
registra-se a Associação das Humanidades Digitais (AHDig), uma rede de
pesquisadores de língua portuguesa que reúne profissionais interessados na
temática. Já no Brasil, há o Grupo de Pesquisa em Humanidades Digitais da
Universidade de São Paulo, que tem servido como aglutinador de interesses para
pesquisadores da área, bem como o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência
e Tecnologia (IBICT) ou, ainda, o Grupo de Pesquisa de Tecnologias e
Comunicação em Instituições de Memória (GPTICIM) da Fundação Casa Rui
Barbosa, o Imago e Humanidades Digitais da Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE) e Representação e Humanidades Digitais da Universidade
Federal de São Carlos (UFSCAR), dentre outros.
perspectiva, fornecem o cabedal teórico e prático a partir das
investigações e das inovações feitas nesse contexto. Ressaltamos
que
as humanidades digitais representam uma grande expansão do
alcance das humanidades, precisamente porque traz valores,
trabalha em torno de práticas interpretativas e representacionais,
com a adoção de estratégias para se fazer sentido, discutindo as
ambiguidades de lidar com o conhecimento no mundo. É uma
abordagem, global, trans-histórica e trans-média do conhecimento
cruciais para a modelagem de domínios da cultura em sociedade.
(LUNENFELD, et al. 2012, p. 2, tradução nossa).
Como vimos, a cultura e a produção de conhecimentos
precisam ser repensadas. Novas metodologias de alcance global
devem privilegiar a multiplicidade de ferramentas tecnológicas
existentes, linguagens, diversidade de mídias e expressões
possíveis do conhecimento que precisam ser reconsideradas em
sua totalidade. O ambiente acadêmico e tudo à sua volta estão
mudando em alta velocidade, razão por que é necessário
compreender como o conhecimento é produzido e modelado,
como as pessoas colaboram entre si, que tipos de plataforma
utilizam, que tipos de produtos de informação e conhecimento
criam, como constroem um conhecimento colaborativo e como a
informação tem sido difundida.
Ressalte-se, no entanto, que a própria Academia não aceita as
HD pacificamente. Todo novo constructo demora um pouco a
incorporar-se na ciência e não está livre de críticas. Ao contrário,
são fundamentais o debate e uma avaliação por parte dos pares.
Assim, só com a maturação dos seus preceitos é que novas ideias
podem ser aceitas e fundamentadas na ciência. Em seguida,
reportar-nos-emos às críticas às HD.
7
Um dos posicionamentos críticos em relação a essa área é o
fato de ela ser um modismo passageiro, uma buzzword, como
tantos outros que afetam a Academia, ou apenas uma “nova
roupagem” para velhas práticas (GOLD, 2012; KIRSCHENBAUM,
2012). Pannapacker (2013) menciona outro elemento crítico que
indica que as HD seriam elitistas e exclusivistas, porque
necessitam de recursos de grande porte para fazer com que os
projetos da área funcionem, o que, nem sempre, é acessível a
todos, especialmente a países em desenvolvimento com a
potencialidade de colaborar para o surgimento de assimetrias
nesse campo.
7
Grifo nosso
Além dos elementos mencionados, há certa ambiguidade
quando se compreende que as HD são uma prática essencialmente
técnica, um “serviço” cujo sentido é somente o de propor
“soluções” para determinados problemas, tornando a área mais
afastada da cientificidade. Warwik (2015, p. 76, tradução nossa)
pondera sobre essa perspectiva, ao referir que “As HD emergiram
de um background ligado aos serviços de computação, através do
fornecimento de tecnologia da informação aos acadêmicos. Uma
aceitação das HD como uma disciplina séria e institucional não é
algo fácil “[...].” A autora argumenta que essa área emergiu de
uma cultura de provisão de serviços, da necessidade de encontrar
soluções tecnológicas que satisfaçam às diversas demandas
acadêmicas nas várias áreas científicas. Para ela, esse aspecto do
serviço tende a ser considerado algo de baixo prestígio acadêmico.
Por isso, desde o início, essa área tem sido relegada a um plano
inferior na Academia. Nessa direção, afirma:
As HD ainda estão buscando em definir a diferença entre o
fornecimento de recursos digitais e o que se considera atividade
acadêmica que torna tal recurso disponível. É comum que seja
percebida como serviço e não como investigação [..] ((WARWICK,
2015, p. 345).
Compreendemos que uma possível solução para esse
impasse será uma maior representação e debate sobre o assunto
na literatura científica, bem como a socialização de boas práticas e
metodologias nesse campo. Há de se levar em conta que são
múltiplas realidades e que um consenso ainda não é possível. Com
base nesse entendimento, Gibbs (2011) aponta outro aspecto
frequentemente questionado - o dos limites disciplinares. Para ele,
A expansão constante e amorfa das fronteiras das humanidades
digitais pode vir a ser um elemento complicador para a sua
avaliação... [...] as fronteiras e definição do que é uma ‘disciplina’
são difíceis de estabelecer [...] são fluídas e influenciadas por
agentes externos (como a tecnologia, o nível de competência das
pessoas, o escopo dos projetos) que a moldam. (GIBBS, 2011, p.
345, tradução nossa).
O autor traz, ainda, algumas considerações sobre o aspecto
crítico direcionado à área, as quais estão expostas no Quadro 1.
Quadro 1 - Principais críticas às Humanidades Digitais
1. 1) Não existe um discurso crítico, oficial e efetivo formado a respeito das
Humanidades Digitais.
2) Novas experiências e novas teorias são necessárias e servirão de base
para se elaborar uma melhor crítica e indicar critérios mais sólidos para
se avaliar essa área.
Fonte: Adaptado de Gibbs (2011)
Como podemos observar, uma crítica uniforme não é
aplicável. Isso ocorre devido à variedade de abordagens possíveis
nesse campo e à multiplicidade de projetos. É importante reforçar
que os projetos e a área das HD, como um todo, não podem ser
avaliados como nas ciências tradicionais, porque variam em
relação ao escopo, à aplicação e aos contextos e lidam com
elementos pluridisciplinares. Concordamos com Pombo (2004, p.
13), quando afirma que
[...] ocorre uma espécie de continuum que vai se desenvolvendo, a
partir do que seria colocado junto, com coordenação paralela de
pontos de vista, [...] uma dimensão que ultrapassa a anterior e
avança para uma combinação, convergência ou
complementaridade, no terreno intermediário da
interdisciplinaridade, e alcança algo próximo à fusão ou
unificação.
Considerando que as HD emergem essencialmente ligadas a
outras áreas, é difícil firmá-las como uma disciplina. Logo, é uma
área essencialmente multidisciplinar.
Ressalta-se a necessidade de socializar e de reusar
metodologias e práticas específicas em curso, conferir
transparência e divulgar os resultados e os impactos alcançados
com vistas a proporcionar avanços na área.
As HD vêm sendo aplicadas como alternativa para
solucionar problemas científicos e dando excelentes resultados. O
aumento de financiamentos para realizar projetos nesse âmbito, o
surgimento de centros sérios e reconhecidos de investigação em
instituições renomadas no mundo inteiro e a consequente atenção
e o debate por parte da Academia têm sido indicativos
importantes de sua relevância na ciência.
Podemos afirmar que os avanços na área das HD são
alcançados, dentre outras formas, por meio de estudos que
3) As Humanidades Digitais necessitam de diferentes modelos de
avaliação adaptados para cada tipo de contexto. As diferentes aplicações
não podem ser comparadas igualmente.
4) As guidelines existentes atualmente são muito gerais e podem não ser
aplicáveis às diferentes realidades e necessidades de projetos e de
pesquisa específicos.
5) Um discurso crítico fornecerá um cabedal importante para o público
interessado ao se debater sobre a utilidade, os valores e as desvantagens,
o que confere uma nova identidade às HD. O discurso crítico bem
elaborado poderá indicar caminhos futuros e nichos a serem explorados.
investigam como as tecnologias digitais estão impactando grupos
específicos e comunidades epistêmicas específicas e solidificadas
no ambiente acadêmico. Só por meio da análise de realidades
específicas é que podemos perceber a evolução real das práticas
acadêmicas.
3 CARACTERÍSTICAS CONVERGENTES ENTRE AS
HUMANIDADES DIGITAIS E A CIÊNCIA DA
INFORMAÇÃO
Retomando a proposta indicada no início deste capítulo,
propusemos uma reflexão sobre como ocorre a convergência entre
a Ciência da Informação e as HD. Uma das alternativas para
alcançar esse objetivo consistiu em analisar a literatura científica
da área conjunta. Para isso, foi feita uma pesquisa bibliográfica
com o auxílio de bases de dados, a fim de identificar indícios
teóricos da referida convergência.
A aproximação entre a Ciência da Informação e as HD tem
sido evidenciada na literatura de forma crescente. Cada vez mais
estudiosos vêm se interessando em analisar a interface tanto em
nível nacional (ANDRADE; DAL'EVEDOVE, 2020; MOURA,
2019; PALETTA, 2018; PIMENTA, 2016; SIQUEIRA e FLORES,
2019; dentre outros) quanto internacional (GUERREIRO;
BORBINHA, 2014; ROBINSON; PRIEGO, 2015; SULA, 2013;
KOLTAY, 2016, dentre outros).
Podemos depreender que as HD funcionam em conexão
com outros saberes, em que se podem trocar esforços e
metodologias a fim de concretizar projetos de ações conjuntas.
Inicialmente a faceta interdisciplinar das HD e os desafios que
enfrentam ao propor metodologias híbridas suscitam
contribuições de cada uma das áreas envolvidas, o que pode levar
a um consenso ou a rupturas no processo.
Um aspecto de destaque na literatura analisada é a menção
ao uso e à aplicação das tecnologias digitais na organização e no
processamento da informação
8
. Uma vez que as HD se firmam
como uma área que visa propor metodologias com o uso intensivo
das tecnologias, e esse aspecto também está presente na Ciência da
Informação, é possível afirmar que esses dois campos convergem
nesse ínterim. Essa afirmativa pode ser confirmada nesta
passagem:
8
Grifo nosso
O alcance das humanidades digitais ultrapassa largamente a
mera transferência do analógico para o meio digital, centrando-
se no desafio epistemológico e na articulação com os
conhecimentos e os métodos utilizados nas ciências humanas
com o mundo digital. (GUERREIRO; BORBINHA, 2014, p. 2)
Nessa mesma linha de pensamento, Medeiros et al (2017,
p. 247) enfatiza:
O surgir como campo interdisciplinar, as Humanidades Digitais
propõem a reflexão sobre as práticas sugeridas pela introdução
da tecnologia digital no âmbito das unidades de informação e
cultura.
De acordo com Terras (2013, p. 266, tradução nossa), essa
interface existe em um “amplo espectro de abordagens
acadêmicas, que são agrupadas por meio do interesse comum em
torno da tecnologia da pesquisa em humanidades em todos os
seus aspectos” ou “um estudo que ocorre na interseção entre as
ferramentas computacionais e variados tipos de artefatos
culturais” (SVENSON, 2010, p 34, tradução nossa). Com vistas a
indicar possibilidades práticas dessa convergência, sintetizamos
alguns elementos indicados na literatura e expusemos no Quadro
2.
Quadro 2 - Elementos convergentes com a Ciência da
Informação e as Humanidades Digitais
✓ Curadoria (crítica) de dados, descoberta e interpretação de grandes
volumes de dados baseados em algoritmos e agregação e mineração de
dados.
✓ Design de métodos para visualizar dados nas áreas das Ciências
Humanas e Sociais.
✓ Análise cultural e indicação de tendências no campo das Humanidades
e das Ciências Sociais.
✓ Interesse no estudo de redes e demais sistemas ou estruturas pelas quais
resgatam a informação registrada convencional com vistas a convertê-la
em formato digital.
Os projetos são, via de regra, colaborativos e ocorrem em ambientes
como bibliotecas, arquivos e museus.
✓ Ambas são disciplinas acadêmicas, que se originam de funções ligadas
a serviços e estão atreladas ao uso acadêmico da informação desde sua
concepção até a difusão.
✓ Pesquisa sobre práticas digitais, uso de metadados, descrição de
recursos, ontologias, curadoria de conteúdos, organização de
informação, preservação, digitalização, interatividade e experiência do
Moura (2019), Coleman e Kamboureli (2012), Robinson et al. (2015), Sula
(2013), Warwick, Terras e Nyhan (2012), Gold (2012) e Gallotti (2017).
O Quadro 2 sugere inúmeros pontos de coincidência e lócus
de pesquisa que podem acontecer de forma conjunta, agrupando
as ferramentas e os arcabouços teóricos das duas áreas científicas.
Podemos inferir que ambas as áreas respondem à necessidade de
projetos inter e transdisciplinares que carecem de usar
metodologias e técnicas combinadas variadas, bem como
repertórios mais amplos de conhecimento, e não, limitados a
determinada arena científica. Além disso, não se trata de surgir
uma terceira disciplina produto dessa convergência. Ambas as
áreas científicas podem coexistir isoladamente, mas estabelecer
diálogos quando necessário.
Conforme exposto no início deste capítulo, a ciência
praticada atualmente é complexa e multifacetada e clama por
metodologias e constructos provenientes de áreas variadas. Para
isso, é mister buscar profissionais que possam se adaptar a esse
novo contexto: “Serão necessários profissionais híbridos que
possuem conhecimento e expertise técnica de ambas as áreas”
(ZHANG; LIU, MATHEWS, 2015, p. 373, tradução nossa).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Toda área nova leva certo tempo para se adaptar e
acomodar-se, o que não é diferente na área das HD. Para Svenson
(2010), existe uma tensão entre as disciplinas tradicionais e as
iniciativas cujo objeto de estudo é o digital. De acordo com esse
autor, nem todas as áreas epistêmicas têm conseguido “acordar”
para as potencialidades que as HD oferecem, tendo em vista que
um ambiente multifacetado como esse atual requer também
metodologias diversificadas.
Ficou evidente que a convergência entre a Ciência da
Informação e as HD é possível, que ambas têm aspectos científicos
comuns e podem executar projetos conjuntos, por meio de
metodologias combinadas com potencial para responder às
usuário; herança cultural; visualização de informações; big data e
mineração de dados.
✓ Institucionalmente se localizam em unidades acadêmicas, como centros
de pesquisa e grupos de trabalho.
✓ Na comunicação científica: acesso livre à informação, linked data, open
peer review, soluções para a gestão de dados de pesquisa no campo das
Humanidades e das Ciências Sociais e papel do bibliotecário nesse
contexto.
necessidades científicas atualmente postas pela agenda complexa
da ciência.
Foi possível inferir que o lócus interdisciplinar em que se
situam é um ambiente cujo objeto de estudo é a informação,
materializada em contextos e suportes diversos e representada por
um conjunto de dados de determinada área ou conjuntos de
informações sobre certos aspectos ligados, por exemplo, ao
patrimônio cultural, geográfico e filosófico e a produtos
científicos. Souza (2015) analisa que essas práticas integrativas
atuais ganham o status de produção colaborativa uma vez que
compreendem um complexo de relações multidisciplinares,
interdisciplinares e transdisciplinares que potencializam o
compartilhamento de conceitos, métodos e teorias entre diferentes
áreas do conhecimento.
As HD têm sido alvo de muitas críticas. Portanto, podemos
ressaltar que as críticas gerais, ou a crítica pela crítica, não se
aplicam a esse contexto. E como ainda estão se firmando, uma
crítica mais elaborada e fundamentada também está por surgir.
Esse discurso crítico bem elaborado poderá indicar caminhos
futuros. Por enquanto, só existem iniciativas isoladas que ainda
não demonstraram um poder de “veto” mais solidificado.
Assim, é necessário inserir conteúdos e grupos de pesquisa
voltados para o estudo das HD e dos aspectos convergentes com
a Ciência da Informação, pelo menos em nível de pós-graduação
no Brasil, para que se discuta sobre as especificidades da realidade
nacional, uma vez que a maioria dos resultados socializados existe
em âmbito internacional e, nem sempre, são passíveis de ser
reproduzidos e/ou não atendem ao nosso contexto social, político
ou econômicos atuais.
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