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Placas móveis com grafismos rupestres paleolíticos do Terraço do Medal (Nordeste, Portugal): uma primeira análise a temas e estilos

Authors:

Abstract and Figures

In the scope of the construction of a major dam in the Northeast of Portugal in the Sabor valley, a terrace river where Upper Palaeolithic stratigraphic units were detected was excavated. In some of these layers hundreds of fragments from Palaeolithic engraved plaques were found, transforming this collection into the largest in the Iberian territory coming from an open-air site. Since the studies carried out were made in the context of salvage archaeology, it has not been possible yet to establish all the necessary data, having approached the collection as a whole, through more descriptive than interpretative readings. 1 O Plano de Salvaguarda do Património (PSP) faz parte da Empreitada Geral do Aproveitamento Hidroeléctrico do Baixo Sabor promovida pela EDP, Produção, e cuja execução é da responsabilidade do Baixo Sabor, ACE, constituído pelo consórcio ODEBRECHT/Bento Pedroso Construções S.A. e LENA, Construções. O Plano de Salvaguarda do Património tem a seguinte estrutura de coordenação: Coordenação Geral: Paulo Dordio; Coordenação de Equipas e de Estudos: Filipe Santos (Cilhades), José Sastre (Proto-história), Luís Fontes (Idade Média), Paulo Dordio (Edificado), Rita Gaspar (Pré-história), Sérgio Antunes (Acompanhamento) Sérgio Pereira (Romanização), Sofia Figueiredo (Arte Rupestre), Susana Lainho (Conservação). O Plano de Salvaguarda do Património (PSP) integra a Área do Ambiente, Qualidade e Segurança da Empreitada Geral, área coordenada por Augusta Fernandes. With this presentation we aim in the one hand to give an overall vision of this exceptional collection from the Iberian Palaeolithic as well as present some first interpretations regarding the represented themes as well as their style. With this in mind we will analyse the figurative themes materialized by the zoomorphic figures, where we can count more or less 170 representations. Among these, goats are the most represented theme, followed by horses, aurochs and the deer. Interestingly, the most represented themes are those who know less technical variability. Since the majority of the collection is from a deposit in a secondary position, and taking into consideration the lithic industry of this same layer, although we can situate the plaques collection in the Magdalenian period, a higher chronological insertion is complex. Therefor we also try to make a first approach to the issue of styles present in the collection, confronting them with the already well- known and studied sites of Vila Nova de Foz Côa and Siega Verde, geographically very close.
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| ARKEOS 37 | 1573 | XIX INTERNATIONAL ROCK ART CONFERENCE - IFRAO 2015 |
RESUMO: No âmbito da construção de uma barragem no Nordeste Transmontano,
no vale do Sabor, foi escavado um terraço fluvial onde se detetaram unidades
estratigráficas do paleolítico superior. Nalguns destes estratos foram encontrados
centenas de fragmentos de placas com gravuras paleolíticas, que constituem na
atualidade a maior coleção de ar livre registada em território ibérico. O
enquadramento empresarial dos trabalhos não permitiu um estudo aprofundado da
coleção nas suas diversas vertentes, tendo-se abordado a mesma no seu conjunto,
através de leituras mais descritivas que interpretativas.
O trabalho que agora apresentamos, procura por um lado dar essa mesma visão de
conjunto de uma coleção excecional do paleolítico ibérico, bem como ensaiar
algumas primeiras interpretações, nomeadamente no que respeita aos temas
representados e aos seus estilos. Serão assim analisados os temas figurativos
zoomorfos, onde contamos com um total de cerca de 170 motivos. Dentro destes
são os caprídeos que conhecem um número mais elevado de representações,
seguindo-se os equídeos, os bovídeos e por fim os cervídeos. É interessante notar
que os temas mais representados são aqueles que conhecem uma menor
variabilidade técnica. Uma vez que a maioria da coleção é proveniente de um
depósito em posição secundária e atendendo aos materiais líticos aí presentes,
apesar de cronologicamente situada no Magdalenense, uma inserção cronológica
mais fina é complexa. Deste modo, procuramos também aqui fazer uma primeira
abordagem à questão dos estilos presentes na coleção, confrontando-os com os já
conhecidos e melhor estudados sítios de Vila Nova de Foz Côa ou Siega Verde,
geograficamente próximos.
PALAVRAS-CHAVE: Placas móveis, Grafismos paleolíticos, Magdalenense,
Temas e Estilos
ABSTRACT: In the scope of the construction of a major dam in the Northeast of
Portugal in the Sabor valley, a terrace river where Upper Palaeolithic stratigraphic
units were detected was excavated. In some of these layers hundreds of fragments
from Palaeolithic engraved plaques were found, transforming this collection into
the largest in the Iberian territory coming from an open-air site. Since the studies
carried out were made in the context of salvage archaeology, it has not been
possible yet to establish all the necessary data, having approached the collection as
a whole, through more descriptive than interpretative readings.
Placas móveis com grafismos rupestres
paleolíticos do Terraço do Medal
(Nordeste, Portugal): uma primeira
análise a temas e estilos
SOFIA SOARES DE FIGUEIREDO
PEDRO XAVIER
LUÍS NOBRE
| ARKEOS 37 | 1574 | XIX INTERNATIONAL ROCK ART CONFERENCE - IFRAO 2015 |
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Placas móveis com grafismos rupestres paleolíticos do Terraço do Medal (Nordeste, Portugal)
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1. Introdução
O Terraço Fluvial da Foz do Medal localiza-se no vale do Sabor, con-
celho do Mogadouro e distrito de Bragança. A configuração radiada que o
rio Sabor e as ribeiras que para ele correm adquirem neste ponto geográfi-
co onde o vale se abre, transformou esta zona num importante local de pas-
sagem, bem como de ocupação humana, desde tempos paleolíticos até ao
período contemporâneo (Fig. 1). Embora seja um terraço fluvial baixo,
apenas 9 metros acima do nível do rio, contém uma sequência sedimentar
complexa com níveis de ocupação desde o Paleolítico Médio até à Idade do
Bronze (Figueiredo et al. 2014; Gaspar et al. 2014).
A intervenção arqueológica do Terraço Fluvial da Foz do Medal resul-
tou da construção do Aproveitamento Hidroeléctrico do Baixo Sabor, com
início em 2008, constituído por dois escalões e com uma afetação em área
superior a 3 000 hectares. De forma a mitigar os impactes sobre o patrimó-
nio, a partir de inícios do ano de 2010, foi implementado o Plano de Salva-
guarda do Património1.
Foi neste contexto que se deram início aos trabalhos de escavação do
Terraço Fluvial da Foz do Medal. Após uma primeira fase, onde apenas se
abriram pequenas sondagens de diagnóstico, os trabalhos em área tiveram
início em finais de 2011 tendo terminado em inícios de 2013. Assim, o
estudo que aqui apresentamos, resulta essencialmente do trabalho de labo-
ratório de dois anos, 2013 e 2014, o que, para o estudo da coleção de placas
gravadas do Medal, com 1511 exemplares, é muito pouco.
O Terraço Fluvial da Foz do Medal divide-se em duas áreas. Uma
situada na margem esquerda da ribeira do Medal e, outra, localizada na
margem direita desta mesma ribeira que, por sua vez, corre para a margem
esquerda do rio Sabor. No artigo que agora redigimos, iremos centrar o
nosso discurso na margem direita deste sítio arqueológico e na unidade
estratigráfica magdalenense (U. E. 1055) de onde foram exumadas 1257
placas gravadas, num total de 1511. Ainda que existam mais depósitos
paleolíticos com placas gravadas, o seu estudo encontra-se ainda incom-
pleto. De igual modo, importa referir que o estudo completo e detalhado do
With this presentation we aim in the one hand to give an overall vision of this
exceptional collection from the Iberian Palaeolithic as well as present some first
interpretations regarding the represented themes as well as their style. With this in
mind we will analyse the figurative themes materialized by the zoomorphic figures,
where we can count more or less 170 representations. Among these, goats are the
most represented theme, followed by horses, aurochs and the deer.
Interestingly, the most represented themes are those who know less technical
variability. Since the majority of the collection is from a deposit in a secondary
position, and taking into consideration the lithic industry of this same layer,
although we can situate the plaques collection in the Magdalenian period, a higher
chronological insertion is complex. Therefor we also try to make a first approach to
the issue of styles present in the collection, confronting them with the already well-
known and studied sites of Vila Nova de Foz Côa and Siega Verde, geographically
very close.
KEYWORDS: Portable plaques, Palaeolithic engravings, Magdalenian, Themes
and Styles.
1O Plano de Salvaguarda do
Património (PSP) faz parte da
Empreitada Geral do
Aproveitamento
Hidroeléctrico do Baixo
Sabor promovida pela EDP,
Produção, e cuja execução é
da responsabilidade do Baixo
Sabor, ACE, constituído pelo
consórcio
ODEBRECHT/Bento
Pedroso Construções S.A. e
LENA, Construções. O Plano
de Salvaguarda do
Património tem a seguinte
estrutura de coordenação:
Coordenação Geral: Paulo
Dordio; Coordenação de
Equipas e de Estudos: Filipe
Santos (Cilhades), José
Sastre (Proto-história), Luís
Fontes (Idade Média), Paulo
Dordio (Edificado), Rita
Gaspar (Pré-história), Sérgio
Antunes (Acompanhamento)
Sérgio Pereira
(Romanização), Sofia
Figueiredo (Arte Rupestre),
Susana Lainho
(Conservação). O Plano de
Salvaguarda do Património
(PSP) integra a Área do
Ambiente, Qualidade e
Segurança da Empreitada
Geral, área coordenada por
Augusta Fernandes.
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depósito magdalenense que iremos abordar, se encontra também, ainda, a
ser desenvolvido. Assim, importa apenas mencionar que se trata de um
depósito secundário, uma vez que deslizou da sua localização original, o
que provocou a fracturação de muitas placas, ainda que a integridade da
coleção esteja assegurada (Figueiredo et al. 2014; Figueiredo, Nobre et al.;
Figueiredo, Xavier et al.).
Tal como mencionado no resumo deste artigo, temos como objetivo
abordar pela primeira vez os temas figurativos presentes na coleção mag-
dalenense do Medal, a sua representatividade e os seus estilos, tentando
estabelecer analogias com outras estações de arte rupestre.
2. Metodologia
No estudo, individualização e classificação das figuras rupestres do
Medal, foram estabelecidas quatro categorias de motivos: os figurativos, os
geométricos, os abstratos e os indeterminados. Nos 1257 fragmentos de
placas magdalenenses, os motivos abstratos correspondem ao grupo domi-
nante com quase metade das representações, seguem-se os geométricos, os
FIG. 1. Localização do Terraço
da Foz do Medal na sua
margem direita, no contexto da
Peninsula Ibérica, da bacia do
Douro e do vale do Sabor.
Carta de João Monteiro.
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indeterminados e, por fim, os motivos figurativos. No entanto, são estes
últimos que nos dão mais pistas sobre estilos e eventuais cronologias, sen-
do por conseguinte o foco deste trabalho.
Na tradição dos estudos paleolíticos, o grupo dos motivos figurativos é
formado por representações de animais e seres-humanos (Sauvet 1993). De
acordo com Lorblanchet (Lorblanchet 1993a:211, 1993b), os motivos figu-
rativos tanto podem ser a representação de um objecto tendo em conta o
seu aspecto físico real como, num sentido mais amplo, se podem reportar a
uma produção consciente de uma forma que é a cópia de algo real ou de
algo imaginário. Na tipologia dos motivos figurativos do vale do Sabor,
para além de considerarmos os dois tipos tradicionalmente estabelecidos
pela arte paleolítica, consubstanciados pelos Antropomorfos e os Zoomor-
fos, consideramos ainda os seguintes tipos: Mãos, Podomorfos, Estelifor-
mes, Ramiformes, Escadiformes, Armas e Outros. Todos estes tipos foram
integrados nos motivos figurativos partindo do pressuposto de que pos-
suem um referente real, ou que aludem a uma forma concreta.
No entanto não serão aqui abordados todos os temas figurativos, res-
tringindo por enquanto a nossa análise aos motivos antropomorfos e zoo-
morfos. Relativamente a este último grupo, também só serão considerados
os animais cuja classificação é possível, deixando de fora os “Quadrúpe-
des” e os “Outros”.
Assim, do total de 1257 fragmentos, tratamos apenas de 108 que, após
as remontagens levadas a cabo pela equipa de arte rupestre do Sabor e
cujos resultados foram já publicados (Figueiredo, Nobre et al.), se materia-
lizaram em 67 placas. Nestas placas foi possível individualizar 92 motivos
figurativos que se distribuem pelas seguintes categorias: 38 caprídeos; 30
equídeos; 17 bovídeos; 6 cervídeos; e, apenas 1 antropomorfo. No ponto
que se segue, procuramos olhar com atenção cada uma destas categorias.
3. Os motivos figurativos: zoomorfos, antropomorfos e as suas associações
Das 67 placas aqui consideradas, em 49 os animais surgem de forma
isolada. Evidentemente, dada a elevada desagregação das placas, esta visão
poderá não corresponder à realidade, mas face às evidências de que dispo-
mos, estes são os dados que podemos apresentar. São em número de 4 as
placas que apresentam animais da mesma espécie associados entre si. E,
por fim, são em número de 14, as placas onde surgem associados animais
de espécies diferentes num mesmo espaço operativo. Vamos então passar a
olhar mais de perto os animais que fazem parte do bestiário magdalenense
na margem direita do Terraço Fluvial da Foz do Medal.
3.1. Caprídeos
Relativamente aos caprídeos, eles são sem dúvida o tema mais repre-
sentado na margem direita do Medal. Regista-se no entanto uma variabili-
dade estética na sua representação que merece da nossa parte alguns
comentários. Efetivamente, no primeiro artigo que escrevemos sobre as
placas gravadas do Medal (Figueiredo et al. 2014), como materialização
dicotómica desta realidade nas representações figurativas, dávamos como
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exemplos uma placa com uma representação extremamente detalhada e
naturalista de uma cabra (placa 5168) e, outra, com a representação do
mesmo animal realizado de uma forma extremamente esquematizada (pla-
ca 5031) (Fig. 2 e 3).
FIG. 2. Representação de
caprídeo na placa 5168.
FIG. 3. Representação de
caprídeo na placa 5031.
Dissemos na altura que estas variações não implicavam, à partida, dife-
rentes momentos cronológicos na sua gravação, sendo que as tomávamos
como contemporâneas. No entanto, de então para cá, e na continuação dos
estudos desenvolvidos no Medal, pensamos que as 1257 placas adstritas ao
Magdalenense poderão, efetivamente, corresponder a diferentes fases den-
tro deste mesmo período. Apesar de termos individualizado para cada pla-
ca os diferentes momentos de gravação, assim como os individualizamos
nas diferentes camadas das vectorizações por nós realizadas, não dispuse-
mos ainda de tempo suficiente para levar a cabo uma análise pormenoriza-
da. No entanto, desta futura análise poderão surgir dados relevantes que
nos permitam uma triagem cronológica para os diferentes motivos tendo
em consideração não só as sobreposições como também as associações, o
estilo e as técnicas de execução. Só após esta análise cuidada, poderemos
de facto averiguar se as placas magdalenenses gravadas do Medal corres-
pondem a uma ou a mais fases de gravação. Um dado curioso, por exem-
plo, é o facto de apesar de ser este o motivo mais representado na coleção,
é também aquele que apresenta uma menor variabilidade técnica na sua
execução (Figueiredo, Xavier, et al.).
Por fim, importa referir que o elevado número de representações deste
animal se assemelha ao que acontece na arte da Cantábria, onde o estilo
Magdalenense demonstra um aumento significativo na representação de
caprídeos, que chegam a tornar-se nos animais dominantes em locais como
El Bosque ou Covarón (González 2010).
3.2. Equídeos
No que concerne a representação de equídeos, o que atrás foi referido
relativamente à existência de um estilo mais naturalista e outro mais esque-
mático para os caprídeos, pode igualmente ser mencionado para os equí-
deos. A título de exemplo podemos referir a remontagem entre as placas
14924 e 14972 onde se vê um cavalo totalmente preenchido no seu interior
numa delicada e complexa composição pictórica e, por outro lado, a placa
5154, onde surgem três cavalos representados de uma forma bastante sim-
ples e esquematizada (Fig. 4 e 5).
Não pretendendo retomar a nossa exposição relativa à possibilidade de
estes corresponderem a diferentes períodos de gravação dentro do Magda-
lenense, importa no entanto referir a presença de diferentes soluções pictó-
ricas na representação desta espécie. Os cavalos surgem quase sempre
representados em perfil absoluto, com o focinho arredondado, por vezes
com a crina em escalão fechado, sendo que a representação das orelhas é
escassa ao invés dos olhos, figurados quase sempre através de uma forma
amendoada.
FIG. 4. Representação de
equídeo nas placas 14929 e
14972.
FIG. 5. Representação de
equídeos na placa 5154.
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FIG. 6. Representação de
auroque a picotado nas placas
4923 e 5029.
3.3. Bovídeos
A terceira espécie mais representada compreende os bovídeos num
total de 17. Estes surgem representados em perfil, com os cornos numa
perspetiva semifrontal, sendo que um é desenhado em C e outro em S.
Apresentam corpos robustos e os focinhos terminam de uma forma reta ou
modelada. Infelizmente, não temos nenhuma figura de auroque completa.
Importa referir que as representações de auroques são aquelas que apresen-
tam uma maior variabilidade técnica na sua execução, havendo até um
caso em que a técnica empregue foi o picotado (placas 4932 e 5029) (Fig.
6). Não obstante, no que se refere às convenções usadas na sua figuração,
estas parecem ser mais uniformes que as verificadas na representação de
caprídeos ou equídeos.
3.4. Cervídeos
Por fim, o cervídeo constitui sem qualquer dúvida a espécie menos
representada no acervo de figuras zoomórficas do Medal. De facto, até
aqueles zoomorfos classificados enquanto cervas ou veados nos oferecem
atualmente dúvidas, sendo que nalguns casos a sua classificação poderá vir
a alterar-se. Há no entanto um caso onde não temos dúvidas de se tratar de
uma representação de cervídeo. Falamos da remontagem de seis fragmen-
tos de placas que correspondem aos números 14707, 14931, 14932, 14933,
14934 e 14935. Infelizmente a figura não se encontra completa sendo que
apenas se percebe a espécie do animal pela representação da cornadura,
bem como da cauda e da parte traseira do animal, faltando parte do corpo,
as extremidades e a cabeça (Fig. 7).
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FIG. 7. Remontagem de seis
fragmentos de placa com a
figuração de um cervídeo numa
das faces.
3.5. Antropomorfos
De acordo com Clottes (Clottes 2008:21), são conhecidas cerca de 100
figurações humanas na arte Paleolítica, exceptuando as mãos ou represen-
tações de vulvas femininas, sendo que destas, são cerca de 20 as figurações
humanas completas. Assim, a estas, terá de se adicionar pelo menos mais
uma figuração humana completa, proveniente da margem direita do Medal.
Trata-se de um antropomorfo individualizado na placa 5879 (Fig. 8).
Como é sabido, os antropomorfos são um tema raro no âmbito da arte
paleolítica, estando geralmente representados de uma forma grotesca e/ou
pouco naturalista. O antropomorfo detetado na espantosa placa 5879 da
margem direita do Medal, placa esta com dimensões excecionalmente
grandes para o que é conhecido no Paleolítico, encontra-se virado para o
lado direito exibindo uma cabeça disforme, com uma zona parietal muito
pronunciada, bem como um prognatismo facial também ele vincado. Os
membros tanto superiores como inferiores foram figurados de modo pouco
realista; já o órgão sexual encontra-se bem marcado. São inevitáveis as
analogias entre o antropomorfo do Medal e o denominado Homem de Pis-
cos gravado no vale do Côa (Rocha 2) (Baptista 1999, 2009), quer pelas
suas similaridades, quer pela clara associação a um bovídeo em ambos os
casos. Estes dois exemplos vêm suscitar, porventura, alguma associação
particular entre antropomorfos e bovídeos, servindo-nos de algumas ideias
de carácter estruturalista avançadas algumas décadas atrás por André
Leroi-Gourhan (Leroi-Gourhan 1972, 1984).
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FIG. 8. Pormenor da placa
5879, com a figuração do
antropomorfo destacada a
vermelho.
Para além do Côa, onde são ainda patentes as semelhanças com outros
antropomorfos da rocha 24 de Piscos (Baptista 2009), podemos enunciar
pelo menos mais 3 sítios, desta feita em grutas, onde as parecenças com o
antropomorfo do Medal se evidenciam, a saber: o antropomorfo no painel
do fundo de Saint-Cirq, na Dordonha; o antropomorfo gravado numa placa
de La Colombière, em Ain; e, mais perto geograficamente de nós, na
região da Cantábria, um antropomorfo de braços levantados de Hornos de
La Peña (Leroi-Gourhan 1995).
3.6. Associação de motivos
Prosseguindo a nossa exposição sobre os diferentes zoomorfos repre-
sentados na coleção da margem direita do Medal, importa também expor
os casos onde os animais surgem associados entre si. Relativamente aos 4
casos onde animais da mesma espécie são representados juntos, há a regis-
tar uma placa onde surgem representados 2 auroques, outra com a repre-
sentação 3 cavalos e, mais 2 onde o tema são as cabras, estando agrupadas
em número de 2 e 4. Na Figura 9 vemos a placa com o maior número de
representações da mesma espécie, sendo que apenas um caprídeo se encon-
tra completo, representado com o focinho aguçado e os cornos em V curvo
aberto.
No que concerne as associações entre diferentes espécies, temos a assi-
nalar que o animal que se associa em maior número a qualquer outra espé-
cie é o cavalo. Como podemos ver na Tabela 1, este motivo associa-se tan-
to a caprídeos como a bovídeos e cervídeos. Devemos ainda referir que há
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FIG. 9. Placas 5046 e 5306
com a representação de quatro
cabras.
Tabela 1. Associação de
diferentes espécies em 14
placas do Medal.
duas espécies que nunca ocorrem juntas no mesmo espaço operativo, tra-
tando-se estes de caprídeos e cervídeos.
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4. Discussão de estilos e possíveis cronologias
No total, e exceptuando o Terraço da Foz do Medal, são conhecidos em
Portugal nove sítios de onde se exumaram peças de arte móvel. Os dois
primeiros, descobertos na década de oitenta, não serão aqui abordados
dadas as dúvidas que oferecem. Também a Buraca Grande ou a Buraca
Escura não será aqui tratada. Assim, ficam seis estações, uma de onde se
exumou uma peça de cronologia Gravettense, duas cujas peças são atribuí-
das ao Solutrense, e três cuja cronologia aponta para o Magdalenense.
Seguindo a ordem da sua descoberta, as estações são as seguintes: Gruta do
Caldeirão com 1 placa do Solutrense (Zilhão 1988:106); Quinta da Barca
Sul com 1 placa do Magdalenense Final (Luís 2008:73); Cardina I com 2
placas, sendo que uma é do Gravettense Final (Aubry 2009a:383); Fariseu
com 77 placas do Magdalenense Final (Santos 2012:43); Chancudo 3 com
1 placa do Magdalenense (Pereira 2010:235); e, Vale Boi com 2 placas do
Solutrense (Simón Vallejo et al. 2012:7).
Fora de Portugal, as estações com maior número de placas gravadas
são a já sobejamente conhecida gruta de Parpalló, com 5034 placas decora-
das, a gruta de La Merche, com 1512 fragmentos de placas gravadas, a gru-
ta de Enlène com mais de 1100 placas gravadas e, ainda, o sítio ao ar livre
de Gönnersdorf com cerca de 500 placas decoradas.
Um facto interessante por toda a Europa é a distribuição desigual da
arte móvel paleolítica pelos sítios arqueológicos. Bahn dá-nos um bom
exemplo desta situação, citando um estudo realizado em Périgord, onde se
contabilizou para setenta e dois sítios um total de 2329 objetos decorados
(Bahn 1997:43). No entanto, em apenas quatro sítios estão concentrados
66% deste acervo (La Madeleine: 582 ; Laugerie-Basse- 560; Limeuill-
176; e, Rochereil- 132) distribuindo-se os outros 36% por sessenta e oito
estações. Assim, enquanto muitos sítios paleolíticos não tem quaisquer
vestígios de arte móvel, outros apresentam apenas um ou dois exemplares
(Bahn 1997:43).
A estação arqueológica do Terraço da Foz do Medal, tanto na sua mar-
gem direita como esquerda, apresenta-se, sem dúvida, como uma das esta-
ções europeias mais importantes no que a placas com gravuras rupestres
concerne.
Não obstante, e tratando este artigo especificamente da arte Magdale-
nense, as possíveis analogias entre a coleção do Medal e outras estações
portuguesas com manifestações deste período tornam-se intrincadas. Pri-
meiro, porque em duas das estações em causa apenas foram detetadas duas
placas, uma na Quinta da Barca Sul e outra no Chancudo 3. Segundo, por-
que o levantamento e estudo aprofundado da totalidade das placas exuma-
das do sítio do Fariseu, se encontra ainda por publicar. No entanto, dada a
proximidade geográfica e a importância desta estação, vamos olhá-la um
pouco mais de perto.
A rocha I do Fariseu trata-se de um afloramento que se encontrava
coberto por níveis arqueológicos e que permitiu datar o painel como sendo
anterior a 18 400 ± 1 600 BP (Aubry 2009b:368). A escavação proporcio-
nou ainda 77 placas de arte móvel, grande parte das quais com reportório
figurativo (Santos 2012:43). Infelizmente, destas 77 placas, apenas cerca
de 15 se encontram publicadas, sendo ainda que pelo menos a revisão da
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Placa 1, publicada em 2002 (García e Aubry 2002), levou recentemente à
identificação e interpretação de uma nova figura (Aubry 2009a:386).
A grande maioria das placas do Fariseu provém da camada 4, sendo
que a mesma foi situada em termos cronológicos, através de datas TL e
OSL, entre 12 000 e 10 000 BP (e.g. Santos 2012:43). As gravuras das
peças apresentam um estilo muito uniforme, onde os temas figurados são
sobretudo cervídeos e caprídeos (Aubry 2009a:386). As figurações zoo-
mórficas são caracterizadas por corpos quase quadrangulares preenchidos
com traço inciso múltiplo, sendo que as extremidades, de dois ou quatro
membros, não são representadas (Aubry 2009a:388; Baptista 2009:66).
Para além das placas gravadas há ainda a assinalar um achado que se mate-
rializa num seixo pintado.
A cronologia atribuída às placas decoradas do Fariseu é o Magdalenen-
se Final. Ora, olhando para os zoomorfos magdalenenses do Medal, o
cenário altera-se substancialmente. Aqui, não encontramos corpos qua-
drangulares preenchido com traço inciso múltiplo, mas antes formas
redondas e mais naturalistas desenhadas por uma linha de contorno. Ainda
que surjam figuras preenchidas no seu interior, o estriado é usado para criar
volume e/ou sombras, não sendo plano como no caso do Fariseu (e.g. San-
tos 2012:44). De igual modo os temas parecem diferentes, sendo que no
Fariseu são privilegiadas representações de cabras e cervídeos, escassean-
do as representações de cavalos ou auroques. Já no Medal as representa-
ções de cervídeos são extremamente raras, ocupando as cabras e os cavalos
um lugar de superioridade numérica na coleção. Também a própria dimen-
são dos motivos nos parece distinta, sendo que no Medal há representações
de maior volumetria. Por fim uma outra característica que diferencia ver-
dadeiramente as gravuras do Fariseu e as gravuras do Medal, é a represen-
tação nesta última estação das extremidades das patas dos animais, por
vezes de uma forma absolutamente naturalista.
Atendendo aos estilos propostos por Leroi-Gourhan (Leroi-Gourhan
1995), facilmente incluiríamos as figuras do Medal no seu estilo IV Antigo
ou, nalguns casos, no estilo IV Recente. Lembramos por exemplo a seme-
lhança entre o antropomorfo da placa 5879 com o de Hornos de la Peña, aí
integrado no estilo IV Antigo, entre 15 500 e 13 000 BP (Gálvez e Cacho
2010:148).
Continuando a nossa análise tendo como paralelo o vale do Côa, mas
desta feita alargando-a para a sua riquíssima arte parietal, se até recente-
mente se defendiam dois grandes ciclos artísticos para a arte paleolítica do
vale do Côa, um Gravetto-Solutrense e outro Magdalenense, investigações
recentes tem vindo a questionar este modelo. Como é evidente, tratando-se
de arte parietal, os segmentos temporais que a medem são mais amplos e
menos precisos. Ainda assim, as fases da arte paleolítica do Côa são resu-
midas por Santos (Santos 2012:46) da seguinte forma:
“...pensamos que estamos em condições de defender a existência de
pelo menos três grandes fases de gravação no Côa durante o Paleolítico:
uma primeira gravettense ou solutrense inicial (correspondente ao período
II de Leroi-Gourhan); uma segunda que abarca um longo período com-
preendido entre o Solutrense Final e o Magdalenense Superior (correspon-
dente essencialmente ao período IV de Leroi-Gourhan) e uma última do
Magdalenense Final, integrável no estilo V do vale do Douro...”.
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Placas móveis com grafismos rupestres paleolíticos do Terraço do Medal (Nordeste, Portugal)
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Sofia Soares De Figueiredo et al
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Pelo que já expusemos, interessa-nos sobretudo a segunda fase que, de
acordo com este investigador, corresponde essencialmente ao período IV
de Leroi-Gourhan. Não obstante, e parafraseando este mesmo autor (San-
tos 2012:57), este período não se encontra tão aprofundadamente estudado
como o desejável, apresentando características que deverão ser confirma-
das e analisadas em estudos posteriores. Integram este grupo as seguintes
rochas: rocha 41 da Canada do Inferno, rocha 7 da Canada da Moreira,
rochas 4, 5, 6, 7 e 32 de Vale de Cabrões, e, rochas 2, 3, 5, 6, 7, 8, 10, 11,
21, 22, 24, 25 e 26 de Piscos. Efetivamente, nestas rochas desenham-se
figuras análogas às do Medal, como por exemplo os braços e mãos de uma
das mais estranhas figuras de carácter humanoide da rocha 24 de Piscos
(Baptista 2009:98), bem como uma cabra e outro antropomorfo do painel 3
desta mesma rocha; os cavalos da rocha 3 da Ribeira de Piscos; os caprí-
deos da rocha 4 de Vale de Cabrões; entre outros exemplos. Pensamos que
também no Côa, durante esta fase, a representação de cervídeos tende a
diminuir.
Neste momento, é-nos difícil precisar melhor em termos cronológicos
a coleção do Medal, nomeadamente no que aos momentos magdalenenses
se refere. No entanto, as semelhanças entre algumas figuras do Medal e as
representações da supracitada fase II do Côa, bem como de figuras do uni-
verso Cantábrico também inseridas no Magdalenense Inferior e Médio, são
notórias. Destacamos neste período os grafismos Cantábricos pois em Par-
palló, a partir do Magdalenense, assiste-se a uma regionalização artística
que a afastam da região Franco-Cantábrica (Villaverde 1994:79).
Terminada esta breve redação relativa às possíveis cronologias de algu-
mas das figuras do Medal, resta-nos, ainda que de forma sumária, abordar
possíveis organizações espaciais destes elementos ou as suas utilizações.
Muitos investigadores se tem debruçado sobre qual a função e signifi-
cado destas peças móveis no paleolítico. A circunstância de algumas placas
se terem encontrado partidas, com os fragmentos a metros de distância uns
dos outros, sendo que alguns dos fragmentos partidos nunca foram recupe-
rados, bem como o facto de muitas das placas revelaram vestígios de terem
sido queimadas, levou alguns investigadores a interpretarem-nas como
objetos usados em rituais com uma forte carga simbólica (e.g. Bahn
1997:90). Infelizmente, no Medal, dado que todo o depósito e os materiais
que aí se encontravam de deslocaram, não nos é possível saber qual a posi-
ção original das placas. Há no entanto a assinalar que no Medal, algumas
das placas gravadas foram sujeitas a temperaturas elevadas sendo que, nal-
guns casos, após esta exposição, foram reconfiguradas e novamente grava-
das (Figueiredo et al. 2014:16). Este aspeto, ligado ao facto de termos
várias sobreposições, sobretudo no que à fase Magdalenense respeita, leva-
nos a crer que as placas gravadas detinham uma grande importância no
seio das comunidades paleolíticas, uma vez que dispunham de muitas
outras placas semelhantes nas redondezas para gravar.
Por fim, e tomando como exemplo as estação que em termos ambien-
tais mais se aproximam do arqueossítio do Medal por se tratarem de sítios
ao ar livre, é interessante notar que tanto em Roc-La-Tour I, em França,
como em Gönnersdorf, na Alemanha, milhares de placas de xisto foram
trazidas servindo de elementos de construção, tais como fundações ou
pavimentos, sendo que em ambos os locais apenas cerca de 10% das placas
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Placas móveis com grafismos rupestres paleolíticos do Terraço do Medal (Nordeste, Portugal)
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Sofia Soares De Figueiredo et al
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se encontravam gravadas. Também nas grutas, as placas foram usadas
como pavimento, como por exemplo em Enlène, na França, ou, geografica-
mente mais perto, em Tito Bustillo no Norte de Espanha, sendo que tam-
bém aí algumas se encontravam gravadas (Bahn 1997:90-91).
5. Conclusões
As placas decoradas inserem-se no que comummente se chama de arte
móvel não utilitária e caracterizam sobretudo o Magdalenense Europeu.
Na Foz do Terraço Fluvial do Medal, foram exumadas de um contexto
fechado, ainda que secundário, 1257 fragmentos adstritos a esta cronolo-
gia. A análise dos seus temas figurativos, consubstanciados neste caso aos
zoomorfos e antropomorfos, bem como aos seus estilos de representação,
remete-nos para o Magdalenense Inferior e Médio ou para o Estilo IV. Esta
classificação foi realizada tendo em conta sobretudo os paralelos do vale
do Côa, bem como os exemplos cantábricos, estilisticamente muito próxi-
mos aos do Medal.
A coleção de placas gravadas do Medal representa sem dúvida um dos
achados de maior importância de arte paleolítica das últimas décadas, não
só a nível nacional como internacional, merecendo por isso estudos de fun-
do, que nos permitam uma compreensão mais alargada sobre as sociedades
que as manejaram e os seus propósitos.
Agradecimentos
Gostaríamos de agradecer a toda a equipa de Arte Rupestre do projeto
do Aproveitamento Hidroeléctrico do Baixo Sabor, nas seguintes pessoas:
Alvaro Cantero, António Dinis, Araceli Cristo Ropero, Dário Neves,
Gabriela Santos, Isabel Dominguez García, José Maciel, Luís Carvalho e
Rodrigo Dias. Ainda ao fotógrafo Adriano Borges e à desenhadora Renata
Morais e aos técnicos de SIG deste projeto, João Monteiro e Ana Rita Fer-
reira. Todo este trabalho não poderia ter sido efectuado sem a equipa do
Estudo da Pré-História do vale do Sabor, sob a responsabilidade de Rita
Gaspar, responsável pela intervenção arqueológica do sítio, à qual agrade-
cemos todo o apoio e necessários esclarecimentos.
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Article
Full-text available
The Tardiglacial of Portugal has been associated with the Magdalenian culture and lithic industries characterized by tool miniaturization, a diversity of microlith types, and the absence of a intentional blade production. The technological characterization, the chronology and the phasing of the Portuguese Magdalenian have been defined based on data recovered from open-air sites of the Estremadura region (Central Portugal). This paper presents an overview of the research undertaken over the last twenty-five years, including results from research and preventive archaeology fieldwork outside this region, namely in the Côa, Sabor and Vouga Valleys (northern Portugal), as well as in the Guadiana Valley and Algarve regions (southern Portugal). Our chronological boundaries are the Greenland Stadial 2-1b and the 8.2 ka event, from Early Magdalenian to Early Mesolithic. Regarding vegetation, deciduous Quercus underwent expansion during the warm phases of the Tardiglacial and retracted during cold ones, when pines increased. After the Solutrean, the faunal assemblages show a decrease in the variability of the represented species and an increase in fish, birds, small mammals and rabbits (Oryctolagus cuniculus). Concerning the cultural sequence, the Middle Magdalenian remains uncharacterised. After the Upper Magdalenian, and thenceforward, the use of local raw materials and of cores-on-flakes (burin or carinated endscraper type) for bladelet production gradually increased. In terms of lithic armatures typology, a four-stage sequence can be discerned: 1) Upper Magdalenian with axial points rather than backed bladelets, quite common in previous phases; 2) Final Magdalenian with an increase in the diversity of armature types; 3) Azilian with geometric microliths, curved backed points (Azilian points) and Malaurie points, and 4) Early Mesolithic without retouched bladelet tools or at best a persistence of Azilian armature types. There were some changes in the Palaeolithic rock art of the Douro basin between phase 3 (Final Magdalenian) and phase 4 (Late Azilian): figurative animal representations give place to animal depictions characterized by their geometrical bodies, often filled-in, and red deer becomes the best-represented animal.
Article
The use of quartz is well documented during prehistory, being the predominant raw material in the Upper Paleolithic sites located in NW Iberia. The prehistoric occupations from Sabor valley also present a preference for this lithology through the long occupation sequence, although a large range of regional and exogenous lithic raw materials are also knapped. Within the quartz varieties rock crystal seems to have an important role in some chronologies, especially since the Solutrean phase, regarding elongated products and small flake production. Several reduction strategies were applied to rock crystal although the unifacial exploitation from a 45° degree striking platform using the crystal natural edges as guidelines is the most common. Though there are some similarities within the use of this type of cores throughout the chronological sequence we can observe some differences, especially during the Early Mesolithic phase. In a regional perspective, it is possible to compare the quartz economy from occupations in Sabor valley to the ones from Côa valley, to the south, and discuss the role of rock crystal in Late Pleistocene inland human groups. It is clear that there was a technical ability to maximize a local lithic resource such as rock crystal which was exploited in order to achieve blanks similar to those obtained from flint cores.
Thesis
Full-text available
O objectivo do presente trabalho é compreender a exploração do quartzito durante o Paleolítico Superior na Faixa Atlântica Peninsular, especialmente no seu troço Sudoeste. Para tal, foram estudados conjuntos provenientes da Estremadura, do Alentejo e do Algarve, através da análise de atributos e do Método das Remontagens. Os resultados foram posteriormente confrontados com os modelos existentes tanto para a exploração desta matéria-prima como para aquilo que terá sido o comportamento geral das comunidades caçadoras-recolectoras em causa. Concluiu-se que, o quartzito foi um pilar essencial da economia destas sociedades, utilizado tendo em vista objectivos concretos e não apenas uma forma de economizar sílex; que essas sociedades desenvolveram conceitos próprios para a exploração desta matéria-prima, nomeadamente para a sua circulação na paisagem, não sendo a mesma arbitrária; que as suas características físicas não foram condicionantes desses padrões; e que esses conceitos de exploração variaram diacronicamente, sendo possível distinguir os vários sub-períodos do Paleolítico Superior. Inferiu-se ainda existir a possibilidade de, as características físicas da Península Ibérica associadas à pressão demográfica das populações neanderthais que ocupavam o seu sector Sudoeste, terem forçado os primeiros grupos de Humanos anatomicamente modernos, a mudar de uma economia baseada em sílex, muitas vezes obtida a grandes distâncias, por uma baseada em matérias-primas locais como o quartzito e o quartzo. A boa qualidade, variedade e disponiblidade dos recursos permitiu que este substrato tecnológico se mantivesse até à Idade dos Metais.
Book
Full-text available
Este livro pretende, pois, ser um guia básico para os visitantes da arte do Vale do Côa. Baseando-se na informação científica apurada até ao momento (2008), o seu objectivo é tornar o discurso científico acessível ao público do Parque Arqueológico do Vale do Côa, para que este entenda e conheça melhor a arte que vai observar, de forma a melhor usufruí-la.
Article
Full-text available
This paper presents the first evidence for Palaeolithic portable art in Southern Portugal. This include two plaques, dated between 20,500 and 19,500 BP from Solutrean levels from the site of Vale Boi, Western Algarve (Portugal). One of the pieces is a small engraved schist plaque (14,6 × 8,1 mm) with abstract lines on one side. The other artefact is an 8 × 5 cm schist plaque. One side is an oxide natural deposit, used to produce dye; the other side has three aurochs and a probable cervid. Stilistic information and the engraving sequence indicate probably production by a single artist. The stylistic characteristics are in full agreement withi those from late Gravettian and early Solutrean art known from Valencia, Andalucia (Spain) and the Côa valley (Portugal), thus confirming the absolute AMS dates from the Vale Boi Levels. En este trabajo presentamos la primera evidencia de arte mueble paleolítico en el sur de Portugal: dos plaquetas de pizarra procedentes de niveles solutrenses del yacimiento de Vale Boi, zona occidental del Algarve (Portugal). La primera de las piezas es una pequeña placa (14,6 × 8,1 mm) que presenta sobre una de sus caras un ideomorfo grabado. La segunda (8 × 5 cm) cuenta con una superficie ocupada por óxido de hierro natural de color amarillento, tiene claros indicios de extracción de mineral para producir colorantes. En la superficie opuesta han sido grabados tres uros y una posible cierva. El estilo y secuencia de los grabados apuntan a un solo artista. Las características estilísticas de los zoomorfos concuerdan bien con los rasgos comunes del arte del ciclo Gravetiense final y Solutrense antiguo del País Valenciano, Andalucía y Valle de Côa (Portugal). Esta afinidad sintoniza asimismo con las fechas AMS de los niveles solutrenses de Vale Boi, datados entre ca. 20.500 y 19.500 BP.
Edições Afrontamento e Parque Arqueológico do Vale do Côa
  • Perdido O Paradigma
O Paradigma Perdido: O Vale do Côa e a Arte Paleolítica de Ar Livre em Portugal. Edições Afrontamento e Parque Arqueológico do Vale do Côa.
Joana Carrondo Reassembly Methodology in Palaeolithic Engraved Plaques from Foz do Medal Terrace (Trás-os-Montes, Portugal)
  • Sofia Figueiredo
  • Luís Soares De
  • Araceli Cristo Nobre
  • Pedro Ropero
  • Rita Xavier
  • Gaspar
Figueiredo, Sofia Soares de, Luís Nobre, Araceli Cristo Ropero, Pedro Xavier, Rita Gaspar, e Joana Carrondo Reassembly Methodology in Palaeolithic Engraved Plaques from Foz do Medal Terrace (Trás-os-Montes, Portugal). In Sobre rocas y huesos: las sociedades pré-históricas y sus manifestaciones plásticas. Conference Proceedings of the III International Meeting of Doctorates and Post doctorates: Art in Prehistoric Societies.
Isabel Domínguez García, Dário Neves, and José Maciel Illustrating Sabor's Valley (Trás-os-Montes, Portugal): rock art and its long-term diachrony since Upper Palaeolithic till the Iron Age
  • Sofia Figueiredo
  • Pedro Soares De
  • Luís Xavier
  • Nobre
Figueiredo, Sofia Soares de, Pedro Xavier, Luís Nobre, Isabel Domínguez García, Dário Neves, and José Maciel Illustrating Sabor's Valley (Trás-os-Montes, Portugal): rock art and its long-term diachrony since Upper Palaeolithic till the Iron Age. In XVII World UISPP Congress Proceedings-BAR International Series. Gálvez Lavín, Nerea, y Roberto Cacho Toca 2010 Hornos de la Peña. In Las Cuevas con Arte Paleolítico en Cantabria, pp. 145-150. ACDPS.
  • García Diez
  • Marcos
  • Aubry Thierry
García Diez, Marcos, y Thierry Aubry 2002 Grafismo Mueble en el Valle de Côa (Vila Nove de Foz Côa, Portugal): La estación Arqueológica de Fariseu. Zephyrvs 55: 157-182.
Unidad y Variedad de la Región Cantábrica y de sus Manifestaciones Artísticas Paleolíticas. In Las Cuevas con Arte Paleolítico en Cantábria
  • González Sainz
González Sainz, César 2010 Unidad y Variedad de la Región Cantábrica y de sus Manifestaciones Artísticas Paleolíticas. In Las Cuevas con Arte Paleolítico en Cantábria, pp. 29-45. ACDPS. Leroi-Gourhan, André 1972 Considerations sur l' organisation spatiale des figures animales dans l'art parietal paleolithique. In Santander Symposium -Actas del Simposio Internacional de Arte prehistórico, UISPP, pp. 281-301. Santander.