Content uploaded by José Gomes Ferreira
Author content
All content in this area was uploaded by José Gomes Ferreira on Oct 08, 2020
Content may be subject to copyright.
1
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CARIRI
LABORATÓRIO DE ESTUDOS EM GESTÃO DE CIDADES E TERRITÓRIOS
II Simpósio de Gestão de Cidades – Pandemia, Vulnerabilidades Urbanas e Gestão de
Cidades
GT 2 - Cidades, Vulnerabilidades e Agentes Sócio-políticos
IMPACTOS DA PANDEMIA NOS ESTADOS NORDESTINOS: uma
abordagem preditiva desde a poluição atmosférica.
FIGUEREDO, Elayne de Silva
1
Universidade Federal de Rio Grande do Norte
E-mail: elaynefigueredoo@gmail.com
CASTRO ROMERO, Jair Hernando
2
Universidade Federal de Rio Grande do Norte
E-mail: jairhcasrom@ufrn.edu.br
GOMES, Matheus Fortunato Barbosa
3
Universidade Federal de Rio Grande do Norte
E-mail: fortunatomatheus@ufrn.edu.br
DANTAS, Maria Wagna de Araújo
4
Universidade Federal de Rio Grande do Norte
E-mail: wagnadantas@funcern.br
FERREIRA, José Gomes
5
Universidade Federal de Rio Grande do Norte
E-mail: jose.ferreira@outlook.com
1
Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Estudos Urbanos e Regionais da Universidade Federal de Rio
Grande do Norte.
2
Doutorando do Programa de Pós-graduação em Estudos Urbanos e Regionais da Universidade Federal de Rio
Grande do Norte.
3
Mestrando do Programa de Pós-graduação em Estudos Urbanos e Regionais da Universidade Federal de Rio
Grande do Norte.
4
Mestra e aluna do Programa de Pós-graduação em Estudos Urbanos e Regionais da Universidade Federal de
Rio Grande do Norte.
5
Doutor em Sociologia, professor da graduação em Gestão de Políticas Públicas e do Programa Pós-graduação
em Estudos Urbanos e Regionais da Universidade Federal de Rio Grande do Norte.
2
Resumo
Desde a declaração da situação de pandemia por parte da Organização Mundial de Saúde
(OMS), as sociedades humanas têm modificado seus padrões de comportamento. A intensidade
da mudança destes comportamentos pode ser analisada através de vários indicadores, que dão
conta da possível alteração dos padrões de consumo e mobilidade. Um desses indicadores é a
emissão de compostos poluentes na atmosfera. Registros satelitais permitem extrair a
concentração de NO2 e relaciona-a ao número de contágios e óbitos por COVID-19 numa região
específica. Os resultados mostram uma alta correlação entre a concentração de NO2 e a presença
de contágios no decorrer do isolamento social, evidenciando como o paradigma econômico é
um vetor fundamental do vírus. Assim, ações coesas de caráter regional e a inversão do
paradigma econômico contribuirão na resolução da pandemia.
PALAVRAS-CHAVE: Urbanidade. Vetor de contágio. Pandemia. Isolamento Social.
Emissão de NO2.
INTRODUÇÃO
As cidades latino americanas são consideradas focos de propagação e manutenção da
pandemia produzida pelo COVID-19. Essa característica é consequência direta das brechas
socioeconômicas e ambientais representadas no território. Sendo que a relação centro-periferia
(RITTER, 2009) conceitua as dinâmicas de contágio e letalidade com maior incidência nos
centros urbanos e posterior propagação para os territórios periféricos. Há diversos fatores que
contribuem para a aceleração ou não da velocidade de contágio, como: a efetividade de políticas
públicas; bem como o contexto político em que elas estão inseridas; os aspectos culturais e
comportamentais; as condições de saúde, saneamento e higiene; além do adensamento e
distribuição espacial da população (LEIVA; SATHLER; FILHO, 2020).
No caso da COVID-19, a pandemia foi iniciada pelo contágio dos viajantes que,
rapidamente, se expandiu do centro das cidades para a periferia urbana e áreas remotas com
menores condições, provocando novas vítimas e mostrando que as condições ambientais
impactam diretamente nas desigualdades sociais. Além do fato de que a falta de renda, de
serviços de saúde efetivo e de suporte social favorecem a expansão do vírus para a periferia das
cidades, onde residem populações mais vulneráveis.
No Brasil, o processo de urbanização ocorreu de forma explosivamente acelerada.
Enquanto na Europa, levou séculos para formação de grandes cidades, na década dos 40 o país
concentrava o 31% da população vivendo em grandes cidades, já nos anos 2000 atinge o 81%
(MARICATO, 2009). As nove capitais da região nordeste representam o 35.3 % dos quase 53
milhões de nordestinos, assim, modulam, dirigem e regulam os processos econômicos, de
produtos e serviços da região. Na pandemia, esta característica é fundamental no
desenvolvimento e projeção de contágios dentro da cidade e para o interior.
3
A pandemia deu o alerta no sentido da degradação do planeta, da necessidade de
mudança e em particular de cooperação, tanto na sua origem como na alteração de paradigma.
Relativamente à origem, se associa ao consumo de animais selvagens na China, uma prática
que o governo chinês anunciou que passou a ser proibida. Por outro lado, de forma mais
abrangente e com possível repetição futura, a pandemia é o resultado da degradação do planeta
e do modelo capitalista de produção e consumo, com incidência para o desmatamento na
Amazônia e o degelo de glaciares e geleiras. A crise ecológica aparece por falta de cuidado com
o meio ambiente e clima, expondo problemas ambientais e sociais evidentes e anunciados na
agenda pública durante as últimas décadas por organizações internacionais. Esta também é uma
crise humanitária resultante da condição social de grupos e comunidades sem condições básicas
de acesso a água, esgotamento sanitário, assim como saúde, educação, emprego e renda.
O isolamento social retirou as pessoas da rua, parando a circulação de veículos, o que
teve um impacto positivo no meio ambiente e deixou uma mensagem de esperança no sentido
da mudança efetiva de paradigma para uma sociedade capaz de proteger o planeta. Em poucos
meses, o movimento de pessoas em escala global mudou progressivamente e a emissão de
poluentes foi reduzida, sugerindo a ideia de um regresso do homem à natureza, da qual faz
parte, e da naturalização de espaços urbanos artificializados.
Assim, levando em consideração a diminuição das emissões gerais para a atmosfera, em
decorrência da interrupção da atividade econômica, o Dióxido de Nitrogênio (NO2) é um dos
poluentes que resulta do funcionamento da indústria, setor da pecuária e da emissão dos
automóveis, tendo reação com a concentração de Ozônio (O3), assim, a manutenção da camada
de ozônio é afetada pela presença de óxidos nítricos e seus derivados, impactando no meio
ambiente e saúde humana (RODRIGUES et al., 2020). Neste sentido, o objetivo deste trabalho
é analisar as condicionantes existentes entre a concentração de Dióxido de Nitrogênio (NO2) na
atmosfera e as taxas de isolamento social nos Estados do nordeste brasileiro. Avalia-se a
correlação entre estas duas variáveis e sua influência no aumento de casos de contágio e óbitos
confirmados por COVID-19 entre os nordestinos. Para o efeito, coletamos e analisamos dados
sobre o fluxo de contágios nos nove estados do Nordeste, bem como das emissões de NO2 e de
óbitos da COVID-19, cujos resultados são representados através de mapas e gráficos.
PERCURSO METODOLÓGICO
Para concretizar os objetivos da pesquisa procedemos a um recorte geográfico contendo
os nove estados do Nordeste brasileiro (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba,
4
Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe). Primeiramente, analisamos a evolução
dos contágios através de dados obtidos a partir das Secretarias Estaduais de Saúde e das
plataformas bing.com/covid e Brasil.IO. Tal como na primeira componente, recorremos a
mapas para mostrar a progressão da COVID-19, selecionando dados de casos confirmados em
quatro momentos da pandemia: 8 de abril, 8 de maio, 8 de julho e 8 de agosto. A seleção de
diferentes datas permite visualizar o progresso da pandemia nas cidades litorâneas,
especialmente a partir das capitais dos 9 estados e do seu avanço para áreas periféricas e rurais
de cada estado.
Em seguida, analisamos os dados de concentração de NO2 na troposfera obtidos a partir
do satélite Sentinel-5P, que emite a cada hora resultados dessa variável. No Google Earth
Engine, foi desenvolvido um script, que teve como função evidenciar as taxas de concentração
de NO2. Os resultados obtidos, serão estimativas baseadas em uma média calculada a partir dos
valores máx e min que foram encontrados dentro da filtragem de tempo. A modelagem e
preparação do material gráfico foi realizado no software QGIS 3.14.
Quanto os percentuais nas taxas de isolamentos nos nove estados nordestinos, foram
tabulados da plataforma Inloco desenvolvida para auxiliar o combate a pandemia de COVID-
19 no Brasil. Esta plataforma utiliza dados a partir da geolocalização que apresenta o
comportamento de localização de 60 milhões de brasileiros, estes usuários voluntariamente
instalam os aplicativos parceiros da Inloco e podem ou não permitir a coleta dos dados.
O Dióxido de Nitrogênio (NO2) é um gás emitido diretamente na atmosfera a partir de
ações antrópicas, como plantas geradoras de energia térmica, espaçamento de veículos,
indústrias de fertilizantes e agricultura, assim como toda a atividade industrial e pecuária
(RODRIGUES et al., 2020). A concentração de NO2 pode indicar atividades que utilizam como
fonte de energia a queima de combustíveis fósseis. Além disso, queimadas também podem
influenciar na concentração desse gás na troposfera. De maneira natural, NO2 também pode ser
gerado a partir de relâmpagos. Este gás é agressivo para o sistema respiratório humano e sua
presença no ambiente é relacionada a casos de infecções respiratórias; em alguns casos pode
tornar-se potencialmente carcinogênico quando dentro dos pulmões é convertido em
nitrosaminas.
Além do mencionado, o NO2 pode contribuir também para uma série de reações
fotoquímicas no meio ambiente, como exemplo a formação do “smog” fotoquímico, reduzindo
a visibilidade. Quando em contato com a umidade do ar formando o ácido nítrico, contribui
para a formação da chuva ácida. Indiretamente o NO2 também contribui para o aquecimento
5
global (LELIEVELD, et al. 2015). A resolução do CONAMA nº 003 de 28 de junho de 1990,
regulamentou padrões brasileiros estabelecendo como primário a concentração média
aritmética anual de 100 µg/m-3 e a concentração média horária de 320 µg/m3 (MELCHERT &
CARDOSO, 2006).
REFERENCIAL TEÓRICO
As sociedades humanas e as comunidades biológicas têm se mostrado incapazes de se
manter no paradigma econômico, baseado na forte extração de recursos naturais, bolhas de
mercado financeiro e processos insustentáveis (JACKSON, 2013). Este paradigma também se
enraizou nos comportamentos humanos (DEMSETZ, 2011), o uso indiscriminado de
commodities (MCLNTYRE, 1992) e a carência da reflexão intergeracional.
Este fato impacta em todo mundo, mas em países mais pobres as consequências são
ainda mais graves, caracterizados pela falta de saneamento básico, grandes desigualdades
sociais, com uma população massiva vivendo sob condições de extremo grau de pobreza e com
fragilidade nos sistemas públicos de saúde e educação, (SILVA, et al. 2020).
A crise sanitária é apenas o resultado agravado de uma crise sistêmica mais abrangente,
que inclui a crise ecológica e climática (LIMA; BUSS; PAES-SOUSA, 2020), aceitando-se
igualmente, como afirma Bruno Latour (2020), é apenas uma de muitas consequências futuras,
pelo que nos cabe aproveitar a oportunidade para assumir a mudança a que os movimentos
ambientalistas e outros especialistas têm proposto e que somente agora encontra maior
receptividade.
A pandemia alertou a forte degradação do planeta e a necessidade urgente de mudança
no sentido da efetividade das políticas públicas e das práticas sociais, assim como da
cooperação, tanto na sua origem quanto na alteração do paradigma do desenvolvimento. A crise
ecológica surge devido à falta de cuidado com o meio ambiente e à crise climática, expondo
problemas ambientais e sociais evidentes na agenda pública das organizações internacionais.
Trata-se também de uma crise humanitária resultante do status social de grupos e comunidades
sem acesso às condições básicas de água e esgoto, saúde, emprego e renda.
No Brasil, observa-se uma forte relação entre problemas relacionados a moradia e a
degradação ambiental, sendo reflexo de um processo de urbanização acelerado e sem
planejamento (MARICATO, 2009). Entre as principais fragilidades, destacam-se:
comprometimento de áreas ambientalmente sensíveis, como beira de córregos, mangues, dunas,
várzeas e matas; o crescimento exponencial de favelas e das ocupações ilegais de um modo
6
geral; enchentes devido à impermeabilização exagerada do solo; ocupação inadequada em
encostas, levando a desmoronamentos com mortes; e o comprometimento de recursos hídricos
e marítimos com esgotos (MARICATO, 2003).
No Nordeste brasileiro, as repercussões do paradigma econômico são ainda mais
evidentes devido à histórica alta vulnerabilidade (RAIMUNDO, et al. 2020). O Nordeste tem
seu histórico ligado à seca, mas igualmente da dificuldade na implementação de um modelo de
desenvolvimento capaz de gerar renda e bem-estar, bem como, de assegurar serviços básicos às
populações e reverter a degradação ambiental, por exemplo resultante do atraso na
concretização da política de saneamento básico. Ainda assim, de forma a reverter essas e outras
fragilidades, os governos estaduais da região têm trabalhado coesa, eficaz e solidariamente
(CLEMENTINO, et al. 2020), diminuindo os impactos da pandemia.
O isolamento social mostrou que é possível uma mudança de paradigma, na medida em
que se repercutiu de imediato no atenuar da degradação do planeta, surgindo dados de
monitoramento que mostram uma diminuição imediata da poluição nas cidades. Sem pessoas e
automóveis a circular, passam a ser vistos animais selvagens nas cidades, nas ruas, praias
urbanas e nos canais de Veneza. O isolamento social retirou as pessoas da rua, parando a
circulação de veículos. Parou igualmente a produção de automóveis, o que pode induzir a pensar
em alternativas à nossa obsessão por veículos individuais (ŽIŽEK, 2020). Em poucos meses o
movimento de pessoas em escala global mudou radicalmente, com a interrupção parcial do
transporte aéreo e marítimo.
A alteração de hábitos cotidianos diante da situação de pandemia está relacionada à
aplicação do isolamento social e estes por sua vez traduzem-se em novas dinâmicas ambientais.
A suspensão de viagens e atividades industriais reduziu a poluição e emissão de gases com
efeito de estufa (dióxido de carbono e metano), outros gases poluentes (monóxido de carbono,
óxido de nitrogênio) e emissão de partículas nas cidades, com impacto imediato na qualidade
do ar, na saúde das pessoas e mostra ser possível uma mudança futura no enfrentamento dos
problemas ambientais e climáticos (CASTRO ROMERO et al., 2020). O isolamento social
tem ocasionado o aumento da aquisição de alimentos e outros produtos essenciais através de
serviços de entrega em domicílio, potencializando um aumento da geração de resíduos de
embalagens. De acordo com a Associação Brasileira de Empresas de limpeza Pública e
Resíduos Especiais (ABRELPE), em março de 2020 já se calculava um aumento na geração de
Resíduos Sólidos Domiciliares (RSD) de 15 a 25%. Em função da suspensão temporária da
coleta seletiva, no contexto da COVID-19, de acordo com recomendação da Associação
7
Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES), através de nota técnica, a maioria das
cooperativas e associações de catadores paralisarão as suas atividades para evitar a propagação
da doença e os resíduos gerados foram dispostos em aterros sanitários ou lixões, que de acordo
com Freire et al. (2020) a disposição final de forma inadequada é fonte geradora de impactos
ambientais negativos, contribuindo para degradação ambiental.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
O recurso a mapas permite melhorar a visualização dos resultados tanto no referente à
progressão cronológica de contágios por COVID-19 nos nove estados do Nordeste, quanto na
relação entre óbitos e emissão de NO2, um marcador que se pode revelar como um instrumento
fundamental quando ao serviço das políticas públicas, participação social e conscientização.
4.1 MAPA DE EVOLUÇÃO DE CASOS CONFIRMADOS
Elaboramos 4 mapas para representar a progressão da contaminação por COVID-19,
com base em dados epidemiológicos de quatro momentos distintos. Como objetivo de observar
a fase inicial da pandemia e sua expansão das capitais para regiões periféricas e posteriormente
para o interior dos estados, regiões mais pobres e socialmente mais frágeis.
Na figura 1, podemos observar a fase inicial em duas datas com relação ao número de
casos confirmados e do fluxo econômico estabelecido por essas capitais com demais cidades,
identificadas por linhas de cor lilás: 8 de abril e 8 de maio de 2020. Este fluxo econômico foi
estabelecido pelo IBGE em seus estudos de Regiões de influência das cidades (IBGE, 2007).
Na primeira data (8 de abril de 2020), com poucos casos confirmados, observa-se a
concentração de casos em áreas litorâneas e nas capitais estaduais. Contudo, acompanhando as
relações estabelecidas entre as capitais e com as demais cidades do Nordeste, na segunda data
(8 de maio de 2020) visualiza-se, o crescimento e difusão do número de casos confirmados em
algumas cidades no interior do Nordeste (Fig. 1). Destacamos, especialmente, as rotas de saída
de Fortaleza, Recife e Bahia, como vetores de maior propagação.
Figura 1. Número de casos confirmados nos dias 08/04/2020 e 08/05/2020
8
Fonte: Autores (2020) a partir da plataforma Brasil.io e dos boletins estaduais.
Na figura 2, apresenta-se dados referentes à fase de consolidação, nos dias 8 de julho e
8 de agosto de 2020, em relação ao número de casos confirmados. Na Figura 2, demonstra a
intensificação do contágio a partir da rota definida (Fig.1), ou seja, nas metrópoles Fortaleza,
Recife e Bahia. A Figura 2, também mostra que os estados socialmente mais frágeis são aqueles
aos quais a contaminação aumentou massivamente. Estes são os casos do interior dos estados
do Maranhão, Piauí, Alagoas e Sergipe.
9
Figura 2. Número de casos confirmados nos dias 08/07/2020 e 08/08/2020
Fonte: Autores (2020) a partir da plataforma Brasil.io e dos boletins estaduais.
4.2 ÍNDICE DE ISOLAMENTO SOCIAL
Acompanhando a evolução do número de casos confirmados pela COVID-19, os
posteriores decretos nos estados nordestinos forneceram recomendações como maneira de
diminuir a circulação de pessoas e por consequência, barrar o contágio da COVID-19, na Tabela
1, apresentamos os índices de isolamento social por Estados.
É possível observar a diminuição do isolamento social conforme o passar das datas. A
data de 08 de abril de 2020 apresentou maior isolamento social em todos os estados nordestinos
e entre os quatro momentos estudados, pois em todos os estados o índice de isolamento social
foi maior que a média por Estado. Esta situação foi o produto das recomendações do governo,
frente ao desconhecimento do vírus e como tentativa de barrar a propagação dos efeitos da
pandemia através dos meios de comunicação.
No dia 8 de maio de 2020 iniciou o processo de redução do isolamento social,
comparado com as demais datas estudadas neste artigo. A maior redução ocorreu nos estados
10
de Sergipe, Paraíba e Pernambuco, o estado do Maranhão foi uma exceção neste período haja
visto o crescimento de 43,3% para 46% de isolamento social.
No terceiro momento, 8 de julho de 2020, elevou-se a circulação de pessoas nos estados,
exceto na Bahia que subiu de 38,6% para 41,5% o índice de isolamento social.
No último período analisado neste estudo, 8 de agosto de 2020, observou-se o menor
índice de isolamento social. Os estados como a Paraíba, Bahia e Ceará reduziram em quase 3%
o índice de isolamento social da sua população, enquanto o estado do Piauí, registrou um
acréscimo de 3,5% em seu índice de isolamento chegando a 45,4% (Tabela 1).
Tabela 1: Isolamento social e média por dia
Data 2020
Estados Nordestinos (%)
Média por
dia
MA
PI
CE
RN
PB
PE
AL
SE
BA
8 de abr
43,3
54
47
41,5
43,2
46
41,8
41
41,6
44,38
8 de mai
46
40,9
48,7
37,6
40,3
43,1
40,5
37,2
38,6
41,43
8 de jul
38
41,8
41,1
39,5
40
39,1
39,5
39,5
41,5
40
8 de ago
38,1
45,4
39,9
37,9
37,7
38,6
38,7
39,3
40
39,51
Média por
Estado
41,3
45,5
44,2
39,1
40,3
41,7
40,1
39,2
40,42
Fonte: Autores (2020) a partir da plataforma InLoco.
4.3 MAPA DA EVOLUÇÃO NA CONCENTRAÇÃO DE DIÓXIDO DE NITROGÊNIO
(NO2)
Seguindo o mesmo processo metodológico aplicado nos resultados anteriores, foi
elaborado um mapa para destacar a evolução da concentração de Dióxido de Nitrogênio (NO2)
no nordeste brasileiro (Figura 3).
11
Figura 3: Concentração de NO2 e número de casos e óbitos confirmados por COVID-19 no
nordeste brasileiro
Fonte: Autores (2020).
12
Na Figura 3, é possível acompanhar a evolução da concentração de NO2 na superfície
nordestina, quanto mais intenso a cor representa que maior é a concentração de dióxido de
nitrogênio por m².
Além disso, permite a visualização do impacto positivo que o isolamento social
proporcionou ao meio ambiente (Fig. 3). Considerando a paralisação da indústria, a redução da
locomoção humana com a implantação de atividades home office que acarretaram na redução
da circulação de veículos e da geração e emissão deste gás poluente na atmosfera, na Figura 3
e data 8 de maio de 2020 teve-se a menor emissão de NO2 , no período de maior isolamento
social.
A elevação da concentração de dióxido de nitrogênio nas datas 08 e julho e 08 de agosto
está relacionada a volta das atividades antropogênicas, com a reabertura gradual do comércio e
escalonamento de atividades em indústrias e comércios.
A partir da Figura 3, a pesquisa mostra que o monitoramento do NO2 a partir de
sensoriamento remoto é uma opção viável para monitorar a prevalência de COVID-19, mesmo
que de forma indireta, e a partir disso é possível a detecção de locais com menor isolamento
social e por consequência, locais com aumento no número de casos de contágio.
A metodologia auxilia as políticas de saúde preventiva, já que permite deslocar recursos
humanos e tecnológicos nas localidades de alto risco (CAVALHEIRO; DE ABREU JUNIOR;
GRYGORCZYK, 2020). Na resposta a médio prazo, são necessárias estratégias convergentes
na proposição de programas de contenção, nas quais se devem avaliar os comportamentos
individuais e coletivos, através de quantidades massivas de dados, assegurando a menor
exposição ao risco, menor número de contágios e óbitos. Deve também continuar-se o trabalho
integrado tanto no nível estadual quanto no municipal em cidades e no interior. Promovendo a
incorporação de políticas públicas que confrontam o paradigma econômico.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A comunidade científica e diversos laboratórios privados têm através de diversas
contribuições aumentado rapidamente o conhecimento sobre a origem e formas de propagação
do COVID-19. O seu surgimento não foi uma surpresa para ambientalistas e cientistas,
repercute práticas insustentáveis que estruturam a extração massiva de recursos naturais e o
descaso com a degradação. Pouco se tem discutido sobre a relação disso, com a insuficiência
13
dos serviços de saneamento básico, energia etc., tendo em conta o papel histórico das cidades
da américa latina e como o desenho urbano e desigualdades acabam ajudando na propagação
do vírus.
Geralmente em zonas com baixa qualidade de vida, existe um alto consumo de animais
silvestres e no nordeste brasileiro não é diferente, pois nele se tem registros de práticas de
consumo, comercialização e coleção de animais selvagens. Nesse sentido, o nordeste brasileiro
também necessita de uma maior oferta de serviços de saneamento básico e uma regulação
nacional forte que conscientize a população rural frente à manutenção e proteção de espécies
exóticas. E por sua vez a população urbana deve inibir as práticas culturais que promovem o
consumo e comercialização destas mesmas espécies.
A crise de saúde imposta pelo COVID-19 nos leva também a questionar nosso modo de
vida e o modelo de produção capitalista, ao mesmo tempo que também se apresenta como uma
oportunidade, um momento para mudar o sistema produtivo, políticas públicas e práticas
ambientais individuais, apontando para a necessidade de mudança de paradigma e exigindo um
fortalecimento das políticas públicas.
A nossa pesquisa também descreve como ocorreu o contágio e a disseminação do
COVID-19 no Nordeste. Os mapas são autoexplicativos e mostram a direção dos fluxos das
capitais para as periferias e depois para o interior. Os resultados dão conta da progressão da
pandemia no Nordeste brasileiro nos seus nove estados, passando gradualmente das grandes
cidades litorâneas para as periferias e áreas rurais, o que como demonstrado em publicação
anterior (CASTRO ROMERO et al., 2020), se deve a fatores de vulnerabilidade social das
comunidades.
A metodologia usada com recurso ao NO2 pode auxiliar as políticas de saúde preventiva,
já que permite deslocar recursos humanos e tecnológicos nas localidades de alto risco. No que
necessita de estratégias convergentes na proposição de programas de contenção, nas quais se
devem avaliar os comportamentos individuais e coletivos, através de quantidades massivas de
dados, assegurando a menor exposição ao risco, menor número de contágios e óbitos. Esse
recurso permitiu correlacionar graficamente o número de óbitos com as emissões poluentes e
estas com o isolamento social resultantes da pandemia.
14
REFERÊNCIAS
ABES. Recomendações para a gestão de resíduos em situação de pandemia por
Coronavírus (COVID-19). Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental –
ABES, março, 2020. Disponível em: http:// abes-dn.org.br/?p=33224. Acesso em 27 de
setembro de 2020.
ABRELPE – Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais.
Revista Meio Ambiente Industrial Online, 2020. Aumento do lixo pode chegar a 25% durante
a pandemia do coronavírus. 25 de março de 2020. Disponível em: https://rmai.com.br/aumento-
do-lixo-pode-chegar-25-durante-pandemia-do-coronavirus/ Acesso em: 20 de maio de 2020.
CASTRO ROMERO, JAIR HERNANDO et al. Desigualdades socio-ambientales en el
enfrentamiento de la COVID- 19 en el Noroeste brasileño.. Anais do II Congreso Virtual
Desarrollo Sustentable y Desafíos Ambientales, CEBEM 2020.
CAVALHEIRO, Ana Paula Garbuio; DE ABREU JUNIOR, Marcos José; GRYGORCZYK,
Sandra. TELESSAÚDE: NOVOS CAMINHOS NA ATENÇÃO À SAÚDE FRENTE À
INFECÇÃO PELO NOVO CORONAVÍRUS. Revista Aproximação, v. 2, n. 04, 2020.
CLEMENTINO, Maria do Livramento Miranda et al. A colaboração em tempos de pandemia
e o protagonismo do Consórcio Nordeste. Boletim Semanal do Observatório das Metrópoles,
Rio de Janeiro, v. 632, p. 1-11, 2020.
DEMSETZ, Harold. From economic man to economic system: essays on human behavior
and the institutions of capitalism. Cambridge University Press, 2011.
FREIRE, Vitória de Andrade; SILVA, André Miranda; SILVA, Didiane Saraiva; FREIRE,
Edivanda de Andrade; LIMA, Lígia Maria Ribeiro. Diagnóstico dos danos ambientais, riscos
e perigos presentes no lixão de Massaranduba – PB. Reserach, Society and Development. v.
9, n. 3, 2020. DOI: https://doi.org/10.33448/rsd-v9i3.2442.
IBGE, Regiões de Influência das cidades (REGIC) 2007. Rio de Janeiro: IBGE:2007.
Disponível em: < https://www.mma.gov.br/estruturas/PZEE/_arquivos/regic_28.pdf >. Acesso
em: 29 de set. 2020.
JACKSON, Tim. Prosperidade sem crescimento: vida boa em um planeta finito. São Paulo:
Abril, 2013.
LATOUR, Bruno. Imaginar os gestos-barreiras contra o retorno da produção anterior à crise.
Revista IHU Online, 2020. Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/597852-
imaginar-os-gestos-barreiras-contra-o-retorno-da-producao-anterior-a-crise-artigo-de-bruno-
latour. Acesso em: 20 de maio de 2020.
LELIEVELD, Jos et al. Abrupt recent trend changes in atmospheric nitrogen dioxide over the
Middle East. Science advances, v. 1, n. 7, p. e1500498, 2015.
LEIVA, Guilherme de Castro; SATHLER, Douglas; ORRICO FILHO, Romulo Dante.
Estrutura urbana e mobilidade populacional: implicações para o distanciamento social e
disseminação da Covid-19. Revista Brasileira de Estudos de População, v. 37, 2020.
Disponível em: https://rebep.org.br/revista/article/view/1635.
15
LIMA, Nísia Trindade; BUSS, Paulo Marchiori; PAES-SOUSA, Rômulo. A pandemia de
COVID-19: uma crise sanitária e humanitária. Cadernos de Saúde Pública, v. 36, n. 7, 2020.
MARICATO, Ermínia. Informalidade urbana no Brasil: a lógica da cidade fraturada. A
cidade de São Paulo: relações internacionais e gestão pública. São Paulo: EDUC PUC-SP,
p. 269-292, 2009.
MARICATO, Ermínia. Metrópole, legislação e desigualdade. Estudos Avançados, v. 17, n.
48, p. 151-166, 2003.
MCLNTYRE, Richard. Consumption in contemporary capitalism: beyond Marx and Veblen.
Review of Social Economy, v. 50, n. 1, p. 40-60, 1992.
MELCHERT, Wanessa R.; CARDOSO, Arnaldo Alves. Construção de amostrador passivo de
baixo custo para determinação de dióxido de nitrogênio. Química Nova, p. 365-367, 2006.
RAIMUNDO, Rafael et al. Vulnerabilidade das microrregiões do Nordeste brasileiro à
pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2). Relatorio do Exército Brasileiro. 2020.
RITTER, Carlos; FIRKOWSKI, Olga Lúcia C. de F. Novo conceitual para as periferias urbanas.
Revista Geografar, 2009.
RODRIGUES, Jeferson Botelho et al. Dispersão do dióxido de nitrogênio: um estudo de caso
em Belém/PA. Nature and Conservation, v. 13, n. 1, p. 22-31, 2020.
SILVA, C. M. et al. A pandemia de COVID-19: vivendo no Antropoceno. Rev. Virtual de
Quı́m, v. 12, p. 1000, 2020. Disponível em: http://rvq-
sub.sbq.org.br/index.php/rvq/article/view/3906
ŽIŽEK, Slavoj. Pandemia. Covid-19 e a reinvenção do comunismo. Boitempo, 2020.