Dentre os problemas que envolvem o agronegócio brasileiro destacam-se aqueles relacionados à divisão internacional do trabalho, a qual, segundo Eduardo Galeano, “consiste em que alguns países se especializam em ganhar e outros em perder” (GALEANO, 2000,
p.15). Falando sobre a história do nosso continente em “As veias abertas da América Latina”, Galeano assinala que a estrutura de classes criada,
... [Show full abstract] associada ao controle da terra, se perpetuou
no poder, destruindo os recursos naturais e explorando a força de trabalho, enfatizando a resistência dos povos atingidos. O modelo de exportações de commodities agrícolas, sem dúvida, apresenta êxitos notáveis, favorecido por políticas estatais que alteraram a estrutura de classes e o aparato produtivo. A integração técnica que conforma o complexo agroindustrial e a penetração do capital financeiro no campo favoreceu a emergência de um segmento de grandes e médios
produtores capitalizados. Em contrapartida, significou o crescimento de um proletariado rural e a permanência da pequena produção agrícola nos espaços geográficos fronteiriços ainda preservados.
As palestras do curso “Geografia e Agronegócio no Brasil”, realizadas por especialistas sobre temas específicos, no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGG) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, no primeiro semestre de 2021, no formato remoto, um curso que obteve significativo número de inscrições de alunos da
Pós-graduação das principais universidades do país, estão sendo publicadas neste número especial da Revista Tamoios na forma de artigos. Agradecemos aos responsáveis pela Revista, especialmente a Eduardo Karol, a receptividade e acolhida imediata para a publicação destes artigos. Além de resgatar tradições do pensamento social brasileiro, os artigos avançam em alguns aspectos relevantes do novo, a exemplo das formas de expansão da fronteira agrícola
contemporânea e suas contradições, da difusão da técnica, dos circuitos espaciais da produção e dos círculos de cooperação, do avanço do capital financeiro no campo, das condições de trabalho, da nova organização das cidades do agronegócio, por vezes destacando a modernização do arcaico e a arcaização do moderno no âmbito da modernização (FERNANDES, 1977). Entretanto, os textos marcam a co-presença de outros personagens no confronto com os interesses dominantes e as novas formas de produzir, a exemplo dos conflitos com os povos indígenas, com os assentados e posseiros. Nesse contexto, o conjunto do trabalho valoriza narrativas e experiências, reconhece sujeitos da ação, propondo uma leitura ativa do território (RIBEIRO, 2009).