ArticlePDF Available

Intervenções psicanalíticas com famílias de crianças diagnosticadas com autismo

Authors:

Abstract

Este trabalho discute a clínica com famílias de crianças diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A palavra “estranho”, recorrentemente usada para adjetivar essas crianças, propulsiona a discussão sobre o acolhimento do grupo familiar. Confrontados com esse “estranho” diariamente, o atendimento a famílias impõe questões à psicanálise. Neste trabalho, percorrem-se autores psicanalistas e apresentam-se evidências atuais sobre atendimentos psicanalíticos para crianças diagnosticadas com TEA e suas famílias. A psicanálise constitui dispositivo de escuta primordial para acolher o “estranho” e propicia novos significados e possibilidades de encontro entre os sujeitos enredados nesse dilema.
Estilos da Clínica, 2020, V. 25, nº 2, p. 220-232
* Psicóloga clínica. Mestre pela Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, MG, Brasil. E-mail:
maira.lpalmeida@gmail.com
** Professora do Instituto de Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, MG, Brasil.
E-mail: anamaria@umuarama.ufu.br
DOI: https://doi.org/10.11606/issn.1981-1624.v25i2 p220-232.
Dossiê
Intervenções psicanalíticas com famílias de crianças diagnosticadas
com autismo: revisão de literatura
Maíra Lopes Almeida; Anamaria Silva Neves
Resumo. Este trabalho discute a clínica com famílias de crianças diagnosticadas com Transtorno do Espectro
Autista (TEA). A palavra estranho”, recorrentemente usada para adjetivar essas crianças, propulsiona a discussão
sobre o acolhimento do grupo familiar. Confrontados com esse “estranho” diariamente, o atendimento a famílias
impõe questões à psicanálise. Neste trabalho, percorrem-se autores psicanalistas e apresentam-se evidências atuais
sobre atendimentos psicanalíticos para crianças diagnosticadas com TEA e suas famílias. A psicanálise constitui
dispositivo de escuta primordial para acolher o “estranho” e propicia novos significados e possibilidades de
encontro entre os sujeitos enredados nesse dilema.
Palavras chave: autismo; infância; relações familiares; família; psicanálise.
Intervenciones psicoanalíticas con familias de niños diagnosticados con autismo
Resumen. Este trabajo discute la clínica con familias de niños diagnosticados con Trastorno del Espectro Autista
(TEA). El adjetivo "extraño", recurrentemente citado para calificar a estos niños, propulsa la discusión que se
refiere a la acogida del grupo familiar. Confrontados con este extraño diario, la atención a las familias impone
cuestiones al psicoanálisis. Son recorridos autores psicoanalistas y se presentan pruebas actuales sobre la atención
psicoanalítica para niños diagnosticados con TEA y sus familias Se considera que el psicoanálisis constituye un
dispositivo de escucha primordial para acoger al extraño y propiciar nuevos significados y posibilidades de
encuentro entre los sujetos enredados en ese dilema.
Palabras clave: autismo; infancia; relaciones familiares; familia; psicoanálisis.
Psychoanalytic interventions with families of children with autism
Abstract. This study aims to discuss clinical care with families of children diagnosed with Autism Spectrum
Disorder (ASD). The adjective "strange" recurrently quoted to adjectivate these children is the starting point for
the necessary discussion that refers to the reception of the family group. Faced with this stranger daily, the care of
these families imposes a series of questions on psychoanalysis. Classical psychoanalytic authors are traversed to
explore the possibility of listening to this group and current evidence on psychoanalytic care for children diagnosed
Estilos da Clínica, 2020, V. 25, nº 2, p. 220-232
221
with ASD and their families is presented. It is considered that psychoanalysis constitutes a primordial space to
welcome the stranger and to provide new meanings and possibilities of encounter between the subjects.
Keywords: autism; childhood; family relationships; family; psychoanalysis.
A palavra “estranho” é constante na fala de mães de crianças diagnosticadas com autismo.
Esse fato remete a Freud (1919/2010), que aponta a íntima relação entre o “estranho” e o
familiar. Às voltas com o Unheimlich, o autor compreende que Heimlich é também da ordem
do oculto, sendo o prefixo un o representante daquilo que foi recalcado. O “estranho”, assim,
germina necessariamente disso que está oculto e é familiar: “O “estranho” é aquela categoria
do assustador que remete ao que é conhecido e há muito familiar”. (Freud, 1919/2010, p.180).
As crianças diagnosticadas com autismo parecem provocar os mesmos sentimentos descritos
por Freud (1919/2010) em relação ao “estranho”: aflição e angústia. As idiossincrasias dessas
crianças ressoam no entorno, como ocorre na observação de crianças com fortes estereotipias,
ou com dificuldades na fala, e que parecem nos colocar diretamente diante desse “estranho”,
nas fronteiras do que a palavra é capaz de suportar.
Não obstante, a palavra “estranho”, que aparece como denominador comum na escuta de
mães de crianças com diagnóstico de autismo ao fazerem referência a seus filhos, denuncia as
sutilezas das relações estabelecidas entre o casal parental e a criança. Naturalmente, nessas
relações, o adulto é remetido ao que pode reconhecer de si mesmo naquele bebê (Freud,
1914/2006). Para tanto, pode-se conjecturar que aquilo que não é possível de ser reconhecido
pelo adulto, talvez por ser suficientemente familiar, seja qualificado como “estranho”.
Podem-se encontrar rastros dessa compreensão do “estranho” presente no autismo a partir
da aproximação que Freud (1919/2010) faz da epilepsia e da loucura. Para o autor, nesses dois
casos, observa-se a ação nos semelhantes de forças desconhecidas; no entanto, há a vaga
consciência de que essas forças remotas fazem parte do próprio ser. Martini e Júnior (2010)
apontam que o “estranho” não é apenas o que está recalcado, sendo o seu retorno o responsável
por produzir esse efeito: o desvelamento do que deveria estar mantido oculto e vem à tona é
exatamente o que causa a indistinção entre o “estranho” e o familiar. Dessa forma, talvez seja
possível considerar que o encontro com crianças diagnosticadas com Transtorno do Espectro
Autista (TEA) suscita o contato e o desvelamento das forças desconhecidas que,
insuspeitadamente, compõem o ser.
A angústia nos aproxima desse “estranho” e sustenta também o pilar da torre de Babel que
se formou ao redor do autismo. As disputas apaixonadas que se travam quanto à etiologia e a
melhores tratamentos parecem conduzir os profissionais a essa mesma confusão de línguas.
Estabelecem-se posições enrijecidas que buscam pleitear para si a verdade sobre o fenômeno
autístico, sem possibilitar a circulação da palavra.
A formação de uma síndrome única com Kanner transformou o adjetivo autístico utilizado
na época em substantivo: autismo. Ao largo de ser apenas uma questão semântica, como alerta
Tafuri (2003), o autismo parece atualmente se referir a todo esse “estranho identificado pelas
famílias na primeira infância. A angústia face àquilo que não é possível de ser reconhecido
forja-se contemporaneamente em uma hiperdiagnose, causada, sobretudo, pelos atuais manuais
de classificação de transtornos mentais. Nesses manuais, o autismo figura como transtorno
próprio da primeira infância, o que traz decorrências importantes tanto para crianças, que serão
diagnosticadas desde muito jovens, quanto para suas famílias, que terão que acompanhá-las em
diversos tratamentos e serviços de saúde.
Estilos da Clínica, 2020, V. 25, nº 2, p. 220-232
222
A partir da compreensão das decorrências que a nomeação diagnóstica pode gerar para os
grupos familiares, a Psicanálise desempenha papel decisivo na medida em que, desde os seus
primórdios, se dispõe a escutar as narrativas do sujeito que conta de seu sofrimento. Assim,
possibilita acolher o “estranho”, e não simplesmente eliminá-lo, prática corriqueira atualmente.
Sem eliminá-lo, abre-se a possibilidade de que ele seja reconhecido em seus aspectos familiares
e, então, possa produzir novos significados sobre isso que se apresenta tão estranhamente.
No entanto, algumas iniciativas atuais têm demonstrado posições contrárias à presença da
Psicanálise para o tratamento de crianças diagnosticadas com TEA. Pode-se citar, como
exemplo, uma recomendação francesa que visava a suprimir a Psicanálise como método de
tratamento nesses casos e um edital brasileiro que buscava credenciar apenas instituições que
trabalhassem com métodos cognitivos comportamentais (Araújo et al., 2013; Diário Oficial do
estado de São Paulo, Nº148 – DOE de 08/08/12 – Seção 1 – p.79). É importante destacar que
algumas dessas reivindicações são provenientes de associações de pais e remontam à
construção histórica do autismo enquanto patologia. As metáforas que indicam a frieza afetiva
materna como fator etiológico do autismo perpetuam-se ao longo do tempo e parecem
relacionar-se com a atual rejeição à Psicanálise no tratamento de crianças diagnosticadas com
TEA (Jerusalinsky, 2010; Tafuri, 2003).
A partir desse contexto, considera-se fundamental abranger as possibilidades do atendimento
clínico psicanalítico com famílias de crianças diagnosticadas autistas. É urgente abordar na
literatura científica os alcances dessa clínica por meio de consistente base teórica e evidências
empíricas atuais. Diante disso, este trabalho teve como objetivo discutir a clínica psicanalítica
com famílias de crianças diagnosticadas com TEA e sistematizar conhecimentos sobre a
temática.
Método
Para cumprir o objetivo proposto, este estudo realizou uma revisão narrativa da
literatura. Esse tipo de revisão é adequado para discutir o desenvolvimento ou o atual estado da
arte de certo assunto. Compõe-se por análise ampla da literatura, considerada fundamental para
a aquisição e a atualização do conhecimento sobre a temática específica, evidenciando ideias
que têm recebido mais ou menos atenção nas produções científicas analisadas (Rother, 2007).
Inicialmente, realizou-se uma busca em livros de autores clássicos da Psicanálise sobre o
lugar do grupo familiar no atendimento da criança. Em seguida, apresentaram-se evidências
empíricas atuais, encontradas por meio de buscas realizadas em bases de dados sobre
atendimentos psicanalíticos para a família de crianças diagnosticadas com autismo e seus
efeitos.
Para essa revisão narrativa, consideraram-se artigos a) nos idiomas português, inglês e
espanhol; b) sem restrição temporal; c) empíricos; d) que versassem sobre atendimentos
psicanalíticos para crianças diagnosticadas com TEA e suas famílias; e) disponíveis em sua
completude. Os artigos não foram avaliados em termos de qualidade metodológica por não ser
esse um objetivo deste trabalho.
Nessa revisão, consultaram-se as bases de dados SciELO, IndexPSI e PePSIC, por
englobarem grande parte da produção científica psicológica indexada no Brasil. Os descritores
utilizados constam no Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), sendo eles: “relações
familiares AND transtorno autístico OR transtorno do espectro autista AND
Psicanálise”. A busca retornou três artigos na primeira base e nenhum nas outras duas. Não
Estilos da Clínica, 2020, V. 25, nº 2, p. 220-232
223
se incluíram os três artigos encontrados nessa primeira busca, pois não eram voltados para
atendimentos psicanalíticos de crianças diagnosticadas com TEA e suas famílias.
Diante disso, optou-se por ampliar os termos de busca para “famíliaAND “autismo
AND “Psicanálise”. Nessa segunda busca, encontraram-se três artigos na base Scielo, quatro
na base PePSIC e dois na base IndexPSI. Excluíram-se cinco trabalhos por não terem foco em
atendimentos psicanalíticos e um por não estar disponível completamente. Assim, incluíram-se
três artigos.
Depois da leitura dos textos completos, realizaram-se novas buscas de artigos a partir
das referências bibliográficas para novas inclusões. Com a leitura dos artigos que compuseram
a presente revisão, extraíram-se dados referentes à temática abordada. Materiais bibliográficos,
como livros e capítulos de livros relacionados ao assunto, também compuseram este estudo.
Assim, iniciou-se a exposição dos dados apresentando as concepções de autores clássicos da
Psicanálise sobre as intervenções psicanalíticas para a família e, em seguida, dos resultados
obtidos nas buscas em bases de dados.
Família e intervenção psicanalítica
A família, para Freud, ocupa um papel central na construção do psiquismo e, também, na
formação de sintomas (Freud, 1917/2006). Apesar disso, as construções que permitiram
considerá-la como possibilidade para as intervenções psicanalíticas foram graduais.
O primeiro relato de análise de uma criança apareceu em 1909 nos escritos freudianos.
Embora não tenha sido conduzido propriamente por Freud, o autor orientou o pai e deu direções
para o tratamento, que, como o título aponta, se refere à “Análise de uma fobia em uma criança
de cinco anos” (1909/2015). No caso do pequeno Hans, o tratamento foi conduzido a partir do
entendimento edípico. A compreensão a respeito da fobia do garoto e as intervenções feitas
pelo pai caminham na direção de interpretar os conflitos intrapsíquicos do menino, originados
pelo Complexo de Édipo, o qual o pequeno enfrentava no auge de seus cinco anos (Freud,
1909/2015).
Nesse caso, o responsável por guiar a análise do pequeno Hans sob os auspícios da
comunicação com Freud foi o pai do garoto, que chamava o psicanalista de caro professor. Na
publicação do caso, Freud (1909/2015) adverte sobre os limites da aplicação do método
psicanalítico na condução de tratamento de crianças. Segundo ele, isso foi crível graças à
junção das figuras de autoridade do pai e de médico em uma só pessoa. A partir dessa união,
acoplaram-se carinho afetivo e interesse científico, o que “tornou possível, nesse caso, fazer do
método uma utilização para a qual ele normalmente não se prestaria” (p. 124).
A análise de crianças só se tornaria viável, então, na reunião entre a figura de pai e de médico
(Freud, 1909/2015), aproximando-a de um vértice pedagógico. Com Melanie Klein, a
aplicabilidade do método pode ser descrita novamente. A autora erigiu as bases da subjetividade
infantil sobre as quais a análise de crianças primeiramente se estabeleceu (Calvazara, 2013).
Na teoria kleiniana, a ênfase recaía sobre o mundo interno da criança. A autora aplicou a
associação livre e o método interpretativo ao brincar da criança. Para Klein, o brincar equivalia-
se às fantasias em torno da sexualidade infantil e da agressividade, o que era central para
estruturar uma relação transferencial entre criança e psicanalista (Klein, 1955/1991).
Sem modificar o método, a autora alterou a técnica e fundou, por meio do brincar, um novo
instrumento, que permite o acesso ao psiquismo da criança (Klein, 1952/2006). Contudo, esse
fio condutor da teoria kleiniana parece relativizar os fatos externos. Os pais reais e o
Estilos da Clínica, 2020, V. 25, nº 2, p. 220-232
224
inconsciente parental têm sua importância diminuída no tratamento da criança a partir desse
subsídio teórico. Diante disso, Klein descartava qualquer intervenção junto à família (Corso,
1998).
O caso Dick é o primeiro relato que apresenta descrições similares ao autismo no contexto
psicanalítico. Nele, constam observações clínicas e algum material sobre a história pregressa
do menino, sem haver, porém, participações importantes dos pais, ou mesmo da babá, na
descrição clínica (Klein, 1930/1996). Isso demarca, novamente, a posição da autora frente à
sintomática infantil.
A releitura de Lacan (1953-54/2009) sobre esse caso de Klein aponta que as interpretações
da psicanalista para os movimentos do garoto com trens de brinquedo, que eram objeto de seu
grande interesse, produziram algo na criança. No entanto, isso não se deve tanto ao conteúdo
do que ela falou à criança, mas mais ao fato de ter se endereçado a ele. Assim, “Klein supõe ali
um sujeito, antecipando um que ainda não há, o que é condição fundamental para ali haver um”
(Vorcaro & Guimarães, 2014, p. 217).
A partir da vertente lacaniana, a teoria ampara-se na concepção da constituição subjetiva que
introduz o fato de que a criança nasce em um mundo simbólico. O nascimento da criança é
marcado por acontecer em um mundo que preexiste a ela. Como afirma o autor, “a realidade é
marcada de saída pela aniquilação simbólica” (Lacan, 1955-56/1988, p.171).
Assim, a criança, inserida na dialética presença-ausência desde os primeiros momentos de
seu nascimento, se sustentará nas e pelas palavras de seu agente materno. Esse primeiro
cuidador será responsável por atribuir sentido e palavras às vivências do recém-nascido. Dessas
palavras direcionadas a seu bebê, inaugura-se, para o pequeno ser, a nascente de que jorra sua
própria inserção no campo da linguagem (Vorcaro, 2001).
O processo constitutivo do sujeito, portanto, implica sua condição de dependência a outro
humano. Não por acaso, quando os pais procurem análise para a criança, não é possível ignorar
“o fato de que a criança ocupa uma posição privilegiada na demanda que cada um dos pais
dirige ao analista” (Faria, 2014, p. 27).
A partir disso, o papel da família torna-se indispensável para o tratamento analítico de
crianças. Tributárias da obra lacaniana, foram as psicanalistas Françoise Dolto e Maud Mannoni
as responsáveis por elaborar de forma mais pormenorizada a aplicação dessas concepções na
intervenção psicanalítica com crianças (Dolto, 1965/2004).
Para Dolto, o ser humano tem “filiação linguajeira, isto é, pertence a uma linhagem e
inscreve-se num mundo transgeracional” (Ledoux, 1995, p. 208). Contudo, o bebê é, também,
desde o início, uma fonte autônoma de desejos, demanda comunicação interpsíquica e é
desejante de outro humano. No entanto, quando não há respostas para suas solicitações de trocas
sensório-motoras ou de linguagem, as percepções da criança não são mediatizadas, e não se
confere sentido às suas sensações. Diante dessa situação, o bebê corre o risco de mortalidade
simbólica e psíquica. Na falta do encontro entre psiquismos, o bebê deserta do objeto e,
consequentemente, de si mesmo, visto que vivia a díade. Quando o objeto reaparece, ele pode
reconstituir o continuum de ser (Ledoux, 1995).
A criança participa e é objeto de um discurso coletivo que engloba os pais, a escola e, até
mesmo, o analista (Mannoni, 1967/1999). Em torno do seu sintoma, esse discurso toma forma
e se materializa: “A perturbação de que se fala é objetivável (na pessoa da criança), mas a
queixa dos pais se tem por objeto a criança real, implica também a representação que o adulto
se faz da infância” (p. 9).
Estilos da Clínica, 2020, V. 25, nº 2, p. 220-232
225
Diante disso, observa-se que, quando inserido como dispositivos de cuidado, o tratamento
analítico pode apresentar contribuições inestimáveis para as famílias, especialmente em relação
a um diagnóstico psiquiátrico atribuído à criança em momento tão basilar de sua constituição.
Ressalta-se, por exemplo, a importância do trabalho dos analistas junto aos pais ao abordarem
os efeitos que o nome autismo implica para a construção parental diante dos filhos. Presos a
esse nome e às várias negatividades que dele decorrem, no sentido das impossibilidades da
criança, o espaço terapêutico é um espaço em que se introduz a dúvida, um lugar de
desconstrução de certezas rígidas e imutáveis que permeiam a criança após a nomeação
diagnóstica (Cavalcanti, 2000).
Assim, a Psicanálise assumiu de forma gradual o lugar importante que a família deve ocupar
no atendimento da criança. Contemporaneamente, esse espaço é confrontado com a diversidade
de diagnósticos por qual perpassa a infância. O autismo, geralmente diagnosticado na primeira
infância, traz ainda mais à tona essa questão.
Intervenções psicanalíticas com famílias de crianças diagnosticadas com autismo:
evidências atuais
A postura de esperança (Rocha, 2007; Martins & Silva, 2017) e de atravessamento do
diagnóstico de autismo como sentença que desautoriza as mães em seu saber sobre o filho
(Cavalcanti, 2000; Telles, 2011; 2012) tem subsidiado inúmeras intervenções psicanalíticas
relatadas na literatura, seja no âmbito do atendimento individual seja no grupal.
Verdi (2003) relata que a existência de um grupo de pais de crianças e adolescentes autistas
auxilia na vida emocional dessas famílias, podendo abordar as dificuldades familiares e a
própria constituição dos papéis parentais.
A experiência vivida por Merletti na instituição Lugar de Vida, centro de educação
terapêutica e instituição reconhecida pelo atendimento a crianças com diagnóstico de autismo,
aponta para o fato de a participação dos pais ser crucial no tratamento psicanalítico dos filhos,
a fim de acessar e incidir sobre o discurso que eles desenvolvem sobre as crianças. O
atendimento com os pais permite que eles possam legitimar e resgatar o saber sobre seu filho,
além de acolher o mal-estar e apoiá-los em seus papéis educativos. Por meio desse
entendimento, nessa instituição também é realizado grupo de pais, pois são considerados
parceiros importantes nos cuidados dos filhos (Merletti, 2016; Merletti, 2018).
Outro trabalho institucional é abordado por Martini (2019), que reflete sobre a atuação do
psicólogo institucional no trabalho com famílias em uma associação de autistas. Com base no
referencial teórico psicanalítico, a autora expõe sua trajetória na instituição e, mais
especificamente, no grupo de pais. Inicialmente, levantaram-se as demandas da instituição e
dos pais para definir o norte do trabalho, que consistiu em compreender o vínculo família-
instituição, instituição-família e família-equipe. O grupo tinha frequência semanal, com
encontros de 1 hora e 15 minutos e temas espontâneos, definidos a partir dos relatos dos
participantes. Como resultado, a autora observou que a estruturação do grupo contribuiu para a
melhora no vínculo entre família-instituição, sendo que o grupo adquiriu função de ponte entre
ambos.
Campanário e Pinto (2006), em trabalho desenvolvido na Rede Municipal de Saúde de Belo
Horizonte, destacam a importância do cuidado ao agente materno. Trata-se de um
Estilos da Clínica, 2020, V. 25, nº 2, p. 220-232
226
restabelecimento do laço com o bebê, de forma que as intervenções se voltam para a criança,
para aquele que exerce a função materna e para a relação estabelecida entre ambos.
Batistelli et al. (2014) abordam o desgaste que os pais apresentam ao chegarem à clínica
após consulta por diversos especialistas, depois de terem recebido o diagnóstico de TEA da
criança. Posteriormente a esse longo caminho percorrido, a Psicanálise pode ofertar o
necessário espaço para que esses pais pensem e possam falar.
Almeida e Neves (2017), a partir de caso clínico de uma criança de três anos e sua família,
apontam para a complexidade envolvida nos enredamentos do grupo familiar. O atendimento
psicanalítico permite elaborações que produzem um novo encontro para pai, mãe e criança. A
“melhora” da criança, que aparece nas falas de mãe e professoras, sugere efeitos produzidos
pelo trabalho analítico, que possibilitou que essa criança ocupasse outro lugar que não o do
“autista”, como inicialmente relatado.
O caso de Tobias, criança de três anos com sinais de autismo, e seus pais também evidencia
as oportunidades psicanalíticas nos atendimentos conjuntos (Untoiglich, 2013). Com o
diagnóstico de TEA, os pais chegam para a consulta esgotados e destituídos do saber sobre seu
filho. Como é comumente observado (Telles, 2011; Almeida & Neves, 2017), ao perguntar
sobre o filho, a analista obtém como resposta dos pais todas as características constantes do
diagnóstico de autismo. A autora denuncia os riscos do diagnóstico precoce e relata, a partir de
cenas clínicas, que o atendimento analítico propiciou o surgimento de movimentos constituintes
e inaugurais para Tobias, que, dependendo da intervenção recebida, poderia ter sua organização
subjetiva dificultada.
A atenção psicanalítica para a família e suas ressonâncias no atendimento da criança é
abordada no caso de Ícaro (Almeida, 2017). O menino, de três anos, é levado pela mãe para
atendimento após o receber o diagnóstico de TEA. A partir dos relatos de 21 sessões, compostas
por Ícaro e os membros familiares, observa-se como o diagnóstico estabelece uma função
psíquica para a família. A escuta psicanalítica permite que o grupo familiar possa acessar o
sofrimento advindo de eventos traumáticos, que os paralisaram, sendo o diagnóstico o amparo
possível frente às agruras do inesperado. À medida que esses enredamentos são desvelados, o
ambiente torna-se mais seguro para Ícaro poder se desenvolver, descolando-se do diagnóstico.
De acordo com Fávero-Nunes e Gomes (2010), a consulta terapêutica, tal como proposta na
teoria winnicotiana, consiste em modalidade importante para o atendimento aos pais de crianças
com diagnóstico de autismo. Por meio da pesquisa das autoras, discute-se como as consultas
terapêuticas configuraram um setting de holding aos pais, para que reflitam sobre os
sentimentos oriundos da nomeação diagnóstica do filho. Por essa modalidade, percebe-se um
fortalecimento da parentalidade, pelo espaço de continência e criatividade.
A perspectiva winnicotiana também está presente no caso de Vitor (Araújo, 2004). O
menino, de três anos e dez meses, foi atendido em uma instituição pública pela pesquisadora e
compareceu para atendimento com a mãe, que tinha queixas principalmente relacionadas ao
isolamento, à agressividade e a comportamentos diversos, como não gostar de brinquedos, ficar
olhando para o nada e rir, bagunçar tudo, não entender o que é certo e errado, entre outros. A
construção do caso perpassa a compreensão do menino em relação à família, sendo que os pais
também receberam atendimento e contaram que passaram a entender melhor o menino, que
participava de mais atividades e tinha melhorado o contato com outras pessoas. Destaca-se que,
para o acontecer da criança, é fundamental a sustentação emocional dos pais, que são
imprescindíveis para a continuidade desse acontecer.
Estilos da Clínica, 2020, V. 25, nº 2, p. 220-232
227
Leiras, Batistelli & Antunes (2014) apresentam um caso clínico que retoma a temática da
sensorialidade e o fato de a simbolização constituir-se quando o outro é fonte de emoções e
afetos variados. No espaço terapêutico, essas emoções e afetos são vivenciados com
predominância do prazer da presença, que proporciona uma continuidade externa e interna para
sustentar esses processos. Dessa forma, é necessário que o analista possibilite e sustente esse
encontro prazeroso também entre os pais e sua criança.
Assim, o TEA, tal como proposto pelo Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais (DSM-5), trata-se de um transtorno que engloba déficits na sociabilidade e na
comunicação e interesses restritos ou repetitivos (APA, 2013). No entanto, esses critérios são
insuficientes para abranger as particularidades da experiência humana e suas relações com os
enredamentos afetivos específicos de cada família.
Para aqueles que tendem a ver os pacientes psiquiátricos não como portadores de doença,
mas como vítimas da batalha humana pelo desenvolvimento, pela adaptação e pela vida, a
tarefa torna-se infinitamente mais complexa. (Winnicott, 1959/2011, p.106)
Nessa lógica, a perspectiva em que se compreende o sintoma subsidia a
intervenção a ser desenvolvida. Em uma investigação etnográfica, López e Sarti (2013)
acompanharam atendimentos clínicos destinados a crianças autistas em duas instituições
públicas: a primeira baseada na abordagem comportamental e a segunda amparada pela
psicanálise. As autoras descrevem que, na primeira instituição, o objetivo central é a
funcionalidade, para que a criança possa se adequar e parecer o mais normal possível. na
segunda instituição, a criança com diagnóstico de autismo é considerada em sua singularidade,
de forma que o tratamento visa a propiciar condições para que ela possa se constituir, ao tentar
fazer contato com ela e ao promover apoio psicológico aos familiares.
Sobre o observado na investigação de López e Sarti (2013), é importante retomar Alfredo
Jerusalinsky (2015), que afirma que se faz necessário pensar na subjetividade. Afinal, sem
considerar o sujeito, estamos inclinados a tomar os seres humanos como meros instrumentos
de um projeto de produção do ideal (p. 270). Crespin (2015) também destaca que as
intervenções psicanalíticas, ao abordarem o sujeito e privilegiarem o singular, afastam-se de
qualquer lógica de normatização.
Diante dessas evidências, entende-se que os pais e sua implicação ocupam papel primordial
no atendimento dos filhos (Delion, 2015). É por essa compreensão que se aporta a intervenção
que crê que “há algo de novo, de único, de incomparável que deve ser ajudado a viver, a
despertar, a apoiar” (Dolto, 1985/2005, p. 325). O atendimento ampliado à família organiza-se
à medida que a psicanálise reconhece e leva em conta o sofrimento de todos os sujeitos do
grupo.
Considerações finais
A partir da conjuntura contemporânea que se formou entre a Psicanálise e as famílias de
crianças diagnosticadas com TEA, é fundamental discutir e sustentar o que essa forma de
tratamento pode reverberar para as crianças e seus pais. As metáforas da frieza materna como
etiologia constituem-se como um evento traumático nessa relação, mas a história da Psicanálise
aponta que a consideração ao sintoma enquanto produção inconsciente do sujeito ampara
Estilos da Clínica, 2020, V. 25, nº 2, p. 220-232
228
intervenções que se afastam de qualquer traço generalizante, de normatização e/ou determinista,
atentando-se para o sujeito e seu entorno.
Neste trabalho, recorreu-se a diversos teóricos psicanalíticos para investigar a abordagem
adotada referente à atuação com famílias na clínica psicanalítica de crianças. Essas teorias
explicitam a relevância que há nos vínculos iniciais estabelecidos entre o casal parental e seu
bebê, assim como a consideração com os pais na ocasião de um sintoma expresso pela criança.
No caso de TEA, especificamente, isso se torna ainda mais presente por tratar-se de um
diagnóstico atribuído em momento muito precoce e que tem tentado contemplar todas as
estranhezas relatadas na primeira infância.
A palavra “estranho”, comumente utilizada por pais e mães de crianças com diagnóstico de
autismo, foi propulsor para discutir a clínica psicanalítica como um espaço de acolhimento para
as famílias. Entende-se que o sofrimento e a angústia gerada a partir dos estranhamentos em
relação à criança, que impedem que aspectos narcísicos sejam reconhecidos, encontram nas
intervenções alicerçadas na Psicanálise o acolhimento que permitirá a superação da paralisia,
que é, muitas vezes, advinda dos diagnósticos de autismo. Nesse sentido, a postura psicanalítica
empenha-se para a travessia do “estranho”, para que seja possível novamente sonhar com a
criança.
A partir de buscas em bases de dados, reuniram-se relatos de intervenções psicanalíticas com
famílias de crianças diagnosticadas com TEA, tendo sido observados atendimentos grupais,
institucionais, na modalidade de consulta terapêutica e casos clínicos. Destaca-se que a inclusão
dos pais e mães possibilitou identificar angústias e enredamentos familiares específicos
imbricados no diagnóstico e nos sintomas da criança.
Neste artigo, entende-se que a família se constitui em ponto nodal da clínica psicanalítica de
crianças com diagnóstico de TEA. Denota-se que o cuidado para com a família está presente
nos autores clássicos que guiam as intervenções psicanalíticas. Ainda, discutem-se diversos
artigos provenientes de publicações científicas atuais que fornecem evidências dos efeitos que
os atendimentos psicanalíticos produzem em crianças diagnosticadas com TEA e suas famílias.
Apesar de terem sido consultadas apenas algumas bases de dados, considera-se que elas são as
principais que indexam a produção psicológica brasileira.
Ressalta-se, também, que não se encontrou nenhuma revisão anterior com o escopo do
presente estudo. Tendo em vista a importância de revisões para a produção científica, pode-se
sublinhar que esta pesquisa avança ao compilar dados sobre o tema aqui tratado e reunir
evidências dos efeitos produzidos a partir dos atendimentos psicanalíticos. Espera-se que, ao
reunir esses dados, esta revisão possa colaborar para a superação da falácia de que não existem
evidências sobre os atendimentos para autismo referenciados na Psicanálise, bem como
demonstrar as possibilidades dessas intervenções para as famílias.
No atendimento clínico com famílias de crianças diagnosticadas com autismo, é fundamental
que se faça uma travessia sobre todas as estranhezas em direção a uma região de afetos
suficientemente familiares. Só após essa travessia pode-se conhecer novos continentes e fundar
relações entre os pais e suas crianças em que seja possível reconhecer algo de si no infante,
produzindo novas perspectivas e identificações. Dessa forma, não se cristaliza os
estranhamentos da criança na colagem a uma patologia, mas se assume sua singularidade ao
mesmo tempo em que se proporciona a ela um espaço próprio na família.
Estilos da Clínica, 2020, V. 25, nº 2, p. 220-232
229
Referências
Almeida, M. L. (2017). A escuta da família frente ao diagnóstico de autismo da criança - um
estudo psicanalítico (Dissertação de Mestrado, Instituto de Psicologia, Universidade Federal
de Uberlândia). Recuperado de
https://repositorio.ufu.br/bitstream/123456789/19254/1/EscutaFamiliaFrente.pdf
Almeida, M. L., & Neves, A. S. (2017). A possibilidade clínica do ritmo: uma trajetória com
uma criança autista. Estilos da Cnica, 22(3), 442-
454. doi: https://doi.org/10.11606/issn.1981-1624.v22i3p442-454
Araújo, C. A. S. de. (2004). A perspectiva winnicottiana sobre o autismo no caso de
Vitor. Psychê, 8(13), 43-60.
American Psychiatry Association. (2013). DSM-V. Manual diagnóstico e estatístico de
transtornos mentais. Porto Alegre, RS: Artes Médicas.
Araújo, G. X, Mrech, L. M., Saboia, C, Siqueira, T., Nezan, M., Costa, R. A., . . . Soares, M.
B. (2013, 7 de abril). Panorama das questões envolvendo psicanálise e autismo na França
[blog]. Recuperado de
https://psicanaliseautismoesaudepublica.wordpress.com/2013/04/07/panoramadas-
questoesenvolvendo-psicanalise-e-autismo-na-franca/.
Batistelli, F. M. V., Amorim, M. L. G., Lisondo, A. B. D., Silva, M. C. P., França, M. T. B.,
Mendes de Almeida, M., . . . Coimbra, R. E. L. (2014). Atendimento psicanalítico do
autismo. São Paulo, SP: Zagodoni.
Calzavara, M. G. P. (2013). Anna Freud e Melanie Klein: o sintoma como adaptação ou
solução? Tempo Psicanalítico, 45(2), 323-338. Recuperado de
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-48382013000200006
Cavalcanti, A. E. (2000). Novas narrativas para os autismos: algumas contribuições de
Winnicott para uma teoria e clínica dos autismos. Estilos da Cnica, 5(8), 38-48. doi:
https://doi.org/10.11606/issn.1981-1624.v5i8p38-48
Corso, D. M. L. (1998). A invenção da criança na psicanálise: de Sigmund Freud a
Melanie Klein. Estilos da Clínica, 3(5), 104-114. doi: https://doi.org/10.11606/issn.1981-
1624.v3i5p104-114
Crespin, G. (2015). Como trabalha um psicanalista com uma criança autista sem linguagem?
In M.C. Kupfer & M. Szejer (Orgs.), Luzes sobre a clínica e o desenvolvimento de bebês:
novas pesquisas, saberes e intervenções (pp. 387-410). São Paulo, SP: Instituto Langage.
Delion, P. (2015). Autismo e parentalidade. Estilos da Clínica, 20(1), 15-26. doi:
https://doi.org/10.11606/issn.1981-1624.v20i1p15-26
Dolto, F. (2004). Prefácio. In M. Mannoni, Primeira entrevista em psicanálise (R.C. de
Lacerda, trad., pp.7-34). Rio de Janeiro, RJ: Campus. (Trabalho original publicado em
1965).
Dolto, F. (2005). A causa das crianças (I. Storniolo & Y.M. Silva, trad.). São Paulo, SP: Ideias
& Letras. (Trabalho original publicado em 1985).
Estilos da Clínica, 2020, V. 25, nº 2, p. 220-232
230
Estado de São Paulo (2012) Convocação Pública 001/2012. Edital de Convocação para
Credenciamento de Instituições Especializadas em Atendimento a Pacientes com
Transtorno do Espectro Autista (TEA), para eventual celebração de contrato ou
convênio. Diário Oficial do Estado de São Paulo (DOSP) Executivo Caderno 1 de
10 de outubro de 2012. Recuperado em 05 de abril de 2016 de:
https://www.jusbrasil.com.br/diarios/41312249/dosp-executivo-caderno-1-10-10-2012-pg-
111.
Faria, M. R. (2003). Constituição do sujeito e estrutura familiar. São Paulo, SP: Cabral Editora
e Livraria Universitária.
vero-Nunes, M. A. & Gomes, I. C. (2009). Transtorno autístico e a consulta terapêutica do
casal. Psico, 40(3), 346-353. Recuperado de
https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/5161521.pdf.
Freud, S. (2015). Análise de uma fobia em um menino de cinco anos. In S. Freud, O delírio e
os sonhos da Gradiva, análise da fobia de um garoto de cinco anos e outros textos. (P. C.
Souza, trad., pp. 123-283). São Paulo, SP: Companhia das Letras. (Trabalho original
publicado em 1909).
Freud, S. (2006). À guisa de introdução ao Narcisismo. In S. Freud, Escritos sobre a psicologia
do inconsciente (L. A. Hanns, trad., pp. 95-132). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Trabalho
original publicado em 1914).
Freud, S. (2006). Os caminhos da formação de sintomas. In S. Freud, Escritos sobre a
psicologia do inconsciente (L.A. Hanns, trad. pp. 475-499). Rio de Janeiro, RJ: Imago.
(Trabalho original publicado em 1917).
Freud, S. (2010). O inquietante. In S. Freud, História de uma neurose infantil (‘O homem dos
lobos’), Além do Princípio do prazer e outros textos. (P. C. Souza, trad., pp. 123-283). São
Paulo: Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1919).
Jerusalinsky, A. (2010). Considerações preliminares a todo tratamento possível do autismo.
Psicologia e Argumento, 28(61), 121-125. Recuperado de
https://periodicos.pucpr.br/index.php/psicologiaargumento/article/view/19695.
Jerusalinsky, A. (2015). Para um autista uma verdadeira inclusão acontece quando ele decide
se incluir. In A. Jerusalinsky (Org.), Dossiê autismo (pp.252-275). São Paulo: Instituto
Langage.
Klein, M. (1996). A importância da formação de símbolos no desenvolvimento do
ego. In M. Klein, Amor, culpa e reparação e outros trabalhos (A. Cardoso, trad., pp 249-
264). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Trabalho original publicado em 1930).
Klein, M. (1991). A técnica psicanalítica através do brincar: sua história e
significado. In M. Klein Inveja e gratidão e outros trabalhos (L. P. Chaves, trad., 149-168).
Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Trabalho original publicado em 1955).
Klein, M. (2006). Algumas conclusões teóricas relativas à vida emocional do
bebê. In Inveja e Gratidão e outros trabalhos (L. P. Chaves, trad., pp.85-118). Rio de
Janeiro, RJ: Imago. (Trabalho original publicado em 1952).
Lacan, J. (2009). O seminário, livro 1: os escritos técnicos de Freud, 1953-1953 (B. Milan,
trad.). Rio de Janeiro, RJ: Zahar.
Lacan, J. (1988). O seminário, livro 3: as psicoses, 1955-1956 (A. Menezes, trad.) Rio de
Janeiro, RJ: Zahar.
Estilos da Clínica, 2020, V. 25, nº 2, p. 220-232
231
Ledoux, M. H. (1995). Introdução à obra de Françoise Dolto. In J-D. Nasio (Org.),
Introdução às obras de Freud, Ferenczi, Groddeck, Klein, Winnicott, Dolto, Lacan
(pp.203-258). Rio de Janeiro, RJ: Zahar.
Leiras, E. P. L. (de), Batistelli, F. M., & Antunes, M. (2014). Reflexões psicanalíticas sobre um
caso com transtorno do espectro autista (TEA). Estilos da Clínica, 19(2), 277-293. doi:
https://doi.org/10.11606/issn.1981-1624.v19i2p277-293.
López, R. M. M., & Sarti, C. (2013). Eles vão ficando mais próximos do normal...
Considerações sobre normalização na assistência ao autismo infantil. Ideias, 6(1), 77- 98.
Recuperado de https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/ideias/article/view/8649399
Mannoni, M. (1999). A criança, sua "doença" e os outros (M. Seincman, trad.). São Paulo, SP:
Via Lettera. (Trabalho original publicado em 1967).
Martini, A. M. R. (2019). A chegada do estrangeiro: grupo de família - construindo
pontes. Vínculo, 16(1), 78-88. doi: http://dx.doi.org/10.32467/issn.1982-1492v16n1p78-88.
Martins, P. G., & Silva, M. R. (2017). O psicoterapeuta na clínica de bebês com transtornos de
subjetivação. Estilos da Clínica, 22(3), 488-506. doi: https://doi.org/10.11606/issn.1981-
1624.v22i3p488-506.
Merletti, C. (2016). Clínica Psicanalítica e Instituições. Analytica, 5(9), 41-49. Recuperado de
http://pepsic.bvsalud.org/pdf/analytica/v5n9/04.pdf.
Merletti, C. (2018). Autismo em causa: historicidade diagnóstica, prática clínica e narrativas
dos pais. Psicologia USP, 29(1), 146-151. doi: http://dx.doi.org/10.11606/issn.1981-
1624.v22i3p1-19.
Rocha, Z. (2007). Esperança não é esperar, é caminhar. Reflexões filosóficas sobre a esperança
e suas ressonâncias na teoria e clínica psicanalíticas. Revista Latinoamericana de
Psicopatologia Fundamental, 10(2), 255-273. Recuperado de
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-47142007000200255.
Rother, E. T. (2007). Revisão sistemática x revisão narrativa. Acta Paulista de Enfermagem,
20(2), 1-6. doi: https://doi.org/10.1590/S0103-21002007000200001.
Tafuri, M. I. (2003). Dos sons à palavra: explorações sobre o tratamento psicanalítico da
criança autista. Brasília, DF: ABRAFIPP.
Telles, C. M. A. (2011). O(s) Obscuro(s) dizer(es) de mães sobre o autismo de seus filhos
(Dissertação de Mestrado, Mestrado Multidisciplinar, Universidade Federal de São Carlos).
Recuperado de https://repositorio.ufscar.br/handle/ufscar/1094.
Telles, C. M. A. (2012). Os efeitos de (não) sentido do autismo para o sujeito ideológico.
Fragmentum, 32, 27-31. Recuperado de
https://periodicos.ufsm.br/fragmentum/article/viewFile/4733/2871.
Untoiglich, G. (2013). As oportunidades clínicas com crianças com sinais de autismo e seus
pais. Estilos da Clínica, 18(3), 543-558. doi: https://doi.org/10.11606/issn.1981-
1624.v18i3p543-558.
Vorcaro, A. M. R. (2001). Incidência da matriz simbolizante no organismo: o advento da
fala. Letras de Hoje, 36(3), 273-281. Recuperado de
http://revistaseletronicas.pucrs.br/fale/ojs/index.php/fale/article/view/14576/9737.
Estilos da Clínica, 2020, V. 25, nº 2, p. 220-232
232
Vorcaro, A. M. R. & Guimarães, M. R. (2014). Lacan leitor de Klein: da clínica kleiniana
com Dick à teorização lacaniana. Gerais: Revista interinstitucional de Psicologia, 7(2),
208-219. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/pdf/gerais/v7n2/v7n2a09.pdf
Winnicott, D. W. (2011). Consequências da psicose parental para o desenvolvimento emocional
da criança. In D. W. Winnicott, A família e o desenvolvimento individual (M. Cipolla, trad.,
pp.101-114). São Paulo, SP: Martins Fontes. (Trabalho original publicado em 1959).
Revisão gramatical: Una Assessoria Linguística
E-mail: contato@unalinguistica.com
Recebido em julho de 2019 – Aceito em julho de 2020.
... Esta categoria reúne quatro artigos que versam sobre intervenção psicanalítica e acompanhamento terapêutico de famílias cujas crianças receberam diagnósticos de Transtorno do Espectro Autista (TEA) ou de tendência antissocial (Almeida & Neves, 2020;Barbieri et al., 2013;Engel et al., 2014;Franco, 2021). ...
Article
Full-text available
Intervenção com famílias no contexto da psicanálise pode promover um ambiente facilitador, que possibilita um espaço de reflexão e fortalecimento da parentalidade. Objetivou-se identificar, descrever e analisar as produções acadêmicas acerca da temática de intervenções psicanalíticas com famílias. Trata-se de uma revisão sistemática do tipo metassíntese. Utilizou-se cinco bases de dados (BVS, Capes, LILACS, PePSIC e SciELO). A amostra final contou com 18 artigos. Foram identificadas cinco categorias temáticas: “intervenção psicanalítica com famílias em diferentes contextos”; “intervenções psicanalíticas com famílias: crianças com TEA ou tendência antissocial”; “intervenções psicanalíticas em contexto de violência ou vulnerabilidade”; “intervenção psicanalítica no vínculo mãe-bebê”; “dispositivos psicanalíticos: pesquisa e intervenção”. Constatou-se a importância da escuta psicanalítica; do holding e suporte oferecido aos pais; do espaço de supervisão para os profissionais e ao ambiente institucional responsável pelas intervenções; uso de dispositivos psicanalíticos na pesquisa-intervenção.
Article
Full-text available
The general objective of the study is to address the issue of psychoanalysis as a possibility for the treatment of children with autism spectrum disorder. A bibliographical research was used in a narrative way, supported by websites and scientific articles. According to the analyzed materials, it was possible to conclude that psychoanalysis in the treatment of children with autism spectrum disorder undergoes numerous theoretical changes and innovations since the case of Melanie Klein with Dick, this approach incorporates contributions from different authors and fields of knowledge, such as neuroscience, developmental psychology. Research points to the contributions of the psychoanalytic approach to the positive evolution of patients, contributing to the expansion of play, communication and also better relationships with the world that surrounds the autistic person. It is worth highlighting the importance of parents in direct participation throughout the psychotherapeutic process, the success of the treatment also depends a lot on this.
Article
Full-text available
Neste trabalho, discute-se a clínica pais-bebês em casos de dificuldades na constituição psíquica, partindo do conceito de Transtornos de Subjetivação Arcaica, de Victor Guerra, para pensar as manifestações autísticas nos primeiros anos de vida. Neste artigo, a postura do clínico que trabalha com tais bebês é colocada em discussão. Sugere-se que, ao analista que se propõe a trabalhar na clínica precoce dos transtornos constitutivos graves, fazem-se necessárias certas qualidades subjetivas: uma disponibilidade especialmente alta ao encontro intersubjetivo e, principalmente, uma postura de esperança, nunca deixando de apostar no advir do sujeito.
Article
Full-text available
O autor traça um paralelo entre o tratamento comportamental e o tratamento psicanalítico do autismo, enfatizando as consequências respectivas tanto da concepção da “incurabilidade” do autismo, quanto da “aposta no surgimento de um sujeito”. Analisa a oposição entre os automatismos neurobiológicos inatos e a produção das estruturas psíquicas mínimas pela intervenção do Outro Primordial e, na sua substituição, pela intervenção do psicanalista, e evidencia a importância etiológica das identificações primárias. Fornece diretivas para um tratamento psicanalítico da criança autista, a partir de sua experiência como analista que segue a teoria lacaniana, em contraponto à abordagem de outros psicanalistas da escola inglesa.
Article
This paper proposes a reflection about the performance of an institutional psychologist in managing families and staff from an Autistic Association. It presents the difficulties and challenges encountered, how the professional acted and which goals were reached during her work in the institution. It also reports her arrival to the institution, the process of change to shelter the unknown until the configuration of the support group for the families.
Article
The autistic and psychotic children seem to provoke in the adults who work with them the constant passage from the position of impotence to that of omnipotence. The clinic with these children puts in question and leads to the ultimate consequences what we conceive as a psychic constitution and subjectivation, demanding from the psychoanalysts who dedicate themselves to them a disposition for interdisciplinary exchanges, for the non-hierarchization and absolutization of knowledge, especially in face of the experience of the real, of the transferential emptiness and of the inconsistency of the demand that that they direct to the other people. Faced with these challenges in the field of psychoanalysis, the institutional work provided and supported by the Lugar de Vida team, a Center of Therapeutic Education located in the city of São Paulo, proposes an expanded psychoanalytic practice which dialogues with the field of Education, conceiving it also as a participant both in the transmission of symbolic marks in the early childhood and in the offer of language and culture to children who are initially deprived from them.
Article
Este artigo visa ressaltar formas implícitas ou explícitas de manifestação de uma tendência a seguir um padrão de normalidade nas práticas de assistência ao autismo infantil em diferentes instituições e abordagens, destacando suas implicações no que se refere às possibilidades que se abrem, ou fecham, à criança diagnosticada como “autista”. Baseia-se em dados de uma pesquisa etnográfica desenvolvida em duas instituições paulistanas de assistência pública a crianças “autistas” – uma baseada em abordagem comportamental, a outra em abordagem psicanalítica –, cujo eixo de análise foram as construções conceituais sobre o autismo e as práticas de atendimento que lhes são correspondentes.
Article
This work discusses briefly the infantile autism, pointing the variety of transformations in its definition in the last years and focusing the understanding of D. W. Winnicott on this issue. We present elements of Vitor's case in order to illustrate important points of Winnicott's theory in comprehending the etiology of the autistic condition.
Article
This article takes as its point of departure a question on the symptom that emerges in the clinical practice with children and in academic discussions of clinical cases. Does this practice favor the formation of the symptom and its articulation with the drive dimension or is it merely a practice of social adaptation of the symptom? We will begin at the new drive theory proposed by Freud in 1920, trying to highlight how this formulation caused a slight change in relation to the symptom, focusing here in the clinic with children of the pioneers Anna Freud and Melanie Klein.
Article
The present article intends to revisit the Dick case, in order to point out some implications of the Kleinian clinical approach based on excerpts from Lacan's seminars that relate to same. We use Klein's article, "The importance of symbol-formation in the development of the ego" (1930/1996), as an outset for the discussion, as well as some passages from Lacan's Seminars 1 (1953-4/1986), 3 (1955-6/1988), 6 (1958-9/2013) and 11, aiming to grasp both the approximations and divergences between these psychoanalysts. We recover the theory used by Klein to situate the child's mental condition and also the clinical newspaper clippings of the case. Finally, we retake Lacan's reading of the aforementioned case with the purpose of discussing the different conceptions of language present in both authors.