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Economia e pandemia: lockdown, flexibilização e defesa da vida

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Neste texto busca-se expor as relações entre Estado, economia, saúde e sociedade no contexto da pandemia causada pelo novo coronavírus (COVID-19), procurando relatar a evolução da doença no mundo, os erros e acertos observados na condução da gestão dos problemas sanitários, possíveis consequências sociais advindas da crise e as várias interfaces da pandemia.
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Caderno de Pesquisa NEPP, 89, setembro 2020
ECONOMIA E PANDEMIA: LOCKDOWN, FLEXIBILIZAÇÃO E
DEFESA DA VIDA
Domenico Feliciello
Gustavo Bonin Gava
ISSN: 2527-1946
Número 89
Setembro 2020
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
Reitor
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Pró-Reitor de Pesquisa
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NÚCLEO DE ESTUDOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS
Coordenador
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Coordenador Associado
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Conselho Editorial do Caderno de Pesquisa NEPP
Cibele Yhan de Andrade
Dra. Roberta Rocha Borges
Dra. Lilia Terezinha Montali
Dra. Valeria Cantelli
Dra. Stella M. B. da Silva Telles
Apoio Técnico
Maria do Carmo de Oliveira
O Caderno de Pesquisa NEPP, de caráter multidisciplinar, escrito por pesquisadores,
professores, estudantes de pós-graduação, membros associados e convidados, tem periodicidade
semestral. Publica artigos inéditos, relatórios de pesquisa, pesquisas em andamento, entrevistas
e resenhas relacionados com as múltiplas dimensões da política pública.
Entre 1987 e 2010, publicaram-se 83 números. Desde o número 84, o Caderno de Pesquisa
NEPP foi remodelado e passa a ser publicado em versão eletrônica.
.
Considerações Éticas:
A responsabilidade pelos conteúdos
publicados é exclusivamente do(s)
autor (es),assim como a
revisão ortográfica.
Economia e pandemia: lockdown, flexibilização e defesa da vida
Domenico Feliciello
Gustavo Bonin Gava
Resumo
Neste texto busca-se expor as relações entre Estado, economia, saúde e sociedade no contexto da
pandemia causada pelo novo coronavírus (COVID-19), procurando relatar a evolução da doença
no mundo, os erros e acertos observados na condução da gestão dos problemas sanitários,
possíveis consequências sociais advindas da crise e as várias interfaces da pandemia.
Palavras-chave: Coronavírus; Economia; Saúde; COVID-19
Economy and covid-19 pandemic: lockdown, flexibilization and life defense
Abstract
In this text we seek to expose the relations between the State, economy, health and society in the
context of the COVID-19 pandemic, seeking to report the evolution of the disease in the world,
the errors and successes observed in conducting the management of health problems, possible
social consequences of the crisis and the various interfaces of the pandemic.
Keywords: Coronavirus; Economy; Health; COVID-19
Doutor em Saúde Coletiva pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas
(FCM-UNICAMP). Atualmente é pesquisador colaborador no Núcleo de Estudos em Políticas Públicas da
UNICAMP (NEPP-UNICAMP). E-mail: domenico050@gmail.com
Doutor em Desenvolvimento Econômico pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de
Campinas (IE/UNICAMP). Atualmente é pesquisador colaborador no Laboratório de Economia e Gestão
da Faculdade de Ciências Aplicadas (LEG-FCA-UNICAMP). E-mail: gustavo.bgava@gmail.com
Economia e pandemia: lockdown, flexibilização e defesa da vida
Caderno de Pesquisa NEPP, 89, setembro 2020
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Introdução
No atual momento, assombrado pela pandemia da Sars-Cov-2 (COVID-19), é
possível perceber a complexidade de uma doença e suas relações com diferentes áreas da
sociedade, incluindo a economia, o desenvolvimento científico e tecnológico, as
condições de vida e sociais de vários grupos populacionais, a organização do poder
público nos diferentes níveis, a questão da cultura e do comportamento de distintos
extratos sociais, a conduta da comunicação social, o sistema de saúde e o papel dos vários
serviços de atenção à saúde, dentre outras.
Esta complexidade e os múltiplos grupos profissionais envolvidos, das diversas
áreas da sociedade, tornam o combate à epidemia uma tarefa onde afloram diferentes
visões políticas, econômicas, sociais, técnicas e científicas, colocando em campo o
embate que se trava na área política e ideológica, na medida em que distintos projetos e
interesses de grupos buscam ganhar a hegemonia nas explicações sobre a doença e no
controle das ações e recursos para seu combate.
Neste quadro, algumas questões têm aflorado com grandes reflexos no embate
público, através dos meios de comunicação e nas redes sociais, dentre as quais ressaltam:
o conhecimento sobre o coronavírus, suas características, formas de transmissão e
combate; as principais ações de prevenção e controle da epidemia pelos governos e
gestores da saúde; a organização dos serviços de atenção à saúde considerando a evolução
da doença nos vários grupos populacionais; as opções mais efetivas de tratamento e de
reabilitação.
Estas disparidades estão em grande parte alicerçadas sobre o pouco conhecimento
que se tem sobre o novo coronavírus, a dinâmica da pandemia e, a necessidade de
construir os novos conhecimentos na evolução da própria disseminação da doença, ou
seja construir novos saberes em ação.
Esse conhecimento em construção tem possibilitado e eclosão de múltiplos
conflitos atravessados por distintas concepções científicas, tecnológicas, políticas e
sociais que acabam se refletindo nas diversas áreas envolvidas. Assim, é possível
identificar as propostas, os projetos e interesses que são colocados em campo, bem como
seus respectivos atores, na evolução da pandemia.
Economia e pandemia: lockdown, flexibilização e defesa da vida
Caderno de Pesquisa NEPP, 89 setembro 2020
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Origem e respostas de enfrentamento ao covid-19 pelo mundo
A origem do primeiro foco da pandemia, na cidade de Wuhan na China, e a
compreensão das razões de sua eclosão ficaram marcadas pelas condições sociais e
culturais, pelo controle sanitário inapropriado, pela demora na tomada de decisão dos
governantes da cidade de Wuhan e sua comunicação para a Organização Mundial da
Saúde (OMS), permitindo o alastramento da epidemia pelos viajantes da China para
demais países da Europa, Itália e Reino Unido e, principalmente, Estados Unidos.
Autoridades chinesas de saúde anunciam a primeira morte de um paciente com
o vírus em 11 de janeiro. Em 13 de janeiro, a OMS notificou o primeiro caso
de uma pessoa infectada fora da China, na Tailândia: uma mulher com
pneumonia leve que voltava de uma viagem a Wuhan. Depois disso, novos
casos foram registrados em outras partes da Ásia (Japão, Coreia do Sul,
Tailândia, Taiwan). Em 21 de janeiro, foi anunciado um primeiro caso suspeito
na Austrália, assim como nos Estados Unidos, onde um passageiro que esteve
em Wuhan contraiu o vírus. (CORREIO BRAZILIENSE, 2020, n.p.)
Em 29 de janeiro de 2020 já estavam diagnosticados quase 6.000 casos na China
e vários na Europa, Oriente e América do Norte, segundo mapa a seguir.
Figura 1 Propagação do novo coronavírus, casos confirmados até 29 de janeiro de 2020
Fonte: Adaptado de Correio Braziliense (2020, n.p.).
Este quadro de evolução acelerada da pandemia levou a opiniões divergentes
sobre as intenções da China. Por um lado, o governo americano, mais à direita, apelidou
o novo coronavírus de “vírus chinês”, numa clara alusão que teria sido originado, ou
construído e propagado propositalmente para atingir as demais economias, com o objetivo
de alavancar a supremacia da China no mundo (CASARÕES, 2020).
Economia e pandemia: lockdown, flexibilização e defesa da vida
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Além disso, o presidente Americano Donald Trump (eleito pelo Partido
Republicano), por várias vezes, condenou a demora da China na comunicação do que
vinha ocorrendo em seu território e, a OMS de agir como parceira do país oriental, dando
a entender que a organização estava acobertando a postura inadequada dos chineses.
Posteriormente, esta situação levou ao desligamento dos Estados Unidos da OMS.
A declaração da pandemia pela OMS ocorreu em 11 de março de 2020, 60 dias
após a primeiro óbito, devido ao aumento de 13 vezes do número de casos fora da China
e de três vezes o número de países afetados, com mais de 118 mil casos ao redor do mundo
e 4.291 mortes. 90% das infecções do mundo estavam concentradas em 4 países: China,
Itália, Irã e Coreia do Sul (OMS, 2020).
As medidas de contenção da circulação do vírus e de mitigação, que vinham
sendo difundidas pela OMS, foram reafirmadas passando a ser discutidas e implantadas
de modo diferenciado pelos rios países, considerando suas concepções científicas,
tecnológicas, políticas e sociais, assim como as estruturas de seus serviços de prevenção
e atenção à saúde e, as experiências dos países já atingidos.
Por outro lado, a divulgação da tese defendida pela Rússia de que o coronavírus
foi criado nos laboratórios dos Estados Unidos e o fato da China concentrar a maior parte
das indústrias responsáveis pela produção dos principais insumos para fazer face à
pandemia, como máscaras, exames, respiradores e medicamentos, entre outros, levou a
formulação de várias teorias da conspiração, inclusive sobre uma nova guerra fria
bacteriológica, com acusações mútuas (ROCHAFERREIRA, 2020).
Esse cenário, somado a situação privilegiada da China na produção dos insumos
descortinou a inadequação da globalização da economia, acarretando a competição pela
compra destes insumos por diversos governos de países desenvolvidos e em
desenvolvimento e, criando guerra de preços, desvios de mercadorias nos aeroportos,
entrega de produtos de baixa qualidade, demora na produção e entrega, dado o grande
volume de pedidos, entre outros, contribuindo para agravar ainda mais a situação.
O princípio da pandemia é marcado pelas condutas iniciais e a demora das
medidas para retardar a disseminação do vírus adotadas pela China e pela OMS, pelo
seu alastramento acelerado, somada a um quadro de guerra comercial entre Estados
Unidos e China, o que permitiu que, alguns países capitalistas e com governos mais à
direita, utilizassem esse triste cenário para criar conflitos geopolíticos (PEDRO, 2020).
Feliciello, D.; Gava, G.B
Caderno de Pesquisa NEPP, 89, setembro
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Entretanto, estes embates políticos e econômicos se reproduziram para além da
geopolítica, em várias áreas envolvidas com a pandemia, dificultando o seu combate e
trazendo à tona os interesses em jogo em detrimento da defesa da vida.
Uma destas áreas onde estes embates continuam muito presentes refere-se às
formas de prevenção e de controle da transmissão, na medida em que as propostas de
afastamento e isolamento social, com a diminuição de circulação das pessoas em
diferentes graus, até o lockdown
1
, envolvem evidentes riscos de crise econômica.
Em publicação recente, coordenada por Vargas (2020), são analisadas as medidas
empreendidas pelo setor público, pela sociedade civil e pelo setor privado em 24 nações
para mitigar os efeitos deletérios da pandemia. Este estudo revelou que 83% dos países
assumiram o lockdown e apenas 13% o isolamento vertical, como medida de livre
circulação das pessoas. Este levantamento ainda observou iniciativas em quatro
categorias distintas: 1) restrição à livre circulação de pessoas; 2) intervenção na
propriedade privada; 3) transferência de renda; e 4) fomento. Exceto a requisição de bens
ou serviços privados (espécie C), as demais espécies de ações foram implementadas por
80% a 96% dos países, segundo a Tabela 1.
Tabela 1 O combate à Covid-19 pelo mundo
Categorias
%
Descrição
%
Restrição à livre
circulação de
pessoas
96%
Lockdown
83%
29%
Isolamento vertical
13%
Intervenção na
propriedade
privada
29%
Flexibilização de direitos de propriedade ou
requisição de bens ou serviços privados
29%
Transferência de
renda
88%
Auxílio em dinheiro aos trabalhadores
necessitados
88%
Fomento
96%
Redução ou diferimento de tributos ou
obrigações acessórias
79%
Medidas de carácter econômico visando a
manutenção da capacidade financeira das
empresas (ex.: abertura de linhas de crédito ou
financiamento; concessão de moratória)
96%
Alocação de recursos públicos em atividades
de pesquisa científica ou produção de bens ou
serviços voltados ao enfrentamento da Covid-
19 (ex.: parcerias público-privado;
mobilização da capacidade produtiva de
empresas; calltoaction)
92%
Fonte: Adaptado de Vargas (2020, p. 120).
1
Uma imposição do estado para obrigar as pessoas a diminuir a circulação em locais públicos, mantendo
de forma limitada apenas setores essenciais como farmácias, supermercados e serviços de saúde.
Economia e pandemia: lockdown, flexibilização e defesa da vida
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Destacam-se como as ações mais frequentes: alocação de recursos públicos em
atividades de pesquisa científica ou produção de bens e serviços, voltados ao
enfrentamento da Covid-19 (92%); medidas de caráter econômico visando a manutenção
da capacidade financeira das empresas (96%); e, auxílio em dinheiro aos trabalhadores e
necessitados (88%).
Estas medidas e ações foram empregadas pelos países em diferentes momentos
conforme a disseminação da pandemia do Oriente para a União Europeia e,
posteriormente para América do Norte e América Latina. No caso do isolamento social
as propostas de lockdown e de isolamento vertical e horizontal foram utilizadas pelos
governos segundo suas concepções sobre prevenção da pandemia e os riscos econômicos
que poderiam trazer aos diferentes setores produtivos. Neste aspecto foram ilustrativos os
casos da Itália, Reino Unido, França e EUA que acabaram assumindo formas mais rígidas
de isolamento somente após experimentarem um crescimento importante dos números de
casos e de óbitos, além da grande pressão sobre os serviços de saúde.
Desdobramentos das medidas de mitigação e os efeitos econômicos e sociais
Para adoção de formas de isolamento social menos ou mais rígidas foram
considerados a necessidade de expansão dos serviços de saúde para atendimento aos
contaminados, tendo em vista as características da Covid-19, sua velocidade de
transmissão, os grupos de maior risco (idosos e portadores de comorbidades), a
disponibilidade de tratamentos efetivos e, as consequências sociais e econômicas
(desemprego, perda de renda, falências de empresas, crise econômica, etc.).
De qualquer modo, as estratégias e ações principais dos países orientaram-se no
sentido de evitar picos de elevação de casos e de mortes, com o objetivo de achatamento
destes picos em platôs, de modo que os casos pudessem ocorrer em volume menor e num
prazo mais longo, tendo como parâmetro a capacidade instalada do setor saúde,
especialmente de leitos para internação de média e alta complexidade (UTI), buscando
dar assistência a quem necessita e minimizar os óbitos.
Entretanto, ao lado destas estratégias utilizadas pela maioria dos países, o fato das
medidas necessitarem de formas de isolamento mais agressivas, ou mesmo de lockdown,
levando a perdas de capacidade econômica dos indivíduos, das comunidades e das
empresas levou à defesa de outras estratégias que privilegiavam a menor perda
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econômica, mas um elevado número de caso e óbitos, colocando em foco a discussão
entre economia e defesa da vida.
De fato, o impacto econômico se deu por um choque de oferta resultante da
interrupção das atividades econômicas e pelo choque de demanda causado pela menor
propensão dos cidadãos e empresários em consumirem e/ou investirem, pois o
comportamento de prevenção em meio a incerteza.
Embora leve mais tempo para entender todo o impacto econômico do Covid-19,
dados e previsões preliminares demonstram os grandes efeitos negativos em nível global,
com efeitos desproporcionais em alguns setores (turismo, commodities, dentre outros)
(Figura 2).
Figura 2 Previsões para 2020 e 2021 do crescimento do PIB no mundo, economias
desenvolvidas, emergentes e ou em desenvolvimento
Fonte: Elaboração própria a partir de FMI (2020).
Os pesquisadores Mahler, et al. (2020) apontaram que o impacto da pandemia será
um dos maiores ao sistema econômico mundial. Em estimativa comparada entre as
regiões do globo, o cenário das projeções elaboradas pelos autores em abril de 2020
apontava para um aumento de 50 milhões de pessoas na pobreza extrema medida na
linha de pobreza extrema internacional de US$ 1,90 por dia (Tabela 2). Para o mês de
junho a projeção piorou o cenário, apontando para 72 milhões de pessoas abaixo da linha
de pobreza. As regiões do Sul da Ásia, África Subsaariana e Leste da Ásia e Pacífico
serão os mais impactados pela pandemia no que corresponde ao aumento no número de
2,9
-4,9
5,4
1,7
-8
4,8
3,7
-3
5,9
-10
-8
-6
-4
-2
0
2
4
6
8
2019 2020 2021
Mundo Economias desenvolvidas Economias emergentes ou em desenvolvimento
Economia e pandemia: lockdown, flexibilização e defesa da vida
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pobres e extremamente pobres. Em linhas mais altas de pobreza (US$ 3,30 a US$ 5,50
por dia), a regionalização da pobreza deve se concentrar no Sul da Ásia (159 milhões de
novos pobres para as projeções de junho de 2020).
Para o cenário latino-americano, os autores sublinharam para as projeções de
junho de 2020 uma piora gradual do cenário econômico e social, com o avanço de 24
milhões de habitantes inseridos na pobreza. O contexto para as economias avançadas não
foi modificado pelas novas projeções, de acordo com os autores, as regiões da Europa,
Ásia Central e América do Norte irão observar a introdução de 8 e 2 milhões de novos
pobres respectivamente.
Tabela 2 Projeções da distribuição dos pobres induzidos pela pandemia de Covid-19, abril e
junho de 2020
Regiões
Projeçõe
s de abril
($1,90)
Projeções
de junho
($1,90)
Projeçõe
s de abril
($3,30)
Projeções
de junho
($3,30)
Projeçõe
s de abril
($5,50)
Projeções
de junho
($5,50)
Sul da Ásia
16
32
56
115
44
85
África
Subsaariana
23
26
19
23
12
14
Leste da Ásia e
Pacífico
4
6
14
19
35
41
América Latina
e Caribe
3
4
6
9
13
18
Oriente Médio e
Norte da África
3
3
7
7
11
12
Europa e Ásia
Central
1
1
2
2
6
6
América do
Norte
1
1
1
1
Total
50
72
105
176
122
177
Fonte: Elaboração própria a partir de Mahler, et al. (2020).
A piora do cenário econômico também irá deteriorar as condições de saúde dessas
populações mais vulneráveis. Pode-se esperar que muitas dessas mortes ocorram entre as
pessoas mais vulneráveis economicamente, pois elas geralmente têm piores condições de
saúde pré-existentes, são subnutridas e possuem poucos recursos para obter acesso aos
serviços de saúde privados. Ao mesmo tempo, a mitigação e a redução da atividade
econômica reduzem ainda mais sua renda. Simulações realizadas pelo relatório Covid-19
and human development: assessing the crisis, envisioning the recovery (PNUD, 2020),
demonstraram que o impacto da pandemia terá consequências terríveis para o
desenvolvimento humano e para os mais vulneráveis. A queda do PIB e seu efeito na
renda e na pobreza em conjunto com o aumento da mortalidade e o declínio da educação
Feliciello, D.; Gava, G.B
Caderno de Pesquisa NEPP, 89, setembro
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efetiva devido ao fechamento de escolas resultarão no primeiro declínio no Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) desde sua implantação em 1990.
Outro impacto negativo da pandemia é sobre a igualde de gênero, pois como
demonstrou o estudo de Doepke e Tertilt (2016), as mulheres geralmente estão inseridas
no mercado de trabalho em ocupações de menor remuneração, geralmente em trabalho de
meio período e ou com características de sazonalidade e em ocupações com menores
níveis de proteção social ou mesmo sem o direito a pensões, pois muitas mulheres estão
trabalhando no mercado informal ao mesmo tempo, estão concentradas em afazeres
domésticos, incluindo a proteção e o cuidado de entes familiares . Com escolas e centros
infantis fechados, muitas mulheres devem deixar seus postos de trabalho para cuidar de
seus filhos. Além disso, o adiamento ou mesmo a paralização de exames e
acompanhamentos realizados sobretudo pela atenção primária podem ter como resultado
o aumento da mortalidade materna e infantil. Em países emergentes ou em
desenvolvimento, o agravamento da crise econômica deve aumentar a evasão escolar e
nesse aspecto, as meninas e adolescentes tendem a paralisar seus estudos para
substituírem as mães que trabalham, tornando a educação feminina pior e,
consequentemente o emprego futuro será de menor remuneração.
A maioria dos cidadãos das economias emergentes e ou em desenvolvimento não
possuem emprego regular ou formal para garantir suas necessidades alimentares e, sem
transferências de renda, a fome deve aumentar. Segundo o relatório Global Report on
Food Crises disponibilizado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e
a Agricultura (FAO), havia no mundo cerca de 135 milhões de pessoas passando fome
antes do impacto da pandemia muitas dessas pessoas estavam concentradas em
territórios de conflitos armados e esse número poderá alcançar 265 milhões em 2020,
concentrado nas regiões mais pobres do mundo: África Subsaariana, Oriente Médio e
Norte da África e América Latina e Caribe (FAO, 2020).
Neste quadro as discussões dos governos oscilaram entre as consequências
sanitárias e epidemiológicas da pandemia e seus reflexos no âmbito da economia. As
discussões públicas do governo Trump, nos EUA, e do governo Bolsonaro, no Brasil,
foram extremamente exemplares destes embates, privilegiando formas mais brandas de
isolamento social, apesar do maior risco de mortes e do esgotamento do setor saúde,
mesmo observando as consequências ocorridas na Comunidade Europeia
(SCHUCHMANN et al., 2020)
Economia e pandemia: lockdown, flexibilização e defesa da vida
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Assim, os grupos defensores de ambas as estratégias formularam avaliações,
publicizaram indicadores e argumentações em defesa de suas posições que, em realidade
necessitam ser observadas de forma acurada para evitar o falso dilema economia versus
defesa da vida.
Uma das questões colocadas diz respeito à validade da prevenção (uso de
máscaras, água e sabão e álcool gel), do isolamento social e mesmo do lockdown, na
medida em que se evitam picos elevados de casos e de mortes permitindo um melhor
acolhimento pelos serviços de saúde, além de diminuir o número de contaminados,
internados e óbitos (NUSSBAUMER-STREIT et al., 2020). Mas ao achatar esses picos e
prolongar o tempo para se alcançar a imunidade da comunidade
2
podem ocorrer danos
econômicos mais elevados, na medida em que haveria desemprego e perda de empresas.
Outros grupos, defendem um limite de tempo para o isolamento social, uma vez
que as mortes ocasionadas pela pandemia, como proporção total da população, são
menores daquelas ocasionadas por outras causas como acidentes e assassinatos. Assim,
indicam estratégias, critérios e “indicadores” que poderiam auxiliar na decisão da
retomada dos setores econômicos. Neste aspecto a taxa de casos ou de óbitos por
habitantes, a velocidade de crescimento de contaminados e de óbitos, a evolução das
curvas e, mesmo a taxa de ocupação de leitos, incluídos os de UTI têm sido propostos
para seguimento, pelo menos no Brasil
3
, com o objetivo de acompanhar a melhoria da
pandemia numa região, podendo indicar o momento do relaxamento do isolamento e, a
reabertura dos setores econômicos paralisados.
Por outro lado, observam-se grupos preocupados com a defesa da vida,
preconizando formas mais radicais de isolamento social, ou até lockdown, para propiciar
o controle de casos e óbitos, possibilitando a resposta mais adequada do sistema de saúde
aos casos mais graves. Neste caso, apontam que a crise econômica e a queda do PIB,
devido ao Covid-19, irá ocorrer independente das políticas de isolamento, uma vez que
mesmo com o um isolamento vertical ou o retorno à “normalidade” os trabalhadores
continuarão a ser infectados, num volume maior, causando afastamentos do trabalho e
diminuição da produtividade, além da reclusão voluntária de pessoas que procuram se
2
No caso de pandemias os estudos mostram que a imunidade coletiva das comunidades somente é
alcançada, na ausência de vacinas e remédios eficazes, quando cerca de 70% das pessoas tenham adquirido
a enfermidade. Neste caso a pandemia diminui sua velocidade de crescimento até níveis suportáveis.
3
Ver a proposta do Governo do Estado de São Paulo, disponível em: https://bit.ly/3gcifxR.
Feliciello, D.; Gava, G.B
Caderno de Pesquisa NEPP, 89, setembro
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proteger da contaminação, ou que param de trabalhar para cuidar dos doentes (MACIEL;
SANGLARD, 2020).
Além destas questões mais gerais, grupos mais críticos levantam a discussão do
baixo volume de testes realizados e do alto volume de subnotificação de casos e mortes
em inúmeras sociedades, principalmente em vias de desenvolvimento, colocando dúvidas
sobre o uso destes indicadores e, apontando para a necessidade de ampliação do número
de exames para detecção precoce dos casos e controle de comunicantes
4
e a melhoria dos
sistemas de informação, que muitos casos leves e moderados de covid-19 não são
diagnosticados, assim como os óbitos ocorridos em locais sem acesso aos exames (CRUZ,
2020).
Outra questão a ser considerada é a redução de mobilidade das pessoas durante a
quarentena e isolamento, uma vez que estudos indicam que nos países com alto percentual
de isolamento (acima de 75%) o controle da epidemia foi alcançado de forma mais rápida
(CRUZ, 2020).
Para além dessas discussões, a dificuldade de implementar a prevenção, o
isolamento e a quarentena nas diferentes sociedades descortinou questões mais profundas
relacionadas às grandes desigualdades vivenciadas pelos grupos humanos
marginalizados, que se constituem em obstáculos estruturais, como falta de água e
saneamento, pobreza e fome, habitações insalubres, desemprego, baixa renda, baixa
educação e falta de acesso a serviços sociais e de saúde, colocando em cheque o papel do
Estado e as propostas focadas especialmente nas comunidades urbano-industriais,
integradas ao consumo e aos desenvolvimento econômico dominante.
Assim, o peso e o privilégio conferido às consequências sanitárias da pandemia
ou aos seus reflexos econômicos, além de estarem presentes a todo momento, desde a sua
eclosão e desenvolvimento, até a retomada da economia e da normalidade social, com o
“controle” da pandemia, refletem-se nas estratégias e ações formuladas.
Neste aspecto, a interferência do Estado na sociedade e na economia mostrou-se
como a principal estratégia, desnudando a falácia do Estado Mínimo, da baixa
interferência do Estado no Mercado e da Economia de Mercado como a principal
4
Comunicantes são considerados todos os indivíduos que entraram em contato com portadores confirmados
de Covid 19 e que devem ser observados e isolados para impedir a continuidade da transmissão, para os
demais.
Economia e pandemia: lockdown, flexibilização e defesa da vida
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estratégia de desenvolvimento, o que não significa que o modelo capitalista está falido,
mas aponta para a necessidade de repensar as relações Estado, sociedade e economia.
Lições derivadas da pandemia
As consequências econômicas da pandemia são amplas e devem afetar a maneira
como a economia mundial funcionou até o presente momento. Consequentemente, são
inúmeras lições que podem ser aprendidas neste contexto, começando com nossos pontos
de vista sobre a saúde como um direito social e um bem público e sobre as possíveis
mudanças nas relações deste direito com a economia.
Desde 1948 a saúde é considerada um direito fundamental ao ser humano,
portanto, não deve ser negociada como bem ou mercadoria, pois o direito à saúde é o
direito à vida, deste modo é imensurável.
O Covid-19 está expondo os custos econômicos e sociais causados pela imposição
da agenda neoliberal por mais de três décadas ao redor do globo. Esta agenda de reformas
neoliberais foi implementada nos sistemas de proteção social a partir de meados dacada
de 1970 e início de 1980, motivada, especialmente, mas certamente não exclusivas, por
pensadores da “Nova Direita” insulados dentro de governos de matrizes conservadoras,
por exemplo, no Partido Conservador na Inglaterra e o Partido Republicano nos Estados
Unidos. Os pressupostos do declínio dos sistemas de proteção social tornaram-se
dominantes a partir da década de 1970, por conta da perda de dinamismo das principais
economias ocidentais. Foi a interpretação econômica da crise fiscal dos sistemas de
proteção social a mais disseminada, espalhando a visão neoliberal sobre as funções que
caberiam nas novas interpretações acerca do papel do Estado. Os custos crescentes dos
sistemas de proteção social o previdenciário e de saúde como os principais
decorreriam, principalmente, de uma demanda por serviços públicos da população mais
necessitada. O debate econômico focou-se: na transição demográfica; produtividade no
trabalho somada com as transformações no padrão produtivo; maior flexibilização dos
mercados de trabalho; e, na redistribuição da renda e da riqueza (FIORI, 1997;
O’CONNOR, 1997; OFFE, 1984; POCHMANN, 2004).
Os sistemas de saúde também sofreram grandes transformações a partir das
reformas sugeridas pela agenda neoliberal. Com isso, as políticas econômicas e sociais
foram desarticuladas em nome da restrição de custos, do controle de gastos e da primazia
do individual sobre o coletivo. Isso acarretou novos procedimentos administrativos para
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os sistemas de saúde, visando garantir maior controle sobre a quantidade de profissionais,
incentivar medidas de prevenção às doenças, melhorar e intensificar a produção de
serviços em saúde e a capacidade de leitos, assim como alterar as formas de remuneração
dos prestadores de serviços. Ademais, esse pacote de reformas causou interferência na
organização do sistema de saúde por meio de processos de desconcentração na condução
das políticas de saúde (ALMEIDA, 2012).
Características similares estão contidas e foram agravadas nos países latino-
americanos. Na medida em que nos países mais avançados, podemos observar um
desequilíbrio entre as relações do capital e do trabalho e o descontentamento crescente da
sociedade, nos países latino-americanos, é inegável, o enfraquecimento dos frágeis
sistemas de proteção.
Na América Latina, os sistemas de proteção social perseguiram uma estratégia
que culminou na cidadania regulada, isto é, enormes diferenças nos direitos a benefícios
sociais para diferentes grupos ocupacionais. As pensões e os seguros foram inicialmente
projetados para fortalecer a divisão ocupacional e geográfica, agravando assim as
diferenças entre as classes. Mais tarde, foram ditaduras, regimes autocráticos e seus
grupos de apoio (como, por exemplo, a recente burocracia institucionalizada) que
implementaram tipos mais universais de benefícios e sistemas, particularmente na
assistência médica e na provisão de assistência social e educacional (SOARES, 2012).
Na América Latina, a política social é um instrumento político, o que pode
explicar a impressionante falta de igualdade no contexto dos sistemas de proteção social.
Embora, em alguns casos, os gastos sociais sejam significativos, como no exemplo
brasileiro, são insuficientes para minimizar os efeitos da pobreza sobre a saúde das
populações mais desfavorecidas, o que denota um padrão de subdesenvolvimento
econômico incrustado e de difícil solução. Em um contexto, mais complexo, de intensa
desigualdade econômica e social, a pandemia torna-se um desafio ainda maior.
Desta forma, a pandemia mostrou dramaticamente o preço de uma transformação
neoliberal. A globalização do mercado cria ameaças à saúde e é completamente incapaz
de responder a fatalidades como a disseminação do Covid-19. Portanto, é necessário
compreender que o sistema de proteção social aqui incluindo o sistema de saúde público
e universal deve ser considerado como um complexo arranjo social que produz bens e
serviços públicos e garante a reprodução da sociedade com base nos direitos e
necessidades dos cidadãos, e não na capacidade de consumidores em comprar serviços e
Economia e pandemia: lockdown, flexibilização e defesa da vida
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produtos. Desta forma, é preciso recorrer a proteção social como uma dimensão que o
mercado não pode mensurar através de simples indicadores econômicos.
Como bem discorre Draibe (2007, p. 29), é necessária uma nova abordagem
teórica da proteção social, pensada “no quadro mais amplo de relações entre Estado,
desenvolvimento econômico e sistemas de proteção social”. Além da proteção social
como alicerce importante para o crescimento econômico e desenvolvimento social, é
necessária também a construção de sistemas contábeis e indicadores que levem em conta
as externalidades ambientais produzidas pelo sistema capitalista.
Mais importante, essas medidas devem ser direcionadas, temporárias e seguidas
por políticas pós-crise focadas no fortalecimento da estrutura fiscal para apoiar o
crescimento e sua sustentabilidade ao longo do tempo. As sociedades não apenas devem
refinanciar massivamente através de sistemas de tributação mais progressivos as
políticas públicas de proteção social, saúde, educação e ambientais, mas também, como
apontam Gadelha e Temporão (2018), o sistema de proteção social poderia se tornar o
motor de um novo modelo de desenvolvimento de qualidade e sustentabilidade ambiental.
Após a crise, o sistema de proteção social pode vir a ser um orientador das
trajetórias de desenvolvimento da economia como um todo, garantindo convergência
entre o comportamento de mercado e os objetivos sociais, de saúde, proteção social e
ambientais, por exemplo.
Como argumentam et al. (2020, p. 34): “Que configurações a sociedade irá
trilhar no pós-pandemia se predominarão arranjos e experimentações mais solidárias e
amorosas ou individualistas e de dominação, ou uma conjunção entre eles são caminhos
em aberto”. Assim, torna-se um erro acreditar que, uma vez que a pandemia tenha
passado, a economia possa voltar ao “normal”. É necessário repensar a produção e o
consumo à luz das necessidades de saúde e ambientais.
Responder a uma pandemia é um dos atos mais desafiadores aos gestores públicos.
Exige que os Estados desenvolvam e executem em tempo real uma imensa resposta
política coordenada isto é, políticas econômicas e sociais extraordinárias e focalizadas
para abordar um grande risco à saúde pública e gerenciar simultaneamente o impacto
econômico em famílias e em empresas. A prioridade imediata é obviamente fortalecer a
capacidade de resposta dos sistemas de saúde para cuidar das pessoas infectadas pelo
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Covid-19, incluindo proteger o bem-estar de grupos vulneráveis e retardar a disseminação
do vírus.
Desta maneira, é importante que o Estado canalize e gerencie esforços para
financiar medidas a serem adotadas no contexto de pandemia, bem como haja com
dedicação na elaboração de políticas de proteção social relativamente robustas no curto,
médio e longo prazo para mitigar os efeitos desta e apoiar famílias e empresas. Nesse
sentido, é essencial aumentar os recursos para: 1) prover renda, especialmente para grupos
vulneráveis que provavelmente perderão seus empregos durante o período de crise; 2)
fortalecer os sistemas de proteção social para responder ao choque contínuo e 3) adotar
políticas setoriais para garantir a sustentabilidade de empresas neste momento e no pós-
pandemia.
Em alento aos mais pessimistas, recuperamos o parágrafo final do documento
disponibilizado pelo PNUD (2020) que apresenta uma lição importante sobre como as
sociedades dos vários países afetados responderam ao desafio imposto pela pandemia:
Mais fundamentalmente, a crise é um lembrete severo de que é improvável que
a humanidade permaneça saudável em um planeta doentio. Ignoramos nossa
insensatez com a natureza por nossa conta e risco. Mas a crise mostrou o
potencial dos humanos de agir coletivamente para enfrentar um desafio global
compartilhado. Sim, a resposta foi irregular, fragmentada e incoerente, mas
praticamente em todos os lugares bilhões de pessoas mudaram seu
comportamento para enfrentar uma ameaça comum. Isso deixou bem claro que
abordar outros desafios coletivos das mudanças climáticas e extinção
biológica de espécies às crescentes desigualdades está ao nosso alcance.
(PNUD, 2020, p. 24, tradução nossa).
Assim, é importante aprender as principais lições das consequências da pandemia
e abrir um debate sobre as possíveis ações que possam reestabelecer na sociedade a busca
de um modelo de desenvolvimento mais estável, justo e sustentável.
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Resume O papel que a ciência tem cumprido em relação à pandemia da Covid-19 está em franca discussão no Brasil e no mundo. Considerando a necessidade de aprofundar o debate sobre as concepções de ciência no presente contexto, assim como suas consequências, o objetivo deste ensaio é discutir, a partir de referenciais da epistemologia, o problema da demarcação entre ciência e não ciência, os programas de pesquisa científica e o negacionismo na pandemia. Na primeira parte do texto, apresenta-se a discussão da demarcação entre ciência e não ciência, com destaque para a proposição do filósofo Imre Lakatos sobre os programas de pesquisa científica e sua relação com as pesquisas sobre a Covid-19. Na segunda parte, argumenta-se sobre o negacionismo na pandemia da Covid-19 e sua relação com a necropolítica e o neofascismo. Por fim, discute-se a necessidade de incorporação da interdisciplinaridade, participação ativa dos sujeitos e garantia dos direitos humanos em programas de pesquisa científica sobre a Covid-19, assim como em outros temas de saúde pública.
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A velocidade da pandemia COVID-19 e a incapacidade dos sistemas de saúde responderem oportunamente deflagram uma crise sanitária que evidencia a interdependência entre os processos ambientais, econômicos, sociais, culturais e políticos. Este ensaio procura demonstrar a importância das relações entre a realidade psíquica e a realidade externa nesta crise sanitária e social. Analisamos alguns dos seus condicionantes e manifestações, focalizando paradoxos e tensões que se destacam, particularmente, em dois âmbitos: a) nos padrões de sociabilidade e modos de representação do indivíduo na sociedade, destacando-se o paradoxo da formação imaginária do indivíduo individualizado, supostamente autônomo, potente e capaz de se autogerir, vis-à-vis a constatação crescente de seu desconhecimento, descontrole e incapacidade de salvação individual na pandemia, bem como o reconhecimento das desigualdades estruturais da sociedade, iluminadas pelos refletores da pandemia; b) no âmbito dos serviços públicos de saúde e do cotidiano de seus profissionais, o paradoxo da precarização histórica do Sistema Único de Saúde (SUS), predominantemente representado pela mídia, até então, como ineficaz, e sua súbita promoção imaginária ao lugar salvacionista de depositário das esperanças e, por isso, merecedor dos investimentos que lhe faltaram desde sua criação. Finalmente discutimos a pandemia COVID-19 como uma catástrofe psicossocial, resultante da superposição e interpenetração das catástrofes sanitária e social, enquanto realidade externa, à realidade interna (psíquica) dos sujeitos e apontamos a importância, para as possíveis reconfigurações da sociedade no pós-pandemia, de um trabalho coletivo sobre e pela palavra, em narrativas que visem a (re)construção de sentidos sobre o horror que ora vivemos.
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The difference between the countries in the center of capitalism and those on its periphery, regarding social protection, is shocking. In the periphery there was difficulty in completing the Social Welfare State, in the same way the local elites blocked the advances of democracy. In spite of this, the small social apparatus constructed since the 1930's began to be strongly questioned after the 80's crisis. Thus, the challenge today is to overcome the social exclusion, by building a new social democracy.
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Este artigo recapitula brevemente a trajetória e os paradigmas históricos mais conhecidos de proteção social dos "excluídos" das sociedades capitalistas, para diferenciá-los do Welfare State contemporâneo, posterior ao Plano Beveridge. Logo em seguida contextualiza o sucesso da nova organização pública da proteção social, no âmbito da "Era de Ouro" do capitalismo, no período que vai de 1950 a 1970. Para, depois de discutir algumas tipologias presentes na literatura sobre o Welfare, colocar o problema de sua lenta desarticulação ou redefinição no contexto das crises econômicas e da vitória ideológica do liberal-conservadorismo nos países centrais e periféricos.
Chapter
Como desconhecer o que é a política de saúde, o que é o Sistema Único de Saúde (SUS), os determinantes sociais, as condições de saúde e as desigualdades do acesso no Brasil? Esta obra consolida o conhecimento crítico sobre o sistema de saúde brasileiro produzido ao longo dos últimos trinta anos. Conhecimento militante na defesa do direito universal à saúde e do acesso aos serviços de um sistema nacional de saúde de qualidade para todos e de políticas de saúde que promovam a redução das desigualdades sociais. Um livro didático e de referência que inclui os eixos de análise individual/coletivo, clínico/epidemiológico e público/privado, além de congregar autores com experiência na gestão de serviços e do próprio sistema, nos três níveis da federação. A construção do SUS há muito deixou de ser obra exclusiva de intelectuais capazes de ler em língua estrangeira. Temos ‘construtores’ que lêem na realidade concreta dos serviços e da gestão, e que participam ativamente do complexo processo de construção cotidiana da saúde.
Article
span>Teremos de nos acostumar, pelo menos nos próximos anos, com um mundo mais fechado, menos livre e mais desigual.</span
Article
Background: Coronavirus disease 2019 (COVID-19) is a rapidly emerging disease that has been classified a pandemic by the World Health Organization (WHO). To support WHO with their recommendations on quarantine, we conducted a rapid review on the effectiveness of quarantine during severe coronavirus outbreaks. Objectives: We conducted a rapid review to assess the effects of quarantine (alone or in combination with other measures) of individuals who had contact with confirmed cases of COVID-19, who travelled from countries with a declared outbreak, or who live in regions with high transmission of the disease. Search methods: An information specialist searched PubMed, Ovid MEDLINE, WHO Global Index Medicus, Embase, and CINAHL on 12 February 2020 and updated the search on 12 March 2020. WHO provided records from daily searches in Chinese databases up to 16 March 2020. Selection criteria: Cohort studies, case-control-studies, case series, time series, interrupted time series, and mathematical modelling studies that assessed the effect of any type of quarantine to control COVID-19. We also included studies on SARS (severe acute respiratory syndrome) and MERS (Middle East respiratory syndrome) as indirect evidence for the current coronavirus outbreak. Data collection and analysis: Two review authors independently screened 30% of records; a single review author screened the remaining 70%. Two review authors screened all potentially relevant full-text publications independently. One review author extracted data and assessed evidence quality with GRADE and a second review author checked the assessment. We rated the certainty of evidence for the four primary outcomes: incidence, onward transmission, mortality, and resource use. Main results: We included 29 studies; 10 modelling studies on COVID-19, four observational studies and 15 modelling studies on SARS and MERS. Because of the diverse methods of measurement and analysis across the outcomes of interest, we could not conduct a meta-analysis and conducted a narrative synthesis. Due to the type of evidence found for this review, GRADE rates the certainty of the evidence as low to very low. Modeling studies consistently reported a benefit of the simulated quarantine measures, for example, quarantine of people exposed to confirmed or suspected cases averted 44% to 81% incident cases and 31% to 63% of deaths compared to no measures based on different scenarios (incident cases: 4 modelling studies on COVID-19, SARS; mortality: 2 modelling studies on COVID-19, SARS, low-certainty evidence). Very low-certainty evidence suggests that the earlier quarantine measures are implemented, the greater the cost savings (2 modelling studies on SARS). Very low-certainty evidence indicated that the effect of quarantine of travellers from a country with a declared outbreak on reducing incidence and deaths was small (2 modelling studies on SARS). When the models combined quarantine with other prevention and control measures, including school closures, travel restrictions and social distancing, the models demonstrated a larger effect on the reduction of new cases, transmissions and deaths than individual measures alone (incident cases: 4 modelling studies on COVID-19; onward transmission: 2 modelling studies on COVID-19; mortality: 2 modelling studies on COVID-19; low-certainty evidence). Studies on SARS and MERS were consistent with findings from the studies on COVID-19. Authors' conclusions: Current evidence for COVID-19 is limited to modelling studies that make parameter assumptions based on the current, fragmented knowledge. Findings consistently indicate that quarantine is important in reducing incidence and mortality during the COVID-19 pandemic. Early implementation of quarantine and combining quarantine with other public health measures is important to ensure effectiveness. In order to maintain the best possible balance of measures, decision makers must constantly monitor the outbreak situation and the impact of the measures implemented. Testing in representative samples in different settings could help assess the true prevalence of infection, and would reduce uncertainty of modelling assumptions. This review was commissioned by WHO and supported by Danube-University-Krems.
Chapter
Much of macroeconomics is concerned with the allocation of physical capital, human capital, and labor over time and across people. The decisions on savings, education, and labor supply that generate these variables are made within families. Yet the family (and decision making in families) is typically ignored in macroeconomic models. In this chapter, we argue that family economics should be an integral part of macroeconomics and that accounting for the family leads to new answers to classic macro questions. Our discussion is organized around three themes. We start by focusing on short- and medium-run fluctuations and argue that changes in family structure in recent decades have important repercussions for the determination of aggregate labor supply and savings. Next, we turn to economic growth and describe how accounting for families is central for understanding differences between rich and poor countries and for the determinants of long-run development. We conclude with an analysis of the role of the family as a driver of political and institutional change.