ArticlePDF Available

Efeito de dietas de alto grão sobre o comportamento ingestivo de cordeiros em confinamento | Effect of high-grain diets on feeding behavior of feedlot lambs

Authors:

Abstract

The aim of this study was to evaluate the effect of using different high-grain diets on the feeding behavior of lambs fi nished in feedlot. 32 male castrated Texel breed and weaned at approximately 50 days of age lambs were used. The treatments were four diets based on different types of cereal grains, not processed, as follows: corn grain, white oat grain, black oat grain or grain of rice in the husk. Lambs fed diets with high corn grain spent less time ruminating and total chewing activity and remained longer time in idleness. Moreover, had higher dry matter intake, lower feeding effi ciency in relation to NDF and better rumination effi ciency of DM and NDF compared with lambs from the other three treatments. The feeding behavior of feedlot fi nished lambs with the use of high-grain diets based on corn, white oat, black oat or rice in the hulls suffer changes caused mainly by the voluntary feed intake and the proportion of NDF present in the experimental diets.
145
Zootecnia Trop., 33 (2): 145-152. 2015
Recibido: 02/09/14 Aprobado: 16/11/15
Efeito de dietas de alto grão sobre o comportamento ingestivo
de cordeiros em confi namento
Effect of high-grain diets on feeding behavior of feedlot lambs
Efecto de dietas con alto contenido de grano sobre
el comportamiento ingestivo de corderos en confi namiento
Sérgio Carvalho1*, Guilherme M. C. Bernardes2, Cléber C. Pires1, Gianni Bianchi3, Veronica
M. Pilecco2, Rafael S. Venturini2, Juliano H. Motta4e Camilla T. Teixeira4
1Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Departamento de Zootecnia. Santa Maria, Rio Grande, RS, Brasil.
Correio eletrônico*: scarvalhoufsm@hotmail.com. 2Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Programa de
pós-graduação em Zootecnia, Santa Maria, RS, Brasil. 3Universidad de la República. Facultad de Agronomía.
Departamento de Producción Animal y Pasturas. Estación Experimental “Dr. Mario A. Cassinoni” (EEMAC).
Paysandú, Uruguai. 4Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Aluno de graduação em Zootecnia. Rio
Grande do Sul, RS, Brasil.
RESUMO
O objetivo desse trabalho foi avaliar o efeito do
uso de diferentes dietas de alto grão sobre o
comportamento ingestivo de cordeiros terminados
em confi namento. Foram utilizados 32 cordeiros
machos, castrados, da raça Texel e desmamados
com aproximadamente 50 dias de idade. Os
tratamentos foram quatro dietas baseadas
em diferentes tipos de grãos de cereais, não
processados, sendo: grão de milho, grão de aveia
branca, grão de aveia preta ou grão de arroz com
casca. Os cordeiros alimentados com dietas de
alto grão de milho despenderam menor tempo em
atividades de ruminação e de mastigação total e
permaneceram maior tempo em ócio. Além disso,
apresentaram maior consumo de matéria seca,
menor efi ciência de alimentação em relação à
FDN e uma melhor efi ciência de ruminação da
MS e da FDN quando comparados com cordeiros
dos outros três tratamentos. O comportamento
ingestivo de cordeiros terminados em confi namento
com o uso de dietas de alto grão a base de milho,
aveia branca, aveia preta ou arroz com casca
sofre alterações provocadas principalmente pelo
consumo voluntário de alimento e pela proporção
de FDN presente nas dietas experimentais.
Palavras-chave: consumo, ovinos, produção, trato
gastrointestinal.
ABSTRACT
The aim of this study was to evaluate the effect
of using different high-grain diets on the feeding
behavior of lambs fi nished in feedlot. 32 male
castrated Texel breed and weaned at approximately
50 days of age lambs were used. The treatments
were four diets based on different types of cereal
grains, not processed, as follows: corn grain, white
oat grain, black oat grain or grain of rice in the
husk. Lambs fed diets with high corn grain spent
less time ruminating and total chewing activity and
remained longer time in idleness. Moreover, had
higher dry matter intake, lower feeding effi ciency
in relation to NDF and better rumination effi ciency
of DM and NDF compared with lambs from the
other three treatments. The feeding behavior of
feedlot nished lambs with the use of high-grain
diets based on corn, white oat, black oat or rice
in the hulls suffer changes caused mainly by the
voluntary feed intake and the proportion of NDF
present in the experimental diets.
Key words: intake, sheep, production, gastrointestinal
tract.
146
Vol. 33 (2) ZOOTECNIA TROPICAL 2015
RESUMEN
El objetivo del trabajo fue evaluar el efecto del uso
de diferentes dietas con alto contenido de grano
sobre el comportamiento ingestivo de corderos
en confi namiento. Se utilizaron 32 corderos
machos castrados de la raza Texel destetados
con aproximadamente 50 días de edad. Los
tratamientos fueron cuatro dietas en base a
diferentes granos de cereales no procesados:
maíz, avena blanca, avena negra y arroz con
cáscara. Los corderos alimentados en base a
grano de maíz mostraron menos tiempo a las
actividades de rumia y masticación, dedicando
más tiempo al ocio. Además de eso, estos corderos
presentaron mayor consumo de materia seca
(0,885 kg/día), menor efi ciencia de alimentación
en términos de FDN y mejor efi ciencia de rumia
de la MS (226,05 g MS/h) y de la FDN (33,61
g FDN/h) frente a los corderos de los otros tres
tratamientos. El comportamiento ingestivo de
corderos en confi namiento con el uso de dietas
con alto contenido de grano basado en maíz,
avena blanca, avena negra y arroz con cáscara se
somete a cambios causados principalmente por el
consumo voluntario de alimento y la proporción de
FDN presente en las dietas experimentales.
Palabras clave: consumo, ovejas producción, tracto
gastrointestinal.
INTRODÃO
A terminação de cordeiros em sistema de
confi namento com o uso de dietas de alto grão é
uma prática crescente em sistemas de produção
de carne ovina. O uso desse tipo de dieta traz
como vantagens a falta de necessidade do uso
de área para plantio de culturas e da realização
de tratos culturais nas mesmas, a presença
de maquinários próprios para o plantio, corte,
elaboração e conservação de silagens ou
fenos, bem como a redução de mão de obra
necessária para fornecimento de volumoso aos
animais. Além disso, dietas com altos teores de
concentrados energéticos proporcionam rápido
acabamento de carcaça e ganho de peso elevado
em animais confi nados (Bulle et al., 2002). Outro
fator a ser considerado é que o uso de dietas
de alto grão apresenta uma maior padronização
da dieta ofertada, visto que os ingredientes
concentrados apresentam pouca variação
nutricional ao longo do ano, diferentemente do
que ocorre com alimentos volumosos, refl etindo
em melhores resultados produtivos.
Contudo estas mudanças abruptas nos
sistemas de produção de carne ovina vêm
ocasionando mudanças nas características
de comportamento animal, onde se partiu
historicamente de uma criação extensiva com
uma dieta rica em volumoso, a níveis atualmente
extremos onde os animais permanecem
confi nados e com possível fornecimento de
uma dieta exclusivamente concentrada. Estas
mudanças de comportamento animal, por sua
vez, podem gerar distúrbios metabólicos e
alterações no consumo de alimento (Cardoso,
2012), o que pode levar a redução do ganho de
peso e, consequentemente, aumento do período
de permanência dos animais confi nados.
Segundo Rodrigues (1998), grandes refeições de
concentrados resultam em grandes fl utuações
no pH ruminal, com consequente redução ou
mesmo cessação do consumo, se insufi ciente
quantidade de bra é oferecida. Nesse sentido
Santini et al. (1992) afi rmam que ruminantes
requerem um mínimo de bra efetiva na dieta para
manter uma função normal do rúmen, sendo que
o seu funcionamento está associado à adequada
ruminação, produzindo quantidade sufi ciente de
substâncias tamponantes, através da salivação
e, com isso mantendo um adequado pH ruminal.
Por outro lado, de acordo com Rodrigues (1998),
tampões podem ser usados para parcialmente
substituir a FDN fi sicamente efetiva e neutralizar
a produção de ácidos produzidos durante a
fermentação ruminal.
A observação das atividades de alimentação,
ruminação, ócio e do tempo designado para
outras atividades, são de extrema importância
para avaliar mudanças no comportamento
ingestivo, proporcionadas por variações da
forma e na frequência em que o alimento é
oferecido, e como essas mudanças podem
infl uenciar no desempenho animal. Desta forma
se destaca a importância de se ter conhecimento
das características do comportamento ingestivo
de ovinos confi nados e submetidos a dietas de
alto grão.
Assim, este estudo foi realizado com o objetivo
de avaliar o comportamento ingestivo de
cordeiros confi nados e submetidos a dietas de
Carvalho et al. Efeito de dietas de alto grão sobre o comportamento ingestivo de cordeiros...
147
alto grão de milho, aveia branca, aveia preta ou
arroz com casca.
MATERIAL ETODOS
O trabalho foi conduzido no Laboratório de
Ovinocultura do Departamento de Zootecnia
da Universidade Federal de Santa Maria, Santa
Maria, RS, no período de agosto a novembro
de 2012. Foram utilizados 32 cordeiros machos,
castrados, da raça Texel, nascidos de parto
simples e desmamados com aproximadamente
50 dias de idade.
Os animais foram confi nados em baias
individuais, totalmente cobertas, com piso
ripado, aproximadamente 1,0 m acima do solo,
com dimensão de 2 por animal, e providas
de comedouros e bebedouros individuais. Os
tratamentos foram constituídos por diferentes
tipos de grãos, não processados, sendo: grão de
milho (Zea mays), grão de aveia branca (Avena
sativa), grão de aveia preta (Avena stringosa)
e grão de arroz com casca (Oryza sativa L.). A
dieta foi constituída pelo grão inteiro utilizado
no tratamento, 15% de um núcleo concentrado
comercial (89,29% matéria seca; 36,58%
proteína bruta; 64% nutrientes digestíveis totais;
2,5% cálcio; 0,0009% fósforo), farelo de soja e
calcário calcítico. As dietas foram formuladas
para serem isoproteicas e atender as exigências
da categoria utilizada, segundo o NRC (2007),
para a obtenção de ganho de peso de 200 g/
dia. Na Tabela 1 é apresentada a proporção dos
ingredientes e a composição bromatológica das
dietas experimentais.
A ração foi ofertada aos animais ad libitum, duas
vezes ao dia, sendo os horários de arraçoamento
às 8:00 e 17:00 horas. A quantidade ofertada
foi ajustada em função da sobra observada
diariamente, sendo que esta deveria ser 10%
da quantidade oferecida no dia anterior, de
modo a garantir o consumo voluntário máximo
dos animais. Os animais possuíam acesso, ad
libitum, a sal mineral e água, em recipientes
individuais, próprios para esse m. A composição
química do sal mineral utilizado era: (Cálcio: 134
g; Fósforo: 60 g; Magnésio: 10 g; Sódio: 110 g;
Enxofre: 12 g; Cobalto: 150 mg; Iodo: 60 mg;
Ferro: 2.500 mg; Manganês: 4.500 mg; Selênio:
30 mg; Zinco: 6.000 mg; Flúor - máx.: 570 mg;
Palatabilizante: 180 g).
O período experimental foi precedido de um
período de 10 dias para adaptação dos animais
ao alimento, as condições de instalações e
manejo. Nessa fase, para aprendizado de
consumo de alimento sólido no comedouro por
parte dos animais, foi fornecido feno de alfafa
triturado como parte da alimentação e o grão
utilizado no tratamento, em uma proporção
inicial de volumoso: concentrado de 45:
55%. Posteriormente, até o início do período
experimental, a cada dois dias, o feno de alfafa era
substituído gradativamente em uma proporção
de 15% pelo grão de cereal a ser utilizado,
conforme o tratamento no qual o cordeiro se
encontrava. O ensaio de alimentação iniciou
após o período de adaptação, estendendo-se
até o momento em que cada cordeiro atingia o
peso de abate pré-estabelecido de 32 kg, que
corresponde a 60% do peso adulto de suas
mães, segundo recomendação de Butter eld
(1988).
Durante o período de confi namento os animais
foram submetidos a três momentos de
observações de seu comportamento ingestivo
por um período de 24 horas, iniciando às oito
horas de manhã e se estendendo até às oito
horas da manhã do dia seguinte. O primeiro
período de observações ocorreu cinco dias
após o inicio do período experimental de
confi namento e, subsequentemente, os próximos
em um intervalo de 14 dias entre cada. Durante
este período os animais foram observados
individualmente, a intervalos de 10 minutos, para
avaliar os tempos despendidos em alimentação,
ruminação, ócio e outras atividades, bem como
o tempo de permanência em pé ou deitado.
Determinou-se também o número de refeições
e de ruminões por animal, bem como o tempo
despendido para cada atividade. A observação
noturna dos animais foi realizada mediante
o uso de iluminação artifi cial de lâmpadas
incandescentes.
Os resultados referentes as características de
comportamento ingestivo foram obtidos segundo
Carvalho (2002), utilizando-se às seguintes
equações:
EALMS = CMS/TAL; EALFDN = CFDN/TAL;
em que EALMS (g MS consumida/h) e EALFDN (g
FDN consumida/h) = efi ciência de alimentação;
CMS (g) = consumo diário de matéria seca;
148
Vol. 33 (2) ZOOTECNIA TROPICAL 2015
Tratamentos
Milho Aveia branca Arroz Aveia preta
Proporção dos ingredientes (%MS)
Aveia preta - - - 81,60
Aveia branca - 77,89 - -
Arroz - - 69,95 -
Milho 72,83 - - -
Núcleo 15,00 15,00 15,00 15,00
Farelo de soja 11,65 6,63 14,63 2,90
Calcário calcítico 0,52 0,48 0,42 0,50
Composição bromatológica (%MS)
MS 89,14 89,72 88,39 89,60
PB 18,81 18,81 18,81 18,81
EE 2,56 2,85 1,28 2,24
FDN 14,34 26,25 21,70 22,24
FDA 4,97 13,32 14,52 11,63
CHT 73,73 73,25 71,86 73,60
CNE 59,39 47,01 50,16 51,36
NDT 82,64 76,15 66,3 73,36
EL 1,95 1,80 1,55 1,72
Ca 0,63 0,63 0,63 0,63
P 0,25 0,31 0,31 0,30
Tabela 1. Proporção dos ingredientes e composição bromatológica das dietas experimentais.
CFDN (g) = consumo diário de FDN; TAL =
tempo gasto em alimentação diariamente.
ERUMS = CMS/TRU; ERUFDN = CFDN/TRU;
em que ERUMS (g MS consumida/h) e ERUFDN
(g FDN consumida/h) = efi ciência de ruminação;
TRU (h/dia) = tempo de ruminação.
TMT = TAL + TRU;
em que TMT (min/dia) = tempo de mastigação
total.
Os dados experimentais obtidos nos diferentes
tratamentos foram submetidos à análise de
variância e as médias comparadas pelo teste
de Tukey, adotando-se o nível de signifi cância
de 5%. As análises foram realizadas utilizando-
se o pacote estatístico SAS (2004). O modelo
matemático utilizado foi:
Yij   + αi + ij
Yij = Observação referente ao animal j, do
tratamento i;
= Média geral das observações.
αi = Efeito do tratamento i.
ij = Erro aleatório associado a cada observação.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O tempo despendido para alimentação (ALIM)
foi superior nos cordeiros do tratamento à base
de grão de milho quando comparado aos do
tratamento a base de grão de aveia branca, tanto
em minutos por dia quanto em percentagem
(Tabela 2). Resultado este justifi cável pelo maior
número de refeições realizadas pelos animais
Carvalho et al. Efeito de dietas de alto grão sobre o comportamento ingestivo de cordeiros...
149
Tratamentos
Parâmetros Milho Aveia branca Arroz Aveia preta Média
ALIM Min 138,96a97,71b122,78ab 120,24ab 119,71
% 9,65a6,79b8,53ab 8,35ab 8,31
RUM Min 241,25c475,00a385,00b456,91ab 387,53
% 16,75c32,99a26,74b31,73ab 26,91
TMT Min 380,21b575,71a507,78a577,14a507,24
% 26,40b39,77a35,26a40,08a35,23
OCIO Min 975,41a805,41c881,66b796,90c866,03
% 67,74a55,93c61,23b55,34c60,14
OUT Min 84,38a61,87ab 50,00b65,95ab 66,61
% 5,86a4,30ab 3,47b4,58ab 4,63
EM PE Min 394,79ab 453,33a332,22b415,48a402,99
% 27,42ab 31,48a23,07b28,85a27,99
DEIT Min 1045,21ab 990,21b1105,55a1024,52b1037,53
% 72,58ab 68,76b76,77a71,15b72,05
Valores, na mesma linha, seguidos de letras distintas, diferem entre si pelo teste de Tukey,
ao nível de 5% de signifi cância.
Tabela 2. Valores médios para os tempos despendidos na alimentação (ALIM), ruminação (RUM), tempo
de mastigação total (TMT), ócio (OCIO), outras atividades (OUT), permanência em pé (EM PE)
e permanência deitado (DEIT), de acordo com os tratamentos.
submetidos à dieta de milho quando comparado
ao tratamento à base de grão de aveia branca.
Estes resultados são similares aos encontrados
por Mendes et al. (2010), que trabalhou com
cordeiros confi nados com dietas com diferentes
teores e fontes de FDN, e verifi cou em uma
dieta contendo 14% de FDN com alta proporção
de concentrado a base de milho moído
grosseiramente um valor de 142 minutos por dia
despendidos para a alimentação dos animais
desse tratamento.
Observa-se também na Tabela 2 que o
tempo de ruminação foi menor (P≤0,05) nos
cordeiros do tratamento a base de grão de
milho quando comparados aos cordeiros dos
demais tratamentos. Esse resultado pode ser
explicado pelo menor teor de FDN e o maior
teor de carboidratos não estruturais presente
nessa dieta experimental quando comparada
as demais dietas testadas (Tabela 1). Como
consequência do menor tempo de ruminação
verifi cou-se também um menor tempo de
mastigação total e um aumento no tempo de ócio
nos cordeiros do tratamento do grão de milho.
Esse resultado está de acordo com Carvalho et
al. (2014), os quais afi rmam que o teor de bra em
detergente neutro (FDN) contido nos alimentos
é um dos principais fatores que infl uenciam no
comportamento ingestivo dos animais, sendo
que quanto menor for a quantidade de FDN, e/
ou o menor tamanho de partícula, menor será o
tempo despendido em atividade de mastigação
(alimentação e ruminação) e maior o tempo de
ócio, o que pode infl uenciar a capacidade de
ingestão de alimentos.
Quando se avalia os padrões de comportamento
ingestivo dos animais em termos percentuais
(Tabela 2), observa-se que o tempo de
ruminação e o tempo de mastigação total
foram menores e o tempo de ócio foi maior
nos cordeiros do tratamento do grão de milho,
mantendo a mesma tendência de quando
o comportamento ingestivo foi avaliado em
150
Vol. 33 (2) ZOOTECNIA TROPICAL 2015
minutos por dia. Resultados próximos aos
verifi cados no presente estudo foram obtidos por
Dias (2012), quem testando níveis diferentes de
casca de soja na dieta de cordeiros terminados
em confi namento, observou valores médios de
34,34% para tempo de mastigação total e de
63,59% para ócio. Contudo, o tempo médio
despendido pelos cordeiros para alimentação,
verifi cado por esse autor, foi de 15,70%, superior
ao valor médio de 8,31% do presente estudo.
Essa não concordância é explicada pelo tipo de
dieta utilizada, sendo que com o uso de dietas
de alto grão provavelmente haja redução no
período de alimentação, pois conforme Mertens
(1996), quando rações com alta energia e baixo
teor de bra são utilizadas, os animais irão
regular o consumo de energia por atender o seu
requerimento energético e, consequentemente,
há redução no tempo diário de ingestão de
alimentos.
Outro aspecto a ser destacado com os
resultados obtidos no presente estudo é o alto
período destinado pelos animais para realização
de outras atividades. O valor médio obtido de
4,63% é superior ao verifi cado por Hübner et
al. (2008), que avaliando o comportamento
ingestivo de ovelhas em lactação alimentadas
em confi namento com diferentes teores de fi bra
observaram um resultado médio de 0,56%,
e o verifi cado por Dias (2012) o qual testando
níveis diferentes de casca de soja como fonte
de volumoso na dieta de cordeiros confi nados
observou 2,07%. Esse resultado pode ser
explicado pelo baixo teor de bra das dietas de
alto grão testadas, sendo que foram observados
vários comportamentos estereotipados dos
animais, principalmente cordeiros roendo tábuas
e cochos, bem como lambendo o ripado das
baias, comportamento esse característico de
animais com defi ciência de fi bra na dieta.
Contudo, deve-se enfatizar que, independente
do tipo de grão testado, não foi verifi cado
durante o período experimental nenhum distúrbio
metabólico que viesse a comprometer o consumo
e o desempenho animal, sendo que as variações
de comportamento ingestivo observadas são
explicadas basicamente por diferenças em
relação a composição bromatológica das dietas
experimentais, demonstrando que é possível
a terminação de cordeiros em confi namento
com o uso de dietas de alto grão e com baixo
conteúdo de fi bra.
Na Tabela 3 pode-se observar que foi
verifi cado um maior consumo de matéria seca
(consequentemente de energia e proteína)
para os cordeiros do tratamento a base de
grão de milho, resultado esse que infl uenciou
diretamente o desempenho animal, podendo-se
observar que os animais do tratamento a base
de grão de milho apresentaram um maior ganho
de peso diário diferindo signifi cativamente dos
animais dos demais tratamentos. A menor
proporção de FDN e de FDA e maior de CNE
presentes na dieta a base de grão de milho, o
que proporciona aumento da digestibilidade e
da taxa de passagem do alimento, pode explicar
o resultado obtido. Como consequência dessa
característica do alimento, verifi cou-se um
menor tempo de ruminação e maior de ócio
(Tabela 2) nos cordeiros desse tratamento.
Verifi cou-se também um menor tempo por
refeição e por atividade de ruminação dos
cordeiros do tratamento do grão de milho
(Tabela 3). O menor tempo por refeição pode ser
explicado pela densidade energética da dieta,
sendo que os cordeiros atingiram a saciedade
de forma mais rápida quando comparado aos
cordeiros dos demais tratamentos. Já a redução
do tempo de ruminação pode ser explicada pela
maior taxa de passagem e pelo menor tempo
de permanência do alimento no rúmen dos
cordeiros alimentados a base de grão de milho
em comparação aos outros grãos testados,
fator esse determinante da maior frequência de
acessos ao comedouro dos animais submetidos
ao tratamento à base de grão de milho.
Os resultados apresentados para efi ciência
na alimentação, em gramas de FDN por hora,
demonstram que os cordeiros do tratamento
a base de grão de aveia branca se mostraram
mais efi cientes que os cordeiros dos demais
tratamentos testados no presente estudo.
Resultado este justifi cável pela maior proporção
de FDN na dieta do tratamento a base de grão
de aveia branca. Por apresentar uma menor
proporção de FDN na dieta e uma maior taxa de
passagem do alimento pelo trato gastrointestinal
dos animais, os cordeiros do tratamento a base
de grão de milho apresentaram uma melhor
efi ciência de ruminação (ERU), tanto em gramas
Carvalho et al. Efeito de dietas de alto grão sobre o comportamento ingestivo de cordeiros...
151
Tratamentos
Milho Aveia branca Arroz Aveia preta Média
CMS (kg/dia) 0,885a0,667bc 0,600c0,730b0,728
CFDN (kg/dia) 0,131c0,169a0,133bc 0,160ab 0,149
GMD (kg/dia) 0,306a0,187bc 0,138c0,221b0,218
NºREF 8,44a5,14b7,05ab 6,91ab 6,87
NºRUM 16,75 18,79 17,79 17,33 17,67
min/REF 16,94b23,33a22,28a22,95a21,26
min/RUM 14,21c20,30a17,33b20,02ab 17,94
EAL (g MS/h) 434,36 450,60 343,92 387,20 408,74
EAL (g FDN/h) 64,19b113,91ª 76,08b85,13b85,42
ERU (g MS/h) 226,05a86,29b94,27b96,10b128,86
ERU (g FDN/h) 33,61a21,80b20,85b21,09b24,69
Valores, na mesma linha, seguidos de letras distintas, diferem entre si pelo teste de Tukey, ao nível
de 5% de signifi cância. x
Tabela 3. Valores médios para consumo de matéria seca (CMS) e de bra em detergente neutro
(CFDN), ganho de peso médio diário (GMD), número de refeições (NºREF) e de ruminações
(NºRUM) em 24 horas, tempo despendido por refeição (min/REF) e ruminação (min/RUM),
efi ciência de alimentação (EAL) e de ruminação (ERU), de acordo com os tratamentos.
de matéria seca como em gramas de FDN
ruminadas por hora.
Avaliando o comportamento ingestivo de ovelhas
em lactação alimentadas em confi namento
com dietas contendo diferentes níveis de bra
em detergente neutro, Hübner et al. (2008)
verifi caram valores médios de 504,16 g de
MS/h e de 198,83g de FDN/h para efi ciência de
alimentação, e de 209,99 g de MS/h e 84,02 g
de FDN/h para efi ciência de ruminação, valores
esses superiores aos do presente estudo devido
à categoria animal avaliada e ao teor de FDN
superior nas dietas experimentais. Resultados
superiores foram também observados por
Carvalho et al. (2006), os quais avaliando o
desempenho e o comportamento ingestivo de
cabras em lactação alimentadas com dietas
contendo diferentes níveis de bra observaram
valores médios para efi ciência de alimentação
de 569,35 g de MS/h e 185,8 g de FDN/h, e para
efi ciência de ruminação de 432,82 g de MS/h e
138,2 g de FDN/h. A diferença entre os estudos
pode ser explicada pela espécie animal, onde
caprinos normalmente apresentam consumos
de matéria seca e, consequentemente, de
nutrientes, superior quando comparado a ovinos.
Valor próximo ao do presente estudo, para
efi ciência de alimentação da FDN, foi obtido
por Carvalho et al. (2014), os quais avaliando
o comportamento ingestivo de cordeiros das
raças Texel e Ideal observaram um valor médio
de 81,58 g de FDN/h. Já em relação à efi ciência
de ruminação os resultados médios obtidos por
esses autores foram de 245,13 g de MS/h e 87,19
g de FDN/h, o que pode ser explicado pelas
diferenças entre os consumos de matéria seca
e maior teor de FDN nas dietas experimentais
avaliadas por esses autores.
152
Vol. 33 (2) ZOOTECNIA TROPICAL 2015
CONCLUO
A partir dos resultados obtidos, pode-se afi rmar
que é possível a terminação de cordeiros em
confi namento com o uso de dietas de alto
grão e com baixo conteúdo de fi bra. Porém,
as características de comportamento ingestivo
de cordeiros terminados em confi namento com
o uso de dietas de alto grão a base de milho,
aveia branca, aveia preta ou arroz com casca
sofrem alterações provocadas principalmente
pelo consumo voluntário de matéria seca (0,885;
0,667; 0,730 e 0,600 kg/dia, respectivamente),
pela proporção de FDN e pela densidade
energética das dietas experimentais.
LITERATURA CITADA
Bulle, M. L. M., F. G. Ribeiro, P. R. Leme, E. A. L.
Titto e D. P. D. Lanna. 2002. Desempenho
de tourinhos cruzados em dietas de alto
teor de concentrado com bagaço de cana-
de-açúcar como único volumoso. Rev.
Bras. Zootec., 31 (1): 444-450.
Butterfi eld, R. M. 1988. New concepts of sheep
growth. Sydney. University of Sydney. 168 p.
Cardoso, E. O. 2012. Dieta de alto grão para
bovinos confi nados: viabilidade econômica
e qualidade da carne. Dissertação de
Mestrado. Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia, Curso de Pós-
graduação em Zootecnia, Itapetinga, Bahia.
66 p.
Carvalho, S. 2002. Desempenho e comportamento
ingestivo de cabras em lactação alimentadas
com dietas contendo diferentes níveis de
bra. Tese de Doutorado. Universidade
Federal de Viçosa, Curso de Pós-graduação
em Zootecnia, Viçosa, Minas Gerais. 118 p.
Carvalho, S., M. T. Rodrigues, R. H. Branco e
C. A. F. Rodrigues. 2006. Comportamento
ingestivo de cabras Alpinas em lactação
alimentadas com dietas contendo
diferentes níveis de fi bra em detergente
neutro proveniente da forragem. Rev. Bras.
Zootec., 35 (2): 562-568.
Carvalho, S., F. D. Dias, C. C. Pires, D. D. Brutti,
J. F. Lopes, D. Santos, R. D. Barcerlos, S.
Macari, T. P. Wommer e L. Griebler. 2014.
Comportamento ingestivo de cordeiros
Texel e Ideal alimentados com casca de
soja. Archiv. Zootec., 63 (241): 55-64.
Dias, F. D. 2012. Substituição do alimento
volumoso por casca de soja na alimentação
de cordeiros das raças Texel e Ideal em
confi namento. Dissertação de Mestrado.
Universidade Federal de Santa Maria,
Curso de Pós-graduação em Zootecnia,
Santa Maria, Rio Grande do Sul. 82 p.
Hübner, C. H., C. C. Pires, D. B. Galvani, S.
Carvalho, F. Jochims, T. P. Wommer e B. G.
Gasperin. 2008. Comportamento ingestivo
de ovelhas em lactação alimentadas com
dietas contendo diferentes níveis de bra
em detergente neutro. Cienc. Rural, 38 (4):
1078-1084.
Mendes, C. Q., V. F. Turino, I. Susin, A. V.
Pires, J. B. Morais e R. S. Gentil. 2010.
Comportamento ingestivo de cordeiros
e digestibilidade dos nutrientes de dietas
contendo alta proporção de concentrado
e diferentes fontes de bra em detergente
neutro. Rev. Bras. Zootec., 39 (3): 594-600.
Mertens, D. R. 1996. Using ber and
carbohydrate analysis to formulate dairy
rations. In: Informational conference with
dairy and forages industries, 1996, Virginia.
Proceedings... Virginia, US Dairy Forage
Research Center. pp. 81-92.
NRC. Nutrient Requirements of Small Ruminants.
2007. Editorial. National Academy Press.
Washington, D.C. 362 p.
Rodrigues, M. T. 1998. Uso de fi bras em rações
de ruminantes. In: Congresso nacional dos
estudantes de zootecnia. Anais... Viçosa,
Minas Gerais, Brasil. pp. 139-171.
Santini, F. J., C. D. Lu, M. J. Potchoiba, J. M.
Fernandez e S. W. Coleman. 1992. Dietary
ber and milk yield, mastication, digestión,
and rate of pasaje in gotas fed alfafa hay. J.
Dairy Sci., 75 (1): 209-219.
SAS. Statistical Analysis System. 2004. SAS
user’s guide: Statistics. Cary: North Caroline
SAS Institute. 5135 p.
... Pearson correlation coefficients between characteristics of ingestive behaviour meet their nutritional needs.Carvalho et al. (2015), when working with confined lambs using high-density diets with an NDF content of 14.34%, found a mean value of 16.93 min/REF, agreeing with the present study. ...
Article
Full-text available
ABSTRACT The aim of this study was to evaluate the ingestive behaviour of lambs or hoggets, finished in confinement on high-concentrate diets based on maize or sorghum grain. A total of 32 animals were used, 16 lambs (milk teeth) and 16 hoggets (2 teeth), which were distributed in a completely randomised experimental design and a 2 x 2 factorial scheme (two categories x two types of grain). In the categories under evaluation (lambs and hoggets), a significant difference (P≤0.05) was found for total chewing time, idle time and other activities (expressed in min/day and as a percentage), number of meals per day, time spent per meal and for the weight of dry matter or NDF ingested per meal (g/DM per REF and g/NDF per REF respectively). For the grain under test (maize or sorghum), significant differences (P≤0.05) were seen in feeding time, total chewing time and idle time (expressed in min/day and as a percentage) and for feed efficiency (g DM/h and NDF/h). Differences in the nutritional demands of lambs and hoggets, and in the composition of high-concentrate diets of maize or sorghum, cause changes in some characteristics of the ingestive behaviour of the animals.
Article
Full-text available
The physicochemical characteristics of the meat from lambs fed diets containing whole or disintegrated cottonseed, associated or not with calcium lignosulfonate (LignoCaSO3), were evaluated. Thirty non-castrated Dorper x Santa Inês lambs, with an average of 24.9 ± 3.6 kg and four months of age were confined for 60 days in collective stalls and distributed in a completely randomized design with six replications. After slaughter, by means of contrasts, the averages of the parameters of the semimembranous and semitendinosus muscles were analyzed. The cottonseed increased cooking loss and ash, and reduced muscle weight, water holding capacity and red intensity. The disintegration of the cottonseed reduced the shear force in diets without LignoCaSO3, increased the protein and the loss by cooking and reduced the pH in the diets with the additive. The luminosity values increased with the disintegration of the cottonseed in diets with and without LignoCaSO3. The addition of LignoCaSO3 increased the weight of the muscle, protein, ash, pH, shear strength and the intensity of red. Moisture, lipids and yellow intensity were not influenced by the diets. Even changing the physical-chemical characteristics, the cottonseed with or without LignoCaSO3 does not change the quality of the meat
Article
Full-text available
The objective of this research was to measure the ingestive behavior of steers finished exclusively with concentrate containing soybean hulls (ground) and/or white oat grain. We used 32 steers with Charolais or Nellore predominance. The animals were randomly distributed in the treatments, blocked according to genetic predominance, and allocated in individual pens. Diets were isonitrogenous, being the treatments: Soybean hulls; White oat grain or the Mixture (equal parts), plus limestone and protein nucleus. Steers that received the diet based on soybean hulls remained more time in idle compared to the ones that received the mixture, and these remained more time in idle than the steers that received the diet based on white oat grain. Steers that received the diet based on soybean hulls ruminated less time than the steers fed the mixture, and these less time than those fed white oat grain. Exclusively concentrate diets based on soybean hulls although presenting high soluble fiber content in neutral detergent, are not sufficient to promote an appropriate ingestive behavior of steers of Charolais or Nelore racial predominance. Resumo O objetivo desta pesquisa foi mensurar o comportamento ingestivo de novilhos terminados exclusivamente com concentrado contendo casca do grão de soja (moída) e/ ou grão de aveia branca. Foram utilizados 32 novilhos, com predominâncias raciais Charolês ou Nelore. Os animais foram distribuídos ao acaso nos tratamentos, bloqueados conforme predominância genética e alocados em baias individuais. As dietas foram isonitrogenadas, sendo os tratamentos: Casca do grão de soja; Grão de aveia branca e a Mistura (partes iguais), acrescidos de calcário calcítico e núcleo proteico. Os animais que receberam dieta à base de casca de soja permaneceram mais tempo em ócio, comparados aos que
Article
Full-text available
RESUMO O objetivo do presente trabalho foi avaliar a conversão alimentar, a digestibilidade do amido, o comportamento ingestivo e o escore de sobras da dieta e de fezes de novilhos confinados, suplementados com doses do complexo enzimático (0; 2,5; 5,0 e 7,5g animal-1 dia-1) e alimentados com dieta constituída por 85% de grão de milho e 15% de núcleo proteico, vitamínico e mineral, na base seca, isenta de forragem. O delineamento experimental foi o de blocos ao acaso contendo quatro tratamentos e quatro repetições. Trinta e dois novilhos inteiros, ½ sangue Angus Nelore, com idade média de 12 meses e peso vivo médio inicial de 422kg, foram confinados por um período de 77 dias. Cada grama de inclusão de complexo enzimático melhorou a conversão alimentar em 0,1652%, reduziu a matéria seca das fezes em 0,4648% e o tempo de ingestão de água em 0,0068 horas dia-1. A máxima digestibilidade do amido foi alcançada na dose de 5,08g animal-1 dia-1. A inclusão progressiva do complexo enzimático à dieta de alta densidade energética promoveu melhoria na conversão alimentar, redução na matéria seca das fezes e diminuição do tempo de ingestão de água. A dose de 5g animal-1 dia-1 do complexo enzimático aumentou a digestibilidade do amido.
ResearchGate has not been able to resolve any references for this publication.