Content uploaded by Filomena Barata
Author content
All content in this area was uploaded by Filomena Barata on Sep 17, 2020
Content may be subject to copyright.
MITOLOGIA CLÁSSICA NA QUINTA DA REGALEIRA
Dia 16 de Setembro
Filomena Barata
A MITOLOGIA
«A Mitologia, entendida como história de
personagens sobrenaturais, cercados de
simbologia e venerados sob a forma de
deuses, semideuses e heróis, que regiam
as forças da Natureza e do Cosmos, é
contada através de um conjunto de
fábulas que explicam a origem dos mitos,
das divindades mitológicas, que tinham
nas mãos o destino dos homens e regiam
o mundo.
Mito, do grego, significa narrar, contar.
No sentido figurado significa coisa
inacreditável. Mas significa ainda a
personagem divinizada. Logia, do grego
lógos, significa estudo, palavra, ciência.
Mitologia poderá ser, assim, encarada
como um conjunto maior ou menor de
mitos, ou como o estudo desses mitos».
Manuel Rodrigues
Leda e o Cisne, Quinta da Regaleira
A MITOLOGIA
Quer para os Gregos, quer para
os Romanos, os Mitos são parte
integrante da sua crença.
Uma multidão de deuses, semi-
deuses e heróis explicam a
origem da vida, o Cosmos, as
forças da Natureza e os
fenómenos naturais, as estações
do ano, a morte, a fertilidade, a
guerra, a paz.
1 - Mosaico com representação Apolo puxando uma quadriga.
C. 225 d. C. Musee du Viel Orbe. Suiça.
2 - «Herma» duplo com Juno e Júpiter, representado com cornos
de carneiro. Museo Arqueológico Provincial de Córdoba.
3 -Mosaico das flores.
Villa romana de Torre de Palma. Museu Nacional de Arqueologia.
4 – Lucerna com representação de Hélios . Ruínas de Troia. MNA
A COMPLEXIDADE DA MITOLOGIA
Entre muitos deuses da Natureza,
pois todos o são, temos o mundo
das divindades da Floresta, dos
Faunos, dos Sátiros, das Ninfas, de
Dioniso/Baco, das Bacantes, de
Pomona, protegendo os jardins e as
árvores de fruto, e todas as outras
deidades dos bosques, das
montanhas, dos mares, das
propriedades agrícolas e dos ciclos
do ano; de Fauno e Fauna; de Flora;
de Pã e de Silvano, esse deus de
origem itálica que em si reúne a
natureza animal e vegetal.
1 - Fauno e Bacante da Casa dos Dioscuri, em Pompeia
Séc. I d.C.
Museo Archeologico Nazionali di Napoli,
AAM E A MITOLOGIA
Foi nossa opção não nos dedicar ao interior da casa,
nem a objectos que lhe pertenceram, mas ao exterior.
Contudo, em alguns deles, é clara a apetência de AAM
por temas mitológicos, a exemplo deste leito de
aparato setecentista que terá sido oferecida pelo Papa
aos Condes do Sabugal, onde todos os medalhões têm
temas mitológicos
“Em 1880 foi vendida pelo último Conde de Sabugal a
Júlio Cordeiro que a cedeu, em 1882, ao Museu das
Janelas Verdes [MNAA], onde ficou em depósito até
1885, ano em que foi retirada por AACM, seu novo
proprietário, passando a integrar o recheio da Quinta
da Regaleira.
Após a morte deste, os herdeiros propuseram, em
1934, a venda da cama, ao museu, porém o valor
requerido inviabilizou a transacção. O leito seria
adquirido num leilão por Santos Pinto, o qual o não
pôde transaccionar no estrangeiro por notificação do
Museu. Tais circunstâncias favoreceram a sua
aquisição pelo MNAA, tendo transitado daí para o
Palácio Nacional de Sintra, em 1938”.
Citação e fotografias a partir de: Manuel J. Gandra
António Augusto Carvalho Monteiro . Imaginário e
Legado
A ICONOGRAFIA MITOLÓGICA: O RELÓGIO LEROY 01
“DAR AS HORAS DE 125 LOCAIS”
•A história deste relógio, identificado como Leroy
01, começa em 1867, quando o conde
moscovita Nicolas Nostitz encomendou à
famosa casa de relojoaria Le Roy & Fils, mais
tarde L. Roy & Cie., um relógio com onze
complicações, que veio a ser exposto na
Exposição Universal de Paris de 1878. Com a sua
morte, em 1897 António Carvalho Monteiro
adquiriu o relógio, porém, mandou acrescentar-
lhe mais complicações.
•O relógio Leroy 01, actualmente em exposição
no Museu do Tempo (Besançon, França), depois
de adquirido, em 26 de Março de 1956, pelos
habitantes da cidade, foi fabricado, entre
Janeiro de 1897 e 1900, pelo relojoeiro Charles
Piquet, da firma de Relógios de Precisão Le Roy,
de Besançon (França).
•A encomenda foi feita por António Augusto
Carvalho Monteiro, de acordo com a sua
idealização e minuciosas instruções.
Tampa gravada com ilustração mitológica encomendada por
Carvalho Monteiro a Luigi Manini. Reverso
Fotografia: Museu do Tempo, Besançon
A partir de: Manuel J. Gandra
António Augusto Carvalho Monteiro
Imaginário e Legado
A ICONOGRAFIA MITOLÓGICA: CRONOS
•Servindo de cenário de fundo, existe um
Portal geminado (as portas dos Deuses e dos
Homens ) com o monograma AM, no centro
da composição.
•Sobre as quinas de Portugal assenta a figura
de Cronos/Saturno, considerado o mais
jovem da primeira geração de titãs.
• Era a personificação do Tempo, associado à
gadanha, um dos seus atributos.
Cronos/Saturno, na mitologia romana, é
também o deus grego da agricultura, das
sementeiras e dos Grãos, parece ter sido o
responsável por ter ensinado o cultivo da
vinha aos habitantes itálicos. parecem
•Ao destronar o seu pai, atingindo-o com
uma gadanha e cortando os seus testículos,
Cronos torna-se o Rei dos Céus e o seu
reinado (segunda geração divina) ficou
conhecido como a “Idade do Ouro”,
segundo o poeta Hesíodo.
1 - Fotografia: Museu do Tempo, Besançon
A partir de: Manuel J. Gandra
2 – Cronos devorando um filho. Francisco de Goya. Museu do Prado.
António Augusto Carvalho Monteiro . Imaginário e Legado
3- Saturno; estátua do deus nu em pé sobre um soco, segurando uma
foice na mão direita e uma criança à esquerda; de "Estátuas de Deuses
Romanos" .
Philips Galle (Netherlandish, Haarlem 1537–1612 Antuérpia
A ICONOGRAFIA MITOLÓGICA: CRONOS
•Na tradição Greco-Romana, Cronos é filho da
Terra (Gaia, Geia) e do Céu (Urano/Saturno),
que lhe deu inúmeros filhos, mantendo-os
presos no Interior da Terra.
•Cronos, que destruiu o seu pai, devorava os
próprios filhos, as suas criações, simbolizando
o Tempo que se consome a si próprio.
•O seu filho, Zeus-Júpiter, para fugir à fúria de
Cronos, foi escondido numa gruta em Creta,
sendo alimentado com mel e leite de cabra.
•Zeus combaterá, por sua vez, o pai, e a partir a
sua vitória encontraremos um mundo mais
complexo de interação entre divindades,
homens e semideuses. É «o senhor do
Olimpo, do trovão» e o «detentor da égide»
como refere o poeta Hesíodo na Teogonia,
feita com o couro da cabra de Amalteia. Tinha
poder sobre os fenómenos atmosféricos e o
raio e a águia são dois dos seus atributos.
1 - Mosaico com com representação de Urano e Gaia.
Gliptoteca de Munique
2 - Zeus lançando o seu raio contra Tifão. C. 550 a.C., Coleções
Estatais de Antiguidade
O PAI DOS DEUSES E A NATUREZA
«Antes do reinado de Júpiter não havia
agricultores em luta com os campos; não era
permitido dividir a terra, e assinalar as
extremas; os homens buscavam o proveito
para o bem comum, e o próprio solo produzia
mais liberalmente, sem nada se lhe solicitar.
Foi Júpiter que deu às negras serpentes o
veneno maléfico, quem mandou que os lobos
fossem depredadores, quem ordenou ao mar
que se agitasse, quem sacudindo as folhas, fez
cair delas o mel; quem retirou aos homens o
fogo, e estancou os vinhos que corriam em
regatos. Tudo para que o homem, à força da
experiência e constante exercício, forjasse
pouco a pouco as várias artes, alcançasse,
abrindo sulcos, as messes de trigo, e fizesse
brotar das veias da pedra o fogo que se lhe
havia ocultado»
Virgílio, As Geórgicas, I, 135. Ed. Sá da Costa, 1948
Lisboa.
1– Zeus/Júpiter, o pai dos deuses, acompanhado de águia. Século II d.C.
Museu do Louvre. Fotografia de: Jean-Pol GRANDMONT
2 - Mosaico com Zeus e Ganimedes.
Casa de Dioniso, Século III d.C. Paphos (Chipre).
3– Mosaico com representação do Rapto da Europa, Museu de Beirute
A ICONOGRAFIA MITOLÓGICA AS MOIRAS
•Na mitologia grega, as Moiras eram três
irmãs filhas de Nix (a noite), que
personificavam o destino das pessoas, do
nascimento até à morte.
•O próprio Zeus, pai dos deuses, estava
sujeito ao poder das Moiras, ou seja, não
podia interferir no “destino”.
•Fabricavam, teciam na Roda da Fortuna,
espécie de tear mágico, e cortavam
aquilo que seria o fio da vida.
• Os poetas da antiguidade descreviam as
Moiras como donzelas de aspecto
sinistro, de grandes dentes e longas
unhas. Nas artes plásticas, ao contrário,
aparecem representadas como belas
donzelas.
Fotografia: Leroy 01, o relógio de Carvalho Monteiro. Fotografia sem data, produzida durante a
actividade do Estúdio Mário Novais: 1933-1983. Biblioteca de Arte – Fundação Calouste Gulbenkian.
In Carvalho Monteiro e a Peninha de Sintra – Vitor
Manuel Adriãohttps://lusophia.wordpress.com/2016/12/07/carvalho-monteiro-e-a-peninha-de-
sintra-por-vitor-manuel-adriao/
Segundo a Teogonia de Hesíodo
(séculos IX-VIII a.C. ?)
“A Noite deu à luz o Destino assustador e o negro Fim
e a Morte, e deu à luz também o Sono.
(…)
E gerou as Moiras e as Keres, que castigam,
impiedosas (Cloto, Láquesis e Átropo, que aos mortais,
à nascença, concedem o que é bom e o que é mau”
AS MOIRAS OU PARCAS
A Parca Atropos
•Cloto, que em grego significa fiar,
segurava segura a roca de onde
sai o fio da vida. Com Ilítia,
Artemisa e Hécate, Cloto atuava
como deusa dos nascimentos e
partos.
•Láquesis, em grego significa
sortear, puxava e enrolava o fio
tecido. Láquesis atuava junto
com Tyche, Pluto, Moros e outros,
sorteando o quinhão de
atribuições que se ganhava em
vida.
•Átropos, em grego significa
afastar, cortava o fio da vida. A
sua congénere romana é Morta.
•Átropos juntamente a Tánatos,
Queres e Moros, determinava o
fim da vida.
Fotografia: Museu do Tempo,
Besançon
A partir de: Manuel J. Gandra
António Augusto Carvalho
Monteiro . Imaginário e Legado
FONTE DAS QUIMERAS
• A Quimera era um monstro resultante da
união entre o gigantesco Tifão, metade
mulher, metade serpente.
• Outras versões da lenda tomam-na como
filha da hidra de Lerna e do leão de
Neméia, que foram mortos por Hércules.
Habitualmente era descrita com cabeça de
leão, torso de cabra e parte posterior de
dragão ou de serpente. Foi morta por
Belerofonte, montado no cavalo
alado Pégaso.
• Na mitologia grega era um fabuloso
monstro com cabeça de leão, torso de
cabra e cauda de dragão e que soltava fogo
pela boca.
Essa foi também a mais comum na arte
cristã medieval, que fez dela um símbolo do
mal.
• Com o passar do tempo, chamou-se
genericamente quimera a todo monstro
fantástico empregado na decoração
arquitetónica.
Fonte das Quimeras no Terraço de mesmo nome , Quinta da Regaleira
LEDA E O CISNE
• A Gruta da Leda está situada na base
do Jardim da Perpétua.
Apresenta formato hexagonal e abriga
uma cascata e um tanque, onde há
uma escultura de mulher com um
cisne ao lado – remetendo ao mito de
“Leda (rainha de Esparta) que foi
seduzida por Zeus, transfigurado em
um cisne.
• Alguns cupidos apontam setas de
amor a Leda para que o amor seja
correspondido.
• Por outro lado, a mulher segura uma
pomba, cuja simbologia rem sido
muito discutida. Leda acaba por cair nos
encantos do cisne e engravida. Mas, na
mesma noite, Leda faz amor com o seu
marido mortal.
https://asfontesdaminhavida.blogs.sapo.pt/gruta-da-leda-
quinta-da-regaleira-185341
LEDA E O CISNE
Fotografoa a partir de:
http://dilailasilvex.blogspot.com/2013/01/tinha-passeado-
turisticamente-aqui-pela.html
Para surpresa de todos, Leda depois
do período de gestação põe dois
ovos!
Um ovo correspondente à relação
com Zeus, donde nasce Pólux e
Helena (a de Troia), outro relativo à
união com Tindáreo, donde surgem
Cástor e Clitemnestra.
Aqueles imortais, estes condenados à
mortalidade.
Desde pequenos, Castor e Pólux,
conhecidos como Dioscuros,
provaram ser hábeis nas armas e nos
cavalos, enfrentando inumeras
batalhas. Numa batalha contra as
tropas da Mesénia, Castor é ferido
mortalmente. Pólux, incontrolável na
sua perda, pede um favor ao pai: que
Castor o possa visitar um dia no
Olimpo e que lhe permita no dia
seguinte uma visita no Hades.
PATAMAR DOS DEUSES
O Patamar dos deuses é marcado pelo alinhamento de 9 estátuas de divindades clássicas,
figurando Apolo citaredo, Venus Calipigia, Mercúrio, Fortuna (?), Fauno-Pã, e quatro
alegorias: Flora, como Primavera; Ceres como Verão, Pã, Dioniso como Outono e um
ancião com brasas incandescentes, alegoria do Inverno.
Fotografias a partir de:
https://anamargaridapalmeiraebomeeugosto.blogs.sapo.pt/patama
r-dos-deuses-entrada-da-quinta-da-5470
FORTUNA
•Fortuna era considerada
filhade Zeus/Júpiter.
•Roma dedicava-lhe o dia 11 de junho, e no
dia 24 do mesmo mês realizava-se um
festival em sua homenagem, o Fors Fortuna.
O seu culto foi introduzido por Sérvio Túlio, e
possuía diversos templos em Roma. O
Templo de Fortuna Primigenia, localizado
em Roma, no monte Quirinal, foi edificado
na encosta de uma colina e tinha vários
terraços. Data do século I a. C.
•Fortuna dquire os atributos da divindade
grega "Tyche". Faz parte das divindades
protectoras, quer do indivíduo, quer da
vida pública, algumas das quais
permaneceram na nossa memória, através
de palavras que nos são conhecidas. Era
a deusa romana do acaso, da sorte (boa ou
má), do destino e da esperança.
1 – Templo de Fortuna Primigenia. Fotografia a partir de:
http://tempodearquitetura.blogspot.com/2011/02/o-santuario-da-fortuna-
primigenia.html
2 - Estatueta de Fortuna em bronze. Século I d.C Lameirancha. MNA
3 – Pormenor de Estatueta de Fortuna Spes Quinta das Antas, Tavira. MNA
FORTUNA PRIMIGENIA
•Temida entre os Romanos, pois dela dependia,
segundo os seus caprichos, a riqueza ou a
pobreza, o poder ou a servidão, Fortuna
comanda todos os acontecimentos da vida dos
homens, motivo pelo que tem como atributo
um leme.
•Era representada com uma cornucópia ou corno
da abundância, um dos seus atributos, e
um timão, que simbolizavam a distribuição de
bens e a coordenação da vida dos homens.
•Também a cegueira ou a vista tapada (como a
moderna imagem da justiça) são comuns nas
suas representações, pois distribuía os seus
desígnios aleatoriamente. Era ainda referida
como calva, com duas asas nos pés e com uma
roda.
•Por vezes, é-lhe associado um Sol ou um
Crescente, pois como eles, preside à vida na
terra.
A Cornucópia e a Cabra Aix de Amalteia
• O mito da cabra da ninfa Amalteia
remete-nos à mitologia grega e foi
adoptada pelos Romanos.
• A lenda reza que Amalteia foi
a cabra que alimentou com o seu
leite o deus Zeus/Júpiter.
• Quando criança, ao brincar com
ela, o pequeno deus teria quebrado
um de seus chifres.
• Como prova de gratidão, Júpiter
transformou-o no corno da
abundância, a Cornucópia que é
símbolo maior parte das
personificações romanas da
Abundância, a exemplo de Fortuna
ou de Flora. Após a sua morte foi
transformada na constelação
Capricórnio.
1 - A Cabra Amalteia com o Infante Júpiter e um Fauno. Bernini. 1615. Galleria
Borghese, Roma
2 – Fortuna. Cópia romana do original greco do século IV a.C. (Óstia).
APOLO CITAREDO
Assim nos relata o poeta Ovídio:
«Para o tempo não poder apagar a
memória deste feito,
institui jogos sagrados com uma
grandiosa competição,
chamados píticos, do nome da serpente
que ele subjugara.
Neles, todo o jovem que vencesse por
mão, por pé, ou carro,
ganhava a título honorífico um ramo de
folhas de carvalho.
O loureiro não existia ainda e Febo
cingia ainda as frontes
graciosas e o longo cabelo com folhas de
qualquer árvore»
Ovídio, Metamorfoses, Livro I, Cotovia Clássicos
OS DEUSES SOLARES: APOLO
Apolo, também identificado como Febo (brilhante),
era considerado o deus da juventude e da luz da
verdade.
Reconhecido primordialmente como uma divindade
solar, surgindo, muitas vezes associado a Hélios.
Era irmão gémeo de Artemisa, conotada com a Lua.
Era descrito como o deus da divina distância, que
ameaçava ou protegia desde o alto dos céus.
Assim o canta o poeta Ovídio ( 43 a.C.—17 ou 18
d.C.):
“Ostentando uma veste púrpura, Febo achava-se
sentado em um trono de esmeralda resplandecente.
À direita e à esquerda, achavam-se os Dias, as Horas,
dispostas em espaços iguais. Também lá se
encontravam-se a Primavera, cingida de uma coroa
de flores, o Verão nu e trazendo uma grinalda de
espigas, e o Outono sujo com as uvas espremidas e o
glacial Inverno, com a cabeleira branca desgrenhada”.
(Ovídio, Metamorfoses).
Apolo puxando uma quadriga. C. 225 d. C. Musee du Viel Orbe. Suiça.
DEUSES SOLARES: APOLO
Adoptado por Roma, a relação de
Augusto e o deus Apolo, pode ser
equacionada a partir de uma referência
de Suetónio na obra «A Vida dos Doze
Césares», escrita em 121 d.C. :
“Levantou o templo de Apolo nas
cercanias da sua casa no Palatino,
atingida certa vez por um raio e onde,
segundo declaração dos arúspices,
aquele deus tencionava ter morada.
Acrescentou ao templo um pórtico com
uma biblioteca latina e grega. Era ai que
nos dias de sua velhice convocava
muitas vezes o Senado e passava em
revista as decúrias dos juízes”.
(SUETÓNIO, A Vida dos Doze Césares,
1966, p. 92-93).
Estátua de Apolo, Monte do Álamo.
N.º de Inventário: MNA
994.34.1
Fotografia de: osé Pessoa Localização: DDF/DGPC
APLOLO E DAFNAE: o Loureiro
Febo-Apolo apaixonou-se pela ninfa Dafne
que não lhe correspondeu. Dafne não
aguentava mais a perseguição do belo deus
Apolo e pediu a seu pai Peneu que lhe
mudasse a forma. O pai atendeu ao pedido
e transformou-a num loureiro. Com as
folhas desta árvore Apolo teceu uma coroa.
Passou a ser o símbolo da divindade,
representando a vitória e a glória.
O poeta Ovídio dá a este episósio um
relevo extraordonário nas suas
Metamorfoses:
«O PRIMEIRO amor de Febo foi Dafne, filha
de Peneu. Não foi o acaso ignaro a induzir-
lho, mas a cólera cruel de Cupido. (...) Logo
este se enamora, a outra foge à ideia de
um amante»
Dafne e Apolo. Painel VI (Mosaico das Musas). Museu
Nacional de Arqueologia
DEUSES SOLARES: MERCÚRIO E APOLO
1 – Mudar a fotografia ….
2 - Lucerna de Ossonoba com
representação de galo e palma
O Galo é o símbolo do Tempo, sendo-lhe,
atribuído o papel de vigilante, mas
também o do início do caminho da Luz,
pois é ele que anuncia o nascer do dia e
do Sol, o Renascer.
Sendo o símbolo solar por excelência era
consagrado a Apolo, divindade que
também simboliza a luz do dia.
É também o animal de Mercúrio, o deus
mensageiro, que, por vezes, é
representado cavalgando um galo.
Nos «Versos de Ouro» de Pitágoras
recomenda-se «alimentai o galo e não o
imoleis, pois ele é consagrado ao Sol e à
Lua».
Em Roma, é a também a ave sacrificada a
Esculápio, deus da saúde e da medicina e
filho de Apolo.
HERMES/MERCÚRIO
•Mercúrio tem como atributos o elmo; as
sandálias aladas e o caduceu com duas
cobras enroladas, símbolo que
concentra toda a natureza dualista
(noite-dia; luz-trevas; feminino e
masculino; racional-irracional) e os pés
alados que o permitem ser muito rápido
e, portanto, mensageiro do Olimpo.
•Simbolicamente o bastão representa o
poder; as duas serpentes, a sabedoria
ou o Bem o o Mal; a doença e a
convalescença; o equilíbrio das
tendências contrárias em torno do eixo
do mundo; as asas, a velocidade e a
diligência; o elmo ou Pétaso, uma peça
de armadura antiga (capacete) que
protegia a cabeça, permitia que se
tornasse invisível.
•O bastão tem ainda a capacidade de
tudo transformar em ouro.
HERMES/MERCÚRIO:
a serpente e os pássaros
• Mercúrio ou o Hermes grego, filho,
segundo algumas versões do mito, de
Júpiter (Zeus) e da deusa Maia, antes de se
tornar o protector dos comerciantes e
viajantes, era um deus associado à
fertilidade, sorte, estradas e fronteiras.
• O seu nome deriva da palavra herma,
uma coluna quadrada ou retangular de
pedra, terracota ou bronze que servia
como marco de encruzilhadas e caminhos
protegendo viajantes ou pastores, e era
colocada nas casas como garante da
fecundidade.
• As estátuas com a representação de
Hermes tinham carácter apotropaico, pois
a divindade, antes de ser o protector dos
comerciantes e viajantes, era um deus
associado à fertilidade, sorte, estradas e
fronteiras
1 - Representação de Mercúrio no mosaico do Planetário de Itálica.
2 - Mercúrio representado de pé, como jovem efebo desnudo, segurando com a mão
esquerda o emblemático caduceu e apresentando, sobre a cabeça, o
correspondente chapéu alado - o petasus, de abas largas, característico dos
viajantes. Na mão direita, semifechada, segura a parte superior da bolsa. Monte
Molião MNA.
Hermes/Mercúrio
«Os Hermae serviam como marcos de
encruzilhadas e caminhos protegendo
viajantes ou pastores, que posteriormente
foram utilizados em jardins e casas
particulares com a representação de
Dioniso e do seu paredro Ariadne, agora
relacionados sobretudo com cultos de
fecundidade e protecção da natureza. O
carácter bifronte destas peças simboliza
(ainda) no âmbito das tradições esotéricas
de cariz dionisíaco, a reunião dos opostos:
masculino/feminino; dia/noite;
Sol/Lua...Daqui derivou a sua vulgarização
como símbolo apotropaico, colocado nas
casas como garante da fecundidade nascida
da união dos contrários e, tão
significativamente, nas encruzilhadas, onde
a divergência dos destinos se torna
momentaneamente convergente e una».
Hermes bifronte. Século I Monte do Muro Cacela Faro.
Fotografa Fátima Martelo
Trata-se de uma escultura bifronte, figurando duas cabeças
opostas, unidas pela nuca, sendo uma masculina e outra
feminina. O modelo masculino surge-nos como um homem
jovem e barbado, e o modelo feminino como uma mulher
jovem, segundo os clássicos arquétipos de Dioniso e de
Ariadne.
Catálogos de Escultura Romana do MNA, José Luís de Matos
e da Exposição "Religiões da Lusitânia" , José Cardim Ribeiro.
A PRIMAVERA E AS DIVINDADES E AS FLORES
• A associação de figuras femininas com as
coroas de flores remonta à mais remota
Antiguidade.
• No Egipto, Ísis, protetora da Natureza, da
Maternidade e da Fertilidade, associa-se ao
hibisco, conhecido como o "Mimo de
Vénus“.
• Cibele, uma divindade introduzida na
Grécia através da Ásia menor, era
considerada a «Mãe dos Deuses».
Simbolizava a fertilidade da natureza, e era
a divindade do ciclo de vida-morte-
renascimento. Era representada como uma
mulher madura, coroada por muralhas ou
flores, nomeadamente rosas, bem como
espigas de cereais, trajando uma túnica
multicolorida e com um molho de chaves
na mão.
1 - A Primavera: Figurado de Estremoz.
2 - 2 - Hermes e Maia, detalhe de uma ânfora ática, 500
a.C., Coleções Estatais de Antiguidades (Inv. 2304)
AFRODITE/ Venus Calipigia
• De Vénus, há inúmeras histórias em
torno da sua origem, bem como da sua
vida amorosa e descendentes.
• As rosas, eram atributos da deusa do
Amor, a Afrodite grega e Vénus romana.
• A mitologia diz-nos que quando a
apaixonada Afrodite viu o seu amado
Adónis ferido, pairando sobre ele a morte,
a deusa foi socorrê-lo, tendo-se picado
num espinho e o seu sangue coloriu de
vermelho as rosas que lhe eram
consagradas. Assim, na antiguidade, as
rosas eram também usadas sobre os
túmulos como símbolo de luto.
• Em Roma existia um festival em honra
de Flora e de Vénus chamado “Rosália”, e
todos os anos, no mês de Maio, as
sepulturas eram adornadas com essas
flores, provavelmente em alusão à morte
de Adónis.
AFRODITE/VÉNUS
De Afrodite nos narra Hesíodo que foi nascida da
espuma do orgão imortal do Céu, cortado pela foice
de Cronos:
«Os testículos, por sua vez, assim que cortados pelo aço
e lançados desde terra firme ao mar de muitas vagas,
forem levados pelo mar, por longo tempo; à sua volta, um
branca
espuma se libertou do orgão imortal e dela surgiu uma
rapariga. Primeiro, foi em Citérios
que ela nadou, e de lá em seguida chegou a Chipre rodeada
de mar;
aí aportou a bela e celebrada deusa que, à sua volta,
sob os seus pés ligeiros, fazia florescer o solo, Afrodite
(a deusa nascida da espuma e Citereia de belo toucado)
é esse o nome que lhe deram os deuses e homens, porque
na espuma
surgira, e ainda Citereia, por ter aportado junto dos Citérios,
e Ciprogeneia, por ter nascido em Chipre rodeada de ondas,
e ainda Filomedeia, porque surgida dos testículos,
Seguiu-a, sem demora, Eros e acompanhou-a o belo Desejo,
mal ela nasceu e se uniu à família dos deuses.
E, desde o início, teve como competências e foi
seu destino, entre os homens e os deuses imortais,
as intimidades das meninas, os sorrisos, os enganos,
o prazer doce, o amor, a meiguice».
Hesíodo, Teogonia, 2014, Imprensa Nacional - Casa da
Moeda
Vénus mirando-se ao espelho. Mosaico proveniente de
Thuburbo Majus, Tunísia.Século III d. C. Musée National Du
Bardo (Archaeological Museum)
AFRODITE/VÉNUS E AS ROSAS
Abril era o mês que era consagrado a Vénus,
havendo quem defenda que o nome
significa o “abrir” das flores, o renascer da
natureza.
Também Cupido, o deus do Amor, filho de
Marte, deus da guerra, e de Vénus, usava
uma coroa de rosas, bem como Príapo.
Príapo, filho de Afrodite/Vénus e de
Dioniso/Baco era considerado o deus da
procriação e da fecundidade; dos jardins e
dos vinhedos. Ao que refere a Mitologia,
Hera enciumada fez com que a criança
nascesse com uma deformidade, com
um pénis exagerado.
1 – Cupido. Leon Bazile Perrault (1832-1908)
2 – Fresco de Pompeios
3 – Fresco de Pompeios. Museu de Nápoles
A PRIMAVERA:
FLORA
«É a primavera quem traz maior
mercê à folhagem dos bosques e
matas (...) O solo criador dá à luz os
seus frutos; os campos oferecem o
seu seio ao bafo tépido do Zéfiro; as
moles seivas refluem de todas as
plantas, e as ervas ousam,
confiantemente, entregar-se a novos
sóis (...). » 330.
As Geórgicas, Virgílio, Livro I. Ed. Ruy
Mayer, Sá da Costa 1948
Friso com representação de frutos. Museo Nacional
de Arte Romano, Mérida.
AS ESTAÇÕES - A PRIMAVERA: FLORA
• Segundo a versão do Mito do
poeta Ovídio (43 a.C 43 — 17 ou 18
d.C), um certo dia de primavera,
Zéfiro, o vento oeste, avistou a ninfa
Cloris, apaixonou-se por ela e
transformou-a em Flora. Como prova
de seu amor, Zéfiro nomeou a sua
amada como rainha das flores das
árvores frutíferas e concedeu-lhe o
poder de germinar as sementes das
flores de cultivo e ornamentais,
entre elas o cravo.
• Flora foi também inúmeras vezes
associada a Deméter-Ceres e
Perséfone-Prosérpina.
Divindade itálica. Flora, ou a Primavera. Fresco,
século I d.C.
Museo Archeologico Nazionale, Napoles
AS ESTAÇÕES - FLORA/PRIMAVERA
• Associada à Primavera, era também
Clóris, divindade de origem grega das
flores, equivalente à ninfa de origem
latina Flora, que deriva da palavra latina
flos (flores) . A Floralia era o festival
romano realizado em honra à deusa,
para consagrar as florações da
Primavera.
• Sob a protecção do oráculo dos livros
Sibilinos, em 238 a.C, foi construído um
templo em honra de Flora, dedicado em
28 de Abril.
Copyright : Juana Garrido Jiménez
https://www.123rf.com/photo_36848648_sculpture-
between-the-trees-of-the-goddess-venus-in-the-
garden-of-quinta-da-regaleira-in-sintra.html
MAIA MAIESTAS
•Em Roma, Maia ou Maia Maiestas é uma antiga
divindade itálica, filha de Fauno e esposa de
Vulcano, deus do fogo, homólogo do Hefesto
grego.
Era também identificada em Roma com:
• Bona Dea, filha de Fauno, divindade da
fertilidade e da virgindade, e considerada deusa
da cura;
• Fauna
•Ops, cuja palavra latina significa riquezas, bens,
abundância, e que era a mulher de Saturno.
Personificava para os Romanos o despertar da
natureza na Primavera e seria a mãe ou mentora
de Mercúrio, responsável pela fecundidade e da
projeção da energia vital.
Embora tendo origens diferentes, as duas
divindades de origem grega e romana acabaram
por ser identificadas uma com a outra.
1 - Hermes e Maia, detalhe de uma ânfora ática, 500
a.C., Coleções Estatais de Antiguidades (Inv. 2304)
2 - Bona Dea
MAIA E AS MAIAS
• As Maias constituem um ciclo de
festivais que, em Roma, se relacionavam
com o despertar da natureza, lembrando
antiquíssimos cultos agrários.
• Para os gregos, Maia era a mais velha
das Plêiades, uma das sete filhas de Atlas,
que, unida a Zeus, foi mãe de Hermes, o
mensageiro dos deuses.
• Já na mitologia romana, Maia surge-nos
como uma antiga divindade itálica, filha de
Fauno e esposa de Vulcano, o deus romano
do fogo (Hefesto na mitologia grega).
• Deusa da primavera, Maia deu nome ao
mês de Maio, que lhe era consagrado. No
primeiro dia de Maio, o flâmine de Vulcano
sacrificava-lhe uma porca grávida. Era
essencialmente venerada por mulheres,
sendo os homens excluídos do perímetro
sagrado dos seus templos.
AS DIVINDADES DA NATUREZA:
FAUNO E FAUNA
• Fauno, descendente do rei mítico do
Lácio, deificado pelos romanos como Jupiter
Latiaris., era o deus dos bosques e planícies
que protege os rebanhos e culturas.
• Muitas vezes confundido com Pã, com
Silvano e/ou com Lupércio, era uma
criatura que, tal como os sátiros gregos,
possuía um corpo meio humano, meio
bode.
• Os seus oráculos conhecem-se através
dos murmúrios das árvores.
• Os ritos observados nos oráculos de
Fauno foram descritos pelo poeta Virgílio:
um sacerdote oferecia uma ovelha e outros
sacrifícios e a pessoa que consultava o
oráculo tinha que dormir uma noite sobre a
pele da vítima, dando então o deus uma
resposta através de um sonho ou mediante
vozes sobrenaturais.
Segundo as variantes do mito de Fauno,
Fauna teria sido irmã, esposa e até filha de
Fauno.
1 - Balsamário representando Fauno. Museu Nacional
de Arte Romano, Mérida.
2 – Balsamário do Museu Nacional de Arqueologia
3 - Fauno. Século II d.C. Museo Archeologico Nazionali
di Napoli, Itália.
4 – Fauno. Século II d.C.
Museo Pio Clementino, Roma, Itália
.
PÃ, OS DEUSES E OS
CAPRÍDEOS
Pã (Lupércio ou Lupercus em Roma)
deus dos bosques, dos rebanhos e dos
pastores, filho de Hermes/Mercúrio e
Penélope, segundo alguns mitos, ou de
Júpiter com a ninfa Timbres ou Calixto,
segundo outros, ou mesmo de Ar com
uma Nereida ou ainda do Céu e da
Terra, nasceu com cornos de bode e
era muito irrequieto, sendo
representado com orelhas,
chifres e pernas de bode.
Segundo o poeta Ovídio, na sua obra
Metamorfoses (Livro I), terá sido ao
seu desejo pela ninfa Siringe,
escondida entre as canas para dele
fugir, que se deve o aparecimento da
flauta com o seu nome.
.
1 - Cornalina para anel. Século II d. C. Pã estante voltado à direita,
ligeiramente curvado para a frente, tocando uma longa flauta
(monaulos). Colecção particular. Fotografia e legenda: Graça Cravinho
2 - Pã. Século II d.C.
Kunsthistorisches Museum, Viena, Áustria
3 – Pã, Quinta da Regaleira
4 – Pã. Século II d.C. Salona, Croácia
DIVINDADES DA NATUREZA: OS SÁTIROS
Os Sátiros, divindades campestres do
cortejo de Dioniso/Baco, tinham
aspecto humano, mas com cabelos
eriçados, grande cauda e orelhas
bicudas de bode, pequenos cornos na
testa, narizes achatados, lábios
grossos, barbas longas e órgãos
sexuais excessivos e erectos.
Viviam nos campos e nos bosques,
onde tinham relações sexuais com as
Ninfas e as Ménades, e copulavam
embriagados com humanos, cabras e
ovelhas.
Em algumas versões do mito, Sileno,
um velho sábio, deus da embriaguez,
que também acompanha Dioniso no
seu cortejo, aparece como o pai da
tribo dos sátiros.
1 – Sileno. Teatro Romano de Lisboa. MNA
2 - Sátiro-Sileno sentado numa rocha. Museu Nacional de
Arqueologia.
Fotos e cometários: Graça Cravinho
• A representação do caprídeo é recorrente, tanto
associado a Pã e a Fauno, como ao deus Silvano e a
Baco.
• A ninfa Amalteia, que alimentou e criou Zeus em
segredo, por vezes assumia a identidade de uma cabra.
É esse corno de caprídeo, do qual brotaram diversos
frutos e flores, que deu origem à cornucópia, usada por
Fortuna.
• A cabra simboliza o relâmpago. A sua pele era usada
no fabrico do cilicium, uma túnica utilizada em
momento de oração, simbolizando a união com a
divindade.
• Nas orgias dionisíacas era também usada a pele de
cabritos para cobrir as Bacantes.
Assim se refere Virgílio, nas suas Geórgicas LIV: II 385:
• «É para expiar essa culpa que se sacrifica o bode em todos os
altares de Baco, e se celebram as tradicionais festas nos teatros; que
os descendentes de Teseu instituíram dádivas aos génios em todas as
aldeias e encruzilhadas, e que, jubilosos, bebem e dançam, em cima
de odres untados de azeite, nos prados macios.» )
OS DEUSES E OS CAPRÍDEOS
FAUNA E OS FAUNOS
•Tal como Fauno, Fauna possuía
dons oraculares, mas as suas
profecias eram feitas apenas ao
género feminino.
• A primeira noite do mês de Maio era
a data do festival dedicado a Fauna.
• As comemorações, apenas para
mulheres, eram regadas com vinho,
sendo presente a música e atividades
lúdicas, bem como cerimónias
secretas. Os descendentes de Fauna
eram os Faunos que andavam pelas
florestas. Sátiro, na mitologia
grega, era um ser com o corpo
metade humano e metade de bode
e equivale na mitologia romana ao
fauno.
Sátiro em jaspe negro, Século I a.C.
Fundação Calouste Gulbenkian.
Fotografia gentilmente cedida por Graça Cravinho
O VERÃO: CERES
•Em Deméter/Ceres reverenciava-se
a terra-mãe e a deusa da agricultura,
enquanto os seus iniciados (filhos da
lua) reverenciavam nela a luz
celeste, mãe das almas, inteligência
divina e mãe dos deuses
cosmogónicos.
•Estes mitos e mistérios foram
adoptados pelo Império Romano. Os
ritos e crenças eram guardados em
segredo, só transmitidos a novos
iniciados, ou neófitos.
AS «RELIGIÕES DE MISTÉRIOS»:
OS CULTOS DE ELÊUSIS
• Os mistérios de Elêusis eram os grandes ritos
de iniciação ao culto centrado nas deusas
agrícolas Deméter/Ceres e Perséfone/Prosérpina,
que presidiam aos pequenos e aos
grandes mistérios.
Homenageavam o regresso das plantas e da vida à
terra.
• Celebravam-se em Elêusis, localidade
da Grécia próxima de Atenas, sendo considerados
os de maior importância entre os que se
celebravam na Antiguidade.
Neles se reflete o culto da Grande Mãe, trazido do
Egito através de Ísis.
• Estes mitos e mistérios foram adoptados
pelo Império Romano.
• Os ritos, realizados à noite, e as crenças eram
guardados em segredo, só transmitidos a novos
iniciados, ou neófitos.
À esquerda Deméter, ao centro Triptólemo, filho de Celeus,
rei de Elêusis, e à direita Perséfone que segura, muito
possivelmente, com a mão esquerda uma tocha longa, típica
dos mistérios de Elêusis para comemorar a noite retorno da
filha de Deméter.
Relevo do Século V a.C. Museu Arqueológico de Atenas.
O VERÃO:
Deméter/Ceres e os cereais
Deméter era na Mitologia Grega filha de
Crono e de Reia, segundo Hesíodo, ou de
Ops, Vesta, ou Cibele, segundo outras
versões do mito.
É a deusa da agricultura e das colheitas.
Ensinou aos homens a arte de cultivar a
terra, de semear, de fazer a colheita do
trigo, e com ele fabricar o pão.
Deméter/Ceres surge em Roma, a par de
Perséfone/Prosérpina e Dioniso/Baco,
por volta do século V a. C., sendo-lhe
conferidos amplos poderes:
Deusa da Terra, a «Deusa-Mãe», da
Natureza, protectora das mulheres e dos
partos, e do amor maternal.
Relevo de Terracota com representação de Ceres. Século I
d. C..
Museu Kircheriano, Roma
Em Deméter/Ceres reverenciava-se
a Terra-mãe e a deusa da agricultura,
enquanto os seus iniciados (filhos da lua)
reverenciavam nela a luz celeste, mãe das
almas, inteligência divina e mãe dos deuses
cosmogónicos.
Durante a Cerealia, eram famosos os jogos
de Ceres (ludi cereales), que consistiam na
procura de Prosérpina e eram
representados por mulheres vestidas de
branco que corriam com tochas acesas.
O regresso de Proserpina à Terra marcava,
assim, o início da florestação.
A DEUSA CERES
Representação de Ceres de Emerita Augusta. Museu
Nacional de Arte Romano, Mérida. Século I d.C.
PERSÉFONE/PROSÉRPINA
• Perséfone, cuja homóloga em Roma é
Prosérpina (do latim proserpere,
‘emerger’), deusa da terra e da
agricultura, foi a única filha de
Zeus/Júpiter e de Deméter-Ceres. Acabou
por ficar associada ao mundo infernal,
onde vigiava o segredo das almas e era
conhecedora dos segredos das trevas.
• A sua beleza foi encantando todos,
tendo seduzido o deus Hades-Plutão, o
senhor dos mortos e do submundo, que
dela se enamorou. Porém, Deméter-Ceres
não queria essa união, mas Hades
persistiu, até que, um dia, Perséfone, que
estava colhendo narcisos, foi raptada pela
divindade e levada para o mundo dos
mortos.
De Perséfone, que assume
simbolicamente a vida, a morte e a
ressurreição, nos fala Claudiano, nos
séculos IV-V, em o «Bordado de
Prosérpina».
O Bordado de Prosérpina, Claudiano (Séculos IV e V)
«Com maviosos cantos deleitava
estes sítios a terna Prosérpina:
e para a mãe, que em vão saudosa espera,
um presente tecia, primor d’arte.
Co’a destra agulha desenhava, astura
o trono de seu Pai, celeste assento.
Engenhosa na tela figurava
dos Elementos a constante série;
a Natureza o caos arranjado,
e em seu justo lugar as cousas pondo;
fixando onde compete o que é mais leve;
fazendo gravitar o que mais pesa;
encandilando o éter; e obrigando
sobre um ponto a girar o céu c’os astros;
fica fluido o mar; sólida a terra,
suspendida no espaço ilimitado.
Tinge os raios da luz com várias cores
e acende as estrelas num céu d’ouro».
Estátua de Ísis-Perséfone/Prosérpina, segurando um sistrum. ( século II
a.C.) Archaeological Museum in Herakleion.
ATRIBUTOS DE CERES: O Trigo e as Papoilas
O Trigo – as espigas
• Aparece associado a Ísis; Deméter-Ceres,
mas também ao deus latino silvano.
•(Deméter, filha de Crono e de Reia, parece ter
dado os primeiros grãos de trigo a Céleo de
Elêusis.
É, por isso, a deusa do trigo, ao qual facilita a
germinação, e das colheitas, de que assegura o
amadurecimento.
• Na Alegoria das Estações do Ano, o Verão
aparece normalmente associado às espigas.
• Mas também as papoilas, eram atributos de
Ceres, bem como uma tocha.
Os Ludi Ceriales ou Cerealia festividades
em honra de Ceres foram instituídos em
Roma, no século III a.C.
Durante as festividades, na altura
do equinócio da Primavera,
homenageava-se a Fertilidade e o
renascer da Natureza.
Durante Ludi Ceriales mulheres vestidas
de branco com tochas acesas simulavam
a procura de Prosérpina e o seu regresso
simbolizava o renascer da Natureza.
1 - Representação de Ceres de Emerita Augusta. Museu
Nacional de Arte Romano, Mérida. Século I d.C.
2 - Estátua de Ísis-Perséfone segurando um sistrum. (
século II a.C.) Archaeological Museum in Herakleion.
AS DIVINDADES DA NATUREZA Deméter/Ceres e
Perséfone/Prosérpina
ATRIBUTOS: Os Frutos e a romã de
Afrodite e de Proserpina
• A ROMÃ na Mitologia Grega foi usada para simbolizar a
alegoria das estações do ano e do ciclo anual das
colheitas. Hera, a deusa grega esposa de Zeus, usava na sua
mão uma romã, simbolizando a fertilidade.
• Segundo a mitologia, teria sido Afrodite/Vénus, a deusa
do amor, que a havia plantado na terra.
• Ainda segundo um outro mito, Perséfone, a Prosérpina
romana, passava forçadamente uma parte do ano com o
seu marido Hades, o Plutão romano, que a havia raptado
para o mundo dos Infernos, porque tinha comido algumas
sementes de romã, durante o tempo em que vivera com ele.
O acordo que Zeus, o pai dos deuses, havia feito com
Hades/Plutão para que Perséfone/Prosérpina pudesse voltar
para a terra, para junto de sua mãe Ceres, era que ela nada
tivesse comido.
Como tal não aconteceu, Perséfone/Prosérpina passava
metade do ano junto dos pais, e o restante com Hades, nas
profundezas.
O seu regresso marcava o “renascer”.
1 – Pormenor da estátua de Silvano Talavera la Real. Museo de Badajopz.
Terra sigillata de origem africana em forma de romã.
«Encontrada em Mérida, num enterramento de inumação, podendo ter contido unguentos propiciatórios de
uma boa viagem para a outra vida»
Fotografia e comentário: Lusitânia Romana, Museu Nacional de Arqueologia.
CERES
O OUTONO: Dioniso
• Dioniso, segundo algumas verões
do mito foi morto pelos Titans e
cortado em 14 pedaços, é
considerado uma divindade
iniciática.
• Outras versões assumem Dioniso
ou Baco como filho de Zeus/Júpiter
e da princesa Seméle.
• Era o deus grego das festas, do
vinho, da fecundidade, do lazer e do
prazer, símbolo do desejo e da
libertação de qualquer inibição.
• Associada a Liber Pater e sua
divina esposa Libera, gradualmente
estas duas divindades relacionadas
com a fertilidade e o vinho foram
assimiladas por Dioniso/Baco.
• Mas a vinha também aparece
associada a Saturno e Priapo.
•Roma,
«Até aqui tratei o cultivo dos campos e
os astros do céu.
Agora, Baco, cantar-te-ei, e contigo as
árvores silvestres
e os frutos da oliveira que crescem
vagarosamente.
Vem até aqui, ó Leneu, meu pai! Aqui
está tudo cheio das tuas oferendas.
Para ti, carregado das outonais parras,
floresce o campo, espuma a vindima
em talhas cheias.
Vem até aqui, ó Leneu, meu pai! E,
tirando os coturnos,
tinge comigo as pernas nuas com o
novo mosto»
Vergílio, Geórgicas, (Int. Tr. e notas:
Gabriel A. F. Silva), Livros Cotovia.
2019.
DIONISO/BACO
OS MISTÉRIOS DE BACO
Baco, cujo culto parece ter penetrado em Roma
no século IV a.C., foi também considerado pelos
romanos como um amante da paz e promotor da
civilização.
De acordo com a mitologia romana, atribui-se a
Baco a forma de extrair o sumo da uva e produzir
o vinho. Com inveja, a deusa Juno (Hera no
panteão grego) transforma Baco num louco a
vagar pelo mundo.
Ao passar pela Frígia, foi curado e instruído nos
rituais religiosos pela deusa Cibele.
1 - Mosaico romano com representação de Baco.
Cherchell Museum (Argélia)
2 - Mosaico representando o Outono da Villa
romana do Rabaçal
BACO. A vinha e o vinho
• É representado geralmente com a foice do
ceifeiro e a podoa do vinhateiro.
• Os Antigos viam na vinha e em Dioniso – Baco -
deus do vinho, rodeado por um conjunto de
divindades alegres e ébrias - a imagem simbólica
da força da natureza cheia de seiva.
• Baco é a divindade romana do Vinho e da
Vinha, da Licenciosidade e do Prazer, das Festas,
mas também da Fecundidade.
• São demasiado conhecidas as representações
de temas báquicos no Mundo Greco-romano.
• As festas, de natureza ritual, em homenagem ao
deus Baco, conhecidas por bacanais eram
nocturnas e duravam três dias no ano.
• O festival que se realizava na Antiga Grécia, e de
que há relato escrito desde o século V a.C., na
célebre obra de Eurípides, ficou conhecido por
Bacantes.
Pormenor do Sarcófago das Estações
Monte da Azinheira, Évora
MNA
e
OS DEUSES DO VINHO: a história e as lendas
• Podemos dizer que Dioniso ou Baco,
entre os Romanos, filho de Zeus/Júpiter e
da princesa Seméle, era o deus das festas,
do vinho, da fecundidade, do lazer e do
prazer, símbolo do desejo e da libertação
de qualquer inibição. Segundo outras
versões do mito, seria filho de Proserpina,
que é assassinado pelos Titãs, que o
despedaçam.
• O vinho aparece, em Roma, associado a
Liber Pater e sua divina esposa Libera, e
gradualmente, estas duas divindades
relacionadas com a fertilidade foram
assimiladas por Dioniso/Baco.
• Mas a vinha também aparece
relacionada com Saturno e a Príapo como
nos refere Virgílio, n’ As Geórgicas, datada
do Século I da nossa Era.
• E a sua expressão aparece associada à
Vida e à Morte.
1 - Busto de Dioniso em mármore
Século II d.C.
Milreu, Faro. Museu Nacional de Arqueologia. Fotografia a partir de:
http://www.matriznet.dgpc.pt/…/Obje…/ObjectosConsultar.aspx…
2 - Sarcófago das Vindimas (Castanheira do Ribatejo. Museu Nacional de Arqueologia.
http://www.matriznet.dgpc.pt/MatrizNet/Objectos/ObjectosConsultar.aspx?IdReg=110266
O DEUS DO VINHO: Dioniso/Baco
«Agora Baco, cantar-te-ei, e contigo as árvores silvestres
e os frutos da oliveira que crescem vagarosamente.
Vem até aqui, ó Leneu, meu pai! Aqui está tudo cheio das
tuas oferendas, Para ti, carregado das outonais parras,
floresce o campo, espuma a vindima em talhas cheias.
Vem até aqui, ó Leneu, meu pai. E, tirando, os coturnos,
tinge comigo as pernas nuas com o novo mosto»
Vergílio, Geórgicas. 2019. Livros Cotovia (tr. e notas Gabriel A.
F. Silva).
1 - Mosaico do Outono, Ruínas Romanas de Conímbriga
OS CAMINHOS DE DIONISO
• Segundo a Mitologia, o ateniense Icário recebeu,
em sua casa, o deus Dioniso, durante uma das
suas viagens à Ática.
•Dioniso presenteou o anfitrião com vinho,
uma substância desconhecida. Icário mandou -o
distribuir pelos pastores que o beberam e, sentindo-se
intoxicados e tontos, pensaram que Icário os queria
envenenar e mataram-no.
•A filha, Erígone, procurou-o e encontrou o local
onde estava sepultado com a ajuda do seu fiel cão Marea.
Desgostosa, enforcou-se na árvore junto da qual o pai
fora enterrado.
• O deus Dioniso castigou os habitantes da Ática
com uma praga e as mulheres ficaram enlouquecidas e
enforcaram-se.
•Depois, Dionísio transformou Icário, Erígone e
o cão Marea nas constelações de Boeiro, Virgem
e Cão Menor.
Mosaico da Casa de Dioniso em Pafos
(Chipre),mostrando o mito de Icário, o primeiro homem
a beber vinho presenteado por Baco)
Fotografia a partir de:
https://sites.google.com/site/dionysionbr/
BACO, O DEUS DO VINHO
Baco apresenta-se geralmente como
um jovem imberbe, risonho e de ar
festivo, de longa cabeleira, pegando
um cacho de uvas ou uma taça numa
das mãos e empunhando na outra um
tirso – bastão envolvido em hera e
ramos de videira e encimado por uma
pinha, simbolizando a fertilidade.
Dioniso/Baco é por vezes figurado com
o corpo coberto por um manto de pele
de leão ou de leopardo, com uma
coroa de pâmpanos, os ramos tenros
(com menos e um ano) ou rebentos de
parra, na cabeça e conduzindo um
carro puxado por leões. Pode
igualmente ser apresentado sentado
num tonel, segurando numa das mais
uma taça donde absorve a embriaguez
que o faz cambalear.
Lucerna com representação de Baco, Ruínas de Tróia. Museu Nacional
de Arqueologia
Fotografia a partir
de:http://www.matriznet.dgpc.pt/MatrizNet/Objectos/ObjectosConsult
ar.aspx?IdReg=134167
O Triunfo Indiano de Baco
É conhecida na Mitologia essa grande viagem percorrida por Baco no Oriente, até à Índia.
De regresso, vitorioso, faz-se acompanhar por um séquito, no qual participavam Sileno, as
Bacantes, ninfas, sátiros e mesmo o deus Pã. Todos levavam o tirso enlaçado com folhagens, cepas
de vide, coroas de hera, taças e cachos de uva. Dioniso abre a marcha, e todo o cortejo o segue,
acompanhado por instrumentos musicais.
Neste mosaico da villa romana de Torre de Palma estão representadas dezasseis personagens. É
visível um carro puxado por dois tigres, cujas rédeas são seguradas por um jovem sátiro situado à
direita de Baco (dentro do carro) e também por Pã, que conduz os tigres. O jovem sátiro, coroado
de folhas de hera, tem uma chibata na mão direita. Baco, em pé , segura na mão direita uma
cratera. Atrás dele e no chão, junto ao carro, são visíveis Ménades, ou Bacantes, uma delas
segurando o tirso. Outra ménade segura uma flauta.
O TRIUNFO INDIANO DE BACO
1 – Mosaico da Villa Romana de Noheda.
Fotografia a partir de:
http://pabloaparicioresco.blogspot.com/2012/09/la-villa-romana-
de-noheda-cuenca.html
2 - Sileno num burro é ajudado por um sátiro e acompanhado por
Pã com dois intrumentos musicais nas mãos. Pormenor de
mosaico tardorromano Século IV d.C. Villa romana de Noheda,
Cuenca.
Fotografia a partir de: http://temasdeculturaclasica.com/dioses-
semidioses-y-heroe…/ illa Romana de Noheda. Fotografia a partir
de: http://pabloaparicioresco.blogspot.com/2012/09/la-villa-
romana-de-noheda-cuenca.html
BACO:
as fontes escritas e arqueológicas
a
«(...) Ora, o sacerdote ordenara que um festival
fosse celebrado, e que as servas e as matronas, dispensadas
dos seus afazeres, cobrissem o peito com peles de animais,
soltassem do cabelo as fitas, e, de grinaldas na cabeça, tirsos
frondosos empunhassem. Vaticinara ainda que a ira do deus,
se ofendido, seria terrível. Obedecem matronas e jovens.
Pousam os teares e os cestos e os novelos deixados a meio,
queimam incenso, invocam Baco: chamam-lhe Brómio, Lieu,
Filho do Fogo, Nascido duas vezes, Único a ter duas mães.
A estes somam o nome Niseu, o de Tioneu de cabelo intonso,
E, com o de Leneu, o de Plantador da videira festiva,
e o de Nictélio e o de seu pai, Eleleu, e de iaco e de Évan,
e todos os outros títulos sem conta que os povos da Grécia
te conferem, ó Líber. Tu tens uma juventude inesgotável,
tu és o menino eterno, tu és admirado nas alturas dos céus
como o mais belo; tu, quando estás presente sem cornos,
tens um rosto divinal.
(…) Seguem-te Bacantes e sátiros,
e o velho ébrio que sustém o corpo cambaleante com o bastão
e nem se aguenta bem sobre a carupa encurvada do burrico»
Ovídio, Metamorfoses, Livro IV vv: 1-25, Bolso Cotovia,
Clássicos, 2004
Na fotografia: Triunfo de Baco proveniente de Susa. A partir de:
https://www.artehistoria.com/es/obra/triunfo-de-baco-procedente-de-susa
Os Companheiros de Dioniso/Baco
AS MÉNADES/BACANTES
Na fotografia: Ménade
Século I d.C | Mármore. Museu de Évora
Deve ter pertencido a um friso, provavelmente de um edifício
público de Pax Iulia, e era uma das principais peças da coleção
arqueológica do Bispo Frei Manuel do Cenáculo (1725-1814).
As ménades são personagens míticas
ligadas ao culto de Dioniso/Baco, que
buscavam a vida nos bosques e se
dedicavam à dança, a festins de
embriaguez e dilaceramento de animais
selvagens.
São normalmente representadas nuas
ou vestidas só com peles de veado, com
grinaldas de Hera e empunhando um
tirso (bastão envolto em ramos de
videira).
AS BACANTES
1 - Representação de Ménades. Cópia romana de um relevo grego de finais do século V a.C.
Museu do Prado.
2 - Mosaico com Triunfo de Dioniso/BACO
Séc. III d.C.
Sétif, Argélia
As Ménades ou Bacantes eram um
festival que se realizava na Antiga
Grécia, e de que há relato escrito
desde o século V a.C., na célebre
obra de EurípIdes, As Bacantes, onde
são nomeadas:
Acrete - o vinho sem mistura
Arpe - a flor do vinho
Bruisa - a florescente
Cálice - a taça
Calícore - a formosa dança
Egle - o esplendor
Ereuto - a corada
Enante - a foice
Estesícore - a bailarina
Eupétale - as belas pétalas
Ione - a harpa
Licaste - a espinhosa
Mete - a embriaguez
Oquínoe - a mente veloz
Prótoe - a corredora
Rode - a rosada
Silene - a lunar
Trígie - a vindimadora
"
BACO: as fontes escritas e arqueológicas
(…) o celebrante Baco instiga-as à corrida
/ e às danças, sacode as transviadas (…)
que as mulheres nos abandonam as
casas para irem a umas supostas
bacanais, e que vagueiam pelas
montanhas umbrosas, dançando em
honra desse deus de última hora, esse
Diónisos (…) e que no meio dos seus
tíasos estão krateres cheios e que uma a
uma se refugiam num recanto isolado
para aí se submeterem à lascívia
masculina. De pretexto servem-lhes,
sem dúvida, os rituais das Ménades,
mas à frente do culto de Baco colocam o
de Afrodite. (…) Pois onde entra o
fulgente líquido da videira em festins de
mulheres, garanto que em tais mistérios
já não há nada de são!
EURÍPIDES, As Bacantes, Edições 70, Col. Clássicos
Gregos e Latinos, N.º 9, Lisboa, 1998 (tradução
portuguesa, introdução e notas por Maria Helena
da Rocha Pereira.
Mosaico com representação de várias cenas do Triunfo de Baco.
Fotografia: Wild Beard
https://es.m.wikipedia.org/wiki/Archivo:Mosaico_%22El_Triunfo_de_Baco%22_de_
la_villa_romana_de_Fuente_Alamo.jpg
O INVERNO
Que a Luz se faça, quando
o Inverno nos bate à
porta!