ArticlePDF Available

Consciência e Participação Política Uma abordagem psicopolítica Conscience and Political Participation: a Psychopolitical approach

Authors:

Abstract

Resumo: O esumo: presente trabalho pretende estabelecer uma articulaÁ„o entre a Teoria Social do Self, de George Herber Mead, e o Modelo de Estudo da ConsciÍncia PolÌtica, de Sandoval, com vista a possibilitarmos a melhor compreens„o dos aspectos psicopolÌticos da consciÍncia e da participaÁ„o polÌtica de sujeitos implicados em aÁıes coletivas e movimentos sociais. Abstract: Abstract: Abstract:This paper aims to articulate the theory of social self by G. H. Mead ant the model of analysis of political conscience by Sandoval. This articulation help us to understand the psychopolitical aspects of the conscience and the political participation in collectives actions and social movements.
Interações
Universidade São Marcos
interacoes@smarcos.br
ISSN (Versión impresa): 1413-2907
BRASIL
2001
Alessandro Soares da Silva
CONSCIÊNCIA E PARTICIPAÇÃO POLÍTICA: UMA ABORDAGEM PSICOPOLÍTICA
Interações, julho-dezembro, año/vol. VI, número 012
Universidade São Marcos
Sao Paulo, Brasil
pp. 69-90
Red de Revistas Científicas de América Latina y el Caribe, España y Portugal
Universidad Autónoma del Estado de México
http://redalyc.uaemex.mx
INTERAÇÕESINTERAÇÕES
INTERAÇÕESINTERAÇÕES
INTERAÇÕES
VV
VV
Vol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
JUL/DEZ 2001JUL/DEZ 2001
JUL/DEZ 2001JUL/DEZ 2001
JUL/DEZ 2001
Consciência e participação política:
uma abordagem Psicopolítica*
RR
RR
Resumo:esumo:
esumo:esumo:
esumo: O presente trabalho pretende estabelecer uma articulação entre a Teoria
Social do Self, de George Herber Mead, e o Modelo de Estudo da Consciência Política,
de Sandoval, com vista a possibilitarmos a melhor compreensão dos aspectos psicopolíticos
da consciência e da participação política de sujeitos implicados em ações coletivas e
movimentos sociais.
PP
PP
Palavras-chave:alavras-chave:
alavras-chave:alavras-chave:
alavras-chave: Consciência Política, Teoria Social do Self, Ações Coletivas.
Conscience and PConscience and P
Conscience and PConscience and P
Conscience and Political Political P
olitical Political P
olitical Participation: a Participation: a P
articipation: a Participation: a P
articipation: a Psychopolitical approachsychopolitical approach
sychopolitical approachsychopolitical approach
sychopolitical approach
Abstract:Abstract:
Abstract:Abstract:
Abstract: This paper aims to articulate the theory of social self by G. H. Mead ant the
model of analysis of political conscience by Sandoval. This articulation help us to
understand the psychopolitical aspects of the conscience and the political participation in
collectives actions and social movements
KK
KK
Key words: ey words:
ey words: ey words:
ey words: Political Conscience, Social Theory of Self, Collective Action.
ALESSANDROALESSANDRO
ALESSANDROALESSANDRO
ALESSANDRO
SOSO
SOSO
SOARES DARES D
ARES DARES D
ARES DA SILA SIL
A SILA SIL
A SILVV
VV
VAA
AA
A
Doutorando em Psicologia
Social – PUC/SP
Consciência e participação política: uma abordagem psicopolítica
70
INTERAÇÕESINTERAÇÕES
INTERAÇÕESINTERAÇÕES
INTERAÇÕES
VV
VV
Vol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
JUL/DEZ 2001JUL/DEZ 2001
JUL/DEZ 2001JUL/DEZ 2001
JUL/DEZ 2001
O presente ensaio pretende apresentar uma importante abordagem teó-
rica em psicologia social, ainda que pouco conhecida e utilizada pelos
profissionais da área, desenvolvida por George Herbert Mead1 e anali-
sar as possibilidades de articulação dessa com o modelo analítico de
estudo da Consciência Políitica proposto por Salvador Sandoval.2
A teoria meadiana foi elaborada entre o fmal do seculo XIX e a três
primeiras décadas do seculo XX. Mead é influenciado pelo processo de
mudanças pelo qual passava a sociedade norte-americana, a saber: de
uma sociedade eminentemente agrária, rural e religiosa a uma socieda-
de urbana, industrial e laica. Esta passagem da antiga mentalidade agrí-
cola a uma nova, moderna mentalidade industrial é conseqüência da
guerra civil.
Curiosamente, as proposições meadianas foram muito mais apro-
veitadas por sociologos, filósofos a lingüistas do que por psicólogos
sociais. Apenas mais recentemente elas têm sido retomadas por alguns
estudiosos da area. Para nós, importa aqui destacar da obra de Mead as
suas conceituações acerca da Consciência, Self, Ato Social e Outro Ge-
neralizado, de sorte a permitir a ampliação do estudo sobre consciência
política a partir de referenciais da Psicologia Política nos moldes pro-
postos por Sandoval (1989; 1994; 1997; 2001).
A PA P
A PA P
A Psicologia Social de Georsicologia Social de Geor
sicologia Social de Georsicologia Social de Geor
sicologia Social de George Herbert Meadge Herbert Mead
ge Herbert Meadge Herbert Mead
ge Herbert Mead
Na perspectiva da teoria meadiana, o objeto de estudos da Psicolo-
gia não é a consciência compreendida nos moldes da filosofia. Para ele,
o campo de estudo da Psicologia é mais extenso e a categoria “consciên-
cia” assume, nesse contexto mais amplo, um caráter psicológico, sendo
ele essencialmente social. Para Mead é a experiência humana o objeto
privilegiado da ciência psicológica, levando em consideração o fato de
que a experiência humana possui duas dimensões distintas, a pública e
a privada, sendo uma passível de observação por parte de um outro
(Externa) e a outra oculta a outros que não o próprio sujeito dessas
experiências (Interna); é necessário se encontrar um ponto de intersec-
Consciência e participação política: uma abordagem psicopolítica
71
INTERAÇÕESINTERAÇÕES
INTERAÇÕESINTERAÇÕES
INTERAÇÕES
VV
VV
Vol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
JUL/DEZ 2001JUL/DEZ 2001
JUL/DEZ 2001JUL/DEZ 2001
JUL/DEZ 2001
ção entre essa realidade exterior ao sujeito e a internalização dessa reali-
dade exterior pelo sujeito para que se possa falar de consciência em
Mead (ver Sass, 1992: 124).
Para especificar claramente o que é interno e externo na experiência
humana individual, Mead propõe o conceito de “ato completo” que vem
a ser “(...) a manifestação exteriorizada da ação (comportamento) e a sua inten-
ção ou propósito, ou finalidade. (...) O ato não é simplesmente o estímulo mais a
reação a ele, é um todo dinâmico do qual faz parte a experiência interna que,
por sua vez, é constituída socialmente” (Sass, 1992: 125-26). A esse respeito
lemos em Mind, Self and SocietyMind, Self and Society
Mind, Self and SocietyMind, Self and Society
Mind, Self and Society: “O ato, pois, e não o trajeto é o dado
fundamental da Psicologia Social e individual, quando elas são concebidas na
forma behaviorista3 e ela tem uma fase interna e outra externa, um aspecto
interior e outro exterior”. (Mead, (Mead,
(Mead, (Mead,
(Mead, 1972: 7-8). Ainda é mister ressaltar que
a noção de ato social deve estar, segundo o autor, restrita
“(...) à classe de atos que implicam a cooperação de mais de um individuo, e
cujo objeto, tal como é definido pelo ato é, no sentido de Bergson, um objeto
social. Por objeto social entendo aquele que responde a todas as partes de ato
complexo, ainda que tail partes se encontrem no comportamento de distintos
indivíduos. O objetivo dos atos se encontra, pois, no processo vital do grupo, e não
somente no processo vital dos distintos indivíduos”. (Mead, 1972: 7, nota 7)
Assim podemos notar que a ação exterior do sujeito é precedida de
uma ação interior, mesmo que esta tenha sido formada por determina-
ção exterior, durante a história do sujeito. Há intencionalidade presente
no comportamento humano no instante em que o sujeito atribui valor a
um objeto. Atribuir valor a objetos, é estabelecer finalidade para estes, e
singrar as águas dos pressupostos de caráter teleológico. Então, ao atri-
buirmos valores a um objeto, estamos determinando a ação do sujeito
em relação a esse mesmo objeto.
Nesse sentido, podemos dizer que um ato social é uma conversação
envolvendo gestos. Desse modo, a linguagem, funciona como meio de
comunicação entre individuos da mesma espécie; constitui a base soci-
almente genética da organização dos atos sociais e atua como mecanis-
mo de controle que o sujeito tem disponível para controlar sua ação em
Consciência e participação política: uma abordagem psicopolítica
72
INTERAÇÕESINTERAÇÕES
INTERAÇÕESINTERAÇÕES
INTERAÇÕES
VV
VV
Vol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
JUL/DEZ 2001JUL/DEZ 2001
JUL/DEZ 2001JUL/DEZ 2001
JUL/DEZ 2001
relação ao mundo, constituindo-se em componente fundamental da in-
dividuação (cf. Sass,1992: 138). Tais gestos, para Mead, podem ser
significantes (conscientes) ou não significantes (inconscientes). A esse
respeito, Mead escreveu que
“(..) o gesto significante ou símbolo significante proporciona facilidades muito
maiores a adaptação a readaptação do que os gestos não significantes, porque
provoca no indivíduo que o manifesta a mesma atitude que provoca nos individuos
que, como primeiro, participam do ato social dado, e assim tornando-se consciente
da atitude em relação ao gesto e lhe permite adaptar o seu comportamento ao dos
outros participante, à luz da referida atitude” (Mead, 1972:89)
Para Mead, a natureza da significação se encontra implícita na
estrutura do ato social. Esse fato implica, para o autor, na necessidade
de a Psicologia Social partir “da suposição inicial de um processo de experi-
ência social e de comportamento em execução, processo em que está envolvido
qualquer grupo dado de indivíduos humanos e do qual depende a existência e
desenvolvimento de suas mentes, selves e da consciêcia de si.”
(Mead, 1972:82)
O self surge e se estrutura a partir de interações sociais, ou, em
outras palavras, mediante a experiência singular de cada sujeito realiza-
da no processo social. O self, então, ocupa um papel relevante no cená-
rio da organização social, visto que integra a subjetividade (experiência
singular de cada sujeito) e a objetividade (espaço de interação social, da
coletividade). Assim, o self é organizado no interior do processo social.
O sujeito existe, ativamente, no interior desse processo social. As
atividades ocorrem nas diversas e cada vez mais complexas formas de
relacionar-se com o outro e com o mundo. Partindo dessas considera-
ções, observamos que a origem social do self proposta por Mead está no
fato de que “o meio social humano pertence ao indivíduo em decorrêcia do
caráter peculiar da atividade social humana.” (Sass, 1992: 202).
A frase anterior nos leva a perceber que, para Mead, não se trata de
qualquer tipo de atividade. Ainda que atividades como carregar uma
geladeira ou desatolar um automóvel pressuponham uma ação coopera-
da entre os homens implicados na ação, que exijam “graus complexos de
Consciência e participação política: uma abordagem psicopolítica
73
INTERAÇÕESINTERAÇÕES
INTERAÇÕESINTERAÇÕES
INTERAÇÕES
VV
VV
Vol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
JUL/DEZ 2001JUL/DEZ 2001
JUL/DEZ 2001JUL/DEZ 2001
JUL/DEZ 2001
inleligência e de comportamento, neles não estão implicados o self de cada
indivíduo”. (Sass, 1992:203) Em quase nada certas atividades humanas
se diferenciam das atividades cooperativas executadas por animais, tais
como as abelhas e as formigas. As atividades que importam aqui desta-
car são aquelas exclusivamente humanas, que são realizadas socialmen-
te e que implicam na adoção da atitude do outro. Interessam-nos as
“atividades que afetam o organismo do mesmo modo que afetam os outros orga-
nismos e portanto provocam, naquele, reações do mesmo caráter que provocam
nestes.” (Sass, 1992: 204).
Mead identifica três formas de atividades que progridem em nível
de complexidade na construção do self. A primeira forma são as brinca-
deiras (play). Ele propicia à criança a primeira organização do seu self e
da consciência de si mesma. Nessa categoria de jogos, a criança brinca
de algo sem que existam fins e meios que a direcionem. “Numa primei-
ra fase, as brincadeiras infantis são acompanhadas pela alternância rápida
de papeis e, com a aquisição da linguagem, de solilóquios”. (Sass, 1992: 210)
Ela pode brincar só ou em companhia de amigos imaginários (dublês).
Ao experimentarem essas brincadeiras, as crianqas vão progressiva-
mente concebendo como compreensíveis os papéis dos outros. Nessa
fase, a apropriação da atitude do outro ainda não consiste na apropria-
ção de um Outro Generalizados. Aqui a criança organiza de forma
particular as atitudes particulares do(s) outro(s) voltando-as para si pró-
pria. Tal organização particular é regida por regras ocultas nas brinca-
deiras de papéis com as quais as crianças costumam brincar. Ressalta-
mos que a imaginação da criança lhe permite organizar e controlar suas
proprias experiências. Assim, a imaginação ocupa papel importante na
elaboração do self.
A segunda fase de estruturação do self se encontra no período dos
jogos (games). Eles estão alicercados nas experiências vividas nos jogos
infantis. Neles há a admissão de regras prévias e claras que determinam
o comportamento do sujeito no jogo, o qual também a jogado por
outro(s). Quando o jogo é coletivo, também não se pode determinar
unilateralmente as mudanças das regras. É necessário o assentimento de
quem mais brinque para que se efetue as mudanças. Em outras pala-
vras, é preciso que haja a apropriação da atitude dos outros que brincam
de forma organizada. Esta apropriação não pode ser parcial, deve ser
total, estar organizada numa totalidade, articuladas como um outro ge-
neralizado.
Há, ainda, a reciprocidade entre os participantes do jogo que ad-
mitem as regras e vivem uma situação de inter-relação. E nesse contexto
se dá a individuação do sujeito. “Em termos gerais, a individuação somente
pode ser inteligível como processo em que a experiência do individuo implica a
organização ideal e comportamental da pauta geral de conduta do grupo social
a que pertence.” (Sass, 1992: 219).
As atividades lingüísticas, em especial as atividades simbólicas que
articulam os gestos vocais com o pensamento, constituem a terceira a de-
cisiva fase de desenvolvimento do self. Esta última fase engloba as duas
primeiras e “permite ao homem internalizar conscientemente o mundo exterior,
e suplantar a si mesmo, convertendo a si mesmo, como consciêcia de si, no seu
outro.” (Sass, 1992: 204) A isto Mead chama de diálogo interiorizado.
Tendo em conta as ideias até aqui expostas, podemos concluir que
“o self é a internalização das experiêcias sociais que são incorporadas ao com-
portamento da forma-individuo e adstrito à consciência, o seu caráter é essen-
cialmente cognitivo” (SassSass
SassSass
Sass, 1992:224).4
O self é social: possui em seu fundamento aspectos internos a exter-
nos, os quais localizamos didaticamente no que Mead denomina de
“eu” – parte do sujeito que reage às atitudes dos outros – e de “mim” –
parte que processa e internaliza (antes da assimilação por parte do eu, ou
então antes de tornar-se disponível ao sujeito) os eventos externos ao
sujeito. Assim “o eu é a fase do self que se exterioriza, reagindo à atitude dos
outros, o mim é a face do self que internaliza aquelas atitudes.” (Sass, 1992:
230) As atitudes dos outros constituem um mim organizado e então o indiví-
duo reage a elas como um eu.” (Mead, 1972: 175)
Eu e mim sao dois momentos estruturados de um mesmo processo,
são como que fases componentes do self, sem as quais não se pode ela-
borar um self. O eu não tem como objeto a experiência direta. Seu obje-
Consciência e participação política: uma abordagem psicopolítica
75
INTERAÇÕESINTERAÇÕES
INTERAÇÕESINTERAÇÕES
INTERAÇÕES
VV
VV
Vol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
JUL/DEZ 2001JUL/DEZ 2001
JUL/DEZ 2001JUL/DEZ 2001
JUL/DEZ 2001
to está nas experiências processadas pelo mim, o que faz do mim o objeto
do eu.5
As relações que o eu tem com as experiências são mediatizadas pe-
las memórias do mim: “Do confronto entre a ação do eu e a reflexão da
experiência em mim é tecida a autoconsciência ou consciência de si”. (Sass,
1992: 229) Mediante o diálogo interiorizado, que caracteriza a terceira
fase da elaboração do self, o sujeito conversa consigo mesmo e retruca a
si próprio como se o fizesse com o outro. Portanto, o self tem por carac-
terística ser um objeto para si próprio.
A consciência de si implica que o indivíduo se converta em um objeto para si
ao adotar as atitudes dos outros indivíduos para ele, dentro de um marco organizado
de relações sociais: a menos que o indivíduo se converta em objeto para si, ele não
desenvolveria a consciência de si nem teria um self completo. “ (Mead, 1972: 225)
Enquanto podemos dizer que o mim está voltado ao passado, visto
que ele organiza as experiências objetivas percebidas pelo sujeito e que
mais tarde são assumidas pelo eu, o eu está voltado para o presente e para
as expectativas de futuro vividas pelo sujeito. Esta relação se dá numa
perspectiva dialética, a qual coloca a ação do sujeito num devir conti-
nuo. O self completo é formado unitariamente mediante uma relação de
reciprocidade existente entre o eu e o mim, a qual possibilita ao sujeito
tornar a si um objeto para si mesmo.
Importa a esta altura dizer que, para Mead, a reflexão resultante da
intemalização pelo sujeito de um reflexo generalizado da atitude do
outro. A realidade é refletida generalizadamente pelo individuo. Em
termos filosóficos, o particular (o sujeito) reduz sua capacidade reflexi-
va do reconhecimento do universal (o ato social). Fica estabelecido en-
tão que há uma relação entre sujeito e sociedade que, por sua vez, é
mediatizada por algo. Esse algo é o Outro Generalizado.6
Segundo Sass, Mead entende que “a cada experiência nos defronta-
mos com um outro sempre particular mas sempre generalizadamente. (..) Ape-
nas como reflexo generalizado da relação particular é que podemos compreen-
der, da perspectiva social, a relação das formas pai e filho”. (Sass, 1992:
Consciência e participação política: uma abordagem psicopolítica
76
INTERAÇÕESINTERAÇÕES
INTERAÇÕESINTERAÇÕES
INTERAÇÕES
VV
VV
Vol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
JUL/DEZ 2001JUL/DEZ 2001
JUL/DEZ 2001JUL/DEZ 2001
JUL/DEZ 2001
244-45) E então podemos compreender o outro como “uma atitude or-
ganizada e generalizada do real, ou como um outro generalizado e é o outro
generalizado que proporciona a unidade do self, ou a luta racional entre o eu
e o mim”. (Sass, Sass,
Sass, Sass,
Sass, 1992: 245)
Na perspectiva de Mead “a comunidade organizada ou o grupo social
que proporciona ao indivíduo sua unidade de self podem ser chamados de outro
generalizado. A atitude do outro generalizado é a atitude de toda a comunida-
de”. (Mead, Mead,
Mead, Mead,
Mead, 1972: 154) Disso podemos concluir que o outro generaliza-
do não pertence imediatamente ao sujeito, mas à comunidade; o outro
generalizado é a interiorização da atitude de toda a comunidade.
No que se refere às relações entre o sujeito e a sociedade, podemos
observar que elas se estabelecem mediante a formação e evolução da
autoconsciência ou consciência de si adquirida pela formação do self.
Em outras palavras, quanto mais o eu e o mim estiverem integrados,
mais complexa poderá ser a consciência do sujeito.
Em nosso entender, esta consciência é eminentemente política, é
consciência política e se constrói em relação a si próprio, ao outro gene-
ralizado e à sociedade. Quanto mais articulados estiverem o eu e o mim,
formando um self completo, mais política poderá ser esta consciência
desenvolvida pelo sujeito. Dizemos isso porque um individuo que nao
possua um self completo, nunca virá a ter uma consciência política com
uma configuração complexa. Contudo, ter um self completo não signi-
fica o mesmo que ter consciência política complexa.
Ter um self completo é a base para se obter uma consciência política
complexa. Quanto mais articulado estiverem eu e mim na formação do
self, quanto mais desenvolvida estiver a consciência de si no sujeito,
mais condições o sujeito terá para elaborar sua consciência política de
maneira com que se torne mais complexa. Portanto, podemos pensar
em graus, configurações de consciência que se formam de modo dialé-
tico ou segundo o processo dialético vivido pelo eu-mim na construção
do self. Podemos dizer que, paralelamente à estruturação do self com-
pleto podemos encontrar a formaqao da consciência politica, visto que a
estrutura do self está na base dessa última.
Consciência e participação política: uma abordagem psicopolítica
77
INTERAÇÕESINTERAÇÕES
INTERAÇÕESINTERAÇÕES
INTERAÇÕES
VV
VV
Vol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
JUL/DEZ 2001JUL/DEZ 2001
JUL/DEZ 2001JUL/DEZ 2001
JUL/DEZ 2001
Em nenhum momento o autor nos permite pensar um sujeito dis-
sociado da sociedade. É na indissociabilidade (e por conseguinte na
ausência de qualquer dualismo a esse respeito) de sujeito-sociedade que
podemos pensar essa dialética. O autor afirma que “qualquer tratamento
psicológico ou filosófico da natureza humana implica a suposição de que o indi-
víduo humano pertence a uma comunidade social organizada e obtém sua
natureza de suas interações e de relações sociais com essa comunidade como um
todo e com os membros individuais dela”. (Mead, Mead,
Mead, Mead,
Mead, 1972: 251)
Registramos ainda que, segundo a concepção meadiana, a socieda-
de é anterior ao indivíduo e, por isso, a individuação é resultante dos
processos socializantes e depende da evolução histórica de nossa socie-
dade. Nas palavras de Mead verifica-se que “se o indivíduo obtém seu self
apenas através da comunicação com os outros, somente graças à elaboração dos
processos sociais mediante a comunicação significante, então o self não poderia
preceder o organismo social. Este deve existir previamente”. (Mead, Mead,
Mead, Mead,
Mead, 1972:
233) Vale frisar que essa existência prévia da sociedade em relação ao
sujeito não consiste na completa determinação deste pela sua relação
com esta. Com essa postura, Mead caminha com K. Marx, que estabe-
lece uma relação recíproca entre sociedade e indivíduo, ao afirmar que
“assim como a sociedade produz ela mesma ao homem enquanto homem, é
produzida por ele” ( MarMar
MarMar
Marxx
xx
x, 1978: 380).
Essa relação pode ser observada no fenômeno das instituições. Elas
são o reflexo da própria complexidade do ser humano. Elas não são
necessariamente formas determinantes, castradoras do sujeito. Elas exis-
tem na sociedade porque, antes de tudo, são e estão internalizadas pelo
sujeito. As instituições podem ser (e muitas vezes o são), além de for-
mas organizadoras dos comportamentos inter-sujeitos e dos sujeitos que
as compõem, promotoras da individuação do sujeito. A esse respeito
lemos em Sass:
“É claro que a vida social organizada, entre outras formas, em normas (direi-
tos e deveres) e valores (morais e éticos), é internalizada pelo indivíduo em distin-
tos graus. Da mesma maneira, em cada momento histórico um indivíduo ou um
grupo de indivíduos podem traduzir melhor que outros indivíduos tanto a atitude
do conjunto de pessoas que compõe a sociedade, reforçando as posições instituci-
Consciência e participação política: uma abordagem psicopolítica
78
INTERAÇÕESINTERAÇÕES
INTERAÇÕESINTERAÇÕES
INTERAÇÕES
VV
VV
Vol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
JUL/DEZ 2001JUL/DEZ 2001
JUL/DEZ 2001JUL/DEZ 2001
JUL/DEZ 2001
onais que sustentam, ou mesmo antecipando profundas modificações nas institui-
ções vigentes. Esse entendimento vincula diretamente o papel da psicologia social
à ação política dos indivíduos.” (Sass, 1992: 78)
Observemos um trecho em que Mead aplica seu conceito de self ao
comportamento político:
“Considere que um político ou um estadista, ao apresentar um projeto, tem nele
mesmo a atitude da comunidade. Ele sabe como a comunidade reage em sua
experiência a essa expressão da comunidade – ele sente como tal experiência possui
uma série de atividades organizada que são aquelas da comunidade. Sua contribui-
ção própria, nesse caso o ‘eu’, é um projeto de reorganização, um projeto que ele
apresenta à comunidade tal como esta reflete nele. Também se modifica, por
suposto, na medida em que apresenta esse projeto e faz dele uma questão política...
Todo o procedimento é realizado na experiência do estadista bem como na expe-
riência geral da comunidade. Quero apontar que os acontecimentos não ocorrem
de forma simples em sua mente, em vez disso, ela é a expressão de sua própria
conduta dessa situação social, desse grande processo cooperativo da comunidade,
que é executado.” (Mead, 1972: 187-88)
Nesse trecho, Mead quer mostrar que, normalmente, não se pode
pensar que liderança seja sinônimo de isolamento, de dominação e con-
trole. Isso equivaleria a dizer que uma liderança ou qualquer sujeito que
assim estivesse estruturado estaria possivelmente desprovido de um mim
e, por isso, incapaz de internalizar a experiência vivida. Estaríamos falan-
do de alguém com um self fragmentado, não completo, possuidor apenas
de um eu e, assim, de uma consciência política fragmentária, se não pato-
lógica. Mead enfatiza no texto que o eu deve reagir partindo das atitudes
organizadas dos outros pelo mim. E isso inclui o outro na ação política de
qualquer sujeito. Subtrair por quaisquer motivos que sejam o outro da
análise do comportamento político, social, é inconcebivel.
Assim, ainda que o político não articule as expectativas dos outros
durante a atividade, a construção de seu projeto (que em nossos tempos
é orientada por estratégias de marketing politico), não nos autoriza a
pensarmos que ele as desconheça. Certamente as conhece, pois só assim
pode capitalizá-las a seu favor, convertê-las em expectativas de outra
ordem e que estejam de acordo com seu projeto. Dessa forma, mesmo
Consciência e participação política: uma abordagem psicopolítica
79
INTERAÇÕESINTERAÇÕES
INTERAÇÕESINTERAÇÕES
INTERAÇÕES
VV
VV
Vol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
JUL/DEZ 2001JUL/DEZ 2001
JUL/DEZ 2001JUL/DEZ 2001
JUL/DEZ 2001
que ele não esteja articulando a demanda popular a seu projeto, o polí-
tico está inserindo o outro em sua atividade política.
Todavia é necessário que se diga que a análise meadiana é por de-
mais idealista e funcional. Isso fica claro quando observe-se que o autor
supõe de maneira implícita que a conduta do sujeito é eivada por uma
conduta moral. A respeito dessa conduta moral suposta por Mead na
vida do sujeito, Sass afirma que “(...) na medida em que, implicitamente,
supõe uma moral na conduta das pessoas que está longe de ser um produto
natural das relações sociais; em conseqüência, supõe que o projeto político é a
expressão da expectativa dos outros.” (SassSass
SassSass
Sass, 1992: 232)
É ingenua a compreensão de Mead de que projeto político de um
estadista seja o reflexo, a expressão dos anseios da sociedade que se en-
contra sob a batuta do capitalismo. Estamos de acordo com a proposi-
ção de Sass que entende que a visão meadiana acerca da questão só faz
sentido se pensarmos que “um projeto político que vincula organicamente os
seus membros e seus sintetizadores e executores com as atitudes e expectativas
dos membros da sociedade (...) faz sentido com os princípios que organizam as
sociedades socialistas e não com aqueles que organizam a sociedade capitalista.”
(SassSass
SassSass
Sass, 1992: 233)
O modelo Analítico de Estudo daO modelo Analítico de Estudo da
O modelo Analítico de Estudo daO modelo Analítico de Estudo da
O modelo Analítico de Estudo da
Consciência PConsciência P
Consciência PConsciência P
Consciência Políticaolítica
olíticaolítica
olítica
Destacados os conceitos e perspectivas do pensamento mediano,
procuraremos agora estabelecer possíveis aproximações teóricas entre a
Teoria Social do Self e o modelo de estudo da Consciência Política pro-
posto por Salvador Sandoval (1989; 1994; 1997; 2001).
É importante demonstrar, de pronto, o fato de que Mead não fez
parte do referencial de Sandoval. Os autores que influenciaram de modo
definitivo a Sandoval foram Tilly (1978), Moore (1978) Touraine (1966,
1984), Moscovici (1985) e Tajfel (1981), Melucci (1996) a Heller (1972).
Contudo, defendemos a possibilidade de o autor ter se apropriado de
Consciência e participação política: uma abordagem psicopolítica
80
INTERAÇÕESINTERAÇÕES
INTERAÇÕESINTERAÇÕES
INTERAÇÕES
VV
VV
Vol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
JUL/DEZ 2001JUL/DEZ 2001
JUL/DEZ 2001JUL/DEZ 2001
JUL/DEZ 2001
alguns dos pressupostos meadianos através da tradição acadêmica norte-
americana, na qual Mead tem um trânsito maior.
Tendo presente as considerações anteriormente realizadas acerca da
psicologia social de G. H. Mead, propomos pensar o modelo da Cons-
ciência Política como sendo uma inversão da teoria meadiana da se-
guinte forma: enquanto Mead não atribui a sua teoria do Self um cará-
ter crítico (e se o faz ele provavelmente tem essa condição a priori e por
isso não a clarifica) abrindo a possibilidade de se alcançar uma consci-
ência de si acrítica, Sandoval parte exatamente dessa carência da teoria
meadiana ao introduzir com condição objetiva para o seu modelo de
consciência política a capacidade crítica que o indivíduo deve adquirir
mediante suas experiências com o Estado e na construção da identidade
coletiva com o grupo de pertença.7
Nesse sentido, o autor afirma que as restrições da vida cotidiana
que são impostas ao sujeito atuam como um mecanismo de controle
social, diminuindo as possibilidades desse sujeito desenvolver uma
capacidade de abstração analítica. Tal proposição nos direciona à com-
preensão de que o viver diário é alienante (cf. Heller 1972; Sandoval,
1989). Entretanto, é inserido nesse viver cotidiano que assimila as
suas crenças, valores societais e expectativas, que ele desenvolve suas
relações sociais e constrói uma espécie de “consciência da sociedade”.
Assim, pensamos que o viver cotidiano, além de alienante, constitui
um importante obstáculo à politização do sujeito. Essa análise nos
leva a reiterar a idéia de a consciência meadiana ser acrítica porque
não propõe, ao menos de forma direta, algum tipo de ruptura com o
cotidiano. Para Sandoval
“(...) apesar dos valores, crenças sociais e da rotina cotidiana, os indivíduos têm a
oportunidade de romper temporariamente e parcialmente com alguns dos meca-
nismos de submissão e viver, no movimento social, experiências coletivas que, por
sua vez, são pedagógicas no sentido de que o indivíduo tem a oportunidade de
vivenciar outras formas de agir frente a seus problemas, interagir com outras
pessoas no âmbito de um esforço organizado coletivamente e conhecer experien-
cialmente o sistema político na medida em que o movimento social contesta o
status quo político-distributivo e leva o indivíduo a se defrontar com membros das
elites políticas.” (Sandoval, 1989:70-1)
Consciência e participação política: uma abordagem psicopolítica
81
INTERAÇÕESINTERAÇÕES
INTERAÇÕESINTERAÇÕES
INTERAÇÕES
VV
VV
Vol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
JUL/DEZ 2001JUL/DEZ 2001
JUL/DEZ 2001JUL/DEZ 2001
JUL/DEZ 2001
Entendemos que Mead esteja se fiando em alguma forma de evo-
lucionismo social pelo qual o sujeito, em um dado momento e devido
às interações que vivenciar, ampliará essa consciência de si à arena polí-
tica. A interação entre sujeito e sociedade se dá de modo permanente e
ininterrupto. Essa é nossa impressão quando lemos os trechos em que
Mead escreve sobre comportamento político. Entendemos também que,
diferentemente de Mead, Sandoval vê na ruptura desestruturante do
cotidiano a forma de o sujeito abandonar essa consciência acrítica em
prol de uma outra politizada.
Apesar disso, nós observamos uma aproximação significativa entre
o pensamento de Sandoval e a obra de Mead no que se refere à consci-
ência de si, já que toda a consciência de si é social e por ser social pode
vir a ser política. A aproximação que fazemos dessas duas concepções
teóricas se justifica pelo fato de partirem de algumas premissas comuns:
a reciprocidade existente entre sujeito e sociedade, a mediação desse
processo pela identificaçãoe e apropriação da atitude do grupo de per-
tença e a possibilidade de se aprofundar progressivamente esta consci-
ência política. Ajunte-se a isso o fato de que entendemos que as propo-
sições de um e outro autor serem complementares sob diversos aspectos
os quais procuraremos demonstrar ao decorrer desse texto.
Quando dizemos que toda a consciência de si pode vir a ser políti-
ca, estamos nos referindo ao fato de que no processo de interiorização
das estruturas sociais, das instituições, de apropriação do outro generali-
zado, é mister que o eu faça a sua leitura das estruturas, instituições e do
outro generalizado com o qual o mim teve contato e “propõe” ao eu
interiorizar. Essa leitura e conseqüente releitura feita pelo eu (a qual
implica na relação de mão dupla entre
o sujeito e a sociedade), estaria
impregnada de posturas políticas advindas do processo de estruturação
do self (ou autoconsciência, ou ainda consciência de si).
Mas enquanto Mead não destaca a especificidade da ação e conscin-
cia polítical8, o aspecto político, na estrutura geral da consciência de si
fazendo com que esse carater político do self seja como que uma condici-
onante implícita à existência do próprio self; Sandoval procura discrimi-
nar, enfatizar, na consciência seu caráter político. Ainda que o processo de
Consciência e participação política: uma abordagem psicopolítica
82
INTERAÇÕESINTERAÇÕES
INTERAÇÕESINTERAÇÕES
INTERAÇÕES
VV
VV
Vol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
JUL/DEZ 2001JUL/DEZ 2001
JUL/DEZ 2001JUL/DEZ 2001
JUL/DEZ 2001
estruturação da consciência traga em si um caráter político, isso não impli-
ca na necessidade de que o sujeito seja um sujeito politizado. Assim, a
consciência política refere-se à politização do sujeito, às ações politizadas
do sujeito e, em última análise, ao desenvolvimento consciente do seu
caráter político. Segundo o autor, consciência política é:
“(..) a composite of interelated social psychological dimensions of meanings
and information that allow individuals to make decisions as to the best course of
action within political contexts and specific situations.” (Sandoval, 2001:185)
Para Sandoval a consciência política é formada por aspectos identi-
tários (identidade social na perspectiva de Tajfel), pela cultura constru-
ída socialmente e expressa na sociedade, por um conjunto de crenças
internalizadas pelo individuo e pela percepção politizada do contexto
social em que se localiza o sujeito (identidade Coletiva na perspectiva
de Melucci). Esses aspectos, que informam a consciência apresentam-se
no modelo proposto por Sandoval com sendo 7 dimensoes psicossocio-
lógicas que se articulam10. São elas a Identidade Coletiva; as Expectati-
vas e Convicções Societais; os Sentimentos de Interesses Coletivos e a
Identificação de Adversários; a Eficácia Poílica; os Sentimentos de Jus-
tiça e Injustiça; a Vontade de Agir Coletivamente e, por fim, as Metas e
Propostas de Ação Coletiva. Em artigo publicado em 2001, Sandoval
apresenta o seguinte esquema:
Fonte: Sandoval, S. (2001) (tradução nossa).
Consciência e participação política: uma abordagem psicopolítica
83
INTERAÇÕESINTERAÇÕES
INTERAÇÕESINTERAÇÕES
INTERAÇÕES
VV
VV
Vol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
JUL/DEZ 2001JUL/DEZ 2001
JUL/DEZ 2001JUL/DEZ 2001
JUL/DEZ 2001
É importante salientar que as dimensões da consciência política
possuem conteúdos mutáveis, visto que o que dá limite ao conteúdo de
cada dimensão são os conteúdos dos momentos históricos em que cada
sujeito se encontra.
Nas palavras de Sandoval (2001), o modelo descreve as várias di-
mensões psicossociais que constituem a consciência política de um indi-
víduo:
“This model of political consciousness depicts the various social psychologi-
cal dimensions that constitute na individual’s political awarenessof society and
himself/herself as a member of that society and consequntly represents him/her
dispositions to action in acordance with that awareness.” (p. 185)
Outro aspecto que nos permite aproximar os dois autores é a ques-
tão da ação voluntária do sujeito. É preciso dizer que o pensamento
meadiano contribuiu em muito para o desenvolvimento e consolidação
da mentalidade voluntarista da sociedade norteamericana. Afirmamos
isso por reconhecermos que a proposta de uma psicologia social apre-
sentada por Mead é eivada de uma generosa dose de voluntarismo.
Feita essa consideração, notamos que Salvador Sandoval (1994), ao pro-
por a primeira versão de seu modelo analítico para o estudo da consci-
ência política, que trazia por base o modelo de consciência operária de
Alain Touraine (1966), propõe uma quarta dimensão além das três que
o modelo do autor continha originariamente, a saber: Identidade; Oposi-
ção e Totalidade. A essa quarta dimensão Sandoval chamou de predispo-
sição para intervenção.
Sandoval acrescera esta quarta dimensão ao esquema de Alain Tou-
raine por entender que o conceito de consciência estaria “(...) intima-
mente relacionado ao engajamento do comportamento social em busca de
auto-interesse e de interesse de classe” (SandovalSandoval
SandovalSandoval
Sandoval,
1994: 68). Tal entendi-
mento nos remete à pensarmos que a percepção do sujeito acerca de sua
capacidade de intervenção com o fim de lograr alcançar seus interesses
está associada à uma noção de consciência voluntarista. Com isso, não
pretendemos dizer que essa seja a concepção de consciência de Sando-
Consciência e participação política: uma abordagem psicopolítica
84
INTERAÇÕESINTERAÇÕES
INTERAÇÕESINTERAÇÕES
INTERAÇÕES
VV
VV
Vol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
JUL/DEZ 2001JUL/DEZ 2001
JUL/DEZ 2001JUL/DEZ 2001
JUL/DEZ 2001
val, mas que a ação voluntária perpassa as ações individuais e coletiva
dos sujeitos. Para o autor
“(...) consciência é um conceito psicossocial referente aos signiftcados que os
indiviíduos atribuem às interações diárias e acontecimentos em suas vidas (...) A
consciência não é um mero espelhamento do mundo material, mas antes a atribui-
ção de significados pelo indiviíduo ao seu ambiente social, que servem como guia
de conduta e só podem ser compreendidos dentro do contexto em que é exercido
aquele padrão de conduta.” (Sandoval, 1994:í59).
Notemos ainda que essa noção de consciência está consideravelmen-
te próxima a que Mead propôs no inicio do século XX. Ambos os autores
reconhecem que a consciência é socialmente dada, forjada no interior do
processo social no qual objetividade e subjetividade interagem. Em ou-
tras palavras, os dois autores são unânimes em admitir que a consciência é
constituída mediante a interação recíproca entre aquilo que vivenciamos e
significamos como realidade extrínseca e aquilo que vivenciamos como
sendo intrínseco ao sujeito (cf. Berger & Luckmann, 1967).
Ainda relacionado à quarta dimensão da consciência, lemos o se-
guinte:
Além disso, a compreensão de como certas ações individuais ou coletivas
ocorrem ou deixam de ocorrer não é apenas uma questão de circunstância histórica
ou da percepção do indivíduo de sua realidade social, mas também do repertório
disponível de ações possíveis e da legitimidade atribuída às mesmas por seus atores.
É nessa terceira acepção que sentimos a necessidade de agregar a ‘predisposiçãao
para a ação’ às outra dimensões de consciência política.” (Sandoval, 1994:68)
Nessa formulação, notamos uma proximidade com a noção de ati-
vidade proposta por Mead. A partir e mediante essa atividade eminen-
temente humana o sujeito atribui valores e significados e é capaz de
determinar ações individuais e coletivas às quais poderá vincular-se.
Ressaltamos que na proposta de Sandoval identidade não é sinôni-
mo para consciência; identidade ocupa o lugar de categoria analítica; é
entendida como um componente, uma dimensão da consciência, da
Consciência e participação política: uma abordagem psicopolítica
85
INTERAÇÕESINTERAÇÕES
INTERAÇÕESINTERAÇÕES
INTERAÇÕES
VV
VV
Vol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
JUL/DEZ 2001JUL/DEZ 2001
JUL/DEZ 2001JUL/DEZ 2001
JUL/DEZ 2001
mesma forma corn que Touraine (1966) propôs. Juntamente corn o
conjunto de crenças, com a cultura, com as experiências vividas, estão a
identidade social e a identidade coletiva constituindo as dimensões da
consciência política (e no nosso entender podemos introduzir nessa cons-
trução teórica o outro generalizado que funciona como mediador exter-
no, entre sujeito e sociedade, e interno, entre os diversos níveis psicoló-
gicos do sujeito). Tajfel (1981) e Melucci (1996) são autores que cola-
boram na construção de Sandoval acerca da dimensão identitária da
consciência política, Contudo, Sandoval não entende como sendo iden-
tidades distintas as propostas de Tajfel e Melucci, mas a identidade
coletiva uma especificação da identidade social de Tajfel ocorrida pela
politização do sujeito e ambas um componente da Consciência Política.
Da mesma forma, Mead não entenderia a Identidade como um
termo sinônimo para seu conceito de Self ou consciência de si. Nos
amparamos para tanto nas argumentações que Sass (cf. Sass Sass
Sass Sass
Sass 1992: 197-
201) nos apresenta a esse respeito. Como já observamos, Self ou consci-
ência de si tem, para Mead, “um caráter exclusivamente consciente”. A
concepção meadiana de self tem um caráter de consciência de si
(self-consciousness). Sendo assim, termos que portem significados consci-
entes e inconscientes, como é o caso das palavras personalidade e caráter,
ou que revelem apenas de modo parcial o conceito de Mead, como no
caso do termo eu, que se refere apenas ao que é próprio do sujeito,
deixando de lado a outra face do self (mim), ou mesmo identidade como
é proposta por Ciampa (1987), em que o termo pode ser entendido
como uma “restrospectiva da individualidade”, são inadequados. Sass, ao
refutar o uso desses termos nos apresenta o seu entendimento a respeito
do que seria para Mead a consciência de si, o self. Segundo ele “(...) o
self mediano está voltado, pela ação do eu, prospectivamente; ou, para usar
uma imagem sartreana, a ação que ainda não foi consumada e que está volta-
da a morder o futuro.” (SassSass
SassSass
Sass, 1992:199)
Parece-nos que, outra vez, Mead e Sandoval se aproximam. Am-
bos os autores voltam sua atenção à consciência, ao processo social no
qual ela é forjada. É na atividade humana, na relação entre sujeito e
sociedade que se dá essa elaboração. Dessa forma, Identidade é, em
Consciência e participação política: uma abordagem psicopolítica
86
INTERAÇÕESINTERAÇÕES
INTERAÇÕESINTERAÇÕES
INTERAÇÕES
VV
VV
Vol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
JUL/DEZ 2001JUL/DEZ 2001
JUL/DEZ 2001JUL/DEZ 2001
JUL/DEZ 2001
ambos autores, um componente importante (e não um sinônimo de)
para a elaboração de seus conceitos – self e consciência política – mas
não o único. Cada autor apresenta os componentes que julga essenciais
para tanto, mas em momento nenhum permitem a nós reduzir suas
teorias ao termo identidade. Ambos os autores vêem suas proposições
teóricas para além do que identidade por si só é capaz de representar.
Considerações FConsiderações F
Considerações FConsiderações F
Considerações Finaisinais
inaisinais
inais
Ao avaliarmos as considerações que acabamos de fazer neste breve
ensaio, entendemos que nossa proposição de uma possível articulaçao
teórica entre Mead e Sandoval aponta para a leitura da consciência e do
comportamento político que não cai em posturas deterministas ou uni-
direcionais quando da articulação estabelecida entre consciência, parti-
cipação, comportamento e politica. Muito pelo contrário. Tal articula-
ção nos concede a possibilidade de efetuarmos estudos que nos possibi-
litem entender de que modo os processos de construção da consciência,
de identidades, da cultura política e as definições de estratégias reorde-
nam cada um desses aspectos da vida do sujeito, do mundo da vida e
acabam por produzir novos significados para as ações coletivas e para a
participação política do sujeito.
Pensamos, por fim, que, ao utilizarmos os conceitos desses autores
de modo articulado, poderemos explicar melhor como que a cultura
política de um sujeito se transforma, na medida que busca soluções para
suas necessidades e a satisfação de suas demandas através de ações cole-
tivas ou movimentos sociais. Essa proposta facilita, ao nosso ver, a com-
preensão do processo de transformação de identidades pessoais em iden-
tidades coletivas; os modos com que o sujeito aprende e apreende a
linguagem particular da organização a que venha a afiliar-se e que pro-
vocará transformações em diversas dimensões da consciência como, por
exemplo, em seus valores societais, suas crenças e na percepção de anta-
gonismos e adversários, visto que virá a transferir parte de sua lealdade
e de sua solidariedade a esse grupo de pertença a que se afiliará.
Consciência e participação política: uma abordagem psicopolítica
87
INTERAÇÕESINTERAÇÕES
INTERAÇÕESINTERAÇÕES
INTERAÇÕES
VV
VV
Vol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
JUL/DEZ 2001JUL/DEZ 2001
JUL/DEZ 2001JUL/DEZ 2001
JUL/DEZ 2001
Enfim, pensamos que, através desse trabalho de articulação da Te-
oria Social do Self e do Modelo de Estudos da Consciência Política,
poderemos apresentar novas e interessantes contribuições à compreen-
são do permanente processo de socialização política vividos, pelos mo-
vimentos sociais.
NotasNotas
NotasNotas
Notas
*Para meus pais e Jaqueline Oliveira.
1Nasceu em 27 de fevereiro de 1863 em South Hadley, Massachusetts, EUA e faleceu
em 26 de abril de 1931, aos 68 anos. Mind, Self and Society Mind, Self and Society
Mind, Self and Society Mind, Self and Society
Mind, Self and Society e os demais títulos da
obra de Mead, são o resultado de esforços de seus ex-alunos, em especial Charles
Morris, que organizou e prefaciou Mind, Self and Society Mind, Self and Society
Mind, Self and Society Mind, Self and Society
Mind, Self and Society (após a morte de
Mead) e que é o principal titulo da obra de Mead por conter os conceitos fundamentais
de sua psicologia social.
2Norte-americano radicado no Brasil desde 1976. Atualmente é Professor da Universi-
dade Estadual de Campinas e da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
3Ver Sass, 1992:124.
4A afirmação de que a apropriação da atitude do outro ainda não consiste na apropriação
de um Outro Generalizado merece a seguinte ressalva: caso haja a apropriação do
Outro Generalizado, esta não se dá no nível da consciência, a criança não teria consci-
ência de que o faz.
5Ainda a respeito do que seja internalizar e interiorizar é esclarecedor distingui-los
como sendo o primeiro termo o que trata do processo estruturante da experiêrncia
individual e o segredo o que traz consigo o sentido de conduzir ao interior do sujeito as
estruturas extemas já ordenadas (cf. Habermas, 1987: 34).
6Afirmar o contrário (que o eu é objeto do mim) implicaria em fazer com que a ação
característica do eu fosse deslocada para o mim, tornando o eu prisioneiro da memória, do
conjunto organizado das atitudes dos outros que o indivíduo adota para si mesmo e da
ação isolada do mim. Fazer do eu objeto do mim significa, ao nosso ver, fazer com que a
capacidade de reação que o indivíduo tem frente às atitudes do outro internalizadas pelo
mim findem, pois não seria possível fazer com que as atitudes dos outros reelaboracem
nossas própria atitudes. Tal proposição acarretaria o fim do diaáogo interior estabeleci-
do pelo eu e o mim e conseqüentemente a impossibilidade da consciência de si proposta
por Mead.
7Um exemplo apropriado para entendermos essa questão é a relação pai-filho. A esse
respeito ver Sass, 1992: 243-44.
8É importante observarmos que Mead elabora sua Teoria Social do Self partindo da
premissa da democracia. A democracia é concebida por ele como o elemento que
possibilita ao sujeito o desenvolvimento da consciência de si. O mesmo princípio valeria
para se explicar a formação de lideranças. Contudo, não podemos deixar de lembrar
Consciência e participação política: uma abordagem psicopolítica
88
INTERAÇÕESINTERAÇÕES
INTERAÇÕESINTERAÇÕES
INTERAÇÕES
VV
VV
Vol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
JUL/DEZ 2001JUL/DEZ 2001
JUL/DEZ 2001JUL/DEZ 2001
JUL/DEZ 2001
que lideranças como Stalin ou Hitler se mantêm fora de regimes democráticos ou ainda
que as democracias contemporâneas sustentam-se muitas vezes a partir de sistemas de
exclusão social. Esse nos parece o caso do Brasil e de outros países em desenvolvimento
que possuem um alto nível de concentração de renda. No caso brasileiro, apenas 20%
da população possui cerca de 80% da renda do país. Assim, parece-nos que as demo-
cracias contemporâneas diferenciam-se consideravelmente daquela pensada por Mead.
Elas não necessariamente contribuem ao desenvolvimento de uma consciência de si
completa, critica visto que elas se mantém com uma pequena parcela da coletividade.
Ainda que a compreensão meadiana aponte para o desenvolvimento de uma criticidade
da consciência, isso parece-nos aparente visto que, ao nosso ver, Mead tende muito
mais a propor um “sujeito da adaptação” do que da crítica.
9Importa fazer notar que, no instante em que Mead faz da democracia uma condição
necessária para o desenvolvimento do self, ele está abrindo espaço para que pensemos o
próprio self não apenas socialmente, mas também politicamente. Contudo o possível
aspecto político do self não chega a ser mencionado pelo autor no decorrer de sua obra.
10 Para uma leitura mais detalhadas das dimensões da consciência política propostas por
Sandoval recomendamos a leitura do artigo The Crisis of de Brazil Labor Mo-The Crisis of de Brazil Labor Mo-
The Crisis of de Brazil Labor Mo-The Crisis of de Brazil Labor Mo-
The Crisis of de Brazil Labor Mo-
viment and Emergence of Alternatives Fviment and Emergence of Alternatives F
viment and Emergence of Alternatives Fviment and Emergence of Alternatives F
viment and Emergence of Alternatives Foms of Woms of W
oms of Woms of W
oms of Woking-oking-
oking-oking-
oking-Class ContetionClass Contetion
Class ContetionClass Contetion
Class Contetion
in the 1990sin the 1990s
in the 1990sin the 1990s
in the 1990s, publicado na Revista PP
PP
Psicologia Psicologia P
sicologia Psicologia P
sicologia Políticaolítica
olíticaolítica
olítica; I(1), no qual o autor
apresenta seu modelo teórico.
BibliografiaBibliografia
BibliografiaBibliografia
Bibliografia
ANDRADEANDRADE
ANDRADEANDRADE
ANDRADE, Márcia R. de O. (1998) A FA F
A FA F
A Formação da Consciência dos Joormação da Consciência dos Jo
ormação da Consciência dos Joormação da Consciência dos Jo
ormação da Consciência dos Jo--
--
-
vens no Contevens no Conte
vens no Contevens no Conte
vens no Contexto dos Assentamentos Rxto dos Assentamentos R
xto dos Assentamentos Rxto dos Assentamentos R
xto dos Assentamentos Rurais do Movimento Sem Turais do Movimento Sem T
urais do Movimento Sem Turais do Movimento Sem T
urais do Movimento Sem Terer
erer
erra.ra.
ra.ra.
ra.
Tese de Doutorado em Educação. Campinas: Universidade Estadual de Campinas.
BAZILLIBAZILLI
BAZILLIBAZILLI
BAZILLI, Chirley. et alii. (1998) Interacionismo Simbólico e TInteracionismo Simbólico e T
Interacionismo Simbólico e TInteracionismo Simbólico e T
Interacionismo Simbólico e T
eoria doseoria dos
eoria doseoria dos
eoria dos
PP
PP
Papéis: Uma aproapéis: Uma apro
apéis: Uma aproapéis: Uma apro
apéis: Uma aproximação para a Pximação para a P
ximação para a Pximação para a P
ximação para a Psicologia Social.sicologia Social.
sicologia Social.sicologia Social.
sicologia Social. São Paulo: EDUC.
BERGERBERGER
BERGERBERGER
BERGER, P.; LL
LL
LUCKMANNUCKMANN
UCKMANNUCKMANN
UCKMANN, T. (1973) ConstrConstr
ConstrConstr
Construção Social da Rução Social da R
ução Social da Rução Social da R
ução Social da Realidade.ealidade.
ealidade.ealidade.
ealidade.
Petrópolis: Vozes [1967].
CAMINOCAMINO
CAMINOCAMINO
CAMINO, Leoncio et al.(org.) (1997) Estudos do Comportamento PEstudos do Comportamento P
Estudos do Comportamento PEstudos do Comportamento P
Estudos do Comportamento Político.olítico.
olítico.olítico.
olítico.
Florianópolis: Letras Contemporâneas.
..
..
. (1996) Uma abordagem psicossociológica no estudo do comportamento
político, In. RR
RR
Revista Pevista P
evista Pevista P
evista Psicologia e Sociedade; sicologia e Sociedade;
sicologia e Sociedade; sicologia e Sociedade;
sicologia e Sociedade; 8 (1); Jan./Jun. 1996. São Paulo:
ABRAPSO.
CIAMPCIAMP
CIAMPCIAMP
CIAMPA, A,
A, A,
A, Antônio da C. (1987) A Estória do Severino e a História daA Estória do Severino e a História da
A Estória do Severino e a História daA Estória do Severino e a História da
A Estória do Severino e a História da
Severina. Severina.
Severina. Severina.
Severina. São Paulo: Cortez.
GRAMISCI,GRAMISCI,
GRAMISCI,GRAMISCI,
GRAMISCI, Antônio. (1980) Maquiavel, a PMaquiavel, a P
Maquiavel, a PMaquiavel, a P
Maquiavel, a Política e o Estado Moderno.olítica e o Estado Moderno.
olítica e o Estado Moderno.olítica e o Estado Moderno.
olítica e o Estado Moderno.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.
. .
. .
. (1981) Concepção Dialética da Realidade.Concepção Dialética da Realidade.
Concepção Dialética da Realidade.Concepção Dialética da Realidade.
Concepção Dialética da Realidade. Rio de Janeiro: Civi-
lização Brasileira.
Consciência e participação política: uma abordagem psicopolítica
89
INTERAÇÕESINTERAÇÕES
INTERAÇÕESINTERAÇÕES
INTERAÇÕES
VV
VV
Vol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
JUL/DEZ 2001JUL/DEZ 2001
JUL/DEZ 2001JUL/DEZ 2001
JUL/DEZ 2001
GOFFMANGOFFMAN
GOFFMANGOFFMAN
GOFFMAN, Erving. (1999) A RA R
A RA R
A Representação do Eu na Vepresentação do Eu na V
epresentação do Eu na Vepresentação do Eu na V
epresentação do Eu na Vida Cotidiana.ida Cotidiana.
ida Cotidiana.ida Cotidiana.
ida Cotidiana.
Petrópolis: Vozes [1975], 8ª ed.
HELLER, HELLER,
HELLER, HELLER,
HELLER, Agnes. (1997) Sociologia do CotidianoSociologia do Cotidiano
Sociologia do CotidianoSociologia do Cotidiano
Sociologia do Cotidiano. Rio de Janeiro: Paz e Terra
[1972] .
HEWSTONE,HEWSTONE,
HEWSTONE,HEWSTONE,
HEWSTONE, M. (1989) Causal ACausal A
Causal ACausal A
Causal Atribuition:tribuition:
tribuition:tribuition:
tribuition: From Cognitive Process to Co-
lective Beliefs. Londres: Basil Blackwell
MARXMARX
MARXMARX
MARX, Karl. (1977) Contribuições para a Crítica da Economia PContribuições para a Crítica da Economia P
Contribuições para a Crítica da Economia PContribuições para a Crítica da Economia P
Contribuições para a Crítica da Economia Política.olítica.
olítica.olítica.
olítica.
Lisboa: Estampa.
MEADMEAD
MEADMEAD
MEAD, George H. (1972) Espíritu, PEspíritu, P
Espíritu, PEspíritu, P
Espíritu, Persona y Sociedad. ersona y Sociedad.
ersona y Sociedad. ersona y Sociedad.
ersona y Sociedad. Desde el punto de
vista del conductismo social. Buenos Aires: PAIDÓS.
MELMEL
MELMEL
MELUCCI,UCCI,
UCCI,UCCI,
UCCI, Alberto. (1996) Challenging Codes. Challenging Codes.
Challenging Codes. Challenging Codes.
Challenging Codes. Cambridge University press.
. .
. .
. (1996b) A experiência individual na sociedade planetária. Revista LuaRevista Lua
Revista LuaRevista Lua
Revista Lua
Nova, n.º 38.Nova, n.º 38.
Nova, n.º 38.Nova, n.º 38.
Nova, n.º 38.
. .
. .
. (1999) )
) )
) Esfera Pública y Democracia en la Era de la Información.
RR
RR
Revista Metapolíticaevista Metapolítica
evista Metapolíticaevista Metapolítica
evista Metapolítica, Vol. 3, n.º 9, pp. 57-67.
MOORE, MOORE,
MOORE, MOORE,
MOORE, Barrington. (1987) Injustiça: A Base Social da Obediência e Re-Injustiça: A Base Social da Obediência e Re-
Injustiça: A Base Social da Obediência e Re-Injustiça: A Base Social da Obediência e Re-
Injustiça: A Base Social da Obediência e Re-
volta. volta.
volta. volta.
volta. São Paulo: Cortez [1978]
MOSCOVIMOSCOVI
MOSCOVIMOSCOVI
MOSCOVI, Serge ( (
( (
(1961) A RA R
A RA R
A Representação Social da Pepresentação Social da P
epresentação Social da Pepresentação Social da P
epresentação Social da Psicanálise.sicanálise.
sicanálise.sicanálise.
sicanálise. São Paulo:
Zahar.
. (. (
. (. (
. (1986) L’Être des Representations Sociales. In: DOISE DOISE
DOISE DOISE
DOISE e PP
PP
PALMOALMO
ALMOALMO
ALMO--
--
-
NARI. Études des repreésentations.NARI. Études des repreésentations.
NARI. Études des repreésentations.NARI. Études des repreésentations.
NARI. Études des repreésentations. Neuchatel/Paris
. .
. .
. (1998)
Notes Twards a discription of Social Representatios. EuropeanEuropean
EuropeanEuropean
European
Journal of Social PJournal of Social P
Journal of Social PJournal of Social P
Journal of Social Psychologysychology
sychologysychology
sychology, vol. 18 p. 211-250.
OLSON, OLSON,
OLSON, OLSON,
OLSON, Mancur. (1999) A Lógica da Ação Coletiva.A Lógica da Ação Coletiva.
A Lógica da Ação Coletiva.A Lógica da Ação Coletiva.
A Lógica da Ação Coletiva. São Paulo: Edusp [1965].
PRADOPRADO
PRADOPRADO
PRADO,,
,,
, Marco A. M. (1994) A Consciência e a Constr A Consciência e a Constr
A Consciência e a Constr A Consciência e a Constr
A Consciência e a Construção de Vução de V
ução de Vução de V
ução de Valoresalores
aloresalores
alores
Comunitários.Comunitários.
Comunitários.Comunitários.
Comunitários. Um estudo sobre participantes de um mutirão habitacional. Disserta-
ção de Mestrado em Psicologia Social. São Paulo: PUC/SP.
..
..
. (2000) Desrazão:Desrazão:
Desrazão:Desrazão:
Desrazão: Sujeitos da Consciência e Políticas de Identificação.
Mapa teórico acerca do sujeito coletivo e do político na literatura sobre ações coletivas.
Tese de Doutorado em Psicologia Social. São Paulo: PUC/SP.
..
..
. (2001) Psicologia Política e Ações Coletivas. In: RR
RR
Revista Pevista P
evista Pevista P
evista Psicologiasicologia
sicologiasicologia
sicologia
PP
PP
Política 1(1).olítica 1(1).
olítica 1(1).olítica 1(1).
olítica 1(1). São Paulo: SBPP.
SANDOVSANDOV
SANDOVSANDOV
SANDOVALAL
ALAL
AL, Salvador A. M. (1989) A crise Sociológica e a contribuição da Psico-
logia Social ao Estudo dos Movimentos Sociais. Revista Educação e Sociedade;Revista Educação e Sociedade;
Revista Educação e Sociedade;Revista Educação e Sociedade;
Revista Educação e Sociedade;
34;
dez.1989.
Consciência e participação política: uma abordagem psicopolítica
90
INTERAÇÕESINTERAÇÕES
INTERAÇÕESINTERAÇÕES
INTERAÇÕES
VV
VV
Vol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
ol. 6 — Nº 12 — pp. 69-90
JUL/DEZ 2001JUL/DEZ 2001
JUL/DEZ 2001JUL/DEZ 2001
JUL/DEZ 2001
..
..
. (1989) Considerações sobre Aspectos Microssociais na Análise dos Mo-
vimentos Sociais. RR
RR
Revista Pevista P
evista Pevista P
evista Psicologia e Sociedade; sicologia e Sociedade;
sicologia e Sociedade; sicologia e Sociedade;
sicologia e Sociedade; 7;
Set.1989. São Paulo:
ABRAPSO.
..
..
. (1993) Os TOs T
Os TOs T
Os Trabalhadores Páramrabalhadores Páram
rabalhadores Páramrabalhadores Páram
rabalhadores Páram: Greves e Mudanças Sociais no
Brasil, 1945-1990. São Paulo: ÁTICA.
. .
. .
. (1994) Labor Unrest and Social Change in Brazil Since 1945.Labor Unrest and Social Change in Brazil Since 1945.
Labor Unrest and Social Change in Brazil Since 1945.Labor Unrest and Social Change in Brazil Since 1945.
Labor Unrest and Social Change in Brazil Since 1945.
EUA: Westview Press.
..
..
. (1994) Algumas Reflexões sobre Cidadania e Formação de Consciência
Política no Brasil, In: SPINKSPINK
SPINKSPINK
SPINK, Mary Jane (org.) A Cidadania em ConstrA Cidadania em Constr
A Cidadania em ConstrA Cidadania em Constr
A Cidadania em Construção:ução:
ução:ução:
ução:
Uma Reflexão Transdisciplinar. São Paulo: Cortez.
. .
. .
. (1997)
Social Moviments and Democacy in Brazil: patterns of popular
contention and their impact on the process of redemocretization, 1977-1989. WW
WW
Workingorking
orkingorking
orking
PP
PP
Paperaper
aperaper
aper n.º 234; Center for Studies of Social Change. New York: New School for Social
Research.
SASS, Odair. (1992) Crítica da Razão Solitária:Crítica da Razão Solitária:
Crítica da Razão Solitária:Crítica da Razão Solitária:
Crítica da Razão Solitária: a Psicologia Social de George
Herbert Mead. Tese de Doutorado em Psicologia Social. São Paulo: Programa de
Estudos Pós-Graduados em Psicologia Social da PUC/SP.
TT
TT
TAJFELAJFEL
AJFELAJFEL
AJFEL, Henri. (1982) GrGr
GrGr
Grupos Humanos e categorias sociais: upos Humanos e categorias sociais:
upos Humanos e categorias sociais: upos Humanos e categorias sociais:
upos Humanos e categorias sociais: Estudos em
Psicologia Social. Vol. I. Lisboa: Horizontes [London: Cambridge University Press,
1981].
. (1983) Grupos Humanos e categorias sociais: Grupos Humanos e categorias sociais:
Grupos Humanos e categorias sociais: Grupos Humanos e categorias sociais:
Grupos Humanos e categorias sociais: Estudos em Psico-
logia Social. Vol. II. Lisboa: Horizontes [London: Cambridge University Press, 1981].
TOURAINE,TOURAINE,
TOURAINE,TOURAINE,
TOURAINE, Alain. (1966) La consciénce Ouvrière. La consciénce Ouvrière.
La consciénce Ouvrière. La consciénce Ouvrière.
La consciénce Ouvrière. Paris: PUF.
. (1984) LL
LL
Le Rétour de l’acteure Rétour de l’acteur
e Rétour de l’acteure Rétour de l’acteur
e Rétour de l’acteur..
..
. Paris: Fayard.
ALESSANDRO SOALESSANDRO SO
ALESSANDRO SOALESSANDRO SO
ALESSANDRO SOARES DARES D
ARES DARES D
ARES DA SILA SIL
A SILA SIL
A SILVV
VV
VAA
AA
A
e-mail: paisano@osite.com.br
Recebido em: set/01
Aceito em: fev/02
... Os artigos classificados como teóricos foram construídos mobilizando como procedimento metodológico formas sistemáticas e assistemáticas de revisão de literatura (Fraccaroli, Arantes, & Aragusuku, 2018;Silva, 2001;Rosa, 2015). Eles discutem -usando prioritariamente o formato de ensaios teóricosdistintos aspectos da participação dos cidadãos na vida pública. ...
... Eles discutem -usando prioritariamente o formato de ensaios teóricosdistintos aspectos da participação dos cidadãos na vida pública. Predominam nesses estudos discussões sobre os determinantes da consciência política, tais como os textos de Alessandro Silva (2001) e Leandro Rosa (2015). No primeiro, o autor explicita como a Teoria do Self Social, apresentada por George Hebert Mead, está presente na proposta do modelo de Salvador. ...
Article
Full-text available
In 2001, Sandoval Salvador published the Political Consciousness Model (PCM), presenting an operational tool to explore the popular idea of political consciousness. This article investigates how the PCM has been appropriated by psychopolitical research on participation and political consciousness based on the analysis of a corpus of 28 articles published between 2001 and 2021. The results highlight the suitability of the PCM in the analysis of political participation in different contexts, its viability in theoretical and empirical studies, and the possibility of adapting its dimensions to different theoretical frameworks. There is a preferential focus of studies on political actors on the left of the ideological spectrum and a prescriptive inclination in some analyses. We conclude by emphasizing the need to move beyond normative analyses to understand political consciousness in individuals and groups aligned with the far-right.
... Os conselhos municipais são órgãos institucionalmente criados no âmbito do Poder Executivo com o objetivo de formular e fiscalizar determinadas políticas públicas com a participação tanto de representantes governamentais quanto da sociedade civil. São mecanismos de democracia participativa e, enquanto tais, seu funcionamento depende da participação política das pessoas, permeada por elementos das suas subjetividades, particularmente suas consciências políticas (Gohn, 2011;Silva, 2001, 2018ab, Silva & Euzébios Filho, 2021. As relações entre políticas públicas e processos de conscientização são temas destacados desde a abordagem interdisciplinar da Psicologia Política (Silva, 2012(Silva, , 2017. ...
... Utilizamos na pesquisa o referencial teórico do Modelo da Consciência Política de Salvador Sandoval (Sandoval, 2001(Sandoval, , 2015Sandoval & Silva, 2016;Silva, 2001;Silva & Ferreira Jr., 2015, Branco, 2020, composto por sete dimensões: identidade coletiva; crenças, valores e expectativas sobre a sociedade; interesses coletivos; eficácia política; sentimentos com respeito aos adversários; metas e repertórios de ações; e vontade de agir coletivamente. Essas dimensões são utilizadas para analisar as diferentes configurações das consciências políticas das pessoas diante de suas realidades. ...
Article
Full-text available
A Defensoria Pública é instituição responsável por prestar assistência jurídica aos necessitados. Conselhos municipais são órgãos de formulação e fiscalização de políticas públicas com a participação da sociedade civil. Alguns profissionais da Defensoria Pública atuam junto a conselhos. Este trabalho apresenta uma análise das concepções de profissionais da Defensoria Pública com e sem atuação junto a conselhos sobre democracia, seus desafios, e as contribuições desses órgãos. É uma pesquisa qualitativa com entrevistas semiestruturadas e utilização do Modelo de Consciência Política como referencial teórico. Os profissionais consideram a democracia como participação popular e de convivência entre diferentes, com desafios de inclusão e ampliação do conhecimento. Interpretam que a Defensoria Pública contribui com a democracia ao buscar garantir direitos e processos educativos, e os conselhos contribuem como espaços de formulação de políticas públicas e controle social. Essas concepções podem direcionar os profissionais de uma ação política como a atuação junto a conselhos.
... A organização das minorias e das parcelas minorizadas, bem como o diálogo se apresentam como alternativas de resistência e de luta para a superação do controle e da dominação-exploração que marginaliza as sexualidades não heterocisnormativas e a cristalização da cultura. A naturalização da cultura se dá a partir da construção e manipulação de crenças e valores societais (SILVA, 2001), sendo a religião um elemento relevante na produção de uma realidade privada de movimento no pensamento e na ação (DANTAS, 2019). Nessa esteira, a relação entre as crenças sobre a natureza da homossexualidade e a homofobia (no futebol) é permeada por valores religiosos. ...
... Essa constatação reflete o papel dos processos educativos na internalização de crenças e valores e como estes incidem sob a formação da subjetividade. O tempo e a experiência, por sua vez, podem agir como um elemento flexibilizador de traços absolutos que permeiam a lógica cristalizadora das crenças e dos valores societais (SILVA, 2001). ...
Article
Full-text available
Resumo: A homofobia é um instrumental de dominação psicopolítica que priva sujeitos de sua condição humana por meio da injúria e da violação da dignidade. Causa dor e sofrimento, aliena a pessoa da capacidade de agir e de se perceber como capaz de existir em todas as esferas da vida. Em tempos de Copa do Mundo FIFA 2022 no Qatar, emergem muitas questões que atingem sujeitos e instituições no tocante a garantias de direitos e da dignidade humana, sobretudo, em um país que criminaliza com prisão ou mesmo apedrejamento o amor entre iguais. A homofobia mata. Ela tem vitimado pessoas no mundo e a cultura do futebol tem contribuído para essa triste realidade. Esse ensaio tece reflexões sobre como uma instituição da envergadura da FIFA tem pautado essa questão e como as nações que celebram esse megaevento têm encarado o flagelo da homofobia no mundo do futebol. Palavras-chave: Futebol, Dominação, Sexualidade, Direitos Humanos. Abstract: Homophobia is an instrument of psycho-political domination that deprives subjects of their human condition through injury and deprivation-violation of dignity. It causes pain and suffering, it deprives the subject of the ability to act and to perceive himself as capable of existing in all spheres of life. In times of the 2022 FIFA World Cup in Qatar, many questions emerge that affect individuals and institutions with regard to guarantees of rights and human dignity, especially in a country that criminalizes love between equals with imprisonment or even stoning. Homophobia kills. It has victimized people around the world and football culture has contributed to this sad reality. This essay reflects on how an institution as big as FIFA has dealt with this issue and how the nations that celebrate this mega event have faced the scourge of homophobia in the world of football.
... O verbo "saber", por sua vez, nessa situação pode expressar a consciência e a certeza em relação à luta de seu partido. Os dois verbos aparecem conjugados na 1ª pessoa do singular, numa menção a um conhecimento individual, mas adquirido por um sujeito dentro de um campo de ação política (Sandoval, 2001(Sandoval, , 2015Silva, 2001;Silva & Ferreira Jr. 2015;Silva & Euzébios Filho, 2021). ...
Article
Full-text available
Este trabalho tem por objetivo analisar como as escolhas linguísticas (especialmente dos pronomes pessoais e dos verbos em primeira pessoa) da então pré-candidata à presidência da República, Simone Tebet, contribuem para revelar um projeto de dizer (um determinado discurso político) que tanto acentua a ideia de coletividade, quanto serve para propagar uma responsabilidade/compromisso com os eleitores. As escolhas linguísticas revelam um discurso político que empodera Tebet e o seu partido MDB (“eu-Simone” e “nós-partido”) e que divulga uma necessidade de mudança imediata fundamentada no princípio da democracia (“nós = eu e o povo”). O princípio da democracia estabelece a ideia de que o poder político emana do povo e, em vários, momentos, o discurso de Tebet deixa transparecer que o seu governo será democrático, porque demandará uma parceria entre o povo e os interesses de seu partido. Para fundamentar a análise deste trabalho, serão utilizadas, principalmente, as ideias de Charaudeau (2016) sobre a construção do discurso político e como as escolhas linguístico-discursivas são usadas para seduzir e persuadir os cidadãos. A opinião, segundo o autor é um fato de linguagem e o convencimento dos eleitores também se faz pela linguagem. Sendo assim, esta pesquisa, em consonância com as ideias desse linguista, pretende verificar como os políticos exercem poder sobre o público por meio da linguagem.
... É necessário dar-nos conta de que o cotidiano evoca questões que inscreve o sujeito em um processo histórico marcado por sistemas opressores que impactam na visão de mundo, desafiando o sujeito em suas perspectivas de vida (Martín-Baró, 1998;Fernández-Christlieb, 2004;González-Suárez, 2008). Por essa razão, pensão o cotidiano é pensar os processos de conscientização política e seus marcadores sociais, os quais podem significar alcançar a liberdade de elementos opressores presentes na vida (Silva, 2001;Sandoval & Silva, 2016;Silva & Euzébios Filho, 2021). ...
Article
Full-text available
The research aimed to analyze concepts of professional success and failure among young students aged 18 to 25, reflecting how they articulate their learning and work trajectories, future worldviews and the intersection of gender, ethnicity and social class. In a critical dialogue between the authors of Social Psychology and Education, we seek to theoretically reflect on the concepts of professional success and failure in the neoliberal context of the world of work and education and training, and how they contribute to the individuality of social phenomena, the strengthening of liberal meritocracy. With this, we question the psychologist’s contributions to success and failure in the neoliberal world. To analyze the information collected in the semi-structured interviews, the constructive interpretation provided method was chosen. In view of the information provided by the interviewees, the results indicate difficulties in the understanding of the participants regarding the neoliberal socio-historical background as an intermediary for the construction of a life project for the future, a tendency to understand that only through their own efforts is it possible to achieve success, and the exit from the failure condition. But if, on the one hand, some participants claim that successes depend on individual effort, on the other hand, gender and race issues arise as obstacles to equal opportunities in the world of work.
... En esta línea encontramos el Modelo Analítico de Conciencia Política (MacP) (Sandoval, 2001;Silva, 2001Silva, , 2003Silva, y 2006, el cual articula diferentes teorías sociológicas, psicosociales y politológicas para entender los procesos de toma de decisiones en política en el contexto de la participación. Como elementos transversales de estas teorías están las emociones y los sentimientos emocionales (Sandoval, 2015;Sandoval y Silva, 2016). ...
Chapter
Full-text available
La finalidad de las políticas públicas es la promoción de la dignidad hu�mana. Pero, paradójicamente, a menudo se centran en otros elementos que pierden de vista este propósito, y humanizarlas se convierte en un reto, especialmente para quienes las discuten como instrumento de acción pú�blica (Lascoumes y Le Galès, 2007; Saforcada, 2006; Silva, 2012 y 2018). La actuación de los agentes sociales, ya sea desde la sociedad civil o desde el Estado, debe estar comprometida con el tratamiento de las desigualdades y la promoción de condiciones materiales y subjetivas que permitan tanto a los individuos como a los colectivos disfrutar de los recursos que la sociedad produce en beneficio de todos. El uso de estos recursos, mediado por el Estado, debería producir las bases de una sociedad de bienestar, una sociedad en la que sus miembros pudieran acceder a los elementos básicos y mínimos que expresan la calidad de vida: salud, ocio, educación, trabajo, seguridad y vivienda. La cuestión es que en una sociedad marcada por los principios del neoliberalismo este acceso no es igualitario. El principio de justicia social no está en la base de este cálculo. Entre los argumentos que justifican la desigualdad y la inac�ción del Estado –por no decir su más completa omisión– están los límites presupuestarios: bajo el argumento de que es necesario optimizar los gastos, así como gastar mejor los recursos disponibles, a menudo vemos al Estado y a sus agentes asociados de la sociedad civil actuar de forma mezquina y poner en riesgo la vida humana. Ciertamente, no la suya propia, sino la de los demás. Son vidas precarias, cuyas dignidades pueden no ser tan dignas. Desgraciadamente, encontramos numerosos ejemplos en los que el Estado actúa de forma omisiva, por no decir criminal, para cuadrar las cuentas, trasladando el coste de esta acción a los colectivos más vulnerables. En otras palabras, los costes de la riqueza de los más ricos suelen ser pagados por los más pobres, por los que poseen poco o nada. En este texto analizaremos un caso en el que la actuación del Estado chileno está marcada por la omisión y el desprecio a la dignidad humana. Nos referimos al caso de las “casas rotas” de Guañacagua iii en Arica, Región de Arica y Parinacota (AyP).
... A maioria da classe trabalhadora têm a vida reduzida a busca por reproduzir a própria existência, a vida fica restrita a vida cotidiana cujo centro é a própria particularidade, desenvolvendo uma dimensão alienada com a genericidade e mantendo parcas relações com a dimensão não-cotidiana da vida, como ciência e arte (Heller, 1987). Salvador Sandoval dialoga com Agnes Heller e inúmeros outros autores para a formulação do conceito de consciência política (Silva, 2001). A consciência política é um aspecto constitutivo da consciência composta por dimensões sociais e psíquicas entrelaçadas, cuja relevância e papel de cada dimensão podem ser compreendidos mediante a análise individual. ...
Article
The movement to occupy educational institutions in 2016 against the Proposal for Constitutional Amendment 241/55 was a milestone in the country's recent history. In reaction to this movement came the "Desocupa" movement, which despite not being very expressive is a relevant movement to understand the current Brazilian Right. In this research, such movement is interpreted through documentary analysis of their social networks. Psychosocial aspects present in the mobilization of the "Desocupa" movement are apprehended from the categories of Daily Life by Agnes Heller and Political Consciousness of Salvador Sandoval. It identifies the defense of particularity, a symbolic defense of the Self and the presence of everyday consciousness as a central element to the movement, an embryonic political identity, a well-defined collective goal and the belief in the political effectiveness of the movement itself, values, norms, specific expectations to the capitalist mode of production and a defense of political neutrality and plurality, among other issues.
... Political cynicism is related to the belief that there is (or not) coherence between the discourse and practice of political leaders and movements, whether formal or informal (González et al. 2005). Political inefficacy pertains to feelings that a political action will not be effective, with implications for the process of participation and representation of subjects in groups, movements, or entities (Sandoval 1997;Silva 2001). ...
Article
Full-text available
From a psychosocial perspective, this article examines what young university students think about political participation and representation in the current conjuncture in Brazil. Forty-five undergraduate students from a public university (between the ages of 18 and 37 years) participated in the study. The conceptual framework of our analysis is based on political cynicism and political efficacy. Political cynicism is associated with the credibility of leadership, and feelings of political efficacy/inefficacy are related to the trustworthiness of a political movement or entity. Such phenomena portray perceptions about the ability of political actors and movements to achieve desired ends, which, in turn, influences processes of political identification and engagement. Participants’ narratives suggest that the current political moment is characterized by a representation crisis, for an intense reconfiguration of previous references, political representation patterns, and sociopolitical bonds. They also perceive a steady increase in political and economic deregulation. These elements indicate a trend of rising levels of perceived political cynicism and feelings of political inefficacy, even though these phenomena coexist with a certain political engagement and interest of the participants.
Article
Full-text available
This article aims to analyze collective identities of Public Defender´s Office professionals who work with municipal public policy councils in comparison to those who do not. This is a qualitative research, using Content Analysis to process the data and Salvador Sandoval’s Political Consciousness Model as a theoretical framework. Semi-structured interviews were carried out and classified into two groups of eleven professionals each, totaling twenty-two participants: the first, composed of professionals who worked with municipal councils, and the second, of professionals who did not work in this field. Collective identities of public servants and those related to the professional category were identified, with emphasis on the first by the first group of professionals. In both groups, there was no predominant collective identity of activists and little connection with political parties was identified by the professionals, who seek recognition as formal and technical professionals.
Article
Full-text available
The object of this analisys is the current situation, which combines social and economic crisis with acute processes of political polarization. The starting point for this reflection will be historical and dialectical materialism, highlighting the economic dimension as a fundamental element for understanding permanent class interests and conflicts. However, we emphasize the psychopolitical dimension as equally important for thinking about today’s situation. In this sense, we focus on some concepts that directly dialogue with Salvador Sandoval’s model, such as political effectiveness, beliefs and societal values, as well as other concepts, such as political cynicism. We will conclude with a reflection on how these elements operate in the current situation and manifest themselves in indifference and hatred towards democracy, but also in the processes of political resistance and contestation of the order. To conclude, we recall how important it is to be inspired by Sandoval’s open and democratic spirit so that we can achieve a critical reading of reality.
ResearchGate has not been able to resolve any references for this publication.