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Anuário do Instituto de Geociências - UFRJ
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A n u á r i o d o I n s t i t u t o d e G e o c i ê n c i a s - U F R J
ISSN 0101-9759 e-ISSN 1982-3908 - Vol. 43 - 2 / 2020 p. 289-297
Avaliação Multitemporal da Cobertura do Solo da Bacia Hidrográca do Rio Mororó em
Jaru, Rondônia
Multitemporal Evaluation of River Mororó Watershed Soil Coverage in Jaru, Rondônia
Paulo Cézar de Santana1;
Caio Henrique Patrício Pagani2 & Adriano Reis Prazeres Mascarenhas3
1Instituto Técnico de Ensino Prossionalizante 11 ELO, Avenida Guajajaras 380, 65.055-285, São Luís, MA, Brasil
2Universidade Federal de Rondônia, Departamento Acadêmico de Engenharia Ambiental, Rua Rio Amazonas 351, 76.900-726, Ji-Paraná, RO, Brasil
3Universidade Federal de Rondônia, Departamento Acadêmico de Engenharia Florestal,
Avenida Norte Sul 7.300, 76.890-000, Rolim de Moura, RO, Brasil
E-mails: paulosantana.agrimensor@gmail.com, caiopagani@gmail.com, adriano.mascarenhas@unir.br
DOI: http://doi.org/10.11137/2020_2_289_297; Recebido: 14/01/2020 Aceito: 22/04/2020
Resumo
Na Amazônia, com o incentivo de programas de colonização ocorreram danos aos recursos ambientais de forma
extensa e diversa, com destaque aos municípios do estado de Rondônia, onde a BR-364 proporcionou maior inuência
socioambiental. Objetivou-se com o presente trabalho caracterizar a bacia hidrográca do rio Mororó na cidade de Jaru -
RO quanto ao uso e ocupação do solo entre os anos de 1975 e 2018. A bacia hidrográca do rio Mororó, passou por vários
processos de alteração da sua cobertura vegetal desde a década de 1970 início da colonização da região. Essas alterações
promoveram a perda de oresta de 66,94%, acarretando vários problemas de perda da quantidade e qualidade da água,
assoreamento dos rios entre outros. A análise multitemporal de cobertura do solo vericou-se o grande índice de desma-
tamento na região da bacia desde a colonização (1975) até recentemente (2018) e assim reduzindo a qualidade ambiental
dos recursos naturais desse local.
Palavras-chave: Geotecnologias; Desmatamento; Amazônia
Abstract
In the Amazon, with the encouragement of colonization programs there was extensive and diverse damage to
environmental resources, especially the municipalities of the state of Rondônia, where BR-364 provided greater socio-
-environmental inuence. The objective of the present work was to characterize the Mororó river basin in the city of Jaru
- RO in terms of land use and occupation from 1975 to 2018. The Mororó river watershed underwent several alteration
processes vegetation cover since the 1970s early colonization of the region. These changes led to a loss of 66.94% forest,
causing several problems of loss of water quantity and quality, siltation of the rivers among others. The multitemporal
analysis of land cover veried the great rate of deforestation in the basin region since colonization (1975) until recently
(2018) and thus reducing the environmental quality of the natural resources of this location.
Keywords: Geotechnologies; Deforestation; Amazon
Avaliação Multitemporal da Cobertura do Solo da Bacia Hidrográca do Rio Mororó em Jaru, Rondônia
Paulo Cézar de Santana; Caio Henrique Patrício Pagani & Adriano Reis Prazeres Mascarenhas
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1 Introdução
Com 5.217.423 km² a Amazônia Legal
corresponde a cerca de 61% do território brasileiro,
abrangendo os estados: Acre, Amapá, Amazonas,
Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins e parcialmente
os estados de Mato Grosso e Maranhão (Brasil,
1966).
Em relação ao estado de Rondônia, sua área
compreende 4,55 % da Amazônia legal e tem como
atividade econômica principal, desde sua criação
em janeiro de 1982 (Brasil, 1981), a pecuária.
Esse aspecto é preponderante para o entendimento
das alterações socioambientais na região, pois
desde a colonização do estado, ocorreu intenso
desmatamento que ocasionou perda de 66% de sua
cobertura orestal (INPE, 2018a).
Essas ações foram fomentadas com os
projetos de colonização: “Pólos Agropecuários e
Minerais da Amazônia - POLOAMAZÔNIA” e
“Programa de Desenvolvimento Integrado para o
Noroeste do Brasil - POLONOROESTE”, que tinham
por objetivo aproveitar o potencial agropecuário,
orestal e mineral desta porção territorial. Além
disso, geralmente não contemplavam o ordenamento
racional de uso e ocupação do solo e incentivavam
a construção de estradas, como a Rodovia
Federal Marechal Cândido Rondon (BR-364), e,
consequentemente, a proliferação de cidades na
Amazônia, impulsionando ainda mais alteração da
paisagem (Nascimento, 2010).
Os impactos ocasionados com a colonização
de Rondônia estão relacionados a destruição de
orestas e áreas protegidas, contaminação do lençol
freático, epidemias e doenças provocadas por excesso
de umidade e esgotos que correm a céu aberto.
Sendo que, dentre os municípios de Rondônia, em
Jaru encontram-se a maioria desses problemas, pois
o local de instalação da cidade é coberto por micro
bacias que abastecem os rios Mororó e Jaru, um dos
principais auentes do rio Machado, que é o rio mais
extenso do Estado (Stachiw, 2017).
Devido a extensão e diversidade dos danos
nas bacias hidrográca de Rondônia a caracterização
do ambiente é dicultada, pois o custo nanceiro é
elevado e inviabiliza a implementação de ações de
recuperação. Diante disso, o uso das geotecnologias
torna-se alternativa viável, tendo em vista que
possibilitam entender as condições gerais da dinâmica
da paisagem com a elaboração de prognósticos e
interpretações por meio da coleta, processamento,
análise e oferta de informações georreferenciadas
(Peruzzo et al., 2019).
Sendo assim, objetivou-se com o presente
trabalho caracterizar a bacia hidrográca do rio
Mororó na cidade de Jaru - RO quanto ao uso e
ocupação do solo entre os anos de 1975 e 2018.
2 Material e métodos
2.1 Caracterização da região de estudo
O objeto de estudo foi bacia do rio Mororó
localizada na bacia do rio Jaru, município de
Jaru-RO, situado no quadrante das coordenadas
geográcas entre as latitudes 10°25’37”S e
10°23’47”S, longitudes 62°31’51”O e 62°27’22”O,
na porção ao sudoeste de Rondônia a 300 km da
capital Porto Velho (Figura 1).
Figura 1 Mapa de localização da bacia hidrográca do rio Mororó em Jaru, Rondônia, Brasil.
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O clima da região de estudo enquadra-se no
tipo Am (tropical úmido ou subúmido), conforme o
método de classicação de Köppen-Geiger (Alvares
et al., 2013), com temperatura média anual de 24 °C
a 26 °C e pluviosidade média anual entre 2000mm
a 2100mm (Rondônia, 1999), sendo que a estação
seca ocorre entre os meses de maio a setembro.
2.2 Coleta, compilação e processamento de dados
As bases cartográcas utilizadas para realizar
o estudo consiste em: base cartográca geológica
do estado de Rondônia na escala de 1:1.000.000
contendo os limites das bacias e sub-bacias
hidrográcas, (CPRM, 2018); base cartográca
do estado de Rondônia na escala de 1:1.000.000
contendo os limites estatuais, limites municipais e as
rodovias (IBGE, 2016); Modelo Digital de Elevação
- MDE do satélite Advanced Land Observing
Satellite - ALOS com o sensor Phased Array type
L-band Synthetic Aperture Radar - PALSAR, com
resolução espacial de 12,5 metros, data da passagem
em 19 de fevereiro de 2011, órbita: 83 e ponto: 6970;
imagens do satélite Land Remote Sensing Satellite
- Landsat, conforme indicado na Tabela 1 (INPE
1975, 1980, 1985, 1990, 1995, 2000, 2005, 2010,
2015, 2018b)
Satélite Sensor Data do Imageamento Rota/Cena Resolução Espacial
Landsat-2 MSS 24/07/1975 231/67 80 metros
Landsat-3 MSS 18/06/1980 231/67 80 metros
Landsat-5 TM 22/07/1985 231/67 30 metros
Landsat-5 TM 18/06/1990 231/67 30 metros
Landsat-5 TM 31/05/1995 231/67 30 metros
Landsat-5 TM 15/07/2000 231/67 30 metros
Landsat-5 TM 11/06/2005 231/67 30 metros
Landsat-5 TM 25/06/2010 231/67 30 metros
Landsat-8 OLI/TIRS 23/06/2015 231/67 15 metros
Landsat-8 OLI/TIRS 27/07/2018 231/67 15 metros
Tabela 1 Características das imagens utilizadas para análise multitemporal da bacia hidrográca do rio Mororó em Jaru, Rondônia, Brasil.
Os procedimentos de tratamento de
informações e elaboração dos mapas foram
realizados no software SIG ArcGIS Desktop versão
10.6.1 do ano de 2018, com licença estudantil sobre
o número de registro EVA346750770 (ESRI, 2018).
A delimitação da bacia hidrográca do rio
Mororó foi realizada a partir da metodologia de
Pagani & Mascarenhas (2018), no qual realizou-se
o processamento do MDE em quatro etapas, sendo
elas: preenchimento de falhas do MDE; direção de
uxo, uxo acumulado e delimitação de bacia. Este
procedimento foi realizado no ArcMap, por meio da
seleção das ferramentas disponíveis no ArcToolbox
- Hydrology, conforme a Figura 2.
Figura 2 Rotina de algoritmos aplicados para delimitação de bacias hidrográcas a partir do MDE do rio Mororó em Jaru, Rondônia, Brasil.
O primeiro procedimento foi a composição
colorida das imagens por meio do software ArcGIS
10.6.1 com o uso da ferramenta Composite Bands
disponível no ArcToolbox do ArcMap. A composição
dessas imagens seguiu as seguintes conformações
coloridas RGB (5-4-6) para imagem Landsat-2,
RGB (5-7-4) para imagem Landsat-3, RGB (5-4-3)
para imagem Landsat-5, e RGB (4-3-2) para imagem
Landsat-8, este modelo de composição mostra os
limites entre solo, água e oresta por suas tonalidades
de magenta, verde e azul, respectivamente (Pagani,
2017) conforme a Figura 3.
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Figura 3 Esquema da composição de bandas espectrais e delimitação das feições solo, água e oresta com base na tonalidade da
imagem.
O segundo procedimento foi a realização
da reprojeção das imagens que se encontravam no
Datum World Geodedic System 1984 (WGS 84)
projeção Universal Transversa de Mercator (UTM)
da zona 20 Sul para o Datum Sistema de Referência
Geocêntrico para as Américas 2000 (SIRGAS
2000) projeção Geographic Coordinate Systems
(GCS) por intermédio da ferramenta Project Raster
disponível no ArcToolbox do ArcMap (Pagani &
Maniesi, 2018).
Na sequência realizou-se a identicação
de duas classes cobertura do solo de acordo com
a classicação do IBGE (2013), são elas: classe
Área Antropizada (áreas onde a cobertura vegetal
foi retirada em sua totalidade, áreas cobertas por
gramíneas nativas ou plantadas, áreas urbanizadas,
áreas em processo de urbanização incipiente) e
classe Floresta (fragmentos orestais, matas ciliares
e formação arbustiva) (Pagani & Mascarenhas,
2018).
Ainda nesta sequência, calculou-se os índices
percentuais das classes por meio da ferramenta
Calculate Geometry disponível no Attribute Table
do ArcMap, obtendo-se dados percentuais das
classes de uso do solo.
3 Resultados e Discussão
A bacia hidrográca do rio Mororó possui
área de 30,7963 km² (3.079,6345 ha) e perímetro de
53,4113 km² (53.411,3594 m²), com um total de 56
nascentes e 57 cursos de água.
Essas características podem ser explicadas
a partir das feições do relevo da cidade, que se
caracteriza por apresentar unidades denudacionais,
associadas a um intenso processo erosivo e
agrupamentos de morros e colinas que contribuem
para concentração do escoamento de água para a
regiões de recarga da bacia do Rio Jaru (CPRM,
2017).
Além disso, ocorrem planícies aluviais e
depressões, desenvolvidas ao longo das drenagens e
de suas planícies de inundação na rede de drenagem
regional, as quais contribuem para formação de
pequenos pântanos ao longo do rio Mororó (CPRM,
2017).
A seguir, na Figura 4, observa-se que a
redução mais acentuada da vegetação ocorreu entre
1975 e 1985, que compreende os primeiros anos de
colonização do município de Jaru. Na sequência, a
partir de 1990, redução da vegetação foi contínua
culminando em 66,94% de área antropizada em
2018. No entanto, entre 1990 e 2018 a redução da
cobertura orestal foi mais distribuída com taxa de
desmatamento na ordem de 2,7 % ano-1, enquanto
que entre 1975 e 1985 a taxa foi de 8,5 % ano-1.
Figura 4 Classes de uso e ocupação do solo entre os anos de
1975 a 2018 da bacia hidrográca do rio Mororó em Jaru,
Rondônia, Brasil.
Esses resultados têm correlação com a
construção da infraestrutura no entorno da cidade de
Jaru, como pode ser observado nas Figuras 5 e 6, nas
quais nota-se que o processo de desmatamento foi
concentrado às margens da BR-364.
Destaca-se também que a partir de 1985 a
supressão de áreas de preservação permanente,
principalmente matas ciliares, foi mais intensa. Isso
associado às características do relevo da região de
Jaru mencionadas anteriormente, potencializaram
erosões de grande intensidade e deslocamento de
partículas de solo ocasionado o assoreamento dos
corpos de água.
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Figura 5 Uso e ocupação do solo nos anos 1975 e 1980 da bacia hidrográca do rio Mororó em Jaru, Rondônia, Brasil.
Figura 6 Uso e ocupação do solo nos anos 1985 e 1990 da bacia hidrográca do rio Mororó em Jaru, Rondônia, Brasil.
Os estudos de Neto & Nogueira (2017),
auxiliam na compreensão desses aspectos, pois os
autores mencionam que a pavimentação das rodovias
BR-319, BR-317 e BR-364 propiciou alterações
substanciais no espaço geográco, tendo Rondônia
como o principal eixo rodoviário da Amazônia
ocidental e alterou profundamente os deslocamentos
populacionais.
Além disso, como grande parte da bacia
do rio Mororó abrange propriedades rurais, os
desmatamentos para formação de pastagens também
foram signicativos. De acordo com Trubiliano &
São Paulo (2016), foram destinados para os projetos
de colonização uma faixa de 100 quilômetros de
terras de cada lado da BR-364, já que a rodovia
facilitava a entrada dos migrantes em terras
rondonienses e nesse espaço, foram distribuídos
lotes de 50 até 100 hectares.
A distribuição dessas áreas foi coordenada
por meio de projetos de assentamentos fundiários
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realizados pelo Instituto Nacional de Colonização
e Reforma Agrária - INCRA (Nascimento, 2010),
a partir da década de 1970, para implementação da
agropecuária, com foco pecuária de corte e de leite.
Outro ponto a se destacar, nas Figuras 7 e 8 é o
padrão característico de desmatamento em Rondônia
conhecido como “espinha de peixe” (Moura et
al., 2017), que geralmente está associado áreas de
projeto de assentamento rural do INCRA; pequenos
e médios estabelecimentos rurais; atividades
econômicas: agricultura familiar e pequena pecuária
e estágio intermediário de ocupação do solo (Saito
et al., 2011).
Figura 7 Uso e ocupação do solo nos anos 1995 e 2000 da bacia hidrográca do rio Mororó em Jaru, Rondônia, Brasil.
Figura 8 Uso e ocupação do solo nos anos 2005 e 2010 da bacia hidrográca do rio Mororó em Jaru, Rondônia, Brasil.
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Outro fator associado a intensa supressão
vegetal, é o fato da Amazônia Legal ter cerca
de 62,2% da ocupação das áreas desorestadas
localizam-se na região denominada “arco do
desmatamento”, onde se encontram diferentes tipos
de área antropizada nas quais a cobertura vegetal
foi retirada totalmente, áreas cobertas por gramíneas
nativas ou plantadas, áreas urbanizadas, áreas em
processo de urbanização incipiente, conforme pode
ser visto na Figura 9 no ano de 2018.
Logo, na região da bacia hidrográca do rio
Mororó o mesmo modelo de desenvolvimento de
antropização pode ser notado, vericando-se dessa
forma, um acelerado progresso da fronteira agrícola
sobre as orestas e a conversão destas em áreas de
agropecuária.
Confrontando os dados do Cadastro Ambiental
Rural - CAR (Brasil, 2018), vericou-se que 49,97%
( 1539,04 ha) da área total da bacia do rio Mororó
está declarada, sendo que existem apenas 3,30%
(101,55 ha) de área de Reserva Legal - RL e 5,35%
(164,77 ha) de Área de Preservação Permanente -
APP, que juntas somam 8,65% (266,32 ha) de áreas
a serem mantidas com orestas de acordo com o
Código Florestal Brasileiro - CFB (Brasil, 2012), no
entanto só 6,88% (211,99 ha) correspondem a áreas
com orestas totalmente preservadas.
Figura 9 Uso e ocupação do solo nos anos 2015 e 2018 da bacia hidrográca do rio Mororó em Jaru, Rondônia, Brasil.
Por outro lado, vale ressaltar que a bacia do
rio Mororó também apresenta uma área urbanizada
onde se localiza a porção urbana da cidade de Jaru,
essa área é de 23,89 % (735,86 ha), da área total da
bacia com 2,20% (67,90 ha) de APP delimitada de
acordo com o CFB, mas com esse estudo foi possível
diagnosticar que somente 1,50% (46,33 ha) estão
realmente com oresta preservada.
Deste modo, a supressão desordenada da
oresta nativa é preocupante, pois essa cobertura
orestal é responsável pelo uxo gênico do
ecossistema da região (Pagani, 2017), regulando
temperatura e umidade, recarga dos aquíferos
livres e connados também contribuindo para
a probabilidade de inundações, erosão do solo,
assoreamento dos cursos de água e redução da
quantidade e da qualidade de água da região.
4 Conclusão
O uso das geotecnologias apresentou-se como
eciente ferramenta para realizar a delimitação da
bacia do rio Mororó e análise multitemporal de
cobertura do solo.
Com a análise multitemporal de cobertura do
solo vericou-se o grande índice de desmatamento
na região da bacia desde a colonização (1975) até
recentemente (2018) e assim reduzindo a qualidade
ambiental dos recursos naturais desse local.
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