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Motivações e desafios para a implementação da gestão integrada de recursos hídricos em federações: os casos brasileiro e suíço

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O conceito de gestão integrada de recursos hídricos (GIRH) é internacionalmente considerado como sendo a forma mais sustentável de gerir os recursos hídricos. Visando sua implementação, governos internacionais modificam seu quadro legal e institucional para aumentar a participação local e implementar ferramentas de gestão de águas no perímetro da bacia hidrográfica. Tais mudanças podem representar alguns desafios para federações, pois a divisão de poderes entre os níveis nacional e subnacional é complexa. Este artigo discute motivações e particularidades para a implementação da GIRH em federações e revela que há menos interesse em um modelo de GIRH de forma sistemática no país quando os governos subnacionais possuem forte autonomia, estabilidade política e econômica (como a Suíça) em comparação a federações mais centralizadas (como o Brasil).
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ISSN 2359-1919 (Online)
ARTIGO CIENTÍFICO
Recebido: Março 18, 2020 - Revisado: Maio 09, 2020 - Aceito: Maio 30, 2020
Este é um artigo public ado em acesso aberto (Open Access) sob a licença Creative Commons Attributio n, que permite uso, distribuição e reprodução em
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REGA, v. 17, e6, 2020 | https://dx.doi.org/10.21168/rega.v17e6 1/12
Motivações e desafios para a
implementação da gestão integrada de
recursos hídricos em federações: os
casos brasileiro e suíço
Motivations and challenges to implement integrated water
resources management in federations: Brazilian and Swiss
cases
Graziele Muniz Miranda1
1Instituto Federal de São Paulo, Boituva, SP, Brasil. E-mail: gmunizmiranda@gmail.com
Como citar: Miranda, G. M. (2020). Motivações e desafios para a implementação da gestão integrada de recursos hídricos em federações:
os casos brasileiro e suíço. Revista de Gestão de Água da América Latina, 17, e6. https://doi.org/10.21168/rega.v17e6
RESUMO: O conceito de gestão integrada de recursos hídricos (GIRH) é internacionalmente considerado a forma mais
sustentável de gerir os recursos hídricos. Visando sua implementação, governos internacionais modificam seu quadro
legal e institucional para aumentar a participação local e implementar ferramentas de gestão de águas no perímetro
da bacia hidrográfica. Tais mudanças podem representar alguns desafios para federações, pois a divisão de poderes entre
os níveis nacional e subnacional é complexa. Este artigo possui o objetivo de discutir o desenvolvimento do modelo de
GIRH divulgado internacionalmente em federações, analisando dois casos diferenciados de países federais: Brasil e Suíça.
Por meio de pesquisa bibliográfica, busca-se enfatizar as diferenças entre tais federações e relacioná-las com as
características de seus sistemas de gestão de recursos hídricos. O estudo revela que há menos interesse em um modelo
de GIRH de forma sistemática no país quando os governos subnacionais possuem forte autonomia, estabilidade
política e econômica (como a Suíça) em comparação a federações mais centralizadas (como o Brasil).
Palavras-chave: Federalismo; Integração; Bacia Hidrográfica; Participação.
ABSTRACT: The concept of integrated water resources management (IWRM) is internationally considered as the most
sustainable way to manage water. Thus, international governments have modified their legal and institutional
framework to enhance local participation and implement water management tools in the watershed perimeter. Those
changes can represent some challenges in federations since the sharing of power between national and subnational
levels is very complex. This paper aims to discuss the development of the IWRM model spread internationally in
federations, analyzing two different federal countries: Brazil and Switzerland. Through bibliographic research, we
emphasize the differences between such federations and their water resources management models. The study
reveals that there is less interest in a systematic model of IWRM when subnational levels have strong autonomy,
economic and political stability (as the Swiss case), unlike more centralized federations (as the Brazilian case).
Keywords: Federalism; Integration; Watershed; Participation.
INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, a comunidade internacional tem percebido que os problemas hídricos
envolvem dimensões e setores múltiplos, compreendendo igualmente uma diversidade de interesses,
agendas e causas (Biswas, 2004). Tal complexidade evidencia as limitações de uma gestão setorial e
centralizada (Global Water Partnership, 2000; Remon, 2018) e requer uma coordenação incluindo os
múltiplos atores durante o processo de tomada de decisões.
Nesse sentido, o conceito de gestão integrada de recursos hídricos (GIRH) surge para promover
o desenvolvimento coordenado e a gestão das águas, solos e recursos relacionados para maximizar o
bem-estar econômico e social sem comprometer a sustentabilidade dos ecossistemas vitais (Global
Water Partnership, 2000). Desde a década de 1990, a GIRH vem sendo divulgada mundialmente por
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inúmeras instituições internacionais, especialmente a Associação Mundial pela Água (Global Water
PartnershipGWP) e o Banco Mundial. Tal conceito está vinculado a alguns princípios gerais durante
a gestão de águas: bacia hidrográfica como unidade territorial, participação dos atores, mecanismos
de financiamento, monitoramento e sistema de banco de dados; todos eles previstos em legislação
específica e executados por instituições de bacias (Global Water Partnership, 2000; Milano et al., 2018;
Miranda; 2017).
Desde então, legislações nacionais e estruturas institucionais têm sido modificadas para adotar o
conceito. Em alguns países unitários, como a França, instituições de bacia foram criadas no país todo.
Entretanto, em federações, a criação de instituições de bacia representa uma estrutura de gestão
adicional as já existentes. Isso ocorre pelo fato de haver divisão de poderes nas federações e relativa
autonomia entre os níveis nacional e subnacional de acordo com uma constituição federal.
Em federações descentralizadas, como é o caso da Suíça, o processo de tomada de decisões tende a ser
mais complexo porque cada nível subnacional possui forte autonomia para decidir e executar políticas
públicas. Assim, os exemplos de gestão de águas são mormente heterogêneos em tais países.
Em federações mais centralizadas, há uma modesta devolução de poder aos governos subnacionais e,
dessa forma, podem se assemelhar a países unitários.
Apenas recentemente pesquisadores têm mostrado interesse pela relação entre o federalismo e
a questão hídrica. Garrick & O’Donnell (2018) compararam mercados de água associados a reformas
institucionais em federações; De Stefano & Garrick (2018) e Empinotti et al. (2018) estudaram os
desafios envolvendo a governança de águas em alguns países federais. Entretanto, nenhum deles focou
nas motivações e desafios durante a implementação do conceito de GIRH em países federais.
Pelo fato de existirem diferentes tipos de federalismos, o desenvolvimento da gestão integrada
de recursos hídricos em federações é igualmente diverso. Por isso é importante compreender por que
a institucionalização de um modelo internacional de GIRH pode ser desejado por algumas federações
e, por outro lado, ser menos esperado em outras. Desse modo, este artigo propõe, por meio de pesquisa
bibliográfica, discutir o desenvolvimento do modelo de GIRH em federações. A primeira parte
apresenta uma visão geral de sua aplicação em federações da Europa e América. A segunda parte
descreve a evolução da GIRH no Brasil, durante o período de redemocratização do país. Em seguida,
ilustra-se a relação entre o tipo de federalismo suíço e sua diversidade de modelos de gestão de águas.
Por fim, discute-se os principais fatores que influenciam o desenvolvimento da GIRH e sua
implementação em países federais.
FEDERALISMO E GESTÃO INTEGRADA DE RECURSOS HÍDRICOS
Federalismo abrange a compreensão da diversidade na unidade (Croisat, 2010), ainda que nem
todos os países diversos sejam federais e nem todas as federações sejam diversas (Soares & Machado,
2018). Mesmo que uma definição universal de federalismo não exista, autores concordam que países
federais possuem particularidades e princípios fundamentais (Croisat, 2010; Bizberg, 2015; Saint-
Ouen, 2005; Riker, 2017). Tais princípios estão relacionados à existência de níveis subnacionais, uma
constituição federal que reconheça determinados poderes legais e fiscais, relativa autonomia e divisão
de poderes durante o processo de tomada de decisões. Além disso, pode existir um organismo ou
procedimento legal para gerir conflitos entre os níveis nacional e subnacional.
Países federais podem ser formados a partir de um processo de descentralização de
competências dos níveis subnacionais com a divisão de um governo unitário, como o Brasil depois do
período monárquico, ou por um processo de centralização de competências com a aliança de governos
independentes, como a Suíça. Desse modo, pode-se compreender que o nível de descentralização das
federações varia de acordo com a transferência de poderes para os níveis subnacionais em relação a
competências legais, jurídicas, regras fiscais e implementação de políticas públicas.
Alguns autores fazem distinção entre federalismo dual descentralizado, cooperativo
descentralizado e centralizado (Briant & Briant, 2009; Liziero & Carvalho, 2018; Trein & Braun, 2016).
No primeiro caso, há uma clara separação de competências entre os níveis nacional e as entidades
constituintes (governos subnacionais), como por exemplo os Estados Unidos. O segundo indica que há
uma cooperação entre os níveis governamentais em diferentes áreas, como a Suíça e a Alemanha.
Nas federações descentralizadas ocorre uma forte transferência de autoridade e responsabilidade do
governo federal para os governos subnacionais. Por outro lado, em federações mais centralizadas
(como a Venezuela), o governo nacional controla a maioria dos assuntos relacionados às regras fiscais
e políticas públicas (às vezes igualmente assuntos legislativos) (Figura 1).
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Figura 1: Principais tipos de federalismos existentes.
Fonte: Autor.
Com o passar do tempo, federações podem evoluir linearmente para uma maior centralização ou
descentralização. Entretanto, em alguns casos este processo pode não ser linear de acordo com
instabilidades políticas e econômicas durante o processo histórico. Para alguns autores (Bizberg,
2015; Posner, 2014; Robertson, 2018), federalismo existe apenas em democracias estáveis, pois há
mecanismos para garantir uma não total centralização.
O federalismo latino americano, representado pela Argentina, Brasil, México e Venezuela,
apresenta um caso interessante de não-linearidade. Todos esses países passaram por governos
autoritários no passado recente ou atualmente (como a Venezuela). Assim, o fortalecimento do
federalismo latino americano está fortemente ligado ao aumento da democracia (Bizberg, 2015).
Em outras palavras, o período pós-ditadura em tais países relaciona-se ao desejo de participação
pública e descentralização dos poderes em diferentes setores, incluindo a gestão de águas, bem como
uma desconfiança em relação aos governos centrais (Trillo, 2015). Em alguns casos, a privatização do
sistema de água e esgoto ocorreu sob o pretexto de descentralização, especialmente no caso mexicano
(Espinosa, 2015).
Ao mesmo tempo que antigas ditaduras foram dissolvidas na América Latina, o conceito de gestão
integrada de recursos hídricos (GIRH) emerge internacionalmente como a forma mais sustentável de
gerir os múltiplos usos da água (integração horizontal) e os níveis institucionais (integração vertical)
(Reynard, 2000). Apesar das experiências de gestão de águas envolvendo múltiplos setores por bacia
hidrográfica existir desde ao menos 100 anos (White, 1998), sua aplicação atual possui características
normativas de acordo com relatórios internacionais (Global Water Partnership, 2005; World Bank,
2000). Além disso, evoca o estabelecimento de instituições no perímetro da bacia hidrográfica, a
descentralização e a participação de múltiplos atores durante o processo de tomada de decisões.
Existiram alguns casos relativamente antigos de gestão por bacia hidrográfica na América Latina,
como o chileno, em 1952, e o mexicano, em 1946 (Miranda, 2017), objetivando sobretudo o
desenvolvimento energético. Mas desde a década de 1990, o cenário pós-ditatorial no continente
representou um terreno fértil para mudanças legais e institucionais para adotar o conceito normativo
internacional de GIRH. Desde então, todos os países federais (e a maioria dos unitários) da região
criaram instituições de bacia e agências nacionais de água. Porém, o modelo internacional
estabelecido na região não seguiu práticas homogêneas. Existem variações na implementação do
sistema de gestão de águas de acordo com a dominialidade das águas e a divisão de competências.
Na Venezuela e no México, federações muito centralizadas, o governo federal é o responsável pelo
setor hídrico e em ambos os casos a autoridade nacional decide os limites geográficos para a criação
de organismos de bacia no país todo (Organisation for Economic Co-operation and Development,
2012; Villada-Canela et al., 2019).
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No caso argentino, o governo federal tentou, sem sucesso, instituir a criação de organismos de
bacia de acordo com a lei sobre o regime de gestão de águas n°25688/2002 segundo os interesses do
Banco Mundial (World Bank, 2000). Tal lei sofreu duras críticas por parte das províncias por se tratar
de uma política centralizadora, que não considera que as províncias possuem competência sobre seus
recursos hídricos (Organisation for Economic Co-operation and Development, 2019; Rovere, 2006).
As jurisdições no setor de gestão de águas mantêm-se nos níveis subnacionais (províncias) e
organismos interprovinciais são criados desde a década de 1960 apenas com propósitos específicos,
como obras hidráulicas. O poder de tomada de decisões e planejamento permanece assim em mãos
das províncias, pois a dominialidade das águas pertence a elas. O governo federal não possui poder de
arbitragem, mas age como facilitador técnico ou financeiro (Cenicacelaya, 2014).
Em relação às federações europeias, apesar do seu relativo pequeno tamanho, estas apresentam
características multilinguísticas, variedade nos sistemas políticos e casos ainda mais heterogêneos de
governança de águas, como pode ser visto por exemplo na Alemanha, Bélgica, Suíça e Espanha1. Existe
uma fraca influência do modelo internacional de GIRH em tais países. Porém, com a Diretiva Quadro
da Água (Diretiva 2000/60/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 23 de outubro de 2000),
existem esforços para uma padronização da gestão de águas.
O primeiro exemplo de gestão de águas por bacia hidrográfica é encontrado na Alemanha com a
criação de duas instituições (Ruhrverband e Ruhrtalsperrenverein) responsáveis pela gestão de águas
da bacia do Ruhr, já em 1913 (Petry & Dombrowsky, 2007). Tais instituições buscavam unir os atores
(usuários, comunidades locais e companhias) para realizar uma gestão participativa para discutir
políticas de água e aplicar instrumentos econômicos por meio da contribuição financeira dos membros
para financiar investimentos na bacia. Tal modelo foi inovador para a época e influenciou
posteriormente experiências internacionais, como a francesa (Barraque, 2007) e a brasileira.
Atualmente, na Alemanha a gestão de águas é decidida de forma bastante pragmática pelos Länder
(governo subnacional) e não existe interesse em implementar instituições de bacias de forma
sistemática por todo o país, como foi o caso na França e no Brasil (Laigneau et al., 2018).
A Espanha apresenta igualmente uma antiga experiência em gestão por bacia de acordo com
decretos reais referentes à criação de confederações hidrográficas (confederaciones sindicales
hidrográficas). Tais organismos autônomos de direito público foram criados durante um governo
centralizador, visando a descentralização de políticas de água por bacia (Buchs, 2010), mas com uma
visão setorial de gestão de águas (energia hidráulica). Sua criação não foi sistemática por todo o país,
ocorrendo primeiro em regiões onde a falta de água é mais flagrante: Ebro, em 1926, Segura em 1926,
Duero em 1927, Guadalquivir em 1927, Júcar em 1934, Guadiana e Tajo, em 1953 (Miranda, 2017);
enquanto no norte, mais montanhoso e úmido, confederações começaram a ser criadas em 1961. Com
a adoção da lei atual de águas 29/1985 no período democrático pós-ditadura, o Estado e as
confederações passam a gerir conjuntamente as bacias que vão além dos limites das comunidades
autônomas (governo subnacional) espanholas (bacias intercomunais). Nos casos em que as bacias se
restringem apenas a uma comunidade autônoma (bacias intracomunais), o poder é mantido em tais
comunidades autônomas. Entretanto, a integração das competências é bastante complexa e motiva
tensões e conflitos entre a administração central e as comunidades autônomas (Palacios, 2012).
A Bélgica mudou igualmente de um governo unitário, em que o governo nacional controlava três
companhias de água e esgoto baseadas no território de bacias hidrográficas, para um sistema federal.
A gestão de águas passou a ser fragmentada e diferenciada em três governos regionais (Visscher &
Laborderie, 2013), que possuem grande liberdade para legislar e decidir sobre políticas de águas
(exceto sobre águas marítimas). Além disso, não existe lei nacional sobre águas, apenas leis regionais,
evidenciando a forte autonomia e heterogeneidade de modelos de gestão de águas no país.
Estados Unidos e Canadá possuem experiências antigas de gestão de águas. Em âmbito
transfronteiriço, a cooperação entre ambos data de 1909 (Pearse & Quinn, 2013). Nos Estados Unidos,
um organismo de gestão por bacia hidrográfica passou a existir em 1917, mas antes disso, em 1907,
uma comissão formada pelo governo considerou a região do Mississipi e Grandes lagos para estudar
vias navegáveis interiores para o sistema de transporte. Desde 1933 uma abordagem integrada de
bacia é desenvolvida a partir do exemplo da Agência do Vale do Tennessee (Tennessee Valle Authority
- TVA). Assim como o exemplo alemão, o modelo pioneiro de gestão integrada de recursos hídricos nos
Estados Unidos influenciou inúmeros casos internacionais, ainda que os Estados Unidos não tenham
adotado o exemplo da TVA no país todo até a atualidade (Sandoval-Solis, 2019). Pelo contrário, os
1 De acordo com as características do Sistema Político Espanhol, autores citam o país como um federalismo imperfeito (Moreno, 1997),
federalismo incompleto (Grau, 2000) ou governo unitário ultra-federal (Bieusses, 2008).
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estados do país possuem exemplos bastante diversificados de gestão de águas e não seguem um
modelo único de GIRH.
No Canadá, o primeiro exemplo de gestão integrada de recursos hídricos por bacia hidrográfica
data de 1940 na província de Ontário, e assim como no país vizinho, tal exemplo não foi adotado
sistematicamente no país (Schrubsole et al., 2016). Em ambos os casos o governo federal possui um
papel de incentivador da abordagem integrada, pois estados (nos Estados Unidos) e províncias
(no Canadá) possuem exclusividade na maior parte das competências relacionadas à gestão de águas
no país. Assim, os modelos de gestão de águas são muito numerosos e variam de acordo com cada
realidade.
Desse modo, os primeiros exemplos de gestão de águas compreendendo múltiplos usos por bacia
hidrográfica em países federais (Alemanha, Estados Unidos e Canadá), na primeira metade do século
passado, não foi acompanhada por sua sistematização nesses mesmos países. Nesses casos, os motivos
foram principalmente o desenvolvimento de uma região específica, uma melhor distribuição dos
recursos hídricos ou o financiamento para projetos de recuperação e/ou obras de engenharia.
OS EXEMPLOS BRASILEIRO E SUÍÇO DE GESTÃO DE ÁGUAS
Ainda que o Brasil e a Suíça possuam algumas similaridades referentes a características
multiculturais e relativa abundância de águas, trata-se de países muito diferentes de acordo com as
características do federalismo (forte autonomia dos governos regionais e locais na Suíça e maior
centralidade no Brasil), tamanho (a Suíça representa aproximadamente 0,5% do tamanho do Brasil) e
igualdade social (o coeficiente de Gini brasileiro era 53.3 contra 32.3 da Suíça em 2017) (World Bank,
2019).
O Quadro 1 resume as principais características e diferenças relacionadas à gestão de águas no
Brasil e na Suíça.
Quadro 1: Características da gestão de recursos hídricos no Brasil e na Suíça.
Critérios
Brasil
Suíça
Sistema de governo
Federal.
Federal.
Características regionais
Heterogeneidade em âmbito
econômico, demográfico, cultural
e ambiental.
Diversidade multilinguística.
GIRH na lei? Sim, na lei federal e nas leis
estaduais. Tais legislações são
similares.
Não em âmbito federal. Certos
cantões começam a incorporar o
conceito em sua legislação. Leis e
experiências são muito
heterogêneas.
Estímulo e interesse pela GIRH Sim. Nos níveis federal, estadual e
por bacia hidrográfica.
Sim. Em âmbito federal por meio
de relatórios e guias. Interesse
variável em cada cantão.
Unidade territorial de gestão
Bacia hidrográfica.
Político-administrativa.
Fonte: Autor.
O EXEMPLO BRASILEIRO DE GESTÃO DE ÁGUAS
O histórico da gestão de águas no Brasil tem passado por diversas transformações diretamente
relacionadas às mudanças no tipo de federalismo do país. A criação de um sistema federal visou a
obtenção de autonomia regional em um país formado a partir de um sistema autoritário e unitário em
torno de um Estado monárquico, logo após sua independência. Desse modo, o federalismo brasileiro
surge não por conta da vontade voluntária de entidades independentes, mas por decisão do governo
central. Posteriormente, o país passa por fases consecutivas de maior e menor centralização do poder.
Com a Constituição Federal de 1988, os municípios passam a poder legislar e, além disso, são
responsáveis pelo saneamento e ordenamento do território. No entanto, na prática, o atual modelo
federalista brasileiro combina um poder de decisão centralizado com uma execução descentralizada
de políticas públicas (Arretche, 2015; Carmo, 2019; Empinotti et al., 2018). Em outras palavras,
mesmo que tentativas tenham sido feitas para dar mais poder ao governo local, estados e municípios
devem executar políticas públicas decididas pelo governo federal.
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REGA, v. 17, e6, 2020 6/12
No setor de recursos hídricos, a lei de águas 9433/1997 estabelece a criação de instituições de
bacias hidrográficas (comitês e agências) visando maior descentralização e participação do poder de
decisão e a implementação de ferramentas de gestão relacionadas a aspectos financeiros, de
planejamento e monitoramento da bacia. O modelo foi inspirado principalmente na experiência
francesa (Laigneau et al., 2018) e adaptado a um país federal. Nos anos seguintes, o Banco Mundial
edita uma série de relatórios contendo as instruções para a aplicação da política hídrica nacional
(Banco Mundial, 2003; Scantimburgo, 2013; World Bank, 1999).
Um dos maiores desafios para colocar em prática a gestão integrada por bacias hidrográficas no
Brasil está relacionado à dominialidade das águas, pois os rios podem pertencer ao governo federal
(se fluírem por mais de um estado) ou estadual (se permanecerem em um mesmo estado). Por outro
lado, a gestão de águas deve ser realizada por bacias hidrográficas. Esta repartição foi decidida visando
diminuir a competição histórica dos estados, com vantagem da neutralidade federal. Porém, isso gera
várias dificuldades práticas e maior complexidade para o sistema (Gontijo & Trigo, 2013). As bacias
hidrográficas dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), por exemplo, possuem rios federais e
estaduais. Assim, existem três comitês para executar o gerenciamento de águas em uma mesma bacia.
Todas as decisões tomadas devem ser decididas pelos três comitês. Se existem algumas diferenças
entre as regras de Minas Gerais e São Paulo (como por exemplo em relação ao instrumento de
cobrança), o processo torna-se mais lento (Miranda, 2017).
Para Libânio (2014), o país obteve maiores avanços nas últimas décadas em relação aos
princípios de participação e descentralização do que o princípio de integração, ao menos em termos
conceituais e institucionais. A esse respeito, a lei estabelece que diferentes setores, como ordenamento
territorial, gestão ambiental, qualidade e quantidade de águas, questões socioeconômicas, bem como
planejamento regional, estadual e nacional devem ser integrados à gestão de recursos hídricos, sem
definir, porém, o significado do termo integração. Diversos atores relacionados à gestão de águas nos
níveis federal, estadual e de bacia hidrográfica tendem a destacar a importância da participação local
durante o processo de tomada de decio quando questionados sobre o conceito de integração
(Miranda, 2017). Assim, a GIRH no Brasil está estritamente relacionada à participação e à
descentralização como forma de democratizar a gestão da água.
Mesmo que bem definido, o sistema legal brasileiro ainda é complexo. Apesar de uma década
entre a primeira e a última gestão estadual de águas (1991 a 2002), podemos notar que os mesmos
instrumentos e objetivos aparecem nas diferentes legislações de todo o país sem considerar as
disparidades regionais. Gontijo & Trigo (2013) avaliou dez estudos de caso em instituições de bacias
hidrográficas, nove no Brasil e uma na França (inspiração para o modelo brasileiro). O autor conclui
que os instrumentos da política de recursos hídricos vêm sendo implementados de modo semelhante
no Brasil todo sem considerar as particularidades locais. Além disso, enfatiza que existe a necessidade
de uma maior descentralização decisória.
Outros autores (Libânio, 2018; Empinotti et al., 2018) salientam a fragilidade do modelo
participativo brasileiro. Os comitês de bacia possuem pouca habilidade para fazer uso de seus poderes
deliberativos e importantes decisões têm sido negligenciadas por autoridades públicas. Tais instâncias
de participação são responsáveis pela elaboração do plano de bacia hidrográfica visando a
recuperação, proteção e conservação dos recursos hídricos da bacia. Porém, os municípios são
incumbidos pela realização de planos direta ou indiretamente relacionados às águas (como plano
diretor e plano de saneamento básico) sem serem obrigados a seguir o plano de bacias hidrográficas.
Tal realidade debilita a implementação sistemática da gestão integrada no país conforme consta na
política nacional de recursos hídricos (Brasil, 1997), que evoca no artigo 3 a necessidade de
“articulação da gestão de recursos hídricos com a do uso do solo”.
Por outro lado, muitos comitês são incapazes de gerar receita suficiente para apoiar a gestão de
águas, aumentando significativamente a dependência financeira no sistema federal e diminuindo a
autonomia das organizações subnacionais. De acordo com Empinotti et al. (2018), em regiões onde
não existem instituições descentralizadas, tal lacuna é preenchida por decisões federais.
igualmente grandes esforços (sobretudo financeiros) em elaborar planos e menos em executá-los
(Gontijo & Trigo, 2013; Libânio, 2014).
O EXEMPLO SUÍÇO DE GESTÃO DE ÁGUAS
Se o interesse em um modelo estruturado de GIRH no Brasil reflete seu federalismo relativamente
centralizado, a Suíça possui outras razões para encorajar abordagens variadas de GIRH. O país foi
durante cinco séculos uma confederação e desde 1848 é oficialmente uma federação, ainda que
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documentos oficiais e cidadãos mantenham o termo confederação. Diferentemente do Brasil
(Arretche, 2015; Empinotti et al., 2018), a Suíça é uma das federações mais descentralizadas e
participativas do mundo (Dardanelli, 2010). Segundo o autor, a autonomia do cantão2 resulta da sua
origem federal (reagrupamento de estados soberanos) e da crença que o poder local reflete o poder
dos cidadãos e por isso ele é preferível ao nacional. Assim, a maioria das áreas de competência federal
é decidida e executada por cantões. A participação é garantida por instrumentos previstos na
Constituição Federal. Referendo obrigatório, referendo facultativo e iniciativa popular, todos
encontrados nos níveis federal, cantonal e comunal, garantem a participação do cidadão em caso de
alteração na Constituição e em mudanças legislativas em diferentes áreas. Um exemplo é o fato de o
país não ser membro da União Europeia, a partir da decisão da população.
Em 1991, foram implementadas leis setoriais da água (Lei Federal de Proteção da Água, Lei
Federal de Proteção contra Inundação e Lei Federal de Pesca) (Musy et al., 2014), mas até o momento
não há interesse por parte dos governantes em ter uma única lei federal considerando o conceito de
GIRH (Buchs, 2018). Por outro lado, os cantões são responsáveis pelo planejamento e gestão dos
recursos hídricos e há muitos modelos de gestão de águas no país, reflexo da forte autonomia local e
do fato das competências comunais poderem variar de acordo com os cantões.
A abordagem de GIRH na Suíça pode ser entendida a partir da baixa influência de um único
modelo internacional, da informalidade do sistema, de uma abordagem por prioridades, de sua
heterogeneidade e lento processo de implementação. Como o país não é membro da União Europeia e
não é economicamente dependente de instituições internacionais, como o Banco Mundial, há maior
flexibilidade na escolha de seu modelo de gestão de águas, de acordo com os interesses locais.
Em outras palavras, uma abordagem integrada não é obrigatória, mas estimulada, e os cantões
possuem liberdade em escolher seu modelo de gestão.
Desde a última década, a Confederação Suíça incentiva a abordagem de GIRH no país por meio de
relatórios e documentos oficiais (Buchs, 2016, 2018; Office Fédéral de L’environnement, 2012, 2013)
tentando persuadir os cantões sobre sua importância. De acordo com tais documentos, a abordagem
de GIRH deve levar em consideração vários setores hídricos durante o desenvolvimento de um projeto.
Diferentemente do modelo internacional de GIRH, o conceito é estimulado com reservas. Justifica-se
apenas por projetos específicos que demandem uma real coordenação intersetorial
(Aschwanden et al., 2008). Além disso, o perímetro da GIRH não é necessariamente a bacia
hidrográfica, assim como a gestão de bacias hidrográficas nem sempre deve incluir múltiplos usos da
água. Resumidamente, a abordagem de GIRH na Suíça se concentra mais em metas e menos em
formato, já que a GIRH é considerada como uma ferramenta que pode ser usada apenas em caso de
grande necessidade de coordenação entre os usos.
Diferentemente da experiência brasileira, os desafios relativos à implementação da GIRH no país
estão menos relacionados à descentralização e à participação como direitos democráticos, pois estes
já estão mencionados na Constituição. Além disso, alguns atores consideram que uma maior
participação pode levar a uma maior burocracia e lentidão no processo de planejamento e gestão
(Miranda, 2013, 2017; Utz & Reynard, 2017).
Os desafios suíços se relacionam à colaboração intercantonal e à dificuldade de mudar a visão de
planejamento de uma microgestão (pequenas comunas) para uma visão regional por bacia
hidrográfica (Buchs, 2018). Como a estratégia de persuasão é um processo lento, a gestão de águas no
país continua sendo principalmente setorial. Assim, apesar dos esforços da Confederação, a gestão de
águas ainda é fragmentada em relação à coordenação entre os níveis federal, cantonal e comunal e
entre os diferentes usos da água. Isso pode representar custos adicionais e falta de uma visão geral
regional. De acordo com projetos financiados pela Fundação Nacional Suíça de Ciências (Swiss National
Science Foundation-SNSF) (Balsiger & Menzel, 2012; Comite de Direction du PNR 61, 2015), a
abordagem de gestão integrada de recursos hídricos ainda é incipiente e não existe um modelo ideal,
uma vez que cada caso examinado é diferente de acordo com o seu contexto.
Não existe interesse em instituições de bacias hidrográficas em todo o país por quatro razões
(Buchs, 2016, 2018; Comite de Direction du PNR 61, 2015; Graefe, 2011; Miranda, 2013, 2017;
Milano et al., 2015; Utz & Reynard, 2017): 1. Os atores regionais e locais (especialmente comunas e
cantões) não acreditam que haja crise de água ou grandes conflitos entre o uso da água nas bacias
hidrográficas. 2. Os perímetros de uso são muito diferentes de acordo com cada utilização.
Por exemplo, é bastante comum ter uma estação de tratamento de água compartilhada por algumas
comunas (devido ao seu pequeno tamanho), enquanto os fornecedores de água potável atendem
2 Os governos subnacionais são os cantões e as comunas.
Motivações e desafios para a implementação...
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REGA, v. 17, e6, 2020 8/12
outras comunas. Desta forma, seria difícil delimitar um perímetro comum a todos os usos. 3.
Municípios temem enfraquecer seu poder de decisão com a criação de um novo órgão. Mesmo que seja
apenas representado por governantes, a divisão de competências é vista como complicada. 4. Como a
participação é bastante forte no país e os suíços são muito pragmáticos, os atores tendem a pensar que
a criação de grupos participativos poderia significar mais horas de discussões e menos de execução.
Consideram ainda que poderia ser mais fácil adaptar parcerias setoriais existentes incorporando
novos usos ao invés de se criar um novo organismo na área da bacia.
A dominialidade da água no país é igualmente complexa, podendo ser pública (cantonal ou
comunal, mas nunca federal), privada ou adquirida. Cada cantão decide se mantém para si as
competências em matéria de água ou delega às comunas. De acordo com a Constituição Federal, o
Código Civil Suíço e várias leis federais e cantonais (Reynard, 2000), as águas subterrâneas são
privadas e ligadas à propriedade da terra (Artigo 704 CC); águas superficiais e glaciares são
geralmente cantonais, municipais ou privadas (de acordo com cada cantão). Comum em setores
hidráulicos e de irrigação, direitos adquiridos são relativos ao sistema judicial anterior às leis vigentes.
GESTÃO INTEGRADA DE RECURSOS HÍDRICOS EM PAÍSES FEDERAIS
A implementação da GIRH possui desafios distintos de acordo com o tipo de federalismo (pela
maior ou menor autonomia dos governos subnacionais em relação ao governo central), a história
política (a existência de uma democracia estável ou, ao contrário, histórico de governos autoritários)
e desenvolvimento econômico (maior ou menor dependência de instituições internacionais)
(Figura 2).
Figura 2: Fatores que afetam a implementação da GIRH em países federais.
Fonte: Autor.
A Suíça é uma federação bastante descentralizada, com uma democracia historicamente estável
e financeiramente independente se comparada a outros países ou mesmo os da União Europeia.
Atualmente possui experiências muito heterogêneas de implementação da GIRH. Isso justifica-se
porque (1) os governos locais e regionais possuem maior autonomia em âmbito legal, fiscal e de
aplicação de políticas públicas e, consequentemente, as soluções encontradas são diversificadas e
(2) existe menor dependência econômica em relação a instituições financeiras internacionais e à
influência destas em suas decisões políticas, contrariamente a países emergentes como o Brasil.
O conceito de GIRH vêm sendo promovido no país por persuasão (por parte do nível federal junto
aos governos regionais e locais) e por consenso (por atores cantonais e locais). Em outras palavras, o
governo federal busca convencer os governos locais de que a gestão integrada pode ser vantajosa e
estes escolhem se pretendem mudar seu modo de gestão e como irão proceder.
Em federações historicamente mais centralizadas, como o Brasil, os estados são muito
dependentes do governo federal, ainda que determinados poderes estejam garantidos pela
constituição. Na prática, as decisões são frequentemente tomadas pelo governo federal e então
executadas pelos governos regionais e locais de forma bastante homogênea. Os instrumentos de
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gestão previstos em lei federal, como planos, sistema de informações, etc. existem de modo muito
similar em âmbito estadual.
Desse modo, ainda que o conceito normativo de GIRH seja disseminado globalmente, o formato,
os objetivos e os motivos para se adotar a abordagem da GIRH diferem-se consideravelmente de uma
federação a outra. No Brasil, o conceito está diretamente relacionado à participação e à
descentralização devido ao histórico de ditaduras militares. Na Suíça, a participação e a
descentralização sempre fizeram parte do federalismo. Destarte, o termo possui múltiplos significados
e formatos, representando geralmente uma abordagem por prioridades, mesmo que nem sempre
considere os múltiplos usos das águas.
O principal desafio para a aplicação da GIRH no Brasil é a efetiva descentralização e participação.
Na prática, os comitês possuem fraco poder decisório (Empinotti et al., 2018). De outro modo, na Suíça,
o poder é concentrado localmente em pequenas comunas e há uma deficiência de visão geral (Buchs,
2018). Portanto, seu principal desafio é a regionalização e a coordenação das decisões, que se
encontram historicamente dispersas.
Por um lado, o modelo de gestão de águas no Brasil mostra-se mais formal e encorpado, porém
falta maior pragmatismo para a aplicação dos instrumentos previstos. Por outro lado, percebe-se
grande informalidade no sistema suíço. Entretanto, são mais pragmáticos ao trabalharem por projetos
e focarem na realização de objetivos e não na elaboração de múltiplos planos.
CONCLUSÕES
A GIRH é globalmente mais complexa em sistemas federais se comparados a sistemas unitários,
pois federações possuem algumas particularidades, como divisão de competências entre os níveis
nacional e regional/local e relativa autonomia dos governos subnacionais de acordo com uma
constituição federal. Além disso, o nível regional pode participar do processo de tomada de decisão
por meio da existência de câmara dos deputados (câmara baixa) e senado (câmara alta). Desse modo,
ainda que federações sejam heterogêneas de acordo com a divisão de poderes (legais, fiscais, jurídicos
e de execução das políticas públicas), tais características as distinguem de países unitários.
Este artigo apontou as características principais dos federalismos brasileiro e suíço, relacionando
às particularidades de seus sistemas de gestão de recursos hídricos. No Brasil, o conceito foi
implementado durante o período de redemocratização do país, relacionando-se à participação e à
descentralização da gestão. Nesse caso, o termo vem sendo difundido de forma relativamente
uniforme e normativa de acordo com os moldes promovidos por instituições internacionais.
Os governos regionais e locais são muito dependentes das decisões tomadas em âmbito federal e as
instituições de bacia possuem restrito poder decisório.
Na Suíça, o conceito possui significados e experiências diversas, pois tal abordagem não é exigida
pelo governo federal e cada cantão decide seu modelo de gestão de águas. A aplicação da GIRH refere-se
sobretudo à coordenação de determinados usos de água durante a realização de projetos. O principal
desafio para a gestão de águas do país é a fragmentação do sistema, bem como a dificuldade de visão
geral.
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... This division was intended to reduce past competition between states through federal neutrality. Nevertheless, it created several practical obstacles to the implementation of integrated water management [60,61]. To give an example, the Piracicaba, Capivari and Jundiaí (PCJ) river basins in the State of São Paulo contain both federal and state rivers, resulting in three committees (São Paulo state, Minas Gerais state and the federal committee) in the same river basin. ...
... All the decisions must be taken by all three committees. If there are differences in the rules in Minas Gerais and São Paulo (e.g., on charging), the process stagnates [61]. ...
... Unlike in Brazil, the challenges to the implementation of IWRM in Switzerland are less linked to decentralization and involvement, because democratic rights are enshrined in the Constitution. Some stakeholders consider that more participation could lead to more bureaucracy, and slow down the process [61]. Difficulties rather concern inter-cantonal collaboration, the slowness of the process, and the difficulty in changing from micro-management (small municipalities) to a regional view of water management. ...
Article
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International water institutions worldwide consider integrated water resources management (IWRM) to be the most sustainable way to manage water. Governments have modified their legal and institutional framework in order to apply integrated water management tools in the river basin. Institutional challenges are common in federations due to complex power sharing at national and subnational levels. This article discusses the implementation of the hegemonic model of IWRM in federations, based on a review of the literature for two different federal countries: Brazil and Switzerland. Due to the centralized character of Brazilian federalism, adjustments made in recent decades aimed to adapt the water management model through a hegemonic approach of participation and decentralization, shaped by international experiences and institutions. Some challenges concern vertical interplay, concerning coordination between levels and effective implementation of decentralization and participation. In contrast, Switzerland has a non-hegemonic model of water management, which is varied and fragmented throughout the country. As management is decided and applied locally, the main challenge concerns horizontal interplay, with regionalization and coordination of water uses.
... Inserida neste contexto, a gestão integrada dos recursos hídricos no Brasil também passa por desafios, considerando o aumento da exploração das águas por atividades econômicas, problemas nos processos de abastecimento, tratamento e distribuição deste recurso, bem como os impactos causados pelas mudanças do uso e ocupação do solo nas bacias hidrográficas (Miranda, 2020;Xavier e Bentes, 2020;Getirana et al., 2021). Soma-se a tal cenário a oscilação de áreas com seca, e o aumento dos períodos de estiagem (Miranda, 2020;Xavier e Bentes, 2020). ...
... Inserida neste contexto, a gestão integrada dos recursos hídricos no Brasil também passa por desafios, considerando o aumento da exploração das águas por atividades econômicas, problemas nos processos de abastecimento, tratamento e distribuição deste recurso, bem como os impactos causados pelas mudanças do uso e ocupação do solo nas bacias hidrográficas (Miranda, 2020;Xavier e Bentes, 2020;Getirana et al., 2021). Soma-se a tal cenário a oscilação de áreas com seca, e o aumento dos períodos de estiagem (Miranda, 2020;Xavier e Bentes, 2020). ...
Article
Full-text available
A gestão integrada dos recursos hídricos no Brasil e no mundo tem passado por desafios provenientes de processos naturais e antrópicos. Assim, o conhecimento preciso das condições quantitativas e qualitativas dos recursos hídricos é de fundamental importância, sendo o monitoramento pluviométrico por estações pluviométricas distribuídas no estado um componente central deste, no que diz respeito ao entendimento da dinâmica espacial e temporal da precipitação. Em Minas Gerais, tais estações estão concentradas em determinadas áreas, dificultando o processo de tomada de decisão pelos agentes gestores. As técnicas de geoestatística têm se mostrado acuradas para estimativa de precipitação em espaços sem estações pluviométricas, sendo que tal trabalho visou aplicá-las no estado, nos anos hidrológicos de outubro de 2000 a setembro de 2021. Verificou-se o potencial dos modelos Circular, Gaussiano, Esférico, Tetraesférico, Pentaesférico e Exponencial, e o Grau de Dependência Espacial entre as variáveis, utilizando-se do tratamento de dados por linguagem de programação Python e R e por técnicas de geoprocessamento. Os resultados apontaram para maior aplicabilidade do modelo Gaussiano em toda série histórica, sendo sucedido pelo modelo Exponencial em períodos chuvosos, e pelo modelo Circular na estação seca. Os modelos Pentaesférico, Esférico e Tetraesférico foram os menos aplicados. Viu-se também uma relação irregular entre o desempenho dos modelos e o Grau de Dependência Espacial das variáveis.Palavras-chave: krigagem, dependência espacial, estações pluviométricas, gestão integrada dos recursos hídricos. Comparison of geostatistical models for rainfall forecast in Minas Gerais, Brazil, between 2000 and 2021 hydrological years A B S T R A C TThe integrated water resources management in Brazil and worldwide had been through challenges from anthropic activities and natural processes. In that regard, the precise knowledge of water resources quality and quantity conditions has major importance, with the rainfall monitoring network by rainfall stations as a core component for understanding the precipitation spatial and temporal dynamics. These stations are concentrated in a few sites within Minas Gerais, which makes the decision-making process difficult for the manager agents. Geostatistical analysis has been shown as an accurate method for rainfall forecast in spaces with lack of rainfall stations, and this work aimed to apply it in Minas Gerais, between October 2000 and September 2021 hydrological years. It was checked Circular, Gaussian, Spherical, Tetraspherical, Pentaspherical, and Exponential models potential, and the degree of spatial dependence, using data treatment by Python and R programming language and geoprocessing tools. The results showed that Gaussian model has greater applicability in the time series, being succeed by Exponential model in wet season, and Circular model in dry season. Pentaspherical, Spherical, and Tetraspherical models were the least applied. It was found an irregular relationship between models’ performance and the degree of spatial dependence.Keywords: kriging, degree of spatial dependence, rainfall stations, integrated water resources management.
... No âmbito da questão hídrica, o conceito de gestão integrada de recursos hídricos, já preconizada no Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), estabelecido pela Lei nº 9.433/97 é considerado a forma sustentável de gerir os recursos hídricos (Miranda, 2020). Visando sua implementação, governos internacionais modificam seu quadro legal e institucional para aumentar a participação local e implementar ferramentas de gestão de águas dentro do território da bacia hidrográfica. ...
... Visando sua implementação, governos internacionais modificam seu quadro legal e institucional para aumentar a participação local e implementar ferramentas de gestão de águas dentro do território da bacia hidrográfica. Miranda (2020) destaca que tais mudanças podem representar desafios para federações, pois a divisão de poderes entre os níveis nacional e subnacional é complexa, tendo em vista que uma mesma bacia pode abranger um ou mais estados federativos. Para Bitencourt et al. (2019), o enquadramento de corpos hídricos configurase como instrumento auxiliar da gestão de recursos hídricos desde a década de 1970, por meio da iniciativa de alguns estados, como São Paulo, Alagoas, Santa Catarina e Rio Grande do Norte. ...
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O planejamento e a gestão territorial são processos baseados na organização do espaço geográfico, que foi se consolidando por meio de pressupostos e regras comuns que viabilizaram a vivência em sociedade. Através de diversos mecanismos legais é possível determinar áreas com algum tipo de restrição socioambiental ao uso da terra. O presente estudo propõe-se a espacializar de uma forma integrada diferentes tipos de áreas restritivas dentro da Unidade de Gestão de Recursos Hídricos (UGRH) do Paranapanema, sendo elas as Áreas de Preservação Permanente (APPs), Unidades de Conservação (UCs), Áreas Prioritárias para Conservação da Biodiversidade Brasileira, Terras Indígenas, Tombamento Paisagístico Cultural, Mananciais e Assentamentos. A partir da integração dessas camadas de informações, por meio da álgebra de mapas, foi possível determinar até seis classes diferentes de restrições em uma mesma unidade de área. Foi realizada ainda a avaliação do percentual de antropização (sobretudo áreas com atividades agrícolas) de cada área restritiva mapeada a partir de dados de uso da terra. Foram identificadas áreas com até seis diferentes classes de restrições sobrepostas, tendo sido observado um alto estado de antropização ao longo da área de estudo, tendo aproximadamente 80% do território por algum uso agropecuário. Esse percentual foi observado também na categoria de APP de nascente, que são áreas importantes no que tange a questão de recursos hídricos. As áreas com diferentes restrições socioambientais sobrepostas e antropizadas devem ser priorizadas em ações de recuperação ambiental, visando, por exemplo a melhora na qualidade da água na UGRH do Paranapanema.
... No entanto, a implementação da gestão integrada de cuidados no SUS enfrenta diversos desafios. A falta de recursos financeiros, a carência de profissionais qualificados, a dificuldade de integrar sistemas de informação e a resistência a mudanças são alguns dos obstáculos que precisam ser superados (Miranda et al., 2020). ...
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Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, Foi possível assim estruturar a seguinte pergunta norteadora: “Quais os desafios e estratégias para as equipes multidisciplinares no SUS para uma gestão integrada de cuidados?”. Foi feito um levantamento através da biblioteca eletrônica sendo a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), sendo selecionada as seguintes bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Medical Literatures Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE) e Bases de Dados de Enfermagem (BDENF). Com isso, foi utilizado os descritores consultados nos Descritores em Ciência e Saúde (DeCS), no mês de novembro de 2024, sendo: “Sistema Único de Saúde”, “Equipe de Assistência ao Paciente” e “Gestão em saúde”, utilizando o operador booleando AND entre os descritores quando combinados. Após a aplicação dos critérios de elegibilidade foram utilizados dez artigos selecionados ao total. De acordo com os estudos encontrados, a formação de equipes multiprofissionais, composta por profissionais de diferentes áreas do conhecimento, é um dos pilares da gestão integrada de cuidados. Ao reunir médicos, enfermeiros, nutricionistas, assistentes sociais e outros, é possível oferecer uma assistência mais completa e personalizada, considerando as diversas dimensões da saúde do indivíduo. No entanto, a implementação dessa estratégia enfrenta diversos desafios, como a falta de recursos financeiros, a carência de profissionais qualificados e a dificuldade de integrar sistemas de informação. A gestão integrada de cuidados emerge como um paradigma fundamental para a otimização dos serviços de saúde no Sistema Único de Saúde. A construção de equipes multidisciplinares, com a colaboração de profissionais de diversas áreas, demonstra-se como uma estratégia promissora para a promoção de uma assistência integral e centrada no paciente. No entanto, a implementação dessa abordagem enfrenta desafios complexos, que demandam soluções inovadoras e um esforço conjunto de todos os atores envolvidos.
... Em parceria com as comunidades das bacias hidrográficas, busca-se promover trocas com a academia para ampliar o entendimento sobre questões ambientais e hídricas, focando no empoderamento social e proteção dessas áreas. A Gestão Integrada de Recursos Hídricos (GIRH) é considerada a abordagem mais sustentável, coordenando o uso da água e solo para maximizar o bem-estar social e econômico, sem comprometer os ecossistemas (Miranda, 2020;Global Water Partnership, 2000). A GIBAH, como parte da GIRH, destaca a participação ativa das comunidades na gestão dos recursos hídricos. ...
... The PNRH also provides a set of instruments that, supported by a database accessible to the public, establishes rules and incentives for the rational use of water resources, quality goals, programs, and measures to meet multiple uses. In this context, the water resource plans stand out among the planning instruments (MIRANDA, 2020;PORTO, M. F. A.;PORTO, R. L. L., 2008). While national and state water resources policies establish significant planning and management guidelines, water resource plans aim to support and guide the implementation of water resources policies, taking into account the environmental protection, planning, and management guidelines currently in force. ...
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Strategic Environmental Assessment (SEA) is a tool that aims to integrate environmental issues into decision-making processes, usually to support the development of sectoral or territorial plans and programs. SEA is mandatory in the European Union and is applied to water management in France. Water management in Brazil is inspired by the French model, but does not have SEA; in the state of São Paulo watersheds of interest for public supply have specific norms and can count on a Development and Environmental Protection Plan (PDPA). In this research we explore three potential contributions of SEA as adopted in French water management for the case of the PDPA of the Billings Reservoir sub- basin. We conducted an evaluative case study for this PDPA, a literature review on French practices, and comparative analysis. We conclude by indicating potential contributions of SEA for the definition of objectives, scoping, and study of alternatives of the PDPA-Billings.
... A PNRH também traz um conjunto de instrumentos que, apoiados em uma base de dados acessível ao público, estabelece regras e incentivos ao uso racional dos recursos hídricos, metas de qualidade, programas e medidas para atendimento de usos múltiplos. Entre os instrumentos de planejamento, destacam-se os planos de recursos hídricos (MIRANDA, 2020;PORTO, M. F. A.;PORTO, R. L. L., 2008). Enquanto as políticas nacionais e estaduais de recursos hídricos estabelecem as grandes diretrizes de planejamento e gestão, os planos de recursos hídricos visam fundamentar e orientar a implementação das políticas de recursos hídricos, tendo em vista as diretrizes de proteção, planejamento e gerenciamento ambiental vigentes. ...
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Nesta pesquisa exploramos três potenciais contribuições da AAE como adotada na gestão da água francesa para o caso do PDPA da Sub-bacia do Reservatório Billings. Foi realizado estudo de caso avaliativo para esse PDPA, revisão bibliográfica sobre as práticas francesas e análise comparativa. Concluímos indicando potenciais contribuições da AAE para a definição de objetivos, definição do escopo e estudo de alternativas do PDPA-Billings.
... Para o nível municipal não é prevista a obrigatoriedade do planejamento dos recursos hídricos, posto que a dominialidade das águas foi constitucionalmente reservada à União e aos Estados (Miranda, 2020). Por outro lado, em seu Art. ...
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Este artigo discorre sobre o planejamento ambiental de bacias hidrográficas e sua interface com o desenvolvimento urbano, apresentando uma análise da relação entre o Plano hidroambiental da bacia hidrográfica do rio Capibaribe e os Planos Diretores Municipais dos municípios de Taquaritinga do Norte e de Santa Cruz do Capibaribe, inseridos na Região Hidrográfica Atlântico Nordeste Oriental. Através do levantamento bibliográfico e documental, foram acessados e analisados os respectivos planos, a partir das diretrizes, metas e ações previstas. Os resultados apontam convergências dos planos na priorização de ações voltadas ao saneamento rural, à recuperação de áreas degradadas e à preservação de áreas de proteção permanente. Outra sintonia constatada consiste na negligência da sustentabilidade ambiental pelas diretrizes focadas nas atividades do pólo de confecção, o que demonstra a fragilidade na integração entre os planos que deveriam induzir uma postura ambientalmente responsável das empresas. Frente aos resultados, medidas são propostas no intuito de situar perspectivas para a governança dos recursos hídricos.Palavras-chave: Planejamento territorial, Recursos Hídricos, Alto Capibaribe. Integration between municipal master plans and watershed plans in northeast semi-arid region: perspectives to governance A B S T R A C TThis article discusses the environmental planning of hydrographic basins and their interface with urban development, presenting an analysis of the relationship between the Plan of the river Capibaribe’s Watershed and the Municipal Master Plans of the municipalities of Taquaritinga do Norte and Santa Cruz do Capibaribe, inserted in the Eastern Northeast Atlantic Hydrographic Region. Through the bibliographical and documentary survey, the respective plans were accessed and analyzed, based on the guidelines, goals and actions envisaged. The results point to the convergence of plans in the prioritization of actions aimed at rural sanitation, the recovery of degraded areas and the preservation of permanent protection areas. Another tune found is the neglect of environmental sustainability by the guidelines focused on the activities of the manufacturing center, which demonstrates the fragility in the integration between the plans that should induce an environmentally responsible posture of the companies. In the face of the results, measures are proposed in order to situate perspectives for the governance of water resources.Keywords: Territorial planning, Water resources, High Capibaribe.
... Uma das ferramentas de gestão promovidas pelas políticas de recursos hídricos é a fiscalização do uso, com caráter educativo e regulador. Entretanto tais instrumentos necessitam de aperfeiçoamento, Miranda (2021). Um dos fortes aliados da gestão pública neste segmento é o sistema de informações geográficas. ...
Conference Paper
A gestão dos recursos hídricos vem passando por transformações tornando urgente o desenvolvimento de ferramentas de apoio à gestão e fiscalização, com caráter educativo e regulador. Este artigo tem como objetivo apresentar o desenvolvimento de um aplicativo que auxilie na atividade de fiscalização dos recursos hídricos utilizando sistemas de informações geográficas. Intitulado SIGFIS, utilizando o sistema operacional Android com linguagem de programação Kotlin, com dados em formatos georreferenciados e planos de informações, o aplicativo visa auxiliar os agentes fiscais em suas visitas a campo, acurácia nas autuações e agilidade nos serviços, visto que reúne informações relevantes e imprescindíveis ao seu trabalho
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Se em nível nacional a gestão das águas enfrenta diversos entraves e desafios, as demais unidades federativas presenciam de perto essas problemáticas. Este artigo tem o intuito de refletir acerca das dificuldades e desafios enfrentados pela gestão de recursos hídricos no Amazonas, bem como os entraves diante da proposta de enquadramento dos corpos hídricos no Estado referenciada no seu Plano Estadual de Recursos Hídricos. Para isso, foi necessário realizar uma revisão da literatura, a partir de artigos científicos, legislações e análise do Plano Estadual de Recursos Hídricos do Amazonas. Percebe-se que o cenário da gestão dos recursos hídricos no Amazonas reflete uma gestão com fragilidades nos processos de implementação de seus instrumentos, pois não há muito o que se esperar após dois anos decorridos da aprovação do Plano Estadual. No que tange as perspectivas e realidades alcançadas acerca do enquadramento dos corpos hídricos, segue-se com propostas embasadas por legislação nacional. Portanto, a gestão de recursos hídrico no estado carece de tempo para que alcance melhores resultados.
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Water boards in Brazil and France: Managing water as a common good at the scale of catchment basins The management of water resources by catchment basin was introduced in Brazil during the 1990s by a movement of democratization that referred to the French experience, which had started 25 years earlier. More than federalism, the rather centralized administrative procedures imposed on Brazilian water boards have kept them from yielding the hoped-for results, as the OECD has pointed out. After discussing collective actions for managing the commons, thought is given to the crisis of water boards in France. In conclusion, suggestions are made for relegitimating these boards in both Brazil and France.
Chapter
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California has an intense history of water management and resources manipulation. The main drivers for some of the largest water management infrastructure projects are (1) a spatial mismatch between where most of the precipitation falls on the state and where most of the water is needed and (2) a temporal mismatch of precipitation during winter months and the agriculture season on summer. This chapter describes the legal framework and water allocation systems to manage surface water, groundwater, and environmental water that are guiding California toward adopting an integrated water resources management framework.
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In the last three decades, Mexican water management policy has been reformed to include the participation of social actors in the decision-making process. Nonetheless, water governance receives intense criticism from those who consider that this participatory approach has decreased the efficiency in decision-making and others who believe that public participation is not efficiently included. To clarify this debate, we identify the fundamentals, the obstacles, and the challenges of the public involvement in water management through a systematic review of the literature. We found that the restrictions of such involvement are most likely associated with: 1) characteristics and context of the participants; 2) different levels of information and power; 3) institutional arrangement and rules of the process; 4) the lack of resources to participate, and 5) the lack of motivation and political will. The most critical challenges are: a) decentralization; b) the combination of technical and non-technical knowledge; c) the strengthening of capacities for participation, and d) the influence of the government in the decision-making process. With these elements, we elaborate an analytical framework and come up with the recommendations to improve public participation in water management in Mexico.
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O livro tem como objetivo principal oferecer ao leitor perspectivas para captar o significado de federalismo, entender como essa forma de Estado pode variar entre os países e discutir seus possíveis efeitos para as políticas públicas, destacadamente as políticas sociais. Também tem o objetivo de apresentar e analisar a experiência do federalismo brasileiro: sua trajetória e desafios atuais associados às políticas sociais.
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Formalmente, a federação brasileira surge com o Decreto nº1, de 15 de novembro de 1889, forma que foi posteriormente ratificada Constituição Republicana de 1891. Com a adoção explícita do modelo federativo, todavia, não desaparecem as forças centralizadoras, iniciando-se um período de alternância entre movimentos de descentralização e movimentos de forte centralização. O modelo federativo de Estado pressupõe um nível razoável de descentralização, mas que nem sempre encontra correspondência nos Estados federativos reais, que se desenham a partir de uma dinâmica complexa e que envolve tanto fatores internos quanto externos. Tal dinâmica tem levado modelos concretos clássicos – como os Estados Unidos da América e a República Federal da Alemanha – a adotar medidas tendentes à centralização. Embora a Constituição de 1988 tenha rompido com a centralização excessiva do regime constitucional anterior e tenha logrado implementar um modelo com viés cooperativo, é visível a preeminência da União sobre os demais entes federativos.
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The Brazilian Northeastern semi-arid region’s history has been characterized by drought, water scarcity, and poor living conditions. For the last 100 years, institutions have been established to support the state sector’s different attempts to solve the water scarcity and poverty problems in the region. In the Brazilian federalist model that combines centralized decision power with a decentralized execution of public policies, the federal government promotes large-scale infrastructure interventions, such as the São Francisco River Water Diversion Project (SFRWDP). This article aims to show how intergovernmental relations, under the Brazilian federal system, enable centralized decision-making processes. We will analyze the roles of subnational and national entities and the factors influencing their interaction. Even though decentralized participatory water institutions are in place, the federal government controlled and centralized the process of approval of the SFRWDP as well as its implementation and management. While federal agencies dispute control over decision-making processes and financial resources, the states lack financial and institutional capacity to use the power that is attributed to them by the Water Law. The persistence of a federal system that perpetuates the federal government’s central role and the interstates’ power inequalities, may continue to wreck any attempt to promote decentralization and subnational and interstate collaboration in the Brazilian context.
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Water markets are a prime example of decentralised resource allocation, yet their success often depends on strong coordination institutions, particularly as water is redistributed across sectors and political borders. The territorial division of authority in federal countries creates potential intergovernmental coordination challenges in river basins shared by multiple jurisdictions. This paper compares water markets and associated institutional reforms in Australia, Spain and the Western USA—three countries with long-standing experience with water markets but different approaches to distributing authority and intergovernmental coordination. We conduct an institutional mapping of national and sub-national roles in market-based water allocation reforms across the three countries and employ process tracing techniques to examine coordination challenges and institutional responses associated with water markets. We find that (1) policy goals addressed by water markets vary across—and within—the three countries, reflecting differences in the level of decentralisation, but (2) all three countries have required capable coordination institutions to address the distributional conflicts associated with water markets. Coordination institutions can take multiple forms and include both formal and informal venues for planning, financing and conflict management matched to local conditions.