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Abstract and Figures

O documento manifesto chamado “Criando uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia” é uma iniciativa do Grupo de Pesquisa Políticas Públicas da Infância da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUC-SP, Criando PUC-SP, orientado e coordenado pela Professora Doutora Emília Maria Bezerra Cipriano Castro Sanches. É formado por pesquisadoras, entre mestres, mestrandas e doutorandas, gestoras e professoras da Infância e do Ensino Superior, que atuam na rede pública e privada da grande São Paulo e seu entorno. Esse manifesto faz parte de um compromisso compartilhado com a rede de educadores para ações formativas, que foi escrito de forma colaborativa após um aprofundamento teórico com muitas discussões virtuais.
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Editoração: Eckel Wayne
Capa: Jinlova de Oliveira Pantaleão
Revisão: Cibele Ferreira
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2020 - Impresso no Brasil
Todos os direitos desta edição reservados a Pontes Editores Ltda.
Proibida a reprodução total ou parcial em qualquer mídia
sem a autorização escrita da Editora.
Os infratores estão sujeitos às penas da lei.
A Editora não se responsabiliza pelas opiniões emitidas nesta publicação.
Índice para catálogo sistemático:
1. Educação básica infantil. 370.111
2. Processos sociais: Catástrofes ( terremotos, epidemias, guerras). 303.485
S211j Sanches, Emilia Cipriano (org.); et al.
Uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia. Manifesto
do Grupo de Pesquisa Políticas Públicas da Infância - Criando PUC-SP / Organizadoras:
Emilia Cipriano Sanches, Sandra Cavaletti Toquetão e Shirlei Nadaluti Monteiro.– 1. ed.–
Campinas, SP : Pontes Editores, 2020.
98 p.; tabs.; il.
ISBN: 978-65-5637-031-6
1. Educação. 2. Educação Infantil. 3. Ensino Remoto. 4. Pandemia. I. Título. II. Assunto.
III. Sanches, Emilia Cipriano. IV. Toquetão, Sandra Cavaletti. V. Monteiro, Shirlei Nadaluti.
Bibliotecário Pedro Anizio Gomes CRB-8/8846
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Manifesto do Grupo de Pesquisa
Políticas Públicas da Infância
Criando PUC-SP
Autoras
Alessandra Olivieri Santos
Andreia Menarbini
Cristina Ramos da Silva
Cristina Rosa David Pereira da Silva
Elisangela Carmo de Oliveira
Emilia Cipriano Sanches
Enita Alves Ferreira Rodrigues
Gabriela Novaes
Gisele dos Santos Oliveira Batista
Karina Courel Maurício
Leila Bitencourt Schmeing
Marisa Pinheiro de Oliveira Fernandes
Priscila Barbosa Arantes
Priscila Gambale
Regina Garcia Toledo de Souza
Renata Pereira Pardim
Rita de Cassia Marques dos Santos Fraga
Rosimeire dos Santos Cardoso
Sandra Cavaletti Toquetão
Shirlei Nadaluti Monteiro
Dedicamos a todas as crianças e educadores que
foram privados da possibilidade de convivência
e de interação que acontece nas relações vividas
nas escolas...
SUMÁRIO
PREFÁCIO
O ARTESÃO E A TECELÃ.....................................................................................9
Emilia Cipriano Sanches
APRESENTAÇÃO
UMA JANELA DE POSSIBILIDADES NA EDUCAÇÃO DA INFÂNCIA
EM TEMPOS DE PANDEMIA
Laurizete Ferragut Passos
O DESPERTAR DO MANIFESTO .........................................................................17
Emilia Cipriano Sanches
Sandra Cavaletti Toquetão
Shirlei Nadaluti Monteiro
INTRODUÇÃO ........................................................................................................21
INFÂNCIAS: DIREITOS E CONTEXTOS ............................................................25
A DISCUSSÃO DA PANDEMIA NO CENÁRIO SOCIOPOLÍTICO ..................29
CRIANÇAS: SUJEITOS DE DIREITOS EM QUALQUER TEMPO ....................37
A ESCOLA DA INFÂNCIA E AS CULTURAS INFANTIS .................................43
A CRIANÇA COMO SUJEITO SOCIAL QUE CONSTRÓI SUA HISTÓRIA ....51
RELATOS DE INFÂNCIA E O OLHAR DO PROFESSOR .................................55
MÍDIAS NA INFÂNCIA: APROXIMAÇÕES E DISTANCIAMENTOS .............61
A ESCOLA NA PANDEMIA COMO ESPAÇO PARA O ACOLHIMENTO .......71
A HISTÓRIA CONTINUA .....................................................................................79
REFERÊNCIAS ........................................................................................................83
SOBRE AS AUTORAS ............................................................................................87
GALERIA DE IMAGENS QUE CONTAM HISTÓRIA ........................................93
9
uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
PREFÁCIO
O ARTESÃO E A TECELÃ
Emilia Cipriano Sanches
(Líder do Grupo de Pesquisa Políticas Públicas da Infância CNPq)
“Hoje eles hão de consagrar/ O dia inteiro pra se amar
tanto/ Ele, o artesão/ Faz dentro dela a sua oficina/
E ela, a tecelã/ Vai fiar nas malhas do seu ventre/ O
homem de amanhã”
(Chico Buarque e Milton Nascimento. Primeiro de
Maio, 1977).
Concebendo o homem de amanhã e refletindo sobre a
criança de hoje, assim iniciamos nossas reflexões, não em uma
perspectiva do vir a ser, mas em uma perspectiva do ser. A música
“Primeiro de Maio” traz a simbologia do artesão e da tecelã, dos
trabalhadores e a fiação das malhas do ventre... Podemos nos
inspirar nesta genialidade que ao nosso olhar parece tão freire-
ana, inclusive ousando uma metáfora: a concepção do nosso
manifesto. Somos criancistas e criançólogas, tecemos nossas
malhas de pensamentos, estudos e vivências e eis que o filho
surge, num momento tão incerto, mas, como sempre, trazendo
grandes esperanças.
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uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
Este manifesto nasce de um momento de reflexão do grupo
de pesquisa Políticas Públicas da Infância, Criando PUC-SP,
em março de 2020. Sua constituição resulta de um momento
de perplexidade frente à pandemia do coronavírus que atingiu
todo o nosso planeta. Uma escolha consciente de não se calar
diante das incertezas, inseguranças, modificações deste contexto.
Silenciar-se ou posicionar-se como pesquisadoras que estudam as
infâncias e a constituição de políticas públicas para garantia de
direitos é paradoxal, pois ao mesmo tempo em que vivenciamos
a situação e nos sentimos impotentes e sem respostas, vislum-
bramos também a oportunidade de aprender com este contexto
real, preciso, complexo.
Para tanto, o cenário estava colocado, e em especial, a
necessidade de enfatizar, com coragem e esperança, a defesa
daquilo que nos une, que são as crianças lúdicas e suas potências
tão desconhecidas e não visualizadas, e muitas vezes negadas e
sem direitos humanos essenciais. Enfrentar os dilemas se fazia
necessário na perspectiva de explicitar nossos princípios, coo-
peração, responsabilidade e solidariedade. Do ponto de vista
antropológico, algo que exigisse um compromisso ético com
os seres, rompendo o despropósito, o reducionismo e o aniqui-
lamento, a defesa pelos saberes humanizados contemplados no
corpo e mente, no ético e no estético, no acadêmico, sociopolí-
tico, ecológico.
Diferentes textos lemos para tentar responder as perguntas
emergenciais. Por que a escolha por este manifesto? Quais os
motivos para fazer esta escolha? Qual a importância deste po-
sicionamento? Inspiradas em Paulo Freire, nos apropriamos de
seus pensamentos:
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uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
O mito da neutralidade da educação, que leva à ne-
gação da natureza política do processo educativo e a
tomá-lo como um quefazer puro, em que nos engaja-
mos a serviço da humanidade entendida como uma
abstração, é o ponto de partida para compreendermos
as diferenças fundamentais entre uma prática ingê-
nua, uma prática “astuta” e outra crítica. Do ponto
de vista critico, é tão impossível negar a natureza
política do processo educativo quanto negar o caráter
educativo do ato político. (FREIRE, 1989, p.23)
Nossa decisão foi lidar de forma crítica com a realidade,
participando na transformação desse momento de isolamento
social. Dessa maneira, quais as contribuições dos estudos que
realizamos sobre infância para este contexto de pandemia? Qual
nosso papel enquanto pesquisadoras da infância em relação à vida
das crianças, diante da consciência que se tem dos seus direitos?
E como educadoras, qual a nossa contribuição?
Este documento fará parte do nosso legado como pesqui-
sadoras e educadoras, pois, “aquilo que ensinamos é aquilo que
já vivemos, a experiência que construímos. Qual é o maior pa-
trimônio de educador? A própria jornada, a história construída
ao longo de seu caminho” (SANCHES, 2019, p. 13).
Nossas reflexões podem não dar respostas imediatas, mas
gestam em cada uma de nós o compromisso da reflexão e busca
de alternativas para enfrentar, coletiva e colaborativamente, o
desafio da construção de políticas públicas para a infância. Que
este manifesto/criança possa inspirar cada um dos leitores em
seus anseios e aspirações.
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uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
APRESENTAÇÃO
UMA JANELA DE POSSIBILIDADES NA EDUCAÇÃO
DA INFÂNCIA EM TEMPOS DE PANDEMIA
Manifesto do Grupo de Pesquisa
Políticas Públicas da Infância
Criando PUC-SP
Laurizete Ferragut Passos
(Coordenadora e professora do Programa de Estudos Pós-Graduados
em Educação: Formação de Formadores – PUC-SP)
Quando o grupo de professores-pesquisadores da área da
Educação da PUC-SP se reuniu em 2012 para pensar num formato
de Programa de Pós-Graduação que estivesse próximo da escola,
próximo dos sujeitos que estão fazendo a prática acontecer, o gru-
po sabia da necessidade de repensar a universidade, de repensar
o formato de um programa que rompesse com a lógica de “dar
voz ao outro”, como se esse outro não tivesse voz própria, mas de
construir com os sujeitos da escola um caminho em que as vozes
se juntam coletivamente para delas emergir a circulação de novas
aprendizagens e novos saberes e, assim, qualificar a formação dos
professores que nela atuam e dos alunos que são por ela atendidos.
A escolha pela formação dos formadores de campo que atuam
nas escolas da educação básica ou nos sistemas de ensino tornou-se
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uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
o foco de estudo e pesquisa do novo Programa de Pós-Graduação
em Educação Formação de Formadores Formep. Assim, não
só atenderia a um grupo de profissionais diretamente envolvidos
com o desenvolvimento do trabalho pedagógico e com a formação
dos professores da escola, como se tornaria um programa de pós-
graduação pioneiro na temática do trabalho dos formadores de
professores. Formar profissionais crítico-reflexivos, que soubessem
problematizar as situações escolares e as práticas pedagógicas e, a
partir delas, desenvolver projetos de pesquisa articulados e a elas
engajados, se constituiu no núcleo das atividades do Programa.
A exigência de um apoio teórico diversificado para compre-
ender as pistas que a escola oferece para a realização de pesquisas
pelos formadores que nela atuam, seja o coordenador pedagó-
gico, seja o diretor ou supervisor escolar, fortaleceu a ideia de
formar o pesquisador prático, o pesquisador que sabe fazer uma
leitura crítica da realidade e sabe onde e como buscar esse apoio
para tomar decisões e nela atuar movido por um pensamento
que não exclui a subjetividade e que rompe com a objetividade
racionalista. O lugar da subjetividade e da singularidade deve
estar garantido no exercício do trabalho dos profissionais e,
especialmente, no do formador de professores.
Com base nessas ideias e na constituição de outros espaços
dentro do Programa, o grupo de estudo e de pesquisa em Políticas
Públicas da Infância - Criando - PUC vem aprofundando seus
estudos com o olhar no formador dos professores que atuam
junto às crianças e em como as políticas públicas têm problema-
tizado questões e buscado soluções para uma infância que tem
tido direitos negados, especialmente quando se fala da infância
de crianças brasileiras que vivem uma vida precarizada e sem
recursos de toda ordem. Nesse grupo de pesquisa, constituído
há três anos, olhares se entrecruzam na variedade de abordagens
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uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
para pensar a infância, mas todos integram um propósito comum:
formar bem os professores que atuam junto aos pequenos para
que tenham clareza das necessidades e das possibilidades de
tornar mais justo o acesso a uma educação de qualidade.
Esse grupo, coordenado pela profa. Dra. Emilia Cipriano,
sentiu-se desafiado a reagir nesse momento da pandemia provo-
cada pelo vírus da covid 19. Essa professora, com longa traje-
tória na temática da infância e participação no contexto público
como conselhos e comissões, bem como na formação inicial de
professores, valeu-se desse momento para acentuar a discussão
e a reflexão sobre os direitos das crianças e o papel do projeto
pedagógico e sua importância para a consolidação desses direitos.
Assim, o livro aqui apresentado em forma de Manifesto
retrata o grito de um grupo que não quer silenciar num momento
difícil e tenso como esse. Um grupo de profissionais formadores
nas escolas que, não podendo estar fisicamente próximo dos
pares e das crianças, buscam na reflexão e na denúncia uma
forma de diálogo em que cada participante aborda um aspecto
dessa denúncia e estabelece uma relação entre a ação didática e
a legislação que orienta o trabalho com as crianças, ampliando
os conhecimentos desse campo.
O que há de novo nesse Livro Manifesto? Ao considerarmos
esse momento único da pandemia que obrigou a sociedade a
encarar as desigualdades sociais, as autoras parecem ter sentido
a necessidade de tocar em alguns problemas e usar lente de
aumento para assegurar a visão clara de questões muitas vezes
reduzidas a uma única dimensão: a técnica. Buscaram expandir
limites, ignorar fronteiras e trazer anúncios para enfrentar as
situações desse momento. Um manifesto construído de forma
coletiva e que traz esperanças para o futuro das crianças e da
educação desse país. Boa leitura!
17
uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
O DESPERTAR DO MANIFESTO
Emilia Cipriano Sanches
Sandra Cavaletti Toquetão
Shirlei Nadaluti Monteiro
“[...] A educação é, também onde decidimos
se amamos nossas crianças o bastante par não
expulsá-las do nosso mundo e abandoná-las a seus
próprios recursos, e tampouco arrancar de suas
mãos a oportunidade de empreender alguma coisa
nova e imprevista para nós, preparando-as em vez
disso com antecedência para a tarefa de renovar
um mundo comum.”
(Hannah Arendt, 2003, p. 247)
O documento manifesto chamado “Criando uma janela de
possibilidades na educação da infância em tempos de pande-
mia” é uma iniciativa do Grupo de Pesquisa Políticas Públicas
da Infância da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
PUC-SP, Criando PUC-SP, orientado e coordenado pela Profes-
sora Doutora Emilia Maria Bezerra Cipriano Castro Sanches. É
formado por pesquisadoras, entre mestres, mestrandas e douto-
randas, gestoras e professoras da Infância e do Ensino Superior,
que atuam na rede pública e privada da grande São Paulo e seu
entorno. Esse manifesto faz parte de um compromisso compar-
tilhado com a rede de educadores para ações formativas, que foi
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uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
escrito de forma colaborativa após um aprofundamento teórico
com muitas discussões virtuais.
Neste ano, iniciamos nossos estudos com um resgate
crítico das representações da infância ao longo da história
por meio de seminários elaborados pelas pesquisadoras para
aprofundar nosso campo teórico. Com uma intensa discussão
entre a teorização e nossas vivências, mergulhamos em algumas
obras como “História social da criança e da família” - Philippe
Ariès, “História das Crianças no Brasil” - Mary del Priore e
“O Desaparecimento da Infância” - Neil Postman, que nos
proporcionou o resgate do conceito de infância e seu processo
de construção social.
Da mesma forma reflexiva, aprofundamos nossa trajetória
conceitual com Miguel Arroyo - “Corpo Infância - Exercícios
Tensos de Ser Criança - Por Outras Pedagogias do Corpo”. Du-
rante a leitura das denúncias feitas pela obra sobre a vulnerabi-
lidade das crianças, a ausência do corpo na educação da infância
e a separação corpo-mente na sociedade brasileira, chegou a
pandemia e com ela muitas incertezas. Em meio às angústias
causadas pelo isolamento social fomos provocadas pela leitura
Boaventura de Sousa Santos “A Cruel Pedagogia do Vírus”
– e muitas indagações surgiram sobre os limites do isolamento
social e os direitos da infância.
Neste momento difícil de interação entre as telas, tivemos
o desafio de escrever de forma coletiva sobre temas que nos são
muito caros e que se transformaram em uma sequência de encon-
tros virtuais/lives, a partir de várias reflexões, com as temáticas:
“Infâncias: Direitos e Contexto”; “Crianças: Sujeitos de direitos
em qualquer tempo”; “Relatos de infância e o olhar do professor”;
“Mídias na Infância: aproximações e distanciamentos” que po-
dem ser assistidos na nossa página no Facebook. Neste momento,
19
uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
mais do que nunca, estamos “aprendendo como aprender” nas
telas, ambiente esse, de muito estranhamento entre nós.
Diante deste contexto, nós não nos calamos nos ambientes
virtuais, as lives e rodas de conversa do Formep1 trouxeram as
denúncias e anúncios da educação da infância em tempos tão difí-
ceis. Juntamos nossas vozes com outros grupos de pesquisa2 que
defendem a infância e construímos coletivamente o “Manifesto
a favor da criança como sujeito de direitos”. Este documento
circulou nas diferentes redes sociais para denunciar o retrocesso
de políticas públicas e defender a função integradora da escola.
Nesse cenário, a ação formativa que propomos tem como
princípio uma educação crítica e humanizadora que acontece no
contato, na interação, na brincadeira, no afeto e no acolhimento
entre pessoas. No momento em que vivemos, tudo isso fica muito
mais difícil, pois estamos em tempos de pandemia e o isolamento
social se faz necessário, para evitar a contaminação e expansão da
covid 19, respeitando as orientações dos profissionais de saúde,
que muito se esforçam no controle dessa doença.
Essa dificuldade se amplia em tempos de negacionismo da
ciência, da universidade, da pesquisa, da educação e principal-
mente da educação da infância, com políticas públicas que não
valorizam o profissional da educação infantil. Essa realidade,
que bem antes da pandemia, já apresentava grande dificuldade
de estabelecer uma rede de proteção, como por exemplo, a falta
de vagas para o acesso de bebês e crianças nas escolas de edu-
cação infantil e ausência de boas estruturas para um ambiente
acolhedor e de qualidade aos nossos pequenos.
1 Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação: Formação de Formadores
(Formep)
2 Projeto Brincadas, Grupo de pesquisa Linguagem em atividade no Contexto Escolar
(LACE) e Grupo de Pesquisa Educação Integral (GPEI)
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uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
Por isso, aqui deixamos registrada nossa preocupação com
esses educadores que não são valorizados em seus fazeres, e
que, no momento de pandemia tiveram seus projetos interrom-
pidos em março. Frustraram-se com seus planejamentos, pois
têm consciência da dificuldade, apontam os conflitos e tensões
no retorno das aulas presenciais e de todas as implicações para
organizar um ambiente seguro e acolhedor às crianças, com a
situação de superlotação e falta de professores, problemas
vividos anteriormente ao isolamento social.
Para divulgarmos o conhecimento construído a partir de
nossas dificuldades, nasceu este documento e a ideia dos encon-
tros virtuais. Sendo assim, é uma honra estar dividindo o livro e
as telas com o Grupo de Pesquisa Políticas Públicas da Infância
Criando PUC-SP, referência de educação nos espaços de atua-
ção, quer seja no chão da escola ou na universidade, pois teoria
e prática, ação e reflexão, pesquisa colaborativa são princípios
que regem nossos fazeres acadêmicos e profissionais.
Gratidão a todas e todos que possibilitaram esta realização e
aguardamos ansiosamente o retorno às escolas, pois nosso lugar
é bem perto das crianças.
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uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
INTRODUÇÃO
“Por uma ideia de criança
[...]
Por uma ideia de criança competente,
artesã da própria experiência
e do próprio saber
perto e com o adulto.
Por uma ideia de criança curiosa,
que aprende a conhecer e a entender
não porque renuncie, mas porque nunca deixa
de se abrir ao senso do espanto e da maravilha.”
(Aldo Fortunati, 2009, p. 47)
Conscientes de nosso papel como educadores e do valor
social da educação, este grupo tem como propósito contribuir
com os estudos sobre infância e apresenta como princípio
norteador de trabalho o respeito às crianças e suas múltiplas
infâncias. Compreendemos que este período da vida que vai
do nascimento aos 12 anos de idade apresenta especificidades,
“conforme a cultura ou a época em que está inserida. Por esse
motivo, compreender as especificidades e necessidades da con-
dição de ser criança, só é possível numa perspectiva histórica”
(MONTEIRO, 2019, p. 278).
Nesse sentido, O currículo Integrador da Infância Paulistana
(2015, p. 11), reconhece “a criança como sujeitos de direitos,
autônomos, portadores e construtores de história e culturas, em
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uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
sua experiência com o meio e com os outros, na sua identidade
(sua inteligência e sua personalidade)”. Diante disso, nosso
grupo de pesquisa, acredita que esses conceitos necessitam
maior aprofundamento teórico e prático, fim único das pesquisas
desenvolvidas, por nós, sobre o tema.
Em dezembro de 2019, na cidade de Wuhan (China), foram
detectados casos de uma pneumonia de origem desconhecida.
No início de janeiro de 2020, as autoridades chinesas identifi-
caram um novo tipo de coronavírus, o SARS-CoV-2, causador
da doença covid-19, que possui uma alta disseminação, tendo se
espalhado para todos os continentes, causando uma pandemia.
O primeiro caso brasileiro surgiu em fevereiro de 2020, que
resultou no planejamento e na execução pelos Estados brasilei-
ros de diferentes medidas de distanciamento social, a partir de
março de 2020.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou estado
de pandemia em março de 2020 e, de acordo com o Fundo das
Nações Unidas para a infância (Unicef), criada pela Organização
das Nações Unidas (ONU), 154 milhões de crianças ficaram sem
aulas presenciais na América Latina e Caribe devido à covid-19.
Em nosso país, algumas ações foram tomadas pelo Mi-
nistério da Saúde para conter a pandemia, tendo os Estados e
os Municípios autonomia, garantida pelo Supremo Tribunal
Federal, para a organização e a implementação das ações de
combate à covid-19. Guiados pelos órgãos locais de saúde, os
governadores e os prefeitos interromperam as aulas presenciais
e, para substituí-las, medidas foram tomadas, entre elas, o envio
de material didático para as casas das crianças e o incentivo às
aulas remotas, utilizando diversos canais midiáticos para a sua
realização, que se diferenciaram conforme as regras estabelecidas
em cada rede de ensino.
23
uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
Surgiram inúmeras questões sobre esses acontecimentos:
com suas infâncias diversas e repletas de especificidades, como
as crianças ficarão no isolamento em casa? E o papel dos educa-
dores nesse contexto? Como fica a escola com a impossibilidade
do acesso pelas crianças e sem tempo previsto para retorno das
aulas?
Tentando responder a essas questões, nossos estudos e pes-
quisas, atrelados à nossa prática pedagógica, realizada nas escolas
das infâncias, esboçam nossa posição em relação ao momento
vivido. Alguns pressupostos destacados pelo grupo se apoiam
em bases sólidas de argumentação, pois foram elaboradas num
coletivo de ideias, de práticas, de estudos e pesquisas baseadas
em teóricos da infância, em estudos sociológicos, históricos,
filosóficos, que colocam a criança e suas infâncias em primeiro
plano.
25
uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
INFÂNCIAS: DIREITOS E CONTEXTOS
“A infância é quando ainda não é demasiado tarde.
É quando estamos disponíveis para nos surpreender-
mos, para nos deixarmos encantar”
(Mia Couto, 2015, p. 28)
A visão poética da infância, como definiu Mia Couto, vista
no mundo moderno, é uma construção histórica e antropológica.
Por mais bela e romantizada que seja hoje esta visão, ela não é
igualitária. Nem todas as infâncias se constituem em um mesmo
território, ou em um mesmo tipo de família, nem desfrutam de
modo igual de condições sociais ou têm seu desenvolvimento
em um ritmo padrão e típico. Isso deve ser respeitado, afinal a
diversidade é o que caracteriza a natureza humana.
Em vários discursos institucionais, a criança é conside-
rada como um “vir a ser”. Nessa concepção de infância, elas
são retratadas como um ‘porvir’, um sujeito que ainda vai ser.
Um futuro em recorrente desconsideração de sua condição pre-
sente. É como se as crianças estivessem presas ao fardo de se
responsabilizarem pela construção de um futuro, para garantir
mudanças para o mundo, seu papel estaria prescrito apenas à
sua futura participação na vida adulta. Estes discursos, que vis-
lumbram o futuro e esquecem o presente, reforçam a visão de
“ser inacabado” associado à criança, e as desigualdades sociais
reforçam este discurso.
26
uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
A fim de garantir a dignidade e o pleno desenvolvimento
de todas as crianças, as diferenças étnicas, culturais e pessoais
devem ser respeitadas. Só com a convergência de políticas pú-
blicas, que apresentem maior atenção aos que mais necessitam,
será possível garantir o desenvolvimento equitativo, que preze,
acima de tudo, a oferta da possibilidade de desenvolvimento
das crianças em um conjunto tão diverso que compõe o que
chamamos de infância.
Este momento de pandemia reforça as diferenças, as desi-
gualdades, mas acima de tudo, traz à tona a percepção lúrida das
infâncias, que ignora suas múltiplas existências e suas máximas
capacidades de constituição e desenvolvimento. Debruçar-se
sobre as políticas públicas - em sua totalidade de ações, metas e
planos - a fim de amparar o pleno desenvolvimento de todas as
crianças, está intimamente ligado à defesa da equidade, e essa é
uma das formas da sociedade garantir estes direitos.
Outro grande desafio é fazer com que o Estatuto da Criança
e do Adolescente (ECA) e o Marco Legal da Primeira Infância1
se efetivem nos mais diferentes contextos, assegurando o mesmo
acesso aos direitos, em condições que sejam múltiplas. Primar
por condições dignas a nossas crianças, para um posicionamento
ético que deve permear todas as lutas sociais que compomos, não
apenas nos momentos de pandemia, mas em toda nossa trajetória.
Partindo desse pressuposto, a proteção à infância precisa
ser sempre a nossa primeira preocupação, tanto no que se refere
à organização de ações individuais a serem realizadas no dia a
1 LEI Nº 13.257, DE 8 DE MARÇO DE 2016.
Dispõe sobre as políticas públicas para a primeira infância e altera a Lei nº 8.069, de
13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), o Decreto-Lei nº 3.689,
de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal), a Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, a Lei
nº 11.770, de 9 de setembro de 2008, e a Lei nº 12.662, de 5 de junho de 2012.
27
uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
dia ao longo das interações família/escola por exemplo, quanto
às discussões em torno da criação e implementação das políticas
públicas para a infância.
É importante destacarmos que a medida de fechamento das
escolas é também uma ação protetiva no sentido de as crianças
não serem expostas aos danos que a covid-19 pode acarretar.
Desse modo, quaisquer decisões neste sentido precisam estar
condicionadas aos direitos fundamentais de proteção à vida e à
saúde de cada criança, bem como de todos os envolvidos dire-
tamente em sua educação e cuidado.
Também acreditamos ser de fundamental importância con-
siderarmos que ao longo deste período as crianças também estão
passando por muitas perdas em diversos aspectos. Dentre estas
perdas, podemos elencar os relacionamentos com os amigos da
escola, com os professores, com os outros familiares, a privação
de passeios e de todos os tipos de saídas de casa, afinal é fun-
damental neste momento que as crianças sejam submetidas ao
isolamento do contato com o mundo externo para sua proteção
e cuidado.
No entanto, não podemos nos silenciar diante do fato de que
a pandemia tanto evidenciou uma série de invisibilidades, quan-
to provocou muitas situações de vulnerabilidade extrema para
diversas crianças e suas famílias. Dificuldades tais como a falta
de condições para manter a higiene adequada do local, dificul-
dades de isolamento social, uma vez que muitas pessoas moram
em um único cômodo, dificuldades para oferta de alimentação
digna, perdas de moradia e o mais triste e cruel: perdas de vidas.
Diante deste triste cenário, os estudos de Arroyo e Silva
(2012) propõem que uma importante reflexão seja feita no sentido
de que nós, enquanto educadoras da infância, precisamos superar
28
uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
possíveis olhares de mera compaixão diante do sofrimento das
crianças, e compreendermos o quanto é possível a superação dos
contextos de opressão, enquanto seres capazes de transgredirem
e produzirem cultura mesmo em meio às desigualdades sociais.
Tal como o sociólogo Boaventura de Sousa Santos destaca
em sua recente obra “A cruel Pedagogia do Vírus”, a pandemia
está tornando mais visíveis as diferenças sociais, a injustiça,
a discriminação, a exclusão social e o sofrimento imenso que
muitos estão passando.
Por isso, se torna fundamental a realização de reflexões e
discussões em torno de como possibilitar que todas as crianças
tenham assegurado o direito de serem ouvidas e acolhidas em
suas necessidades, incluindo as crianças cujas infâncias encon-
tram-se ainda mais precarizadas, como afirma Arroyo e Silva
(2012). Portanto, fortalecer os coletivos e o diálogo em torno de
estratégias para consolidar os princípios em defesa dos direitos
contrários a essa lógica perversa é fundamental neste momento.
Acreditamos em uma concepção que considera a criança
como sujeito ativo, potente, capaz de produzir cultura pela pró-
pria experiência e pela sua curiosidade, tal qual Fortunati nos
apresenta a criança em seu poema, e que, portanto, se interessa,
se envolve e é capaz de compreender os acontecimentos ao seu
redor, enquanto cria hipóteses ao longo de suas interações e brin-
cadeiras, as quais manifesta de diferentes maneiras, independente
do contexto no qual estiver vivendo.
29
uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
A DISCUSSÃO DA PANDEMIA NO CENÁRIO SOCIOPOLÍTICO
“Se a história da educação é uma narrativa dos pro-
cessos sociais, políticos, culturais de humanização,
também faz parte dessa história narrar, interpretar os
brutais processos de desumanização padecidos por
crianças e adolescentes e seus coletivos em nossa
história”.
(Miguel Arroyo, 2012, p 39)
Pois bem, continuemos pela catástrofe, pela calamidade,
pela tragédia e pelo desastre que essa pandemia da covid-19 trou-
xe para a humanidade e matou centenas de milhares de pessoas
no mundo todo. Os governantes de cada país se comportam e
tratam a pandemia de diferentes formas, o que impacta direta-
mente no número de mortos de cada local. Aqui abordaremos o
cenário sócio-político com destaque às infâncias precarizadas,
ampliando a discussão sobre a educação como direito de todos.
A luta por superação das vidas perdidas
Nosso país não foi pego de surpresa, tivemos um período,
embora breve, para planejar, organizar e nos estruturarmos para o
enfrentamento da doença, “assistimos” o desenrolar da pandemia
na China, na Itália, no Irã, na Espanha, no Reino Unido e também
nos Estados Unidos, assistimos estarrecidos o número de mortos
diários nesses países e agora, que ultrapassamos a marca de 1000
30
uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
(mil) mortes diárias no Brasil, parece que estamos anestesiados,
como se vidas brasileiras tivessem menos importância.
No Brasil, o governo federal, na figura do presidente da
República, optou por lançar uma campanha publicitária cha-
mada “O Brasil não pode parar” para defender a flexibilização
do isolamento social, além de fazer uso diário das mídias para
relativizar o potencial devastador do novo coronavírus, ignorando
a seriedade do vírus e tudo que a doença nos impõe, decretando
riscos adicionais à população brasileira, impondo um verdadeiro
descompasso. A ausência de uma mensagem única trouxe um
custo alto no suporte aos líderes locais e ao enfrentamento da
pandemia, minando os esforços, enquanto equipes médicas tra-
vam diariamente rotinas incessantes para salvar vidas.
De acordo com a OMS, o isolamento social é a medida
mais eficaz para achatar a curva do contágio e não comprome-
ter a capacidade do atendimento nos hospitais e salvar o maior
número de vidas, mas a ciência e a pesquisa são ignoradas dia
após dia em nome de um projeto neoliberal que tem o apoio e
financiamento de parte dos empresários brasileiros que decla-
ram que cinco a sete mil mortes é um número baixo perto da
destruição da economia do país, quando na verdade “nenhuma”
morte pode ser aceita com naturalidade.
Vejam! O vírus não está sendo nosso único oponente.
Falta-nos liderança política que exerça com afinco e dignidade
seu papel diante da devastadora crise sanitária, liderança sóli-
da e coerente, pois na verdade estamos com um governo sem
capacidade de cuidar da vida, sem admitir minimamente que é
de sua fundamental responsabilidade garantir a saúde e o bem
estar social, condição de direito, condição de vida justa ao povo
brasileiro, ampliando a cada dia a crise sanitária e política.
31
uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
Sim, o distanciamento social é uma medida dura que freia
bruscamente a atividade econômica, mas é determinante para
a diferença entre 10.000 e 100.000 mortos. Estamos no final
de julho e já atingimos 80.000 mortes e permanecemos com a
curva em ascensão. Quantas mais serão as vidas de brasileiros
e brasileiras perdidas?
O vírus chegou ao Brasil de avião por moradores dos bair-
ros nobres dos grandes centros brasileiros, mas semanas depois
estava instalado nos morros e favelas espalhadas pelos bairros
mais vulneráveis das periferias. As comunidades têm grandes
dificuldades no cumprimento do distanciamento social, pela
grande densidade demográfica, por serem privados de saneamen-
to básico, por dependerem do trabalho informal. São brasileiros
que vivem abaixo da linha da pobreza, parcela significativa da
população, grande parte sem acesso ao cadastro único1, abando-
nados pelo poder público. Esses são os que mais sofrem.
Está montado um painel escancarado da desigualdade
social, e um descaso total com aqueles que não têm como se
prevenir, sendo que o isolamento social deveria ser um direito.
Cada vida perdida pode significar um amigo ou amiga, um
avô ou avó, um sogro ou sogra, um pai ou mãe, um irmão ou
irmã, um primo ou prima, um sobrinho ou sobrinha, um filho ou
filha, um neto ou neta, pessoas que amavam e que eram amados,
que detinham saberes, conhecimentos e são insubstituíveis. São
únicos na composição de cada família, vítimas dessa pandemia.
Vidas humanas, que hoje fazem parte de estatísticas, mas não
somos apenas números.
1 O Cadastro Único é um registro que permite ao governo saber quem são e como
vivem as famílias de baixa renda no Brasil. Ele foi criado pelo Governo Federal
e é operacionalizado pelas prefeituras. Ao se inscrever ou atualizar os dados no
Cadastro Único, a pessoa pode tentar participar de programas sociais como o Bolsa
Família.
32
uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
Estamos refletindo muito durante este período e teremos
muito mais o que refletir quando estivermos retomando a nor-
malidade em nossas atividades, mas... o que significa voltar ao
normal? Levantar bem cedo, ainda escuro, banhos rápidos, café,
se der tempo, levar as crianças para a escola, ônibus atrasado,
feira, quintal sujo, metrô lotado, fome, pneu furado, consulta
médica, vazamento na torneira, mensagens, roupas no varal,
carro sem gasolina, contas a pagar, fome de novo, trabalho da
escola, mercado, dente doendo, amamentar, fila no banco, cabelo
sem corte, buscar as crianças na escola, contar história, passar
roupas...
Rotinas estonteantes que nos consomem e em alguma
medida nos impedem de realmente refletir sobre os encaminha-
mentos de nossas vidas. A própria rotina nos leva a superação
de tantas e tantas dificuldades, traumas e derrotas. A vida nos
redimensiona quando sobrevivemos e podemos nos beneficiar da
arte sem regras ou diretrizes, mas com a capacidade de despertar
novas expectativas em nossas vidas.
Sendo assim, a arte pode nos ajudar por oportunizar o
enfrentamento da dor com mais serenidade e também auxiliar
na diminuição dos níveis de tensão, estresse emocional e físico,
tristezas, angústias e ansiedade. Seja por meio da música, da
dança, de um poema, de um texto, ou de uma grande pintura.
Diante dessa nova configuração da realidade, seguimos utilizan-
do intensamente as redes de comunicação.
Karnal (2020) ao discutir as relações pessoais no mundo
pós-pandemia, ressalta que na tradição histórica, depois de um
período de recolhimento e morte, uma grande explosão de
vida. Que assim seja!
33
uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
O desafio entre o diálogo da educação e consumo consciente
Outra vertente a se tratar na educação refere-se ao consu-
mismo e as suas consequências às pessoas e ao mundo. Para
isso, propomos a discussão ampliada de consumismo, que se
refere às relações de poder existentes e exercidas pelas grandes
corporações e as agências de regulação mundial que, segundo
Tavares e Menarbini (2019, p.4), são as agências ligadas às
instituições financeiras internacionais, entre elas o FMI2, Banco
Mundial3, OCDE4, de que o Brasil é signatário e que, atualmente
determinam, por regulamentação, os princípios reguladores da
Educação no mundo inteiro. Essas agências influenciam os di-
ferentes setores, inclusive o cultural e o da educação, impondo
padrões de regulação, oriundos da perspectiva neoliberal, que traz
o conceito de desregulação e se transformou em senso comum
na sociedade atual. Segundo Mota Junior e Maués (2014 s/p),
2 O Fundo Monetário Internacional (FMI) é uma organização internacional que
resultou da Conferência de Bretton Woods (1944). Concebida no final da Segunda
Guerra Mundial, seus idealizadores tinham por objetivo construir um arcabouço
para cooperação que evitasse a repetição das políticas econômicas que levaram à
Grande Depressão dos anos 1930 e ao conflito global que se seguiu. Disponível
em: http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/politica-externa/diplomacia-economica-
comercial-e-financeira/119-fundo-monetario-internacional . Acesso em: 29 jun
2020.
3 O Banco Mundial é um órgão ligado às Nações Unidas que atende a 187 países
membros. É a maior fonte global de financiamento voltado ao desenvolvimento, com
um financiamento em áreas como gestão pública, infraestrutura, desenvolvimento
urbano, educação, saúde e meio ambiente.
4 A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) cons-
titui foro composto por 35 países, dedicado à promoção de padrões convergentes
em vários temas, como questões econômicas, financeiras, comerciais, sociais e
ambientais. Suas reuniões e debates permitem troca de experiências e coordenação
de políticas em áreas diversas da atuação governamental. Disponível em: http://
www.itamaraty.gov.br/pt-BR/politica-externa/diplomacia-economica-comercial-
e-financeira/15584-o-brasil-e-a-ocde . Acesso em:29 jun 2020
34
uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
O objetivo do Banco Mundial não é apenas o de
descrever as mudanças processadas na educação
brasileira nos últimos 15 anos, nem tampouco o de
fazer um mero elogio desinteressado das políticas e
reformas educacionais implementadas pelos últimos
governos, mas há também uma motivação política,
que é exatamente a de seguir orientando o caráter e os
rumos das políticas educacionais no país no sentido
de manter e aprofundar a hegemonia de seu modelo
de educação e sociedade em todo o mundo.
Já em relação à cultura, conforme Hall (1997) nos alertava,
a principal investida, é a de retirar do Estado as suas respon-
sabilidades na regulamentação dos assuntos culturais e abrir a
cultura, de forma gradual, ao jogo livre das forças de mercado.
Nesse sentido, a cada dia se constata o domínio dos meios de
comunicação, nos moldando conforme os interesses da globa-
lização, definindo o que podemos, ou não, ver em nossas telas,
comprar nas prateleiras, influenciar padrões de conduta moral,
de beleza e de ação, entre outros, além de impor conceitos de
bons cidadãos e de pessoas merecedoras, ou não, de direitos
sociais, sem nenhum compromisso com a multiculturalidade,
que é entendida neste artigo como as várias culturas existentes
no território brasileiro e às necessidades da nossa sociedade.
No que se refere à educação, as grandes corporações, nos
últimos anos, têm considerado a educação como um grande ne-
gócio e, paulatinamente, investem na área educacional brasileira,
dominando grande parte das instituições educacionais destinadas
à formação de professores, o mercado editorial e, atualmente, se
expandindo para as instituições da Educação Básica.
Recentemente, esses grupos tiveram forte inserção no
processo de discussão e aprovação da Base Nacional Comum
35
uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
Curricular (BNCC), aprovada em 2017. Ações orquestradas
que nos revelam claramente um processo de mercantilização,
caracterizado pela formação de grandes grupos empresariais da
educação. Dessa forma, indagamos: temos consciência dessas
influências nas nossas vidas? Os padrões impostos correspondem
às necessidades da nossa gente? A multiculturalidade do nosso
povo merece ser respeitada?
Se a resposta foi sim para as questões aqui propostas, mais
do que nunca urge repensarmos nossas ações pessoais e profis-
sionais em prol de uma educação de qualidade, que considere
as diferenças, a cultura local e a real participação de todos os
envolvidos no processo educacional, alicerçados no respeito, na
justiça social, na solidariedade em favor das pessoas.
O consumo deve ser, sim, feito de forma consciente, obser-
vadas suas consequências para a humanidade e o meio ambiente,
sempre considerando os conhecimentos acumulados e, também,
os fundamentados na Ciência. Mas no que se refere ao consu-
mismo consciente é preciso enxergar além da aparência, isto é,
das intenções existentes nos pilares que sustentam as propostas
impostas pelo mercado econômico, que operam em prol dos
seus lucros e na lógica de reprodução do modelo econômico
existente, não demonstrando compromisso com a diminuição
das desigualdades sociais e da garantia dos direitos de cidadania,
mantendo o ciclo já instituído, no qual quem tem voz e vez são
aqueles que possuem o poder econômico.
Nessa direção, fica o convite para que nos dediquemos a
estudar, discutir, pesquisar a realidade e agir em prol dos es-
tudantes e o real bem-estar social; e respondermos à questão:
Estado mínimo é bom para quem?
37
uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
CRIANÇAS: SUJEITOS DE DIREITOS EM QUALQUER TEMPO
“Uma escola possível para o povo tem de começar
por criar condições para sua existência material,
sem a qual será romântico reprogramar alternativas
pedagógicas inovadoras”.
(Miguel Arroyo, 1991a, p. 41)
O crescente número de infectados e mortos pelo novo corona-
vírus tem gerado grandes preocupações e exigido a tomada decisões
claras referentes às políticas públicas de proteção à infância. Nesta
seção destacamos a vulnerabilidade socioeconômica das famílias
e a ações em torno da alimentação escolar para superar o caráter
assistencialista e se constituir em garantia do direito de todos.
A vulnerabilidade das crianças e suas famílias
Diante da emergência decretada na maior parte das cidades
do Brasil, gostaríamos aqui de apontar a situação das famílias que
perderam suas fontes de renda, pois não podem mais sair para
trabalhar. Situação complexa, a qual amplia-se quando se trata de
uma família com crianças, afinal teriam mais dificuldades para
buscar suas fontes de renda, devido ao fato de não terem locais
para deixar seus filhos, enquanto trabalham.
Antes da Pandemia, o Brasil apresentava uma taxa de 11%
de desempregados no primeiro trimestre do ano e uma taxa de
38
uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
40% de empregados informais. A opção de governos das três
esferas tem sido de atender prioritariamente os interesses dos
grandes empresários e do pagamento de dívidas aos grandes
bancos, em detrimento de garantir condições de subsistência das
famílias que foram lançadas na miséria durante esse período de
isolamento social.
Medidas como ampliação de parcelas do Programa Bolsa
Família, pagamento de auxílio – emergencial têm sido tímidas,
diante do quadro de ampliação de desigualdades apresentado.
É preciso mencionar que as medidas voltadas ao pagamento de
auxílios emergenciais não são suficientes para conter as políticas
de redução drástica de salários e do desemprego que se amplia
a cada dia.
Nesse período, tivemos um crescimento do número de
famílias em situação de rua. Situação para a qual, pelo menos
da cidade de São Paulo, não está sendo acompanhada por uma
política de monitoramento de encaminhamento dessas famílias
para os abrigos. Tivemos uma determinação judicial para que
a Prefeitura oferte lares temporários, mas até a escrita desse
documento, nada foi anunciado quanto a prazos e locais.
Sendo assim, aqui, sinalizamos alguns aspectos da vulnera-
bilidade socioeconômica de famílias e suas crianças: desemprego,
perda ou diminuição da renda, ampliação da situação de rua.
Acreditamos que as políticas desenvolvidas até então, têm priori-
zado garantir interesses de grandes capitalistas, os quais precisam
manter seus lucros acima de qualquer situação de emergência,
em detrimento de ações que amparem as famílias mais carentes.
O Brasil já era um país de fortes desigualdades sociais e de
uma histórica disparidade na distribuição de rendas. Observamos
que nesse período de crise, tais “abismos” estão ampliando de
39
uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
tamanho. Se nada for feito no sentido de corrigir a “Necropolíti-
ca1” aqui praticada, para além do covid-19, teremos que recons-
truir um país mergulhado no caos da fome e de suas perversas
consequências.
De acordo com Pardim e Sanches (2020), diante desse qua-
dro de crise e desigualdades, muitas crianças buscam a segurança
do espaço escolar para vivenciarem suas infâncias e adolescên-
cias. Para as autoras citadas, como é abordado no próximo item,
a escola é um lugar possível para dar vazão aos sentimentos e
emoções, pois no encontro com parceiros da mesma idade ou
com adultos de referência, conseguem ter experiências de inte-
ração para sentirem-se ouvidos, considerados e acolhidos, pois
sabem que nesse espaço estão, por hora, livres de situações de
violação que as afligem.
A retirada das crianças da escola, um lugar seguro e com
alimento
O Brasil tem um dos maiores sistemas públicos de educação
e para muitas crianças este espaço é um dos mais seguros para
o desenvolvimento de suas infâncias e o lugar mais propício ao
aprendizado. Em tempos de pandemia, com meninos e meninas
sem poder acessar tal espaço presencialmente, urge a preocupa-
ção dos educadores de como está a segurança dessas crianças.
1 Necropolítica é um conceito desenvolvido pelo filósofo negro, historiador, teórico
político e professor universitário camaronense Achille Mbembe que, em 2003,
escreveu um ensaio questionando os limites da soberania quando o Estado escolhe
quem deve viver e quem deve morrer. O ensaio virou livro e chegou ao Brasil em
2018, publicado pela editora N-1. Para Mbembe, quando se nega a humanidade
do outro, qualquer violência torna-se possível, de agressões até morte. Ferrari, M.
O que é necropolítica. E como se aplica à segurança pública no Brasil. In: https://
ponte.org/o-que-e-necropolitica-e-como-se-aplica-a-seguranca-publica-no-brasil/.
Acesso em: 01/06/2020.
40
uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
Com o advento do atendimento remoto, muitas ações pro-
postas focaram interações com o objetivo de saber como estão as
múltiplas realidades das crianças em suas residências, como estão
as questões de higiene, saúde e prevenção e, principalmente, como
está a saúde emocional dos pequenos. É a primeira pandemia de
todos, e a criança, ao reproduzir interpretativamente o que absorve
do mundo ao redor, precisa de ações e vivências que propiciem
mínima estabilidade para que se sintam em segurança em um
momento tão adverso. Houve uma intensa produção de materiais
e vivências com esse foco por parte dos educadores, para que as
interações e as brincadeiras, eixos norteadores das infâncias, fos-
sem preservados para que o impacto fosse minimizado.
Outra questão que urge neste contexto é a alimentação.
A educação vem crescendo em concepções humanas, sociais e
comer, se alimentar, como já disse Abreu em 1995 (note-se que
há muitos anos) é um ato pedagógico.
As políticas públicas de alimentação escolar caminharam
para superar o caráter assistencialista de “merenda para alunos
carentes” até se aproximarem da concepção de garantia do di-
reito de todos a uma alimentação adequada (ABREU, 1995, p.
6). Alimentação é agregação e partilha. Uma bolachinha ou um
café são sempre aguardados em qualquer reunião. Comer é ato
de amor. O preconceito contra crianças e jovens que vão à escola
“só para comer” foi gradualmente substituído pela promoção
da autonomia e cidadania através de uma educação alimentar
curricular e pedagógica. Em um diálogo intertextual é válido
lembrar a música de 1993, “Um homem na estrada”, do grupo
Racionais MC’s: “Molecada sem futuro, eu já consigo ver/
vão na escola pra comer, apenas nada mais/ Como é que vão
aprender sem incentivo de alguém/ Sem orgulho e sem respeito,
sem saúde e sem paz” (BROWN, Mano, 1993).
41
uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
Hoje, quase trinta anos depois, a reflexão é que a alimen-
tação de qualidade é um direito de todos os cidadãos, não uma
concessão ou outorga. E neste momento de pandemia, a refle-
xão fica mais densa, porque nossas crianças e jovens precisam
se alimentar, mas não com o estigma de serem carentes, e sim
com a condição de sujeitos de direitos que são. Neste contexto
pandêmico, o que enche os olhos e o coração, é ver a sociedade
em geral, com destaque às escolas, ser uma das primeiras a se
articular para arrecadação e distribuição de cestas básicas para as
nossas crianças e jovens e, posteriormente, ver esse movimento
se expandir, demandando a reformulação de políticas públicas
que garantam esse direito.
Alimentação não é sobrevivência, é vivência. E com esse
esperançar, cabe outro diálogo intertextual, que desta vez com
outro expoente da música brasileira, a banda Titãs: “A gente não
quer só comida/ A gente quer comida, diversão e arte/ A gente
não quer comida/ A gente quer saída para qualquer parte”
(ANTUNES, FROMER E BRITO, 1987/2008).
Aproveitando ainda mais esse diálogo, enquanto não há
“saída para qualquer parte”, enquanto o isolamento social per-
manece, que a comida e a segurança estejam com os nossos,
principalmente os pequenos, acompanhada de ludicidade e arte.
Que as escolas, cada vez mais se constituam como espaços de
convivências e partilhas. Que para as crianças e jovens seja
servido do bom e do melhor, como para qualquer outro cidadão.
Que haja reflexões e ações para transpor os muros da escola e
a alimentação se constitua como ação pedagógica, ainda mais
em tempos tão difíceis. Que haja políticas intersetoriais para
garantia de uns dos direitos mais básicos: se alimentar e se
sentir seguro.
43
uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
A ESCOLA DA INFÂNCIA E AS CULTURAS INFANTIS
“As crianças são seres sociais, têm uma história,
pertencem a uma classe social, estabelecem relações
segundo seu contexto de origem, têm uma linguagem,
ocupam um espaço geográfico e são valorizadas de
acordo com os padrões do seu contexto familiar e
com a sua própria inserção nesse contexto.”
(Sonia Kramer, 1999, p.01)
Nunca em nossa história tivemos tantas crianças frequen-
tando espaços educativos destinados ao atendimento da primeira
infância. Sem dúvida, este é um dado importante para ser co-
memorado, pois o acesso das crianças a estes espaços, ampliam
suas possibilidades de interações e experiências com seus pares
e outros adultos fora do ambiente doméstico. Diante desta con-
quista histórica da Educação Infantil é preciso que façamos uma
reflexão profunda, a respeito da forma como estas instituições
se organizam e suas reais contribuições para a formação das
identidades infantis.
Olhar para essa perspectiva do acesso à Educação Infantil
implica, portanto, compreender que as crianças são coautoras
de cultura, sendo a escola um local privilegiado para o seu de-
senvolvimento, para a aprendizagem e para a socialização. Esta
é uma afirmativa que deveria ser entendida e confirmada por
todos educadores e educadoras que trabalham com a infância.
Infelizmente, as desigualdades sociais e a formação docente de
44
uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
baixa qualidade, ainda não possibilitaram, a compreensão, da
urgência e necessidade de que todas as nossas crianças viven-
ciem, nas escolas, oportunidades para que possam se desenvolver,
aprender, interagir a partir dos seus saberes e culturas.
Não obstante, é preciso ressaltar que a escola, como espaço
social, inserida em uma sociedade injusta e preconceituosa, mui-
tas vezes acaba sendo um local onde se perpetuam e se agravam
as desigualdades sociais. Para diminuir estas desigualdades é
essencial o fortalecimento da escola pública, local onde as crian-
ças podem experimentar outras formas de ver e compreender o
mundo, especialmente na Educação Infantil. É preciso investir
para que a escola da infância, seja um espaço em que as crianças
possam ser elas mesmas, mesmo que o ambiente não seja o mais
acolhedor, mesmo que os adultos não escutem ou olhem para as
crianças com a devida atenção, porque
as crianças vão produzir culturas infantis, inclusive
resistindo, transgredindo, rebelando-se, desestabili-
zando a ordem, recriando outros modos de existên-
cias, procurando fugir das amarras que as subjetivam.
(MACEDO et al., 2019, p. 97)
A Rede Municipal de Educação da cidade de São Paulo, por
exemplo, possui uma documentação que coloca a criança como
sujeito de direito e produtor de cultura. De acordo com o docu-
mento Currículo da Cidade: Educação Infantil, as instituições
que atendem as crianças de 0 a 5 anos, devem oferecer situações
e constituir propostas que “estejam vinculadas às necessidades
autênticas dos bebês e das crianças, às suas perguntas, aos seus
gestos, às suas experiências, realizando articulações e tecendo
configurações entre as culturas da vida e as culturas da escola”
(SÃO PAULO, 2019, p. 20).
45
uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
Escrever isso em um, ou vários documentos garante a legali-
dade, mas não garante a efetivação da prática. Quando pensamos
em criança, pensamos em uma pessoa cheia de potencialidades,
cheia de histórias, de cultura. Pensamos em alguém que está no
mundo e com ele se desenvolve e, também, o desenvolve.
É preciso olhar para estas crianças; é preciso escutá-las,
observá-las e construir com elas um planejamento que atenda às
suas necessidades, e que realmente possibilite a construção de
cultura, em que elas sejam coautoras. A escola precisa ser este
local de excelência, de desenvolvimento, de aprendizagem, de
interação, onde as relações com seus pares e com os adultos seja
baseada no afeto, na compreensão, no estreitamento de laços,
contribuindo para o fortalecimento das experiências vividas
neste espaço coletivo.
No primeiro parágrafo, falamos que muitas crianças con-
quistaram o direito ao acesso à Educação Infantil, mas é pre-
ciso considerar o fato de que ainda há crianças fora da escola
e mesmo tendo conquistado o direito de estar nestes espaços,
a garantia quanto ao acesso à educação de qualidade não foi
conquistada. Este direito das crianças de viver experiências
verdadeiras e significativas, que permitam que cada uma delas
tenham a possibilidade de conhecer e valorizar a cultura de seu
país, etnia, região, amplia as possibilidades de reconhecerem-se
nas propostas vividas e produzir cultura com seus pares e com
os adultos que compõem esses espaços educativos.
Reconhecer que as crianças possuem interesses, que cons-
troem hipóteses a respeito da realidade nas interações que reali-
zam, permite ao professor fazer um planejamento cuidadoso de
experiências, de modo que as crianças estabeleçam uma conexão
profunda com aquilo que é proposto. Isso implica reconhecer o
potencial que todas as crianças possuem para aprender, quando
46
uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
podem participar de propostas de aprendizagem fundamentadas
em interações, brincadeiras e explorações, que permitam-lhes
desenvolver hipóteses e teorias a respeito da sua realidade, a
partir da sua ação concreta sobre ela, nas diferentes experiências
que vive.
Muitas crianças ainda vivenciam experiências de reprodu-
ção da cultura dominante, da reprodução de valores e compor-
tamentos aprovados pela sociedade. Segundo Macedo (2015,
p. 12 apud MACEDO et al., 2019, p. 83), “o mundo é pensado
a partir da perspectiva do adulto e para o/a adulto/a e, nele, as
crianças são submetidas à autoridade desses, sendo esta uma
característica da nossa sociedade”. Isso comprova que ter leis
que garantam às crianças direitos, não significa que no cotidiano
das escolas isso realmente ocorra.
Como sujeito que toma iniciativa e que busca, por meio de
sua curiosidade, o mundo e a pessoa, busca saber a respeito de
tudo que a cerca, a criança experimenta, testa, interroga, inves-
tiga e age em relação à realidade e a reinventa. Num momento
como esse, de isolamento social, frente à pandemia, as crianças
continuam sendo potentes e interpretam a realidade deste mo-
mento. É imprescindível que as escolas da infância reiterem seu
compromisso com esta concepção de criança, que exerça a escuta
dos seus interesses e auxilie as famílias na compreensão de que
é preciso viver com as crianças essa realidade, enxergando toda
a potência e interesses que os pequenos têm.
Justamente nesse momento tão crucial para todos nós,
precisamos pensar políticas públicas efetivas que defendam os
direitos das crianças, para que todas elas, independentemente
de sua raça, cor, etnia, sexo, religião, classe social tenham a
oportunidade de construir cultura, de construir um mundo que
as veja como sujeitos de direito, que tenham voz e vez, que
47
uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
sejam ouvidas, que sejam vistas, percebidas em seus desejos e
necessidades, dentro e fora da escola.
Friedmann (2020, p. 112) afirma que as atitudes de escuta
para com as crianças, por parte dos adultos são raras e desafia-
doras, pois o adulto ainda se e se percebe como o dono do
saber. “Eles têm grande dificuldade de silenciar e de escutar
verdadeiramente, de acreditar e reconhecer que as crianças têm
saberes diferentes e que é essencial conhecê-los”. E na escola,
essa escuta cuidadosa do adulto precisa acontecer, pois, as rela-
ções de convivência construídas cotidianamente devem favore-
cer o pleno desenvolvimento da criança. Sobre a escola e essas
relações, o Currículo da Cidade: Educação Infantil aponta que:
a escola é um lugar privilegiado tanto para a am-
pliação e diversificação de repertórios, saberes e
conhecimentos de diferentes ordens como para
estabelecer o encontro e a convivência entre bebês,
crianças e adultos, a fim de construir outras formas
de sensibilidade e sociabilidade que constituam
subjetividades comprometidas com a ludicidade, a
educação inclusiva, a democracia, a sustentabilidade
do planeta, o rompimento de relações de dominação
etária, socioeconômica, étnico-racial, de gênero,
regional, linguística, religiosa. (p. 21)
Sem políticas públicas efetivas e eficientes e sem uma for-
mação docente em que se aprenda a olhar para os saberes das
crianças e que oportunize, na escola e fora dela, momentos para
que produzam cultura, de nada adianta termos leis que garantam
o acesso delas às instituições educacionais.
Para que as escolas sejam realmente um modelo de in-
tegração, desenvolvimento, aprendizagem, socialização, a
48
uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
necessidade de construirmos políticas públicas que garantam
que as crianças possam experienciar diferentes culturas, ao
mesmo tempo em que construam cultura. Mesmo que estejamos
distantes, não podemos perder de vista a necessidade de conti-
nuarmos a ouvir as crianças, de percebermos o que precisam
para continuar se desenvolvendo plenamente nesse momento
de isolamento social.
Como fazer o professor compreender essa necessidade de
escuta atenta às crianças? É preciso investimento na formação
do professor. O desenvolvimento profissional docente passa
pela construção de reconhecer as potencialidades das crianças e
das infâncias, pela percepção das necessidades delas, pois com
educadores que escutem, percebam, incentivem as crianças,
longe do adultocentrismo que ainda vemos, certamente, teremos
escolas que permitam vivências realmente significativas para
nossos bebês e crianças, compreendendo a condição social e o
protagonismo deles na produção das culturas infantis, por meio
do exercício cotidiano de refinar os olhares diante do imprevisto,
das criações, das engenhosidades e das formas como bebês e
crianças transgridem as regras impostas pelos/as adultos/as nos
espaços públicos da Educação Infantil (SÃO PAULO, 2015,
p.10).
As políticas públicas no Brasil precisam avançar, é preciso
garantir a todas as crianças um atendimento igualitário e equâ-
nime, além de garantir que todos os profissionais da Educação
possam ter um desenvolvimento que atenda às necessidades indi-
viduais e coletivas das crianças e as especificidades da infância.
Estamos, neste tempo de crise, com a pandemia, em tempo de
redescoberta e de reaprender e este momento pode ser uma ótima
oportunidade de nos (re)conhecermos e vivermos juntos, fazendo
coisas que nos aproxime e nos permita viver com as crianças
49
uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
interações verdadeiras e significativas, e se no final de tudo isso,
tivermos aprendido que estar com elas é valioso, teremos feito o
melhor para nossos bebês e crianças, teremos lhes ensinado que
cada momento vale e que cada um de nós é importante.
51
uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
A CRIANÇA COMO SUJEITO SOCIAL
QUE CONSTRÓI SUA HISTÓRIA
“Há séculos as crianças esperam ter credibilidade.
Credibilidade nos seus talentos, nas suas sensibili-
dades, nas suas inteligências criativas, no desejo de
entender o mundo.”
(Loris Malaguzzi, 1999, p. 19)
Neste período de quarentena que estamos vivendo, e em que
o isolamento social se faz necessário, escolas estão com portas
fechadas, nossas crianças estão em casa no meio das informações,
incertezas, faltas, dificuldades e perdas; estão sendo privadas de
terem o contato com outras crianças e sua aprendizagem e desen-
volvimentos podem estar sendo prejudicados. Políticas públicas
se fazem necessárias para a educação do nosso país não parar.
Arroyo (2019) em entrevista publicada na plataforma Edu-
cação & Participação, argumenta que a dicotomia histórica entre
humanização de quem pertence aos setores mais favorecidos da
sociedade e a desumanização dos mais pobres, é essencial para
compreender o papel hoje da escola como espaço de garantia de
vida. Estamos em um momento em que a escola tem que pen-
sar radicalmente sobre qual infância e qual adolescência estão
chegando até ela.
Pensando nisso, é de extrema importância a formação con-
tinuada do professor voltada à formação integral da criança na
52
uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
perspectiva do pleno desenvolvimento e integração. A partici-
pação direta das crianças na posição de sujeitos e atores sociais,
ativos e criativos, que constroem sentidos e dão significados
para coisas, objetos e lugares, se apropriam do conhecimento,
cultivam a imaginação e estimulam seus sonhos se tornando
crianças pertencentes à cultura em que estão inseridas.
O protagonismo infantil traz a ideia da criança ser a própria
autora da sua aprendizagem, acreditando em seus talentos e na
sua inteligência para entender o mundo, como afirma Malaguzzi
(1999). De um lado, ela se torna agente na sociedade, deixa de
ser quem somente recebe as ordens e informações, passando a
ser sujeito ativo em diferentes contextos do seu dia. Por outro
lado, o protagonismo traz a responsabilidade para uma constru-
ção coletiva, em que se faz necessário o ouvir e o olhar para a
criança por meio da interação e relação com o espaço, com o
tempo e com o outro.
Mediante esse momento atípico que estamos vivendo,
precisamos oportunizar esse protagonismo infantil a todas as
nossas crianças, sem exceção, precisamos garantir seus direitos
de aprendizagens para a formação de seres humanos mais ativos
na sociedade, com compromisso e responsabilidade, capazes de
se inventar e reinventar diariamente, que tenham a empatia com
o próximo, formando uma sociedade mais justa e humana.
Para isso, é preciso considerar a criança como um ser ca-
paz, que precisa ser incentivada para expressar seus sentimentos
e necessidades. Por meio da brincadeira, ela aprende, e terá a
possibilidade de escolher e tomar decisões, de experimentar o
mundo, de criar relações com o outro, de elaborar sua autonomia
e organizar as suas ações. Ao utilizar o brincar como uma lingua-
gem própria de relação com o mundo, desenvolverá habilidades
para a sua formação e seu desenvolvimento integral.
53
uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
Dessa maneira, defendemos uma concepção de criança
reconhecida como alguém que é agora, e não como um vir a
ser, uma criança como sujeito de direitos, que deve ser ouvida
e levada a sério nas suas especificidades: que opina, participa,
deseja, questiona, experimenta, observa e escolhe.
Uma criança produtora de cultura, porque quando ela entra
em contato com os conhecimentos historicamente construídos,
ela deixa a sua marca e produz culturas infantis nas suas diversas
interações sociais.
Fochi (2015), citando Malaguzzi (1999), enfatiza a impor-
tância de darmos credibilidade às crianças, uma vez que elas têm
capacidade de decidir, opinar, de criar, de inventar, produzir nas
suas diversas linguagens “É necessário que se entenda que isso
que elas querem é demonstrar aquilo que sabem fazer. Elas têm
cem linguagens a serem aprendidas e também a serem mostradas.
A paixão pelo conhecimento é intrínseca a elas” (MALAGUZZI,
1999, p. 19).
Assim, ela aprende e apreende o mundo na sua integrali-
dade, sendo sujeito do processo educativo e não objeto. Dessa
forma, o professor não precisa apresentar os conhecimentos o
tempo todo, o trabalho pedagógico pode e deve se pautar num
movimento dialógico para potencializar as descobertas e expe-
riências dos educandos.
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uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
RELATOS DE INFÂNCIA E O OLHAR DO PROFESSOR
“Nós não vemos o que vemos, nós vemos o que
somos. Só veem as belezas do mundo, aqueles que
têm belezas dentro de si”.
(Rubem Alves, 2015, p. 133)
Um menino negro correndo com sua pipa no meio da rua.
A pipa cai no chão e ele a examina. Corta um pedaço de linha
com os dentes e, em seguida, lambe os dedos. Certo da firmeza
da linha na pipa, o menino volta a correr. Às vezes olha para
trás, conferindo se a pipa sobe com o vento provocado por seu
rápido deslocamento.
Uma pracinha com aparelhos de ginástica. Uma senhora
acompanha três crianças que sobem e descem seus corpos repe-
tidas vezes. A cada descida o som do aparelho ecoa pelo bairro.
As crianças riem, repetem o movimento, olham entre si buscando
a cumplicidade entre seus pares. A senhora alerta, parece cuidar
para que não se machuquem.
Na escola de educação infantil do bairro, duas mulheres
acompanhadas por duas crianças buscam a cesta básica envia-
da para poucas famílias em tempo de Pandemia. Agradecem
aliviadas por encontrarem seus nomes na lista de beneficiários,
assinam e seguem com a cesta em mãos. A mãe repara a au-
sência da máscara no rosto do filho. Aflito com a repreensão
materna o menino se apressa para recolher a scara pendurada
56
uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
na grade da escola: “Agora está contaminada! Você não pode
colocar mais”!
Montando bloquinhos e organizando os bonecos em fila,
a criança vai compondo histórias, criando enredos para seus
personagens e brinquedos que estavam empoeirados em potes
de sorvete. Os momentos de ócio por falta de escola e atividades
extras possibilitam oportunidades de retorno à brincadeira que
estava esquecida.
Escadas com corrimão de madeira, a cada viga empilhada,
um bonequinho sentado. No mesmo cenário, um robô colorido.
Então o processo criativo é interrompido abruptamente. O me-
nino precisa acessar a plataforma para a aula virtual. A profes-
sora pediu para fotografar o desenho e enviar por e-mail. Cadê
o celular para tirar a foto? A internet caiu? Qual é a senha para
ingressar na sala? A aula começa e quando termina, o menino
nem lembra mais dos brinquedos. Já está em frente à tela mesmo
e aproveita para assistir um vídeo no YouTube.
As cenas descritas são reais. Retratam diferentes modos de
sentir a pandemia e a pluralidade das infâncias. Nas periferias
das grandes cidades, poucas crianças cumprem o isolamento com
suas famílias. Vivendo em casas precárias de poucos cômodos,
muitas crianças dividem os espaços com os irmãos e outros
familiares. As vielas parecem labirintos estreitos, os sons dos
vizinhos misturam-se com os ruídos de seus lares.
A orientação “#FiqueEmCasa” veiculada nos principais
meios de comunicação, contrasta com a necessidade das infân-
cias, cujas famílias não conseguem garantir o atendimento de suas
necessidades básicas. Sem escola e com pouco espaço físico, as
ruas são as únicas alternativas para passar o tempo. Embora as
escolas públicas tenham possibilitado meios remotos de acesso
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uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
à escola, poucas são as crianças que conseguem usufruir dessa
tecnologia.
Por outro lado, crianças cujas famílias têm recursos para
garantir que as atividades escolares não sejam completamente
interrompidas estão imersas num cotidiano marcado pelo excesso
de tarefas a cumprir. A obrigatoriedade de acesso às platafor-
mas online e a pouca autonomia para realizarem propostas sem
a supervisão dos adultos tem impactado significativamente as
suas rotinas e relações afetivas. Pais e responsáveis dividem a
atenção entre afazeres domésticos, demandas profissionais e/ou
ameaças de desemprego e cuidados com as crianças.
Com a pandemia, temos testemunhado a explicitação de
uma desigualdade que acompanha crianças e educadores
muito tempo, modificando profundamente nossa forma de vi-
ver em sociedade e evidenciando o desrespeito aos direitos de
nossas crianças.
Como podemos minimizar essas desigualdades? Nosso
papel como educadoras e educadores da infância precisa estar
comprometido com as crianças, com as suas capacidades e com
a maneira como as enxergamos. Na perspectiva de Malaguzzi
(2016), a criança precisa ser vista como sujeito da sua própria
aprendizagem, ativa, competente e capaz. Nessa perspectiva, será
que o momento vivido com a pandemia, materializado em tarefas
enviadas às crianças e famílias via sistema on-line, será capaz
de proporcionar um ambiente para produzir cultura, promover
o desenvolvimento e a aprendizagem esperados pela escola?
Embasados no trabalho de Lajonquière em “Infâncias e
Ilusão (psico)pedagógica” (1999), consideramos importante
questionarmos acerca da crença de que as experiências de
aprendizagens válidas sejam, tão somente, aquelas chanceladas
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uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
pela instituição escolar, deixando de qualificar as aprendizagens
de natureza diferente, ou seja, aquelas resultantes dos tempos
vividos em outros espaços.
Assim como posto por Emilia Cipriano (2020)1, o tempo vivi-
do pelas crianças junto às suas famílias neste período de pandemia,
não é tempo perdido, mas vivido. Considera que precisamos pensar
sobre a diversidade de experiências construídas pelas crianças e
suas famílias - “experiências de conflito, de superação, de relações
que estão sendo percebidas”. Em acordo com a pesquisadora, con-
sideramos que é imprescindível pensarmos acerca da construção
de um planejamento conjunto a partir do entrelaçar da escola, da
criança, das famílias e suas realidades. É importante ressaltar que
isso será possível mediante o diálogo e a escuta ativa das diferentes
vozes, tendo a avaliação conjunta e seu caráter mediador como
fator imprescindível no direcionamento e redirecionamento das
propostas pedagógicas realizadas na escola.
Não podemos desconsiderar toda a vivência da criança em
seus contextos familiares. Neles as crianças poderão aprender
a cozinhar com seus pais, a arrumar a cama com o irmão mais
velho, a regar as plantas com os avós ou a cuidar do irmão mais
novo. Serão vivências para além das chanceladas pela instituição
escolar, e que farão com que a crianças sejam as protagonistas
de suas aprendizagens.
Dessa maneira, compartilhar a comida, acompanhar, durante
o isolamento social, uma plantinha florescer, guardar seus brinque-
dos ou conversar à mesa com seus familiares, com certeza serão
momentos significativos para o seu desenvolvimento integral,
agregando valores, como a empatia, a solidariedade e a comunhão.
1 (Informação Verbal/ online) Reflexão realizada pela Professora Emilia Cipriano na
Aula 1 - “As políticas educacionais no cenário de covid-19”, Escola do Parlamento,
em 26 de junho de 2020.
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uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
É necessário, portanto, que as propostas de aprendizagem,
sejam desenvolvidas de modo que, possam explorar, descobrir
e interpretar coisas a respeito de si e a respeito do mundo. Nesse
processo dialógico, que acontece nas interações que realiza, é que
surgem as possibilidades de modificar-se e modificar a realidade,
ou seja, construir cultura e aprendizagem.
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uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
MÍDIAS NA INFÂNCIA: APROXIMAÇÕES E DISTANCIAMENTOS
“Divinizar ou diabolizar a tecnologia ou a ciência é
uma forma altamente negativa e perigosa de pensar
errado”.
(Paulo Freire, 1996, p.37)
Em tempos de pandemia, os impactos causados por um
vírus invisível clamam pela reinvenção de todos os habitantes da
Terra. Somos redirecionados a refletir sobre o sentido da vida,
para tornarmo-nos cidadãos comprometidos com a vida e com
a história, a serviço de todos. Estamos no “olho do furação”
de um momento que marcará nossa história. Torna-se ainda
mais difícil pensar como ficará a sociedade quando a situação
de isolamento social passar. Não para planejar estratégias de
caráter compensatório, mas para pensar no processo histórico
que a escola, as famílias e, principalmente, as crianças viveram
nesse momento. Será que teremos uma sociedade diferente? A
escola ainda apresentará dificuldade em evoluir nas concepções
de infâncias e práticas pedagógicas? O momento pede união,
articulação e comunhão para o que está invisível aos olhos, mas
que afeta significativamente a constituição da pessoa, do meio
e de uma nação. Segundo Arantes e Toquetão (2020), o adulto
pode sair das concepções “adultocêntricas” nas quais se coloca
como parceria avançada, e valorizar a horizontalidade das rela-
ções, uma vez que ninguém é tão experiente assim em situações
de pandemia, nem o adulto, nem a criança.
62
uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
Dentro de tantas inquietações, temos construído alguns
pontos de apoio, que aos poucos viram pequenas certezas. São
momentos de fortalecer e restabelecer os vínculos. Estamos
vivendo tempos de descobertas e de estudo destas experiências
históricas dentro dos ambientes escolares digitais. Ressaltamos
que uma parte necessária de todo esse processo, é a preparação
para o retorno, com o engajamento na construção de uma escola
da infância mais humanizadora.
Para isso, é importante a busca de uma educação com
equidade, mais inclusiva e integral dentro dos princípios cur-
riculares da ética, estética e política. Esses princípios trazem
resumidamente os valores fundamentais da contemporaneidade:
solidariedade, singularidade, coletividade, igualdade e liberdade.
Contudo, dentro desses princípios, é preciso nos atermos à
garantia do acesso à educação digital como um direito de todas as
crianças. Mesmo nas escolas com maior acessibilidade digital, a
adesão aos encontros virtuais é muito baixa. Já muito se fala que
a tecnologia tem a função de potencializar as ações e sentidos
dos seres humanos. Os artefatos tecnológicos ampliam nossa
possibilidade de enxergar a sociedade com suas construções
positivas, dão visibilidade aos desafios e atuam como enormes
“lupas”, para apontar os problemas, principalmente, quando
se refere às políticas públicas para a garantia do direito a boas
experiências na internet.
Segundo Sanches e Toquetão (2019), o primeiro passo é
reconhecer os avanços das tecnologias, as concepções e prin-
cípios que sustentam a educação da infância e, entre eles, a
multimodalidade, ou seja, os múltiplos modos de linguagens e
marcas culturais. Para as autoras é preciso destacar os multile-
tramentos nas propostas didáticas que valorizam as diferentes
formas de se comunicar. São gestos, sinais, símbolos, imagens
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uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
em suas práticas sociais, que configuram a multimodalidade na
comunicação, envolvendo os princípios da pluralidade cultural
e a diversidade de linguagens.
Neste momento pandêmico, destaca-se a precarização da
escola pública no seu direito ao acesso às novas culturas digitais.
Segundo Candau (2011, p. 23),
as relações culturais não são idílicas, não são relações
românticas, elas são construídas na história e, por-
tanto, estão atravessadas por questões de poder, por
relações fortemente hierarquizadas, marcadas pelo
preconceito e discriminação de determinados grupos.
A naturalização das desigualdades entre o ensino privado
e o ensino público fica evidente nesta grande “lupa” chamada
tecnologia. O discurso do uso democrático das mídias e da
importância de acesso à ciência e tecnologia fica longe para as
crianças de escola pública. Com as parcerias dos municípios
para a educação remota, essas crianças começam a ser inseridas
na lógica das plataformas de grandes empresas do capitalismo
de vigilância como a Microsoft ou Google, criando contas de
e-mail e ambientação nesses espaços digitais. Por conta dessa
inserção precoce de bebês e crianças é necessário um diálogo
não só pelos direitos à cultura digital, mas vale destacar que o
acesso à rede necessita acontecer de forma segura, com proteção
de dados de crianças e bebês.
Os efeitos da interação professor e crianças na modalida-
de digital exclusiva alargam ainda mais as diferenças sociais
e econômicas do nosso país, pois o acesso às tecnologias ainda
não é realidade para todos. Contudo, a certeza dos direitos e
condições de aprendizagem para todos é o combustível diário
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uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
dos educadores que lutam e resistem à padronização em terri-
tórios desiguais. A caminhada para o educador da infância é
difícil neste momento, pois além de expor a brutal desigualda-
de em que vivemos, dentro de uma ideologia mercadológica,
demonstra a fragilidade de nossas redes de proteção. Fala-se
da construção de um modelo de trabalho criativo, coletivo e
colaborativo com o uso de tecnologias. Como seria este ca-
minhar com as crianças? Neste trajeto, cheio de desafios na
construção de ambientes equitativos, apresentamos três grandes
proposições para a nossa caminhada dentro de uma cultura
digital para a infância.
Em primeiro lugar, a qualidade do tempo está relacionada
com a construção de vínculos virtuais entre as telas. Já ficou
bem discutido que não existe educação infantil à distância, pois
a mesma só se desenvolve com as interações entre os diferentes
atores da escola, com foco na indissociabilidade do cuidar e edu-
car. Esses cuidados físicos como higiene e alimentação passam
por diferentes momentos que são impossíveis de acontecer em
ambientes digitais. Mas algumas relações entre telas podem ser
afetivas e com significados para as crianças.
Dentro dessa relação pode-se desenvolver o pensamento
criativo e investigativo tão importante para a cognição. Todas
estas palavras andam de mãos dadas quando programamos
qualquer interação entre estas duas instituições essenciais que
cuidam das crianças: a família e a escola. Temos visto que as
telas trazem relações inspiradoras que motivam boas interações
afetivas. Da mesma forma que é importante esse acesso à cultura
digital, algumas preocupações surgem quando pensamos neste
diálogo com as famílias pelas telas, como por exemplo, não ar-
tificializar o brincar, não forçar uma interação sem significado
para a criança.
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uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
As brincadeiras necessitam de contexto e significado. Outro
destaque importante é referente à qualidade do tempo, pois é
preciso ficarmos atentos ao tempo que a criança se dedica nesta
interação com a tecnologia digital, respeitando a quantidade
indicada por especialistas para cada idade da criança.
Sendo assim, algumas dicas podem ser observadas como
boas sugestões de interação entre as telas. Uma delas é resgatar
a história da escola ou da família para manter os fios afetivos por
meio desta comunicação digital. Outra possibilidade é ampliar
o repertório das famílias e dar visibilidade ao cotidiano da casa,
como quando a criança ajuda no preparo de uma refeição, quando
a família conta uma história ou na organização do ambiente. São
atividades que valorizam a simplicidade das relações, os ambien-
tes alegres pela presença das crianças, os projetos de brincadeiras,
músicas e boas histórias que circulam e fortalecem a construção
de diálogos dentro de um ambiente brincante e significativo.
Outro fato a destacar é que vivemos uma hiperdigitalização
que precisa ser reconhecida e cuidada em seus excessos. As redes
sociais atendem à lógica de mercado e oferecem produtos gratui-
tos para exploração econômica de dados pessoais, influenciando a
sua permanência e consumo nos ambientes digitais. Dessa forma,
é preciso atenção quando o assunto é qualidade no tempo de tela.
Ao pensarmos em aplicativos e analisarmos a qualidade das
interações, é preciso observar a faixa etária e o tipo de conteú-
do indicados, a segurança dos dados da criança na plataforma,
quem é a companhia presente e quais são as boas perguntas
para mediar a relação entre adultos, crianças e telas. Precisamos
refletir se a interação com o aplicativo é passiva e padronizada,
na qual a criança é silenciada para somente assistir e neutralizar
suas ações. Ou é reflexiva e reativa, em que estimula o diálogo,
oferece possibilidades de cantar e brincar e permite que a criança
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uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
emita opiniões. Aprofundando mais ainda essa interação com
as telas, é preciso questionar se o aplicativo apresenta situação
com sentido e possibilita a representativa das etnias, da cultura
e da história do território.
Só assim, levando essas considerações para as famílias e
os educadores, criamos um canal de comunicação sensível com
e para as crianças, para que, de acordo com Candau (2011 p.
13), “possa oferecer espaços e tempos de ensino-aprendizagem
significativos e desafiantes para os contextos sociopolíticos e
culturais atuais”.
Se compreendemos que as tecnologias fazem parte da cul-
tura digital, os diálogos reais e afetivos podem acontecer com
as telas, e para além das telas. As contradições no conviver são
muitas, dessas diferentes infâncias, mas todas, neste momento
do brincar entre telas de celular, televisão ou tablet precisam ter
como eixo o acolhimento e o cuidado das famílias e das crianças.
Segundo Candau (2011, p. 13), “não é possível conceber experi-
ência pedagógica desculturizada, isto é, desvinculada totalmente
das questões culturais da sociedade”.
As abordagens nas orientações priorizam as vozes e auto-
rias das famílias. As famílias podem ser reconhecidas em seus
saberes, fazeres e em sua história. Durante o período de isola-
mento social, é ainda mais importante respeitar a organização
dos lares, os sofrimentos causados por perda como o emprego
ou de pessoas queridas. É um grande desafio entrar nas casas
das crianças pelas telas e ampliar a participação das famílias na
rede de comunicação digital.
A segunda proposição a ser analisada é o equilíbrio das
experiências e linguagens. Os seis direitos irrevogáveis que
estão na BNCC como conviver, brincar, conhecer-se, expres-
67
uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
sar-se, participar e explorar, dentro de dois grandes eixos: de
interação e brincadeiras, necessitam de saberes significativos.
Por meio das telas, as famílias compartilham suas culturas
infantis com outras famílias em diferentes regiões. A apren-
dizagem é uma ação que se dá na interação, necessariamente
mediada pelo outro, por meio da linguagem e da diversidade
de experiências no contexto social.
Qualquer tentativa de isolamento dessa interação no pro-
cesso de aprendizagem estará fadada ao fracasso. A experiência
digital pode estar dentro da organização das experiências com
sentido vividas pelas crianças, e o contato com essa linguagem
precisa ser prazeroso, sem perder outras linguagens tão impor-
tantes para o desenvolvimento infantil, como as brincadeiras
tradicionais que movimentam o corpo.
A terceira proposição a ser refletida são as políticas públi-
cas intersetoriais. A escola, por si só, não consegue responder
aos desafios de educar em tempos de pandemia em busca de
uma educação para a inclusão digital. Para Candau (2011, p. 23),
enfrentar conflitos provocados pela assimetria de poder numa
educação para negociação cultural pode ser capaz de “favorecer a
construção de um projeto comum, pelo qual as diferenças sejam
dialeticamente incluídas”.
Na mesma linha da autora, apontamos a necessidade da
construção de novas parcerias, pois a escola e a família não
podem ficar sozinhas para pensarem na educação das crianças
em tempos tão desafiantes. A responsabilidade pelas experi-
ências digitais das crianças deve ser compartilhada com toda a
sociedade. É preciso tecer uma rede colaborativa de proteção
entre comunidade, escola, família e implicar-se em políticas que
considerem a dimensão educativa além da escola.
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uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
Cada uma destas instituições tem seu papel em destaque
que é proteger os direitos das crianças, pois, nem sempre elas se
encontram num ambiente favorável ao seu desenvolvimento. Às
vezes são espaços com os mais diversos tipos de violência que
não podem ser desconsiderados neste momento de isolamento
familiar. Uma das funções desta rede de proteção é construir
fontes confiáveis para a famílias e a escola, realizando a cura-
doria de materiais que trazem a concepção de infância ativa e
com proteção à criança.
Mas vai além disso, é preciso ter a sensibilidade desen-
volvida na comunidade para investigar se alguma criança vem
sofrendo a violação de seus direitos e denunciar para os órgãos
que atuam na prevenção e proteção de situações de violência.
Ter o conhecimento sobre a infância e como se aciona a rede de
proteção do território, é um caminho para superar as desigual-
dades, fazendo a informação chegar até os órgãos de atuação e
criando demanda para essas instituições.
Para isso, precisamos do papel ativo de cidadão em cada
um de nós para fazer valer as leis relacionadas aos direitos das
crianças, que no Brasil já está bem encaminhada na sua criação.
Mas falta ainda que essas leis cheguem efetivamente até nossas
crianças. Sendo assim, é importante a cidadania crítica, parti-
cipativa e atuante na construção das políticas públicas, criando
meios de acesso digital com informação de qualidade para a
população mais carente que tem seus direitos negados e neste
momento ainda mais destacados.
A compreensão das crianças como sujeito em desenvolvi-
mento, com suas singularidades que interferem nas formações iden-
titárias e culturais, demandam práticas escolares diferenciadas que
atendam às necessidades nos diversos modos de inserção social.
O momento escancarou a necessidade da adaptação e articulação
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uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
de ações para ampliar a compreensão pela vida social de forma
humanizada e integrada, relacionando os sujeitos entre si, com a
natureza, com a história, com a cultura, com as tecnologias e com
o ambiente para melhor afetar, conectar e transformar o aluno em
seu percurso contínuo de aprendizagem e desenvolvimento.
A articulação de diferentes saberes, linguagens e conhe-
cimentos, por meio de práticas pedagógicas integradoras e
interações afetivas, ressignifica a intencionalidade docente, os
momentos de ensino e aprendizagem, a qualificação de tempos,
espaços, interações e materialidades. O ensino centrado na
criança como sujeito em seu processo de aprendizagem, volta a
atenção para experiências concretas e interativas para a mobili-
zação de saberes por meio das telas e para além das telas.
Apesar dos desafios das condições econômicas, psicos-
sociais e sanitárias agravarem o distanciamento das classes
sociais, a educação é o caminho para minimizar estes impactos,
reivindicando ações pontuais contra a precariedade do acesso
que interfere ainda mais no desenvolvimento infantil.
Sendo assim, a pandemia trouxe um desafio extra para as
famílias com o ensino remoto na educação da infância, sobretudo
às que vivem em condições de vulnerabilidade, e a escola tem a
missão de aproximar e integrar a família para fortalecer o senti-
mento de pertencimento e parceria frente à corresponsabilização
de ações que garantam os direitos da infância.
O humano em potência, que se dedica ao que lhe transcende,
predispondo-se ao que transforma, inova e renova como pessoa,
em uma corrente em que cada um fortalece os demais para o que
é essencial, pois tudo está conectado! Que esta experiência renove
a esperança de tempos e humanos melhores para seguirmos uma
nova vida em comunhão.
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uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
A ESCOLA NA PANDEMIA COMO ESPAÇO PARA O ACOLHIMENTO
“O indivíduo, se ele se apreende com tal, é essencial-
mente social. Ele o é não em virtude de contingências
externas, mas por uma necessidade íntima. Ele o é
geneticamente.”
(WALLON, 1986 [1954], p. 165)
Como sabemos, as escolas estão há mais de quatro meses
fechadas devido à pandemia do novo coronavírus (OMS, 2020).
Com isso, muitos pais estão preocupados com o aprendizado dos
filhos durante o período de isolamento. No retorno às aulas, é
necessário entender que os alunos vão trazer levar “marcas” de
tudo o que aconteceu. Mas, enquanto estamos utilizando aulas
e recursos remotos, precisamos pensar que preservar a saúde
mental e emocional de alunos, é mais importante que recuperar
conteúdos e, extrair as experiências, que em meio à pandemia
importam e podem ensiná-los.
Quando as aulas presenciais forem retomadas, as escolas
devem refletir com as crianças o que significou essa experiên-
cia para elas e para as famílias e suas marcas. As crianças não
retornarão no mesmo ritmo, pois viveram por muito tempo em
uma rotina diferente. Para muitos, momentos de sofrimento e,
para outros, momentos de reflexão e empatia, pois ninguém
estava preparado para a educação domiciliar: nem escolas, nem
crianças, nem famílias.
72
uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
Neste cenário, as crianças puderam aprender questões mais
amplas, como desigualdade e solidariedade. As escolas particula-
res e públicas estão tendo aula remota, estão com atividades, mas
é preciso lembrar que muitas crianças estão em vulnerabilidade
social, muitas não têm computador, nem internet em casa. Como
fazer para abordar esse tema?
Ao longo do isolamento, as crianças tiveram que se rein-
ventar e lidar com o tédio, aprendendo a brincar sozinhos. Os
pequenos tinham uma rotina, toda moldada pelo convívio escolar
e de uma hora para outra perderam seu espaço social e tiveram
que enfrentar a monotonia, aprender a ficar consigo mesmo.
Lidar com essas emoções de forma lúdica, ajuda a elaborar os
temas da vida, uma vez que estão fora do comum.
Neste momento tão difícil, o mais importante é a experiência
de vida e o que isso pode nos ensinar. O aprendizado por meio
do ensino remoto não é o mesmo, deve-se entender que é um
momento de tensão. As famílias estão em casa, mas não estão
tranquilas, e seus dias não estão leves. Muitos trabalhando em
casa e não tendo onde deixar as crianças, com toda sua eferves-
cência, com muitas coisas e emoções a serem administradas.
Há de se pensar que muitas famílias não têm a tecnologia a seu
dispor. Não podemos esquecer daquelas cujos pais perderam seus
empregos. Tudo isso traz à tona sentimentos de tensão.
Sendo assim, toda crise é momento de perigo, com an-
siedades e oportunidades. A escola deve usar este período de
afastamentos e contato virtual (quando possível), para o for-
talecimento de vínculos e discussão sobre valores importantes
para o convívio social, como a empatia e solidariedade, uma vez
que estamos em casa para cuidar da gente e do outro também.
De acordo com Pimenta (2005), a educação retrata e reproduz a
sociedade, mas projeta a sociedade que se quer.
73
uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
As crianças pequenas são capazes de perceber as coisas
que acontecem em sua volta. Elas podem não ter a clara noção
do que é o vírus, a pandemia e a contaminação. Mas elas têm
uma percepção afetiva, emocional muito clara. Devemos refletir
também sobre temas como luto e morte. Precisamos discutir na
escola os sentimentos e emoções que esse período provocou
em todos nós, principalmente, que as crianças aprendam a lidar
com a frustração e sentimento de perda, pois poderemos receber
crianças na escola que tiveram a morte de um parente próximo
por causa da covid-19.
Nesse contexto, as crianças perderam o contato com os
amigos, perderam o contato com familiares, com os avós, então,
também têm que aprender a viver com essa falta de abraços,
carinhos e interações, além da morte real. Por fim, a escola tem
esse importante papel de reconstruir e consolidar as relações
entre os pares mesmo que nas aulas à distância, e principalmente
depois que as aulas presenciais retornarem, valendo-se de seus
princípios para a discussão e atribuição de valores.
Estamos vivendo uma situação bastante inusitada, diferente
para todos nós, em que tentamos entender as novas experiências
de solidão forçada pelo distanciamento obrigatório. Essa falta
de toque, com rostos cobertos que escondem nossos sorrisos
e nossas expressões faciais nos colocam, no mínimo, em uma
situação de desconforto com relação ao outro. É um momento
de muitas perdas e alguns ganhos, em que estamos reaprenden-
do uma nova forma de viver e de se relacionar. Então torna-se
bastante complexo planejar coletivamente o retorno às aulas
presenciais. Planejar como será voltar à vida “normal”, à medida
que não sabemos o que nos espera.
O inusitado também contempla as experiências vividas
de cada um de nós em seu território, com suas perdas, medos,
74
uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
angústias que podem ter tido desdobramentos, por vezes, trau-
máticos e marcantes e que só conseguiremos mapear por meio
do diálogo aberto e uma escuta atenta, para entender e acolher
as reações de cada um, às experiências vividas e retomar os
vínculos perdidos na pandemia.
Podemos refletir sobre as relações humanas que se estabele-
cem nas escolas, e fora delas, a partir do referencial walloniano,
como lemos na epígrafe do início do capítulo. Wallon (1986
[1954]) apresenta o ser humano como um ser geneticamente
social, afirmando que o indivíduo se constitui como pessoa
pelo cuidado do outro, passando, nesse processo, a internalizar
o outro que não é um, mas muitos representantes de seu entorno
cultural. O cuidado das famílias, intensificado com o isolamento
social, trará vivências individuais importantes na constituição da
personalidade das crianças e a escola precisará ter uma escuta
atenta à essas experiências, para somá-las às novas vivências
que ocorrerão nas escolas.
Quando as aulas presenciais retornarem, será necessário,
olhar para o outro de forma mais profunda, percebendo suas
dores e auxiliando-o a superá-la, com empatia, solidariedade e
abnegação, encontrando maneiras para cuidar e acolher, alunos
e profissionais da educação.
Sabemos o quão difícil e complexo serão os reencontros e
percepções das reais necessidades das pessoas, sejam elas alunos,
familiares ou profissionais da educação. Mas, precisamos criar
estratégias, protocolos de acolhimento, para que esse momento
seja processado de forma minimamente aceitável, para que não
retrocedamos a momentos caóticos já superados.
De acordo com Paulo Freire (1996) em sua Pedagogia
Crítica, a escola, tem o dever de proporcionar momentos para
75
uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
discussão, num processo de reflexão crítica para o desenvolvi-
mento de cidadãos que sejam capazes de analisar suas realidades
social, histórica e cultural.
Segundo a Professora Rita Coelho1, em uma live com Paulo
Fochi2, o retorno precisa ser muito bem planejado envolvendo
os vários segmentos da sociedade, em níveis institucionais de
forma intersetorial envolvendo as instituições: saúde, assistência
social, tribunal de contas, conselhos de educação, pois esse é um
desafio histórico de toda a sociedade, o que nos encaminha ao
entendimento de que é necessário recorrer às políticas públicas.
Dessa forma, essa situação não pode ser pensada na individuali-
dade, é uma situação muito extensa, é mundial e deve ser tratada
com a mesma grandiosidade.
Compreendemos que o reencontro e o restabelecimento
das relações são fundamentais e inevitáveis, no entanto, precisa
ocorrer de forma responsável, com protocolos predeterminados
e regras estabelecidas.
Para promover o retorno, os professores e demais profis-
sionais da escola, precisam muito ser ouvidos, ser instruídos,
precisam ser cuidados para que eles se expressem, demonstrem
seus sentimentos, dores, medos, para que possam, ao se apro-
ximar dos familiares e crianças, inspirar confiança e segurança,
uma vez que o docente é o mediador direto da convivência e
estabelecimento da relação da criança com o ambiente escolar
e seus desdobramentos.
1 Ex-Coordenadora Geral da Educação Infantil do MEC. Disponível em: https://
www.youtube.com/watch?v=vSxdCajUG5Y. Acesso em: 18/052020.
2 Doutor em Educação na linha de Didática, Teorias de Ensino e Práticas Escolares
(USP) com bolsa sanduíche (CAPES) na Universitad de Barcelona - UB; Mestre
em Educação na linha Estudos sobre Infância (UFRGS) com estágio de missão
científica na Universidad Publica de Navarra; Especialista em Educação Infantil
(Unisinos). Disponível em: https://www.escavador.com/sobre/3290729/paulo-
sergio-fochi. Acesso em: 27/05/2020.
76
uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
O retorno às escolas após este momento de pandemia vai
chegar e os professores terão o papel de acolher a todos os seus
alunos, de braços abertos, porém conscientes de sua responsabi-
lidade em manter protocolos e cuidados, e procurando proteger
a todos. Essa é uma relação difícil de ser quebrada, pois os
vínculos que alunos e professores estabelecem, ficam por anos
nas memórias e nas narrativas de cada um. Assim, o reencontro
poderá ocorrer de forma sensível e acolhedora, pois os profes-
sores conhecem seus alunos e fazendo uso dessa percepção eles
podem juntamente com as famílias, detectar as reais necessida-
des e angústias das crianças para promover a superação desse
momento tão inusitado que vivemos.
A equipe gestora terá um papel mais que fundamental na
organização dos espaços e no cuidado com o acolhimento às
famílias e às crianças, que toda organização escolar passa
pelo seu crivo e a execução de protocolos e estruturação do
espaço para o retorno será de responsabilidade de todos, porém,
estará sob o comando da equipe gestora. É possível que muitos
alunos estejam sentindo falta da escola, dos professores e de
seus amigos, afinal a escola é o lugar de encontros, de trocas e
de aprendizagens, é nela que a mais pura expressão de ser
criança, de ser adolescente.
Sabemos que o reencontro não será completo, pois as rela-
ções de afetividade não passarão pelo movimento do corpo (com
abraços, beijos e toques), mas, com certeza, haverá expressões
nos olhares e sorrisos “mascarados”, mas que serão ouvidos e
sentidos.
Entendemos que para os pais, foram semanas de muita
ansiedade, e, talvez, até de desespero, cada um tentando apren-
der um pouquinho do que os livros estão dizendo para ajudar
os filhos nas tarefas, o que consumiu muitos deles a participar
77
uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
e acompanhar a vida escolar de seu filho. Além disso, muitos
pais puderam conhecer como seus filhos aprendem, como se
comportam frente ao conhecimento, situações que muitos não
haviam sequer pensado. Assim, esperamos que a relação desses
pais com a escola, com os professores possam mudar, que os
educadores sejam mais valorizados. Assim, é possível dizer
que a escola não será mais a mesma! A redescoberta do espaço
escolar deve emergir, e a escola poderá assumir seu verdadeiro
papel na sociedade.
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uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
A HISTÓRIA CONTINUA
“É preciso uma aldeia para se educar uma criança”.
(Provérbio Africano)
Partindo desse provérbio africano, acreditamos que nenhu-
ma pessoa aprende e se desenvolve somente a partir dos valores
de sua família, mas também com toda a comunidade em que vive
e se relaciona, e a escola faz parte deste meio social. Desde o
mês de março, nas escolas, as ações pedagógicas estão sendo
pensadas tendo como foco o acolhimento. Em menor ou maior
grau, as escolas visam dar conta do seu papel formador levando
em consideração suas características específicas, a comunidade
que a compõe, e as suas realidades.
Cada escola tem a sua concretude e precisa levar em consi-
deração seu contexto para elaborar coletivamente ações durante
e após pandemia. Mas cada unidade escolar, sob a orientação
e coordenação de seus gestores, tem buscado o contato com as
famílias, com os alunos. Os professores têm-se reinventado, bus-
cando formas de ter acesso a esses alunos, para que eles não se
sintam sozinhos nesse momento tão difícil que estamos vivendo.
Por meio de instrumentos tecnológicos, as escolas da
primeira infância têm se adaptado, realizando a comunicação
com as crianças e as famílias, utilizando as redes sociais como
WhatsApp, Facebook, Google Class Room, Microsoft Teams,
para orientação em relação à rotina de estudos, às possibili-
80
uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
dades de brincar, às questões comportamentais, além de con-
tações de histórias e atividades com músicas, que trazem em
seu repertório as competências socioemocionais da BNCC.
Para as crianças do Ensino Fundamental, plataformas online
têm sido utilizadas para que os professores possam realizar
aulas remotas. Sabemos que nem sempre é possível que todos
tenham acesso, mas esse não é um motivo de desânimo para
o professor da infância. Ela é capaz, é criativo, perseverante e
não desanima frente às adversidades.
Que a tecnologia, aqui referenciada como uma possibilidade
de estreitamento entre a família e a escola, seja um direito de
todos, não só em tempos de pandemia, mas que possa ser mais
um instrumento para a aprendizagem dos alunos, não importando
a classe social.
Sejamos, pois, professores reflexivos, para que nossas práti-
cas em tempos de pandemia, possam ser objeto de estudo coletivo
nas escolas e nas universidades, e que a educação possa, a partir
desses estudos, discutir novos horizontes para a formação integral
de nossas crianças, quando as aulas presenciais retornarem. Que
a arte e a cultura sejam valorizadas nesse processo.
Acreditamos que será preciso um novo olhar para a escola
pós-pandemia, pois teremos que dar conta não só das aprendiza-
gens cognitivas, mas de seres humanos com sentimentos fragi-
lizados, com perdas financeiras e de vidas nas famílias, enfim,
crianças necessitando de atenção, de carinho e de cuidados.
Resta-nos perguntar: de que lugar estamos falando sobre
a infância e a pandemia? Nosso grupo de pesquisa, procurou
neste documento, desvelar concepções e posicionamentos sobre
a criança, suas infâncias e seu lugar no mundo, diante desse
isolamento social.
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uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
Fica um alerta para as autoridades e os órgãos competentes
que cuidam das políticas públicas para a educação: ter um olhar
cuidadoso para a criança em meio ao caos que assola o mundo. As
políticas públicas precisam alcançar as crianças vulnerabilizadas
e suas famílias, garantindo segurança, bem-estar e condições
mínimas de sobrevivência.
A melhoria das condições de trabalho para os professores
e gestores com investimentos em merenda escolar, melhores
estruturas físicas, aumentos salariais e materiais pedagógicos
também precisam ser garantidos pelos órgãos competentes.
Não podemos silenciar o grito de socorro de nossas crian-
ças! Elas estão clamando por uma política pública que leve
em consideração seus direitos, suas necessidades básicas de
alimento, saúde, respeito e cuidados. É nosso dever, nesse mo-
mento, sermos a voz que clama por esse socorro, que só pode
vir de pessoas ligadas à educação da infância, que acreditam na
urgência desse clamor.
Que os líderes de nosso país possam pensar em nossas
crianças, com seriedade e comprometimento, que discutam com
todos os segmentos sociais, políticos e econômicos a verdadeira
e necessária ajuda que as nossas crianças tanto precisam, não só
nesse tempo de pandemia, mas no cotidiano de suas existências,
muitas vezes invisíveis aos nossos olhos.
Esta reflexão em forma de manifesto é a marca de um
momento vivido. Ela é histórica, na medida em que permite o
diálogo entre as nossas convicções e os leitores, que comungam
da mesma certeza, a defesa da educação da infância. Qual é a
história que estamos construindo que representa nosso legado?
Dentre os limites sócio-históricos que o momento nos impõe,
esta é a nossa contribuição para a educação: a possibilidade de
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uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
denúncia e o anúncio de algumas ações, com a coragem de quem
acredita que somos seres inacabados e que nos completamos
com o outro, em busca de novas possibilidades. Como afirmou
Paulo Freire:
a amorosidade de que falo, o sonho pelo qual briga
e para cuja realização me preparo permanentemente,
exigem que eu invente em mim, na minha experiência
social, outra qualidade: a coragem de lutar ao lado da
coragem de amar. (FREIRE, 1997, p. 37)
Como professores, ainda estamos disponíveis para nos
surpreendermos e nos encantarmos, por meio da amorosidade
freireana e de mãos dadas com nossas crianças! Deixemos a
infância florescer, porque a história continua...
83
uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
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uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
SOBRE AS AUTORAS
Todas as autoras estão envolvidas do Grupo de Pesquisa Políticas Públicas
da Infância – Criando PUC-SP e no Programa de Estudos Pós-Graduados
em Educação: Mestrado Profissional Formação de Formadores da PUC-
SP. Essas pesquisadoras atuam na formação de professores em diferentes
eixos, na diversidade das experiências e na pluralidade dos estabelecimen-
tos de Ensino Público ou Privado.
Alessandra Olivieri Santos - Doutoranda em Psicologia da Educação
(PUC-SP). Mestre Profissional em Educação: Formação de Formadores
(PUC-SP). Especialista em Docência do |ensino Superior (SENAC-SP).
Formada em Letras pela USP. Coordenadora Pedagógica da Prefeitura de
São Paulo.
E-mail: ale.olivieri@hotmail.com
Andreia Menarbini - Doutoranda em Educação pela Universidade Nove
de Julho. Mestre Profissional em Educação: Formação de Formadores
(PUC-SP). Formada em Pedagogia pela FSA. Especialista em Adminis-
tração Pública (FSA), Metodologia do Ensino (IEDA) e Educação Infantil
(USP), Professora da Graduação no Centro Universitário Fundação Santo
André e Professora aposentada da Educação Básica na Rede Municipal de
Ensino de Santo André e integrante do Grupo de Pesquisa Fundamentos
Epistemológicos das Políticas Educacionais (GRUFEPE) na Universidade
Nove de Julho.
E-mail: andreiamenarbini@gmail.com
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uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
Cristina Ramos da Silva - Doutoranda em Psicologia da Educação
(PUC-SP). Mestre Profissional em Educação: Formação de Formadores
(PUC-SP) Diretora da Quacatú Educação Infantil e do Colégio Pollux, da
rede privada. Pedagoga, especialista em Psicopedagogia, Neurociência na
Sala de Aula e Inclusão (Universidade Paulista e Instituto Singularidades).
E-mail: cristinasomar2010@hotmail.com
Cristina Rosa David Pereira da Silva - Mestre Profissional em Educa-
ção: Formação de Formadores (PUC-SP). Diretora Pedagógica (Grupo
Multicultural Ensino Privado). Pedagoga e Psicopedagoga (PUC-RJ),
Especialista em Gestão em Marketing.
E-mail: cris.rosadavid@hotmail.com
Elisangela Carmo de Oliveira - Mestre Profissional em Educação:
Formação de Formadores (PUC-SP). Especialista em Gestão Escolar e
Coordenadora Pedagógica da Rede Municipal de São Paulo.
E-mail: zanoliveira@yahoo.com.br.
Emilia Maria Bezerra Cipriano Castro Sanches - Doutora em
Educação – Currículo (PUC-SP) e Mestre em Psicologia da Educação
(PUC-SP). Graduada em Serviço Social e Pedagogia. Especialista em
Desenho e Gerência de Políticas Públicas (INDES) e Programas Sociais
(BID). Professora Titular da Faculdade de Educação e do Programa
de Estudos Pós-Graduados em Educação: Formação de Formadores
(PUC-SP). Membro Fundadora do Fórum Paulista de Educação Infantil.
Membro Fundadora do Fórum da Pedagogia Freinet. Secretaria Ad-
junta da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo (2015/2016).
Coordenadora do Instituto Aprender a Ser - Pesquisa e Formação na
Área Educacional. Membro Titular do Conselho Municipal de Edu-
cação do Município de São Paulo (2016/2020). Presidente da Câmara
de Educação Básica do Conselho Municipal de Educação de São Paulo
(2020). É líder do grupo de pesquisa (CNPq) intitulado “Educação
Integral”, desenvolvendo pesquisa junto a Faculdade de Educação da
PUC-SP. Líder do Grupo de Pesquisa CNPq) - Políticas Públicas da
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uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
Infância desenvolvendo pesquisa junto ao Programa de Pós-Graduados
em Educação: Formação de Formadores.
Email: emiliaeclaudio@uol.com.br
Enita Alves Ferreira Rodrigues - Mestre Profissional em Educação: For-
mação de Formadores (PUC-SP). Pedagoga, Especialização em Educação
Infantil, Alfabetização e Atendimento Educacional Especializado (AEE).
Professora de Educação Básica na Prefeitura Municipal de São Bernardo
do Campo. Professora do Curso de Pedagogia da Faculdade Flamingo.
E-mail: enita.afrodrigues@gmail.com
Gabriela Novaes - Doutoranda em Educação: Formação, Currículo e Prá-
ticas Pedagógicas (FEUSP). Mestre Profissional em Educação Formação
de Formadores (PUC-SP). Coordenadora Pedagógica de Escola Municipal
de Educação Infantil da Prefeitura de São Paulo.
E-mail: gabrielanovaes1@gmail.com
Gisele dos Santos Oliveira Batista - Mestranda Profissional em Educação:
Formação de Formadores (PUC-SP). Pedagoga, Especialização em Artes,
Educação e Terapia (FATECE). Coordenadora Pedagógica da Educação
Infantil. Professora de Educação Básica de Taboão da Serra.
E-mail: gisa2012pebi@hotmail.com
Jinlova de Oliveira Pantaleão - Mestranda em Educação: Formação de
Formadores pela PUC-SP. Pós-graduada em Gestão Escolar (UNICAMP)
e em História da Arte pelo Centro Universitário de Belas Artes-SP. Li-
cenciada em Artes Plásticas pela Universidade Mackenzie e em Pedagogia
(UNINOVE). Professora Titular de Ensino Fundamental e Médio de Arte na
Prefeitura Municipal de São Paulo, gestora escolar, na Educação Básica, na
rede estadual de São Paulo e Professora no Ensino Superior em Guarulhos.
E-mail: jinlovaop@hotmail.com
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uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
Karina Courel Maurício - Especialista em Educação Infantil, Gestão Esco-
lar e Educação Especial com Ênfase em Deficiência Auditiva. Graduada em
Pedagogia. Professora efetiva de Educação Infantil da Rede Municipal de
São Paulo. Atua na divisão pedagógica da Diretoria Regional da Freguesia
do Ó/ Brasilândia compondo o Núcleo de Educação Infantil.
E-mail: kacourel@hotmail.com
Laurizete Ferragut Passos - Doutora em Educação pela Universidade
de São Paulo – USP; professora aposentada da Unesp e atualmente pro-
fessora do Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação-Psicologia
da Educação e Coordenadora do Programa de Estudos Pós-Graduados em
Educação: Mestrado Profissional Formação de Formadores da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP. Pesquisadora na área de for-
mação de professores com foco nos temas: comunidades de aprendizagem
e trabalho colaborativo; profissionalidade docente, professores formadores,
professores iniciantes, condições de trabalho.
E-mail: laurizetefer@gmail.com
Leila Bitencourt Schmeing - Mestre Profissional em Educação: Formação
de Formadores (PUC-SP). Pedagoga, Especialização em Mídias na Educa-
ção, Planejamento, Implementação e Gestão de EaD e Educação Especial.
Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de São Paulo. Tutora
no Centro Universitário São Camilo.
E-mail: leila.bitencourt83@gmail.com
Marisa Pinheiro de Oliveira Fernandes - Mestre Profissional em Edu-
cação: Formação de Formadores (PUC-SP). Pedagoga, Especialização em
Educação Infantil, Administração Escolar e Educação Especial - Deficiência
Auditiva. Especialista em Psicanálise e Linguagem (PUC-SP) Diretora de
Escola/ aposentada na Prefeitura do Município de São Paulo.
E-mail: cursinhomarisa@gmail.com
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uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
Priscila Barbosa Arantes - Doutoranda em Ciências Sociais (PUC-SP).
Mestre Profissional em Educação (FORMEP-PUC-SP). Especialista
em Língua Portuguesa e Literatura pela (UNICAMP) e Ética, Valores e
Cidadania pela (USP). Atua como Assistente Técnico Educacional I na
Divisão Pedagógica da Diretoria Regional de Pirituba/ Jaraguá compondo o
Núcleo de Educação Infantil. Coordenadora Pedagógica Escola Municipal
de Educação Infantil/SP.
E-mail: arantes.priscila@gmail.com
Priscila Gambale - Mestre Profissional em Educação: Formação de Forma-
dores (PUC -SP), Especialista em Psicopedagogia (Braz Cubas), em Gestão
Escolar, em Alfabetização e Letramento. Cursando Gestão Pública. Pedagoga,
graduada em Educação Física (Faculdade Náutico). Professora da Prefeitura
Municipal de Ferraz de Vasconcelos. Atualmente exerce a função de Diretor
de Escola no município. É membro do Conselho Municipal de Educação de
Ferraz de Vasconcelos e Vice-presidente da Câmara do Fundeb.
E-mail: priscilagambale@hotmail.com
Regina Garcia Toledo de Souza - Doutoranda em Psicologia da Educação
(PUC-SP); Mestre em Psicologia da Educação (PUC-SP); Especialista em
Psicopedagogia Clínica e Institucional (Oswaldo Cruz); Especialista em
Orientação Educacional e Supervisão Escolar (Universidade Bandeirante
de São Paulo); Graduada em Pedagogia (Oswaldo Cruz). Experiência em
creches e educação básica. Coordenadora pedagógica, orientadora edu-
cacional e docência de educação infantil, ensino fundamental, superior e
pós-graduação.
E-mail: gts.regina@gmail.com
Renata Pereira Pardim - Doutoranda em Educação pela Universidade
Nove de Julho. Mestre Profissional em Educação: Formação de Forma-
dores (PUC-SP). Especialista em Fundamentos de uma Educação para o
Pensar (PUC-SP). Licenciada e Bacharel em História. Diretora de Escola
na Prefeitura Municipal de São Paulo.
E-mail: rppardim@ig.com.br
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uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
Rita de Cássia Marques dos Santos Fraga - Mestre Profissional em
Educação Formação de Formadores (PUC-SP). Especialista em Formação
para atuação na Educação à Distância (ESAB). Extensão universitária em
Aperfeiçoamento em Gênero e Diversidade na Escola (UFABC). Pedagoga
(CUFSA). Licenciatura Plena em História (ISEED) Atua como Professora
de Educação Infantil (Prefeitura de São Paulo).
E-mail: ritymarques@gmail.com
Rosimeire dos Santos Cardoso - Mestre Profissional em Educação: For-
mação de Formadores (PUC-SP). Coordenadora Pedagógica da Prefeitura
Municipal de São Paulo.
E-mail: rosirsc@hotmail.com
Sandra Cavaletti Toquetão - Doutoranda em Ciências Sociais (PUC-SP).
Mestre Profissional em Educação: Formação de Formadores (PUC-SP),
especialista em Tecnologias, Comunicação e Técnicas de Ensino (UTFPR).
Coordenadora Pedagógica da Prefeitura de São Paulo.
E-mail: sandracavaletti@gmail.com
Shirlei Nadaluti Monteiro - Doutoranda em Psicologia da Educação
(PUC-SP), Mestre Profissional em Educação: Formação de Formadores
(PUC-SP). Graduada em Pedagogia. Psicopedagoga e Especialista em Do-
cência do Ensino Superior. Formadora da SOMA assessoria Educacional.
Professora Titular de SME-SP.
E-mail: shirleinmont@yahoo.com.br
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uma janela de possibilidades na educação da infância em tempos de pandemia
GALERIA DE IMAGENS QUE CONTAM HISTÓRIA
Não serei o poeta de um mundo caduco
Também não cantarei o mundo futuro
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças
Entre eles, considero a enorme realidade
O presente é tão grande, não nos afastemos
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história
Não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida
Não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens
presentes
A vida presente
(Carlos Drummond de Andrade - Mãos Dadas)
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Book
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Este livro materializa o inédito viável. Quando confrontados com a iminência da quarentena devido a covid-19, decidimos pensar em meios para dar apoio aos pais, alunos, gestores e professores. Nessa direção, nos organizamos, em primeiro lugar, para contribuir com aquilo que mais faz parte de nossa realidade de pesquisadores-professores nacionais e internacionais: criar um conjunto de textos com relatos e propostas de pesquisadores e/ou educadores sobre suas experiências com a educação em tempos de pandemia. Em conversa com a editora Pontes, Campinas, obtivemos o aceite para a publicação virtual e distribuição de forma gratuita do livro. Formamos, então, uma equipe de quatro pesquisadores – Fernanda, Valdite, Ulysses e Márcia – para convidar, ler, analisar, revisar e editar o material recebido. Recebemos vários textos com múltiplas possibilidades e procuramos torná-los uma parte deste conjunto que apresentamos. Esperamos, então, que os leitores possam ampliar sua potência de existir e seu repertório. O livro é composto por dez seções, cujas temáticas abordam o contexto em diferentes áreas e, de forma colaborativa, promove reflexão sobre nossas práticas neste momento sócio-histórico. Inicialmente, os capítulos apresentam ideias gerais sobre o momento que vivemos e algumas propostas mais amplas para a reflexão educativa. Em seguida, o foco recai sobre a questão da educação inclusiva e muitas dificuldades e possibilidades que o momento pandêmico cria. Na terceira seção, os capítulos ressaltam diferentes meios de acesso à educação, suas possibilidades e demandas. Logo após, na quarta seção, os textos discutem diferentes temas educacionais e modos de trabalhar de forma remota. A quinta seção aborda como oferecer apoio aos pais e educadores em meio a novas demandas impostas pelo momento. Em seguida, o foco está nas reflexões sobre o trabalho na Educação Infantil e os desafios que este contexto apresenta. A sétima seção centraliza o contexto universitário e as possibilidades de ensino-aprendizagem a serem desenvolvidas. A oitava seção apresenta a trajetória da gestão educacional das instituições escolares em contexto pandêmico. O olhar filosófico para este momento compõe a nona seção e, por fim, este livro apresenta o brincar como base para a criação do inédito viável, a partir da exposição de propostas nacionais e internacionais que colocam o brincar no centro da criação de possibilidades de vida para todos. Entendemos que um trabalho colaborativo e crítico tem potencial transformador. Dessa forma, esperamos que este livro possa contribuir para a ampliação do repertório de seus leitores. Para finalizar, aguardamos sua visita e participação em nossa página do Facebook: www.facebook. com/brincadadaeducacao. Não deixe de entrar lá, enviar seus comentários, participar da Hora da Brincada, conversar com os autores. Sua experiência é fundamental neste processo de construção coletiva e colaborativa do inédito viável na educação.
Article
O texto inicia examinando novamente a centralidade da cultura - a enorme expansão de tudo que está associado a ela, na segunda metade do século XX, e o seu papel constitutivo, hoje, em todos os aspectos da vida social. A seguir, considera os aspectos teóricos e conceituais - o amplo poder analítico e explanatório que o conceito de cultura adquiriu na teorização social. Finalmente, retoma ao momento do circuito cultural - a regulação - que é o principal foco desta obra e examina a cultura no contexto das tendências e direções contraditórias da mudança social em relação ao novo milênio.
Seminário Avançado do PPGEDU, FACED/UFRGS, em julho de 1995. Publicado em Coletâneas do Programa de Pós-Graduação em Educação
  • Mariza Abreu
ABREU, Mariza. "A Escola Possível e a Merenda Escolar". Seminário Avançado do PPGEDU, FACED/UFRGS, em julho de 1995. Publicado em Coletâneas do Programa de Pós-Graduação em Educação, ano 1, n.l, jul./ago. 1995.
Rubem Alves Essencial.1ª edição
  • Rubem Alves
ALVES, Rubem. Rubem Alves Essencial.1ª edição. São Paulo: Planeta, 2015.
Álbum Parlamos e Titãs Ao vivo
  • Arnaldo Antunes
  • Britto
  • Marcelo Sérgio E Fromer
ANTUNES, Arnaldo. BRITTO, Sérgio e FROMER, Marcelo. Álbum Parlamos e Titãs Ao vivo. Regravação da música Comida (1987). Rio de Janeiro: WEA, 2008. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=hD36s-LiKlg. Acesso em: 26 jun. 2020.
A escola possível é possível?
  • Miguel Arroyo
ARROYO, Miguel. A escola possível é possível? In: ARROYO, Miguel. (Org.).
Um professor em contato com as crianças é obrigado a se repensar
  • Miguel Arroyo
ARROYO, Miguel. Um professor em contato com as crianças é obrigado a se repensar. Revista Aliança Brasileira pela Educação. Disponível em: https:// www.cenpec.org.br/tematicas/miguel-arroyo-um-professor-em-contato-com-ascriancas-e-obrigado-a-se-repensar Entrevista concedida em 22/04/20219. Acesso em: 02 fev.2020.
Mundial analisa a evolução e os desafios da educação brasileira. MEC. Brasília
  • Brasil
  • Banco
BRASIL. Banco Mundial analisa a evolução e os desafios da educação brasileira. MEC. Brasília, 2014. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/ component/tags/tag/34913. Acesso em: 17 jun. 2020.