Pensar no desenvolvimento de países pós-coloniais é ao mesmo tempo um desafio, na medida em que se encontram em posição de dependência em relação aos países colonizadores, e também é uma incoerência, uma vez que a própria ideia de desenvolvimento acaba por fazer parte do modo de ocidental-colonial de entender as melhorias das condições de vida. Neste sentido, casos como o da Tanzânia durante o governo de Julius Nyerere (1964-1985) colocam luz sobre estas reflexões: através da ideia de Ujamaa - conceito suaíle de difícil tradução, mas que pode ter seu significado entendido como pertencimento familiar -, Nyerere buscou uma narrativa própria que estivesse em linha com a cultura e as tradições locais, mas que, ao mesmo tempo, permitisse aumento da renda da população. Os erros e problemas que surgiram ao longo do caminho e que enterraram o projeto do Ujamaa foram tanto resultado de elementos conjunturais externos quanto de decisões na condução da política que o próprio presidente havia reconhecido que poderiam levar ao fracasso. O objetivo aqui é, então, apresentar uma discussão sobre o desenvolvimento enquanto elemento ideológico ocidental, cuja ruptura epistêmica pode passar por conceitos e valores locais, como é o caso do Ujamaa na Tanzânia durante o governo Nyerere.