Perspetivar a investigação como uma viagem implica adotar uma atitude de abertura reflexiva à pluralidade de significados sociológicos sobre as translações socio-espaciais (Andrade, 2002). Assim, pensar na investigação social como uma viagem é pensar num movimento de translação entre espaços-tempos diferentes, que segue determinados propósitos e usa determinados meios. Um movimento que nos leva
... [Show full abstract] do início ao fim da investigação, ainda que esse fim possa ser, ele próprio o início de outras investigações. Um movimento que pode não ser – frequentemente não é –, linear. Antes, um movimento feito de avanços e recuos, certezas e hesitações, algumas paragens, intermitências, muitas e constantes decisões. Um movimento, em suma, que não permite apenas a transformação de conhecimento pré-existente em conhecimento novo, mas também um movimento que (trans)forma a própria pessoa que conhece. Ao lecionar metodologias de investigação social recorri muitas vezes a José Machado Pais (1993, 2002) e à distinção que faz entre categorias bem conhecidas dos estudantes de turismo. À imagem de um “pesquisador turista”, figura presa aos roteiros teóricos previamente definidos e a uma lógica eminentemente fechada e confirmatória, Pais opõe o “pesquisador viajante”, identificado com uma atitude de flâneur e de abertura para a descoberta incessante. O autor usa esta distinção para enfatizar a importância da exploração enigmática das representações da realidade que se nos insinua e cuja desocultação exige um processo de descodificação, tanto mais exigente quanto a realidade social nos é familiar e os caminhos (apenas aparentemente) conhecidos. A imagem não podia ser mais heurística e atual. O caminho continua, afinal, o mesmo. As viagens, essas, são múltiplas e de desfecho (im)previsível. Assim também a investigação.