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Marcelo de Maio Nascimento1*
RESUMO
A senescência tem sido foco de interesse para
pesquisadores desde o século XIX. Diante
disso, foram elaboradas várias teorias para
explicar o processo do envelhecimento humano,
fato que gerou grupos e subgrupos de teorias.
Este manuscrito revisou as principais teorias do
envelhecimento e, por conseguinte, sintetizou e
classicou as informações existentes. Nossas
visões sobre a temática foram apresentadas em
um modelo ilustrativo, que consolidou a temática
em quatro grupos: i) teorias evolucionárias
modernas, ii) teorias programadas, iii) teorias
de danos e, iv) teorias combinadas. Ademais,
considerações foram feitas sobre a natureza
consensual das propostas teóricas apresentadas
e suas inter-relações. Nesse contexto, concluiu-se
que apesar dos avanços da ciência e do grande
número de teorias criadas ao longo dos anos,
ainda não existe um entendimento denitivo sobre
o processo do envelhecimento, a nível evolutivo,
como também é desconhecida a amplitude das
analogias dos fatores associados ao processo.
Palavras-chave: envelhecimento; teoria; biologia;
genética.
1 Profesor Adjunto III, Colegiado de Educação Física
- Universidade Federal do Vale do São Francisco –
Brasil.
* Autor correspondente: Av. José de Sá Maniçoba,
S/N - Centro, Petrolina - PE, 56304-917.
E-mail: marcelo.nascimento@univasf.edu.br
ABSTRACT
Senescence has been a focus of interest for
researchers since the 19th century. Given this,
several theories were elaborated to explain the
process of human aging, a fact that generated
groups and subgroups of theories. This manuscript
reviewed the main theories of aging and therefore
synthesized and classied existing information.
Our views on the subject were presented in an
illustrative model, which consolidated the theme
into four groups: i) modern evolutionary theories,
ii) programmed theories, iii) damage theories, and
iv) combined theories. In addition, considerations
were made about the consensual nature of
the theoretical proposals presented and their
interrelationships. In this context, it was concluded
that despite the advances in science and the large
number of theories created over the years, there is
still no denitive understanding of the evolutionary
process of aging, as well as the amplitude of the
analogies of the factors is unknown. associated
with the process.
Keywords: aging, theory, biology, genetics.
INTRODUÇÃO
Em razão da transição demográca e do
rápido aumento do quantitativo de idosos, cresceu
nas últimas décadas o interesse da ciência por
tópicos relativos ao envelhecimento humano.1
Paralelo ao fato, um número signicativo de teorias
psicológicas, sócias e biológicas foram criadas
Revista Saúde e Desenvolvimento Humano - ISSN 2317-8582
http://revistas.unilasalle.edu.br/index.php/saude_desenvolvimento
Canoas, v. 8, n. 1, 2020
Artigos de Revisão
Uma visão geral das teorias do envelhecimento humano
An overview of human aging theories
Una visión general de las teorías del envejecimiento humano
http://dx.doi.org/10.18316/sdh .v8i1.6192
Revista Saúde e Desenvolvimento Humano, 2020, Fevereiro 8(1): 161-168
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com a nalidade de expandir o entendimento e
tratamento dos fatores associados e responsáveis
pelo processo do envelhecimento.2 Entretanto,
apesar da evolução da ciência e suas importantes
conquistas, ainda hoje, existem dúvidas sobre: Por
que envelhecemos? Quais são os marcadores do
envelhecimento? Qual o momento do início deste
processo? E, mesmo se há um limite de tempo
para o ser humano envelhecer?
O envelhecimento é denido como um
processo multifatorial determinado por fatores
genéticos e ambientais.1,2,3 A identicação
dos agentes que regulam o caso é limitada
pela complexidade do próprio processo e
heterogeneidade dos marcadores genéticos que
compõem o organismo de cada indivíduo.3 Apesar
de existir um número considerável de teorias sobre o
envelhecimento ainda permanecem dúvidas sobre
os fatores que controlam a vida humana. Em 2007,
Viǹa, Borràs, Miquel4 publicaram o estudo intitulado
Theories of Aging, destacando as diculdades para
proceder com estudo de revisão sobre as teorias do
envelhecimento humano. Aliado ao caso, vericou-
se que além de serem seletivas, os consecutivos
avanços da ciência tornam rapidamente os
princípios teóricos ultrapassados. Deste modo, é
difícil criar uma teoria unicada, capaz de associar
todas as peças do quebra-cabeça responsável
pelo envelhecimento humano. Contudo, o papel da
ciência consiste em revisar teorias anteriores e a
partir disso desenvolver novas hipóteses para que
se possa obter respostas úteis sobre problemas
atuais, assim como, amparar à fundamentação de
novos estudos na área da Gerontologia.
Conforme a literatura especializada, as teorias
são divididas em dois grupos: teorias programadas
e teorias estocásticas.4,5,6 Teorias programadas
funcionam como “relógios biológicos”, regulando
os processos de crescimento, maturidade,
senescência, e inclusive a morte dos seres
humanos. Por outro lado, as teorias estocásticas
buscam identicar os agentes responsáveis
pelos agravos da saúde, uma vez que, possuem
relação direta com o processo do envelhecimento;
logo aqueles que causam danos celulares e
moleculares aleatórios e progressivos. Ademais,
paralelo às teorias programadas e estocásticas
existem as teorias evolutivas, que armam que
tanto os organismos, como o homem vêm sofrendo
mudanças naturais ao longo de milhares de anos.7
Nesse contexto, há décadas vários estudos
e teorias abordaram sob diferentes prismas os
mecanismos responsáveis pelo envelhecimento
humano. Entretanto, considerando a complexidade
do caso e os diferentes pontos de vista da questão,
não há um consenso na área da ciência sobre as
causas diretas do envelhecimento. Isso mostra
a necessidade do desenvolvimento de estudos,
principalmente, de revisão de literatura, que
ofereçam uma visão geral sobre as teorias do
envelhecimento humano. Pois, ainda hoje, existem
dúvidas sobre o caso. Ademais, apesar das teorias
do envelhecimento apresentarem diferenças, elas
não devem ser consideradas separadamente, mas
sim como portadoras de saberes complementares.
Por essas razões, a realização do presente estudo
se justica como fonte de informação à promoção
do conhecimento dos prossionais da área da
gerontologia, bem como, de material à qualicação
de suas práticas diárias.
Nessa perspectiva, o presente estudo
teve por m revisar a literatura especializada
referente às teorias do envelhecimento humano,
igualmente, classicar e apresentar as teorias do
envelhecimento humano de forma sintetizada,
destacando suas particularidades.
METODOLOGIA
Trata-se de uma Revisão Integrativa da
Literatura. Este procedimento busca sumarizar
a bibliograa anterior, independentemente do
método investigativo, ampliando e qualicando
a compreensão dos leitores sobre um dado
fenômeno. A busca do referencial teórico foi
realizada nas bases de dados Google Acadêmico,
Lilacs, Medline e SciELO. Para tanto foram eleitos
os seguintes descritores: i) português: teoria do
envelhecimento, processo do envelhecimento, e
humanos, ii) inglês: aging theory, aging process,
and humans. Como critério de inclusão foi
adotado: i) estudos em português e inglês, ii)
publicações realizadas entre os anos 2002-2018.
Foram excluídos estudos que: i) não abordaram
especicamente teorias do envelhecimento
humano, ii) duplicatas, iii) teses, e iv) anais de
congressos. Os dados foram processados e
armazenados em uma planilha no programa
Excell® (Oce 2010®). Nesta, as informações
foram separadas por ano, autor, objetivo, tipo de
estudo e principais resultados.
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RESULTADOS
A Figura 1 apresenta os resultados da
estratégia de busca realizada por este estudo.
Mediante o cruzamento dos descritores foram
encontrados inicialmente 254 artigos. Desses, 26
apresentaram compatibilidade com a pergunta
norteadora e com os critérios de inclusão. Todos
os estudos foram lidos na íntegra. Após análise
crítica, 12 manuscritos foram excluídos por não
atenderem os critérios de inclusão e dois por
motivo de dupla indexação. Ao nal, 12 artigos
foram incluídos na revisão integrativa.
Figura 1. Fluxograma da seleção dos estudos incluídos na revisão integrativa.
O Quadro 1 detalha os estudos incluídos
na revisão integrativa. As informações foram
categorizadas, segundo autor, ano de publicação,
objetivo do estudo, tipo do estudo e principais
resultados. Observa-se que as investigações
possuíram objetivos similares, prevalecendo a área
da biologia celular, aspectos históricos evolutivos
e um estudo abordou o papel do exercício físico
sobre o envelhecimento. Outra característica
encontrada foi a inclusão de guras nos textos para
sintetizar as teorias do envelhecimento e facilitar
o entendimento dos processos de transformação
celular sobrevindo do envelhecimento siológico.
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Quadro 2. Descrição dos artigos incluídos na revisão integrativa.
Ano/Autor Objetivo Tipo do
estudo Principais resultados
Da Costa et al.
(2016)
Revisar mudanças celula-
res que ocorrem durante o
envelhecimento humano.
Revisão
integrativa
Biogerontologistas devem estar
cientes da interconectividade que
há entre os fatores associados ao
envelhecimento para chegar a con-
clusões válidas e denitivas.
Rodrígues Rodero
et al. (2011)
Revisar os fatores gené-
ticos mais conhecidos
responsáveis pelo pro-
cesso do envelhecimento
humano.
Revisão
integrativa
O envelhecimento inclui a função
genética alterada e fatores epigené-
ticos (DNA). Estratégias anti-enve-
lhecimento necessitam de estudos
futuros que descrevam as alterações
siológicas relacionadas à idade.
Viña, Borrás e Mi-
quel (2007)
Revisar as principais teo-
rias do envelhecimento hu-
mano na área da biologia.
Revisão inte-
grativa
O DNA pode ser a molécula alvo
mais crítica para o estresse oxidati-
vo relacionado à idade. Há relação
entre o envelhecimento e a progra-
mação genética: perda de telômeros
e morte celular.
Farinatti (2002)
Apresentar correntes
teóricas relacionadas ao
envelhecimento. Tecer con-
siderações sobre o papel
do exercício no envelheci-
mento.
Revisão
integrativa
As teorias carecem de comprova-
ção denitiva sobre sua inuência
e formas como interagiriam. Há in-
certezas sobre o papel do exercício
físico como estratégia para retardar
o envelhecimento.
Jin (2010) Sintetizada as teorias do
envelhecimento humano. Comentário
Muitas teorias interagem entre si de
forma complexa. O entendimento
das teorias pode promover o enve-
lhecimento bem-sucedido e melhorar
a vida útil da humanidade.
Rose et al. (2008)
Revisar os princípios das
teorias evolutiva da bio-
logia, entre os séculos
XIX-XXI.
Revisão
integrativa
Conceitos não-darwinianos são
diluídos nas publicações biológicas.
Mas, seus saberes podem promover
uma teoria geral e preditiva do enve-
lhecimento.
Tosato et al. (2007)
Fornecer evidências sobre
intervenções à modicação
do processo do envelheci-
mento humano.
Revisão
integrativa
Biogerontologistas devem enfatizar
que o objetivo da pesquisa sobre en-
velhecimento não é aumentar a lon-
gevidade humana, mas estender sua
longevidade ativa, livre de incapaci-
dades e dependências funcionais.
Gavrilov & Gavrilo-
va (2002)
Introduzir teorias evolutivas
do envelhecimento. Sinteti-
zar informações da área da
gerontologia evolutiva.
Revisão
integrativa
Teorias evolutivas do envelhecimen-
to são úteis quando abrem novas
oportunidades à pesquisa, sugerindo
previsões testáveis, mas não devem
ser usadas para impor limitações
aos estudos do envelhecimento.
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Van Raamsdonk
(2018)
Revisar estudos sobre a
função da genética e epi-
genética na modulação da
longevidade.
Revisão
integrativa
É possível prolongar a vida útil
e saudável mantendo as vias
genéticas que modulam a vida, des-
de de que essas sejam acionadas
durante à vida adulta.
Sergiev et al.
(2015)
Resumir teorias atuais do
envelhecimento e sinteti-
zar as abordagens à sua
compreensão.
Revisão
integrativa
Teorias do envelhecimento sugerem
como causa do problema a acumu-
lação de danos moleculares. Mu-
danças na longevidade dos organis-
mos provém de mutações nas vias
metabólicas.
Rattan (2006)
Revisar os princípios das
teorias do envelhecimento
biológico.
Revisão
integrativa
O débito progressivo da homeodinâ-
mica reduz as funções siológicas,
baixa a funcionalidade, aumenta
doenças. A intervenção, prevenção
e modulação do envelhecimento
exige uma teoria unicada biológica
(genes).
Mercado-Sáenz et
al. (2010)
Revisar as causas e
fatores que inuenciam
o envelhecimento, bem
como, relação com ritmos
biológicos.
Revisão
integrativa
O envelhecimento sobrevém do en-
curtamento dos telômeros, envelhe-
cimento das mitocôndrias, acúmulo
de mutações, atroa apoptótica dos
tecidos somáticos e reprodutivos.
A Figura 2 sintetiza o conjunto de teorias do envelhecimento humano. A criação desta ilustração foi
realizada com base nas informações obtidas nos doze estudos incluídos nesta revisão2,3,4,5,6,7,8,9,10,11,12,13.
Figura 3. Visão geral da classicação das teorias do envelhecimento humano.
Fonte: Autor (2020)
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DISCUSSÃO
A discussão dos achados será realizada
em quatro tópicos, conforme a apresentação dos
resultados (Figura 2): teorias evolutivas, teorias
programadas, teorias de danos ou erro e teorias
combinadas
Teorias Evolutivas
Essas teorias são fundamentadas por causa
de aspectos basilares da área, em sentido histórico
e evolutivo. De forma geral, elas estão ligadas à
teoria de seleção natural das espécies desenvolvida
pelo naturalista inglês Charles Darwin (1809-
1882).7 Conforme Darwin, comparativamente, os
organismos que estão melhor adaptados ao meio
apresentam maior chance de sobrevivência, que
aqueles menos adaptados. Para Darwin isso seria
determinante à perpetuação das espécies. Teorias
evolucionárias do envelhecimento são úteis, pois
permitem a estruturação de novos olhares sobre
temas antigos, contribuindo para formação de
novos conhecimentos.8
No trabalho intitulado Evolution of ageing
since Darwin, Rose et al.7 desenvolveram uma
revisão sobre as teorias evolutivas com destaque
para área da biologia do envelhecimento humano.
Ao longo do texto, os autores apresentaram
fundamentos históricos apresentados por
pesquisadores renomados como August
Weissmann (1881-1892), que apresentou o
envelhecimento como um produto da evolução.
Também há referência para as contribuições
de J. B. S. Haldone (1941), que caracterizou o
envelhecimento como declínio da força da seleção
natural. Por conseguinte, William Hamilton (1966)
relacionou o envelhecimento às forças de seleção
natural. Enquanto que Brian Charlesworth (1970-
1980) desenvolveu uma teoria genética do
envelhecimento populacional.
Entre as teorias evolutivas, encontra-se a
de “pleiotropia antagônica”, sua hipótese é de que
durante à juventude existem genes com efeitos
benécos, mas, que na fase tardia da vida se
tornam nocivos.7 Isso signica dizer, que os genes
selecionados potencializariam o vigor do indivíduo
jovem, favorecendo à reprodução, gerando no
futuro, contudo, alterações de senescência.
Segundo esta teoria, a função reprodutiva se
apresentaria como marcador para o início da
senescência, ou seja, quanto mais cedo ocorrer
a fase de reprodução, mais cedo seria o início
da senescência. Conforme a literatura, apesar
de existirem melhores evidências para a teoria
da “pleiotropia antagonista” do que para a teoria
do “acúmulo de mutações”, os resultados em
seres humanos ainda não são sucientemente
persuasivos.7
As seções que seguem apresentam o
conjunto de teorias biológicas. O elemento
motivador para a criação dessas teorias foi
a busca por explicações sobre o conjunto de
mudanças siológicas, estruturais e funcionais
responsáveis pelo processo do envelhecimento
humano.3,4 É importante salientar que teorias
biológicas do envelhecimento são determinadas
por teorias subjacentes, que se encontram
associadas à mecânica do processo evolutivo do
ser humano.5,8 Este agrupamento de hipóteses
pode ser classicado em três categorias: teorias
programadas, teorias de danos e as teorias
combinadas (desenvolvidas mais recentemente).2
De forma geral, seus princípios são os seguintes:
Teorias Programadas
Também são intituladas como teorias do
envelhecimento ativo ou adaptado.2 A hipótese
central é de que o envelhecimento siga um
cronograma biológico inuenciado por fatores
de ordem interna, contudo, possível de sofrer
alterações em razão dos fatores externos. Com
o aumento da idade alterações genéticas afetam
os sistemas responsáveis pelas respostas de
manutenção, reparo e defesa do organismo.
Isso gera um conjunto de deteriorações
progressivas nos órgãos, seguido pelo décit
do desempenho de funções vitais essenciais à
vida. Diferentemente das teorias programadas, o
conjunto de teorias baseadas nos danos de origem
química supõem que os problemas de codicação
genética causados por subprodutos das reações
químicas orgânicas seja o responsável por danos
irreversíveis sobre as moléculas das células.5
Por outro lado, uma consideração oposta
às teorias programadas é de que essas reações
químicas poderiam ser potencializadas por
fatores externos como, por exemplo, o tipo da
alimentação ou poluição ambiental. Entretanto,
as hipóteses desta teoria conjecturam que os
danos possam ser retardados mediante à prática
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regular de exercícios físicos ou com a reeducação
alimentar. O fato apresentado é de que com isso
o organismo seria capaz de elevar seu potencial
para metabolizar substâncias benécas.9
Teorias de Dano ou Erro
Essas teorias são aquelas que consideram
os prejuízos cumulativos sofridos pelo organismo
como causa do envelhecimento.5,6 Este grupo
apresenta um grande número de teorias, entre
elas estão as de nível celular. Sua principal
característica é a integração de mecanismos
intrínsecos portadores de sinais do tempo, ou
seja, genéticos e programados. Esses marcadores
tornam o organismo mais suscetível a uma série
de alterações, como, por exemplo, mutações e
danos mitocondriais nas proteínas. Outro dano
gradual seria sobre o DNA das células, uma avaria
que potencializa alterações epigenéticas em sua
estrutura, também sobre a formação de radicais
livres e de componentes celulares especícos:
gene, cromossomo, mitocôndria, telômero.8
Nessa perspectiva, a principal área de
ação das teorias de dano consiste em explicar
o envelhecimento a partir dos processos
siológicos que abarcam o estresse oxidativo,
a sinalização imunológica, o metabolismo da
insulina, a restrição calórica, além de princípios
neuroendocrinológicos.9,10
Teorias Combinadas
São teorias que tratam o envelhecimento
de forma ampla, considerando o processo
em forma de rede. Entre suas hipóteses há a
de que o envelhecimento seja regulado por
ciclos e feedbacks sobrevindos da organização
biológica do organismo2. Assim, as teorias
combinadas apresentam quatro postulados11,13:
i) o envelhecimento é um fenômeno universal,
que ocorre com todos os indivíduos da mesma
espécie, apresentando-se, todavia, em diferentes
níveis; ii) o envelhecimento sobrevém de
fatores endógenos, não dependendo de fatores
extrínsecos; iii) o envelhecimento é progressivo,
manifestando-se ao longo da vida útil do indivíduo;
e, iv) o envelhecimento é basicamente prejudicial,
logo seus fatores associados não oferecem
vantagens para o indivíduo.
Em estudo de revisão desenvolvido por Da
Costa et al.2, os autores destacaram exemplos de
teorias unicadas do envelhecimento humano.
Conforme os autores, em 1978 e 2013 surgiram,
respectivamente, as hipóteses do envelhecimento
da membrana e do envelhecimento como fenômeno
biofísico. A primeira teoria partiu do princípio de
que o aumento da idade tornaria as membranas
celulares mais rígidas, reduzindo a capacidade
das células para executarem trocas químicas e
procederem com transferência de calor. Por essa
razão, uma diminuição do potássio intracelular
contribuiria para o rejuvenescimento. A segunda
hipótese é mais recente, nela o envelhecimento
foi considerado como um processo químico, uma
espécie de mecanismo biofísico de natureza
elétrica. Entretanto, a própria literatura salienta
que essas duas teorias ainda carecem de melhor
sustentação empírica.2,3
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nas informações apresentadas
neste estudo foi possível concluir que o
envelhecimento é responsável pelo declínio
progressivo da função física, cognitiva e reprodutiva
humana, aumentando, por conseguinte, a
morbimortalidade. Ademais, este processo é
inuenciado tanto por fatores genéticos, como
ambientais. Segundo as publicações analisadas,
questões do envelhecimento humano são amplas
de considerações, o que diculta o desenvolvimento
de estudos que forneçam uma visão completa e,
principalmente, conclusiva. Observou-se que ao
longo dos anos, pesquisadores criaram um grande
número de teorias e hipóteses para desvendar as
dúvidas relativas ao envelhecimento, mas ainda
hoje não há um consenso sobre o caso.
As informações fornecidas pelos estudos
selecionados determinaram a categorização
dos resultados em quatro categorias: teorias
evolutivas, teorias programadas, teorias de danos
e teorias combinadas. Vale salientar que não existe
um consenso sobre a classicação das teorias,
uma possível explicação para o caso consiste na
abrangência do tema, isso obrigou os estudiosos a
organizarem as informações em diferentes grupos
e, por conseguinte, subgrupos. Não obstante,
observou-se que as teorias interagem entre si,
evidenciando que são complementares.
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