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Primeiro registro documentado de guará, Eudocimus ruber (Pelecaniformes: Threskiornithidae) para o município de São Paulo, SP

Authors:
  • Centro de Triagem de Animais Silvestres - Parque Ecológico do Tietê
  • Centro de Recuperação de Animais Silvestres do Parque Ecológico do Tietê - SP

Abstract

Primeiro registro documentado de Eudocimus ruber para o município de São Paulo, SP
Fábio Toledo das Dores1,2,
Lilian Sayuri Fitorra1, Valéria
da Silva Pedro1, Haroldo Ryoiti
Furuya1, Bruno Sergio Simões
Petri1 & Liliane Milanelo1
Recebido: 20/3/2020. Aprovado: 20/4/2020.
O guará Eudocimus ruber (Linnaeus,
1758) é caracterizado pela plumagem
vermelha1,2. Ocorre no litoral norte do
Brasil, nos estados do Amapá, Pará,
Maranhão, Piauí e Ceará, além de uma
população isolada no litoral centro-nor-
te da Bahia, provavelmente proveniente
de soltura, mas que se estabeleceu, nidi-
ficando e expandindo sua população1,3.
Na região sudeste, ocorre somente no
estado de São Paulo, e na região Sul, nos
estados do Paraná e Santa Catarina1. No
estado de São Paulo, a espécie reapare-
ceu em 1982, proveniente de provável
soltura, repovoando o litoral do municí-
pio de Santos, chegando a Cubatão em
1989 e, posteriormente, ampliando sua
distribuição do norte do litoral paulista
em direção à região sul1,4,5,6. Sua dieta é
composta por caranguejos, caramujos e
insetos, habita principalmente os man-
guezais, ecossistema costeiro ameaçado
devido à ampla degradação1, mas tam-
bém pode ser encontrado em estuários e
lagos rasos naturais costeiros7.
O primeiro registro documentado de
Eudocimus ruber para o município de
São Paulo foi feito no Parque Ecológico
do Tietê - PET, Núcleo Engenheiro Gou-
lart (23°29’23.15”S, 46°31’10.90”W,
740 m a.n.m.), localizado na zona leste
de São Paulo (Figura 1). O parque pos-
sui cerca de 1.250 ha e está inserido na
Área de Proteção Ambiental da Várzea
do Tietê8, sendo dividido pelo Rio Tie-
tê, entre os municípios de São Paulo,
à margem sul, e Guarulhos, à margem
norte. Está inserido domínio da Mata
Atlântica e possui vegetação secundária
em estágio inicial de regeneração, com
a presença de espécies vegetais silves-
tres e exóticas. O parque apresenta di-
ferentes tipos de ambientes, como áreas
abertas, lagos naturais e artificiais, áre-
as florestadas, capinzais, praias de sedi-
mento, campos alagados, brejos e áreas
de várzea9.
Numa tarde nublada do dia 4 de de-
zembro de 2014, às 14:30 h, dois trata-
tro feito no PET. É possível que seja o
mesmo bando que tenha se deslocado a
partir do alto Tietê, talvez seguindo o
curso desse rio, que atravessa tanto os
municípios de Mogi das Cruzes quanto
São Paulo, chegando ao Parque Ecoló-
gico do Tietê. Os registros feitos no mu-
nicípio de São Paulo e Mogi das Cruzes,
são os primeiros para o estado de São
Paulo feitos em uma região distante do
litoral. Apesar de ser uma espécie resi-
dente no litoral paulista, pode realizar
grandes deslocamentos regionais4, ha-
vendo registros de extensas distâncias
percorridas em busca de alimentação,
de 60 a 70 km1. É possível que o bando
tenha se desorientado durante um des-
locamento, o dia estava nublado e havia
chovido pela manhã, inclusive municí-
pios litorâneos, como Santos e Cubatão,
apresentaram temperaturas mais baixas
com céus nublados e precipitação11, o
que poderia explicar a desorientação,
visto que no planalto não há locais si-
milares aos utilizados pela espécie no
litoral.
O registro dos guarás no Parque Eco-
lógico do Tietê mostra a importância de
parques urbanos para diversas espécies
de aves aquáticas e paludícolas, sejam
elas vagantes ou migratórias, servindo
de ponto de parada, alimentação e/ou
dormitório durante deslocamentos re-
gionais sazonais ou não.
dores do Centro de Triagem de Animais
Silvestres do PET, Osmar e Luizão,
comunicaram os autores (FTD; LSF &
VSP) que visualizaram dezenas de “gar-
ças vermelhas” empoleiradas em árvo-
res na beira de um dos lagos do parque.
Ao chegarem no local (FTD; LSF &
VSP), por volta das 14:45 h, um extenso
lago cercado por mata secundária, com
presença de troncos caídos na margem,
foram visualizados alguns indivíduos
de E. ruber (Figura 2). As aves estavam
divididas em dois pequenos bandos de
cinco e quatro indivíduos, dentre os
quais seis eram adultos e três imaturos.
Os indivíduos aparentavam estar des-
cansando, se limpando enquanto empo-
leirados, mas deslocando-se ariscamen-
te durante a tentativa de aproximação.
Previamente, os tratadores haviam ob-
servado e filmado um bando maior, sen-
do possível contabilizar 24 indivíduos,
entretanto, ao chegar no local indicado,
a maior parte do grupo já havia se des-
locado. Cerca de 30 min após a obser-
vação inicial, os indivíduos restantes
alçaram voo em direção ao norte, desa-
parecendo por trás da mata, não sendo
observados posteriormente.
Um bando de E. ruber com pelo me-
nos 14 indivíduos, também foi registra-
do sobrevoando o município Mogi das
Cruzes no mesmo dia, às 12:45 h10, ou
seja, cerca de duas horas antes do regis-
Primeiro registro documentado do guará, Eudocimus ruber
(Pelecaniformes: Threskiornithidae) para o município de São Paulo, SP
Figura 1. Mapa do município de São Paulo indicando a localização
do Parque Ecológico do Tietê – Núcleo Engenheiro Goulart.
Atualidades Ornitológicas, 214, março e abril de 2020
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com.
1Centro de Triagem de Animais
Silvestres do Parque Ecológico do
Tietê, São Paulo, SP, Brasil. E-mail:
craspet@daee.sp.gov.br
2Autor para correspondência.
E-mail: fabio_tol@msn.com
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P.C. et al. (2007) AO 136: 12; (4) Chupil,
H. & Monteiro-Filho, E.L.A (2018) His-
Figura 2. Indivíduos de Eudocimus ruber (guará) no
Parque Ecológico do Tietê. Foto: Fábio Toledo das Dores.
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