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Gases venenosos na Primeira Guerra Mundial: Da corrida tecnológica ao terror nas
trincheiras
Dandriel Henrique da Silva Borges428
Resumo: Fruto dos processos de expansão das potências imperialistas, as disputas de poder,
territórios e mercados, muitas vezes fatores quase sinônimos, culminaram em confrontos,
como a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). O conflito, inicialmente idelizado como algo
rápido, extendera-se. O perdurar, as trincheiras e a busca pela vitória incentivaram uma
exponencial corrida tecnológica que afetara diversos setores das nações que dela participaram.
Os gases tóxicos foram usados pela primeira vez em larga escala por soldados alemãs em
1915. Dali até o fim do conflito o terror dos gases tornara-se constante desde as linhas de
produção até as trincheiras de batalha. Esse artigo pretende analisar, num âmbito introdutório,
diferentes consequências que a produção e a utilização de gases venenosos causaram perante a
aqueles que tiveram de alguma forma a vida por eles afetada.
Palavras-chave: Primeira Guerra Mundial Guerra Química Armas Químicas
Abstract: As a result of the expansion of the imperialist powers, disputes, territories and
markets, often near-synonymous, culminated in clashes, such as the First World War (1914-
1918). The conflict, initially idle as fast, had spread. The enduring, the trenches and the quest
for victory spurred an exponential technological race that had affected many sectors of the
nations that participated in it. Toxic gases were used for the first time on a large scale by
German soldiers in 1915. By the end of the conflict the terror of the gases had become
constant from the production lines to the battle trenches. This article intends to analyze, in an
introductory scope, different consequences that the production and the use of poisonous gases
caused before those who had in some way the life affected by them.
Keywords: First World War Chemical Warfare Chemical Weapons
428 Graduando em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). ORCID:
https://orcid.org/0000-0001-8508-7114. E-mail: dandriel.henrique@gmail.com
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Introdução
Segundo Hobsbawn, com o desenvolvimento do capitalismo o mundo fora alçado para
uma realidade de rivalidade entre Estados, cujo expansionismo imperialista contribuiria para o
aflorar de conflitos, de alguns dos quais culminariam guerras429. Para o autor, as
competições e disputas por mercado entre cada vez mais países industrializados teriam um
papel fundamental para a ocorrência de tais eventos.
Nesse sentido temos então, iniciada em 1914 a Primeira Guerra Mundial. Um conflito
envolvendo diversos países, dentre os quais valem ser mencionados os principais atores: de
uma lado, Inglaterra, França, Rússia (até 1917) e EUA (entrando em 1917 e continuando até o
fim do conflito) e, do outro, Alemanha430.
Alimentada pelos diferentes complexos militares e industriais de seus países a,
também chamada, Grande Guerra acabou por estender-se muito além das expectativas iniciais
de seus participantes. Além de custar uma grande quantidade de vidas humanas (a maioria
ainda em idade produtiva). Dividida em duas frentes, um ocidental e um oriental, o conflito
fora marcado pela ampla corrida tecnológica e industrial. Diferentes maquinários que seriam
mais amplamente utilizados na Segunda Guerra Mundial, já durante esse período fizeram suas
primeira aparições, como os tanques e os submarinos. Duramente marcada pelas trincheiras,
nesse confronto os usuais ambientes em péssimas condições, grandes responsáveis pelo
desenrolar lento dos avanços, tornaram mero sonho as ideias de uma guerra rápida431.
Marcada pela já descrita industrialização, foi na Primeira Guerra Mundial que
acenderam, como nunca antes, em primeiro plano os cientistas e a ciência em si enquanto
possibilidade de vantagem em conflitos. Nesse sentido tivemos não apenas o desenvolver de
explosivos432, como principalmente, o investimento em armas químicas. Agentes como o gás
429 HOBSBAWN, Eric. Era dos Extremos: O breve século XX (1914-1991). Tradução: Marcos Santarrita, 2ª
edição. São Paulo: Companhia das Letras, 1997, p.436-439.
430 MOTTA, Marcia. A Primeira Guerra Mundial. In: REIS FILHO, Daniel Aarão. et al. O século XX. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2002, 2º Vol., p.235.
431 MOTTA, Marcia. A Primeira Guerra Mundial. In: REIS FILHO, Daniel Aarão. et al. O século XX. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2002, 2º Vol., p.244-248; FITZGERALD, Gerard J. Chemical Warfare and
Medical Response During World War I. American Journal of Public Health. Washington, vol.98, fascículo 4, p.
612, 2008.
432 LE COUTEUR, Penny e BURRESON, Jay. Os botões de Napoleão: as 17 moléculas que mudaram a
história. Rio de Janeiro: Zahar, 2006, p. 70-71.
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cloro, o fosgênio e o gás mostarda foram responsáveis por levar a guerra a níveis e padrões
nunca antes vistos, assim como também foram responsáveis por milhares de fatalidades433.
O artigo aqui apresentado busca fazer uma análise introdutória de algumas das
consequências da utilização de diferentes gases tóxicos, empregados como armas na Primeira
Guerra Mundial, na vida daqueles que por eles foram afetados de alguma forma. O
desenvolvimento do mesmo apresenta-s
utilizações desses gases e a consequente ascensão da utilização dos mesmos em batalhas; Em
pesquisas e o desenvolvimento científico e a citada ascensão da utilização das armas
químicas, além de alguns dos impactos internos sofridos por aquelas nações que se
propunham a desenvolverem-
das sociedades do início do século XX no que tangia a utilização de gases venenosos, dando
bordadas consequências, principalmente psicológicas, da utilização de
gases na realidade insalubre permeada pelo medo constante vivida pelos soldados em
trincheiras da Primeira Guerra Mundial, além de problemas disciplinares decorrentes dessa
realidade aterrorizante.
Início da guerra de gases
A Primeira Guerra Mundial fora marcada por, dentre uma ampla diversidade de outros
fatores, pelo desenvolvimento de novas tecnologias, muitas das quais seriam aprimoradas
para o uso na Segunda Guerra Mundial. Nem sempre inovadoras, mas muitas vezes surgindo
enquanto reapropriações de substâncias ou armas que já existiam designadas para outras
funções. Quando trazemos a tona o assunto da utilização de gases venenosos é curioso pensar
que já se encontrava na literatura, como em livros de Julio Verne e Arthur Conan Doyle434.
433 ECKART, Wolfgang U. The Soldier's Body in Gas Warfare: Trauma, Illnness, Rentennot, 1915-1933. In: 4.
FRIEDRICH, B. et al (Eds.). One Hundred Years of Chemical Warfare: Research, Deployment, Consequences.
Online: Springer International Publishing, 2017, p.213-214. Disponível em:
https://link.springer.com/content/pdf/10.1007%2F978-3-319-51664-6.pdf. Acessado em 10/12/2018.
434 ECKART, Wolfgang U. The Soldier's Body in Gas Warfare: Trauma, Illnness, Rentennot, 1915-1933. In: 4.
FRIEDRICH, B. et al (Eds.). One Hundred Years of Chemical Warfare: Research, Deployment, Consequences.
Online: Springer International Publishing, 2017, p.214. Disponível em:
https://link.springer.com/content/pdf/10.1007%2F978-3-319-51664-6.pdf. Acessado em 10/12/2018.
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Durante aquela que ficaria conhecida como a primeira guerra com características
técnicas e industriais435, fora introduzida pela primeira vez a utilização de gases venosos em
larga escala, inaugurando uma nova forma de matar436.
Autorizados por meteorologistas que avaliaram as condições propícias (ou não) do
tempo, uma unidade especial do exército alemão, ao longo das trincheiras localizadas em
Ypres, Bélgica, abriu mais de 6.000 cilindros de metal que continham gás cloro pressurizado,
levado então pelo vento em direção aqueles que eram então seus inimigos. No final de tarde
do dia 22 de abril de 1915, passado um intervalo de 10 minutos, 160 toneladas do gás teriam
atingido as posições francesas. O gás cloro possui uma coloração amarelo-esverdeada e um
cheiro característico de alvejantes, causava irritação nos olhos, narizes, pulmões e gargantas,
além de em concentrações suficientemente altas e/ou longas exposições, culmina em morte
por asfixia. Como nada desse tipo havia acontecido antes naquela magnitude, as tropas
encontravam-se completamente despreparadas ao receber tal ataque. Os aliados reportariam
quase 5.000 mortes de soldados, franceses e argelinos, por asfixia, "afogados" pelos fluidos de
seus próprios pulmões. Por outro lado, o "sucesso" do ataque foi uma surpresa até para os
próprios alemães. Não se aproveitaram do pânico e do caos causado tanto quanto poderiam,
ainda sim, romperam as linhas aliadas e avançaram por 6 quilômetros437.
O gás cloro não foi a única arma química usada na primeira guerra. A primeira
utilização de uma delas na Primeira Guerra Mundial é atribuída a França que, desde 1914, já
teria usufruído de granadas de gás lacrimogêneo438. Mesmo antes de a Grande Guerra há
quem defenda que já haviam sido utilizadas antes. Sobre utilizações de armas químicas
prévias ao conflito aqui estudado, Fitzgerald esclarece:
435 ECKART, Wolfgang U. The Soldier's Body in Gas Warfare: Trauma, Illnness, Rentennot, 1915-1933. In: 4.
FRIEDRICH, B. et al (Eds.). One Hundred Years of Chemical Warfare: Research, Deployment, Consequences.
Online: Springer International Publishing, 2017, p.213. Disponível em:
https://link.springer.com/content/pdf/10.1007%2F978-3-319-51664-6.pdf. Acessado em 10/12/2018.
436 SLOTTEN, Hugh R. Humane Chemistry or Scientific Barbarism? American Responses to World War I
Poison Gas, 1915 1930. The Journal of American History. vol.77, fascículo 2, p. 476, 1990.
437 SPIERS, Edward M. Chemical Warfare. Houndmills, Basingstoke, Hampshire e London: Palgrave
Macmillan UK, 1986, p. 15-16; SLOTTEN, Hugh R. Humane Chemistry or Scientific Barbarism? American
Responses to World War I Poison Gas, 1915 1930. The Journal of American History. vol.77, fascículo 2, p.
476, 1990.; MOTTA, Marcia. A Primeira Guerra Mundial. In: REIS FILHO, Daniel Aarão. et al. O século XX.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002, 2º Vol., p. 246; FITZGERALD, Gerard J. Chemical Warfare and
Medical Response During World War I. American Journal of Public Health. Washington, vol.98, fascículo 4, p.
611-612, 2008. ; EVERTS, Sarah. A Brief History of Chemical War. Science History Institute, online, 11 mai.
2015. Disponível em: https://www.sciencehistory.org/distillations/magazine/a-brief-history-of-chemical-war.
Acessado em 10/12/2018.
438 FITZGERALD, Gerard J. Chemical Warfare and Medical Response During World War I. American
Journal of Public Health. Washington, vol.98, fascículo 4, p. 615, 2008.
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Embora se possa argumentar que formas primitivas de armas químicas foram
usadas em conflitos anteriores, não foi até o século XX que cientistas,
engenheiros e médicos poderiam produzir de forma previsível e consistente
essas armas para infligir casualidades em massa (Tradução nossa)439.
Após a utilização do gás cloro em larga escala pela Alemanha também surgiriam
diferentes outros gases. Nesse sentido valem serem enfatizados principalmente dois,
amplamente utilizados, sendo o primeiro o fosgênio e o segundo o gás mostarda.
Usado primeiramente pelos alemães e depois tornado-se a principal arma química dos
aliados, o fosgênio é um gás incolor, seis vezes mais mortal que o gás cloro, com um cheiro
definido como de "feno molhado". Assim como o cloro, ele também fazia com que os
pulmões daqueles expostos a certas concentrações enchessem-se de líquido, fazendo suas
vítimas morrerem, lentamente, sufocadas440.
Também chamado de Cruz Amarela ou Rei dos Gases de Batalha, o gás mostarda,
introduzido na primavera de 1917, fora responsável por levar a "guerra química" para outro
patamar. Caracterizado como um agente vesicante, em contato com a pele e as mucosas eram
responsável por desenvolver grandes bolhas onde tivesse contato. Em contato com os olhos
causava irritações que poderiam transformarem-se em cegueiras temporárias. Os soldados
expostos tinham meia hora para, com auxílio de água e sabão quentes, limparem-se antes de
bolhas se formarem. Exposições a esse gás em grandes concentrações e/ou por longos
períodos causavam danos permanentes em certas partes do corpo441. Nas situações em que
ocorreriam contato superficial da pele em grande extensão ou ainda a exposição duradoura ao
gás em aerossol, tal substância tóxica poderia revelar-se rapidamente fatal442. Embora não
tenha sido responsável por tantas mortes diretas quanto outros gases, o gás mostarda fora
439 FITZGERALD, Gerard J. Chemical Warfare and Medical Response During World War I. American
Journal of Public Health. Washington, vol.98, fascículo 4, p. 612, 2008.
440 EVERTS, Sarah. A Brief History of Chemical War. Science History Institute, online, 11 mai. 2015.
Disponível em: https://www.sciencehistory.org/distillations/magazine/a-brief-history-of-chemical-war. Acessado
em 10/12/2018.
441 MOTTA, Marcia. A Primeira Guerra Mundial. In: REIS FILHO, Daniel Aarão. et al. O século XX. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2002, 2º Vol., p. 248; EVERTS, Sarah. A Brief History of Chemical War.
Science History Institute, online, 11 mai. 2015. Disponível em:
https://www.sciencehistory.org/distillations/magazine/a-brief-history-of-chemical-war. Acessado em
10/12/2018.; FITZGERALD, Gerard J. Chemical Warfare and Medical Response During World War I.
American Journal of Public Health. Washington, vol.98, fascículo 4, p. 617-618, 2008.
442 ECKART, Wolfgang U. The Soldier's Body in Gas Warfare: Trauma, Illnness, Rentennot, 1915-1933. In: 4.
FRIEDRICH, B. et al (Eds.). One Hundred Years of Chemical Warfare: Research, Deployment, Consequences.
Online: Springer International Publishing, 2017, p.217. Disponível em:
https://link.springer.com/content/pdf/10.1007%2F978-3-319-51664-6.pdf. Acessado em 10/12/2018.
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responsabilizado por um grande número de casualidades, cujas estimativas chegam em até
120.000 pessoas443.
Os gases venenosos têm como característica, mesmo quando não causavam
diretamente a morte, deixarem machucados e provocarem debilidades nos soldados afligidos.
Como resultado, poderia significar tanto uma morte "gradual", quanto que tais indivíduos
ficassem incapazes de poderem continuar lutando444.
Ao longo da Primeira Guerra Mundial ambos os lados do conflito acabaram por
utilizar de armas químicas445, não atoa ocorrera durante toda a guerra uma ampla corrida
pela superioridade técnica e cientifica entre os diferentes países participantes.
Corrida tecnológica e industrial, dos acidentes às armas
Entre os séculos XIX e XX os cientistas emergiram como um novo forte grupo social
e a ciência moderna veria acrescida sua força de influência sobre os diferentes aspectos das
sociedades. Particularmente em períodos de conflitos os cientistas teriam o reconhecimento de
seu poder e autoridade desenvolvidos, ocupando lugares que antes lhes eram negados446.
A importância das ciências, principalmente da química, na Primeira Guerra Mundial
fora algo nunca antes visto em tal proporção. No início do confronto a Alemanha encontrava-
se em vantagem sobre todas as demais nações no que tangia sua capacidade tecnológica e de
produção industrial e acadêmica447. Esse fato demonstrava-se em diferentes formas, como na
utilização de munições baseadas em TNT enquanto os Aliados ainda faziam uso do ácido
443 EVERTS, Sarah. A Brief History of Chemical War. Science History Institute, online, 11 mai. 2015.
Disponível em: https://www.sciencehistory.org/distillations/magazine/a-brief-history-of-chemical-war. Acessado
em 10/12/2018.
444 ECKART, Wolfgang U. The Soldier's Body in Gas Warfare: Trauma, Illnness, Rentennot, 1915-1933. In: 4.
FRIEDRICH, B. et al (Eds.). One Hundred Years of Chemical Warfare: Research, Deployment, Consequences.
Online: Springer International Publishing, 2017, p.215. Disponível em:
https://link.springer.com/content/pdf/10.1007%2F978-3-319-51664-6.pdf. Acessado em 10/12/2018.
445 SPIERS, Edward M. Chemical Warfare. Houndmills, Basingstoke, Hampshire e London: Palgrave
Macmillan UK, 1986, p.18; FITZGERALD, Gerard J. Chemical Warfare and Medical Response During World
War I. American Journal of Public Health. Washington, vol.98, fascículo 4, p. 617, 2008.
446 SLOTTEN, Hugh R. Humane Chemistry or Scientific Barbarism? American Responses to World War I
Poison Gas, 1915 1930. The Journal of American History. vol.77, fascículo 2, p. 477, 1990.
447 FITZGERALD, Gerard J. Chemical Warfare and Medical Response During World War I. American
Journal of Public Health. Washington, vol.98, fascículo 4, p. 613, 2008. ; ECKART, Wolfgang U. The Soldier's
Body in Gas Warfare: Trauma, Illnness, Rentennot, 1915-1933. In: 4. FRIEDRICH, B. et al (Eds.). One
Hundred Years of Chemical Warfare: Research, Deployment, Consequences. Online: Springer International
Publishing, 2017, p.214. Disponível em: https://link.springer.com/content/pdf/10.1007%2F978-3-319-51664-
6.pdf. Acessado em 10/12/2018.
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pícrico448. Com o bloqueio naval britânico, durante a guerra, que impedia a Alemanha de
importar o salitre chileno, essencial para a manufaturarão de seus explosivos, outras
possibilidades necessitaram ser avaliadas, principalmente tendo em vista a guerra de
trincheiras que construiu-se frustrando planos iniciais de um confronto curto449.
Para a produção dos gases tóxicos almejados como produto final havia a necessidade
da construção de todo um processo de síntese de vários precursores necessários para que os
agentes químicos ficassem completos e em condições para sua utilização eficiente em campo.
Isso significava todo uma ampla e complexa cadeia de indústrias. Não seria então de
surpreender-se que durante a Primeira Guerra Mundial a escala de produção industrial
alcançara patamares nunca vistos na história até então450.
A ampla indústria química alemã "ajudava" muito também no agregar de
conhecimentos práticos, mesmo que não exatamente intencionais. Isso porque boa parte dos
efeitos físicos e psicológicos dos gases tóxicos já eram conhecidos antes mesmo do início da
guerra, devido aos, bastante comuns, acidentes nas fábricas451.
Os já mencionados acidentes industriais produziram nas fábricas, assim como no
campo de batalha, fatalidades. As quais, embora indiretamente agregassem os conhecimentos
técnicos sobre os gases, acabavam por culminar em altas taxas de faltas e a necessidade de
afastamentos dos funcionários. O trabalho mais perigoso em tal realidade fora o que envolvia
a produção de projeteis de gás para artilharia452. A qual era essencial devido às limitações da
utilização dos gases, tal qual nos primeiros ataques, dispersos diretamente de cilindros
pressurizados dependiam completamente do vento para chegarem ao inimigo, além de, em
448 LE COUTEUR, Penny e BURRESON, Jay. Os botões de Napoleão: as 17 moléculas que mudaram a
história. Rio de Janeiro: Zahar, 2006, p. 70-72
449 MOTTA, Marcia. A Primeira Guerra Mundial. In: REIS FILHO, Daniel Aarão. et al. O século XX. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2002, 2º Vol., p. 240; ECKART, Wolfgang U. The Soldier's Body in Gas
Warfare: Trauma, Illnness, Rentennot, 1915-1933. In: 4. FRIEDRICH, B. et al (Eds.). One Hundred Years of
Chemical Warfare: Research, Deployment, Consequences. Online: Springer International Publishing, 2017,
p.216. Disponível em: https://link.springer.com/content/pdf/10.1007%2F978-3-319-51664-6.pdf. Acessado em
10/12/2018.
450 FITZGERALD, Gerard J. Chemical Warfare and Medical Response During World War I. American
Journal of Public Health. Washington, vol.98, fascículo 4, p. 619, 2008.
451 ECKART, Wolfgang U. The Soldier's Body in Gas Warfare: Trauma, Illnness, Rentennot, 1915-1933. In: 4.
FRIEDRICH, B. et al (Eds.). One Hundred Years of Chemical Warfare: Research, Deployment, Consequences.
Online: Springer International Publishing, 2017, p.214. Disponível em:
https://link.springer.com/content/pdf/10.1007%2F978-3-319-51664-6.pdf. Acessado em 10/12/2018.
452 FITZGERALD, Gerard J. Chemical Warfare and Medical Response During World War I. American
Journal of Public Health. Washington, vol.98, fascículo 4, p. 619, 2008.
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caso de bruscas e inesperadas mudanças do mesmo, poderiam "voltar" e causar danos aqueles
mesmos que estavam a utilizá-los453.
Além do já ilustrado, os conhecimentos médicos e farmacológicos foram essenciais
nesse processo, de fato a tecnologia militar e a médica eram intrinsecamente interligadas. No
contexto do início da guerra, a nação mais avançada nessa questões também era a Alemanha.
Como consequência, ela não estava só a frente nas pesquisas sobre os gases, mas também
sobre os cuidados médicos em relação aos mesmos454.
Pesquisas e os avanços eram realizados em ambos os lados do conflito. As
composições químicas dos gases acabavam sendo facilmente reproduzidas. Tendo isso em
vista, entende-se a importância da constante necessidade de desenvolvimento e
aprimoramento das máscaras e, principalmente após o acréscimo de agente que afetavam a
pele, de roupas eficazes na proteção dos soldados455. A exemplo, máscaras ineficazes, por
mais que bloqueassem os gases tóxicos em alguma medida, caso permitissem a entrada de
uma quantidade e/ou concentração capaz de causar irritações, náuseas e/ou desconfortos,
poderiam fazer os soldados tirarem as máscaras, expondo-lhes a uma intoxicação ainda mais
grave ou, até mesmo, a morte456.
Os Aliados diminuíram muito suas baixas com o desenvolvimento de máscaras de gás
e, depois, com capacetes de pano impregnados de substâncias químicas que protegiam os
soldados dos gases venenosos457.
Quando os Estados Unidos da América (EUA) entraram na guerra os conflitos com
armas químicas já estavam bastante avançados458. Com temores em relação a ataques de
gases às forças estadunidenses, assumiram inicialmente um foco em pesquisa no que poderia
lhes agregar na defesa perante agentes toxicológicos. Faltando um mês para a entrada dos
453 ECKART, Wolfgang U. The Soldier's Body in Gas Warfare: Trauma, Illnness, Rentennot, 1915-1933. In: 4.
FRIEDRICH, B. et al (Eds.). One Hundred Years of Chemical Warfare: Research, Deployment, Consequences.
Online: Springer International Publishing, 2017, p.218. Disponível em:
https://link.springer.com/content/pdf/10.1007%2F978-3-319-51664-6.pdf. Acessado em 10/12/2018.
454 ECKART, Wolfgang U. The Soldier's Body in Gas Warfare: Trauma, Illnness, Rentennot, 1915-1933. In: 4.
FRIEDRICH, B. et al (Eds.). One Hundred Years of Chemical Warfare: Research, Deployment, Consequences.
Online: Springer International Publishing, 2017, p.214-215. Disponível em:
https://link.springer.com/content/pdf/10.1007%2F978-3-319-51664-6.pdf. Acessado em 10/12/2018.
455 SPIERS, Edward M. Chemical Warfare. Houndmills, Basingstoke, Hampshire e London: Palgrave
Macmillan UK, 1986, p. 16
456 SLOTTEN, Hugh R. Humane Chemistry or Scientific Barbarism? American Responses to World War I
Poison Gas, 1915 1930. The Journal of American History. vol.77, fascículo 2, p. 485, 1990.
457 SPIERS, Edward M. Chemical Warfare. Houndmills, Basingstoke, Hampshire e London: Palgrave
Macmillan UK, 1986, p. 17
458 SLOTTEN, Hugh R. Humane Chemistry or Scientific Barbarism? American Responses to World War I
Poison Gas, 1915 1930. The Journal of American History. vol.77, fascículo 2, p. 485, 1990.
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EUA no conflito o Secretário de Guerra do país ordenara a produção de 1 milhão de máscaras
de gás, além de outros aparatos defensivos para a conservação da saúde dos soldados459.
Fitzgerald contribui para ilustração desse pensamento na seguinte passagem:
O medo de ataques a gás contra esses membros da Força Expedicionária
Americana (American Expeditionary Force - AEF), que embarca para a
frente européia, inicialmente concentrou a pesquisa nos Estados Unidos em
medidas defensivas, com prioridade para o design e a produção de máscaras
de gás (tradução nossa)460.
Os gases tóxicos faziam parte da estratégia essencial da Primeira Guerra Mundial,
sendo considerado irrealista a não utilização dos mesmos naquele contexto. Todas as
principais potências desse conflito, como já explicitado, acabaram por utilizar de gases
venenosos em batalhas. Com o desenrolar da guerra e com o desenvolvimento de pesquisas os
EUA não foram exceção e, após muitas perdas, passaram a usar dos mesmos.
Os investimentos estadunidenses em armas químicas não foram pequenos. Com mais
de 1.900 cientistas e técnicos atuando em pesquisas relacionadas a esse tema, tornaram o
mesmo o maior programa de pesquisa do governo estadunidense até aquele momento da
história461. Ao final da Primeira Guerra Mundial os EUA estabeleceram-se enquanto líderes
em tecnologia e produção no que dizia respeito às armas químicas, como relata Slotten:
Graças aos esforços dos químicos norte-americanos, os Estados Unidos
superaram rapidamente seu despreparo original e tornaram-se líderes em
ciência, tecnologia e produção no que tangia a guerra química até o final da
guerra (tradução nossa)462.
Estimativas chegam a afirmar que até o fim da guerra, considerando ambos os lados
do conflito, mais 5.500 cientistas e técnicos treinados em universidades, além de dezenas de
milhares de funcionários das indústrias teriam pesquisado, desenvolvido e produzido armas
químicas463.
Avanço ou barbárie?
459 FITZGERALD, Gerard J. Chemical Warfare and Medical Response During World War I. American
Journal of Public Health. Washington, vol.98, fascículo 4, p. 614-616, 2008.
460 FITZGERALD, Gerard J. Chemical Warfare and Medical Response During World War I. American
Journal of Public Health. Washington, vol.98, fascículo 4, p. 614, 2008.
461 FITZGERALD, Gerard J. Chemical Warfare and Medical Response During World War I. American
Journal of Public Health. Washington, vol.98, fascículo 4, p. 614, 2008.
462 SLOTTEN, Hugh R. Humane Chemistry or Scientific Barbarism? American Responses to World War I
Poison Gas, 1915 1930. The Journal of American History. vol.77, fascículo 2, p. 485, 1990.
463 FITZGERALD, Gerard J. Chemical Warfare and Medical Response During World War I. American
Journal of Public Health. Washington, vol.98, fascículo 4, p. 614, 2008.
249
No contexto histórico do início do século XX onde ocorrera a Primeira Guerra
Mundial as interpretações sobre as armas químicas foram variadas. Enquanto para alguns os
gases tóxicos eram armas de um terror inumano, outros os enxergavam como equivalentes as
outras armas de guerra, ou até mesmo, mais humanas que essas. Seja como for,
independentemente do "lado", todos tendiam a reconhecer o papel da ciência no
desenvolvimento das guerras de gases464.
Sendo a ciência moderna, graças ao já mencionado status que vinha ganhando,
constantemente ligada a ideia de civilização e de progressos, os gases tóxicos usados na
guerra tornavam-se símbolos das mais altas realizações daquelas que eram então consideradas
culturas mais civilizadas465.
Nos EUA, bombardeados por propagandas contrárias (assim como o resto dos
Aliados) sobre utilização desses gases em suas mídias, existiam certas contradições de
pensamento466. De um lado havia a ideia da guerra moderna como algo mais humano
puramente por ter um caráter mais científico, do outro existia o pensamento de que os gases
gases
tóxicos suas propagandas começaram a enfatizar que essa medida teria sido tomado em um
caráter de pura retaliação467.
acreditar que as pesquisas sobre gases tóxicos poderiam trazer avanços econômicos, sociais e
culturais para seu país após o fim dos confrontos468.
Terror psicológico e problemas disciplinares
464 SLOTTEN, Hugh R. Humane Chemistry or Scientific Barbarism? American Responses to World War I
Poison Gas, 1915 1930. The Journal of American History. vol.77, fascículo 2, p. 478-479, 1990.
465 SLOTTEN, Hugh R. Humane Chemistry or Scientific Barbarism? American Responses to World War I
Poison Gas, 1915 1930. The Journal of American History. vol.77, fascículo 2, p. 480, 1990.
466 SPIERS, Edward M. Chemical Warfare. Houndmills, Basingstoke, Hampshire e London: Palgrave
Macmillan UK, 1986, p.18
467 SLOTTEN, Hugh R. Humane Chemistry or Scientific Barbarism? American Responses to World War I
Poison Gas, 1915 1930. The Journal of American History. vol.77, fascículo 2, p. 480, 1990.
468 SLOTTEN, Hugh R. Humane Chemistry or Scientific Barbarism? American Responses to World War I
Poison Gas, 1915 1930. The Journal of American History. vol.77, fascículo 2, p. 486, 1990.
250
Devido à incerteza de quando chegariam (se é que viriam) os ataques de gases tóxicos
e a imprevisibilidade da forma como eles dispersar-se-iam no campo de batalha, além da
imprevisibilidade da efetividade das máscaras de gás e do resto dos aparatos de proteção, que
não eram sinônimo de sobrevivência, o estado de terror psicológico era constante nas
trincheiras de batalha469, como defendem, respectivamente, Fitzgerald e Eckart:
O medo de ser intoxicado por gás, juntamente com o assédio de ataques
periódicos de gás, mantinha os soldados em ambas as frente [de batalha] no
limite e poderia levar a anomia, pavor de gás e, em alguns casos, colapsos
mentais (tradução nossa)470.
também a possibilidade onipresente de seu uso, a maneira ubíqua como se
espalhou na área de batalha e a percepção de que nem máscaras de gás e
O gás venenoso feria a parte exposta do corpo de forma limitada a princípio,
mas poderia gradualmente destruir o corpo de um soldado em questão de
horas, dias ou semanas (tradução nossa)471.
As incertezas sobre o comportamento dos gases, como também afirma Fitzgerald,
custaram não apenas a vida daqueles que estavam diretamente no campo de batalha, mas
também as de civis que se encontravam nas redondezas dos territórios onde foram utilizadas
tais armas:
Os perigos na frente [de batalha] afetaram todos aqueles que viviam e
trabalhavam lá. Além de afetar as populações militares, as nuvens de gás
causaram baixas civis porque o vento soprava frequentemente através de
aldeias e cidades próximas à frente. Ao contrário dos soldados, os civis não
tinham necessariamente acesso a máscaras de gás ou ao treinamento para
garantir que as máscaras fossem usadas adequadamente. Embora o número
oficial de vítimas civis fosse de cerca de 5200, os números eram, sem
dúvida, muito mais altos (tradução nossa)472.
Soma-se isso ao fato dos soldados nas trincheiras terem vivido (e morrido) em
condições completamente degradantes, que por si só já tenderiam a fragilizar o psicológico
dos soldados. Lá conviviam com ratos e insetos transmissores de doenças. Faltavam
469 ECKART, Wolfgang U. The Soldier's Body in Gas Warfare: Trauma, Illnness, Rentennot, 1915-1933. In: 4.
FRIEDRICH, B. et al (Eds.). One Hundred Years of Chemical Warfare: Research, Deployment, Consequences.
Online: Springer International Publishing, 2017, p.215. Disponível em:
https://link.springer.com/content/pdf/10.1007%2F978-3-319-51664-6.pdf. Acessado em 10/12/2018.
470 FITZGERALD, Gerard J. Chemical Warfare and Medical Response During World War I. American
Journal of Public Health. Washington, vol.98, fascículo 4, p. 617, 2008.
471 ECKART, Wolfgang U. The Soldier's Body in Gas Warfare: Trauma, Illnness, Rentennot, 1915-1933. In: 4.
FRIEDRICH, B. et al (Eds.). One Hundred Years of Chemical Warfare: Research, Deployment, Consequences.
Online: Springer International Publishing, 2017, p.215. Disponível em:
https://link.springer.com/content/pdf/10.1007%2F978-3-319-51664-6.pdf. Acessado em 10/12/2018.
472 FITZGERALD, Gerard J. Chemical Warfare and Medical Response During World War I. American
Journal of Public Health. Washington, vol.98, fascículo 4, p. 616, 2008.
251
alimentos, água e remédios. O acumulo de lixo, detritos e corpos facilitavam ainda mais a
proliferação de enfermidades. Além de conviverem com a todo momento com possibilidades
de bombardeiros ou de serem alvos da artilharia inimiga473.
Nesse contexto não era incomum que soldados buscassem encenar os efeitos de
contaminação por esses gases buscando serem dispensados dos campos de batalha. A
exemplo, os diagnósticos de contaminação por gás mostarda em campo eram quase sempre
revelados por fatores externos do corpo. Seus sintomas podiam serem reproduzidos com uso
de sabão duro e ácido acético. Mesmo desconsiderando as encenações intencionais, o medo da
contaminação era tão presente que distinguir o real do falso era extremamente problemático.
Esse contexto fazia com que pensassem que, mesmo vítimas reais, pudessem ser suspeitas de
imitar ou agravar seus próprios sintomas buscando a dispensa. Essa descrença acarretava
atraso do tratamento daqueles que realmente necessitavam474, como ilustra os escritos de um
filho entrincheirado para sua mãe em 20 de agosto de 1917:
pé no meu posto, os ingleses realizaram um forte ataque de gás, três metros
de mim, 3 granadas de gás explodiram. No momento em que eu tinha
colocado minha máscara de gás e tinha alarmado aqueles abaixo de mim, eu
tinha engolido um pouco do gás. Então eu falei com o médico, porque toda
vez que eles diziam, se você acha que engoliu um pouco, vá ao médico
feito, chamando-me de covarde e preguiçoso, é disso que ele me chamou
(tradução nossa)475.
Os indivíduos que sofreram danos psicológicos tiveram sofrimentos para o resto de
vítimas de preconceito e eram vistos como seres que prejudicavam a reputação das
eria a Segunda Guerra
Mundial (e durante a mesma) muitos desses ex-combatentes foram privados de suas pensões
473 MOTTA, Marcia. A Primeira Guerra Mundial. In: REIS FILHO, Daniel Aarão. et al. O século XX. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2002, 2º Vol., p.245
474 ECKART, Wolfgang U. The Soldier's Body in Gas Warfare: Trauma, Illnness, Rentennot, 1915-1933. In: 4.
FRIEDRICH, B. et al (Eds.). One Hundred Years of Chemical Warfare: Research, Deployment, Consequences.
Online: Springer International Publishing, 2017, p.219-221. Disponível em:
https://link.springer.com/content/pdf/10.1007%2F978-3-319-51664-6.pdf. Acessado em 10/12/2018.
475 ULRICH, Bernd; ZIEMANN, Benjamin (Ed.). Frontalltag im Ersten Weltkrieg: Wahn und Wirklichkeit.
Quellen und Dokumente. Apud: ECKART, Wolfgang U. The Soldier's Body in Gas Warfare: Trauma, Illnness,
Rentennot, 1915-1933. In: 4. FRIEDRICH, B. et al (Eds.). One Hundred Years of Chemical Warfare: Research,
Deployment, Consequences. Online: Springer International Publishing, 2017, p.219-221. Disponível em:
https://link.springer.com/content/pdf/10.1007%2F978-3-319-51664-6.pdf. Acessado em 10/12/2018.
252
e/ou foram esterilizados e alguns teriam ainda sido vítima do que fora descrito como
476.
Considerações finais
Não há de se negar os avanços tecnológicos, científicos, acadêmicos, militares,
médicos e outros mais ainda, decorrentes das pesquisas motivadas pela corrida pela
hegemonia alçada no contexto da Primeira Guerra Mundial. Numa produção industrial nunca
antes vista na história foram produzidas 124.200 toneladas de distintos gases venenosos477.
Mesmo avaliando que o país que entrou mais tardiamente no conflito, os EUA,
tornara-se um dos principais atores históricos no tangia a pesquisa, desenvolvimento e
produção de armas químicas. Os Estados Unidos da América, chegaram em meados de 1918,
produzindo 30 toneladas de gás mostarda por dia. Arma química essa, assim como outras,
cuja forma de destruição dos estoques nunca utilizados ainda se apresentava como uma
problemática já em pleno século XXI478. Aliás, foram acordos após o fim da guerra que
culminaram no fim da produção de certos agentes toxicológicos e na destruição de arsenais
químicos, não só dos EUA, como dos demais países que os possuíssem. Ainda sim,
infelizmente, denúncias sobre utilização de agentes químicos em conflitos pelo globo
persistem até hoje479.
Estimativas atribuem o número de mortos por gases venenosos em ambos os lados do
conflito entre 90.000 e 100.000 pessoas. E, avaliando um conjunto de soldados feridos,
permanentemente ou não, de 25 milhões, os gases tóxicos teriam sido responsáveis por
476 ECKART, Wolfgang U. The Soldier's Body in Gas Warfare: Trauma, Illnness, Rentennot, 1915-1933. In: 4.
FRIEDRICH, B. et al (Eds.). One Hundred Years of Chemical Warfare: Research, Deployment, Consequences.
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https://link.springer.com/content/pdf/10.1007%2F978-3-319-51664-6.pdf. Acessado em 10/12/2018.
477 SPIERS, Edward M. Chemical Warfare. Houndmills, Basingstoke, Hampshire e London: Palgrave
Macmillan UK, 1986, p.13; FITZGERALD, Gerard J. Chemical Warfare and Medical Response During World
War I. American Journal of Public Health. Washington, vol.98, fascículo 4, p. 619, 2008.
478 GREENBERG, Michael R. Public Health, Law, and Local Control: Destruction of the US Chemical
Weapons Stockpile. American Journal of Public Health. Washington, vol.93, fascículo 8, p. 1222-1225, 2003.
479 CHARLEAUX, João Paulo. Como armas químicas são usadas na Síria e ao longo da história, segundo esta
especialista. Nexo, online, 05 abr. 2017. Disponível em:
https://www.nexojornal.com.br/entrevista/2017/04/05/Como-armas-qu%C3%ADmicas-s%C3%A3o-usadas-na-
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https://ssi.armywarcollege.edu/pubs/display.cfm?pubID=1400. Acesso em 30/07/2019.
253
mais mortíferas da guerra, tiveram sua marca deixada na história, e seu trauma incrustado não
só em incontáveis daqueles que participaram do conflito480, mas até em outros que nem no
conflito lutaram, como os trabalhadores industriais que as produziram. Os horrores e o pânico
das trincheiras reverberam até a atualidade, pela memória, por livros, filmes e pelas artes481.
Bibliografia
BUNKER, Robert. Contemporary Chemical Weapons Use in Syria and Iraq by the Assad
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480 ECKART, Wolfgang U. The Soldier's Body in Gas Warfare: Trauma, Illnness, Rentennot, 1915-1933. In: 4.
FRIEDRICH, B. et al (Eds.). One Hundred Years of Chemical Warfare: Research, Deployment, Consequences.
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481 Sobre o reflexo da utilização dos gases venenosos nas artes visuais e na literatura ver: KAUFMANN. Doris.
"Gas, Gas, Gaas!" he Poison Gas War in the Literature and Visual Arts of Interwar Europe. In: 4. FRIEDRICH,
B. et al (Eds.). One Hundred Years of Chemical Warfare. Research, Deployment, Consequences. Online:
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254
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