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ANAIS DO XVI SEMINÁRIO DE ALUNOS DE PÓS-GRADUAÇÃO
EM COMUNICAÇÃO – PÓSCOM 2019
Vol. 10
GT 6 – COMUNICAÇÃO, INTERAÇÃO SOCIAL E TECNOLOGIA
ISBN 78-85-93747-00-7
PUC- Rio
2019
Comissão Organizadora:
Coordenação-geral: Thaís Cabral e Júlia Pinheiro
Coordenação da comunicação visual: Thaís Cabral
Assistentes de GT: Annie Lattari, Isabel Feix, Marianna Mariano, Paola Sarlo, Mariana
Dias, Natalia Machado, Leonardo Firmino, Andrei Maurey, Nathanael Damasceno e
Yago Cury
Site: Cristina Matos
Redes sociais: Thaís Cabral e Júlia Pinheiro
Mesa de abertura: Prof. Dr. Adilson Cabral (UFF); Profa. Dra. Beatriz Beraldo (IBMR);
e Prof. Dr. Cristiano Ribeiro dos Santos (UFRJ)
Mediação: Profa. Patrícia Maurício (PUC-Rio)
Recepção dos palestrantes: Maria Carolina Medeiros
E-mail do evento: Marcella Azevedo
Credenciamento: Elena Cruz, Mariana Dias, Flávia Moreira, Natalia Machado
Coffee-Break: Alessandra Cruz e Aline Távora
Publicação dos anais: Miguel Mendes e Greyce Vargas
GT 6 – Comunicação, Interação Social e Tecnologia
Coordenação: Profa. Adriana Braga
Assistência: Natanael Damasceno e Yago Cury
Ementa: Propõe reflexões acerca das diferentes possibilidades de interação social em
ambientes digitais, de modo a discutir suas dinâmicas e transformações, modalidades
de organização, coerção e resolução de conflitos, bem como a criação de novas formas
de comunicação e relacionamento na cultura digital contemporânea.
SUMÁRIO
A Terra é plana: construção de autoridade científica em teorias da conspiração no
YouTube
Rodrigo Quinan .......................................................................................................... 05
Filho devotado, porco chauvinista: apontamentos sobre a maternidade durante a
campanha #33diassemmachismo
Luciana Aparecida Carlos Ribeiro ................................................................................ 22
Iti malia, tem um neném fofo passando na sua timeline: quem são os baby
influencers do Instagram
Carolina de A. Monteiro................................................................................................ 37
Maternidade nas mídias digitais: uma análise exploratória
Ana Luiza Figueiredo Souza .........................................................................................56
O impacto do YouTube na música streaming: uma análise do comportamento da
plataforma através da playlist “Principais faixas – Brasil”
Karen Araújo ................................................................................................................ 86
Grupos on-line de apoio para câncer de mama, empoderamento e medicalização:
rupturas ou continuidades?
Letícia Barbosa .......................................................................................................... 106
Grupos focais e interações sociais em ambiente de jogos digitais online
Wagner da Silveira Bezerra ...... ..................................................................................122
Redes online de hospedagem colaborativa: origens, proliferação e segmentação
das plataformas
Thaís Costa .................................................................................................................138
“Me diga o que busca, que eu te direi quem é”: uma observação da tomada de
decisão dos algoritmos do Pinterest
Naiara Evangelo..........................................................................................................152
Cultura colaborativa na era do capitalismo cognitivo: um olhar para as avaliações
de restaurantes
Renata Monty .............................................................................................................165
Privacidade, intimidade e corpo feminino: os casos de revenge porn
Amanda Rezende Lopes .............................................................................................178
Maternidade nas Mídias Digitais:
1
Uma análise exploratória
Ana Luiza de Figueiredo Souza
2
Resumo
Discussões sobre a maternidade ganharam maior abrangência em variadas mídias,
sobretudo as digitais. Baseado nos fenômenos percebidos por dissertação recentemente
concluída, o artigo apresenta os principais perfis de postagens e eixos discursivos do
âmbito de produção de conteúdos relacionados à maternidade nas mídias digitais
brasileiras, realizando um panorama de suas manifestações mais expressivas. Nota-se
que os perfis predominantes de postagens são os: afetivo; informativo; dedicado à assim
chamada “maternidade real”; dirigido a tabus maternos; e ativista. Embora grande parte
do material que essas mídias produzam seja voltada para um eixo discursivo específico,
seu conteúdo costuma se encaixar em mais de um perfil.
Palavras-chave: maternidade; vivência materna; mídias digitais; produção midiática;
cultura digital.
1. Introdução
Há alguns anos, especialmente nos países ocidentais, discussões sobre a
maternidade ganharam maior abrangência em palestras, eventos e programas
televisivos. Parte expressiva desse fenômeno ocorre nas mídias sociais – ou plataformas
de interação online –, que tanto influenciam os conteúdos relativos à maternidade
elaborados pela grande mídia quanto divulgam o que ela produz acerca do tema.
No Brasil, matérias, artigos e postagens que abordam a maternidade tornaram-se
mais comuns e diversos, sendo produzidos e compartilhados por diferentes mídias,
sobretudo as digitais. Desabafos de mães cansadas, textos sobre a relação com os filhos
e/ou entre o casal após os filhos, piadas com a rotina materna, manifestos de mulheres
defendendo seu poder de escolha quanto à maternidade, postagens que exploram suas
nuances, todas essas produções circulam no ambiente virtual, nas mais diferentes fontes
e formatos. É no ciberespaço, portanto, que ocorrem debates sobre o que a partir de
agora será entendido enquanto conceito ampliado de maternidade: as práticas, disputas,
valores e construções culturais, sociais e políticas em torno dela.
1
Trabalho apresentado no GT 6 – Comunicação, tecnologia e interação social durante o XVI Póscom
PUC-Rio, de 4 a 8 novembro de 2019.
2
Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFF. Bacharela em Comunicação Social
– Publicidade e Propaganda pela UFRJ. E-mail: analuizafigueiredosouza@id.uff.br
É importante salientar que produzir conteúdo sobre a maternidade não
necessariamente significa problematizá-la ou apresentar diferentes perspectivas à
vivência materna: conjunto de valores e ideologias relacionados à maternidade que cada
mulher – por meio do convívio familiar, instituições de ensino, cotidiano social,
produções midiáticas etc. – adquire ao longo da vida, que ajuda a estabelecer o lugar
reservado à maternidade dentro de seu planejamento pessoal e, também, a forma como a
enxerga em termos coletivos (FIGUEIREDO SOUZA, 2019). Boa parte do conteúdo
em mídias sociais voltado para a maternidade e a maternagem (cuidado/educação dos
filhos) ou das produções sobre elas que circulam no ambiente online as trazem enquanto
assunto, sem interesse em aprofundar o debate sobre as estruturas socioculturais,
econômicas e políticas que a permeiam. É o caso, por exemplo, de tutorias sobre o
banho do recém-nascido ou de guias para viagens com crianças.
Ana Carolina Escosteguy (2008) aponta que a maternidade constantemente
aparece como parte constitutiva e, muitas vezes, indissociável da identidade feminina.
Autoras como Elisabeth Badinter e Orna Donath demonstram que os sentimentos e
condutas a ela associados foram/são histórica e socialmente construídos, com base em
determinadas circunstâncias e interesses. Não seria, portanto, uma questão de discutir
um suposto instinto feminino que leva as mulheres a serem mães, mas compreender as
estruturas sociais, culturais, afetivas e simbólicas que possibilitam a manutenção (e o
questionamento) de modelos maternos arquitetados pelos ideais de devoção,
responsabilidade e amor.
Diante disso, tendo como base o mapeamento realizado por dissertação
recentemente concluída, o artigo empreende uma análise exploratória dos principais
perfis de postagens e eixos discursivos do âmbito de produção de conteúdos
relacionados à maternidade nas mídias digitais brasileiras. O objetivo é apresentar um
panorama das manifestações mais expressivas a respeito da temática materna no
ciberespaço nacional.
2. Perfil afetivo
O retrato materno em mídias sociais costuma ter o afeto como principal valor
acionado. Nas descrições e postagens, o amor pelos filhos e às atividades maternas
aparece como motivação tanto para o conteúdo produzido quanto para as escolhas e
decisões feitas no cotidiano das autoras. Podemos pensar que isso se deve ao fato de
essas mídias partirem da iniciativa de mães que visam dividir suas experiências
particulares com um determinado público. Tratam-se, muitas vezes, de diários abertos,
registros focados em uma parte específica da vida das autoras: a maternidade.
Figura 1 – Compartilhamento da rotina materna com os inscritos no canal
Fonte: “Início”, canal Flavia Calina. Acessado em 25/07/2018.
Figura 2 – Mídias que priorizam o discurso afetivo
Fonte: “Sobre”, página Maternidade por Amor. Acessado em 27/07/2018.
Interessante perceber que o afeto não se restringe à relação mãe e filho ou
familiar, mas também ao público que acompanha as publicações dessas mídias. Na
postagem da figura 3, feita em um perfil do Instagram gerido por uma mãe especial (ou
seja, cujo filho possui necessidades especiais, no caso, nos âmbitos intelectual e
cognitivo), a autora pede desculpas por não ter conseguido responder as mensagens das
seguidoras, garantindo que lerá todas assim que for possível, como sempre fez. Isso
revela um compromisso com as expectativas do público e também atenção a seus
sentimentos e desejos, expressa no tom afetuoso adotado pelo texto.
Figura 3 – Relação afetiva com o público
Fonte: “Bom dia #tbt”, perfil 21 motivos para sorrir. Acessado em 26/07/2018.
Demonstrações afetivas constroem boa parte das postagens em mídias sociais
voltadas para a maternidade, como neste fragmento do texto Ser mãe dói, publicado no
blog Macetes de Mãe: “Ser mãe é a experiência mais forte, transformadora e
engrandecedora que uma mulher pode experimentar, mas ser mãe também dói, nos faz
sofrer, corta a nossa carne e o nosso coração” (HILGERT, 2015). Para além de expor
um sentimento genuíno, a prática revela as ambivalências da maternidade – retratada ao
mesmo tempo como amorosa e sofrível – ou, ainda, uma estratégia comunicacional que
tanto torna aquele conteúdo relacionável a mais mães quanto previne possíveis críticas
diante da inexistência de um valor ainda tão forte na performance materna: o amor que a
mãe sente pelo filho, que Orna Donath (2017) aponta como construído pelo imaginário
público das sociedades ocidentais (ou ocidentalizadas) para ser constantemente expresso
e enfatizado. O próprio texto do Macetes de Mãe termina com uma declaração afetiva.
E longe de mim dizer que toda essa dor não vale a pena. Vale sim. Vale cada
suspiro dado, cada lágrima derramada, cada pingo de suor que cai. Vale a dor da
carne, da alma e do coração, porque amor de mãe é o sentimento mais forte que
alguém pode experimentar e nada substitui essa experiência. Nem de longe
(HILGERT, 2015).
Sites de notícias também costumam focar no afeto entre mãe e filho ao abordar a
maternidade, sobretudo quando tratam de mães famosas. Na matéria exibida abaixo, o
site informa que a modelo Giovanna Ewbank “realizou o sonho de ser mãe” (apesar de
ela já ter afirmado que nunca teve esse sonho), trazendo uma fala da artista em que
declara: “aprendo todos os dias com a minha filha, a amar como se não houvesse o
amanhã [...] nunca imaginei que poderia existir algo assim” (VEJA, 2018).
Figura 4 – Amor materno em destaque no jornalismo online
Fonte: “Giovanna Ewbank e Títi posam juntas para ensaio de dia das mães”, site
Pure People. Acessado em 28/07/2018.
No entanto, mídias e conteúdos mais atrelados à abordagem afetiva da
maternidade muitas vezes podem perpetuar certa idealização dela, especialmente a
biológica, colocando-a enquanto maior motivo de felicidade e realização das mães, que
tudo suportariam pelos filhos. Noção inclusive contestada pelo público dessas mídias,
embora as críticas partam de uma minoria.
Figura 5 – Idealização da maternidade em mídias digitais de perfil afetivo
Fonte: “Até que você não tenha”, página Universo das Mães. Acessado em 29/07/2018.
3. Perfil informativo
Ao analisar mídias contemporâneas voltadas para a produção de conteúdo sobre
a maternidade, Renata Tomaz (2016) percebe que boa parte delas fornece informações
advindas de especialistas (pediatras, pedagogos psicólogos e nutricionistas infantis) para
mães tomadas como leigas.
Nas mídias digitais essa prática se repete, inclusive nas páginas e perfis de
revistas voltadas para orientações sobre a infância e a maternagem como a Pais&Filhos,
Crescer e Mamãe Bebê. Conforme aponta Adriana Braga (2008), o arranjo “mãe, mídia
e especialistas” ainda sobressai, mas parece estar sendo modificado pelas possibilidades
interacionais proporcionadas pelas novas mídias. Entre elas, destaca-se a de participação
direta do público com as postagens por meio da seção de comentários, o que gera
respostas que podem inclusive contestar o conteúdo por elas produzido.
Figura 6 – Participação do público ao receber conteúdo informativo
Fonte: “Publicações”, Página da Revista Pais&Filhos. Acessado em 23/07/2018.
Outros dois processos modificam a dinâmica tradicional de mídias maternas
com perfil informativo: a) a produtora do conteúdo é uma mãe especializada em algum
assunto relacionado à maternidade/maternagem e produz material baseado nessa
expertise, como mostram as figuras 7 e 8; e b) a produtora do conteúdo é uma mãe que
não é especialista em algum assunto relacionado à maternidade/maternagem, mas
produz material tendo como base suas experiências pessoais, como nas figuras 9 e 10.
Figura 7 – Conteúdo produzido por mães especialistas
Fonte: “Sobre”, canal Daniella F. de Faria. Acessado em 29/07/2018.
Figura 8 – Mães que dividem sua expertise
Fonte: “Sobre”, Google Plus Prapapá. Acessado em 29/07/2018.
Figura 9 – Mães cujas indicações se baseiam em experiência pessoal
Fonte: “Descrição”, Deskgram Mãe de Alérgicas. Acessado em 29/07/2018.
Figura 10 – Mães que usam sua vivência materna para criar conteúdo
Fonte: “Sobre”, blog A Cigarra e A Formiga. Acessado em 28/07/2018.
Grande parte das mídias maternas com perfil informativo dedica-se a
compartilhar dicas entre mães, tanto sobre o cuidado ou educação dos filhos quanto no
que se relaciona à rotina e à saúde das próprias mães, o que inclui desabafos, trocas de
experiências e dúvidas. Pode-se entender que possuem caráter mais pragmático, de
busca de soluções para problemas do cotidiano familiar/maternal e formação de uma
rede de apoio para lidar com as dificuldades do dia a dia. Além disso, muitas mães
transformam tais mídias em fonte de renda, o que adiciona um caráter estratégico e
comercial às produções – precisam se mostrar confiáveis e atraentes o bastante para
serem consumidas.
Outra vertente do eixo informativo refere-se aos cuidados com a estética e o
bem-estar físico das mães. Dietas, dicas de moda para grávidas, programas para
recuperar as medidas anteriores à gravidez. Tais produções se relacionam com o que
Margareth Rago (2004) aponta sobre, dentro e devido à influência dos atuais
movimentos feministas, a figura da mãe ter se integrado à da mulher que deseja cuidar
de si mesma e sentir-se atraente. Contudo, isso também reflete padrões
heteronormativos que o mito da beleza e da sexualidade impõe às mulheres (DONATH,
2017), entre eles, a manutenção de traços joviais.
Figura 11 – Mídias voltadas à estética das mães
Fonte: “Publicações”, perfil Mamãe Sarada. Acessado em 29/07/2018.
O conteúdo dessas mídias também se associa à “moral da boa forma” enunciada
por Paula Sibilia (2010), na qual exige-se, sobretudo da mulher, uma performance
estética ligada ao que se entende na cultura contemporânea enquanto corpo saudável e
ativo. Este ganha importância na experiência materna. Não basta estar feliz com os
filhos, é preciso perceber-se charmosa, disposta, o que tanto pode permitir novas
experimentações corpóreas quanto gerar desconforto diante da imagem no espelho que
não reflete os ideais esperados de cuidado e beleza – motivo que leva muitas delas a
procurarem conselhos de outras mães que equilibram a vida materna e a estética da
“mãe em forma” tão elogiada pelos sites (CINCO, 2016).
4. Perfil “maternidade real”
Diferentes plataformas virtuais têm sido usadas por mulheres para expor as
complicações que enfrentam por ser mães, evidenciando o que chamam de
“maternidade real” ou “desromantização da maternidade” (figura 12): movimento de
falar da maternidade de forma aberta, realista, sem esconder sentimentos que não sejam
os de amor e satisfação; também abrange narrativas de mulheres que não desejam ser
mães, desnaturalizando a maternidade. A partir desse movimento, surgem mídias
interessadas em discutir os obstáculos maternos e tratar da condição de mãe de forma
mais franca, exibindo também os problemas e frustrações que a acompanham (figura
13). Ainda que de modo personalista e não tão aprofundado, conjunturas socioculturais
que oprimem a mulher no papel de mãe ou enquanto alguém que pode vir a
desempenhá-lo também costumam ser debatidas.
Aqui, porém, cabe uma ressalva: embora as discussões sobre a chamada
maternidade real mobilizem mulheres de diferentes perfis, são mais notórias entre
aquelas pertencentes às camadas médias e altas da população. Isso inclusive gera
conflitos entre mães inseridas em diferentes contextos, principalmente econômicos,
manifestados nas mídias digitais (figura 14). Em um país em que o aborto legal é
negado em 57% dos hospitais que o governo indica para o procedimento; o sequestro de
crianças indígenas ainda é recorrente; mães periféricas precisam ensinar os filhos a se
protegerem tanto da violência institucional quanto da cotidiana; um quarto da população
vive abaixo da linha da pobreza; e, segundo dados do Childhood Brasil, a cada quinze
minutos uma criança ou adolescente é vítima de abuso ou exploração sexual, chama
atenção tantos vídeos voltados para a “maternidade real” abordarem aspectos como o
cansaço das mães, os palpites que recebem na criação dos filhos ou a casa bagunçada.
Figura 12 – Mulheres usam mídias digitais para expor os desafios da maternidade
Fonte: “Hashtag #maternidadereal”, Twitter. Acessado em 29/07/2018.
Figura 13 – “Maternidade real” nas mídias que a problematizam
Fonte: “Por que desromantizar a maternidade”, canal Hel Mother. Acessado em
26/07/2018.
Figura 14 – Atritos entre mães produtoras de conteúdo sobre maternidade
Fonte: “Só Biservando”, página Senta que lá vem história. Acessado em 31/08/2019.
Mesmo nas mídias cujo foco não é a problematização da maternidade, há
publicações sobre diversos inconvenientes envolvendo a função de mãe, apesar de
aparecerem em postagens que evidenciem o amor materno, o orgulho por ter filhos ou
em forma de piada (figura 15). No geral, porém, essas abordagens enfocam a rotina
atribulada das mães, a bagunça das crianças, as tentativas de implementar um
determinado tipo de maternagem (por exemplo, mais saudável, motivadora ou
ecológica), as formas como mães (ou aquelas que, sendo mulheres, podem se tornar
mães) são encaradas, entre outros aspectos que, embora possam ser relacionados a
estruturas mais amplas de misoginia, machismo e desemparo social, se atêm às
necessidades (e realidades) das mulheres que as postam.
Figura 15 – Desprazeres da maternidade em mídias que não a problematizam
Fonte: “Oi mami”, página Amor de mãe. Acessado em 20/07/2018.
Assim, é relevante observar que uma mídia que se descreva como voltada à
“maternidade real” não necessariamente a representará de forma menos idealizada.
Mesmo mídias conhecidas por se posicionarem contra a “romantização” do papel de
mãe e da rotina materna possuem várias postagens em que as autoras a) são
glamourizadas, bem como suas famílias e os momentos com os filhos; b) ignoram que
possuem condições financeiras e/ou redes de apoio maiores do que boa parte das mães,
com as quais se equiparam em seus discursos; e c) estimulam ou retratam estilos de vida
difíceis de manter (figura 16). Nesse sentido, o termo “maternidade real” pode ser visto
como um recurso discursivo, capaz de atrair e gerar engajamento com um público que
espera ou se interessa por determinado retrato materno.
Figura 16 – Descompasso entre produtora de conteúdo materno e seu público
Fonte: “Pensei muito sobre mudar”, perfil Vida de mãe pobre. Acessado em
28/07/2018.
Por fim, abordar a “maternidade real” também significa mostrar diferentes tipos
de vivências maternas, com seus desafios e características particulares: maternidade
negra, lésbica, indígena, não planejada; mãe solo, adolescente, gorda, com mais de
quarenta anos, portadora de necessidades especiais, imigrante; entre outras.
5. Perfil dirigido a tabus maternos
A maternidade não é um projeto privado. É sempre, infinita e exaustivamente, pública. Todos os
dias, as mulheres ouvem que possuem essas habilidades instintivamente, por natureza, mas ao
mesmo tempo estão submetidas aos ditames sociais sobre como deveriam conduzir a relação
com seus filhos de forma a serem consideradas “boas mulheres” e “boas mães”, pessoas e seres
morais (DONATH, 2017, p. 53, destaque no original).
A imagem da “boa mãe” demanda abnegação, paciência e constante desejo de
aprimoramento, voltados para o cuidado com outro. Afastar-se do comportamento da
“boa mãe” não implica apenas ser uma “mãe ruim”, mas uma “mulher com problemas”,
incapaz de estar à altura de seu “verdadeiro destino” (DONATH, 2017, p. 61). Tal
reprovação pode ser estendida àquelas que não têm ou não desejam ter filhos, visto que,
como mulheres, essa é uma das maiores expectativas sociais com que lidam. Também
se aplicaria às mães que se arrependem da maternidade, ato considerado “uma violação
flagrante das normas afetivas maternais” (ibid, p. 128). Romper com esses protocolos é
justamente o que pretendem várias mulheres na cultura digital. Ao afirmarem que
odeiam a maternidade (figura 17) ou que a recusam (figura 18), utilizam as mídias
digitais para referenciarem tabus maternos, ainda que se possa argumentar que a
“quebra” desses tabus reflita privilégios sociais em comparação a boa parte da
população feminina brasileira.
Figura 17 – Mães dividindo a experiência de odiar a maternidade
Fonte: “Grupo secreto”, blog Odeio ser mãe. Acessado em 29/07/2018.
Figura 18 – Mulheres em prol da não maternidade
Fonte: “Post fixo”, página Eu não quero ter filhos. Acessado em 23/07/2018.
Esse eixo discursivo é mais comum em matérias jornalísticas. No site de rede
social Facebook particularmente nota-se considerável circulação de conteúdos que
abordam tabus maternos feitos em fanpages de veículos midiáticos, como se vê abaixo.
Figura 19 – Matérias tensionando tabus maternos
Fontes: “Posts Patrocinados”, fanpages da BBC News Brasil e do HuffPost Brasil.
Acessados em 22/09 e 15/12/2016.
Tal abordagem também ocorre em grupos (figura 17), páginas (figuras 20 e 21),
perfis (figura 22), entre outras plataformas. Uma razão plausível para isso seria, como
aponta Lucila Scavone (2004), porque a questão da escolha ou recusa da maternidade –
e, podemos acrescentar, de determinado tipo de maternidade – continua crucial na luta
pela emancipação feminina na sociedade brasileira, mantenedora de valores tradicionais
que, somados a leis conservadoras, não raramente reduzem e obrigam as mulheres à
maternidade. Essa conjuntura força as não mães e as que não desejam ser mães a
constantemente prestarem explicações sobre os motivos pelos quais não têm ou não
querem ter filhos, sem que isso denote algum tipo de afronte à maternidade. Do mesmo
modo, mães são compelidas a justificar atitudes e posicionamentos que destoem dos
modelos maternos hegemônicos, evitando punições que podem chegar à perda da
guarda dos filhos.
O descortinamento dos tabus maternos abre brechas para, inclusive, abordar
vivências maternas que costumam ser negligenciadas ou ocultas. Por exemplo, o não-
lugar (FIGUEIREDO SOUZA, 2019) das não mães involuntárias (figura 23) e as
violências praticadas por mães abusivas (figura 24).
Figura 20 – Ruptura com a prática de justificar a não maternidade
Fonte: “Não precisa ficar se explicando”, página Mulher Childfree - A original.
Acessado em 30/07/2018.
Figura 21 – Contestação da incompletude da mulher sem filhos
Fonte: “Você não será uma mulher de verdade”, página Sem filhos por opção.
Acessado em 30/07/2018.
Figura 22 – Afronte à amamentação higienista e moralizada
Fonte: “Começou aquela época polêmica do ano”, perfil Instabrabo. Acessado
em 30/07/2018.
Figura 23 – Espaços para o sofrimento das não mães involuntárias
Fonte: “Página inicial”, blog Vida sem Filhos. Acessado em 22/07/2018.
Figura 24 – Espaços para tratar de mães abusivas ou tóxicas
Fonte: “Mãe narcisista”, Facebook. Acessado em 31/08/2019.
Todavia, alguns tabus permanecem pouco abordados nas mídias digitais, como a
falta de afeto pelos filhos e o arrependimento por ter se tornado mãe. Ultrapassam a
tolerância mais flexível que o trato da maternidade adquiriu em anos recentes. Nesse
sentido, descrever os aspectos ruins da maternidade, embora represente uma ruptura
com práticas maternas hegemônicas, sobretudo quanto a sua abordagem nas mídias
massivas (TOMAZ, 2016), não constitui exatamente um tabu. Aproxima-se de uma
nova forma de abordá-la, demandada por boa parte das mães.
6. Perfil ativista
O neologismo “maternância” une os substantivos “maternidade” e “militância”,
sendo comumente usado em mídias que discutem problemáticas maternas a fim de
designar a militância motivada pela maternidade. Nas palavras de Luciana Bento,
criadora do blog A mãe preta e co-criadora da organização Iyá Maternância
Se antes de ter filhos a mulher pouco se empenhava em lutar por causas e bandeiras
coletivas, buscar grupos de apoio, se reunir a outras pessoas por uma causa, após a
maternidade esse desejo vem à tona. Nem é preciso esperar o bebê nascer para que isso
aconteça. Basta saber que está grávida e muitas mulheres já sentem necessidade de
buscas um grupo de gestantes para falar sobre as mudanças que vivemos durante a
gravidez. E tem uma variedade de grupos e correntes de pensamento sobre a gravidez.
Tem quem defenda parto humanizado e quem defenda a cesárea eletiva com data
marcada. O universo materno é grande demais para andarmos sozinhas (BENTO,
2016).
Ainda que o uso do termo em si não seja tão comum quanto o da
expressão “maternidade real”, nota-se que muitas mães se posicionam em
relação a causas maternas em seus blogs, páginas, canais, perfis, contas e demais
plataformas. Trata-se da tentativa de politizar as atitudes das mães e a própria
vivência materna, diante de estruturas que constantemente procuram desassociá-
las da esfera política. A partir de seu fortalecimento social, sua inserção nos
espaços coletivos e de poder, suas demandas por políticas públicas que as
contemplem e sua união, as mães ativistas fariam frente ao patriarcado e às
restrições que impõe às mulheres-mães.
Boa parte das engajadas no ativismo materno digital costuma cobrar de
toda a sociedade – incluindo não mães – envolvimento com as problemáticas que
enfrentam. Porém, não demonstram grande preocupação por aquelas que sofrem
os impactos de não terem exercido a maternidade, nem incluem demandas a elas
relativas em suas manifestações. Os pedidos por creches e espaços públicos para
crianças voltados às que têm ou pretendem ter filhos geralmente não convergem
com pedidos por asilos e serviços públicos para o cuidado de quem não os teve
(por escolha ou impossibilidade) e/ou não pretende tê-los, mesmo que integrem
ou tenham integrado redes de apoio materno.
Figura 25 – Mídias voltadas à maternância
Fonte: “Sobre”, páginas Maternância e MMA. Acessados em 30/07/2018.
As articulações feitas em mídias digitais voltadas à maternância e à
problematização da maternidade podem repercutir para além do ciberespaço, como
mostram as figuras 26 e 27. O movimento político iniciado por Anne Rammi através do
coletivo de mães por ela fundado levou a sua pré-candidatura a deputada estadual,
representando justamente as demandas do ativismo materno que Anne encabeça nos
sites de redes socais (BANCADA, 2018). Já a página criada pela mãe solo Thaiz Leão
converteu-se em um projeto social que pretende amparar diferentes mães em suas
necessidades e problemas.
Figura 26 – Das mídias digitais aos partidos políticos
Fonte: “Tweets”, conta Mamatraca. Acessado em 30/07/2018.
Figura 27 – Projetos maternos criados a partir de mídias digitais
Fonte: “Projeto Mãe Solo”, site Benfeitoria. Acessado em 30/07/2018.
Dentro da maternância, as especificidades da vivência materna de cada mãe são
levadas em consideração. Um exemplo é a maternância negra (ou preta), que cresce no
Brasil. De acordo com Luciana Bento
Quando a gente agrega a questão racial, a questão da maternância torna-se ainda mais
importante. Colocar uma criança negra no mundo é colocar uma pessoa que será alvo
de racismo em algum momento de sua vida. E saber disso é extremamente angustiante.
Nenhuma mãe preta quer que sua cria passe pelas situações de racismo que ela passou
na infância e ao longo de toda a vida. Então, podem ser entendidas como maternância
preta todas as iniciativas que tomamos para minimizar os impactos do racismo na vida
dos nossos filhos. [...]. A maternidade da mulher negra envolve um monte de questões
e estereótipos de gênero e raça que nos oprimem. O mito de que a mulher negra é mais
forte, por isso não precisa de tanta atenção e cuidado durante o parto; as mães -pretas
que amamentavam crianças brancas e o impacto que as nossas dificuldades com a
amamentação têm sobre nossas emoções; o desamor com que nossas crianças negras
são tratadas por cuidadoras de creches e pré-escolas em comparação com o tratamento
destinado às crianças brancas. Como nossas meninas negras já têm seus cabelos
julgados e discriminados desde pequenas, como nossos meninos negros são
hiperssexualizados desde pequenos. Tudo isso e muito mais perpassa a nossa vivência
materna. E nós reagimos a isso. Nós resistimos e enfrentamos, na medida do possível,
cada preconceito contra as nossas crias. Isso é maternância preta (BENTO, 2016).
É possível traçar um paralelo entre as demandas da maternância de cada grupo
de mães e o princípio do feminismo interseccional, em que as mulheres tanto se apoiam
e se reconhecem diante de situações em comum, impostas pelo patriarcado, quanto
compreendem que esse mesmo patriarcado se alia a outros fatores – socioeconômicos,
culturais, étnicos, relativos à sexualidade – que resultarão em pautas distintas, de acordo
com os grupos em que a mulher-sujeito se insira. Assim, os problemas enfrentados por
mães lésbicas se diferem daqueles com que mães adotivas lidam, embora a) uma mesma
mãe possa pertencer a dois grupos maternos distintos, no caso, sendo lésbica e mãe
adotiva; e b) existam semelhanças entre essas vivências que permitem o diálogo e a
presença de reivindicações comuns entre mães com históricos ou posições distintas.
Figura 28 – Grupos maternos com necessidades distintas
Fonte: “Maternidade lésbica”, Facebook. Acessado em 30/07/2018.
Por fim, ao falar de militância sobre a maternidade, é preciso considerar as
mulheres que não a desejam e que, por meio de suas ações e discursos no ciberespaço,
tanto evidenciam a construção da maternidade compulsória quanto a combatem.
Partindo da mesma perspectiva da mulher enquanto sujeito que, apesar de oprimido pelo
patriarcado, possui agência sobre si, mídias digitais com perfil ativista voltadas à não
maternidade e/ou ao movimento childfree feminino (mulheres que escolhem não ter
filhos) reivindicam o respeito – jurídico, social e cultural – à escolha de não ser mãe
efetuada por número considerável de mulheres, combatendo pensamentos que
perpetuam a ideia de que uma mulher só é completa com a maternidade.
Figura 29 – Confluência de mídias ao contestar premissas patriarcais
Fonte: “Comentário em matéria sobre a internação da Demi Lovato”,
Laqueadura sem filhos. Acessado em 29/07/2018.
Outras práticas comuns a essas mídias são: a) criação de redes de apoio para que
não mães e/ou mulheres que não desejam filhos se protejam dos ataques que
constantemente lhe são dirigidos, inclusive em mídias voltadas à maternidade; b)
divulgação de informações sobre procedimentos de esterilização fornecidos pelo
sistema público de saúde, para orientar mulheres que desejem realizá-los; e c)
publicação de postagens nas quais colocam, assim como muitas mães, suas ações
enquanto atos de resistência, precursoras de mudanças que beneficiarão mais mulheres
no futuro, conforme pode ser visto no fragmento abaixo, publicado pela administradora
da página Laqueadura sem filhos, cujo foco é a não maternidade.
Você será julgada e desestimulada SIM! Saiba disso! Esteja ciente! Quantas vezes eu não saí
chorando de consultório médico porque fui humilhada? Muitas. Mas hoje estou aqui laqueada e
feliz. É ÓBVIO que você não merece passar por isso só para garantir algo que é o seu DIREITO!
Mas esteja ciente que, como pioneiras, sofreremos mais, mas também abriremos espaço para as
próximas. Uma realidade só muda quando mudamos nossa atitude! Em vez de nos lamentarmos
que é difícil, vamos enfrentar, colher informações e compartilhar com as colegas! É isso que eu
tento fazer aqui, sempre compartilhar informações para que o processo seja menos difícil
(OSHIKAWA, 2018).
Há, ainda, aquelas que demandam o reconhecimento de sua dor enquanto
mulheres que desejavam/desejam a maternidade, mas, por algum motivo, não
conseguiram/conseguem ser mães. Representam uma singela minoria entre as criadoras
e/ou consumidoras de conteúdos de mídias digitais voltadas à maternidade. Mesmo
assim, é possível encontrar material sobre suas angústias em publicações de veículos
midiáticos online que costumam abordar o universo materno.
Figura 30 – Sofrimento das não mães nas mídias digitais
Fonte: “Como viver minha vida com o seu vazio”, site A mente é maravilhosa.
Acessado em: 30/08/2018.
Importante salientar que pautas do ativismo materno ocasionalmente circulam
em mídias voltadas à não maternidade, assim como pautas do ativismo de não mães às
vezes são veiculadas por mídias dirigidas à maternidade. Por mais que haja conflitos
entre esses grupos no ambiente virtual, também existe solidariedade, empatia e o
reconhecimento de que a maternidade, enquanto instituição cultural e simbólica, diz
respeito a todas as mulheres.
Figura 31 – Trocas entre mídias digitais voltadas para mães e não mães
Fontes: “Leiam sem julgar” e “Mulheres que não desejam filhos”, páginas Não
quero ter filhos e Quartinho da Dany. Acessado em 18/07/2018.
7. Considerações finais
O âmbito de produção de mídias digitais que tratam de questões relativas à
maternidade configura um ambiente dinâmico, pelo qual circulam diferentes demandas
e perspectivas. Foram identificados cinco perfis predominantes entre as postagens nele
produzidas, cada qual com seus principais eixos discursivos:
a) Perfil afetivo, voltado para a valorização do amor entre mãe e filho.
b) Perfil informativo, dirigido para o compartilhamento de dicas e trocas de
experiência entre mães, com caráter mais pragmático.
c) Perfil “maternidade real”, que visa retratar a maternidade com seus aspectos
negativos e difíceis.
d) Perfil dirigido a tabus maternos, apresentando representações maternas
distintas do que se espera das mulheres enquanto mães (potenciais).
e) Perfil ativista, relacionado a iniciativas que buscam propagar pautas da
maternância ou de movimentos relativos à não maternidade.
Embora grande parte do material que essas mídias produzam seja voltada para
um eixo discursivo específico – afeto da mãe pelo filho; trocas de experiências e
conhecimentos; descrição das várias facetas da maternidade; recusa/reconfiguração de
modelos maternos normativos; ativismos da maternidade e/ou da não maternidade – seu
conteúdo costuma se encaixar em mais de um perfil. As instruções sobre como
conseguir uma laqueadura pelo SUS publicadas na página Laqueadura sem filhos
podem ser associadas ao perfil informativo, para além do ativista. Assim como o amor
pelos filhos (perfil afetivo) é apresentado enquanto justificativa para falar da
“maternidade real”. Produções relativas a problemáticas maternas tendam a englobar
um pouco de cada um dos perfis de postagens identificados, sob uma ótima personalista
que, com alguma frequência, permite reflexões e atitudes coletivistas.
Apesar de o âmbito de recepção não ter sido o foco do trabalho, nota-se que
pode acionar eixos discursivos diferentes dos propagados pelo material a que
respondem, como ocorre com a matéria compartilhada na página da revista Pais&Filhos
e nas reações à mudança de abordagem do perfil Vida de mãe pobre.
Um aspecto comum às postagens é a importância dada às escolhas de cada
mulher. Poder fazê-las ou ser privada delas configuram os principais desencadeadores
de exigências e reclamações. Escolher o modelo materno e de maternagem a ser
seguido, podendo, inclusive, recusar a maternidade. Em última instância, ter a
possibilidade de expor e discutir seus sentimentos, dúvidas ou ambições.
Trata-se, portanto, de um cenário rico que, enquanto revela como a maternidade
permanece atrelada à identidade e ao cotidiano femininos, também mostra que muitas
mulheres inseridas na cultura digital se recusam a ser limitadas a ela.
Referências
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