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43: SUPLEMENTO II, 2010
1. Laboratório de Pesquisa Clínica em doença de Chagas, Instituto de Pesquisa Clínica
Evandro Chagas, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, RJ.
Endereço para correspondência: Dr. Alejandro Marcel Hasslocher-Moreno. Fundação
Oswaldo Cruz/FIOCRUZ. Avenida Brasil 4365, Manguinhos, 21045-900, Rio de Janeiro,
RJ, Brasil.
Tel: 21 3565-9680
e-mail: alejandro.hasslocher@ipec.ocruz.br
Estruturação de Serviço de Atenção Integral aos pacientes
com Doença de Chagas
Alejandro Marcel Hasslocher-Moreno1
O desenvolvimento, desde 1991, das Iniciativas Sub-regionais
de Controle da Doença de Chagas, e os avanços de conhecimento
em matéria de diagnóstico e manejo da doença de Chagas, levam
à necessidade ética, e operativamente imperiosa, de estruturar o
diagnóstico, atenção e tratamento desta afecção.
Nessa situação, foi proposta Consulta Técnica Regional OPS/
MSF sobre Organização e Estr utura da Atenção Médica do
Enfermo e Infectado por Trypanosoma cruzi/Doença de Chagas,
com os objetivos de: definir o alcance e estrutura da atenção
médica ao paciente, tanto em nível de diagnóstico e manejo como
de tratamento; desenvolver modelos alternativos e optativos de
atenção, assimiláveis às estruturas sanitárias dos países; delinear a
atenção do infectado/paciente com doença de Chagas, segundo o
seu momento biológico-patológico evolutivo, dentro dos níveis de
complexidade da atenção médica; estabelecer considerações sobre
a atenção pediátrica, materno-infantil, transfusional e de maior
complexidade; denir as necessidades e o alcance do diagnóstico da
doença; estabelecer os alcances e facilidades que, dentro dos sistemas
de atenção, devem ter estes pacientes; denir o panorama total de
disponibilidade e acessibilidade dos pacientes ao tratamento etiológico
desta enfermidade; projetar conceitos e concepções marco sobre o
custo, impacto e efetividade do desenvolvimento deste componente
de morbidade e atenção em doença de Chagas; e estabelecer as
necessidades de investigação operativa e de gestão para avançar
no desenvolvimento da atenção médica a este grupo de pacientes1
A atenção e a promoção da saúde ao portador de doença de
Chagas deve obrigatoriamente estar calcada em uma estrutura de
atendimento que permita ações integrais, perpassadas por práticas
de humanização e gestão de qualidade. O modelo de atenção ao
portador de doença de Chagas na rede pública de serviços de
saúde pressupõe a existência das condições necessárias para o seu
desenvolvimento, através do fortalecimento técnico e gerencial das
instituições envolvidas no planejamento, coordenação, execução
e avaliação desses serviços em todos os níveis, com o objetivo de
oferecer melhor assistência à população2
A atenção integral tem como necessidade básica a formação de
uma equipe multiprossional, qualicada tecnicamente, integrada
nas diversas ações do cuidar e interagindo dentro da perspectiva de
uma doença estigmatizante e negligenciada3.
A gestão da qualidade, componente essencial para o cumprimento
da missão, implica em planejamento de ações operacionais, que
devem ser ecientes sob o ponto de vista de custos. Portanto é
fundamental que um Serviço de Referência esteja organizado para
as demandas nanceiras inerentes a este processo.
Com a tendência no Brasil de redução do número de casos novos
de transmissão vetorial da doença de Chagas, manifesta-se de forma
mais premente a necessidade de se aperfeiçoar o atendimento clínico
e cirúrgico ao contingente de pessoas infectadas ou doentes, quer em
nível de assistência primária, quer em nível de um atendimento mais
especializado. Para tal se faz necessário obter informaçöes relativas
à distribuiçäo da doença em várias regiões, quer em termos de se
conhecer o risco de mortalidade da populaçäo adulta, quer em termos
de planejamento de atençäo ao portador de doença de Chagas. Nesse
sentido, considera-se como uma das etapas do planejamento da
assistência o conhecimento da freqüência de indivíduos portadores
de doença de Chagas na população, fato que permite estabelecer um
dimensionamento do problema e dos desaos impostos para enfrentá-lo4
Por tratar-se de uma doença estigmatizante, que pode desenvolver
mudanças signicativas na vida de seus portadores, a abordagem psico-
social, dentro da atenção integral, deve constar como um dos pilares
do acompanhamento. A tendência atual de se abordar o paciente
segundo a visão do modelo humanizado de atendimento, enxergando
o paciente de forma mais completa, como um ser único, abre a
possibilidade de oferecer campo de atuação na vivência da prática do
modelo humanizado, além de conviver com equipe multiprossional
desenvolvendo trabalho interdisciplinar, tão importante para o
atual momento de formação de profissionais da área da saúde.
Também não se deve perder de vista a importância da capacitação
e qualicação de recursos humanos como etapa indispensável da
viabilização do SUS na rede pública de atenção à doença de Chagas3,5,6,7.
O plano de Recursos Humanos para atender a lógica da atenção
integral e multidisciplinar, em Serviço de Referência em doença de
Chagas, deve levar em consideração a incorporação de prossionais
treinados, capacitados e qualificados em doença de Chagas e a
estruturação de lócus de atuação bem definidas. Portanto são
necessários os seguintes pers: médico clínico, médico cardiologista,
médico gastroenterologista, médico proctologista e cirurgião geral,
enfermeiros e assistentes de enfermagem, psicólogo, assistente social,
nutricionista e farmacêutico. Os lócus de atuação seriam os níveis
de complexidade na atenção primária, secundária ou terciária. Deve-
se, ainda, possibilitar a formação de um sistema de atendimento
hierarquizado, com serviço de referência e contra-referência entre
os serviços básicos e centros de referência e integração destes com a
Previdência Social, possibilitando que a equipe de saúde dos serviços
básicos receba treinamento e educação continuada no manejo do
paciente com cardiopatia chagásica crônica.
A operacionalização do SUS exige planejamento e articulação
dos gestores municipais e estaduais. A articulação política entre
as Secretarias Estaduais de Saúde e as Secretarias Municipais de
Saúde de cada microrregião é fundamental para que o cidadão
brasileiro tenha condições de acesso à saúde básica em seu município,
ocorrendo referência para serviços de média e alta complexidade
apenas quando necessário. Quanto mais o planejamento desse
sistema estiver articulado, mais garantia teremos de que os serviços
de saúde não vão estar sobrecarregados com uma demanda excessiva
e não pertinente ao seu objetivo institucional8.
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Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical
Um modelo de atendimento para o paciente com doença de
Chagas, integrado ao SUS, destacando-se práticas de acolhimento
e humanização; exames, testes e procedimentos diagnósticos;
atenção farmacêutica integral e capacitação de recursos humanos
comprometida com o desenvolvimento dos cuidados de saúde
integrados, educando, disseminando informação e interagindo junto
aos pacientes de forma pró ativa, se constitui em um verdadeiro
Serviço de Atenção Integral capaz de cuidar, de forma total e
abrangente, os portadores de doença de Chagas.
REFERÊNCIAS
1. Consulta Técnica Regional OPS/MSF sobre Organização e Estrutura da Atenção
Médica do Doente e Infectado por Trypanosoma cruzi/Doença de Chagas.
Rev Soc Bras Med Trop 2005; 38(6):538-541.
2. Modelo de atenção ao chagásico n o Sistema Unico de Saúde. Gontijo ED,
Guariento ME, Almeida, EA. In. Dias, Joäo Carlos Pinto; Coura, José Rodrigues.
Clínica e terapêutica da Doença de Chagas: uma abordagem prática para o clínico
geral. Rio de Janeiro, Fiocruz 1997. p.445-52.
3. Atenção integral ao paciente chagásico: uma proposta para o cuidar. Oliveira W.
Arq Bras Cardiol 2005; 84(1): 1-2.
4. Mortalidade por doença de Chagas no estado de Säo Paulo (Brasil): subsídios para
o planejamento da assistência ao chagásico. Litvoc J, Wanderley DMV,Camargo,
LMA. Rev Saude Publica 1992; 26(2): 59-65.
5. Programa ACHEI: Atençäo ao Chagásico com Educaçäo Integral no município de
Maringá e regiäo noroeste do Paraná, Brasil. Araújo SM de, Andó MH, Cassaroi
DJ, Mota DC, Grégio AB, Ribeiro MS et al. Rev Soc Bras Med Trop 2000; 33(6):
565-572.
6. Avaliação psico-afetiva do paciente portador de doença de chagas crônica. Alcino
AB, Guariento ME, Teixeira MAB, Lipp MEN. Rev Soc Bras Med Trop 1993;26
(sup II): 107.
7. All-around care for patients with Chagas disease: a challenge for the XXI century.
Oliveira W. Mem Inst Oswaldo Cruz 2009; 104(Suppl. I): 181-186.
8. http ://www.humani zasaude .rs.gov.br/ site/ar tigos/m anual/ aces sado em
03/12/2010.