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Paisagem e território - Expedições

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Abstract

Esta publicação é um resultado de pesquisa conjunta: “Paisagem e Território: Novos Arranjos”, realizado entre a Universidade Estadual de Londrina – BRASIL e a Universidade de Coimbra – PORTUGAL. Tem o patrocínio da CAPES e FCT. Reconhecer, inventariar, estudar paisagens e seus elementos de caracterização deve fazer parte de discussões para desenvolvimento de estratégias futuras de conservação, proteção e preservação. Pressupõe a análise de sobreposição de concepções segundo a representação cultural e social, território produzido, complexo sistêmico e espaço de experiências, entre outros. Sob esse aspecto, as visitas, trabalhos de campo e expedições são vitais para um reconhecimento aprofundado da paisagem e território. À guisa de introdução, é apresentado um artigo que faz a análise exploratória e notas de expedições em Brasil e Portugal. Segue em seqüência, um estudo baseado em croquis, sobre as diferentes formas de olhar a paisagem portuguesa. No próximo artigo é apresentado um estudo sobre a experiência da paisagem através de percurso em Coimbra e Londrina. No terceiro artigo são analisados os componentes e caráter da paisagem vernacular em Portugal. Em sequência, no quarto artigo, um estudo sobre águas subterrâneas de abastecimento em Londrina. Finalmente no ultimo artigo, são apresentadas notas de campo, com olhar geográfico, sobre Londrina, realizados por pesquisadores de Coimbra. Olhar, perceber, dissecar paisagens e territórios. Os estudos ora apresentados servem de subsidio à continuidade de futuras pesquisas.
aos intérpretes de paisagem
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
Bibliotecária : Marlova Santurio David - CRB 9/1107
Reitor Sérgio Carlos de Carvalho
Vice-Reitor Décio Sabbatini Barbosa
P149 Paisagem e território: expedições / Humberto Yamaki e Lúcio Cunha
(orgs.). – Londrina : UEL, 2019.
85 p. : il.
Inclui bibliograa.
Vários colaboradores.
ISBN 978-85-7846-584-1
1. Avaliação paisagística – Brasil. 2. Avaliação paisagística – Portugal.
3. Geograa urbana. 4. Coimbra – Geograa. 5. Morfologia urbana. 6.
Território. I. Yamaki, Humberto. II. Cunha, Lúcio.
CDU 712(81)(469)
Sumário
APRESENTAÇÃO .................................................................................................
PAISAGENS DA ÁGUA NO BRASIL
E PAISAGEM DE ROCHAS EM PORTUGAL
PAISAGENS DA ÁGUA NO BRASIL  ANÁLISE EXPLORATÓRIA .....
Lucio Cunha
PAISAGEM DE ROCHAS EM PORTUGAL  NOTAS DE UMA
EXPEDIÇÃO ..........................................................................................................
Humberto Yamaki
OLHAR, SENTIDO, CARÁTER DA PAISAGEM E RISCOS
UM OLHAR SOBRE AS PAISAGENS PORTUGUESAS: COIMBRA POR
MEIO DE CROQUIS .............................................................................................
Eloiza Cristiane Torres
Léia Aparecida Veiga
Alan Alves Alievi
EM BUSCA DO SENTIDO DA PAISAGEM: PERCURSOS POR
LONDRINA BRASIL E COIMBRA PORTUGAL .....................................
Jeani Delgado Paschoal Moura
Danieli Barbosa de Araujo
CARÁTER DE PAISAGEM VERNACULAR  SALINAS DE FIGUEIRA
DA FOZ EM PORTUGAL ...................................................................................
Humberto Yamaki
Bruno Frank
5
9
17
27
39
51
PAISAGENS E TERRITÓRIOS URBANOS DE RISCO À SAÚDE BUCAL
BALIZADAS PELOS TEORES DE FLÚORETOS NATURAIS EM ÁGUAS
SUBTERRÂNEAS DE ABASTECIMENTO PÚBLICO EM LONDRINA –
PR (BRASIL) .........................................................................................................
José Paulo Peccinini Pinese
Aline Ross
João Carlos Alves
PAISAGENS E TERRITÓRIOS  PERCEÇÕES E BREVES NOTAS SOBRE
LONDRINA, UM OLHAR GEOGRÁFICO A PARTIR DE COIMBRA ....
Paulo Nuno Nossa
Isabel Rodrigues Paiva
Fernanda Cravidão
63
77
Paisagem e Território - expedição
5
APRESENTAÇÃO
Esta publicação é um resultado de pesquisa conjunta:“Paisagem e
Território: Novos Arranjos”,realizado entre a Universidade Estadual de
Londrina – BRASIL e a Universidade de Coimbra – PORTUGAL. Tem o
patrocínio da CAPES e FCT.
Reconhecer, inventariar, estudar paisagens e seus elementos de
caracterização deve fazer parte de discussões para desenvolvimento de
estratégias futuras de conservação, proteção e preservação.Pressupõe a
análise de sobreposição de concepções segundo a representação cultural e
social, território produzido, complexo sistêmico e espaço de experiências,
entre outros.
Sob esse aspecto, as visitas, trabalhos de campo e expedições são
vitais para um reconhecimento aprofundado da paisagem e território.
À guisa de introdução, é apresentado um artigo que faz a análise
exploratória e notas de expedições em Brasil e Portugal. Segue em
seqüência, um estudo baseado em croquis, sobre as diferentes formas
de olhar a paisagem portuguesa. No próximoartigo é apresentado um
estudo sobre a experiência da paisagem através de percurso em Coimbra
e Londrina. No terceiro artigosão analisadosos componentes e caráter
da paisagem vernacular em Portugal. Em sequência, no quarto artigo,
um estudo sobre águas subterrâneas de abastecimento em Londrina.
Finalmente no ultimo artigo, são apresentadas notas de campo, com olhar
geográco, sobre Londrina, realizados por pesquisadores de Coimbra.
Olhar, perceber, dissecar paisagens e territórios. Os estudos ora
apresentados servem de subsidio à continuidade de futuras pesquisas.
Humberto Yamaki
Lúcio Cunha
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PAISAGENS DA ÁGUA NO BRASIL
E PAISAGEM DE ROCHAS EM PORTUGAL
Vista Panorâmica do Alto da Torre, Univ. Coimbra
Fonte: Yamaki, 2019.
Paisagem e Território - expedição
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PAISAGENS DA ÁGUA NO BRASIL
ANÁLISE EXPLORATÓRIA
Lucio Cunha
Universidade de Coimbra
Rio Negro – Anavilhanas (Amazónia)
A água no Brasil é sempre muita! Particularmente na Amazónia
onde a água é destino e caminho, recurso e vida, solução e problema.
Um pouco a montante de Manaus, na imensidão do Rio Negro a
aproximação ao arquipélago uvial das Anavilhanas faz-se com a beleza
impar de um pôr-do-sol que anuncia tempo bom e calmo. O rio é a
estrada, por ele se faz a circulação de pessoas e mercadorias, através dele
viajam sonhos e promessas. Se o rio é estrada, o barco mais que viatura é
também casa. Nele se come, nele se dorme, nele se vive.
O tempo, muito mais lento que na cidade, convida à contemplação
e à meditação. As paisagens vão sendo muito semelhantes, mas estão longe
de ser monótonas, pelo que ajudam nesta contemplação e meditação,
impondo a quem faz o trajecto uma leitura introspectiva que ajuda a
compreender e a valorizar a pessoa humana, a natureza e a mãe Gaia.
Paisagem e Território - expedição
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Construções palatas em Manaus
A periferia oriental ou de jusante de Manaus deixa ver uma cidade
adaptada às utuações do nível das águas do Rio Negro. As palatas
desenham claramente um nível que estará ajustado ao caudal e à altura
da água nas cheias mais signicativas. A sabedoria popular, mais que a
técnica apurada do geoprocessamentodos planeadores urbanos permite
xar esse valor de modo a que as populações convivam com a água ao
longo do ano, na cheia ou na estiagem.
Mesmo contornando um pouco as regras de utilização do espaço
urbano, transporta-se, assim, um pouco do campo (da selva) para a cidade,
permitindo vivências porventura mais harmónicas com a Natureza que
aquelas que são impostas pela selva de betão que se estende na vertente
que lhes ca atrás…
Paisagem e Território - expedição
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Encontro das águas em Manaus
Por aqui se inicia o Rio Amazonas, causa e consequência do maior
bioma do Mundo, a Amazónia, o pulmão brasileiro do Mundo.
As águas claras do Rio Solimões têm diculdade em misturar-
se com as águas do Rio Negro. Diferenças de temperatura, densidade,
salinidade e, mesmo de velocidade de escoamento, fazem com que as
águas destes dois enormes rios irmãos apesar de se juntarem, tenham
diculdade em misturar-se, em interpenetrar-se, em perder um no outro
as suas características intrínsecas.
Este fenómeno, bem conhecido em Manaus, não é um caso isolado,
nem a nível mundial, nem a nível brasileiro. Mas é particularmente
desenvolvido nas conuências amazónicas e relaciona-se naturalmente
com a diversidade das características naturais dos espaços percorridos ou
seja, de algum modo, também, com a dimensão ocupada por este bioma.
Paisagem e Território - expedição
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Vitória Régia
A Vitória Régia (Victoria amazónica) é um dos símbolos da
Amazónia e, particularmente, das suas águas mais tranquilas.
Para além do seu signicado estético, o que leva esta espécie a ser
muito utilizada em parques e jardins urbanos, mesmo fora do espaço
tropical, ela reveste-se também de algum signicado mágico-religioso
e pode, mesmo,ter um valor alimentar, quer ao nível do rizoma, quer
ao nível das próprias sementes. Assim, também pelo seu valor simbólico
e material, é uma importante elemento no contexto do ecossistema
amazónico.
Paisagem e Território - expedição
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Turismo no Rio Ceará
Junto à sua foz, nas proximidades da cidade de Fortaleza, o rio
Ceará permite o desenvolvimento de um extenso manguezal, que além
da sua importância geo e ecossistémica, representa um importante meio
de vida para as populações indígenas, cujas actividades se relacionam
principalmente com o rio e o seu manguezal, nomeadamente através da
pesca e da captura de camarões e caranguejos…
Em tempos de forte modicação das práticas turísticas, com
valorização dos chamados “turismos de nicho” em detrimento do “turismo
de massas”, a natureza, os espaços uviais, a vegetação autóctone, bem
como os hábitos e os modos de vida das comunidades que vivem nestes
territórios assumem-se como atractivos para um turismo novo, capaz
de gerar algum rendimento para as populações, sem deixar os impactes
característicos do turismo mais massicado. Além disso, a formalização
deste tipo de práticas, pode impedir outros usos e abusos da Terra e do
Rio que, em regra, podem provocar importantes desterritorializações
das populações e a destruição parcial ou integral de ecossistemas frágeis
como são os ecossistemas estuarinos.
O equilíbrio ambiental é frágil e convive com uma economia aberta
e forte, a localização junto da cidade de Fortaleza favorece a procura
turística, mas favorece também outros empreendedorismos, pelo que é
difícil adivinhar o futuro destes espaços em termos da sua conservação…
Paisagem e Território - expedição
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Lajedo da Salambaia (Paraíba)
No meio climático semi-árido a água ganha uma importância
acrescida. Para os seres humanos, para o gado que criam, para a fauna
selvagem, para o desenvolvimento agrícola…
A relativa impermeabilidade da rocha granítica permite o
armazenamento da água que escorre o lajedo durante o tempo das
chuvas, sendo acumulada na sua base em espaços deprimidos de arranjo
antrópico. Com engenho, se favorecem as actividades humanas e se
valoriza o ambiente, numa articulação entre a geologia, a geomorfologia,
a hidrologia, a ocupação vegetal da catinga e as actividades humanas, que
fazem do Lajedo da Salambaia um território que merece, como muitos
mais no Brasil, uma classicação como área protegida de interesse
geomorfológico, provavelmente mesmo um Geopark UNESCO, seja
isoladamente, seja preferencialmente em conjunto com alguns geossítios
próximos e com características semelhantes.
Paisagem e Território - expedição
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Lajedo da Salambaia (Paraíba)
No lajedo da Salambaia, ocimo aplanado ou ligeiramente
abobadado do aoramento granítico é esculpido em grandes vascas, que,
por um lado, marcam a presença da água e o seu trabalho erosivo, e, por
outro, mostram a adaptação xeróla da vegetação a um clima semi-árido
e a uma rocha relativamente impermeável, ou seja sem grande capacidade
de reservar consigo a água que, através das chuvas, lhe chega.
A presença de água que ocupa pequenas rugosidades de rocha vai
provocar uma erosão química que basicamente se traduz num processo
de hidrólise dos minerais feldspáticos e micáceos que podem argilizar,
deixando soltos os grãos de quartzo. O aproveitamento por pequenas
plantas, ao acidicar ligeiramente a água pode acelerar o processo, o
mesmo acontecendo com as bruscas variações de temperatura que
fragilizam a rocha.
Na imagem, que se pretende pedagógica, são visíveis duas vascas
com características ou estádios de evolução diferentes. A vasca que se
situa em primeiro plano apresenta um exutório que reduz a quantidade
de água que pode acumular e consequentemente diminui o seu processo
de aprofundamento, enquanto em segundo plano está patente uma
vasca não só completamente fechada, como completamente colonizada
pela vegetação, o que permite a retenção das areias e também da água,
favorecendo o processo de alteração.
Paisagem e Território - expedição
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Cascata nas proximidades de Manaus
Nas proximidades de Manaus, a caminho do município de
Presidente Figueiredo, foram sendo criados pequenos sítios turísticos
que aproveitam a convergência simbiótica da oresta amazónica com
os pequenos tributários directos ou indirectos do Grande Rio. Quase
sempre o motivo turístico principal é a presença de pequenas cachoeiras
ou de simples rápidos ou corredeiras de água, relacionados com ressaltos
resultantes da diferenciação interna de dureza na rochaarenítica.
Para além de importantes lugares de lazer, procurados
habitualmente por centenas de visitantes, estes sítios turísticos assumem
um importante papel na educação ambiental informal da população
visitante, pelo carácter pedagógico e vivido da paisagem, pela articulação
entre a rocha e a água, pelas possibilidades de observação da ora e de
alguma fauna.
Paisagem e Território - expedição
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PAISAGEM DE ROCHAS EM PORTUGAL
NOTAS DE UMA EXPEDIÇÃO
Humberto Yamaki
Universidade Estadual de Londrina
Coimbra e o caráter de paisagem
Coimbra, a histórica fortaleza de pedras douradas possui várias
expressões. Escalar as estreitas vielas de pedra desgastadas. Chegar
ao alto. Contemplar o leito do rio Mondego e a serra de Lousã lá no
horizonte. Uma vez no Miradouro do Vale do Inferno, do outro lado do
rio Mondego, tentar reconhecer a fortaleza e suas partes.
Ver Coimbra através da Ponte de Santa Clara reforça sua
imponência enquanto quase intransponível linha. Estratégia de defesa.
Cidades de longa história revelam em sua sionomia a lenta
passagem do tempo. Camadas vão sendo sobrepostas sem apagar
totalmente os vestígios anteriores. Caráter de paisagem histórica. Tempo
e signicado.
Paisagem e Território - expedição
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Serpins e as camadas da paisagem
No nal de um ramal de caminho de ferro que partia de Coimbra
para Lousã ca Serpins.
Caminhando a partir da antiga Estação Ferroviária em direção
ao alto, chegamos a um miradouro sem nome. Dali é possível avistar o
vale do rio Ceira, de leito rochoso. A ponte medieval em arcos de pedra,
reconstruída sobre estruturas do período romano, resiste ao tempo.
Na cabeceira da ponte, uma centenária hospedagem se agarra em local
estratégico. Um estreito vão em recorte da encosta. Está à venda.
Finalmente, uma tortuosa estrada avança serra acima. Suas
margens revelam as marcas do incêndio de 2017. Os troncos de eucalipto,
enegrecidos pelo fogo intenso permanecem, todavia, de pé. Paisagem
como biograa do lugar.
Paisagem e Território - expedição
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Montemor-O-Velho e o caráter da paisagem histórica
O Castelo de Montemor-O-Velho fazia parte do conjunto de
fortalezas de defesa do Baixo Mondego. Do alto da muralha de pedra,
uma panorâmica da várzea do rio Mondego. Arrozais cobrem a extensa
área.
Engastado no casario, uma escada rolante de três lances foi
habilmente instalada ao lado da Escada do Santo. Facilita o acesso da
população, na maioria idosa, ao alto. Festas religiosas tradicionais na
Capela do alto têm sido resgatadas com essa instalação.
Na base do castelo, a rua Tanegashima, de nome curioso. Foi uma
ilha no Japão onde aportaram os aventureiros e exploradores portugueses
em 1542. Um deles era Fernão Mendes Pinto, de Montemor-O-Velho.
Camadas da história gravadas nas ruas e escadarias. Caráter de paisagem
histórica.
Paisagem e Território - expedição
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Sortelha e os desaos da paisagem histórica
Dentre as aldeias históricas de Portugal Central, Sortelha é
considerada uma das mais belas e bem conservadas. Implantada sobre
um maciço granítico da serra, mantém até hoje o traçado medieval. O
acesso extremamente difícil favorecia as estratégias de defesa.
Em 2011 um Parque Eólico foi instalado nas proximidades do
Castelo de Sortelha. Foi cercado de controvérsias desde a implantação,
tendo em vista o impacto sobre a paisagem histórica. O conjunto de
aerogeradores continua a desaar os visitantes.
A meia encosta, duas pedras se tocam levemente. Lendas
enriquecem o imaginário. Tempo e signicado em paisagens históricas.
Paisagem e Território - expedição
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Miranda do Corvo e a paisagem cênica
Na serra de Lousã, na colina mais elevada da vila de Miranda do
Corvo, existia uma forticação. Atualmente são visíveis a partir da ponte
do centro histórico: a Igreja Matriz com Torre Sineira, a Estátua de Cristo
e o Caminho do Calvário. Igreja, torre e ponte foram construídas com as
rochas das ruínas de antigo castelo.
Em Mirando do Corvo, a remodelação recente do caminho do
Calvário merece destaque. Os bancos xos estão localizados à beira
do caminho. Estão voltados para o vale. Repetem a solução de bancos
antigos, de intervenções anteriores, que foram deixadas na encosta. Mirar
a paisagem cênica. Preservar paisagens cênicas históricas.
Paisagem e Território - expedição
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O Porto e a complexidade da paisagem
O Porto é considerado a cidade mais portuguesa de Portugal.
Partindo da Estação de São Bento, seguir ladeira abaixo pelas
ruas tortuosas do bairro da Ribeira. Ao nal, uma vista panorâmica. O
contraste entre as vielas estreitas e o largo passeio das duas margens do
rio Douro surpreende. A harmonia do casario, as caves, o rio Douro, a
monumental ponte Dom Luis e as barcaças paradas ou em movimento,
atraem uma multidão de visitantes. As características da paisagem
histórica são reforçadas através da inserção de elementos temáticos.
Amplitude, profundidade, fechamento, ponto focal, padrões
tradicionais de parcelamento, características do relevo: paisagem cênica
O Porto. Subindo o rio Douro, o território dos vinhedos: socalcos,
patamares e vinhas ao alto. Complexidade da paisagem histórica.
Paisagem e Território - expedição
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Casmilo e a paisagem vernacular
Casmilo é uma pequena aldeia localizada no maciço calcário de
Sicó. Chega-se ao local seguindo por tortuosa e estreita estrada. De solo
pedregoso e reduzida cobertura vegetal, os olivais e suas folhas verde
cinza vão marcando aqui e ali. Chamam por aqui de “agreste paisagem
serrana. Perto cam as famosas Buracas de Casmilo: formações rochosas
de escarpa íngreme, perfuradas pela ação das águas.
Aldeia silenciosa. Em Casmilo quase não se vêem pessoas nas ruas.
Na praça central uma simpática igreja caiada. No casario ao redor e no
piso da praça, o material construtivo é a rocha. Técnicas construtivas
diferenciadas marcam as camadas de tempo. Permanências. Conferem
caráter ao local. Paisagem vernacular.
Paisagem e Território - expedição
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Serpins e o caráter da paisagem vernacular
Um estreito canal nasce nas imediações da ponte medieval
em Serpins. Segue paralelo ao rio Ceiras. O canal vira uma cascata e
desaparece sob uma construção simples, de pedras. Vai mover um antigo
moinho de farinha que funciona continuadamente a cento e cinqüenta
anos.
Ao entrar na sala principal, logo identicamos três mós, rodas de
pedra. O barulho da cascata e o ronco baixo e ritmado da mó triturando
os grãos são marcantes. Seu Júlio, o proprietário, vai regulando
constantemente a rodinha de cortiça que gira sobre a superfície da mó.
Com sua vibração, controla a quantidade de grãos a moer. A cortiça dura
três anos e então ele arma confeccionar outra. Um par de mós de reserva
ca ali fora, encostado, perto do canal.
A continuidade de atividades tradicionais está relacionada à
preservação de canais, saberes e ofícios tradicionais. Continuidade e
transformações lentas, caráter da paisagem vernacular.
OLHAR, SENTIDO, CARÁTER
DA PAISAGEM E RISCOS
Detalhe de mosaico no Paço das Escolas, Univ. Coimbra
Fonte: Yamaki , 2019.
Paisagem e Território - expedição
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UM OLHAR SOBRE AS PAISAGENS PORTUGUESAS:
COIMBRA POR MEIO DE CROQUIS
Eloiza Cristiane Torres
Universidade Estadual de Londrina
Léia Aparecida Veiga
Universidade Federal da Integração Latino-Americana
Alan Alves Alievi
Seed-Paraná
Introdução
A palavra paisagem vem do latim (pagus) e signica país, e possui
um sentido de território, lugar. Trata-se do ressourcement, ou seja, da
identidade de um território. “Esse signicado de espaço territorial,
mais ou menos denido, remonta ao momento da aparição das línguas
vernáculas e podemos dizer que esse sentido original, com certas
correções, é válido ainda hoje” (PASSOS, 1998, p. 57).
O termo foi discutido por várias ciências antes de ser incorporado
aos estudos geográcos, como: Nas artes no século XV principalmente,
as pictóricas, não constituindo uma descrição, mas privilegiando a
subjetividade; Na literatura (poesia, teatro), tanto para o Ocidente como
Oriente, a preocupação com a paisagem remonta ao século XVIII.
Para estas ciências a paisagem é o ponto visível. Já, para os
pesquisadores o interesse está em buscar as relações, por vezes ocultas,
para obter-se a síntese e a interação entre o conjunto dos elementos.
O termo paisagem foi mais defendido e utilizado em Geograa,
no século XIX, sendo proposto por H. Hommeyerem na forma alemã
Landscha “(...) entendendo exatamente por este termo o conjunto de
elementos observáveis desde um ponto alto. (PASSOS, 1998, p. 58).
O conceito de paisagem foi se ampliando ao longo dos séculos XIX
e XX, sendo os problemas mais ressaltados, referentes à heterogeneidade
e homogeneidade com relação à escala, complexidade e globalidade
Paisagem e Território - expedição
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das formas da superfície terrestre fato que conduz a reexões mais
aprofundadas sobre a estrutura e a organização da superfície terrestre
em seu conjunto. Desta maneira, nesses dois séculos se estabelecem a
maior parte das bases teóricas para a paisagem, sendo que as primeiras
representações das mesmas eram realizadas por meio de croquis e
pinturas.
Este trabalho objetivou resgatar o desenho/croqui como
ferramenta de registro da observação e representação das paisagens a
partir do olhar o observador (elementos da paisagem e sistema de ideias
do sujeito/observador). Para tanto utilizou-se como procedimentos de
pesquisa levantamento bibliográco sobre a temática paisagem na ciência
geográca e levantamentos empíricos observação simples durante viagem
para Coimbra em Portugal.
A Paisagem na Geografia
Alexandre von Humboldt foi um dos precursores nos estudos,
utilizando-se das pesquisas sobre vegetação para caracterizar um aspecto
espacial, permitindo entender as leis que regem a sionomia do conjunto
da natureza por métodos explicativos e comparativos. Assim, tem-se que
o pensamento alemão do século XIX contribuiu muito para a concepção
atual da paisagem.
Baseado em estudos de Humboldt, Grisebach foi quem
estabeleceu, em 1938, uma tipologia de formas e em 1872 um estudo
global das formações vegetais mostrando que quando as formas vegetais
se organizam tem-se uma diferenciação da paisagem.
A partir dos estudos de Sigfrid Passarge a análise das relações
entre os elementos passa a ser considerada. Um primeiro apontamento
foi a vinculação entre as formas do terreno, os elementos climáticos e
a vegetação, percebendo que, se o clima mostra-se como um elemento
destruidor” a vegetação pode ser “conservador-reconstrutor”. Assim, as
unidades mostram-se integradas, mantendo relações entre si.
Paisagem e Território - expedição
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Os estudos alemães aprofundaram-se mais e, seguindo esta
perspectiva, Carl Troll desenvolveu a Ciência da Paisagem e a
relacionando-a com a Ecologia..
Gregoriev, Sochava entre outros desenvolveram o conceito de
landscha, o período de “entre-guerras” até os anos 60 do século passado,
passando a ser entendida como entidade sistêmica dissociada nas noções
corológicas.
Outro ponto que merece destaque na abordagem de Sochava é a
diferenciação entre paisagem, meio e natureza, sendo: O meio onde vive
o homem e se dene em função dele; a natureza é aquilo que nada tem a
ver com o homem; e a paisagem engloba tudo. (SOCHAVA, 1963).
A Ciência da Paisagem recebeu contribuições muito importantes
da escola soviética, principalmente fornecendo estruturas institucionais,
progressão em especializações e à epistemologia dentro de uma “lógica
paisagística
Outras contribuições de grande peso estão associadas aos anglo-
saxões. Principalmente com a teoria do holismo de Smuts, na qual todas
as entidades físicas e biológicas formam um único sistema interagente
unicado e que qualquer sistema completo é maior do que a soma
das partes componentes. Tal conceito é essencial para entendermos a
integração da paisagem.
O conceito de paisagem é algo bastante elucidado por Passos (2001),
pautado em Bertrand (1975). No texto “Perspectivas de eco-historia
aplicada ao estudo da paisagem” o autor perpassa por pontos de interesse
geográco. Ocorreu uma submersão em pesquisas geomorfológicas que
desequilibrou e setorizou os estudos. Assim, para a Geograa Moderna
existe a necessidade de uma visão global e explicativa dos fenômenos
naturais e suas interações, almejando-se um encontro entre a Ecologia e
a História (Ecohistoria) nos estudos históricos das paisagens, garantindo
uma visão integrada, mas com ênfase nos elementos e sua ação.Resgatando
o elo perdido entre História e Geograa.
A preocupação com estes estudos não é recente e data do início dos
anos 1970, quando se tinha um panorama mundial de crise relacionada
Paisagem e Território - expedição
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ao meio ambiente. A ciência da paisagem não pode mais conceber a
ruptura entre Geograa Física e Humana, uma vez que o homem passa a
ser considerado como um agente natural da paisagem e um agente social
(principalmente quando visto no coletivo) o que faz com que, nos anos
1970, todos os desastres naturais fossem associados a ‘ação antrópica
numa conotação negativa e generalizada a todas as mudanças ambientais.
A questão refere-se a combater os exageros e não a retirar as reexões
criticas (e necessárias) da ciência geográca, por exemplo.
Pascoal Acot, em seu livro ‘História da Ecologia’ (1990), preenche,
um pouco mais a lacuna referente ao estudo das utuações dos meios
naturais no que concerne à atividade humana, revelando também, a
importância de estudos sobre a história das ciências (caso especíco
de sua obra, a Ecologia). Assim, o espaço rural merece ser destacado,
sendo palco da criação humana, porém, não existindo não fossem suas
condições naturais.
Na mesma perspectiva de estudo, torna-se interessante resgatar um
pouco mais detalhadamente o que propõe a Ecologia da Paisagem pois
“[...] ela considera o homem como parte integrante dos ecossistemas que
formam a biosfera e tem o mérito de ter uma unicação das ciências da
natureza e das ciências da sociedade. (BUREL e BAUDRY .Desta forma,
para entender as paisagens atuais necessita-se compreender a evolução
desde os tempos mais remotos.
Além da heterogeneidade, a ecologia da paisagem, ressurgida nos
anos 80, reforça a contínua relação homem-meio:
Sendo desta forma, para estudá-la, se faz necessária a utilização de
uma equipe multidisciplinar, para conseguir desvendar a heterogeneidade,
que é muito marcante.
A paisagem, na Geograa, vem sendo retomada aos poucos.
Durante muito tempo, mais especicamente até a Nova Geograa, a
paisagem era um conceito enfraquecido, que não merecia destaque
nos estudos e que vagava entre objetividade e subjetividade, sem uma
doutrina ou metodologia bem concretizada.
Paisagem e Território - expedição
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No século XX o conceito de paisagem volta a motivar trabalhos,
com uma visão ‘mais cientíca, e normalmente, relacionada com a linha
tradicional da escola francesa, tendo como principal inspirador Vidal de
La Blache.
Desta forma, ao levar em conta a escala social, os estudos de
paisagem cam mais próximos da ciência geográca.
Podemos distinguir a paisagem em duas correntes distintas: 1) a
paisagem dos arquitetos, psicólogos, artistas plásticos e alguns geógrafos,
que a admitem como subjetiva, sentida, vivida; 2) a paisagem dos ecólogos
e geógrafos, combinando tentativas globais e setoriais, qualitativas e
quantitativas, apoiadas sobre cartograa em várias escalas e com vistas
à integração.
Por muito tempo os geógrafos relutaram em discutir a parte
cultural, deixando a mesma para historiadores, lósofos e antropologia.
A idéia de Geograa Cultural vem ao encontro às armativas de White,
sendo proposta na metade nal dos anos 1800 com os teóricos alemães,
sendo de grande inuencia as idéias de Alexander Von Humboldt, que já
inseria descrições das culturas e das comunidades aos locais que estudava.
Somente nos anos 1920 é que tais argumentos a freqüentar as discussões
geográcas.
Nota-se que a paisagem teve uma grande evolução em seu
conceito e não é somente o produto dos processos geológicos, físicos e
biológicos e, sobretudo antrópicos que, em conjunto, denem os traços
sionômicos. Esta pode e deve ser considerada como a visão panorâmica,
a imagem percebida pelo homem, até onde ele pode ver a partir de um
dado ponto de vista, levando em conta as várias escalas, os diversos níveis
de detalhamento, partindo de uma visão de conjunto do território indo
às especicidades locais.
Caminhando para o entendimento da paisagem em uma
perspectiva humanista, pode-se armar que a essa categoria pode ser
enquadrada como campo de visibilidade e de signicação individual
e sociocultural. Para Dardel (1952, p. 41), a paisagem é “[...] algo mais
que uma justaposição de detalhes pitorescos, a paisagem é um conjunto,
Paisagem e Território - expedição
32
uma convergência, um momento vivido. Há uma ligação interna, uma
‘impressão, unindo todos os elementos.
Cabral (2000, p. 39) pautado em Dardel (1952), ao discutir essa
ligação interna assevera que a mesma “[...] que une os elementos da
paisagem é a presença do homem e seu envolvimento nela. Assim, cada
paisagem tem seu próprio conjunto e contem signicados especícos
para nós [...]”. Assim, segundo o referido autor, [...] qualquer paisagem é
diferente e ao mesmo tempo possui similaridades com outras, pois além
dos atributos e formas comuns, nós a vemos através dos mesmos olhos e
preconceitos [...]”. (CABRAL, 2000, 39).
Depreende-se assim que, embora duas ou mais pessoas observem
uma paisagem na mesma direção e instante, as mesmas não estarão
vendo a mesma paisagem. Melhor dizendo, os sujeitos que observam
podem estar vendo a mesma paisagem em termos de elementos como
árvores, casas, rios, estradas, montanhas, etc., mas não é a mesma
quando tais elementos são ajustados de acordo com o sistema de ideias
dos observadores para adquirirem sentido ou signicado. Desta forma,
concorda com Cabral (2000, 40), quando o autor arma que a paisagem
enquanto “[...] fenômeno vivido, admite-se que tanto pela diversidade
de arranjos e cenários como pelas diferentes maneiras de olhar e atribuir
signicados, seria mais adequado referir-se a paisagens que emanam de
uma mesma paisagem.
Paisagens e croquis: momentos vividos em Coimbra
Partindo do entendimento da paisagem como produto de uma
realidade subjetiva e tendo por base as discussões acerca da paisagem,
foram desenvolvidos croquis da cidade de Coimbra que visam apresentar
um olhar artístico sobre o local.
Esses croquis foram elaborados a partir da observação das
pesquisadoras durante uma viagem realizada para Portugal e com
Paisagem e Território - expedição
33
passagem em Coimbra. Durante o período de visitação na cidade a
observação foi precedida de registros fotográcos, que posteriormente
foram utilizados como material de suporte para elaboração dos croquis,
como forma de reforçar as lembranças guardadas na memória das
pesquisadoras. Foi nesse momento de transposição das memórias
e fotos para o croqui que entrou em cena o terceiro pesquisador, com
sua habilidade de transpor para o papel, as memórias relatadas pelas
pesquisadoras e as imagens registradas nas fotograas.
Dentre as várias fotograas produzidas durante a viagem, foram
escolhidas três , que a nosso ver retratam elementos importantes sobre
os lugares visitados e que encontram-se guardados em nosso imaginário.
Embora as fotos tragam uma série de elementos, as mesmas contem
alguns que chamaram a atenção aos olhos da observadora, motivando
assim o registro fotográco. E como forma de destacar tais elementos,
nos croquis buscou-se detalhar as impressões e relações estabelecidas
pelo sujeito que realizou registrou as fotograas.
Assim, buscando destacar os elementos que chamaram a atenção
da observadora e que adquiriram signicados ao serem submetidos
ao sistema de idéias do sujeito/observador, foram produzidos croquis
(guras 1, 2 e 3).
Na gura 1, tem-se o croqui referente a ligações internas e o sentido
da paisagem para a observadora que procedeu com o registro. Desta
forma, não corresponde exatamente a todos os elementos expressos no
registro fotográco, pois ao fotografar a paisagem sob o ponto de vista
evidenciado na foto A, a pesquisadora intencionou capturar a declividade
entre a universidade e a cidade, tendo os inúmeros degraus transpondo
o pequeno morro, unindo cidade e a Universidade de Coimbra: um
sentimento de busca pelo aprendizado, que está nos últimos degraus,
que ao atingirmos deixam entreabertas as possibilidades de acessarmos o
conhecimento cientíco.
Além disso, ainda em relação ao croqui na gura 1, a pesquisadora
quis registrar os telhados das construções, que no alto da escadaria era
facilmente visualizado. Telhados de quatro águas ou mais, e até mesmo
Paisagem e Território - expedição
34
‘arredondados’, que remetem a outros tempos históricos, nos quais outros
grupos sociais habitavam tais residências.
As diversas paisagens que sobressaltaram aos olhos da pesquisadora
no interior da universidade de Coimbra também chamaram a atenção.
Em particular, a vista de parte das salas de aulas/laboratórios conforme
croqui evidenciado na gura 2.
No croqui (gura 2), destaca-se a arquitetura das salas de aulas/
laboratórios da universidade, muito semelhante aos olhos da pesquisadora
aos casarões dos barões do café nas fazendas do interior do estado de
São Paulo nal do século XIX. De expressiva extensão longitudinal, o
prédio com suas janelas rebuscadas e telhados quatro águas em muito se
assemelha a paisagens de outrora vivenciada por cafeicultores paulistas.
Remetem a um tempo-espaço que a pesquisadora não vivenciou, mas que
apreendeu por meio de leituras e visitas, guardando assim na memória.
E por m, tem-se o croqui da gura 4, gerado a partir da observação
e registro fotográco da paisagem nas margens do rio Mondego, vista do
alto de uma parte do pátio da universidade de Coimbra.
A cidade de Coimbra é cortada pelo rio Mondego. Nas margens
desse rio tem-se o Parque Verde, área de lazer e entretenimento para
os moradores e turistas. Embora a cidade de Coimbra seja arborizada,
chamou a atenção da pesquisadora o fato desse rio não dispor de mata
ciliar conforme preconizado por legislação ambiental e pela ocupação
urbana nas proximidades da margens. Algo muito comum no Brasil,
e em particular no norte paranaense, onde residem os pesquisadores,
em diferentes porções das margens do Tibagi, rio caudaloso como esse
observado em Coimbra, que também apresenta em inúmeras porções de
suas margens parca mata ciliar e ocupação urbana e/ou práticas em áreas
de preservação ambiental.
Paisagem e Território - expedição
35
Figura 1: Croqui com a vista da cidade a partir do alto das escadarias da
Universidade de Coimbra
Arte nal: ALIEVI, A. A., 2019.
Paisagem e Território - expedição
36
Figura 2: Croqui dos prédios de salas de aulas/laboratórios da
Universidade de Coimbra
Arte nal: ALIEVI, A. A., 2019.
Figura 3: Croqui da paisagem com destaque para o rio Mondego em
Coimbra
Arte nal: ALIEVI, A. A., 2019.
Paisagem e Território - expedição
37
Os olhares da pesquisadora que fez os registros das paisagens em
Coimbra ocorreram motivados pelas ligações internas (DARDEL, 1952) e
signicados atribuídos aos elementos observados (CABRAL, 2000). Assim,
outros pesquisadores juntos podem proceder com registros diferentes
ao olharem a mesma paisagem, com mesmos arranjos e elementos. São
sujeitos diferentes, com vivencias e interesses diferenciados, tendo assim
“paisagens que emanam de uma mesma paisagem” (CABRAL, 2000, 43).
Considerações finais
Com essas reexões foi possível entender que a paisagem pode ser
percebida, sentida e vivida de diferentes formas por sujeitos diversos. O
sentido atribuído a paisagem e a resposta à combinação dos elementos
deste sistema é uma forma de entrelaçamento de idéias.
Paisagem traz consigo realidades que segundo Cabral (2000), traz
a tona além das inúmeras faces da paisagem, o signicado e a leitura
realizados por um olhar. Paisagens seriam reexos dos sentimentos e
pensamentos do observador, segundo o autor.
Referências
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Modesto dos Passos. Maringá. Ed. Massoni, 2007, 332p.
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38
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DARDEL, E. L’Homme et la terre: nature de la realite geographique. Paris:
Presses Universitaires de France, 1952.
Paisagem e Território - expedição
39
EM BUSCA DO SENTIDO DA PAISAGEM: PERCURSOS
POR LONDRINA (BRASIL) E COIMBRA (PORTUGAL)
Jeani Delgado Paschoal Moura1
Danieli Barbosa de Araujo 2
Introdução
Eu me experimento na cidade; a cidade existe por meio de minha
experiência corporal. (PALLASMAA, 2011, p. 38)
Na paisagem estão presenticadas as marcas de uma determinada
sociedade em um certo espaço-tempo, como é possível perceber em uma
primeira tentativa de compreensão das cidades de Londrina e Coimbra
com suas paisagens distintas, fruto da interação entre homem e natureza.
O artigo não pretende realizar uma análise comparativa entre as duas
realidades geográcas, mas demonstrar que os sentidos humanos, a partir
da experiência corporal, são meios importantes a serem considerados na
apreensão e compreensão do real. A experiência de paisagem se dá pela
presença no mundo, envolvendo os olhos, o tato, a audição, a degustação,
o olfato – são as percepções do corpo mediadas pela mente/espírito que
dão signicados diversos e criam imagens das paisagens vividas.
Adotou-se como ponto de partida a experiência da paisagem, uma
geograa informal, originária do mundo da vida, envolvendo aspectos
intuitivos, perceptivos e estéticos, pelo qual se busca uma signicação
e construção de imagens, com o objetivo de estabelecer um diálogo
profícuo entre o conhecimento cientíco e o tácito, advindo da íntima
relação existencial entre o Homem e a Terra. O que se segue, concentra-se
1 Docente do Curso de Pós-Graduação em Geograa, da Universidade Estadual de
Londrina/UEL, Colaboradora do Projeto n. Projeto n. 156421 /2017-01 Paisagem e
Território: Novos Arranjos: Londrina (Brasil) e Coimbra (Portugal).
2 Doutoranda do Curso de Pós-Graduação em Geograa, da Universidade Estadual de
Londrina/UEL.
Paisagem e Território - expedição
40
em reexões apresentadas de forma associada a pictograma, fotograas
e croquis de paisagens e anotações retiradas dos cadernos de bordo das
autoras, em um exercício fenomenológico de sentir as cidades durante
processos de observação, conversas informais, percepção, afetividade e
memória, fruto do esforço de interação sujeito-objeto, em busca de uma
geograa em ato como queria Dardel (2011).
Londrina e Coimbra: entre lugares, paisagens e percursos
A intervenção humana sobre a natureza ocorre associada a um
modelo de compreensão de mundo fundamentado na racionalidade
técnica e na objetividade cientíca, fruto da modernidade. Paralelamente
à dualidade que se desenvolveu no pensamento e na relação do homem
com a natureza, emergiram ao longo do tempo e em diferentes lugares,
questionamentos abrindo-se caminhos para dar sentido à existência
humana na Terra, concebendo a humanidade como inerente a natureza.
A paisagem contemplada em sua exterioridade passa a ser compreendida
para além de sua aparência cooptando o campo da experiência humana,
estabelecendo-se aproximações entre razão e emoção, materialidade
e sensibilidade. Besse (2014) ensina que somos parte integrante da
paisagem e, por isso, seu entendimento fundamenta-se em aspectos
subjetivos, na percepção e na experiência. É preciso experienciar os
lugares e suas paisagens para descobri-los, pois na percepção espacial o
corpo inteiro se envolve
A saída de campo não serve apenas para recolher dados e
assegurar a autenticidade factual dos ensinamentos da disciplina;
ela é também o vetor de um entendimento global que não pode ser
alcançado de outra forma, o mundo é feito de individualidades que
precisamos perceber. (CLAVAL, 2013, p.17 grifo nosso)
Ao percorrer pelas ruas de Londrina, como moradoras, e de
Coimbra, como visitantes/estrangeiras, em um exercício fenomenológico
Paisagem e Território - expedição
41
de olhar com vagar, escutar, tatear, enm, sentir as cidades, se buscou
dar um sentido para as suas paisagens. Londrina, com cerca de 550.000
habitantes, está localizada ao sul do Brasil, no estado do Paraná. Coimbra,
cidade portuguesa, possui cerca de 150.000 habitantes e está situada na
província da Beira Litoral, na região Centro de Portugal (Figura 1).
Figura 1 [Pictograma] – Mais que dois pontos no mapa: Londrina e
Coimbra
Fonte: MOURA, J. D. P; ALIEVI, A. (2019)
Nestes dois pontos do mundo, presenciam-se modos de vida
díspares que se fruticam da relação Homem-Terra. Londrina e
Coimbra, ambas carregam em si a imagem de cidade dos universitários:
a Universidade de Coimbra, localizada no topo da colina, é considerada
o coração da cidade, a história da cidade se confunde com a desta
universidade; a Universidade Estadual de Londrina, campus localizado
Paisagem e Território - expedição
42
na zona oeste da cidade, se destaca como polo educacional para Londrina
e região.
Londrina é fruto de um amplo projeto de loteamento realizado pela
Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP), iniciado em 1929 com
a fundação do primeiro acampamento, o Patrimônio Três Bocas, que em
1934 fora elevado à categoria de município. A partir da década de 1950,
inspirados na metrópole paulista, agentes sociais passam a impulsionar
um processo de verticalização precoce, por meio da construção de altos
edifícios de arquitetura moderna, os quais materializam o símbolo de
poder e de progresso. Atualmente, a jovem Londrina, próxima de seus
85 anos, tem o ritmo de vida marcado por um certo movimento, onde as
pessoas pouco exercitam as suas corpograas em seus percursos diários,
ou em suas memórias urbanas escritas no e pelo corpo, por meio do
anar.
Figura 2 [Croqui] – Vista parcial da cidade de Londrina, Brasil.
Fonte: MOURA, J. D. P; ALIEVI, A. (2019)
Cidades contemporâneas como Londrina, apresentam-se,
muitas vezes, como uma “cidade dos olhos”, valorizando a esfera visual
Paisagem e Território - expedição
43
e descuidando dos demais sentidos. A arquitetura modernista, como
pontua Pallasmaa (2011), tem abrigado o intelecto e os olhos, mas tem
deixado desabrigados nossos corpos e demais sentidos, assim como
nossa memória, imaginação e sonhos. Em um recorte espacial a gura
3 mostra traços de uma experiência urbana movida pela pressa, pela
velocidade, pela incomunicabilidade com os espaços de Londrina. Parte
da experiência urbana contemporânea está pautada pelo ir e vir de um
espaço a outro com um propósito estabelecido, muitas vezes, advindos
das necessidades econômicas e de trabalho. Assim, a cidade cumpre o seu
papel funcional.
Figura 3 [Fotograa] – Avenida Airton Senna, Londrina, Brasil.
Fonte: MOURA, J. D. P. (2019)
As ruas pensadas para os veículos, negligenciam espaços para o
corpo, o que acaba por restringir uma experiência sensória intima com o
espaço urbano. Gehl (2015) arma que a construção de ruas e avenidas
estimula o uso de veículos e fere a experiência corpórea com a cidade. As
chances de ver, entender e interagir com o que está acontecendo no espaço
urbano são reduzidas se o deslocamento pela cidade é feito utilizando um
veículo, que priva o sujeito de experiências sensórias, estando cada vez
Paisagem e Território - expedição
44
mais desvinculadas do corpo pelo movimento motorizado dos veículos.
As estruturas urbanas, assim como o seu planejamento, inuenciam
diretamente o comportamento humano e o funcionamento das cidades.
Lugares que não priorizam pontos de encontro para que outros sentidos
sejam estimulados, tende a dar espaço a uma cidade-espetáculo,
diretamente relacionada a uma diminuição da participação popular e da
experiência física enquanto prática cotidiana (JACQUES, 2011). Há um
processo crescente de alienação da cidade enquanto constructo social.
Ao caminhar por Coimbra reconhece-se memórias de outras
épocas, suas edicações antigas projetam um tempo lento, consistente
e tátil, revelando um contínuo temporal com modos de vida distintos
de cidades contemporâneas. São museus do tempo, que registram traços
temporais diferentes da atual noção de tempo, apressada e agitada
(PALLASMA, 2011).
Figura 4 [Croqui] – Vista parcial da cidade de Coimbra, Portugal.
Fonte: MOURA, J. D. P; ALIEVI, A. (2019)
Paisagem e Território - expedição
45
Como antiga capital do reino de Portugal, Coimbra acumula 2000
anos de história que remontam ao Medievo e chegam nos dias atuais
com paisagens que acumulam temporalidades distintas, materializadas
em um patrimônio histórico arquitetônico, além de uma arquitetura
contemporânea primorosa. Atravessada pelo rio Mondego e a presença
marcante de áreas verdes, Coimbra é ponto de convergência entre
diferentes culturas. É comum receber informações sobre os locais da
cidade, com a indicação “cidade alta” e “cidade baixa, termos denidores
da estrutura urbana. A “Alta” com referência ao topo do sítio urbano, onde
viviam os aristocratas, os clérigos e, depois, os estudantes, e a “Baixa, o
lugar reservado aos comerciantes, artesãos e bairros populares.
As estreitas passagens e escadarias são testemunhos de um tempo,
onde o corpo era elemento incluído no processo de planejamento da
cidade. No centro histórico de Coimbra, as pequenas ruas não comportam
carros. A passagem é restrita aos pedestres, ou meios de locomoção de
menor escala (Figura 5). Tal fato faz com que as pessoas exercitem a sua
experiência corpórea com o lugar. Isso permite que muitos sentidos sejam
aorados, pois o tempo de locomoção é lento, exige atenção e possibilita
encontros. Coimbra é um exemplo de como a cidade, em tempos remotos,
foi projetada para o corpo.
Paisagem e Território - expedição
46
Figura 5 [Fotograa]– Rua Fernandes Tomas [Quebra Costas], Coimbra,
Portugal.
e
Fonte: MOURA, J. D. P. (2019)
As estreitas ruas medievais parecem labirintos, por vezes,
direcionam a pequenas praças, marcadas por apresentações artísticas e
Paisagem e Território - expedição
47
encontros de pessoas. O senso de realidade e a profundidade existencial
são reforçados mediante interações com o outro e com o espaço. A cidade
deve fornecer a base para o envolvimento e a experimentação, promovendo
ambientes em que os sujeitos se sintam convidados a permanecer e a
interagir. Gehl (2015) ressalta que as atividades de permanência são a
chave de uma cidade viva. Há um valor estético, as pessoas permanecem
pela beleza da paisagem e de seus sentidos e signicados. Uma boa cidade
tem muitas semelhanças com uma boa festa, os convidados cam porque
se divertem. As marcas temporais presentes na arquitetura, na culinária,
nas músicas típicas, inuenciam o ritmo das pessoas dentro da cidade.
Embora Coimbra seja uma cidade universitária e turística, o uir da vida
urbana passa com calmaria. O fato de se deslocar a pé por grande parte
do centro histórico, cria, ainda que de modo sutil, uma intimidade com
a cidade. Besse (2014, p. 47) lembra que “a paisagem é primeiramente
vivenciada e depois, talvez, falada, a palavra buscando, sobretudo aqui,
prolongar a vida, ou melhor, o vivo que faz da paisagem uma experiência.
Tradições são preservadas em Coimbra, evidenciando marcas de
uma temporalidade que foge da atual. O fado, música típica portuguesa,
é comumente tocado em praças públicas, com shows abertos ao público.
O traje acadêmico é outra tradição que se perpetua por Coimbra. Não
é raro se deparar estudantes vestidos com uma capa preta, que traz em
si, resquícios de uma tradição histórica, uma identidade que a cidade
portuguesa busca assegurar3.
A ampliação de nossas experiências geográcas pode nos oferecer
novas sensações e sentimentos; novos lugares, novas formas
de relação Homem-Terra que eriçam nossa sensibilidade e nos
desaam a compreender o sentido daqueles lugares e daquelas
experiências (GALVÃO FILHO; MARANDOLA JR., 2017, p. 31).
O conhecimento, a percepção, a compreensão e a educação na
paisagem estimula o sentimento de pertença, de identidade, de inclusão
e de responsabilidade nos espaços de vida, empoderando tanto os
cidadãos, quanto os geógrafos-educadores. Estes últimos com seu espírito
Paisagem e Território - expedição
48
inquiridor, imaginativo e descobridor cumpre a tarefa de transformar
pontos de vistas dos lugares em uma visão conjuntiva pela qual os campos
se distinguem, as linhas se desenham e as convergências aparecem, como
expressou Claval (2013).
Ao envolver aspectos objetivos e subjetivos do mundo da vida
as tramas do cotidiano se tornam formadoras, pois o sujeito vai se
constituindo e se educando. “O sujeito engaja-se no mundo cuja ponte
são os lugares e suas rugas. Nos lugares, o sujeito existe e o mundo
mostra a sua identidade. Viver é, nessa condição, sentir o mundo, pensá-
lo e exercê-lo com o corpo exposto ao movimento [...]”. Nesta direção,
as paisagens vividas são meios para a aprendizagem geográca, onde
a experiência se congura como elemento central, pois “a existência é
mais que a realidade é também o possível, o sonhado, o inventado
(CHAVEIRO, 2012, p. 275).
Considerações Finais
É preciso alcançar o reencantamento da cidade e uma das
possibilidades é transformá-la em um espaço da intimidade e de
aconchego. As cidades em escalas humanas, com construções acessíveis e
convidativas ao corpo, promovem uma abertura à experiência corpórea.
Andar intencionalmente pelas cidades de Londrina e Coimbra com
espírito inquiridor e corpos que clamam pela corporeidade, isto é, pela
experiência de contato com o mundo, fez emergir novos signicados e
possíveis caminhos para restituir laços de sociabilidade e de participação
cidadã.
As paisagens são campos de signicações e se tornam horizontes da
experiência educativa capaz de levar a ações de valorização, conservação
e preservação das realidades ambientais, mas isto exige o retorno da
contemplação, do espaço de pausa, de caminhada, pelos quais os sujeitos
poderão se reconectar com o mundo da vida, numa experiência corpórea
de ser-mais em um mundo em construção.
Paisagem e Território - expedição
49
Referências
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PALLASMAA, J. Os olhos da pele: a arquitetura e os sentidos. Trad. Alexandre
Salvaterra. Porto Alegre: Bookman, 2011.
Paisagem e Território - expedição
51
CARÁTER DE PAISAGEM VERNACULAR –
SALINAS DE FIGUEIRA DA FOZ EM PORTUGAL
Humberto Yamaki
Coordenador do Laboratório de Paisagem UEL
Bruno Frank
Pesquisador do Laboratório de Paisagem UEL
Introdução
As Salinas do Baixo Mondego constituem uma das paisagens
de reconhecimento nacional em Portugal. Têm características que J.B.
Jackson (1984) traduziu como paisagem vernacular: “um impressionante
mostruário de devoção aos costumes (tradição), ...uma exaustiva e
surpreendente simplicidade (ingenuidade) em encontrar soluções
práticas, em curto espaço de tempo.
Segundo Clement (1999), o Registro Nacional Americano (NPS-
National Park Service, USA) considera a classicação de paisagens
históricas em: (1) vernacular, incluindo a etnográca e (2) paisagem
projetada. Histórica quando têm pelo menos cinqüenta anos de existência
ou ainda características relevantes que se deniram ainda que em
menos tempo. Sendo assim a “[...] paisagem vernacular é o resultado de
atividades humanas contínuas, usos do solo e escolhas. Podem apresentar
arranjos especícos de recursos reetindo um uso intenso e signicativo
(CLEMENT, 1999, p.6-7 tradução nossa)”. Sob esse aspecto, o relevo,
vegetação, circulação, corpos d’água, edicações e sistema de objetos
denem o caráter visual e qualidades históricas intangíveis. Promove o
senso de tempo e lugar.
J.B Jackson (1984) arma que “[...] a beleza que vemos numa
paisagem vernacular é a nossa imagem sobre a própria humanidade:
trabalho árduo, desejo obstinado, tolerância mútua (1984, p.xii, tradução
Paisagem e Território - expedição
52
nossa)” e continua: “[...] uma paisagem que permita com que essas
qualidades se manifestem, tem beleza (idem, ibidem)”
É sob a perspectiva da paisagem vernacular e histórica que as salinas
de Figueira da Foz em Portugal serão avaliadas. Este artigo constitui um
estudo de caso que dá continuidade às pesquisas teóricas e de campo
sobre permanência, resiliência e caráter da paisagem desenvolvida em
trabalho anterior (FRANK, YAMAKI, 2018).
Breve Histórico
Segundo estudos de Rau (1984, apud DGADR, 2019) as primeiras
salinas no Mondego datam do inicio do século XI. Consta que, em
1791 existiam cento e quinze salinas e seu numero foi expandindo
gradativamente.
Em meados do século passado existiam no Salgado de Figueira da
Foz cerca de duzentos e vinte e nove salinas, navegáveis nas marés. Mais
recentemente, em 2016, restavam apenas quarenta e duas salinas ativas.
(ECOSAL, 2019).
A criação do Núcleo Museológico do Sal com um Centro
Interpretativo Multidisciplinar em Figueira da Foz, em 2007, trouxe à
tona a discussão sobre a revalorização das salinas e da atividades dos
marnotos – trabalhadores de sal e, paralelamente, a preocupação com a
paisagem das salinas.
Jardim de Sal, uma Paisagem Vernacular
O Salgado ou conjunto de salinas de Figueira da Foz são também
conhecidos como Jardins de Sal (folder do Núcleo Museológico do Sal,
2019). O conjunto de pequenos cones de sal que são enleirados durante
a colheita dene um conjunto singular. (Figura 1)
Paisagem e Território - expedição
53
No interior da ilha, os talhões geometricamente cortados em
pequenos retângulos são atravessados por tablados lineares de madeira
natural onde é depositado o sal. Os compartimentos reticulados atingem
várias colorações de branco, dependendo do grau de cristalização.
À distância, este conjunto permite reconhecer a funcionalidade e
o peso da tradição. É um dos principais elementos que caracterizam a
paisagem da ilha salineira.
Figura 1: Jardim de Sal – Cena de colheita.
Fonte: Yamaki, 2019.
Sistema de Produção do Sal
O sal resulta da evaporação da água canalizada das marés utilizando
o calor do sol e ventos dominantes. Em Figueira da Foz, as salinas são
constituídas de um conjunto de reservatórios e compartimentos formando
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um reticulado. Existe um sistema hidráulico que interliga, através de
canais, os vários reservatórios de evaporação. Etapas que podem chegar
a sete e são denominadas de entrebanhos, cabeceiras e cristalizadores ou
praias.
Técnicas e ferramentas tradicionais permitem aos marrnotos
(pessoa que trabalha o sal) controlarem o nível da água, a concentração
progressiva do sal e a colheita. (DGADR, 2019). Sal e Flor de Sal são
produzidos em Figueira da Foz. A Flor de Sal é constituída de cristais de
sal que se formam na superfície da água durante a produção do sal. Um
arsenal de ferramentas, espécie de rodos de madeira, é utilizado para a
coleta manual da produção.
A localização dos canais e compartimentos, a incidência do sol e a
direção dos ventos inuenciam no processo de evaporação. Resultam na
localização disposição e articulação dos componentes da paisagem.
Ponte de Acesso à Ilha
A área onde se localizam as salinas na Ilha de Morraceira é visível
a partir de Figueira da Foz. Dali, da outra margem, é possível visualizar
somente uma planície de capim verde e barracões de madeira pontuando
o conjunto. Os tanques de cristalização não são visíveis. Ainda a distancia,
a ilha é um santuário de pássaros cuja revoada marca o sapal – área
inundável.
A única maneira de acesso à ilha é através da ponte Edgar Cardoso.
Do alto da ponte podemos avistar uma panorâmica da ilha de seiscentos
hectares, compartimentada em módulos retangulares de evaporação de
superfície espelhada e um conjunto de caminhos intrincados. Avançando
mais um pouco, estamos no plano das salinas.
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Os Caminhos Internos – Labirinto de Sal
Uma rede labiríntica de caminhos se espalha pela ilha de
Morraceira. Caminhos reconhecíveis aos marnotas, mas que diculta a
livre circulação de estranhos. É um traçado de “defesa”, reconhecível e
familiar somente à comunidade local. Fato reforçado devido a questões
sanitárias atuais. Uma placa na entrada dos tanques de colheita informa:
“não é permitida a entrada de animais, fumar nas áreas de produção,
comer e beber...
Os caminhos são construídos sobre uma plataforma compactada,
a cerca de 1 a 2 metros do nível de água. A largura é suciente apenas
para a passagem de dois carros lenta e simultaneamente. Os caminhos
contínuos seguem os canais e diferem dos caminhos sem saída. Não há,
portanto, cruzamento em cruz. Os acessos são usualmente em forma
de “T”e “L. Predominam caminhos perpendiculares ao rio Mondego.
Reetem a posição dos canais de circulação e tanques de evaporação da
água. Adequações ao uxo da maré, sol e ventos denem o conjunto.
(Figura 2)
Figura 2: Num caminho na ilha da Morraceira, o barracão de sal.
Fonte: Yamaki, 2019.
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Uma comparação entre os caminhos atuais (Yamaki, 2019) e o
levantado por Ribeiro em 2003, mostram pouca mudança. Os caminhos
estão consolidados. (Figura 3) A troca de atividades de salineira para
aqüicultura deixa permanecer a geometrização constante da superfície
da ilha.
A paisagem de salineira é resiliente, caracterizada pelas
permanências.
Figura 3: Caminhos internos atuais da ilha da Morraceira.
Fonte: Yamaki, 2019.
Barracões de Sal – Tipologia Tradicional
Os barracões de sal são componentes edicados marcantes na
paisagem de sal. Serviam de deposito de 10 a 15 toneladas de sal cada um
e moradia aos marnotas – trabalhadores de salinas. Estão distribuídos
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às margens dos caminhos e segundo a orientação dos canais, insolação
e ventos. São construções bastante robustas, de planta retangular e sem
janelas, térreas, edicadas em madeira aparente, telhado cerâmico de
duas águas. (Figura 4)
Figura 4: Interior de barracão de sal reconstruído segundo tipologia
tradicional.
Fonte: Yamaki, 2019.
A implantação de barracões de sal tradicionais ocorre em
locais de fácil acesso e visibilidade dos tanques de cristalização. Existe
predominância de implantação com a face menor voltada aos ventos do
mar.
Em recente visita ao local (2019), vários barracões estavam sendo
reconstruídos em madeira aparente, seguindo a tipologia tradicional.
Enquanto os barracões antigos eram feitos de toras roliças dos Pinhais
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de Leiria, as novas são de tabuas beneciadas trazidas da Alemanha. Tem
durabilidade de algumas décadas.
Um painel de azulejos na ilha da Morraceira traz uma cena do
cotidiano de uma família marnota. O batel de sal navega pelo canal em
frente a um barracão de sal e moradia. Revela a continuidade na tradição
de moradia e saberes tradicionais. (Figura 5)
Figura 5: Painel de azulejos mostrando um tradicional barracão de sal e
batel.
Fonte: Yamaki, 2019.
Salinas vivas e salinas abandonadas – Resiliência do componente da
paisagem
As cerca de quatro dezenas de salinas remanescentes concentram-
se no interior da ilha. O restante é utilizado para criatórios de aqüicultura
ou estão abandonados. Nas salinas vivas, os cones de sal em época de
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colheita constituem momento marcante. Paisagem historicamente
tradicional e signicativa (MEYER, 2016).
Circulando pela ilha é possível perceber o contraste entre as salinas
vivas e abandonadas. Os tanques de vaporização vazios são rapidamente
ocupados por uma vegetação rasteira. São as salicórnias, planta de folhas
carnudas que resistem a solo altamente salinizado. Uma espécie invasora
que atualmente é bastante apreciada para uso culinário. (Figura 6)
Figura 6: Uma muda de salicornia junto a sistema de drenagem.
Fonte: Yamaki, 2019.
Os caminhos intrincados resistem às transformações de uso. De
salinas à aqüicultura e salicornias. A paisagem tradicional das salinas é
resiliente.
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Caráter da Paisagem Vernacular das Salinas de Figueira da Foz
A paisagem vernacular das salinas de Figueira da Foz é
caracterizada pelo uso continuado na produção artesanal de sal. Segundo
Yamaki (2018), o caráter da paisagem é denido pelos: 1. Componentes,
2. Atributos, 3. Qualidade cênica e 4. Estrutura.
1. Os componentes fundamentais são: o sapal – planície inundável
pelas marés, a vegetação rasteira, os caminhos labirínticos, os
canais e compartimentos de cristalização, e barracões de sal.
2. Os atributos de paisagem das salinas, por sua vez, podem ser
identicados como o contraste entre caminhos e espelhos
d’água, os visuais sempre abertos em qualquer direção,
horizonte de poucas camadas, ausência de ponto focal com
exceção da ponte, originalidade de conjunto de salinas e
direção de ventos associado aos módulos de cristalização.
3. Sobre a qualidade cênica das salinas, a amplitude visual, a
profundidade reconhecível pela plataforma dos caminhos,
com respectivos barracões de sal, que permitem visualizar
camadas, padrões tradicionais de implantação de canais e
tanques de cristalização.
4. A estrutura da paisagem é denida pelo rio Mondego que
delimita o território da ilha, os eixos transversais dos canais
e caminhos principais e as ramicações internas. O sentido
é denido pelo sol e vento que inuenciam a implantação e
orientação dos componentes.
A continuação da atividade salineira desde o tempo medieval, a
possibilidade de leitura imediata do conjunto e os saberes tradicionais
aplicados à atividade, resultam na possibilidade de identicação do
caráter da paisagem das salinas em Figueira da Foz.
Finalmente, este modo de produção do sal foi levado ao Brasil
no nal do século XIX pelos imigrantes portugueses. Resultaram,
por exemplo, nas salinas de Araruama no Rio de Janeiro BRASIL. Os
portugueses exportaram paisagens.
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Referências bibliográcas
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da Foz/Flor de Sal da Figueira da Foz. Produtos tradicionais portugueses, 2019.
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<http://ecosal-atlantis.ua.pt/index.php?q=content/salgado-da-gueira-da-foz>.
Acesso em: 30 outubro 2019.
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Michigan, 2016
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com/cm- igfoz/docs/doc20141031150800 __ claudia_rocha_ >acesso em 30
Outubro 2019.
RAU, Virginia, 1984 Estudos sobre a História do Sal Portugues, 1984 apud
DGADR Sal da Figueira da Foz, 2019.
YAMAKI, H. Notas de Campo : Coimbra e arredores. [S.l.]: [s.n.]. 2019.
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62
Agradecimentos
Esse artigo é o resultado de trabalho de campo realizado em Figueira
da Foz em Junho e Julho de 2019 como parte da Missão de Trabalho do
Projeto FCT CAPES. Tivemos como orientadores do trabalho de campo,
os professores Lucio Cunha, Paulo Nossa e Isabel Paiva da Univ. Coimbra.
Agradecimentos aos professores e à CAPES FCT.
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PAISAGENS E TERRITÓRIOS URBANOS DE
RISCO À SAÚDE BUCAL BALIZADAS PELOS
TEORES DE FLÚORETOS NATURAIS EM ÁGUAS
SUBTERRÂNEAS DE ABASTECIMENTO PÚBLICO
EM LONDRINA – PR (BRASIL)
José Paulo Peccinini Pinese*
Aline Ross*
João Carlos Alves**
Introdução
Águas superciais e subterrâneas constituem no mais importante
elo entre os elementos químicos do meio por onde circula e a siologia
humana (Araújo & Pinese, 2013; Cortecci, 2014). O fato se deve aos
processos geológicos e geoquímicos que ocorrem diariamente no meio
que se vive, determinando a transferência dos elementos da geologia local
ao solo, à água, às plantas, aos animais e ao homem através da ingestão da
água e alimentos. A crescente demanda por água potável tem ampliado
a exploração de águas subterrâneas. No Brasil, o Instituto Brasileiro de
Geograa e Estatística (IBGE) estima que 61% da população é abastecida
com águas de mananciais subterrâneos, sendo signicante a proporção de
cidades do Estado do Paraná e do Rio Grande do Sul que são abastecidas
por poços (COSTA, 2008).
O consumo humano de uoretos é necessário em níveis ideais
(ultratraços) e é benéco à saúde, inibindo o desdobramento de cáries
por formar a uorapatita que protege o esmalte dentário e auxiliando no
desenvolvimento saudável dos ossos. Contudo, em altas dosagens por um
longo período, excede o necessário às reações bioquímicas do organismo
humano e se torna nocivo à saúde, gerando enfermidades como a uorose
dentária e a uorose óssea.
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A uorose dentária se caracteriza como uma anomalia da
mineralização do esmalte que ocorre durante o período de formação e
calcicação dos dentes permanentes, entre 0 e 7 anos de idade (BUISCHI,
2000; PARREIRAS; SILVA; ZOCRATTO, 2009).
Investigações realizadas por Morita et al. (1998) e Pinese et al
(2002) no município de Itambaracá, a 84 km de Londrina, demonstraram
alta manifestação de uorose dentária no nível severo, sobretudo em
crianças de 6 a 17 anos.
A uorose óssea ou esquelética também se vincula por prologando
tempo de consumo de úor, seja através da ingestão de água, ou de
alimentos e produtos dentifrícios. De diagnóstico difícil a Fluorose
Óssea apresenta sintomas desde dores esporádicas nas articulações até
as vertebras da coluna vertebral fundidas que levam a invalidez, sendo
muito confundida com a artrite (BRIDHA; ELANGO, 2011).
Os benefícios e malefícios dos uoretos sobre a saúde humana
se encontram e intervalos muito próximos, como se verica naqueles
recomendados por Cortecci (2014) e Cury (2002) no quadro 1.
Quadro 1: Efeitos do úor sobre a saúde humana.
Efeitos do íon de uoreto dissolvido em água sobre a saúde humana
(mg/L) Efeitos sobre a saúde
0,00 Limitação do crescimento
0,00 – 0,5 Não evita a cárie dental
0,6 - 0,8 Evita o enfraquecimento dos dentes, com efeitos benécos sobre
a saúde
0,8 - 4,0 Fluorose dental
4,0 - 10,0 Fluorose dental grave e uorose esquelética
> 10,00 Fluorose deformante
Fonte: Modicado de Cortecci (2014), Cury (2002) e Pinese et al, 2017.
Encontrado na natureza na forma de um íon (F-) o úor em geral
se encontra combinado a sais com cálcio, fosfato e alumínio (BUISCHI,
2000). É encontrado em vários tipos rochosos e minerais como biotitas
e anbólios que substituem a hidroxila na estrutura mineral (SELINUS
et al., 2005).
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O úor natural nas águas, está diretamente ligado as características
mineralógicas dos materiais rochosos do ambiente, associados ao
processo de intemperismo (ANDREAZZINI et al., 2006) e por essa razão
a concentração natural de úor em água é muito variável.
O abastecimento de água no município de Londrina (Figura
1) é suprido pelo sistema de captação supercial do rio Tibagi, bem
como pelos poços tubulares profundos dos Aquíferos Guarani e Serra
Geral. O Aquífero Serra Geral abundante no local, é o mais explorado
representando cerca de 90% da distribuição de águas subterrâneas e por
isso sua investigação é relevante.
O Aquífero Serra Geral se aloja em rochas basálticas da Formação
Serra Geral, importante sequência vulcânica da Bacia Sedimentar do
Paraná (e.g. Pinese, 2002; Pinese & Guimarães, 2018). Trata-se de um
típico sistema cuja porosidade é dada por fraturas de resfriamento e/ou
tectônicas, caracterizada por 7 famílias de tração, cisalhamento e alivio
de carga, relacionadas ao evento vulcânico de idade juro cretácea.
Além da ocorrência natural de uoretos nessas águas, tem sido
comum promover a uoretação articial da mesma, que consiste no
método de agregar úor à água de consumo humano. Esta ação objetiva
obter um nível de uoretos, dentro dos padrões ideais recomendados
para atuar no controle da cárie, mas que raramente é acompanhado de
um rígido controle de dosagem (RAMIRES; BUZALAF, 2007).
O principal objetivo deste trabalho, é o de analisar os teores
de uoretos naturais nas águas do Aquífero Serra Geral, as quais
predominantemente são utilizadas no abastecimento da população
de Londrina sem tratamento adicional, bem como vericar intervalos
de mínimos e máximos no intuito de indicar áreas de risco a geração
de cáries e/ou de uorose dentária. Além da determinação das áreas/
bairros de risco à saúde bucal, se almeja obter também uma base de
distribuição de uoretos para futuros estudos epidemiológicos, bem
como a comparação desta base com outras áreas urbanas como a cidade
de Coimbra, atendendo o âmbito do projeto de cooperação (FCT-CAPES
88881.156421/2017-01).
Paisagem e Território - expedição
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Cabe ressaltar que, as áreas de risco à saúde por íons de uoreto
correspondem de fato ao conjunto de hábitos e costumes (e.g. uoretação
da água, dentifrícios) somados às características naturais do ambiente
(teor natural de úor). No presente trabalho se avaliará apenas o contexto
natural desse tipo de manancial.
Materiais e Métodos
Para consumar o objetivo proposto, trabalhos de campo foram
realizados para reconhecimento e coleta sistemática de amostras de água
bruta de poços tubulares profundos do Aquífero Serra Geral, as quais
servem para o abastecimento público na área urbana e periurbana de
Londrina.
A fase inicial se deu através de extensiva pesquisa bibliográca na
temática sobre úor, ambiente e saúde, seguida de subsídios contemplados
em parâmetros e legislações vigentes para consumo de água fornecidas
pela WHO (2011), Brasil (2011), Rio Grande do Sul (1999), São Paulo
(2003) e Brasil (1975), este último, preconiza que o teor adequado de
úor deve ser calibrado sempre pelas temperaturas médias da região
investigada (mínimas e máximas).
Todas as amostras analisadas foram coletadas em parceria com a
Vigilância Sanitária de Londrina, com o objetivo de aferir se as águas
de consumo humano atendem os padrões de potabilidade referentes aos
parâmetros microbiológicos, úor, turbidez e cloro residual. Em campo
os frascos foram identicados e foram preenchidos o laudo da amostra,
com os registros de data, horário, endereço, água de uso coletivo ou
individual e tipo de poço.
Cerca de 305 amostras georreferenciadas foram coletadas em
diferentes meios de consumo de água (residências, escolas, bares e
restaurantes, entre outros), todas de águas subterrâneas “in natura” dos
poços tubulares do Aquífero Serra Geral.
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Posteriormente, as amostras foram encaminhadas para análise de
teores de íons uoreto e os demais parâmetros (e.g. pH, condutividade,
etc), junto ao Laboratório de Química Analítica da Universidade
Estadual de Londrina. A técnica utilizada foi a da potenciometria direta,
onde um eletrodo seletivo de uoreto e um eletrodo calomelano atuam
conjuntamente. O aparelho utilizado na análise foi calibrado com cinco
padrões de concentrações variáveis, que deram origem ao gráco de
calibração necessário na obtenção dos teores de uoreto presente nas
amostras.
Com os dados obtidos tabulados e as coordenadas aferidas, foram
confeccionados as cartas com o auxilio dos programas ArcGis 9.0®,
tornando-se possível analisar e trabalhar o banco de dados no sistema
de projeção Datum SAD 69 (South America Datum 69) e SIRGAS 2000,
zona 22S. Os dados pontuais foram transformados em “raster” a partir da
técnica de interpolação Inverse Distance Weighted (IDW), propiciando
o cálculo da média ponderada de pontos próximos pelo inverso da
distância dos pontos.
Ao resultado cartográco (Figura 1), foi possível representar e
identicar as áreas de risco à saúde pela variabilidade dos teores de íons
uoreto, através dos poços distribuídos pelos bairros de Londrina.
Resultados e Discussões
Os dados obtidos das águas subterrâneas do Aquífero Serra
Geral na área urbana de Londrina, apresentaram teores de íons uoreto
variando entre 0,001 e 2,37 mg/L. Essas amostras estão majoritariamente
concentradas no Centro Histórico e seu entorno, na região sul (Guanabara
e Tucanos) e sudoeste (Palhano e Esperança), onde há muitos condomínios
verticais e horizontais que se utilizam desse tipo de abastecimento, bem
como na região nordeste (Lindóia e Cidade Industrial II) e noroeste
(Cilo II, Cilo III e Bandeirantes), nos quais as águas dos poços abastecem
principalmente às indústrias.
Paisagem e Território - expedição
68
O Estado do Paraná não possui uma resolução própria direcionada
aos padrões de potabilidade de águas de consumo, como o Estado do Rio
Grande do Sul e São Paulo (RIO GRANDE DO SUL, 1999; SÃO PAULO,
2003). Assim, no Paraná permanece a vigência da Portaria 05/2017
(antiga 2914/2011) do Ministério da Saúde (máximo de 1,5 mg/L de
úor) e a Portaria nº 635/Bsb (BRASIL, 1975).
Utilizando-se da metodologia proposta na Portaria nº 635/Bsb
(BRASIL, 1975), que indica o uso da temperatura média do município
de Londrina nos cálculos (22ºC cf. IAPAR, 2014), se obteve um intervalo
recomendado como ideal para ingestão de águas (e.g. Pinese et al, 2017),
onde os teores de uoreto se situam entre 0,6 mg/L (mínimo) e 0,8 mg/L
(máximo).
O quantitativo amostral com teores de úor menores que 0,6
mg/L corresponde à 95% do total, indicando a predominância de áreas
de risco à cárie dental em todos os bairros, especialmente no centro
histórico e nos bairros Guanabara, Tucanos, Palhano, Esperança,
Lindóia, Cidade Industrial II, Cilo II, Cilo III e Bandeirantes (Figura 1).
Casos como o Jardim União da Vitória (região sudeste) e Lindóia (região
nordeste) merecem atenção especial, pois segundo Archela & Barros
(2009) prevalece uma população que percebe até dois salários mínimos,
restringindo o acesso aos serviços de saúde e a alimentação adequada.
Três áreas de risco por exposição a elevados teores de úor foram
assinaladas. Na região central, o bairro Petrópolis apresentou teor de
0,836 mg/L de úor e o Jardim Presidente os teores foram da ordem de
0,802 mg/L (Figura 1).
A terceira área de risco à saúde bucal por altos teores de úor em
água subterrânea natural, localiza-se no limite do Jardim Quebec com o
Centro Histórico, este último também se qualica concomitantemente
como área de risco na geração de cárie dental. Nesse poço, além dos
teores de 2,037 mg/L assinalados, analises de 2009 apontaram valores da
ordem de 1,611 mg/L de úor (Ross, 2015).
Os dois maiores valores de úor em água subterrânea natural
observados (1,611 e 2,037mg/L), pertencem ao mesmo poço e excedem
Paisagem e Território - expedição
69
o valor máximo permitido (VMP de 1,5 mg/L) no que se refere ao úor,
preconizados pela legislação em vigor do Ministério da Saúde (Portaria
05/2017, antiga 2914/2011). Também excede a concentração máxima
calculada para o município (0,8 mg/L de úor), balizada pela Portaria nº.
635/1975 (e.g. Pinese et al, 2017).
Tais concentrações de úor expõem a população local à uma
maior possiblidade de uorose dental, principalmente as crianças que se
encontram no período de odontogênese.
Cumpre ressaltar, que por se tratar de áreas de risco localizadas em
bairros de classe econômica com melhor poder aquisitivo, provavelmente
a ingestão de úor poderá ser intensicada com o consumo de produtos
como dentifrícios, creme dental, géis e soluções para bochechos,
ampliando a possibilidade desse diagnóstico.
Esses altos valores de úor em águas subterrâneas naturais do
Aquífero Serra Geral, podem estar associados ao intemperismo das
rochas ígneas da Formação Serra Geral, no qual as fontes naturais de
úor estão relacionadas às ocorrências de fumarolas e gases magmáticos,
depósitos hidrotermais, vidro vulcânico e minerais acessórios que
substituem os íons hidroxila (OH)- durante e após a cristalização dos
minerais, como apatita e micas (especialmente biotita) {MARIMON,
2006; ANDREAZZINI ET AL, 2006}.
As áreas que menos apresentam riscos à saúde por teores de úor
em água subterrânea natural, seja por excesso ou carência, se posicionam
na região oeste junto aos bairros Champagnat, Presidente, Universidade
e Esperança, seguido da região sul, nos bairros Guanabara e Inglaterra e
na região leste, no bairro Brasília (Figura 1).
Paisagem e Território - expedição
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Figura 1: Teores dos íons de uoretos naturais (mg/L) em poços tubulares
de águas subterrâneas brutas do Aquífero Serra Geral, na zona urbana de
Londrina (PR). Município no detalhe da gura.
Modicado de Ross (2015).
Considerações Finais
Dentre ampla diversidade de conexões contempladas pela
Geograa da Saúde, se destacam aquelas relacionadas aos temas da
Geologia e Geoquímica Médica, bem como as da Saúde Coletiva. Desse
Paisagem e Território - expedição
71
modo, pesquisas em Geograa da Saúde se tornam mais abrangentes
quando se adiciona um suporte interdisciplinar de estudos geológicos,
químicos, epidemiológicos, entre outros.
Nessa perspectiva, a prevalência de áreas de risco por teores de úor
menores que 0,6 mg/L, expõem a população à cárie dental e limitações no
crescimento, demonstrando que a propensão a este tipo de enfermidade
ainda necessita de atenção especial no planejamento de Londrina. Por
outro lado, teores maiores que 0,8 mg/L possibilitam uorose dentária
e suscitam a busca de áreas com intervalo de teores que propiciem
benefícios a saúde (entre 0,6 e 0,8 mg/L). Isso, justica a necessidade da
realização de diagnósticos e maior controle das águas de poços tubulares
voltados para consumo humano.
A análise das águas subterrâneas em zonas rurais, também constitui
em um importante instrumento para evitar a ocorrência de áreas de risco
à saúde por elevados teores de úor, como constatado em Londrina
no distrito rural de Maravilha (0,99 e 1,02 mg/L, dados inéditos). De
maneira geral, nas zonas rurais as águas subterrâneas brutas abastecem as
famílias, os animais de criação, bem como são utilizadas para a irrigação
das culturas agrícolas, ampliando o elo entre a geoquímica das águas e a
siologia humana.
Adicionalmente, a utilização dessa investigação para o
planejamento da saúde coletiva e ambiental deve ser incentivada, utilizada
e intensicada, visando auxiliar na promoção de áreas propicias a melhor
saúde bucal da população, através do controle de uma dosagem mínima
de 0,6 mg/L de úor, uma vez que os teores entre 0,6 a 0,8 mg/L inibem
o desdobramento dos açúcares e a consequente formação da cárie, bem
como se evita a uorose.
Por m, constata-se a necessidade permanente de monitoramento
acerca dos teores de úor em águas de poços tubulares de consumo, como
medida preventiva aos agravos à saúde coletiva, seja por teores elevados
ou pela carência deste, bem como a ampliação dos estudos nas zonas
rurais e urbanas de Londrina e municípios adjacentes usuários das águas
do Aquífero Serra Geral. Tal monitoramento é de extrema importância,
Paisagem e Território - expedição
72
pois um único poço tubular pode apresentar valores dispares ao longo
do tempo. Desse modo, se espera que essas investigações sejam um
norteador para as companhias de saneamento e abastecimento público,
no intuito de melhor controlar a dosagem de Flúor na água e a saúde
coletiva local.
Referências
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Paisagem e Território - expedição
75
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Guidelines for Drinking – water Quality.
4. ed. Geneva: WHO, 2011.
Agradecimentos
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
- CAPES - através dos processos CAPES-FCT (88881.156421/2017-01
e 88887.352716/2019-00) e ao CNPq (310.608/2017), bem como aos
nanciamentos adicionais da Fundação Araucária do Paraná 41.593/2014
e 25.247/2012.
Paisagem e Território - expedição
77
PAISAGENS E TERRITÓRIOS –
PERCEÇÕES E BREVES NOTAS SOBRE LONDRINA,
UM OLHAR GEOGRÁFICO A PARTIR DE COIMBRA
Paulo Nuno Nossa – CEGOT, Universidade de Coimbra
paulonossa@gmail.com
Isabel Rodrigues Paiva – CEGOT, Universidade de Coimbra
isabelrp@.uc.pt
Fernanda Cravidão - CEGOT, Universidade de Coimbra
cravidao@.uc.pt
A paisagem é a biograa da sociedade, onde cam gravados
os seus ideais, esperanças, modos de vida e identidades várias. Nesta
perspetiva, a paisagem corresponde à identidade de uma comunidade
sendo, também, um dos seus principais patrimónios, a um tempo natural
e cultural. Coimbra (mais de 2000 anos) e Londrina (90 anos) apresentam
características distintas como resultado da interação entre a sociedade
e a natureza. Do lado português temos uma conjugação de paisagens
essencialmente vernaculares, moldadas, em alguns casos, em tempos
anteriores à ocupação romana até ao presente. No Norte do Paraná temos
paisagens projetadas por Companhias de Colonização em que decretos
e projetos deniram as suas características, em métricas mais ou menos
precisas que imprimem um cunho de regularidade no espaço vivido e
edicado.
Assim, o atual texto, resulta de um conjunto de notas de campo
colhidas numa curta missão académica realizada entre 23 e 27 de março
de 2019 à cidade de Londrina, no âmbito de um projeto conjunto CAPES/
FCT, envolvendo a Universidade Estadual de Londrina e a Universidade
de Coimbra.
Neste escrito, necessariamente breve e sintético, pretende-se dar
testemunho dos traços mais impressivos de uma paisagem observada e
interrogada pelo olhar do outro que, ainda que partilhando conceções
Paisagem e Território - expedição
78
semelhantes,fruto de uma matriz educativa e cultural que evidencia
anidades várias, valorizando o seu carácter, para uso educacional,
de lazer e de saúde, posiciona-se exteriormente, numa perspetiva de
descoberta e de questionamento.
Como se reconhece, o espaço e a paisagem nele moldada tem um
papel de interesse público na cultura, na ecologia, no ambiente e no campo
social, constituindo um recurso favorável à atividade económica, cuja
proteção e planejamento é essencial para garantir a memória, potenciar
a atividade económica e o bem-estar,contribuindo para a formação de
culturas locais, componente de base do património natural e cultural,
indispensável para a consolidação da identidade (CONVENÇÃO
EUROPEIA DA PAISAGEM, 2000).
Biografias urbanas em contraste
A cidade de Londrina, objeto de visita e de observação, assistiu a
chegada da caravana pioneira em 1929 e elevada à condição de município
no ano de 1934, tendo na sua génese a atuação da companhia inglesa –
Companhia de Terras Norte do Paraná (CNTP), cujo objetivo primordial
era a colonização do Norte do Paraná, desorestando partes signicativas
da mata atlântica característica da região. Os planos contemplavam a
colonização de “515.000 alqueires (12.000 Km2) de terras, cobertas de
mata, localizadas entre os rios Paranapanema, Ivaí e Tibagi (MAESIMA,
2011). Para além da CNTP, encontramos também registo da atuação
de outras empresas de colonização, como é o caso da Companhia
Marcondes de Colonização, Indústria e Comércio (1920), que se assumiu
a propriedade de diversas glebas de terras incultas, situadas nas vertentes
dos rios Paranapanema e Peixe e que tinha como objeto societário:“fundar
núcleos coloniais, explorar as propriedades dos sócios, comprar e vender
terras, construir estradas vicinaes e de ferro” (Diário Ocial de S. Paulo,
10 nov. 1920:6801; apud YAMAKI, 2017:23).
Paisagem e Território - expedição
79
O núcleo urbano central, inicialmente projetado para acomodar
20.000 habitantes, segundo alguns autores, mas não conrmado,
registava, em 1950, como população urbana 33.707 residentes, ao que
se somava número semelhante de população rural (33.144; RIBEIRO
da SI LVA , 2001). Em pouco mais de 60 anos a população urbana de
Londrina multiplicou 15 vezes o número dos seus residentes (493.520),
tendo diminuído, quase pela metade, a população rural agora xada
em 13.181 habitantes (IBGE, 2010). Do ponto de vista económico e
paisagístico, a região de Londrina, à semelhança do Norte do Paraná,
ganhou importante relevância económica mercê do extravasamento
cultura cafeeira paulista (MULLER, 2001), com abundantes marcas
presentes na paisagem sendo que, na década de 60, o estado congregava
aproximadamente 50% da produção nacional, ocupando 1 milhão de
hectares. Neste vasto território o café constituiu o mais importante motor
de crescimento económico, pelo menos até à ocorrência de um fenómeno
climático extremo – geada negraque, em 18 de julho de 1975, dizimou as
plantações da região erradicando pelo menos 300 mil hectares.
A cultura cafeeira instalara-se na região fruto da atuação pioneira
das companhias responsáveis por construir e dinamizar a linha férrea
tronco e os respetivos ramais e, progride para noroeste acompanhando
a acessibilidade proporcionada por esta infraestrutura. A presença
do caminho de ferro, sinalizado como infraestrutura fundamental
na colonização e estruturação da atividade económica do estado do
Paraná está impressivamente documentada em toda a região e, mais
especicamente, no Museu Histórico de Londrina. Este equipamento
cultural ocupa agora o edifício da antiga Estação Ferroviária de Londrina,
através da exposição permanente de uma locomotiva a vapor de 1910,
originária dos Estados Unidos e pertença da extinta Companhia Paulista
de Estradas de Ferro (CPEF) do Estado de São Paulo. Materializa-se como
uma importante peça-recordatório que carreou mão-de-obra emigrante,
certamente também de origem portuguesa, e distribuiu até aos portos a
principal riqueza da época – o café (Fotos 1a e 1b).
Paisagem e Território - expedição
80
Foto 1: Locomotiva a vapor de 1910 exposta no Museu Histórico de
Londrina (a). O café como motor da economia da região: exposição
permanente do Museu Histórico de Londrina (b). Fonte: autores
Em Londrina, tal como ocorreu em muitas regiões e cidades
europeias, a função de transporte de passageiros e carga associada ao
caminho de ferro foi massivamente substituída pelo transporte rodoviário,
sinónimo de progresso, ainda que sem cuidar do impacte ambiental,
direto e indireto que o mesmo gera. A visita à estação ferroviária de
Jataizinho (Município de Jataizinho, antiga colónia Jataí), implantada
no seguimento da linha de Ourinhos, inaugurada em 1932, testemunha
quase que silenciosamente a estratégia de ocupação e povoamento desta
região que se admite como “virgem” até ao nal da década de 20 (1929).
A interrupção do tráfego de passageiros na linha Ourinhos - Maringá
em 1981, ditou a sua subalternização, com consequente degradação e
abandono de diversas infraestruturas de apoio à atividade ferroviária,
como é o caso da ponte ferroviária sob o rio Tibagi. Este facto, diminuiu
de modo signicativo a sua funcionalidade, remetida no presente a um
esparso e irregular tráfego de carga. A perceção deste cenário, recorda
o destino semelhante que muitas e importantes estações ferroviárias
tiveram em Portugal, desde a década de 80 até à atualidade, com
saque e delapidação de importante património azulejar, para além de
afetarem a conetividade e inclusão territorial, acelerando o processo
de despovoamento de várias regiões do país. Este desinvestimento na
mobilidade ferroviária portuguesa, evocado quando da visita a Jataizinho
b
Paisagem e Território - expedição
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Foto 1: Locomotiva a vapor de 1910 exposta no Museu Histórico de
Londrina (a). O café como motor da economia da região: exposição
permanente do Museu Histórico de Londrina (b). Fonte: autores
Em Londrina, tal como ocorreu em muitas regiões e cidades
europeias, a função de transporte de passageiros e carga associada ao
caminho de ferro foi massivamente substituída pelo transporte rodoviário,
sinónimo de progresso, ainda que sem cuidar do impacte ambiental,
direto e indireto que o mesmo gera. A visita à estação ferroviária de
Jataizinho (Município de Jataizinho, antiga colónia Jataí), implantada
no seguimento da linha de Ourinhos, inaugurada em 1932, testemunha
quase que silenciosamente a estratégia de ocupação e povoamento desta
região que se admite como “virgem” até ao nal da década de 20 (1929).
A interrupção do tráfego de passageiros na linha Ourinhos - Maringá
em 1981, ditou a sua subalternização, com consequente degradação e
abandono de diversas infraestruturas de apoio à atividade ferroviária,
como é o caso da ponte ferroviária sob o rio Tibagi. Este facto, diminuiu
de modo signicativo a sua funcionalidade, remetida no presente a um
esparso e irregular tráfego de carga. A perceção deste cenário, recorda
o destino semelhante que muitas e importantes estações ferroviárias
tiveram em Portugal, desde a década de 80 até à atualidade, com
saque e delapidação de importante património azulejar, para além de
afetarem a conetividade e inclusão territorial, acelerando o processo
de despovoamento de várias regiões do país. Este desinvestimento na
mobilidade ferroviária portuguesa, evocado quando da visita a Jataizinho b
(Fotos 2a e 2b) é, entre outras coisas, fruto de um desinvestimento
mais alargado e de algum modo patrocinado pelas políticas europeias
que, só recentemente parecem dar sinais de alguma reversibilidade face
ao confronto com os custos de congestionamento gerado pelo tráfego
rodoviário e aéreo, ao qual se acrescentam questões de sustentabilidade
ambiental e económica.
Foto 2: Estação ferroviária de Jataizinho. O abandono do edifício da
Estação (a) e a degradação das instalações, da ferrovia e do material
circulante (b).Fonte: autores
Outro aspeto percecionado neste trabalho de campo está
relacionado com as marcas que os ciclos emigratórios deixaram no
território e que nos são sucessivamente recordados através do edicado
plasmado na paisagem onde, as diversas linguagens arquitetónicas e
artísticas testemunham uma história de ocupação marcada pelo esforço
coletivo, onde ou outro – emigrante e estrangeiro, deixa testemunhos
diversos na estética dos lugares.
Quando da visita ao Museu Histórico da Cidade, o nosso olhar
é convocado para observar a morfologia e declive do telhado do
edifício central que, quase de imediato, nos transporta até à Baviera,
pela impressividade das suas formas (Fotos 3a e 3b). À interrogação
subsequente sobre a linha arquitetónica e estética do edifício, construído
para acolher a segunda Estação Ferroviária de Londrina, compreende-
se que a sua idealização corresponde quer a um aumento da procura
b
Paisagem e Território - expedição
82
de mobilidade associado à crescente notoriedade da cidade, quer à
desejada função de representação desta infraestrutura, de carácter
monumental, ao gosto da elite londrinense de então: “impressionando
os seus visitantes como um grande “portal de entrada, tornando-se
símbolo do status que a cidade reivindicou para si (REGO, 2009: 126;
YAMAKI, 2003; apud SI LVA, 2012: 1189). Ainda de acordo com SI LVA
(2012), esta representatividade era complementada através da utilização
de materiais de construção de alta qualidade, além de suas amplas e
inovadoras instalações de serviço (água esgoto, luz, entre outras): “Essa
representatividade suplantava o domínio da infraestrutura e adentrava
na forma arquitetónica da edicação, em sua plasticidade oriunda do
Ecletismo (PAULA, 2010), muito apreciado pelas elites locais da época.
Foto 3: Segunda Estação Ferroviária de Londrina, atual Museu Histórico
da cidade de Londrina – aspetos arquitetónicos do seu exterior. Fachada
Norte (a); Fachada Sul (b). Fonte: autores
Marca distinta é encontrada ao nível dos imóveis residenciais
conservados na região, sobretudo os que testemunham a emigração e
presença japonesa no Brasil, mais especicamente em Londrina, fazendo
parte de um conjunto de imagens e representações do que alguns
designam por Eldorado Cafeeiro e Terra de Promissão, que armou
Londrina como “o ponto central da evolução japonesa no Norte do
Paraná”(MAESIMA, 2011). De acordo com YAMAKI (2008), o processo
emigratório e a sua consolidação no que os próprios denominavam por -
b
www.uel.br
Paisagem e Território - expedição
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de mobilidade associado à crescente notoriedade da cidade, quer à
desejada função de representação desta infraestrutura, de carácter
monumental, ao gosto da elite londrinense de então: “impressionando
os seus visitantes como um grande “portal de entrada, tornando-se
símbolo do status que a cidade reivindicou para si (REGO, 2009: 126;
YAMAKI, 2003; apud SI LVA, 2012: 1189). Ainda de acordo com SI LVA
(2012), esta representatividade era complementada através da utilização
de materiais de construção de alta qualidade, além de suas amplas e
inovadoras instalações de serviço (água esgoto, luz, entre outras): “Essa
representatividade suplantava o domínio da infraestrutura e adentrava
na forma arquitetónica da edicação, em sua plasticidade oriunda do
Ecletismo (PAULA, 2010), muito apreciado pelas elites locais da época.
Foto 3: Segunda Estação Ferroviária de Londrina, atual Museu Histórico
da cidade de Londrina – aspetos arquitetónicos do seu exterior. Fachada
Norte (a); Fachada Sul (b). Fonte: autores
Marca distinta é encontrada ao nível dos imóveis residenciais
conservados na região, sobretudo os que testemunham a emigração e
presença japonesa no Brasil, mais especicamente em Londrina, fazendo
parte de um conjunto de imagens e representações do que alguns
designam por Eldorado Cafeeiro e Terra de Promissão, que armou
Londrina como “o ponto central da evolução japonesa no Norte do
Paraná”(MAESIMA, 2011). De acordo com YAMAKI (2008), o processo
emigratório e a sua consolidação no que os próprios denominavam por - b
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Kokusai Shokuminchi (Colónia Internacional), teve um grande impulso
através da presença de Hikoma Udihara, agente imobiliário de origem
nipónica (1882) que, na sua diáspora pelo Brasil ocupou o cargo de
Gerente Geral da Seção Japonesa da Companhia de Terras Norte do
Paraná: “ de fato, foi o principal agente responsável pela introdução de
imigrantes japoneses em Londrina e região” (Yamaki, 2008:11).
Assim, atraídos pela propaganda emitida pelas companhias de
colonização, onde se enalteciam as virtudes da fertilidade da “terra
roxa, provavelmente uma corruptela da denominação de “terra
ro ssa” - uma argila residual resultante da dissolução dos calcários, com
empobrecimento em sílica e enriquecimento em sesquióxido de ferro,
levou a que a presença de emigrantes japoneses e seus descendentes, em
número signicativo, esteja indelevelmente presente na paisagem. As
casas de madeira, desenhadas e elaboradas na senda de uma matriz de
purismo oriental, onde a estética nipónica testemunha até ao presente o
contributo desta diáspora na trajetória histórica da região, quer ao nível
da economia cafeeira quer ao nível da transformação de novas cidades,
sendo este edicado talvez, um dos mais importantes testemunhos dessa
corrente migratória (MAESIMA, 2011:7) – Fotos 4a e 4b.
Foto 4: Edicações com arquitetura de inuência japonesa em Assaí. Das
construções residenciais (a) à religiosa (b). Fonte: autores
Por último duas importantes perceções que aproximam Coimbra do
cenário urbano de Londrina. A primeira está relacionada com a presença
b
Paisagem e Território - expedição
84
e uso lago Igapó, na sequência do represamento do Ribeirão Cambezinho,
cuja apropriação urbana, construção de calçadas e a plantação de árvores
ao redor do lago teve início na década de 70. No presente, as margens
do lago Igapó funcionam também como lugar privilegiado de lazer,
propicio para prática de desportos diversos, caminhadas, atividades de
bicicleta nos trilhos de ciclovia construídos, transportando-nos para a
imagem do Parque Verde do Mondego em Coimbra que, tirando partido
da presença regularizada do rio Mondego, represado a montante pela
barragem da Aguieira, ocupa cerca de 400.000m2 da margem direita do
rio. Tal como em Londrina, este espaço ribeirinho da cidade de Coimbra,
refuncionalizado ao abrigo do Programa Polis (2004), constituindo
uma área com elevada procura dedicada ao lazer e ócio, onde se podem
encontrar infraestruturas diversas como corredores pedonais, como é o
caso icónica ponte “Pedro e Inês, ciclovias, pavilhões para exposição e
equipamentos de restauração, tendo sido estes últimos destruídos pelas
cheias de janeiro de 2016.
Por último, um ponto de contato comum entre as duas cidades,
Londrina e Coimbra, diz respeito à presença de uma importante atividade
de serviços no domínio da saúde humana, potenciada pela presença
numa e noutra cidade de importantes e prestigiados pólos de difusão de
conhecimento e prática médica, ancorados nas Faculdade de Medicina
da UEL – Centro de Ciências da Saúde; e pela Faculdade de Medicina da
Universidade de Coimbra, e respetivos hospitais universitários.
A presença abundante de edifícios e de leterrings quepontuam
a paisagem urbana e anunciam a oferta de um conjunto de serviços
relacionadas com a saúde marca a imagem das duas cidades que, ainda
que geogracamente afastadas, evocam perceções familiares plasmadas
nestas curtas notas de campo.
Passado algum tempo sobre esta viagem e com o distanciamento
que a memória permite, é possível pensar que, apesar da distância
geográca e temporal entre Londrina e Coimbra, da singularidade de cada
uma destas cidades, há sempre algo que pode conter alguma similitude
Paisagem e Território - expedição
85
e que decorre, quase sempre, do facto de qualquer lugar ser sempre uma
construção humana.
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Article
Full-text available
A fluoretação da água de abastecimento público representa uma das principais e mais importantes medidas de saúde pública no controle da cárie dentária. O objetivo deste trabalho foi o de reafirmar, através de uma revisão de literatura, a importância e o alcance da fluoretação no controle da cárie dentária. Um dos meios mais efetivos para manter constante a presença de flúor na cavidade bucal, fundamental para controle da cárie dentária, a fluoretação da água é reconhecida como um importante fator para o declínio da prevalência da cárie dentária. Portanto, além de ser mantida, deve ser monitorada, a fim de que o teor de flúor seja mantido dentro dos padrões adequados para o controle da cárie e prevenção da fluorose dentária.Fluoridation of public water supplies is among the most important public health measures for control of dental caries. Through a review of the literature, this study intends to reaffirm the importance and scope of fluoridation for caries control, as this is acknowledged as one of the most effective ways of ensuring the constant presence of fluoride in the oral cavity, which is vital for controlling caries. Water fluoridation is rated as an important factor for reducing caries, meaning that it should be maintained and also monitored, ensuring adequate fluoride levels for controlling caries while avoiding dental fluorosis.
Article
Aiming at characterizing the geographic distribution of health data of Ribeirão Lindóia Basin, in Londrina City in Paraná, Brazil, correlating the possible patterns of hydro geochemical anomalies, geochemical parameters of water quality were analyzed through the Atomic Emission Spectrometry with Inductively Coupled Argon Plasma (SiO4-4, Fe3+, Zn2+, PO3-4, Al3+) and the Atomic Absorption Spectrometry (Na+ e K+). For Datasus information crossings and spatial organization of health data, the Philcarto software was used, highlighting Dengue fever, Viral Hepatitis and Meningitis attendance in the period from 2000 to 2004. For spatial analysis of regional data, the Surfer 8.0 software was used. It can be seen, more often, hydro geochemical anomalies, degraded water quality and high diagnosis of diseases in the UBS (Basic Health Unities/ Health Care Centers) in places where urbanization is exclusionary and unequal.
Geosofia Cartográfica do Viajante: em busca dos sentidos do Viajar
  • Galvão
  • C E P Filho
  • E J Marandola Jr
GALVÃO FILHO, C. E. P.; MARANDOLA JR., E. J. Geosofia Cartográfica do Viajante: em busca dos sentidos do Viajar. In: LOUSADA, Maria Alexandre;
Os olhos da pele: a arquitetura e os sentidos
  • J Pallasmaa
PALLASMAA, J. Os olhos da pele: a arquitetura e os sentidos. Trad. Alexandre Salvaterra. Porto Alegre: Bookman, 2011. Referências bibliográficas
  • Ecosal
  • Salgado Da Figueira Da Foz
ECOSAL. Salgado da Figueira da Foz. Ecosal Atlantis, 2019. Disponivel em: <http://ecosal-atlantis.ua.pt/index.php?q=content/salgado-da-figueira-da-foz>. Acesso em: 30 outubro 2019.