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Interfaces entre saúde coletiva e bioética: a nanotecnologia como objeto-modelo

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Abstract

Resumo Este artigo trata das interfaces entre bioética e saúde coletiva, que têm como principal denominador comum a conflituosidade que afeta a garantia da saúde como direito em meio cultural plural. Como campos interdisciplinares, tanto bioética quanto saúde coletiva são aqui entendidas como empreendimentos científicos e práticos situados em seu tempo. Representam esforço científico de compreender – para transformar – um mundo complexo e dinâmico e são reflexo desta mesma complexidade. Para demonstrar como esses campos se entrecruzam em suas formas de análise e articulações teóricas, toma-se o exemplo da nanotecnologia, abordada aqui como objeto-modelo que ilustra a maneira pelas quais as novas biotecnologias interceptam e transformam iniquidades já existentes, determinando novas representações que o ser humano tem de si, de sua saúde e de sua doença.
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Declaram não haver conito de interesse.
Revista Bioéca
Print version ISSN 1983-8042 On-line version ISSN 1983-8034
Rev. Bioét. vol.27 no.4 Brasília Out./Dez. 2019
Doi: 10.1590/1983-80422019274341
ATUALIZAÇÃO
Interfaces entre saúde coleva e bioéca:
a nanotecnologia como objeto-modelo
Monique Pyrrho 1, Fermin Roland Schramm 2
1. Programa de Pós-Graduação em Bioéca, Faculdade de Ciências da Saúde, Universidade de Brasília (UnB), Brasília/DF, Brasil
2. Programa de Pós-Graduação em Bioéca (PPGBIOS), Departamento de Ciências Sociais da Escola Nacional de Saúde Pública da
Fundação Oswaldo Cruz (ENSP/Fiocruz), Rio de Janeiro/RJ, Brasil.
Resumo
Este argo trata das interfaces entre bioéca e saúde coleva, que têm como principal denominador comum a
conituosidade que afeta a garana da saúde como direito em meio cultural plural. Como campos interdisciplinares,
tanto bioéca quanto saúde coleva são aqui entendidas como empreendimentos ciencos e prácos situados em
seu tempo. Representam esforço cienco de compreender – para transformar – um mundo complexo e dinâmico
e são reexo desta mesma complexidade. Para demonstrar como esses campos se entrecruzam em suas formas
de análise e arculações teóricas, toma-se o exemplo da nanotecnologia, abordada aqui como objeto-modelo que
ilustra a maneira pelas quais as novas biotecnologias interceptam e transformam iniquidades já existentes, deter-
minando novas representações que o ser humano tem de si, de sua saúde e de sua doença.
Palavras-chave: Bioéca. Saúde pública. Nanotecnologia.
Resumen
Cruces entre salud colecva y bioéca: la nanotecnología como objeto-modelo
El arculo aborda los cruces entre bioéca y salud colecva, que enen como denominador común principal la
conicvidad que afecta la garana de la salud como un derecho en un medio cultural plural. Como campos inter-
disciplinarios, tanto la bioéca como la salud colecva son aquí entendidas como iniciavas ciencas y práccas
situadas en su empo. Representan el esfuerzo cienco de comprender – para transformar – un mundo complejo
y dinámico, y son reejo de esta misma complejidad. Para demostrar cómo estos campos se entrecruzan en sus
formas de análisis y de arculación teórica, se toma el ejemplo de la nanotecnología, abordada aquí como un obje-
to-modelo que ilustra la manera en que las nuevas biotecnologías interceptan y transforman inequidades ya exis-
tentes, determinando nuevas representaciones que el hombre ene de sí mismo, de su salud y de su enfermedad.
Palabras clave: Bioéca. Salud pública. Nanotecnología.
Abstract
Interfaces between collecve health and bioethics: nanotechnology as an object-model
This arcle deals with the interfaces between bioethics and collecve health, which has as the main
common denominator the conicts that aects the right to health in a plural cultural environment. Being
interdisciplinary elds, both bioethics and collecve health are here understood as praccal and scienc
endeavours within their mes. They represent a scienc eort to comprehend in order to transform
a complex and dynamic world, and are a reex of that same complexity. In order to show how these
elds interconnect regarding their forms of analysis and theorec arculaons, we will use the example of
nanotechnology, approached here as an object-model that illustrates the ways in which new biotechnologies
cut through and transform already exisng iniquies, thus determining novel representaons human beings
have of themselves, their health and their diseases.
Keywords: Bioethics. Public health. Nanotechnology.
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Atualização
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O exercício de pensar as origens da bioéca,
assim como as da saúde coleva, levanta diversas
polêmicas e contradições não só quanto a seu sur-
gimento, mas também quanto a suas correntes e
principais contribuições teóricas e prácas. Esta
constatação é certamente comum às tentavas de
construir narravas históricas de qualquer disciplina,
mas talvez seja mais evidente nos casos da bioéca
e da saúde coleva, que podem ser consideradas
interdisciplinares desde o início.
Esta característica basilar compartilhada de
produção do conhecimento deve-se ao fato de
serem ao mesmo tempo: 1) produção de conheci-
mento científico sobre o objeto que analisam (ou
constroem), o que se tem tornado inseparável da
avaliação moral de suas práticas; 2) movimento
social, pois constituem proposta organizada de
crítica política permanente a partir da conflituosi-
dade envolvida; e 3) prática transformadora, pois,
a partir de arcabouço teórico e da abordagem nor-
mativa das práticas envolvidas, agem (ou instru-
mentam ações) para transformar a realidade nas
quais atuam 1,2. É a tridimensionalidade de ambos
– como conhecimento científico, prática transfor-
madora e movimento social – que gera as múlti-
plas narrativas de origem destes campos constitu-
tivamente interdisciplinares.
No caso da saúde coleva, sua gênese é por
vezes atribuída aos primeiros olhares crícos da
sociologia e da antropologia para a medicina como
estratégia de tecnicação da vida 
3
. Em outras narra-
vas, o nascimento da disciplina se deu no contexto
pós-Segunda Guerra Mundial com a iniciava nor-
te-americana (depois replicada por outros países)
de chamar pesquisadores das ciências humanas
e sociais para pensar a relação entre fenômenos
sociais e saúde, e assim colaborar com as prácas
sanitárias 4. Há ainda as narravas que privilegiam o
contexto local do movimento de Reforma Sanitária
Brasileira como evento fundador do campo 5,6.
Da mesma forma, a bioéca tanto é apontada
como resposta à necessidade práca de médicos
que atuam em situações de conito moral impostas
pelo desenvolvimento tecnológico 7 quanto em con-
texto mais amplo, como aquele da saúde pública 8-10.
É também vista como “ponte” entre as ciências natu-
rais e as humanidades para produzir conhecimento
integral, dado o cenário ecológico tal qual era per-
cebido 11, ou ainda como resultado dos movimentos
pelos direitos civis 12.
Estas aproximações não são de forma alguma
acidentais e falam, em dois sendos diversos, sobre
a caracterísca reexiva destes campos, que não
se efeva somente porque reetem sobre a rela-
ção entre saúde e sociedade, mas também porque
fazem parte dessa sociedade e não escapam de
ree-la também nesta acepção. Desta forma, esta
idendade múlpla de ambos os campos – como
empreendimento cienco, movimento social e
práca transformadora – se revela tanto tentava
de compreender o mundo quanto olhar cienco
inegavelmente fruto de seu tempo – mulcultural
e despedaçado –, sobre o qual reetem e do qual
são inegavelmente reexo.
Para entender esta nova configuração do
mundo, estilhaçado e desmontado13, segundo
Geertz, a invesgação cienca consiste em trabalho
paciente, modesto e criterioso. Não requer hipóte-
ses grandiosas ou o completo abandono de ideias
sintezadoras, mas precisa de modos de pensar que
sejam recepvos às parcularidades, às individuali
-
dades, às estranhezas, desconnuidades, contrastes
e singularidades (…) uma pluralidade de maneiras de
fazer parte e ser, e que possam extrair (…) dela um
senmento de vinculação (…) que não é abrangente
nem uniforme, primordial nem imutável, mas que,
apesar disso, é real
14
. Este esforço e senmento de
vinculação dão contornos às análises realizadas em
campos como a saúde coleva e a bioéca.
Objeto cienco: a relação entre saúde e
sociedade
Estas pluralidades, mas também as singulari-
dades, evidenciam que o conhecimento biomédico
é insuciente para explicar a vida na totalidade,
e que na própria práca codiana dos prossio-
nais de saúde o saber biomédico não basta. Desta
forma, a constuição da saúde coleva e da bioéca,
enquanto campos de conhecimento, é resultado
desta insuciência do saber biomédico em abordar
a totalidade das questões referentes à relação entre
saúde e sociedade.
No entanto, ao tomar este objeto cienco
para si, esses campos não pretendem contrapor o
conhecimento biomédico e os ditos tradicionais
ou populares. Ao contrário, evidenciam a mulpli-
cidade de arranjos e permutas existentes entre o
modelo biomédico ocidental hegemônico e outras
prácas de saúde, inclusive aquelas embasadas em
outros pos de racionalidade 
15
. Nesta perspecva, a
bioéca e a saúde coleva interessam-se mais pelas
possibilidades múlplas de apropriação e trans-
ferência de prácas entre o modelo biomédico e
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outros sistemas de cura e/ou de cuidado do que por
um suposto perigo de homogeneização das culturas.
Assim, pensar sobre a saúde coletiva em
um país mulcultural como o Brasil parte tanto
da compreensão de que outros sistemas de cura
emprestam prácas ao modelo biomédico, mas
sem aceitar completamente suas premissas e
valores 16, quanto do fato de que a percepção da
comunidade afeta as prácas biomédicas 
17
. Neste
sendo, a saúde como direito em contexto cultural
plural se estabelece como tema igualmente caro à
saúde coleva e à bioéca.
Evidentemente, as relações entre vida indivi-
dual e coleva, saúde e sociedade, prácas de saúde
e culturas são analisadas e acessadas pela saúde
coleva e pela bioéca de formas tão diversas como
os vários aportes teóricos que amparam suas aná-
lises. Dessa forma, pode-se armar que também
a falta de referencial teórico único idencável é
comum a ambos os campos, que se caracterizam
mais por um po de olhar: uma reexão sobre a
relação do indivíduo com a colevidade e da cole-
vidade com a saúde. Esse olhar entende a saúde
tanto como direito fundamental quanto como arena
em que se conjugam (e disputam entre si) interes-
ses e representações culturais diversas sobre saúde,
corpo, doença e terapêuca, por exemplo.
Portanto, a proximidade entre bioéca e saúde
coleva não se resume às origens e relações ins-
tucionais nos departamentos e instutos universi-
tários, mas também os olhares convergem para o
mesmo objeto – a relação entre saúde e sociedade
em linhas gerais – e partem de alguns pressupostos
comuns. Enquanto a saúde coleva nega uma uni-
dimensionalidade biológica da saúde e se estabe-
lece para analisar cricamente o modelo biomédico
hegemônico 18, a bioéca nega a neutralidade moral
do conhecimento cienco e remete, em parte
importante de seu exercício, à análise e à críca do
assim chamado “paradigma biotecnocienco” 19.
Esse paradigma, resultado dos avanços tecno-
lógicos de áreas principalmente relacionadas à bio-
logia, pretende interferir em processos orgânicos e
controlá-los, anunciando o objevo de melhorar a
qualidade da vida humana 
19
. No entanto, encarado
do ponto de vista das relações de biopoder, enten-
didas como o poder de fazer viver e deixar morrer 
20
,
o paradigma biotecnocienco realça o que há de
tecnológico no modelo biomédico hegemônico, e,
assim, o que há de mais hegemônico atualmente no
paradigma biomédico: seu afeto pela tecnologia.
A bioéca, porém, não se dedica somente
às questões derivadas da produção e apropriação
das biotecnologias. Berlinguer 21, nome igualmente
importante para a saúde coleva e a bioéca, chama
inclusive de “bioéca codiana” o olhar acadêmico
que idenca e analisa questões morais que acon-
tecem roneiramente e ao longo do tempo, mas
que não deveriam mais ocorrer – realidade muitas
vezes da periferia, fruto de desequilíbrios sociais que
determinam chances desiguais de acesso à saúde
e a outros direitos fundamentais. Aproxima-se,
portanto, da discussão das iniquidades em saúde,
entendidas como diferenças desnecessárias e evitá-
veis e que são ao mesmo tempo consideradas injus-
tas e indesejáveis – situações depois nomeadas por
Garrafa e Porto 22 como “persistentes”.
Esta persistência, porém, não é uniforme, pois
as contradições e iniquidades perduram, mas são
interceptadas e transformadas pelos novos cenários
sociais e econômicos. As iniquidades convivem com
as novas biotecnologias, e conjugadas a elas produ-
zem novos arranjos, determinam novas formas de
nascer, viver e morrer e, com elas, novas formas de
desigualdade e de injusça.
Saúde, doença e novas biotecnologias:
olhares interdisciplinares
A percepção de que as representações de
saúde, corpo e biotecnologias são determinadas
por contexto social dinâmico e complexo une a
bioéca e a saúde coleva. As anunciadas mudan-
ças e libertações das estruturas da sociedade capi-
talista industrial não eliminaram a disnção de
oportunidades e acesso dependentes de classe,
gênero, etnia e outros determinantes sociais da
saúde. Por isso a práca biomédica é colocada
sob análise, envolvendo questões como o acesso
a estas novas tecnologias de saúde, o respeito às
culturas, o poder do discurso biomédico, a relação
entre prossional de saúde e usuário, os interes-
ses econômicos envolvidos no desenvolvimento de
novos disposivos, entre outras.
Este trabalho da bioéca de pensar e mesmo
de recongurar valores sociais mais amplamente
comparlhados dialoga com sua relação com a
práca biomédica e com a importância cultural do
corpo, da saúde e da doença para a sociedade oci-
dental. Ao analisar a biologia e a medicina como
linguagens metafóricas e meios simbólicos, a
bioéca lida com crenças, valores e normas funda-
mentais para nossa sociedade, sua tradição cultural
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e consciência coleva 23. Sob esta perspecva, neste
momento, em suas trocas entre ciências biomédi-
cas e ciências sociais e humanas, as fronteiras entre
bioéca e a própria saúde coleva perdem nidez:
a bioéca constui arena ideal na qual é possível
desenvolver pensamentos sobre a criação e a orga-
nização de novas prossões, o contexto social da
moralidade e o papel do conhecimento cienco
na sociedade 24.
A arculação destes referenciais possibilita as
análises que a bioéca oferece a temas interdiscipli-
nares, como a organização das prossões de saúde.
De fato, a formação dos prossionais envolve mais
do que o espaço que oferece o conjunto de capa-
cidades teóricas e prácas necessárias à sua atua-
ção. Sua educação formal representa ambiente de
socialização no qual se aprendem valores e normas
que medeiam seu comportamento e sua idenca-
ção como doutor entre seus pares e na sociedade 25.
Para além da preocupação com a práca e
idencação na sociedade, a educação do prossio-
nal de saúde interessa duplamente. Tanto é ponto
de vista privilegiado para compreender como se
estabelecem as disputas pelo controle de deter-
minados espaços de saber-fazer 26 quanto janela
para modicá-las. Em suma, é por compreender a
educação dos prossionais de saúde como objeto
de conhecimento cienco e espaço para práca
transformadora que a bioéca se torna importante
na formação prossional.
No entanto, a introdução da bioéca nas matri-
zes curriculares das prossões de saúde encontra
alguns obstáculos, pois a formação dos prossionais
prioriza aspectos e habilidades técnicas e resiste
à introdução de disciplinas de apelo mais críco e
teórico. Assim, ainda devido a reexos do modelo
exneriano de ensino cienco das prossões de
saúde, a bioéca e a saúde coleva são relegadas
a posições secundárias na atenção de alunos e
departamentos 27. A bioéca, principalmente, acaba
sendo entendida como disciplina optava, oferecida
por professores sem formação no campo. Por este
movo, frequentemente o conteúdo das aulas de
bioéca se confunde e se limita a aspectos legalistas
e deontológicos dos códigos de éca prossional 28.
Essa depreciação da bioéca nos cursos de
graduação se relaciona a uma críca mais dura
e ampla que a disciplina recebe no âmbito aca-
dêmico. A acusação de ser “ateórica”, feita tam-
bém à própria saúde coleva em seus primórdios,
não ange somente a bioéca e se estende a mui-
tos campos interdisciplinares de conhecimento,
como aqueles relacionados à sustentabilidade, por
exemplo 29. Neste sendo, as áreas interdiscipli-
nares, empreendimentos ciencos fruto de seu
tempo, representam tentavas de compreender,
descrever e, muitas vezes, modicar realidades em
suas múlplas dimensões. Desta forma, por evitar
o reducionismo de muitas análises ditas cartesianas
e tentar compreender seus objetos integralmente,
em suas conexões e não por suas partes, os cam-
pos interdisciplinares padecem no limbo, permane-
cendo em espaço pouco privilegiado e indenido
entre ciências naturais e sociais. Portanto, a bioé-
ca recebe ao mesmo tempo crícas por não ser
sucientemente objeva e cienca e por não ter
densidade críca ou teórica.
Como resposta a estas crícas, na bioéca
encontra-se tendência crescente de uma reexão
mais ampla sobre as repercussões do conhecimento
biomédico em suas dimensões discursivas e relações
de poder. A parr desta reexão, evidencia-se cada
vez mais que as biotecnologias e a práca biomé-
dica não intervêm somente sobre a matéria orgâ-
nica, como defenderia a visão biologicista, mas se
realizam como discurso poderoso. Percebe-se que
o discurso cienco é visto como o enunciado não
somente válido, mas que valida e legima os outros.
Nesta dinâmica, ao considerar a biomedi-
cina como o atual modelo de produção cienca,
a bioética busca compreender não somente o
papel do conhecimento cienco na sociedade,
mas, mais precisamente, como as produções bio-
tecnológicas determinam as relações de produção
e consumo, a distribuição de riqueza e de riscos,
e como inuenciam as percepções e concepções
sobre corpo, saúde, doença e sobre o ser humano
e seu entorno 30.
A busca pela inovação, que caracteriza atual-
mente o saber cienco, representa o produto da
vinculação irreversível entre experimentação e mer-
cado. Neste cenário, as ciências biomédicas congu-
ram-se, cada vez mais, como âmbito da tecnociência
e, em parcular, da biotecnociência. Como resul-
tado, a relação entre o saber e o poder nunca foi
tão concentrada e eciente em modicar, controlar
e reproduzir a vida 31.
Em parcular, a descoberta do código gené-
co e a expectava de programá-lo em função dos
desejos e projetos humanos reconguram o saber
biomédico e suas potencialidades. Ao aliar as tec-
nologias da informação à biologia, formula-se um
saber-fazer que não se limita a compreender e des-
crever a vida, mas que intenta transformá-la a par-
r da informação da qual deriva. Obviamente, estas
transformações epistemológicas, tecnológicas e
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antropológicas, anunciadas pelos avanços do saber-
-fazer biomédico, geram desdobramentos morais,
sociais e econômicos importantes para a bioéca e
a saúde coleva 19.
Ao encarar as biotecnologias nesta óca, per-
cebe-se que àquelas técnicas analógicas instuídas,
que moldam e esculpem os corpos no sendo de
normalizá-los, somam-se novas técnicas digitais
que programam as mudanças nos corpos para que
evoluam e aumentem seu desempenho. As transfor-
mações, antes consumadas por intervenção mate-
rial sobre a saúde, encontram nuanças mais uidas,
intermediadas pela informação 32.
Isso provoca não somente mudança na con-
cepção de pesquisadores e prossionais da área de
saúde sobre doença, mas também reexos culturais
mais amplos. A doença, antes associada principal-
mente à ideia de contaminação, de um mal que
adentra o corpo e do qual precisamos nos livrar,
agora é entendida como algo previamente deter-
minado por nossos genes. O patológico, portanto,
torna-se algo constuinte do indivíduo, e é no nível
genéco que idealmente se dá a intervenção técnica
sobre ele 
32
. Nesta perspecva, desde o nascimento
somos todos pacientes em la de espera 33.
Impactos da nanotecnologia: interface entre
bioéca e saúde coleva
Neste contexto, a nanotecnologia, resultado
da contribuição entre física quântica, biologia
molecular, eletrônica, química e engenharia de
materiais 34, surge como o mais recente avanço
biotecnológico. Por ilustrar tão bem o contexto
rico e complexo da tecnociência de seu tempo,
a nanotecnologia torna-se objeto de estudo inte-
ressante até mesmo para compreender e avaliar a
atual abordagem bioética sobre a tecnociência em
geral. Encará-la como resultado da convergência
de configurações científicas, tecnológicas, políti-
cas e econômicas, um imbricado de relações, cria
mais espaço para integrar as reflexões das ciências
humanas e sociais e da saúde, exercício de articu-
lação fundamental tanto para a bioética quanto
para a saúde coletiva 35.
No caso da nanotecnologia, a possibilidade
de rearranjar átomo a átomo parece ser o que fal-
tava para conhecer e manipular o universo, desde
sua menor parte. Seu arsenal tecnológico permi-
tiria interferir na evolução humana, proporcio-
nando corpos e mentes perfeitos. Este po de dis-
curso é conhecido e denominado por alguns como
“síndrome do Santo Graal” 
36
. Esta fascinação pelos
desenvolvimentos biomédicos ange níveis extre-
mos, levando a crer sempre que cada avanço é a
descoberta que faltava para compreender o uni-
verso, alcançar a “vida eterna”, seja por um corpo
perfeito, melhorado, ou pela mente, cada vez mais
potente e compavel com as máquinas atuais 37.
Assim, para analisar ecamente novas biotec-
nologias não basta conhecer seu impacto na saúde
do ser humano e do ambiente. É necessário também
considerar os cienstas como produtores culturais
criavos e entender as formas pelas quais os instru-
mentos e as infraestruturas materiais da ciência con-
formam a compreensão socialmente comparlhada
da práca biomédica. É preciso esclarecer o que
seu discurso pretende revelar e aquilo que escolhe
obscurecer, reprimir e rerar do cenário ao apresen-
tar os novos avanços biotecnológicos à sociedade 33.
Portanto, para qualicar a análise de tema tão
complexo quanto os impactos da nanotecnologia na
saúde, é necessário arcular teoricamente contri-
buições da éca aplicada, bioéca, ciências sociais
e humanas, mas também das ciências biomédicas.
Todas são fundamentais para compreender os avan-
ços das biotecnologias, da sua apropriação pela bio-
medicina e de seus resultados na saúde e doença
em suas dimensões sociais, simbólicas e discursivas.
Índices e indicadores epidemiológicos são
importantes, visto que de forma pungente retratam
em números as desigualdades sociais e como elas
resultam, na maior parte das vezes, em vida mais
curta e menos saudável, sem acesso aos avanços
biotecnológicos 
38
. É também importante compreen-
der os aspectos siológicos e técnicos envolvidos na
produção e no uso das novas biotecnologias.
No entanto, estes aspectos não bastam às aná-
lises da bioéca e da saúde coleva sobre a cres-
cente introdução de biotecnologias em cenário no
qual iniquidades sociais e danos ao meio ambiente
não somente existem, mas são alimentados por ins-
tuições e prácas sociais que favorecem grandes
indústrias em detrimento do bem-estar da popu-
lação. Esta constatação evidencia um dos movos
pelos quais as análises de risco não são sucientes
para pensar o impacto das novas biotecnologias para
a saúde humana e para o meio ambiente: a distribui-
ção geoeconômica, no espaço urbano e rural, dos
possíveis acessos, benecios e riscos da nanotecno-
logia não será uniforme 39.
Espera-se para os próximos anos que as ini-
quidades sociais caracteríscas da economia glo-
balizada sejam intensicadas por fatores como a
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Atualização
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introdução da nanotecnologia no mercado alimen-
tar, a presença cada vez mais marcante das grandes
indústrias no ramo das biotecnologias e as questões
relacionadas a patentes e propriedade intelectual na
indústria farmacêuca 40.
Para compreender a ruptura que avanços bio-
tecnológicos anunciam é preciso entender que a
dimensão simbólica destes avanços extrapola seus
campos de aplicação biomédica. Exemplo é a pro-
funda transformação na concepção de sociedade e
parentesco que o estudo da genéca introduziu no
mundo ocidental. A forma de narrar e perceber as
relações familiares e de explicar caracteríscas da
personalidade sofreu signicavas alterações 41.
Em novelas, jornais, programas televisivos,
livros sobre maternidade, todas as dimensões huma-
nas podem ser reduzidas a caracteríscas genécas:
os genes explicam obesidade, criminalidade, mi-
dez, inteligência e preferências sexuais. São citados
genes do egoísmo, da violência, da celebridade, da
homossexualidade, da depressão e até da geniali-
dade. Assim, a genéca pretensamente explicaria
até mesmo a constuição familiar: haveria genes
relacionados à necessidade biológica de formar
família e transmir sua carga genéca. Nesta visão,
as relações de parentesco são redenidas e estrutu-
ram famílias em que os laços de tradição, história,
experiências e recordações comuns seriam menos
importantes do que parlhar o mesmo DNA 42.
Os principais aspectos de interesse para a
bioéca e para a saúde coleva derivam justamente
deste objevo caracterísco do saber-fazer biomé-
dico, de não somente conhecer e explicar a vida,
mas, principalmente, interferir em processos orgâ-
nicos e controlá-los 19. Destaca-se a cura do câncer
como a mais proeminente tarefa a que a nanotec-
nologia se propõe, com todo o caráter simbólico da
doença 43. Para a biomedicina, o câncer representa
a desorganização, a incontrolável reprodução de
células primivas, não diferenciadas. Representa a
fuga ao inteligente controle genéco que dispara
os mecanismos de morte programada em células
defeituosas 44. No entanto, fora do consultório, o
câncer ganha outros contornos: um mal que escapa
à ordem natural, ao equilíbrio do corpo, e o con-
some em desorganização. Neste sendo, o câncer,
entre outras expressões da retórica militar, é iden-
cado metaforicamente como inimigo contra o qual
a medicina e a sociedade devem batalhar 45.
Neste contexto, a nanotecnologia gura como
arma poderosa. É justamente sua proposta de orga-
nizar a matéria, átomo a átomo, que parece propor-
cionar o controle necessário para oferecer a certeira
ferramenta para a cura do câncer. O caráter sim-
bólico da proposta não poderia ser mais evidente:
a nanotecnologia, aliada à genéca, possibilitaria
o total controle sobre os processos orgânicos, de
forma a nalmente poder combater a desorganiza-
ção representada pelo câncer.
O segundo aspecto importante é a revolução
anunciada pela manipulação massiva do DNA, que de
código da vida se torna material profanado, disponí-
vel e banalizado. Na descrição de suas pesquisas, os
cienstas nos convidam a despir a molécula do caráter
metafórico do DNA como código da vida, caracterísca
de sua apresentação mais simples 46. A nanotecnologia
convida a olhar a molécula de forma nova e ainda mais
promissora: a possibilidade innita de obter conforma-
ções diversas do DNA. Devido à sua exibilidade para
manipulação e sua capacidade de autorreplicação de
acordo com a conformação programada, esta molécula
poderia ser ulizada para tantos ns quanto os propos-
tos pela imaginação humana 47.
Certamente, a toxicidade para os humanos e o
meio ambiente será quesonada, mas as transfor-
mações sociais e culturais anunciadas são ainda mais
profundas. Isso porque a condição humana não será
alterada somente pela possibilidade de intervenção
biológica mais frequente e eciente sobre o DNA, mas
também porque, ao anunciá-lo como sua mais promis-
sora matéria-prima, a nanotecnologia altera sua função
simbólica como código da vida e, assim, propõe res-
signicar a representação que o ser humano faz de si.
Desta forma, é preciso analisar as biotecnolo
-
gias, mas também as prácas dos prossionais de
saúde, como objetos (ciencos) de seu tempo:
objetos híbridos em que as dimensões biológica e
social são indissociáveis 48. A arculação entre ciên-
cias humanas e sociais e ciências da saúde é fun-
damental para analisar temas como a organização
das prossões de saúde e a relação das prácas de
saúde com as realidades sociais, já tão explorados
pela bioéca e pela saúde coleva.
No entanto, são as novas biotecnologias em
saúde que demandam, cada vez mais, a visita a esses
referenciais teóricos. Ao contrário do que se poderia
pensar, e como revela a construção do conhecimento
na própria saúde coleva, enfrentar novas questões
ciencas não é, de forma alguma, convite ao des-
carte de referenciais ciencos anteriores. O traba-
lho de tecer análises entre campos interdisciplina-
res não é o de “reinventar a roda”, mas de arcular
conhecimentos e arcabouços teóricos estabelecidos.
Confrontar estes objetos ciencos, fruto de tempo-
ralidade complexa e plural, não demanda somente
criavidade para pensar e resolver problemas novos,
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Atualização
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mas olhar cuidadoso para referenciais anteriores, até
mesmo para compreender suas limitações: há sempre
coisa melhor a fazer com uma herança, mesmo pro-
blemáca, do que jogá-la no lixo49.
Considerações nais
Entender que na interface entre bioéca e
saúde coleva se encontra a preocupação com o
elo entre saúde e sociedade, entre biomedicina e
outras prácas de saúde, evidencia a importância
das novas biotecnologias e seu impacto na saúde
e na qualidade de vida da população. Porém, esse
impacto deve ser entendido de forma ampla, não
somente em termos de riscos à saúde humana e
ao meio ambiente. Está em jogo a maneira como
estas novas biotecnologias interceptam iniquidades
sociais de longa data e passam a conviver com elas,
a alimentá-las. Analisar os resultados das novas bio-
tecnologias para a saúde não é somente entender se
apresentam riscos toxicológicos, mas entender como
estes riscos serão distribuídos e quais fatores sociais
condicionam estas congurações.
Neste sentido, a intervenção e o controle
biomédico sobre os processos orgânicos parecem
angir seu auge com o uso do DNA como material
nanotecnológico. Essa tecnologia ilustra assim a
capacidade que o saber-fazer biomédico, em suas
dimensões ciencas, sociais e discursivas, tem de
afetar o humano em sua saúde, o mundo em sua
conjuntura socioeconômica, e toda a representação
que o ser humano faz de si e de seu entorno.
Esta perspectiva justifica a articulação de
referenciais teóricos diversos para analisar con-
textos plurais. As novas biotecnologias eviden-
ciam a necessidade de compreender local e global,
individual e colevo, cultura e natureza em suas
conexões e connuidades. Bioéca e saúde coleva
comparlham esta tarefa nada fácil: conjugar cien-
camente referenciais diversos para compreender
(e transformar) um mundo globalizado, cada vez
mais tecnológico e desigual.
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Parcipação dos autores
Os autores parciparam igualmente de todas as etapas de elaboração do argo.
Correspondência
Monique Pyrrho – Universidade de Brasília. Faculdade de Ciências da Saúde. Secretaria de Pós-Graduação. Campus
Darcy Ribeiro CEP 70904-970. Brasília/DF, Brasil.
Monique Pyrrho – Doutora – pyrrho.monique@gmail.com
0000-0003-1000-6361
Fermin Roland Schramm – PhD – rolandschramm@yahoo.com.br
0000-0001-6291-3188
Recebido: 27.2.2019
Revisado: 21.5.2019
Aprovado: 7.8.2019
... No entanto, os achados demonstraram que as atividades de ensino poderiam incorporar com mais frequência tais perspectivas, de modo ampliar o acesso a diferentes referenciais, que não somente aqueles defendidos pelo principialismo, o que certamente enriqueceria as discussões.A diversidade de perspectivas, constitutiva da natureza da Bioética, é relevante, na medida em que contribui para problematizar as condições de vida da população, superando também as limitações do modelo biomédico hegemônico. Suas contribuições são inúmeras ao ensino em saúde, ofertando importantes ferramentas para que o sanitarista possa contribuir na construção de um sistema de saúde mais equânime e atento à coletividade.21,38 Os resultados apontados são importantes para subsidiar o planejamento e a adequação dos desenhos curriculares dos cursos de Saúde Coletiva, especialmente no que tange ao ensino da Bioética. ...
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Objetivo: Realizar um mapeamento das universidades públicas brasileiras que ofertam o curso de Saúde Coletiva, de modo a analisar a inserção de conteúdos relacionados à Bioética (disciplina e conteúdos curriculares). Método: Estudo de caráter descritivo, exploratório, com abordagem documental, realizado por meio do acesso aos projetos pedagógicos dos cursos de graduação em Saúde Coletiva, disponibilizados no portal Cadastro Nacional de Cursos e Instituições de Educação Superior, e nos sites oficiais das universidades. Resultados: Em abril de 2023, existiam 37 cursos de graduação em Saúde Coletiva no Brasil, sendo 17 deles, ofertados por universidades públicas. Ao analisar os projetos de curso, observou-se que ensino da Bioética ocorre de forma transversal e em diferentes componentes curriculares, com predomínio de conteúdos teóricos. Conclusão: O ensino da Bioética nos cursos de Saúde Coletiva pode ser aprimorado, inclusive com metodologias que favoreçam a problematização de situações cotidianas enfrentadas por sanitaristas brasileiros. Ademais, é necessário que as ações de ensino explorem diferentes perspectivas e princípios bioéticos, estimulando uma reflexão crítica, reflexiva e plural, sobre os desafios existentes.
... Cuando los atletas están lesionados se aplica con éxitos en regeneración tisular, cuyo objetivo es el desarrollo de biomateriales inteligentes que reaccionen positivamente a los cambios de su entorno liberando de forma controlada principios activos capaces de estimular cambios regenerativos específicos a nivel tisular y promoviendo el potencial autoregenerativo de las propias células del paciente. Se la obtención de implantes específicos, adaptados a la anatomía de cada paciente, que mejoren su integración y eviten infecciones y rechazos porque sean capaces de liberar fármacos ante cambios en la estructura y en la aparición de bacterias (Pyrrho & Schramm, 2020). ...
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La importancia de la ciencia y la tecnología en el desarrollo socioeconómico es un hecho incuestionable. La aplicación de la nanotecnología en el deporte ofrece muchos beneficios, sin embargo, también encierra riesgos éticos. El objetivo de este artículo es reflexionar a partir del análisis documental de diferentes publicaciones científicas, sobre el uso de la nanotecnología en el deporte para que se conozcan y puedan ser utilizadas por los diferentes profesionales de esta rama y por la población en general. La investigación puede clasificarse como cualitativa, básica, documental y descriptiva; empleando el marco analítico SALSA y los métodos deductivo y analítico-sintético. Los resultados señalan hacia el papel de la nanotecnología en la salud, alimentación y desarrollo de implementos deportivos. Las conclusiones reconocen que la nanotecnología tiene amplias potencialidades de aplicación y en los momentos actuales es una ciencia en desarrollo, que domina en campos como el almacenamiento de energía, las aplicaciones médicas, la industria automotriz y la cosmética, el deporte y la industria de los alimentos. Abstract The importance of science and technology in socioeconomic development is an unquestionable fact. The application of nanotechnology in sport offers many benefits, however, it also carries ethical risks. The objective of this article is to reflect, based on the documentary analysis of different scientific publications, on the use of nanotechnology in sports so that they are known and can be used by different professionals in this branch and by the population in general. The research can be classified as qualitative, basic, documentary and descriptive; using the SALSA analytical framework and the deductive and analytical-synthetic methods. The results point to the role of nanotechnology in health, nutrition and development of sports equipment. The conclusions recognize that nanotechnology has wide application potential and is currently a developing science, which dominates in fields such as energy storage, medical applications, the automotive and cosmetics industry, sports and the food industry. Keywords: Nanotechnology, sport, carbon, benefits.
... Es por ello que filósofos, sociólogos, economistas, educadores y divulgadores aportan contribuciones valiosas en lo relativo al análisis ético, económico, socioambiental y educativo de la investigación nano, reforzando su dimensión interdisciplinar (Foladori e Invernizzi, 2018). Algunas acciones que están planteando estos expertos para aminorar los riesgos de las nanociencias y la nanotecnología son la implementación de protocolos de ensayo de las nanopartículas de origen sintético, el establecimiento de normas que permitan regular sus repercusiones ambientales y en materia de sanidad, el estudio de su relevancia e implicaciones en la educación científica formal e informal, así como una serie de recomendaciones en materia de gobernanza de la nanotecnología (Pyrrho y Schramm, 2019). ...
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La nanoquímica es un área de conocimientos enfocada en la obtención y la caracterización de materiales que tienen su origen en la escala nanométrica. Se fundamenta en métodos de síntesis ascendente (bottom-up) que involucran procesos de autoensamblaje molecular, así como herramientas, modelos y aproximaciones que son propios de la química. En las últimas décadas esta subdisciplina ha hecho valiosas contribuciones a los ámbitos de la investigación, la industria, la tecnología y el cuidado del medio ambiente. En este trabajo, se analiza el desarrollo histórico, las nociones básicas, así como algunas técnicas y aplicaciones representativas de la nanoquímica con la finalidad de mostrar su valor disciplinar. Posteriormente, se discuten aspectos que permiten justificar su relevancia educativa. En la última parte de este manuscrito se ofrece una descripción de diversas propuestas que se han desarrollado en el bachillerato y en las etapas iniciales de la formación universitaria en torno a la enseñanza de contenidos que guardan relación con la nanoquímica, ya que estas pueden orientar y robustecer el trabajo pedagógico en este campo.
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, discurso sobre ocorpo singular e discurso sanitario sobre o espaco social. Com a emergenciada sociedade industrial, a saude das individualidades passa a incluirnecessariamente as condicoes coletivas de salubridade, nao sendo mais possivelconceber a existencia da saude dos sujeitos na exterioridade das condicoessanitarias do espaco social.Nesse contexto, porem, o que se entende por saude publica? O que sepretende dizer com a expressao “saude coletiva”? Essas expressoes constituemenunciados diversos do mesmo conceito e recobrem, portanto, um mesmo campode praticas sociais? Ou, ao contrario, esses significantes denotam camposdiferenciados, com superposicoes regionais e rupturas importantes? Indicacoestalvez inquietantes, ja que temos naturalizada a ideia de saude publica comosinonimo de saude coletiva. Seus objetos teoricos seriam, portanto, identicos.Temos, no entanto, boas razoes para pensar que essas expressoes naose superpoem, principalmente se examinarmos a constituicao das nocoes desaude publica e saude coletiva nos registros historico e conceitual. Trata-se decampos nao homogeneos, na medida em que se referem a diferentesmodalidades de discurso, com fundamentos epistemologicos diversos e comorigens historicas particulares.O campo da Saude Publica se constituiu com a medicina moderna nofinal do seculo XVIII, como policia medica e com a medicina social, marcandoo investimento politico da medicina e a dimensao social das enfermidades. A
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This review is written with the goal of informing public health concerns related to nanoscience, while raising awareness of nanomaterials toxicity among scientists and manufacturers handling them. We show that humans have always been exposed to nanoparticles and dust from natural sources and human activities, the recent development of industry and combustion-based engine transportation profoundly increasing anthropogenic nanoparticulate pollution. The key to understanding the toxicity of nanoparticles is that their minute size, smaller than cells and cellular organelles, allows them to penetrate these basic biological structures, disrupting their normal function. Among diseases associated with nanoparticles are asthma, bronchitis, lung cancer, neurodegenerative diseases (such as Parkinson`s and Alzheimer`s diseases), Crohn`s disease, colon cancer. Nanoparticles that enter the circulatory system are related to occurrence of arteriosclerosis, and blood clots, arrhythmia, heart diseases, and ultimately cardiac death. We show that possible adverse effects of nanoparticles on human health depend on individual factors such as genetics and existing disease, as well as exposure, and nanoparticle chemistry, size, shape, and agglomeration state. The faster we will understand their causes and mechanisms, the more likely we are to find cures for diseases associated with nanoparticle exposure. We foresee a future with better-informed, and hopefully more cautious manipulation of engineered nanomaterials, as well as the development of laws and policies for safely managing all aspects of nanomaterial manufacturing, industrial and commercial use, and recycling.
Article
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Nanotechnology proponents expect that it will offer solutions to key problems facing developing countries. In this article, Doctors Noela Invernizzi and Guillermo Foladori argue that this optimistic view overlooks the social factors that shape science and technology development. Invernizzi and Foladori challenge what they see as overly optimistic assessments within recent articles concerning nanotechnology's impact on developing nations. They argue that applications that may benefit poorer nations are only a starting point and that dominant socioeconomic hierarchies may still prevent nanotechnology from benefitting the poor. By recognizing these realities, the nanotechnology community can avoid repeating the mistakes of the pharmaceutical and biotechnology industries and enable nanotechnology to become a tool to alleviate rather than widen disparity.
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The article discusses the dominant position of sustainability discourse in the debate on environmental issues and its implications on education . It understands that the current debate on sustainability has mainly been guided by economic and technological proposals that follow market's imperatives. The author, however, argues that this market-guided sustainability is not able to answer to challenges placed by the multidimensional crisis that we face nowadays. He also considers that education plays a relevant role in this search for social sustainability since it can surpass the influences of market pragmatism that tend to reduce it to economic needs.
Article
O presente trabalho deseja mostrar a possibilidade do ensino da Ética Médica e da Bioética como uma disciplina organizada e hierarquizada, cuja preocupação é colaborar com a formação do conhecimen- to dos alunos sobre o conceito de Medicina, a complexidade da relação médico-paciente-família, o segredo médico como condição sine qua non para o exercício profissional da Medicina e o valor do atestado médico, entre tantos outros. O autor faz uma introdução, discorre sobre os objetivos da dis- ciplina, a motivação e os antecedentes para a adoção do modelo. Apresenta dados de várias escolas de Medicina brasileiras onde a ética, infelizmente, não aparece em destaque; compara, pari passu, os currículos das disciplinas humanísticas, básicas e clínicas, com o da Ética Médica e Bioética ministra- do na Universidade do Vale do Itajaí (Univali). Ao final, traz recomendações e conclusões ressaltan- do que durante todo o curso se chama atenção para os direitos e deveres de médicos e pacientes, e que a Medicina deve, e precisa, ser exercida com humanismo, compaixão e ética.