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Este artigo examina comparativamente a nasalidade vocálica em duas variedades de português faladas em São Tomé e Príncipe: o português santomense (PST) e o português principense (PP). Pautados na análise da duração e dos formantes dos segmentos nasais (ṽN), nasalizados (ṽ.N) e orais (V), observamos dois processos de nasalização distintos nessas variedades: a nasalidade vocálica tautossilábica, engatilhada por uma coda nasal, e a nasalidade vocálica heterossilábica, promovida por um onset nasal. Ambos os processos decorrem do espraiamento regressivo do traço [+nasal] para V, porém, enquanto a nasalidade tautossilábica é obrigatória, distingue significado e ocasiona o apagamento da consoante nasal em coda, resultando na duração alongada de ṽN em relação à V (48% para o PST e 60% para o PP), a nasalidade heterossilábica não ocorreu em pretônicas, é opcional em tônicas e mantém a consoante nasal em onset, refletindo, consequentemente, na duração de ṽ.N, a qual é equivalente à V.
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Vol. 33, n.º 2, 2019, p.41-68. DOI: doi.org/10.21814/diacritica.256
NASALIZAÇÃO VOCÁLICA NO PORTUGUÊS URBANO DE SÃO
TOMÉ E PRÍNCIPE
VOCALIC NASALIZATION IN SÃO TOMÉ AND PRÍNCIPES URBAN
PORTUGUESE
Gabriel Antunes de Araujo
gabrielaraujo@um.edu.mo
Amanda Macedo Balduino**
amanda.m_b@hotmail.com
Este artigo examina comparativamente a nasalidade vocálica em duas variedades de português
faladas em São Tomé e Príncipe: o português santomense (PST) e o português principense (PP).
Pautados na análise da duração e dos formantes dos segmentos nasais (N), nasalizados (.N) e
orais (V), observamos dois processos de nasalização distintos nessas variedades: a nasalidade
vocálica tautossilábica, engatilhada por uma coda nasal, e a nasalidade vocálica heterossilábica,
promovida por um ataque nasal. Ambos os processos decorrem do espraiamento regressivo do
traço [+nasal] para V, porém, enquanto a nasalidade tautossilábica é obrigatória, distingue
significado e ocasiona o apagamento da consoante nasal em coda, resultando na duração alongada
de N em relação à V (48% para o PST e 60% para o PP), a nasalidade heterossilábica não é
implementada em pretônicas, é opcional em tônicas e mantém a consoante nasal em ataque,
refletindo, consequentemente, na duração de .N, a qual é equivalente à V.
Palavras-Chave: Nasalização. Português de São Tomé. Português de Príncipe.
This paper comparatively examines the vocalic nasality in two Portuguese varieties spoken in São
Tomé and Príncipe: Santomean Portuguese (PST) and Príncipe Portuguese (PP). Based upon the
duration and the formants of nasal (N), nasalized (.N) and oral (V) segments, we observed two
different nasalization processes in PST and in PP: tautosyllabic nasality, triggered by a nasal coda,
and heterosyllabic nasality, promoted by a nasal onset. Both processes arise from the regressive
dissemination of the [+nasal] feature onto the previous V. However, while tautosyllabic nasality
is compulsory, yields lexical contrast, and causes the deletion of the nasal coda resulting in a
longer N than V (48% for PST and 60% for PP) , heterosyllabic nasality is not applied to pre-
stressed syllables, is optional in stressed syllables, and always keeps the nasal consonant in onset
position. Thus, the duration of .N is equivalent to V.
Department of Portuguese, FAH, University of Macau, Macau, SAR China/Departamento de Letras
Clássicas e Vernáculas, FFLCH, Universidade de São Paulo/CNPq, São Paulo, Brasil. ORCID:
https://orcid.org/0000-0001-7337-3391. Autor correspondente.
** Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas, FFLCH, Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1062-973X.
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DIACRÍTICA, Vol. 33, n.º 2, 2019, p. 41-68. DOI: doi.org/10.21814/diacritica.256
Keywords: Nasalization. São Tomé Portuguese. Príncipe Portuguese.
1. Introdução
Neste artigo apresentamos uma discussão sobre a nasalidade vocálica tautossilábica e
heterossilábica no português vernacular de São Tomé (PST) e no português vernacular da
ilha do Príncipe (PP), variedades faladas na República Democrática de São Tomé e
Príncipe (STP), baseados em uma discussão acerca do comportamento acústico das
vogais [+nasal], com ênfase na duração desses segmentos. Para análise da nasalidade
tautossilábica, focamos em aspectos duracionais, espectrais e coarticulatórios e suas
contrapartes orais a partir de um corpus formado por pares mínimos e análogos. Para a
nasalidade heterossilábica, além de aspectos duracionais e contextuais, como o acento,
investigamos os formantes das vogais nasalizadas e a ausência do apêndice nasal. Por
fim, examinamos os correlatos fonéticos identificados sob uma perspectiva fonológica
multinivelar, analisando os segmentos vocálicos [+nasal] a partir da noção de sílaba e
temporalidade.
O estudo da nasalidade, no PST e no PP, justifica-se na medida em que corresponde
a uma contribuição aos estudos em língua portuguesa. Assim, ampliamos o espaço
linguístico de pesquisas dedicadas a duas variedades ainda pouco estudadas.
Este artigo está organizado da seguinte forma: na seção 2, descrevemos a ecologia
linguística na qual o PST e o PP estão inseridos. Isso posto, na seção 3, contextualizamos
a fonologia CV, perspectiva teórica selecionada para análise da nasalidade. Na seção 4,
trazemos uma revisão bibliográfica acerca dos estudos dedicados à nasalidade vocálica
na língua portuguesa. Em seguida, na seção 5, apresentamos o corpus, os critérios de
análise e a fundamentação teórica adotada para estudo do processo de nasalização. Na
seção 6, exibimos e analisamos os dados, propondo uma interpretação final para os
resultados com base na fonologia CV. Por fim, na seção 7, estão as considerações finais.
2. O português de São Tomé e Príncipe
Em STP o português é a língua oficial desde 1975 e cerca de 98,4% da população se
autodenomina falante de língua portuguesa (INE 2012). No território são também falados
o santome, o lung'Ie, o angolar e o kabuverdianu. Nessa conjuntura de contato, o
português assume o papel de maior prestígio, sendo a língua de status social mais elevado
e alvo do sistema escolar (Araujo & Agostinho 2010). Todavia, neste artigo, focamos no
português vernacular urbano, variedades diversas do português lusitanizado empregado
em situações formais, na mídia e na escolarização (vd. Araujo 2019; Baxter 2018;
Balduino 2018; Bouchard 2018; Braga 2018; Brandão, Pessanha, Pontes & Correa 2017;
Christofoletti 2013; Figueiredo 2010; Gonçalves 2010; 2016). A análise dessas
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variedades pode demonstrar aspectos característicos ao contato linguístico como
propulsor de mudança linguística, bem como abarcar mudanças e reanálises estruturais
decorrentes da aquisição massiva do português como segunda língua (L2) (Christofoletti
& Araujo 2018; Lucchesi & Baxter 2009). Em 1975, ano da independência de STP, as
línguas nacionais correspondiam às línguas maternas da maior parte da população
(Araujo 2019; Bandeira 2017), porém, no período pós-colonial, deixaram de ser
transmitidas de forma regular, tendo em vista a ascensão social do português, que passou
a ser empregado, cada vez mais, por um maior número de falantes. Gonçalves (2010,
2016) e Araujo (2019) assumem um amplo processo de nativização do português de STP.
Tal transição de L2 para L1 também corroboraria o desenvolvimento de traços próprios
da variedade de STP do português (Araujo 2019; Braga 2018; Christofoletti 2013;
Christofoletti & Araujo 2018; Gonçalves 2010, 2016).
O PST e o PP são falados em contextos semelhantes, contudo, em contato com
diferentes línguas. Assim, ao passo que o PST é empregado em um mesmo ambiente no
qual o santome é falado, o contato do PP se dá, sobretudo, com o kabuverdianu e com o
lung'Ie. A convivência com línguas distintas somada a outros fatores como a distância
geográfica que separa essas duas variedades, identidades étnicas, impacto da
escolarização, urbanização, acesso à mídia e ao próprio uso formal da variedade de
prestígio justificam a separação entre esses dois vernáculos neste estudo.
3. A nasalidade vocálica no português brasileiro e no português europeu
A língua portuguesa possui, basicamente, dois tipos de nasalidade vocálica, descritos na
literatura como nasalidade contrastiva e nasalidade alofônica (vd. Balduino 2018; Câmara
Jr. 1970; Mateus & D'Andrade 2000; Moraes & Wetzels 1992), tratadas aqui,
respectivamente, por nasalidade tautossilábica e heterossilábica (Balduino 2018). A
nasalidade tautossilábica é caracterizada por promover distinção de significado, como em
tanto [ˈtɐ̃tʊ] e tato [ˈtatʊ], por ocorrer em tônicas ou pretônicas e, de acordo com a
perspectiva bifonêmica, por ser produzida a partir de uma coda nasal (Câmara Jr. 1970;
Mateus & D'Andrade 2000; Moraes & Wetzels 1992). Por outro lado, a nasalidade
heterossilábica é engatilhada por um ataque nasal, o qual espraia sua nasalidade para a
vogal anterior adjacente como em cama [ˈkɐ̃mɐ] e camada [kaˈmadɐ] (Câmara Jr. 1970;
Miguel 2006; Moraes & Wetzels 1992). Distintamente da nasalidade tautossilábica, a
nasalidade heterossilábica não é obrigatória em todos os contextos acentuais e sua
aplicação, além de ser opcional em pretônicas, varia diatopicamente (Wetzels 1997).
Neste artigo, para distinção entre os dois processos, denominamos como vogal nasal (N)
a vogal que recebe o traço [+nasal] por uma coda nasal, ao passo que o termo vogal
nasalizada (.N) é dedicado à vogal que recebe sua nasalidade em decorrência de um
ataque nasal na sílaba seguinte. Essa terminologia é empregada apenas cumprindo uma
função didática de distinção, posto que nossos estudos defendem que a inexistência de
vogais nasais intrínsecas no PST ou no PP.
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4. Método e metodologia
Trabalhamos com a duração vocálica dos segmentos orais, nasais e nasalizados de um
corpus composto por 170 itens lexicais, tanto para o PST quanto para o PP. A duração
vocálica tem sido considerada um correlato fonético importante para a análise da
nasalidade vocálica. Dessa forma, foram medidas a duração dos segmentos vocálicos em
sequências de N, .N e a V. A extração da duração vocálica dos segmentos-alvo foi
realizada com o uso do software Praat (Boersma & Weenick 2015), pelo qual
mensuramos e contrapomos os formantes de N; .N e V, com ênfase no primeiro
formante (F1), de modo a observarmos a atuação da mandíbula na produção da nasalidade
nas variedades estudadas. Ao mesmo tempo, durante a análise duracional dos segmentos
nasais, consideramos também o murmúrio nasal, tratado pela literatura como a última
fase de emissão das vogais nasais (Teixeira, Vaz, Moutinho & Coimbra 2001).
Na análise dos dados deste artigo, operamos, sobretudo, com a duração dos
segmentos, adotamos como teoria explanatória, a fonologia CV. Embora os conceitos de
teorias que abarcam os constituintes silábicos internos, com ataque, núcleo e coda
(Clements & Keyser 1983, Goldsmith 1990; Selkik 1982), sejam constantemente
retomados na análise para descrição silábica do PST e do PP, o modelo silábico CV
oferece uma interpretação elegante a respeito do fenômeno de espraiamento da
nasalidade, facilitando a representação formal do processo, considerando, para tanto, a
temporalidade dos segmentos dentro da sílaba.
4.1. O corpus
O corpus deste trabalho é constituído por pares mínimos e análogos e palavras sem
oposição, coletados em trabalho de campo em São Tomé e Príncipe.
1
Em relação aos
pares, temos (i) vinte e três pares mínimos com nasalidade tautossilábica em meio de
palavra em posição tônica, como em tanto [ˈtɐ̃.tʊ] e tato [ˈta.tʊ]; (ii) vinte e cinco pares
mínimos com nasalidade tautossilábica em meio de palavra em posição pretônica, como
em bombom [bõ.ˈbõ] e bobó [bo.ˈbɔ] e (iii) trinta e três itens lexicais que contêm
nasalidade tautossilábica em fronteira de palavra, como bagagem [ba.ˈga.ʒẽj̃]. Ainda em
relação aos itens sem oposição, o corpus é composto por (iv) onze palavras em que a
vogal-alvo de nasalização heterossilábica é seguida por um ataque nasal na posição
tônica, como em cama [ˈkɐ̃.mɐ] ~ [ˈka.mɐ]; (v) onze itens em que a a vogal-alvo de
nasalização heterossilábica é seguida por um ataque nasal na posição pretônica, como em
camada [kɐ̃.ˈma.dɐ] ~ [ka.ˈma.dɐ]; e (vi) dez pares mínimos em que o ataque de uma das
sílabas é [m] ou [n], porém o ataque é ocupado por uma consoante oral, como em manta
[ˈmɐ̃.tɐ] e mata [ˈma.tɐ].
Todos os itens lexicais foram extraídos da frase-veículo alvo Eu falo X baixinho,
onde X era substituído pela palavra que possuía a estrutura a ser analisada, isto é, vogais
nasais, orais ou nasalizadas. No total foram gravados cinco informantes para o PST e
cinco informantes para o PP, sendo que cada informante repetiu a frase três vezes,
1
Para compor alguns pares mínimos usamos logatomas, de modo a equilibrar o número de itens lexicais
para cada qualidade vocálica.
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havendo descarte completo da primeira rodada. Sendo assim, neste estudo, operamos com
cento e setenta itens lexicais, para cada variedade, e trezentos e quarenta ocorrências por
informante. Durante a coleta dos dados, foram gravados sujeitos de diferentes idades e
sexos, sendo que todos eram falantes nativos do PST ou do PP.
2
Tabela 1. Falantes do Português do Príncipe (PP) e do Português Santomense (PST) como L1.
PP
PST
Idade
Sexo
Informante
Idade
Sexo
14
F
01
19
M
18
F
02
23
M
23
M
03
29
F
43
F
04
39
F
60
F
05
51
M
Nota. M = masculino; F = feminino.
4.2. Critérios de análise
Os dados foram organizados e analisados de acordo com cinco critérios fonéticos e
fonológicos segmentais e suprassegmentais: (i) tonicidade; (ii) consoante oclusiva
antecedente (C1); (iii) consoante oclusiva seguinte (C2); (iv) murmúrio nasal e (v)
formantes dos segmentos, sendo a aplicação desses critérios variável a depender do
processo de nasalização em foco.
Assumindo que um dos correlatos fonéticos do acento em PB é a maior duração
vocálica na sílaba tônica em relação às não tônicas (Massini 1991), a coincidência do
acento da sentença e da palavra, nos pares mínimos, foi controlada a fim de se evitar as
suas possíveis interferências. Desse modo, pares que contivessem nasalidade
tautossilábica e heterossilábica, inseridos em contexto tônico, como tanto [ˈtɐ̃.tʊ] e tato
[ˈta.tʊ], ou cano [ˈkɐ̃.nʊ], foram separados daqueles que apresentavam a estrutura-alvo
em uma posição pretônica: gambá [gɐ̃.ˈba] e gabar [ga.ˈba] ~ [ga.ˈbaɾ], ou caneta
[ka.ˈne.tɐ].
Considerando, ainda separadamente, os pares mínimos que continham nasalidade
tautossilábica, medimos a duração das consoantes sonoras e surdas que precedem (C1) e
sucedem (C2) os segmentos-alvo, abarcando fones como [p, b, t, d, k, g]. Durante a
análise, os valores consonantais obtidos foram avaliados em relação aos segmentos
vocálicos estudados, atentando, principalmente, para a sequência V.C2/N.C2 e
C1V/C1ṽN, onde “.” equivale à divisão silábica. Procuramos identificar, assim, se C1 ou
C2 podia exercer algum efeito na duração vocálica, que, segundo Moraes e Wetzels
(1992), Sousa (1994) e Seara (2000), esse é um fato capaz de afetar a duração de vogais
nasalizadas na PB. Ademais, consideramos a mensuração do murmúrio nasal,
2
Embora a variedade entre os sujeitos indique uma amostra mais ampla da língua, ela pode influenciar os
resultados por falta de homogeneidade. Como o perfil dos informantes não é uniforme, há a possibilidade
de haver questões sociolinguísticas afetando o resultado. Todavia, nosso foco, neste estudo, não recai sob
tais possíveis variáveis externas, mas opta por abordar um espectro mais geral da língua.
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comparando sua duração entre as variedades e observando o tempo de N ao ser excluído
o equivalente ao apêndice nasal. Para o PB, há estudos que indicam que a maior duração
das vogais nasais é mantida mesmo quando a porção equivalente ao murmúrio é elidida
(vd. Valentim 2009) e, com base em tal pressuposto, um dos nossos objetivos foi analisar
e descrever esse comportamento para o PST e para o PP.
Para a análise da nasalização heterossilábica (.N), além de considerarmos fatores
como o acento, o contexto segmental coarticulatório e a direção do espraiamento da
nasalidade, examinamos o comportamento dos formantes que compunham as vogais
nasalizadas. Dessa forma, contrapomos os valores alcançados com o valor dos formantes
das vogais nasais e nasalizadas. Considerando os trabalhos de Medeiros (2007) para o
PB, a extração dos formantes e, dentro deste contexto de nasalidade, foi testado como um
meio de diferenciar as vogais nasalizadas das vogais orais, servindo como uma base
comparativa entre a nasalidade heterossilábica e tautossilábica.
A extração da duração das vogais foi analisada por meio de estatística descritiva.
Trabalhamos com a média das durações em milissegundos, separando N e V de acordo
com a qualidade vocálica. Ao trabalharmos apenas com médias e dados percentuais, os
valores obtidos mediante a análise acústica indicam tendências estatísticas que devem,
posteriormente, ser comprovadas em testes estatísticos analíticos. Por fim, em posse das
tendências obtidas, empregamos uma análise fonológica para a nasalidade vocálica nessas
variedades de STP.
5. A nasalidade vocálica em PST e em PP
Nesta seção, detalhamos a análise e os resultados obtidos no estudo da nasalidade
vocálica, seja a tautossilábica (vd. seção 5.1.), seja a heterossilábica (vd. seção 5.2.) para
o PST e o PP. Portanto, descrevemos os processos expondo sua particularidade acústica,
delimitando seu gatilho, domínio e as consequências desses fatores para uma
interpretação fonológica do fenômeno.
5.1. Nasalização tautossilábica
Em relação à nasalidade tautossilábica, notamos que, nos testes, N apresentou maior
duração em relação à V, sendo este alongamento médio de 62% para o PST e de 60%
para o PP, como indicado na Tabela 2 para o PST e na Tabela 3 para o PP.
Tabela 2. Duração média de N e V em PST.
Critério de Análise
N (ms)
V (ms)
D1 (%)
D2 (ms)
Tônicas Gerais
190
139
37
51
ˈC1 [-VOZ] V
184
137
34
47
ˈC1 [+VOZ] V
180
140
29
40
ˈV. C2[-VOZ]
174
136
28
48
ˈV. C2 [+VOZ]
179
140
28
39
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Pretônicas Gerais
180
95
89
85
C1 [-VOZ] V
171
87
97
84
C1 [+VOZ] V
177
103
72
74
V. C2[-VOZ]
138
93
72
45
V. C2 [+VOZ]
167
103
48
64
Média
174
117,5
48,1
56,5
D3 (ms)
10
44
34
Nota. C1 = consoante oclusiva antecedente; C2 = consoante oclusiva seguinte; N = segmentos nasais; V
= segmentos orais; D1 = diferença percentual entre N e V; D2 = diferença em milisegundos entre N e
V; D3 = diferença em milisegundos entre as vogais tônicas e pretônicas.
Tabela 3. Duração média de N e V em PP.
Critério de Análise
N (ms)
V (ms)
D1 (%)
D2 (ms)
Tônicas Gerais
160
111
44
49
ˈC1 [-VOZ] V
152
104
46
48
ˈC1 [+VOZ] V
174
115
51
59
ˈV. C2[-VOZ]
154
105
47
49
ˈV. C2 [+VOZ]
151
120
26
31
Pretônicas Gerais
155
79
96
76
C1 [-VOZ] V
147
66
125
81
C1 [+VOZ] V
165
97
69
68
V. C2[-VOZ]
150
72
107
78
V. C2 [+VOZ]
123
85
95
38
Média
153,1
95,3
60,6
57,8
D3 (ms)
05
32
----
27
Contrapondo os pares mínimos e análogos que continham a oposição N vs. V, de acordo
com a posição acentual, notamos, para além do invariável alongamento de N, que, em
pretônicas, a diferença entre a vogal nasal e sua contraparte oral é maior, sendo esse
alongamento de 89% para o PST e de 96% para o PP (Tabela 3).
Interpretamos esse fato como consequência da posição acentual, assim como
apontado na literatura para o PB (Moraes & Wetzels 1992; Wetzels 1997; Wetzels 2007).
Assumindo que o PST e o PP sejam variedades sensíveis ao peso silábico, constatamos
que, foneticamente, a laba portadora do acento será mais alongada (Massini 1991;
Massini-Cagliari 1992; vd. Wetzels 2007 para interpretação semelhante para o PB). Logo,
em termos fonéticos, a vogal oral de uma sequência tônica equivaleria a duas unidades
temporais, ao passo que a vogal oral da sequência pretônica a apenas uma. Em
consequência disso, ao compararmos ˈṽN e ˈV (em tônicas), na verdade estamos
comparando uma sílaba fechada por uma coda nasal /VN/ e, portanto, mais alongada, com
uma ˈV mais alongada devido à sua tonicidade. De outro modo, ao contrapormos ṽN e V
(em pretônicas), estamos comparando também uma sílaba travada por coda /VN/, mas,
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dessa vez, sua contraparte oral não possui qualquer alongamento, pois não está na sílaba
tônica. Por isso, o alongamento de N seria maior em pretônicas, atingindo quase o dobro
de V. Esse fato reforça a interpretação bifonêmica da nasalidade, demonstrando que a
maior duração de N, mesmo quando tal segmento está em sílabas pretônicas, não
apresentando qualquer possibilidade de alongamento fonético em decorrência do acento,
diz respeito à duração de um segmento vocálico mais um segmento consonantal /V+N/.
A fim de garantir que o alongamento de N em relação à V poderia ser sustentado
sem maiores influências coarticulatórias, mantivemos a distinção por acento e
investigamos os pares de acordo com o traço de vozeamento, a consoante oclusiva
antecedente C1 e a consoante seguinte C2. Enquanto C1 foi um fator que não influenciou,
de modo geral, a duração das vogais e o alongamento de N sobre V, a C2 diminuiu a
duração da sequência N.C2 em relação à sequência V.C2. Examinando a duração da
consoante oclusiva C2, notamos que esta era mais longa quando sucedia a vogal oral,
mesmo sendo as consoantes em questão exatamente iguais, em decorrência de uma
coarticulação maior do murmúrio com a consoante seguinte, uma vez que pode haver
bloqueio oral concomitante a saída de ar nasal. Esse alongamento é demonstrado pelas
tabelas 4 e 5, pelas quais verificamos a duração média em milissegundos de C2 [+vozeada]
e [-vozeada] em contexto tônico e pretônico.
Tabela 4. Oposição da C2 [+vozeada] e [-vozeada] que sucede a vogal nasal (N) e a C2 subsequente
à vogal oral (V) no PST em tônicas e pretônicas.
Tônica
Pretônica
[+vozeado]
[-vozeado]
[+vozeado]
[-vozeado]
Contexto
ˈṽN.C2
(ms)
ˈV.C2
(ms)
ˈṽN.C2
(ms)
ˈV.C2
(ms)
N.C2
(ms)
V.C2
(ms)
N.C2
(ms)
V.C2
(ms)
[a].C2
41
60
65
76
58
91
95
117
[e].C2
52
60
74
81
72
98
95
116
[i].C2
42
50
61
82
66
95
85
124
[o].C2
49
64
65
78
59
93
92
121
[u].C2
43
53
73
94
55
85
113
127
Média
45,4
57,4
67,6
82,2
62
92,4
96
121
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Tabela 5. Oposição da C2 [+vozeada] e [-vozeada] que sucede a vogal nasal (N) e a C2 subsequente
à vogal oral (V) no PP em tônicas e pretônicas.
Tônica
Pretônica
[+vozeado]
[-vozeado]
[+vozeado]
[-vozeado]
Contexto
ˈṽN.C2
(ms)
ˈV.C2
(ms)
ˈṽN.C2
(ms)
ˈV.C2
(ms)
N.C2
(ms)
V.C2
(ms)
N.C2
(ms)
V.C2
(ms)
[a].C2
37
63
63
81
49
91
76
114
[e].C2
53
65
68
95
74
96
77
110
[i].C2
37
61
57
90
52
85
79
118
[o].C2
44
73
60
91
51
82
83
102
[u].C2
38
57
58
79
50
81
118
139
Média
42,2
63,8
61,2
87,2
55,2
87
86,6
116,6
Nas Tabelas 4 e 5, a duração de C2 que seguia a vogal nasal, N.C2, é pareada à duração
de C2 que seguia a vogal oral, V.C2. Em geral, notamos que a oclusiva era, vozeada ou
não, mais longa, para todas as qualidades vocálicas, quando antecedida por uma vogal
oral. Considerando que as sílabas contrapostas possuem a mesma tonicidade, apresentam
a mesma qualidade vocálica como contexto segmental anterior e subsequente, contêm o
mesmo modo e ponto de articulação e são analisadas separadamente de acordo com o seu
vozeamento, o único fator que parece estar influenciando a alteração duracional desses
segmentos é a nasalização da vogal anterior. Esse processo modifica a duração de C2 que
segue N, sendo consoante menos longa em contraposição à C2 que sucede V. Em termos
percentuais, as diferenças entre a oclusiva subsequente à vogal nasal e subsequente à
vogal oral são demonstradas nas Tabelas 6 e 7.
Tabela 6. Diferença percentual (D%) entre C2 [+vozeada] e [-vozeada] que sucede a vogal nasal
(N) e a C2 subsequente à vogal oral (V) no PST em tônicas e pretônicas.
Tônica
Pretônica
Contexto
N
V
D (%)
N
V
D (%)
C2 [+VOZ]
45
57
26,7
62
92
48,4
C2 [-VOZ]
68
82
20,6
96
121
26
Tabela 7. Diferença percentual (D%) entre C2 [+vozeada] e [-vozeada] que sucede a vogal nasal
(N) e a C2 subsequente à vogal oral (V) no PST em tônicas e pretônicas.
Tônica
Pretônica
Contexto
N
V
D (%)
N
V
D (%)
C2 [+VOZ]
42
57
26,7
55
87
58,2
C2 [-VOZ]
68
82
20,6
87
117
34,5
50 GABRIEL ARAUJO | ARMANDA BALDUINO
DIACRÍTICA, Vol. 33, n.º 2, 2019, p. 41-68. DOI: doi.org/10.21814/diacritica.256
Assim como apontado por Moraes e Wetzels (1992) e por Sousa (1994) para o PB, a
maior duração da oclusiva seguinte à V, identificada pela descrição acústica duracional
dos segmentos, pode ser decorrente do alongamento vocálico de N, na medida em que
este “pode estar roubando algum tempo da duração da oclusiva” (Sousa 1994, p. 44).
Os valores de ṽN seriam mais alongados, então, por corresponderem a um “pedaço” de
C2 e não apenas por decorrerem do espraiamento do traço [+nasal]. Tendo o propósito de
testar se o alongamento de C2 sucessor à V e a paralela diminuição de C2 seguinte a N
poderiam afetar o maior alongamento de N, extraímos de N a parcela equivalente à
diferença entre as consoantes. Mesmo com essa extração, N permaneceu alongada em
relação à V, como exposto nas Tabelas 1 e 2.
O processo de subtração, considerando os valores originais da diferença percentual
entre N e V, é apresentado na Tabela 8 para os itens em que C2 correspondia a uma
sílaba tônica e, na tabela 9, para os dados em que C2 compunha uma sílaba pretônica. Para
o contexto tônico, embora a maior duração de N permaneça, é possível notar que o
alongamento diminui quase pela metade, reduzindo a diferença entre N e V, isto é,
permanecendo em torno de 28% para o PST e de 24% para o PP. Para as pretônicas, por
outro lado, mesmo ocorrendo a subtração da parcela equivalente à C2, a diferença
percentual permanece elevada. Como pode ser inferido a partir da Tabela 9, essa diferença
é de aproximadamente 80% para o PST, enquanto que no PP é de 55%.
Tabela 8. Valor médio considerando a subtração da porção equivalente a C2 em tônicas.
Português de São Tomé (PST)
Critério de Análise
N (ms)
V (ms)
Diferença (%)
Tônica V. C2 [-VOZ]
189
136
39
Subtraindo C2 [-VOZ]
174
136
28
Tônica V. C2 [+VOZ]
191
140
36
Subtraindo C2 [+VOZ]
179
140
28
Média Total
176,5
138
27,8
Português do Príncipe (PP)
Critério de Análise
N (ms)
V (ms)
Diferença (%)
Tônica V. C2 [-VOZ]
154
105
47
Subtraindo C2 [-VOZ]
128
105
22
Tônica V. C2 [+VOZ]
172
120
43
Subtraindo C2 [+VOZ]
151
120
26
Média Total
139,5
112,5
24
NASALIZAÇÃO VOCÁLICA NO PORTUGUÊS URBANO DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE 51
DIACRÍTICA, Vol. 33, n.º 2, 2019, p. 41-68. DOI: doi.org/10.21814/diacritica.256
Tabela 9. Valor médio considerando a subtração da porção equivalente a C2 em pretônicas.
Português de São Tomé (PST)
Critério de Análise
N (ms)
V (ms)
Diferença (%)
Pretônica V. C2 [-VOZ]
164
93
77
Subtraindo C2 [-VOZ]
138
93
48
Tônica V. C2 [+VOZ]
188
103
83
Subtraindo C2 [+VOZ]
167
103
62
Média Total
176
98
79,6
Português do Príncipe (PP)
Critério de Análise
N (ms)
V (ms)
Diferença (%)
Pretônica V. C2 [-VOZ]
150
72
108
Subtraindo C2 [-VOZ]
120
72
67
Tônica V. C2 [+VOZ]
155
85
82
Subtraindo C2 [+VOZ]
123
85
45
Média Total
121,5
78,5
54,7
Constatamos o alongamento consistente de N sobre V, e sendo o alongamento da vogal
nasal aqui considerado como indício de sua estrutura bifonêmica da nasalidade,
suscitamos a hipótese de que o PST e o PP, de acordo com os critérios até então
analisados, não apresentam vogais nasais intrínsecas, mas vogais nasais decorrentes de
um processo de espraiamento de traços da camada segmental para a camada CV, o que
caracterizaria a nasalização tautossilábica. No entanto, para definirmos uma posição
acerca da nasalidade vocálica tautossilábica no PST e no PP, examinamos também a
duração da vogal nasal sem a porção equivalente ao murmúrio nasal, bem como a própria
duração do murmúrio nasal.
No PST e no PP, da mesma forma que no PB e no PE, observou-se que o murmúrio
nasal é espectralmente perceptível diante de todas as qualidades vocálicas e ao ser seguido
por consoante oclusiva, como indicado na Figura 1.
Figura 1. Espectrograma de canto [ˈkɐ̃tʊ], em que o murmúrio é representado por /N/.
52 GABRIEL ARAUJO | ARMANDA BALDUINO
DIACRÍTICA, Vol. 33, n.º 2, 2019, p. 41-68. DOI: doi.org/10.21814/diacritica.256
No corpus, embora haja dados que abarquem as diferentes qualidades vocálicas das
variedades, constituindo esse um fator que nos permite constatar que a qualidade vocálica
não inibe a presença do murmúrio, o contexto articulatório que segue N é restrito às
oclusivas surdas e sonoras. Por isso, outros segmentos subsequentes não puderam ser
investigados e a análise dos pares considerou apenas itens em que o murmúrio foi
realizado, tendo como segmento seguinte uma consoante oclusiva, esta variando o ponto
de articulação e vozeamento.
3
Ao contrapormos a duração das vogais nasais desconsiderando o murmúrio nasal,
notamos que a duração de , em relação à V, pode ser reduzida (Tabelas 10 e 11). É
importante ressaltar que, como estamos contrapondo a duração das vogais nasais com e
sem murmúrio, demarcaremos como a vogal nasal mensurada sem murmúrio e como
N a vogal nasal mensurada com murmúrio.
Tabela 10. Oposição entre N, V e no PST em tônica.
N (ms)
V (ms)
(ms)
D1 (%)
D2 (%)
[a]
203,8
146,4
131,8
54,6
3,4
[e]
198,9
145,7
136,3
45,8
8,6
[i]
178,9
127,4
112
59,7
10,7
[o]
188,7
149,2
124,1
52,1
16,8
[u]
178,1
125,4
122,1
45,9
2,6
Média
189,6
138,8
123,6
53,4
10,9
Nota. D1 (%) = diferença percentual entre N e ; D2 (%) = diferença percentual entre e V.
Tabela 11. Oposição entre N, V e no PP em tônica.
N ms
V ms
ms
D1 %
D2 %
[a]
173,1
124,1
110,6
56,5
10,8
[e]
171,8
119,2
129,7
32,5
8,8
[i]
156
110,6
81,3
91,8
26,5
[o]
156,7
113,2
92,7
69
18,1
[u]
144,1
90,1
73,6
95,8
18,3
Média
160,3
111,4
97,6
64,3
12,4
Nota. D1 (%) = diferença percentual entre N e ; D2 (%) = diferença percentual entre e V.
A partir das Tabelas 10 e 11, distinguimos duas análises para o contexto tônico. A
primeira expressa a diferença entre a vogal nasal mensurada com o apêndice (N) e a
vogal nasal sem o murmúrio (), a qual é indicada na coluna D1 (%). Já a segunda foca
3
Sugerimos, em uma análise futura, que o contexto subsequente à N seja ampliado, e que o apêndice
nasal no PST e no PP seja investigado tendo em vista diferentes segmentos, inclusive as fricativas, as
quais em PB podem limitar sua presença.
NASALIZAÇÃO VOCÁLICA NO PORTUGUÊS URBANO DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE 53
DIACRÍTICA, Vol. 33, n.º 2, 2019, p. 41-68. DOI: doi.org/10.21814/diacritica.256
na relação entre a duração da vogal nasal mensurada sem apêndice () e sua
correspondente oral (V), demonstrando a diferença percentual entre tais mensurações na
coluna D2 (%). Nessa coluna, os valores sublinhados indicam, em percentual, o quanto a
vogal oral era maior em relação à vogal nasal sem o apêndice. Os dados não sublinhados
assinalam a manutenção do alongamento de sobre V, ou valores positivos.
Com base nos resultados indicados por D1 (%), notamos que, como esperado, N é
mais longa do que em ambas as variedades. Entretanto, ao deslocarmos o foco de análise
para D2 (%), verificamos que é 11% menor do que V no PST e 12% menor no PP,
mesmo considerando os valores negativos. Logo, em contraste aos resultados de Valentim
(2009) para o PB, os quais apontam que “(...) mesmo sem a inclusão da medida do
murmúrio nasal, as vogais nasais tiveram suas durações maiores que as orais” (Valentim
2009, p. 4), nas variedades de STP, a duração de em contexto tônico é inferior à duração
de V, quando retiramos a parcela do murmúrio nasal.
Esses resultados sugerem que, em posição tônica, o apêndice nasal, representado
por /N/, embora não seja uma consoante perceptivamente especificada, ocupa uma
posição temporal dentro da sílaba e é responsável por alongar a duração das vogais nasais
no PST e no PP, diferentemente do PB (Valentim 2009), variedade na qual o alongamento
de é mantido de forma independente ao murmúrio nasal. Assumindo, o acento como
propulsor de alongamento vocálico, infere-se que V é naturalmente mais alongada em
tônicas, na medida em que está posicionada em uma região de maior proeminência
lexical, possuindo, assim, duração quase equivalente a uma sílaba travada. De outro
modo, N, por ser uma sílaba fechada na coda por /N/, apresentaria duração alongada
independentemente de estar em posição tônica, pois /N/ seria responsável por esse
alongamento e não o acento lexical. Esse fato é reforçado pela literatura dedicada ao PB
(Massini 1991; Wetzels 2007), na qual casos de sílabas travadas são amplamente
apontados como portadores de acento lexical, por corresponderem a uma sílaba pesada.
Um dos seus correlatos fonéticos é, justamente, a maior duração.
Diante disso, a maior duração de V em relação à N, no PST e no PP, sugere, em
termos duracionais, que o murmúrio nasal possa ser o correlato fonético de uma coda
nasal subjacente não especificada /N/, responsável por alongar a duração da sílaba em
que N está posicionada. Assim, ao retirarmos o apêndice /N/, estamos contrapondo , a
princípio sem alongamento, já que o seu alongamento duracional provinha da coda, com
V, vogal oral alongada por conta da proeminência lexical. Sendo 11% menor para o
PST e 12% menor para o PP em relação à V, notamos que o alongamento da sílaba em
questão, portadora do acento lexical, era engatilhado pela presença do murmúrio, e não
da vogal. Vale lembrar que, de acordo com Maddieson (1984), a vogal tende a ser mais
curta em sílabas fechadas, ao passo que em sílabas abertas ela tende a ser mais longa.
Desse modo, ao desconsiderar o murmúrio, eliminamos a duração equivalente à coda e
ficamos apenas com a duração da vogal que, tendencialmente, por compor uma sílaba
travada, poderia ser mais curta. Tais correlatos acústicos constituem, portanto, indícios
para sustentação de uma interpretação subjacente bifonêmica, pois atesta (i) que o
apêndice ocupa uma posição temporal dentro da sílaba; (ii) que esta posição equivale à
duração de uma coda e (iii) que esta posição temporal é considerada pelo acento lexical,
na medida em que ele é o propulsor do maior alongamento silábico previsto para a posição
54 GABRIEL ARAUJO | ARMANDA BALDUINO
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tônica.
A fim de confirmar tal interpretação, é preciso que analisemos a duração das vogais
em questão tendo em vista (i) o contexto pretônico, considerando que , sem murmúrio,
contraposto à V átona, sem qualquer alongamento duracional proveniente da
proeminência lexical e (ii) a descrição duracional de em relação à V, quando
desconsiderada a porção equivalente ao murmúrio nasal. Os resultados são expostos nas
Tabelas 12 e 13.
Tabela 12. Oposição entre N, V e no PST em pretônica.
N ms
V ms
ms
D1 %
D2 %
[a]
186
101
102,2
81,9
12,9
[e]
186,5
92,5
92,2
102,1
1,8
[i]
175,6
90,5
98,2
78,8
1,4
[o]
181,2
90,5
109,8
65
21,3
[u]
170,9
99,5
104,3
63,8
41,8
Média
180
94,8
101,3
77,7
6,8
Nota. D1 (%) equivale à diferença percentual entre N e e D2 (%) à diferença percentual entre e V.
Tabela 13. Oposição entre N, V e no PP em pretônica.
N ms
V ms
ms
D1 %
D2 %
[a]
157,4
86,3
91,2
72,6
5,7
[e]
163,5
83
101,6
60,9
22,4
[i]
151,8
72,1
87,3
73,8
21,1
[o]
160,9
82,7
93,8
71,5
13,4
[u]
139,1
70,9
82,1
69,4
15,8
Média
154,5
79
91,2
69,4
15,4
Nota. D1 (%) equivale à diferença percentual entre N e e D2 (%) à diferença percentual entre e V.
De modo distinto ao contexto tônico, as vogais nasais posicionadas em sílabas pretônicas,
independentemente da presença do murmúrio nasal, permanecem alongadas em relação a
sua contraparte oral: 7% para o PST (vd. Tabela 12) e 15% para o PP (vd. Tabela 13).
Novamente, a interface entre acento e o fenômeno analisado se faz necessária e, nesse
contexto átono, é preciso considerarmos que a comparação entre a vogal nasal e a vogal
oral será realizada considerando V como livre de qualquer alongamento por conta da
proeminência lexical. Logo, o contexto átono funciona como um parâmetro mais
assertivo para analisar o comportamento de , sem a presença do murmúrio nasal, em
relação à V, pois evidencia apenas o alongamento propiciado a partir da assimilação da
coda nasal e sua contraparte de análise também não detém duração alongada por conta da
posição acentual. Para as sílabas pretônicas é possível afirmarmos, assim, que o
espraiamento do traço [+nasal] para a vogal anterior é responsável por alongar sua
duração no PST e PP, posto que não nenhuma outra razão segmental ou
NASALIZAÇÃO VOCÁLICA NO PORTUGUÊS URBANO DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE 55
DIACRÍTICA, Vol. 33, n.º 2, 2019, p. 41-68. DOI: doi.org/10.21814/diacritica.256
suprassegmental que justifique o alongamento de em pretônicas.
Atentos à coluna equivalente a D1 (%), notamos que N é maior em relação à ,
sendo esse alongamento de 85% para o PST e de 69% para o PP. O grande percentual,
identificado pelo contraste entre N e no contexto pretônico, endossa a hipótese
levantada no contexto tônico, a qual pontua que o murmúrio ocupa uma posição temporal
dentro da sílaba. Isso posto, mesmo que não haja perceptualmente ou espectralmente uma
consoante realizada na superfície de modo pleno, o apêndice nasal, detectado nos dados
quando sucedido por consoantes oclusivas, pode corresponder a um correlato fonético de
um fonema nasal na camada subjacente no PST e no PP.
Rothe-Neves e Valentim (2012) assumem que o apêndice nasal é produzido pelo
fechamento da cavidade oral e, tal fato, o descaracteriza como parte da vogal, uma vez
que o ar escoa apenas pela cavidade nasal. Por isso, entende-se, de acordo com essa
concepção, que a mensuração das vogais nasais deve ser realizada desconsiderando tal
porção. O murmúrio nasal, nesse sentido, demonstraria características fonéticas
consonantais e reforçaria, portanto, nossa hipótese de que este seria um correlato fonético
de um fonema consonantal (vd. Medeiros 2007).
Nossa interpretação pode ser, ainda, reforçada a partir da concepção de que o
murmúrio não corresponde a uma porção da vogal nasal por exprimir características
consonantais. Embora foneticamente tais interpretações sejam consistentes e assumamos
as características consonantais do murmúrio, como o fechamento da cavidade oral em sua
produção, justamente como um correlato fonético de uma consoante nasal na forma
fonológica, aqui questionamos o descarte da duração do apêndice para análise fonológica.
Se consideramos a vogal nasal tautossilábica, o resultado fonético de uma sequência
fonológica bifonêmica /VN/ nas variedades de STP, e constatamos a presença do
murmúrio nasal nas análises espectrais, indicando que tal elemento ocupa posição
temporal dentro da cadeia de fala e, portanto, dentro da sílaba em que a N está localizada,
não podemos ignorar sua presença em nossa análise fonológica.
Para a perspectiva teórica da fonologia CV, as unidades temporais são uma das
camadas constituintes da sílaba e, por isso, o murmúrio, por possuir duração segmental,
é parte componente desta. Porém, perceptivelmente, o reflexo desta unidade temporal no
PST e no PP não é captado pelo ouvido em forma de realização de uma consoante nasal
plena, mas pela nasalização vocálica que acomete a vogal coarticulada à esquerda da
consoante nasal subjacente. Desse modo, ao mensurarmos os segmentos e trabalharmos
com unidades de medidas, não podemos rejeitar a presença do murmúrio em nossas
mensurações, já que, se por um lado este não pode ser considerado parte da vogal, por ser
produzido com a cavidade oral fechada, por outro pode corresponder, como concebemos
ao longo dessa análise, um correlato fonético de um segmento fonológico consonantal
(daí o fechamento da cavidade oral) subjacente e com ponto de articulação não
especificado que espraia seu traço de nasalidade à vogal anterior.
Ao discutir essa questão, Sousa (1994) chama atenção para o fato de,
espectralmente, não ser tão simples separar vogal e murmúrio. Para a autora, a vogal nasal
é composta por um período oral e pelo apêndice nasal, o qual é suscetível a ser isolado.
Porém, esses momentos não são descontínuos e, para Sousa (1994), uma transição
gradativa entre fase oral e murmúrio nasal, denominada como fase transicional (Sousa
56 GABRIEL ARAUJO | ARMANDA BALDUINO
DIACRÍTICA, Vol. 33, n.º 2, 2019, p. 41-68. DOI: doi.org/10.21814/diacritica.256
1994, p. 38). Em regra, nenhuma das três fases apresenta comportamento autônomo e,
por isso, a vogal nasal, sob esse ponto de vista, pode ser considerada como uma unidade.
Isto posto, independentemente do murmúrio não possuir traços acústicos e articulatórios
que o justifiquem como vogal, ele deve ser incorporado às mensurações da vogal nasal
(Sousa 1994, p. 132).
Com base nessa discussão, para descrevermos duracionalmente o murmúrio nasal
e, por consequência, nos certificarmos de que este ocupa, de fato, uma posição temporal
dentro da sílaba e compreendermos melhor seu comportamento no PST e no PP,
extraímos sua duração em milissegundos. Os resultados podem ser confirmados através
da Tabela 14, na qual apresentamos uma compilação das médias duracionais obtidas para
os contextos tônicos e pretônicos, para todas as qualidades vocálicas que antecediam o
murmúrio e para ambas as variedades estudadas.
Tabela 14. Duração do murmúrio nasal no PST e no PP.
PST
PP
Murmúrio
Tônica
Pretônica
Tônica
Pretônica
/aN/
73,4
62
66,4
66,2
/eN/
65,7
65,2
61,3
69,2
/iN/
62,1
70,9
59,9
67,1
/oN/
62
72,1
56,6
64,2
/uN/
60,6
68,8
56,7
58,9
Média
66,6
67,8
60,2
65,1
Constatamos que o murmúrio se mantém por volta de 65 ms para as variedades estudadas
e não grande alteração nas médias obtidas para o apêndice nasal seguido por cada
qualidade vocálica abarcada (Tabela 14). A duração média de 65 ms para o apêndice nasal
corrobora o argumento de que este ocupa uma posição temporal dentro da sílaba, posto
que a duração de 65ms é longa e possivelmente indica um correspondente fonológico
dentro da sílaba ligado a uma unidade temporal na camada CV.
Diferentemente da duração do murmúrio nasal que possui baixa variabilidade, em
PST a duração dos segmentos nasais no ataque é menos homogênea e varia mais em
relação a cada informante. Todavia, a despeito dessa oscilação, podemos perceber que,
em ambas as variedades, [m] é mais longa do que [n] e, com exceção do PP, em que a
duração média de [n] é de 65 ms, semelhante à duração média do murmúrio nasal, as
consoantes nasais em posição de ataque são mais longas em relação ao apêndice nasal.
Assim, não podemos afirmar que a duração do murmúrio nasal seja equivalente à duração
de [m] e [n] no ataque silábico. Essa conclusão, embora não sustente de maneira direta a
hipótese bifonêmica, não a invalida e pode corroborar a concepção de que o murmúrio é
o correlato fonético equivalente a uma coda dentro da estrutura silábica do PST e do PP.
Tanto para o PB, quanto para o PE, há estudos que alertam para as diferenças
duracionais que um mesmo segmento porta, a depender de sua posição silábica (Haupt
2007; Rodrigues 2015). No PB, tal diferença foi apontada por Haupt (2007) que, ao
NASALIZAÇÃO VOCÁLICA NO PORTUGUÊS URBANO DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE 57
DIACRÍTICA, Vol. 33, n.º 2, 2019, p. 41-68. DOI: doi.org/10.21814/diacritica.256
investigar a duração das fricativas, indica que estas, a despeito do ponto de articulação,
mantêm-se mais alongadas no ataque em relação à sua contraparte em coda.
4
Rodrigues
(2015, p. 180), analisando a duração das laterais alveolares [l] em PE, observa o seguinte
contínuo: ataque simples >> coda >> ataque complexo, demonstrando que a duração em
milissegundos da consoante decresce da posição de ataque para coda e depois de coda
para a segunda posição do ataque complexo. Ainda de acordo com Rodrigues (2015, p.
180), no PE [l] em ataque simples tem a duração de 68 ms, na segunda posição de um
ataque complexo de 48 ms e em coda de 55,67 ms. Esses estudos dedicados ao PB e ao
PE permitem que levantemos a hipótese segundo a qual nas variedades de STP o
murmúrio seja naturalmente um pouco mais breve em relação ao ataque nasal justamente
por ser o correlato fonético de uma consoante subjacente em coda. Consequentemente,
isso indicaria que a posição temporal silábica atestada pela duração do apêndice,
equivaleria a um segmento de travamento silábico. Entretanto, estamos novamente nos
baseando no comportamento do PB e do PE, para analisar um fenômeno do PST e do PP,
e, por isso, tais pressupostos deveriam ser examinados tendo em vista os próprios dados
das variedades estudadas e visando a comparação entre a duração das consoantes do
ataque e da coda valendo-se das demais consoantes que poderiam ocupar tanto posição
de ataque quanto de travamento silábico.
Por fim, a análise de palavras que continham nasalidade tautossilábica em final de
palavra e frase, revelou que, recorrentemente, a nasalidade vocálica desaparecia nessa
posição em contexto átono. Assim, entre as produções dos informantes, encontramos
dados como: álbum [ˈaɫ.bũ] ~ [ˈaɫ.bu] e zepelim [ˈzɛ.pe.lĩ] ~ [ˈzɛ.pe.lɪ]. A não realização
da nasalidade estaria de acordo com o comportamento de outras consoantes em coda no
PB e no PE (Callou & Leite 2009; Hora, Pedrosa & Cardoso 2010; Mateus & Rodrigues
2003). Segundo Selkirk (1982), a coda é concebida como a posição mais débil da estrutura
silábica, sendo suscetível à variação e a apagamentos, que priorizariam a estrutura CV.
Dessa forma, tanto a não realização da coda como consoante da camada segmental nos
dados do PST e do PP, quanto a não nasalização da vogal, sugerem a presença de uma
consoante nasal em coda e atestam a fragilidade de tal posição. Logo, em dados como
álbum [ˈaɫ.bũ] ~ [ˈaɫ.bũ] e zepelim [ˈzɛ.pe.lĩ] ~ [ˈzɛ.pe.lɪ], nos quais observamos a
nasalidade em fronteira de palavra, a consoante /N/ em coda pode ser apagada mesmo
antes do espraiamento do traço [+nasal].
O alongamento detectado em todos os contextos, em conjunto com o
desaparecimento da nasalidade, a qual atesta o comportamento da sílaba nasal como
pesada, endossam nossa hipótese inicial que interpreta a nasalidade vocálica como
bifonêmica em ambas as variedades faladas em STP. A vogal nasal, no PST e no PP,
portanto, equivale fonologicamente à duração de uma vogal propriamente dita, mais a
duração de um reflexo nasal em posição de coda. Todavia, embora afirmemos a natureza
bifonêmica da nasalidade tautossilábica no PST e no PP, não podemos afirmar que /N/ da
sequência /VN/ constitua uma nasal plenamente realizada segmentalmente.
5
Analisando
4
Os valores médios em milissegundos obtidos por Haput (2007) são: (i) para ataque [s] 117141; [z] 72
69; [ʃ] 125117; [ʒ] 7860; (ii) para coda: [s] 72; [z] 49; [ʃ] 58; [ʒ] 52 (Haupt 2007, pp. 4445).
5
Estudos aerodinâmicos poderiam trazer mais evidências a respeito da natureza do reflexo acústico
identificado (vd. Shosted 2006).
58 GABRIEL ARAUJO | ARMANDA BALDUINO
DIACRÍTICA, Vol. 33, n.º 2, 2019, p. 41-68. DOI: doi.org/10.21814/diacritica.256
os dados no Praat, não constatamos uma consoante nasal plenamente especificada na
coda, apenas identificamos o murmúrio nasal (vd. Figura 2) por faixas menos intensas no
espectrograma, caracterizando o enfraquecimento de F2 da porção oral da vogal.
5.2. Nasalidade Heterossilábica
A nasalidade heterossilábica, no PST e no PP, não produz distinção de significado e
depende tanto de uma consoante nasal no ataque heterossilábico à vogal nasalizada,
quanto do contexto acentual para ser engatilhada. Esse tipo de nasalização, por conservar
a consoante nasal que propicia o espraiamento de traço, não proporciona maior duração
dos segmentos nasalizados como ocorre com a nasalidade tautossilábica. Pelo contrário,
assim como Moraes e Wetzels (1992, p. 159) indicam para o PB, a vogal nasalizada é,
inclusive, mais breve do que a vogal oral em PST e em PP.
Nas tabelas 18 e 19, ao contrapormos os valores médios dos cinco informantes do
PST e do PP para cada qualidade vocálica que apresentou nasalidade heterossilábica, com
os valores prévios, desses mesmos informantes, para .N e V em posição tônica,
constatamos que a vogal oral é 21% alongada em relação à vogal nasalizada no PST. De
modo distinto, no PP, a vogal nasalizada mantém-se alongada quanto contraposta à vogal
oral, apresentando uma diferença percentual entre .N e V de aproximadamente 8%.
Tabela 18. Duração da vogal nasal (N), nasalizada (.N) e oral (V) em posição tônica no PST.
N ms
.N ms
V ms
D1 %
[a]
203,8
130,2
146,4
12,4
[e]
198,8
124,9
145,7
16,6
[i]
178,9
114,2
127,4
11,5
[o]
198,7
104,2
149,2
42,6
[u]
178,1
98,4
125,4
27,4
Média
189,6
114,5
138,8
20,8
Nota. A diferença em % equivale ao contraste duracional entre .N e V.
Tabela 19. Duração da vogal nasalizada (.N), nasal (N) e oral (V) em posição tônica no PP.
.N ms
N ms
V ms
D1 %
[a]
173,1
89,9
86,3
4,2
[e]
171,8
90,3
83
8,8
[i]
156
83,9
72,1
16,4
[o]
156,7
88,7
82,7
7,3
[u]
144,1
72,6
70,9
2,4
Média
160,3
85,1
79
7,7
Nota. A diferença em % equivale ao contraste duracional entre .N e V.
O fato de a vogal nasalizada, no PB, segundo Moraes e Wetzels (1992), ser mais curta
em relação à vogal oral é capaz de descartar explicações articulatórias e coarticulatórias
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DIACRÍTICA, Vol. 33, n.º 2, 2019, p. 41-68. DOI: doi.org/10.21814/diacritica.256
para a nasalidade tautossilábica, posto que, de acordo com essa perspectiva, tanto a
nasalidade engatilhada a partir de uma coda nasal, quanto a nasalidade heterossilábica,
pressupunham a maior duração das vogais nasais e nasalizadas por conta do gesto
articulatório complementar, envolvendo as cavidades oral e nasal, exigido na produção
desses sons. Como pode ser comprovada nas Tabelas 18 e 19, esse não é o caso e, mesmo
apresentando nasalidade em decorrência do espraiamento do traço [+nasal], as vogais
nasalizadas não apresentam duração muito elevada, como verificado nos casos de
nasalização engatilhado por coda. No PST, a vogal nasalizada expressa uma média,
inclusive, um pouco inferior, ao ser confrontada à sua contraparte oral. Já no PP, a vogal
nasalizada apresenta duração similar à vogal oral, sendo 8% alongada em relação a esta,
valor que contrasta com a diferença estabelecida entre N e V, a qual é de 44% (vd. Tabela
2). O comportamento duracional distinto, atestado entre as vogais nasalizadas e as
vogais orais, enfatiza, portanto, a existência de dois processos de nasalidade no PST e no
PP: (i) a nasalidade tautossilábica, caracterizada pela presença, em todos os itens do
corpus, do murmúrio nasal e, também, pelo maior alongamento de N em relação à V,
onde N equivale à sequência bifonêmica /VN/ na forma subjacente e (ii) a nasalidade
heterossilábica, caracterizada pela baixa duração de .N em tônicas e pela exigência de
uma consoante nasal no ataque nasal subsequente para espraiamento do traço de
nasalidade. Embora ambos os processos demonstrem a assimilação regressiva do traço de
nasalidade como ação suscitando a nasalização vocálica, esse movimento é computado e
se dá de formas diferentes entre a nasalidade tautossilábica e a nasalidade heterossilábica
em tônicas, refletindo, por isso, em características também distintas.
Em termos fonéticos, a nasalidade heterossilábica é demarcada pela ausência do
murmúrio nasal, como indicado na Figura 2, em que [ɐ̃], distintamente da vogal
nasalizada de canto [ˈkɐ̃tʊ] (Figura 2), não é seguida pelo apêndice nasal /N/, mas sim
pela própria consoante em ataque.
Figura 2. Espectrograma de cano [ˈkɐ̃nʊ].
Uma das peculiaridades do processo remete à opcionalidade de aplicação. Como vimos
na seção 5.1., a nasalidade vocálica tautossilábica é, no geral, obrigatória nas variedades
estudadas, podendo não ser aplicada apenas em fronteira de palavra, contexto de coda
final que possibilita o apagamento da coda /N/ antes do espraiamento do traço de
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nasalidade. Em contrapartida, a nasalidade heterossilábica, nos dados observados, não foi
constatada em itens nos quais a vogal anterior à consoante nasal estava em uma sílaba
pretônica, independentemente de /N/ ser uma consoante plena, realizada em ataque como
apresentado na Tabela 20.
Tabela 20. Realização dos itens em que V.N estava em sílaba pretônica.
Item
Transcrição
Banana
[ba.ˈna.nɐ] ~ [ba.ˈnɐ̃.nɐ]
Camada
[ka.ˈma.dɐ]
Caneta
[ka.ˈne.tɐ]
Seja para o PST, seja para o PP, a V da sequência V.N, assinalada em (2) pela vogal
sublinhada, não foi nasalizada por nenhum dos informantes, indicando, a princípio, a não
aplicação do processo em sílabas átonas. Em tônicas, por outro lado, a nasalização oscilou
para [a], e ora essa era aplicada, ora não era, como indicado na Tabela 21.
Tabela 21. Realização dos itens em que V.N estava em sílaba tônica.
Item
Transcrição
Banana
[ba.ˈna.nɐ] ~ [ba.ˈnɐ̃.nɐ]
Cama
[ˈka.mɐ] ~ [ˈkɐ̃.mɐ]
Cano
[ˈka.nʊ] ~ [ˈkɐ̃.nʊ]
As produções das vogais baixas precedendo sílabas iniciadas com consoante nasal, como
cama, cano e banana, apresentam um comportamento distinto da nasalidade
heterossilábica do PST e do PP, em relação ao PB e ao PE. De fato, realizações como
cama [ˈka.mɐ], cano [ˈka.nʊ] e banana [ba.ˈna.nɐ] não aparecem descritas na literatura
como características dessas variedades da língua portuguesa. Isso poderia compor uma
característica do PST e do PP. Assim, a possibilidade da nasalidade heterossilábica,
no PST e no PP, ser opcional em todos os contextos, inclusive quando o segmento a ser
nasalizado corresponde à [a] em posição tônica. Para confirmarmos tal comportamento,
analisamos os formantes que compõem as vogais nasalizadas. Dessa forma, extraímos os
valores dos primeiros formantes, respectivamente F1, F2 e F3, das vogais nasalizadas e,
também, das vogais nasais e orais. A mensuração foi realizada a partir da porção medial
do segmento e os resultados estão listados na Tabela 22 para o PST e na Tabela 23 para
o PP.
Tabela 22. Média geral em Hertz dos formantes da vogal nasal e oral de [a] no PST.
[ɐ̃] Nasalizada
[ɐ̃] Nasal
[a] Oral
F1 (Hz)
637,2
635,8
721,2
F2 (Hz)
1394,6
1407,1
1420,8
F3 (Hz)
2473,8
2274
1911,9
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Tabela 23. Média geral em Hertz dos formantes da vogal nasal e oral de [a] no PP.
[ɐ̃] Nasalizada
[ɐ̃] Nasal
[a] Oral
F1 (Hz)
434,5
497,9
716,4
F2 (Hz)
1489,2
1554,6
1636,5
F3 (Hz)
2717,7
2772,7
2975,5
Por meio dos resultados indicados nas Tabelas 22 e 23, notamos que, aproximando-se ao
apontado por Medeiros (2007, p. 173), que indica o fato de [ɐ̃] possuir F1 cerca de 100
200 Hz menor quando contraposto ao F1 de [a], F1 de [ɐ̃] nasal e nasalizada é menor ao
ser contraposta ao F1 da vogal oral em PST e em PP.
No caso dos dados apresentados para o PST, o F1 de [ɐ̃], das palavras que
apresentam a vogal nasal, é cerca de 95,4 Hz menor do que o F1 de [a] dos itens com
vogais orais. O mesmo pode ser constatado para a vogal nasalizada [ɐ̃], cujo F1, nesse
caso, é 84 Hz menor em relação ao F1 de [a]. Para o PP, a diferença entre o F1 das vogais
com traço de nasalidade é ainda ampliada quando contraposta ao F1 da vogal oral. Assim,
tanto a vogal nasalizada [ɐ̃], quanto a vogal nasal, contêm um F1 cerca de 200 Hz mais
baixo, em média, do que o F1 da vogal oral. Isso ocorre devido à modificação da abertura
da mandíbula que, ao produzir a vogal baixa como nasal, se eleva e, portanto, diminui o
F1. Desse modo, notamos que uma das características da nasalidade vocálica em PST e
em PP, seja esta tauto ou heterossilábica, é justamente o alçamento da vogal que não será
mais realizada como baixa.
Considerando, então, o valor do F1 das vogais nasalizadas [ɐ̃], o qual aproxima-se
mais dos valores obtidos para a vogal nasal [ɐ̃], sendo ambos mais baixos do que o F1 de
[a], retomamos os itens que apresentam uma vogal [a] oral, mesmo em contexto propício
para a nasalização heterossilábica, obrigatória no PB e no PE. Dessa maneira, buscando
atestar a oralidade dos segmentos neste contexto, comparamos o F1 dos segmentos orais
de cada informante que assim o produziu, com os valores médios de F1 nasalizada, de F1
nasal e de F1 oral. Nossa hipótese preliminar era de que, caso o segmento tenha sido
oralizado de fato, ele possuiria um F1 mais elevado e próximo ao primeiro formante da
vogal oral, posto que a vogal [a], sem a nasalidade por parar de alimentar a regra de
alçamento, permaneceria baixa. Se isso ocorresse, a análise inicial seria confirmada,
assim como a não obrigatoriedade da aplicação da nasalidade heterossilábica em PST e
em PP. A análise é exposta na Tabela 24 para o PST e na Tabela 25 para o PP.
6
6
A vogal [a] de cato apresenta o valor médio de F1 de 825 Hz para o PST e de 704 Hz para o PP. Tais
valores são atribuídos, individualmente, para os informantes em evidência na última coluna.
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Tabela 24. F1 (Hz) das realizações orais em contexto de nasalização silábica contraposto às médias
gerais dos formantes identificados para a vogal nasal e oral no PST.
Informante I Masculino
F1 de [a] não
nasalizada
Média F1 de [ɐ̃]
nasalizada
Média F1 de [ɐ̃]
nasal
Média F1 de [a]
oral
Cama
958,9
694,4
705,9
941,5
Mana
941,3
694,4
705,9
941,5
Informante IV Masculino
F1 de [a] não
nasalizada
Média F1 de [ɐ̃]
nasalizada
Média F1 de [ɐ̃]
nasal
Média F1 de [a]
oral
Cama
900
637,2
610,8
799,2
Mana
912
637,2
610,8
799,2
Informante V Masculino
F1 de [a] não
nasalizada
Média F1 de [ɐ̃]
nasalizada
Média F1 de [ɐ̃]
nasal
Média F1 de [a]
oral
Cama
853,1
630,2
623,9
729,7
Como indicado na Tabela 24, pela mensuração dos formantes confirmamos como oral a
produção de mana e cama do informante I e IV e a realização de cama do informante V.
O F1, tanto de cama quanto de mana, nos primeiros casos, mantêm-se elevados e
aproximam-se mais da média oral, sendo inclusive maiores em relação a esta. O mesmo
pode ser observado em relação ao F1 de cama do informante V, o qual aproxima-se mais
do F1 de [a] do que de [ɐ̃]. Dessa forma, ao contrapormos o F1 de mana e mata, a
qualidade oral da vogal é ainda reforçada, posto que obtivemos o mesmo valor de 941,3
Hz para o informante I e de 912 Hz para o informante IV. Comparando o F1 de cama e
cato, vemos que aquele possui 958 Hz, 900 Hz e 853,1 Hz no dados produzidos pelos
informantes I, IV e V, respectivamente, ao passo que, para os mesmo informantes, a vogal
[ɐ̃], nasalizada em decorrência de um ataque nasal, apresenta os valores de 694,4 Hz,
637,2 Hz e 630,2 Hz para cada informante. Concluímos, assim, que a vogal em contexto
de nasalização heterossilábica, porém não nasalizada, tem frequência igual ou maior
quando contraposta à frequência da vogal oral e afasta-se da vogal que de fato é realizada
como [+nasal] nesse mesmo contexto.
Para o PP, os dados não nasalizados, mesmo estando em contexto tônico de
nasalidade heterossilábica, também foram recorrentes entre os informantes. Assim, na
tabela 25, verificamos o valor de F1 de [a] da sílaba tônica dos itens banana, cama e cano,
contraposto ao valor médio de F1 de itens nasais e orais para os informantes I, IV e V.
Da mesma forma que expomos para o PST, a natureza oral e baixa da vogal em contexto
de nasalização heterossilábica é confirmada no PP, corroborando, assim, a não
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obrigatoriedade do processo de nasalização para a vogal aberta [a] em sílabas tônicas
sucedidas por um ataque nasal, como indicado na Tabela 25.
Tabela 25. F1 (Hz) das realizações orais em contexto de nasalização silábica contraposto às médias
gerais dos formantes identificados para a vogal nasal e oral no PP.
Informante I Feminino
F1 de [a] não
nasalizada
Média F1 de [ɐ̃]
nasalizada
Média F1 de [ɐ̃]
nasal
Média F1 de [a]
oral
Cano
728,6
577,6
623,1
797,2
Cama
811,2
577,6
623,1
797,2
Informante IV Feminino
F1 de [a] não
nasalizada
Média F1 de [ɐ̃]
nasalizada
Média F1 de [ɐ̃]
nasal
Média F1 de [a]
oral
Cano
618,6
312,6
481,5
714,3
Informante V Feminino
F1 de [a] não
nasalizada
Média F1 de [ɐ̃]
nasalizada
Média F1 de [ɐ̃]
nasal
Média F1 de [a]
oral
Banana
591,4
347,7
353,5
590,8
Na Tabela 23, mesmo que os valores de F1 de [a] não nasalizada, no PP, sejam menores
do que o F1 de [a] não nasalizada dos informantes do PST, notamos que, ao ser
contraposta com os demais valores expostos na tabela, há uma aproximação maior entre
[a] realizada como oral e [a] oral. Logo, assim como constatado para o PST, o F1 [ɐ̃]
nasal/nasalizada é consistentemente menor em relação à [a], fator que atesta a oralidade
da vogal baixa de itens como cano, cama e banana no PP.
Em resumo, a nasalidade heterossilábica, em PST e em PP, é caracterizada por um
espraiamento regressivo do traço [+nasal], engatilhado por uma consoante nasal no
ataque. A nasalização depende, ainda, do acento lexical da palavra e o processo só foi
identificado quando a vogal nasalizada era contígua ao ataque nasal e compunha uma
sílaba tônica. Em pretônicas, o fenômeno não foi detectado em nosso corpus.
6. Discussão
O PST e o PP apresentam dois tipos de nasalização: tautossilábica e heterossilábica. A
nasalização tautossilábica é engatilhada por uma coda nasal, a qual espraia
regressivamente seu traço de nasalidade para a vogal anterior, que passa a ser realizada
também como nasalizada. Entretanto, essa consoante não é mantida na camada segmental
e, por ser elidida, não é captada perceptivamente ou espectralmente como uma consoante
nasal na forma de superfície. Em decorrência do segmento ser apagado, não verificamos,
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por um lado, a realização plena dessa consoante em coda, porém, por outro, os reflexos
fonéticos de tal consoante são constatados pela nasalização das vogais e,
consequentemente, pela maior duração destas em decorrência do murmúrio nasal
identificado. À vista disso, concebemos, dentro de uma perspectiva multinivelar, que o
apagamento do segmento nasal não acarreta, necessariamente, apagamento de todos os
traços que o compõe. O murmúrio foi identificado em todos os dados após as vogais-alvo,
sendo sua duração similar em todos os contextos. Isso nos leva a concluir, então, que
mesmo a consoante nasal sendo elidida, o espraiamento do traço [+nasal] para a vogal
anterior mantém C, unidade temporal correspondente à /N/ no esqueleto silábico. Dessa
forma, o timing da sequência CVC ou VC é mantido, como ilustrado na Figura 3, sendo
refletido, no espectrograma, pela presença do murmúrio nasal e o consequente
alongamento de N.
Figura 3. Espraiamento do traço [+nasal] para a vogal tautossilábica.
Em fronteira de palavra, foi constatada a possibilidade de não nasalização nos dados.
Logo, itens como álbum foram produzidos como [ˈaɫ.bʊ] , sem qualquer traço de
nasalidade incidindo sobre [ʊ]. Nesses casos, assumimos o apagamento de C e não apenas
de /N/ da camada segmental, isto é, a sílaba CVC passa a ser realizada estruturalmente
como uma sílaba CV, não havendo nenhum vestígio da coda nasal, como demonstrado na
Figura 4.
Figura 4. Apagamento da consoante nasal sem espraiamento de traços
Em casos como o da Figura 4, como a estrutura C é elidida de forma completa, não há
espraiamento da nasalidade para a vogal anterior, pois nenhum traço é mantido na
geometria de traços de /N/ quando esse apagamento é estrutural. Uma das consequências
disso, seria a modificação temporal da sílaba CVC, a qual passaria a ter duração de uma
sílaba CV, diferentemente dos casos em que há espraiamento de traços e a temporalidade
da coda é mantida. Não trabalhamos com a duração das vogais não nasalizadas finais,
pois estas deveriam ser contrapostas com vogais orais também em fronteira final de
palavra, uma vez que este é um contexto que aumenta naturalmente a duração da sílaba.
NASALIZAÇÃO VOCÁLICA NO PORTUGUÊS URBANO DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE 65
DIACRÍTICA, Vol. 33, n.º 2, 2019, p. 41-68. DOI: doi.org/10.21814/diacritica.256
Assim, como não tínhamos dados que se encaixavam dentro destes fatores, a análise
duracional não pôde ser realizada.
Estabelecido o estatuto fonológico da nasalidade tautossilábica no PST e no PP e
considerando a análise de itens lexicais em contexto de nasalização heterossilábica,
podemos concluir que, no PST e no PP, além de não sido observado, nos dados, a
nasalização heterossilábica em átonas, a nasalização heterossilábica em tônicas é
opcional. Assim, itens como cama podem variar entre [ˈka.mɐ] ~ [ˈkɐ̃.mɐ], ao passo que
em palavras como camada [ka.ˈma.dɐ] a nasalização não foi documentada.
Mediante a análise acústicas nos dados componentes do corpus, observamos que a
natureza da nasalização heterossilábica diverge da natureza da nasalidade vocálica
tautossilábica. Em geral, as vogais nasalizadas em decorrência do ataque silábico,
independentemente do gesto articulatório suplementar para a produção da nasalidade,
podem ter uma duração menor em relação à vogal nasal e à vogal oral e não contêm o
apêndice nasal. A opcionalidade do processo da nasalização heterossilábica é
representada de acordo com a fonologia CV na Figura 5.
Figura 5. Espraiamento do traço [+nasal] para a vogal heterossilábica.
Como pode ser notado, o ataque nasal pode espraiar a nasalidade para V da sílaba anterior,
como em (a). Nesse caso, apesar do espraiamento nasal, a consoante é plenamente
realizada na camada segmental. Sendo assim, .N, mesmo nasalizada, corresponderia a
apenas uma unidade temporal e/ou uma mora, e, por isso, não teria uma duração alongada.
Distintamente da nasalização tautossilábica, o espraiamento é opcional em tônicas e não
constatado em pretônicas, quando a vogal contígua ao ataque nasal continua oral V, como
em (b). Esse comportamento estaria de acordo com o processo de nasalização no santome
e no lung'Ie (vd. Agostinho 2015; Bandeira 2017).
Ao mesmo tempo que o PST e o PP apresentam características que os aproximam
do PE e do PB, como a possibilidade de diferentes processos de nasalização, a nasalização
tautossilábica obrigatória e a opcionalidade do processo de nasalização heterossilábica é
um elemento que contribui para o entendimento da estabilização de tais variedades do
português, posto que esta não é uma característica nem do PB, nem do PE (vd. Balduino
2018). Os resultados aqui apresentados trazem subsídios que reforçam a consolidação do
PST e do PP como variedades legítimas do português, com ecologia linguística própria,
mas ainda compondo um conjunto mais amplo do qual fazem parte o PE, o PB e outras
variedades da língua portuguesa.
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7. Considerações Finais
Descrevemos o processo de nasalização vocálica tautossilábica e heterossilábica de duas
variedades do português faladas em São Tomé e Príncipe. Para tanto, levamos em conta
a duração e os formantes dos segmentos nasais, nasalizados e orais, e, por fim, atribuímos
uma interpretação fonológica ao fenômeno com base na fonologia CV. Como vimos, a
nasalidade vocálica é um tema que suscita discussões e diferentes análises dentro dos
mais diversos modelos teóricos fonológicos, sendo duas hipóteses sempre levantadas para
a nasalização tautossilábica: a monofonêmica e a bifonêmica. Assim, enquanto a
nasalidade por coda provém de um processo fonológico tautossilábico de assimilação
coarticulatória com apagamento da consoante que engatilha o fenômeno, a nasalidade
heterossilábica emerge de um processo fonológico de coarticulação entre sílabas distintas,
com manutenção da consoante que proporciona o fenômeno. Em decorrência da maior
duração dos segmentos nasais, assumimos, então, que a nasalização obrigatória é
bifonêmica, isto é, promovida a partir do espraiamento do traço de nasalidade de uma
consoante nasal em coda. Já em relação às vogais nasalizadas, verificamos que o
espraiamento do traço [+nasal] é engatilhado por uma consoante nasal em ataque para a
vogal anterior em sílaba tônica, sendo este processo opcional.
Financiamento: Esta pesquisa foi financiada pela FAPESP: 2015/25332-1 e pelo CNPq.
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[recebido em 2 de novembro de 2018 e aceite para publicação em 28 de novembro de
2019]
... The author also pointed out that this is evidence that the intonational grammar of SVP is unique and does not constitute an irregular production of the target variety. Other authors have also attested to the structural peculiarities of SVP and defined it as a unique and distinctive variety, the Santomean Portuguese (Araujo & Balduino 2019;Bouchard 2017;Braga 2018;Brandão, Pessanha, Pontes & Correa 2017;Christofoletti 2013;Gonçalves 2010Gonçalves , 2016Nascimento 2018;Santiago & Agostinho 2020, inter alios). ...
... In fact, when v has a duration of 139 ms in stressed syllables, v has a duration of 95 ms in the pretonic position, which is a difference of 44 ms between the stressed and pretonic oral vowels. In contrast, the difference in duration between nasalized vowels is only 10 ms; ṽN lasts 190 ms in stressed syllables and 180 ms in the pretonic position (Araujo & Balduino, 2019). Such differences in duration may reflect issues related to syllable weight and, consequently, the primary stress of words in SVP. ...
... As a result, even with a segmental loss, the syllable maintains its time unit, which can be observed in the longer duration of nasalized vowels in SVP, especially in pretonic syllables. This assimilation process is regressive (Araujo & Balduino 2019, Balduino 2018. The deletion of the nasal coda occurs in the controlled and semi-spontaneous speech data in SVP. ...
... The aim of this paper is to discuss the status of nasality triggered by the palatal nasal /ɲ/ in two varieties of Portuguese spoken in São Tomé and Príncipe: Santomean Portuguese (PST) and Principean Portuguese (PP). 2 We analyze the phonotactic behavior of vowels in a phonetic environment that could or could not trigger nasality and discuss whether nasality triggered by /ɲ/ suggests ambisyllabic structures in these varieties. Although the existence of nasalized vowels in PST and PP may be the result of a phenomenon of nasality (see Balduino, 2018), the phonological role of /ɲ/ in nasalization was not considered in works such as Balduino (2018) and Araujo and Balduino (2019). In this study, we aim to fill some gaps related to the description of nasality in these varieties by analyzing phonological environments capable of conditioning nasality. ...
... Thus, we aim here to discuss the status of nasality triggered by /ɲ/ in two urban varieties: the Portuguese spoken in the city of São Tomé (PST) and the Portuguese spoken in the city of Santo Antonio, Príncipe Island, (PP). Based on studies such as Balduino (2018) and Araujo and Balduino (2019), we propose a phonological analysis of oral and nasalized vowels by investigating the possibility of nasalization trigged by the nasal palatal /ɲ/. ...
... We call this phenomenon heterosyllabic nasality, representing nasalized vowels as Ṽ.N. Nasality in PST and PP has been studied by Balduino (2018), and Araujo and Balduino (2019). Based on the duration and the formants of nasal (ṽN), nasalized (ṽ.N) and oral (V) segments, Araujo and Balduino (2019) related both nasalization processes in PST and PP: tautosyllabic nasality, triggered by a nasal coda, and heterosyllabic nasality, promoted by a nasal onset. ...
... Contudo, os autores sugerem também a existência de um segundo tipo de nasalização da sílaba anterior, a partir do espraiamento do traço de nasalidade de um onset nasal como [m] ou [n] para a vogal (Agostinho 2015: 115;Bandeira 2017: 348). Na nasalidade heterossilábica observada em tais línguas, o espraiamento do traço [nasal] ultrapassa a fronteira silábica, porém apenas os segmentos dentro da rima da sílaba adjacente são nasalizados (Araujo & Balduino, 2019). Esse fenômeno é, portanto, regressivo, ocorrendo para a esquerda, e opcional, sendo identificado, no lung'Ie, em sílabas tônicas que antecedem uma consoante nasal no onset da próxima sílaba à direita, como indicado em (1.a) e (1.b) (Agostinho 2015: 111;Agostinho et al. 2020 (Baxter 2002(Baxter , 2018 e o português de Almoxarife (Figueiredo 2010(Figueiredo , 2014. ...
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This study describes and analyzes the low vowel [a] heterosyllabic nasalization processes in two Portuguese varieties spoken in São Tomé and Príncipe (STP): the Santomean vernacular Portuguese and the Principense vernacular Portuguese. STP is a multilingual country where, in addition to Portuguese, creole languages are spoken, including Santome and Lung’Ie. Based on an experimental methodological approach, we performed acoustic and perceptual analyses that included measuring the duration of the segments under analysis and the formants that comprised them. In addition, this research contains a phonological study that considers primary stress and formation of foot in which heterosyllabic nasalization occurs. The results indicate that heterosyllabic nasalization is optional for the low vowel in a stressed position, marking a difference concerning European and Brazilian Portuguese, varieties in which this process is mandatory in similar contexts. These results suggest an approximation to the native languages and characterize the studied varieties as distinct.
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This paper discusses the lateral /l/ in coda in Principense Portuguese (PP). Based on an elicited corpus recorded in situ , composed of 852 occurrences of 78 lexical items, we found that the lateral /l/ in coda can be vocalized or deleted. For instance, bolso ‘pocket’ can be pronounced as [ˈbow.sʊ] or [ˈbo.sʊ], as reported in some Brazilian Portuguese varieties. In PP, vocalization and deletion are phenomena that arise from a confluence of factors. It gathers characteristic features of the formative grammatical structure of Portuguese. At the same time, it reflects the linguistic contact scenario in which PP is inserted, since the lenition of consonants in semivowels, as well as strategies to avoid codas, are also reported in Lung’Ie (LI), a language in synchronic contact and present in the constitution of the PP (Agostinho, Ana Lívia. 2015. Fonologia e método pedagógico do lung’Ie [Phonology and pedagogical method of Lung’Ie]. São Paulo: University of São Paulo dissertation). Both Portuguese and Lung’Ie support vocalization and deletion in their grammars, fostering a relevant overlap of features to the alternation [ɫ] ∼ [w] ∼ ∅ in PP. We conclude that, in addition to specific features of Portuguese grammatical structure, PP’s linguistic contact situation must be considered as a relevant factor for the deletion and vocalization of laterals in coda in PP.
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E Este artigo discute a história e a situação linguística atual do português santomense e do português principense (PST e PP). O surgimento dessas variedades em São Tomé e Príncipe (STP) remonta ao estabelecimento colonial do português em um ambiente plurilíngue, bem como ao seu desenvolvimento inicial como segunda língua, e, posteriormente, como língua materna adquirida pelos nativos. Ademais, a partir de dados coletados in loco, o artigo apresenta um breve panorama sincrônico de alguns processos fonológicos, a saber: nasalização, alternância do rótico, vocalização e apagamento segmental, observados no PST e no PP. A análise de fatores históricos, sociais e linguísticos nos permite concluir que, em STP, é evidente o desenvolvimento de variedades locais próprias, as quais, embora ainda careçam de uma descrição e sistematização linguística robusta, são dotadas de traços linguísticos identitários.
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Este artigo discute a silabificação no Português do Príncipe (PP), variedade da língua portuguesa falada em Santo Antônio do Príncipe, em São Tomé e Príncipe. Focaremos, para tanto, na coda. Apresentamos, inicialmente, os templates silábicos do PP, indicando os segmentos licenciados nos diferentes constituintes da sílaba. Após isso, fazemos o levantamento de alguns processos fonológicos, cujo domínio é a coda. Com base em um corpus de fala espontânea, verificamos que a coda, no PP, pode ser preenchida, com múltiplas realizações fonéticas de um rótico /r/, uma sibilante /S/, uma lateral /l/ ou mesmo abarcar uma nasal subespecificada /N/, da mesma forma que é previsto para outras variedades do português como a brasileira e a europeia. Processos fonológicos que têm a coda como domínio de aplicação e as consoantes /r/, /S/ e /l/ como alvo também foram observados: apagamentos, velarização, vocalização e posteriorização. O levantamento de tais fenômenos, no PP, corrobora uma concepção hierárquica para tratamento da estrutura silábica do PP e indica a atuação de duas trajetórias gramaticais paradoxais: a prevalência de sílabas CV fomentada por apagamentos e lenição segmentais, em que sílabas fechadas se adaptam em sílabas abertas, e a emergência de estruturas silábicas complexas, promovidas pela ressilabificação de /S/.
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O objetivo deste artigo é descrever a coda no Português Santomense (PST) e Principense (PP), variedades faladas em São Tomé e Príncipe, detectando os segmentos licenciados nesse constituinte e analisando o processo de apagamento. Baseados em um corpus com 20 entrevistas de fala espontânea, realizamos análises acústicas e quantitativas, nas quais utilizamos o modelo estatístico de regressão logística para verificar quais variáveis linguísticas são relevantes para a ocorrência do apagamento. Verificamos que a coda, no PST e no PP, pode ser preenchida, por múltiplas realizações fonéticas de um rótico, uma sibilante, uma lateral ou uma nasal subespecificada (BALDUINO, 2018) – como no português brasileiro e europeu (CÂMARA JR., 1970; MATEUS; D’ANDRADE, 2000). Tendo por foco /r, S, l/, detectamos a presença de alguns processos fonológicos que têm a coda como domínio, como apagamento, velarização e vocalização, os dois últimos característicos à lateral. Tais fenômenos, além de justificarem uma concepção hierárquica para a sílaba, sugerem que a coda é uma posição frágil, dentro dessa estrutura, no PST e no PP, estando propícia a apagamentos e alterações estruturais (SELKIRK, 1982), fato que culmina numa alteração do template silábico para a estrutura CV. Todavia, os dados também indicam que, em decorrência (i) das diferentes proporções de apagamento das codas investigadas; (ii) da diferença entre o conjunto de variáveis relevantes para o apagamento de /r, S, l/; e (iii) dos diversos processos que os acometem individualmente, a resolução atribuída à debilidade da coda tende a variar segundo a natureza de cada segmento.
Article
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O português santomense (PST) é uma das variedades do português faladas em São Tomé e Príncipe e compartilha características estruturais com o português brasileiro (PB), com o português europeu (PE), além de apresentar características intrínsecas, evidenciadas pela distribuição da lateral em coda que, a exemplo do PB e do PE, pode ser produzida como [ɫ] ou [w]. Este artigo tem como objetivo descrever a distribuição de /l/ em coda no PST, bem como analisar os processos de velarização [ɫ] e vocalização [w] nesta variedade. Foi constatada a produção de [ɫ] em 49,87% dos dados e de [w] em 19,1%, sendo a forma vocalizada favorecida quando a vogal anterior era [dorsal].
Thesis
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O objetivo deste trabalho é propor uma descrição sincrônica do sistema fonológico do lung’Ie, língua crioula de base portuguesa falada na Ilha do Príncipe, São Tomé e Príncipe, abordando e discutindo os trabalhos prévios (Ribeiro 1888; Schuchardt 1889; Ferraz 1975, 1976, 1979; Ferraz & Traill 1981; Rougé 2004; Maurer 1997; Mané 2007; Araujo & Agostinho 2010; Agostinho et al. 2012, Agostinho 2012; Araujo & Agostinho 2014), e apresentar um método pedagógico para esta língua.
Article
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O Português Brasileiro (PB), quando se trata do preenchimento da coda, só licencia as consoantes líquidas /l, r/, a nasal /N/, a fricativa coronal /s/ e, para alguns, os glides. Pelo fato de a coda ser a posição mais débil da estrutura silábica (Selkirk, 1982), a variação que permeia os segmentos que a preenchem, seja na posição interna ou final, é muito comum no PB, conforme comprovado pelos diversos estudos sociolinguísticos até então realizados (QUEDNAU, 1993; TASCA, 1999; HORA, 2003, 2006; VOTRE, 1978; CALLOU, LEITE, MORAES, 1994; BRESCANCINI, 1996; RIBEIRO, 2006). Tomando como base o dialeto paraibano, os resultados analisados levam-nos a constatar que existe comportamento diferenciado das consoantes pós-vocálicas nas posições interna e final. Para respaldar a discussão, utilizaremos as propostas de Harris e Gussmann (1998) e Ewen e Hulst (2001). A análise da consoante, em posição final de sílaba leva-nos a duas possibilidades: uma seria considerá-la como coda que tende a apagar, priorizando sílabas CV; a outra, seria entendê-la como onset com núcleo não preenchido foneticamente.
Article
Portuguese emerged from vulgar Latin during the course of the third century. Influential in its development were successive invasions by Germanic peoples, Visigoths, and Moors, the latter of whom were finally evicted in the thirteenth century. As a consequence of the newly-independent kingdoms imperial achievements, Portuguese is the national language of Brazil and the official language of several African countries. Maria Helena Mateus and Ernesto dAndrade present a broad description and comparative analysis of the phonetics and phonology of European and Brazilian Portuguese. They begin by introducing the history of Portuguese and its principal varieties. Chapter 2 describes the phonetic characteristics of consonants, vowels, and glides, and Chapter 3 looks at prosodic structure. Chapters 4 and 5 present the general characteristics of Portuguese nominal and verbal systems, the former considering inflectional and the latter derivational processes. Chapter 6 examines stress, main, secondary, and echo, and Chapter 7 describes phonological processes that are not related to the morphological structure of the word, including the peculiar process of nazalization. The authors deploy current theoretical models to explain the rich variety of Portuguese phonology and interrelated aspects of morphology. This is by far the most comprehensive account of the subject to have appeared in English, and the most up-to-date in any language.
Chapter
Organizado pelos professores Dante Lucchesi e Ilza Ribeiro, da Universidade Federal da Bahia, e pelo professor Allan Baxter, da Universidade de Macau, teve a colaboração de vários autores, professores de outras universidades do mesmo Estado, além de mestres, doutores e pós-graduandos, em geral oriundos daquela mesma universidade, integrantes do grupo de pesquisa ali constituído, e que vêm se dedicando ao estudo da realidade lingüística brasileira. Baseado na análise de amostras da fala de algumas comunidades rurais afro-brasileiras isoladas, no caso, quatro comunidades do Estado da Bahia - Helvécia, Cinzento, Rio de Contas e Sapé -, o livro apresenta os resultados obtidos pela aplicação de modelos teóricos que transitam da gerativa, de princípios e parâmetros, à sociolingüística variacionista, dentro daquela linha fecunda inaugurada pelo Prof. Tarallo nos anos oitenta.Dividido em duas partes, são apresentados, na primeira, os fundamentos teóricos e metodológicos nos quais se baseou a pesquisa e também o contexto sócio histórico das comunidades analisadas. Na segunda parte, são isolados dezesseis 'pontos-diagnósticos' (apropriando-me da expressão utilizada pelo Professor Aryon Rodrigues em sua análise comparativa das línguas tupi-guarani), pelos quais se pode tanto esboçar um retrato das variedades vernáculas das comunidades pesquisadas, quanto levantar hipóteses, já mais bem fundadas, sobre a história do contato do português com as línguas africanas em território brasileiro.
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Este artigo propõe reflexões acerca do fenômeno da vogal nasal que versam desde a proposta bifonêmica para tratar tais vogais no português brasileiro, passando pela sua realização fonéticoacústica, até propor uma representação que leve em conta sua variabilidade. Embora as vogais nasais apresentem um comportamento formântico bastante regular em comparação às suas contrapartes orais, considerar o limite preciso entre dois fonemas ou mesmo duas fases (proposta bifásica, alternativa à bifonêmica) ainda permanece problemático. Assim, através da análise de espectros, a presença de uma fase genuinamente oral no início da vogal nasal é questionada. Foca-se, ainda, a questão do murmúrio nasal vocálico, facilmente encontrado junto a contextos silábicos em que a vogal nasal é seguida de consoante oclusiva, mas ausente quando seguida de consoante fricativa. Conclui-se que a natureza variável da vogal nasal será melhor tratada sob uma perspectiva dinâmica, encontrada junto à Fonologia Articulatória. Propõe-se então, uma primeira aproximação da problemática das vogais nasais com a abordagem dinâmica.