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O acesso às fontes autárquicas no jornalismo regional: estudo de três jornais do distrito de Castelo Branco

Authors:

Abstract and Figures

O presente estudo analisa o acesso às fontes autárquicas no jornalismo regional, mais concretamente no distrito de Castelo Branco. Para tal, realizaram-se cinco entrevistas a jornalistas e responsáveis por gabinetes de comunicação autárquicos, para além de se analisarem 167 notícias de três jornais semanários da região. Conclui-se que a relação entre os jornalistas deste distrito e as suas fontes autárquicas é pautada pela interdependência. Este tipo de fontes acaba por ser muito importante para os jornais regionais, visto que as ações da autarquia incidem diretamente nas dinâmicas sociais. O estudo evidencia ainda que a transmissão de informação autárquica é realizada diariamente, atendendo aos pedidos de informação adicional dos jornalistas. Apesar disso, todos os jornalistas apontaram discrepâncias no funcionamento das várias câmaras municipais.
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DOI: 10.25768/fal.ec.n28.a07
O acesso às fontes autárquicas no jornalismo regional: estudo de três
jornais do distrito de Castelo Branco
Paulo Jorge dos Santos Martins & Carla Marisa Barata Nunes
Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Universidade de Lisboa / Faculdade de Ciências Sociais
e Humanas, Universidade Nova de Lisboa
E-mail: pmartins@iscsp.ulisboa.pt /nunescarla6@gmail.com
Resumo
O presente estudo analisa o acesso às fontes autár-
quicas no jornalismo regional, mais concretamente
no distrito de Castelo Branco. Para tal, realizaram-
se cinco entrevistas a jornalistas e responsáveis por
gabinetes de comunicação autárquicos, para além de
se analisarem 167 notícias de três jornais semanários
da região. Conclui-se que a relação entre os jornalis-
tas deste distrito e as suas fontes autárquicas é pau-
tada pela interdependência. Este tipo de fontes acaba
por ser muito importante para os jornais regionais,
visto que as ações da autarquia incidem diretamente
nas dinâmicas sociais. O estudo evidencia ainda que
a transmissão de informação autárquica é realizada
diariamente, atendendo aos pedidos de informação
adicional dos jornalistas. Apesar disso, todos os jor-
nalistas apontaram discrepâncias no funcionamento
das várias câmaras municipais.
Palavras-chave: fontes de informação; acesso a fontes autárquicas; jornalismo regional.
Access to the city council sources in regional journalism: study of three
newspapers in the Portuguese district of Castelo Branco
Abstract
This study aims to analyse the access to the city
council sources in regional journalism, particularly
in the Portuguese district of Castelo Branco. With
that in mind, we conducted five interviews to jour-
nalists and professionals uncharged of the commu-
nication department from the city council. Further-
more, we analyse 167 pieces of news from three lo-
cal journals. Our findings reveal that the relationship
between the journalists from this district and their
city council sources are based in interdependency.
This kind of sources tends to be very important for
regional journals, since the actions of city council
affects directly the social environment of the region.
With this study we also find out that the city coun-
cil passes information daily, replying to information
requests from journalists. Nevertheless, all the jour-
nalists interviewed point out some discrepancies in
the function of the various city councils.
Data de submissão: 2018-09-20. Data de aprovação: 2018-10-01.
ARevista Estudos em Comunicação é financiada por Fundos FEDER através do Programa Operacional Facto-
res de Competitividade – COMPETE e por Fundos Nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia
no âmbito do projeto Comunicação, Filosofia e Humanidades (LabCom.IFP) UID/CCI/00661/2013.
Estudos em Comunicação nº 28, vol. 1, 127-150 Maio de 2019
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Paulo Jorge dos Santos Martins & Carla Marisa Barata Nunes
Keywords: news sources; access to city council sources; regional journalism.
INTRODUÇÃO
OPRES ENTE trabalho pretende analisar como se processa o acesso às fontes autárquicas no
jornalismo regional, mais concretamente no distrito de Castelo Branco. Por essa razão, o
corpus do estudo é constituído pelos jornais semanários Gazeta do Interior, Jornal do Fundão e
Reconquista. As três publicações localizam-se e noticiam acontecimentos da região de Castelo
Branco.
De modo a explorar o tema, estabeleceu-se a seguinte pergunta de partida: “qual a relação
entre os jornalistas do distrito de Castelo Branco e as fontes autárquicas?”. Através dela, preten-
demos perceber quais são as fontes mais usadas pelos jornalistas e qual a sua importância para a
elaboração de notícias, como é que a atividade autárquica é retratada nos jornais e como recebem
a informação autárquica.
Para cumprir os objetivos, optou-se por uma metodologia mista. As técnicas utilizadas foram
a entrevista semiestruturada em profundidade, dirigida aos editores de cada um dos jornais e a
jornalistas, bem como aos responsáveis pelos gabinetes de comunicação das câmaras municipais
de Castelo Branco e do Fundão. Procedemos ainda à análise de conteúdo dos três jornais em
estudo, cobrindo um período de análise de três meses, de janeiro a março de 2016.
O título do nosso estudo justifica-se pelo segundo ponto do artigo 7.º do Estatuto da Imprensa
Regional, que atribui ao jornalista regional o direito “ao livre acesso às fontes de informação
dependentes da administração direta ou indireta do Estado, das entidades autárquicas ou outros
entes públicos”. Este tipo de jornalismo tem a particularidade de se desenvolver entre os seus
leitores, regra geral em meios relativamente pequenos (Camponez, 2002, p. 122; Ribeiro, 2008,
p. 461), o que leva à existência de interesses cruzados: as fontes pretendem mostrar apenas os
seus sucessos, enquanto ao jornalista interessa revelar anormalidades na vida e no funcionamento
dessas instituições (Santos, 1997, p. 194). A manutenção de um discurso jornalístico isento é
posta em causa, visto que os atores sobre os quais se escreve são particularmente próximos dos
jornalistas (Camponez, 2002, p. 270). Neste contexto, o tema ganha relevância porque, apesar de
existirem estudos sobre ele, nenhum se foca exclusivamente na região de Castelo Branco.
O trabalho encontra-se dividido em seis pontos. Do primeiro fazem parte as opções metodo-
lógicas, sendo indicados os métodos e as técnicas de recolha de informação utilizadas. Segue-se o
enquadramento teórico, onde se explica a relação estabelecida entre fontes e jornalistas e quais as
características que adota no contexto do jornalismo regional. No terceiro ponto, expomos os con-
tributos teóricos nacionais de autores cujos estudos incidem nesta temática. Segue-se um quarto
ponto, dividido em dois subpontos. No primeiro, apresentamos os órgãos de comunicação estuda-
dos. Posteriormente, expomos os resultados do estudo. No quinto ponto, encontra-se a discussão
de resultados e no sexto e último as notas finais.
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OPÇÕES METODOLÓGICAS
Neste estudo, analisamos a problemática do acesso às fontes autárquicas pela Imprensa do
distrito de Castelo Branco, utilizando como corpus de análise os jornais semanários Gazeta do
Interior, Reconquista eJornal do Fundão. Assim, estabeleceu-se como pergunta de partida a se-
guinte: “qual a relação entre os jornalistas do distrito de Castelo Branco e as fontes autárquicas?”.
O objetivo geral consiste em compreender como é que os jornais em estudo se relacionam com as
fontes autárquicas, pelo que traçamos os seguintes objetivos específicos:
1. Entender quais são as fontes mais utilizadas pelos jornalistas;
2. Aferir a importância destas fontes para a elaboração de notícias;
3. Averiguar como é que os jornais tratam a atividade autárquica;
4. Perceber como é que a câmara municipal transmite informação aos jornalistas.
Surgiu ainda a necessidade de criar objetivos operacionais, com vista a satisfazer o terceiro
objetivo específico. A saber:
1. Apurar quais são os assuntos autárquicos mais noticiados nos três semanários;
2. Verificar que tipo de destaque lhes é dado nos jornais.
Estes objetivos foram cumpridos através de uma metodologia mista, que envolve a recolha de
dados quantitativos e qualitativos. Com a combinação de ambas as abordagens, obtivemos um
entendimento mais completo do problema de pesquisa (Creswell, 2014, p. 4). Nesse sentido,
conduziram-se entrevistas semiestruturadas em profundidade a António Tavares, chefe de redação
do Gazeta do Interior; Nuno Francisco, diretor do Jornal do Fundão; Júlio Cruz e José Furtado,
respetivamente subdiretor e jornalista do Reconquista. Aplicámos ainda uma entrevista semiestru-
turada em profundidade a Teresa Antunes, funcionária da Câmara Municipal de Castelo Branco
responsável pelo contacto com os jornalistas. Miguel Gavinhos, da Câmara Municipal do Fun-
dão, respondeu por escrito a um conjunto de perguntas. Na tabela 1, sintetizamos as entrevistas
realizadas e os principais objetivos a atingir com cada uma delas.
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Tabela 1. Síntese das entrevistas realizadas
Nome do entrevistado Data e local da entrevista Objetivos correspondentes
Júlio Cruz
Subdiretor do jornal
Reconquista
1 de março de 2017,
na redação do jornal
1. Entender quais são as fontes mais utili-
zadas pelos jornalistas;
2. Aferir a importância destas fontes para
a elaboração de notícias;
3. Averiguar como é que os jornais em
estudo tratam a atividade autárquica;
António Tavares
Chefe de redação do jornal
Gazeta do Interior
2 de março de 2017,
na redação do jornal
1. Entender quais são as fontes mais utili-
zadas pelos jornalistas;
2. Aferir a importância destas fontes para
a elaboração de notícias;
3. Averiguar como é que os jornais em
estudo tratam a atividade autárquica;
Nuno Francisco
Diretor do
Jornal do Fundão
25 de abril de 2017,
na redação do jornal
1. Entender quais são as fontes mais utili-
zadas pelos jornalistas;
2. Aferir a importância destas fontes para
a elaboração de notícias;
3. Averiguar como é que os jornais em
estudo tratam a atividade autárquica;
Teresa Antunes
Funcionária da Câmara
Municipal de Castelo
Branco
26 de abril de 2017,
na redação do jornal
4. Perceber como é que a câmara trans-
mite informação aos jornalistas
Miguel Gavinhos
Vice-presidente da Câmara
Municipal do Fundão
Guião de entrevista envi-
ado por email a 5 de maio
de 2017; respostas recebi-
das a 23 de maio de 2017
4. Perceber como é que a câmara trans-
mite a informação aos jornalistas
Fonte: elaboração própria
Das fontes autárquicas do distrito de Castelo Branco, ou seja, das câmaras municipais do
distrito, selecionámos as de Castelo Branco e do Fundão, uma vez que as sedes das publicações
estudadas se situam nestes concelhos. As restantes fontes autárquicas são as câmaras municipais
de Belmonte, Covilhã, Idanha-a-Nova, Oleiros, Penamacor, Proença-a-Nova, Sertã, Vila de Rei e
Vila Velha de Ródão.
Por fim, recorremos à análise de conteúdo dos três semanários. Uma das principais vantagens
da utilização desta técnica quantitativa e qualitativa é o facto de poder ser aplicada a material não
estruturado e que não foi produzido com o fim de servir a investigação empírica (Vala, 1986, p.
107). Estipulamos que o período em estudo seria de três meses, de janeiro a março de 2016,
correspondendo a 78 publicações (26 por cada semanário) e um total de 167 notícias.
O período de análise foi escolhido de modo a não contemplar as eleições para os órgãos das
autarquias locais, que se realizaram em outubro de 2017. Optou-se ainda por não incluir o verão,
por ser uma época geralmente fraca em acontecimentos noticiáveis. Deste modo, estudámos um
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período sem acontecimentos propícios à alteração da regularidade noticiosa sobre as autarquias, e,
ao mesmo tempo, o mais atual possível.
Os dados foram examinados através de uma grelha de análise, recorrendo-se ao programa
SPSS Statistics para o processamento de dados. Na grelha de análise, incluímos categorias como
o destaque dado à notícia, a posição que ocupa na página, o género jornalístico e a inclusão, ou
não, de fotografia, visto que “o tratamento da paginação na imprensa e a configuração do alinha-
mento das notícias num jornal determinam o impacto e a visibilidade pública dos acontecimentos”
(Cruz, 2008, p. 135). O indicador “local do acontecimento” foi construído tendo em conta os
concelhos do distrito de Castelo Branco, área retratada pelas três publicações em estudo. Já o
indicador “assuntos” designa os vários temas que a investigadora apurou, após uma pré-análise,
serem recorrentes nas peças jornalísticas sobre as autarquias. Por fim, o enfoque das notícias foi
inferido através de expressões utilizadas nas notícias.
AS FONT ES DE INFORMÃO E AS SUAS ROTINAS
Tanto a fonte de informação como o jornalista sabem que precisam um do outro: a primeira
para divulgar os seus projetos e o segundo para saber o que se passa na organização. Porém, o que
interessa à fonte divulgar pode não ser partilhado pelo jornalista, e o que este procura investigar
pode não ser fornecido pela fonte (Santos, 1997, p. 194). Os jornalistas precisam de forma vital
das fontes e dos seus serviços, pelo que têm de pôr em ação processos exigentes, que permitam
conciliar a colaboração produtiva da fonte com o distanciamento crítico que o trabalho jornalístico
pressupõe (Pinto, 2000, p. 284). Neste ponto, iremos analisar a interdependência que se estabelece
entre as partes, bem como as especificidades desta relação no jornalismo regional.
A fonte de informação é a entidade – instituição, organização, grupo ou indivíduo, o seu porta-
voz ou representante – que presta declarações ao jornalista e planeia ações (Santos, 2006, p. 75).
Também são considerados fonte noticiosa vestígios como falas, documentos e dados preparados
por essas entidades (Pinto, 2000, p. 278). Neste contexto, as fontes podem ser de caráter oficial
– incluem indivíduos, em funções ou cargos públicos, que se pronunciam em nome de órgãos
estatais – ou de caráter não oficial; especialistas – possuem um conhecimento específico numa
área do saber e uma relação com os jornalistas assente em base científica – ou anónimas – são
atribuídas opiniões e informações a pessoas sem a obrigação de revelar o nome da fonte (Santos,
2006, pp. 81-82; Schmitz, 2011, pp. 25-30).
Os interesses das fontes de informação e dos jornalistas podem ser comuns, mas também dis-
tintos, o que pressupõe um esforço permanente de diálogo, luta, relação simbiótica ou negócio
(Santos, 1997, p. 194). As fontes procuram a visibilidade e atenção dos media, numa tentativa de
angariar apoio para ideias, produtos e serviços, bem como marcar a agenda pública e impor certos
temas como foco da atenção coletiva. Destaque-se ainda o seu interesse em criar uma imagem
pública positiva, prevenindo e reparando prejuízos que possam manchar essa imagem e neutrali-
zando os interesses dos concorrentes (Pinto, 2000, p. 280). Quanto aos jornalistas, privilegiam a
informação inédita – tudo o que seja anormal na vida e no comportamento das instituições (Pinto,
2000, p. 280; Santos, 1997, p. 194) – e pretendem dissipar dúvidas, desenvolver matérias, confir-
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mar ou desmentir informações obtidas noutras fontes, atribuindo-lhes credibilidade e legitimidade
(Pinto, 2000, p. 280).
Dadas as diferenças, e para conseguirem monopolizar a atenção dos jornalistas, várias es-
truturas, desde o Governo até às associações ambientalistas (Ribeiro, 2008, p. 457), recorrem à
comunicação institucional, a assessorias de comunicação, gabinetes de Imprensa, conselheiros de
imagem, porta-vozes e adidos (Pinto, 2000, p. 282). Pode afirmar-se que “as técnicas de relações
públicas, nomeadamente a assessoria de imprensa, vieram profissionalizar e expandir a promoção
das empresas e das instituições através dos media” (Ribeiro, 2014, p. 37). Estes profissionais
transportam consigo um maior conhecimento das rotinas e das práticas jornalísticas, pelo que con-
seguem conceber estratégias que vão ao encontro das expectativas dos jornalistas (Costa, 2005, p.
80).
A adoção destas estratégias tem como objetivo a introdução de determinados temas na agenda
pública – neste sentido, ganham relevância os conceitos de agenda-setting eagenda-building. A
teoria do agenda-setting remete para a ideia de que os media determinam quais são as notícias mais
importantes, introduzindo-as assim na agenda pública. Por outro lado, o agenda-building foca-se
nas forças internas e externas que influenciam os media, construindo assim a agenda mediática
(Colistra, 2012, p. 98).
O conhecimento das rotinas jornalísticas é crucial para o assessor introduzir certos temas na
agenda. Por essa razão, cria um relacionamento com o jornalista, para compreender melhor de
que forma é que este gosta de receber as informações (Ribeiro, 2014, p. 36). Para construir este
relacionamento é essencial que os contactos com as organizações noticiosas sejam contínuos e
permanentes, com vista a garantir eficácia. Assim, é possível controlar as ligações e evitar infor-
mações contraditórias ou não confirmadas (Santos, 1997, p. 87). Neste sentido, a competência dos
assessores de imprensa é medida pelo número de contactos que mantêm na imprensa, assim como
pelo maior grau de confiança ou intimidade com os seus profissionais (Ribeiro, 2014, p. 34).
Os pedidos de informação por parte dos jornalistas são encorajados e têm seguimento imedi-
ato (Santos, 1997, p. 87). Ao estabelecerem contacto com estes profissionais, as fontes devem
ter em consideração as rotinas jornalísticas, nomeadamente os períodos do dia mais favoráveis e
os dias de semana mais convenientes para convocar uma conferência de imprensa ou enviar um
comunicado, por exemplo (Costa, 2005, p. 75).
Neste sentido, a capacidade de gerar informação noticiável é um dos princípios essenciais da
assessoria de imprensa (Ribeiro, 2014, p. 37). Nas suas rotinas produtivas, as fontes estabelecem
contacto com as organizações noticiosas através de comunicados, conferências de imprensa, re-
cortes de imprensa, almoços, visitas, e até fugas de informação e comunicação de crise (Santos,
1997, p. 84).
Os eventos são divulgados aos jornalistas através de comunicados (Santos, 1997, p. 90), textos
estruturados e objetivos que incluem um título curto e atraente e “ganchos” que estimulam a leitura
(Schmitz, 2011, p. 12). Todos os factos importantes devem constar do primeiro parágrafo, visto
que o comunicado pode ser apenas uma das múltiplas fontes de notícias (Theaker, 2004, p. 149).
Já os recortes de imprensa constituem-se como um meio de informar a empresa sobre o conteúdo
das notícias que, direta ou indiretamente, afeta as suas ações (Santos, 1997, p. 89).
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Os eventos, incluindo conferências de Imprensa, e os comunicados representam, assim, um
ambiente mais controlado do ponto de vista da comunicação estratégica, o que poderá levar a que
o ângulo de abordagem escolhido pelo jornalista seja aquele que se procurava atingir, como uma
boa imagem da instituição, por exemplo (Corrêa, Barros & Burlacu, 2016, p. 14). Acrescente-se
ainda que os materiais de relações públicas que incluem mensagens positivas e estimulantes levam
a pensamentos ou avaliações favoráveis da organização (Kim & Kiousis, 2012, p. 669).
Este conhecimento cada vez maior das rotinas jornalísticas pode levar a que a comunicação
social tenda a submeter-se à agenda das várias entidades que consigo contactam e a um conse-
quente, mas nem sempre percetível, controlo dos media e do seu conteúdo por parte de entidades
exteriores (Costa, 2005, p. 75). Para além desta questão, os jornalistas deparam-se ainda com
um problema que advém dos riscos de convivência com as fontes e da movimentação em zonas de
acesso seletivo e reservado (Pinto, 2000, p. 285), questão que iremos abordar nos pontos seguintes.
CARACTERIZAÇÃO DAS FONTES AUTÁRQUICAS E PROCEDIMENTOS DA COMUNICAÇÃO
INSTITUCIONAL
Depois de clarificarmos as relações entre fontes e jornalistas, interessa-nos especificar como é
feita a comunicação nas organizações, mais concretamente a que é realizada por instituições como
as câmaras municipais.
Hoje em dia, várias áreas profissionais dedicam-se ao desenvolvimento e à avaliação de ações
de comunicação. As organizações utilizam-nas para projetar a sua missão e imagem, através de
práticas deliberadas de comunicação. Destas organizações, fazem parte as estatais (Hallahan,
Holtzhausen, van Ruler, Verˇ
ciˇ
c e Sriramesh, 2007, pp. 3-4), como as autarquias locais, pessoas
coletivas territoriais dotadas de órgãos representativos, que visam a prossecução de interesses
próprios das suas populações. A Constituição da República Portuguesa enuncia três tipos de au-
tarquias locais: as freguesias, os municípios e as regiões administrativas.
Neste contexto, a comunicação realizada pelas câmaras municipais esforça-se por alinhar as
atividades da instituição com as suas imagens interna e externa (Lammers, 2011, p. 171), visto
que o público perceciona as organizações de várias perspetivas: não só pelas suas ofertas de pro-
dutos e serviços, experiência e competência, como também pelo seu compromisso de serviço e
responsabilidade social (Hallahan, Holtzhausen, van Ruler, Verˇ
ciˇ
c e Sriramesh, 2007, p. 10).
A preocupação das câmaras em comunicar uma determinada imagem tem como principal fim
a concretização e legitimação de valores, práticas, e objetivos dos próprios municípios enquanto
instituições locais (Camilo, 1998, pp. 8-9). Atualmente, as organizações preocupam-se com a
falta de coerência, integração ou consistência das suas mensagens, pois estas fazem com que os
públicos recebam significados inconsistentes, podendo gerar confusão e desconfiança no que a
organização oferece ou representa (Christensen & Cornelissen, 2011, p. 396).
Na tentativa de preservar uma determinada imagem, a comunicação municipal surge como
reação à existência de novos meios de comunicação locais. Alguns deles não se deixam influenciar
pelo poder local, o que faz com que a câmara tenha de reagir a fenómenos de opinião pública
desfavoráveis, não apenas de dimensão local.
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Esta situação leva ao recrutamento de especialistas em comunicação, capazes de legitimar a
atuação dos representantes municipais ou gerir situações de crise, em que as opiniões públicas são
manifestamente negativas (Camilo, 1998, pp. 8-9). Como já foi explicitado, este papel é levado a
cabo por assessores, profissionais dotados de uma visão global do fenómeno da comunicação (Ca-
milo, 2006, p. 9) que devem dominar áreas de gestão, marketing, publicidade e relações públicas
(Hallahan, Holtzhausen, van Ruler, Verˇ
ciˇ
c, and Sriramesh, 2007, pp. 3-4).
Em certos casos, os municípios funcionam como fontes noticiosas, submetendo-se a critérios
de noticiabilidade e ao regime de funcionamento dos órgãos de comunicação social (Camilo, 2009,
p. 117). Neste contexto o boletim e o edital municipais, devido à sua periodicidade, não acom-
panham eficazmente o ritmo das ações da câmara, pelo que é necessário complementá-los com
meios mais rápidos e diretos, como a comunicação interpessoal e a edição periódica de rubricas
municipais, quer nos jornais quer nas rádios locais, por exemplo (Camilo, 1998, p. 27). Através de
práticas de assessoria, o município esforça-se para que os meios de comunicação social reflitam
nas suas notícias a versão institucional, estrategicamente conveniente, sobre certas temáticas de
cariz político e administrativo (Camilo, 2009, p. 117).
Para que isto aconteça, é necessário que a comunicação seja contínua, acompanhando perma-
nentemente as atividades do município, através de ações de comunicação quotidianas e da análise
de resultados (Camilo, 1998, p. 27). A continuidade é importante para a consolidação de laços
sociais e para a construção de quadros de experiência e cultura locais (Camilo, 2009, p. 118), pois
só assim se consegue legitimar a organização (Lammers, 2011, p. 114). Numa perspetiva positiva,
essa legitimação contribui para o fortalecimento das identidades culturais. Numa perspetiva nega-
tiva, pode levar um maior isolamento das populações (Camilo, 2009, p. 118). É ainda necessário
que a comunicação seja concreta, transmitindo informação precisa e rigorosa, de forma a respon-
der às interrogações dos munícipes. Estas prendem-se, geralmente, com a concretização de um
serviço ou a difusão de uma deliberação, temas que interessam frequentemente à imprensa local.
Por fim, esta comunicação deve ser interativa, criando um espaço de diálogo entre os cidadãos e
os seus representantes políticos (Camilo, 1998, pp. 27-29).
Apesar de boa parte da comunicação municipal ser realizada com o propósito de beneficiar a
curto ou médio prazo a equipa autárquica, não deve ignorar-se que a sua esfera de atuação terá
necessariamente de ir ao encontro das necessidades e dos desejos das populações locais (Camilo,
2006, p. 7), que usam as mensagens institucionais para dar sentido à sua conduta (Lammers, 2011,
p. 174).
AS ESPECIFICIDADES DO JORNALISMO REGIONAL E O ACESSO ÀS FONTES AUTÁRQUICAS
Segundo o artigo 1.º do Estatuto da Imprensa Regional (decreto-lei nº 106/88), “consideram-
se de imprensa regional todas as publicações periódicas de informação geral que se destinem
predominantemente às respetivas comunidades regionais e locais, dediquem, de forma regular,
mais de metade da sua superfície redatorial a factos ou assuntos de ordem cultural, social, religiosa,
económica e política a elas respeitantes e não estejam dependentes, diretamente ou por interposta
pessoa, de qualquer poder político, inclusive o autárquico”.
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Nesta medida, o jornalismo regional constitui um compromisso específico com um território,
que não pode deixar de representar. Ou seja, seleciona a informação consoante o espaço em
que opera, para que os seus leitores se identifiquem com o conteúdo noticiado (Camponez, 2002,
pp. 128-273). Esta seleção é necessária pelo facto de a atividade jornalística regional ocorrer
num contexto em que os cidadãos se encontram ligados por interesses comuns, assentes numa
cultura e tradições próprias (Almeida, 2008, p.17). Exige, por isso, a escolha de personagens e
acontecimentos que valorizem um “nós” territorial – daí a importância dada às conquistas locais e
à vida associativa (Neveu, 2005, p. 40).
Assim, podemos dizer que o jornalismo regional “escolhe o território como o lugar de realiza-
ção do seu empenhamento editorial, cultural, discursivo, económico” (Camponez, 2002, p. 273),
embora esta área de atuação não constitua um limite às audiências. Aliás, o Estatuto da Imprensa
Regional determina que proporcione aos emigrantes portugueses no estrangeiro “informação geral
sobre as suas comunidades de origem, fortalecendo os laços entre eles e as respetivas localidades
e regiões” (Artigo 2.º alínea e).
O jornal local ou regional estabelece uma relação mais convivial e calorosa, regida pelo de-
ver de informar – em primeiro lugar, sobre o que está à sua volta; em segundo lugar, acerca dos
acontecimentos no seu país; finalmente, sobre o mundo, interpretando os factos à luz das vivên-
cias locais. O jornalismo de imprensa local tem a particularidade de viver entre os seus leitores
(Camponez, 2002, p. 122), criando um ambiente que não é propício ao desenvolvimento de um
jornalismo de investigação, especialmente por empresas sem grande dimensão (Ribeiro, 2008, p.
461). Por outro lado, a relação de proximidade que se estabelece no jornalismo regional revela-se
proveitosa para a obtenção de informação (Ribeiro, 2008, p. 461), pois os órgãos de comunicação
locais e regionais têm dificuldades no acesso a fontes de âmbito nacional (ERC, 2010, p. 109).
No entanto, a criação de laços de proximidade também acaba por ser um constrangimento
para o desenvolvimento da atividade jornalística (Ribeiro, 2008, p. 461). Isto acontece devido à
potencial publicação de notícias incómodas, que possam transmitir uma má imagem dos atores
desta realidade local, o que dificulta o acesso a fontes de informação.
Neste sentido, a captação de publicidade é um dos principais constrangimentos para o trabalho
dos jornalistas. Apesar de a publicidade comercial ser apontada como a principal fonte de finan-
ciamento da Imprensa local e regional (ERC, 2010, pp. 107-109), muitas das instituições públicas
da região são anunciantes, pelo que não podem ser hostilizadas do ponto de vista informativo
(Ribeiro, 2008, p. 462). Destas instituições, fazem parte os órgãos autárquicos, que ao coloca-
rem os jornalistas numa situação de dependência económica fragilizam a autonomia editorial e a
independência destes profissionais perante o poder político (ERC, 2010, p. 109).
Na lista de constrangimentos, regista-se ainda a expetativa das instituições regionais, que nor-
malmente não têm recursos para serem objeto de cobertura noticiosa pelos media nacionais, de
que os meios de comunicação locais lhes concedam destaque mediático. No contexto regional,
há que considerar igualmente a concorrência entre jornais do mesmo âmbito geográfico. Se um
dos diários não estiver presente numa conferência de Imprensa, por exemplo, passa a ideia de que
se “perdeu espaço” para a concorrência (Ribeiro, 2008, p. 462). Todos estes constrangimentos
acabam por influenciar de forma mais ou menos acentuada o trabalho jornalístico.
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REVIS ÃO DA LITERATUR A SOBRE O TEMA EM PORTUGAL
Visto a nossa temática incidir sobre a relação entre fontes e jornalistas no contexto do jor-
nalismo regional, existem poucos trabalhos internacionais que abordem o assunto. No entanto,
podemos destacar o que já foi estudado a nível nacional.
Santos (1997) explica que, em muitas ocasiões, os interesses da fonte colidem com os do
jornalista, pelo que, para evitar informações indesejadas, a fonte deve assegurar um contacto or-
ganizado e permanente com a Imprensa (Santos, 1997, pp. 84-86). Os diferentes interesses entre
jornalistas e fontes levam a que as últimas, cada vez mais organizadas e profissionalizadas, adotem
ações de comunicação estratégica (Pinto, 2000, pp. 280-285). A comunicação estratégica desen-
volvida pelas fontes é objeto de artigos de Costa e Ribeiro, que estudam esta realidade através da
análise de dois diários regionais de Braga.
Ribeiro (2008) comprova que os jornalistas dos dois diários acreditam que os eventos que
merecem cobertura jornalística têm origem em iniciativas das fontes, sendo essas as que dispõe de
mais destaque nas páginas dos jornais. Segundo os diretores desses jornais, tal resulta da falta de
tempo e de meios humanos nas redações para cobrir todos os eventos, o que leva os jornalistas a
aceitarem as informações enviadas pelas fontes (Ribeiro, 2008, pp. 457-459). Por sua vez, Costa
(2005) conclui que o facto de as câmaras municipais começarem a ter em consideração as rotinas
jornalísticas quando enviam informações condiciona o trabalho dos jornalistas. De facto, 65% dos
jornalistas integrados no seu estudo concordam em parte que tendem a submeter-se à informação
enviada por esses gabinetes (Costa, 2005, pp. 75-79).
Morais e Sousa (2013) dizem que são as fontes oficiais que lideram a produção das principais
peças noticiosas, como notícias e reportagens, sobretudo no campo da política. Nestas peças,
é dado maior relevo mediático aos representantes de instituições, normalmente pertencentes às
elites locais e regionais, que assim influenciam o conteúdo dos jornais (Morais & Sousa, 2013, pp.
199-200).
Seguindo a mesma linha de pensamento, Rasga (2002) concluiu que as fontes de informação
institucionais são as que mais contribuem com conteúdos noticiosos, controlando a seleção de
notícias através de interesses comerciais. No entanto, este controlo torna-se necessário, porque a
Imprensa precisa de material noticioso e verbas que sustentem o seu negócio e a entidade que a
financia necessita de ser noticiada (Rasga, 2002, p. 9).
Vilaça (2008), ao avaliar a relação estabelecida entre o assessor e o jornalista, verifica que a
maior parte das notas de imprensa referentes a ações camarárias foi publicada na íntegra. Nota
ainda que os jornalistas não alteram o conteúdo e as palavras dos comunicados, nem confrontam
os seus autores com opiniões de outras fontes, até porque o assessor redige a nota de imprensa de
modo a cumprir todos os requisitos de uma notícia (Vilaça, 2008, pp. 48-63).
Neste sentido, Ribeiro (2010) confirma a existência de dependência noticiosa dos jornais re-
gionais face ao poder local, na medida em que a câmara é a principal fonte regular de notícias. A
existência de uma estratégia de comunicação por parte do município é apontada como uma das ra-
zões para esta regularidade noticiosa (Ribeiro, 2010, p. 68). Por fim, Amaral (2006) verifica uma
predominância de fontes oficiais, nomeadamente as instituições burocratizadas, numa tentativa de
credibilizar o discurso jornalístico (Amaral, 2006, pp. 104-111).
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O acesso às fontes autárquicas no jornalismo regional: estudo de três jornais do distrito de Castelo Branco
AIMPRENSA NO DISTRITO DE CASTELO BRANCO:A HISTÓRIA DAS TRÊS PUBLICAÇÕES
Neste ponto, abordamos de forma breve a história das três publicações – como surgiram e
quais foram os momentos mais importantes, desde a sua fundação até aos dias de hoje.
O semanário Gazeta do Interior nasceu a 12 de janeiro de 1988, sob a liderança de Afonso
Camões, atual diretor do Jornal de Notícias. Desde então, já contou com 11 diretores e 1487
publicações. Hoje, regista 2300 assinantes nacionais, de norte a sul do país, mas também no es-
trangeiro. Sempre focado em temáticas generalistas do distrito de Castelo Branco, o semanário foi
galardoado em 1994 com o prémio Gazeta Imprensa Regional, atribuído pelo Clube de Jornalistas.
Já em 1995, o jornal criou o Troféu Gazeta, atribuído a indivíduos da região que se destaquem nas
áreas de desporto, política, autarquias, cultura, educação, economia e empresas, agricultura, soci-
edade, juventude e saúde. Os vencedores eram escolhidos pelos leitores, que votavam de acordo
com as categorias mencionadas. O prémio foi entregue irregularmente ao longo dos anos, sendo
o último em 2015. Atualmente, em parceria com a Associação de Atletismo de Castelo Branco,
atribui o Troféu Gazeta Celtejo Atletismo, aos atletas que, ao longo do ano, se destacam nas várias
modalidades.
Segundo o website do Jornal do Fundão, esta publicação “é hoje um marco referencial no
panorama da imprensa regional portuguesa”. Sediado no Fundão, o jornal tem como eixo geográ-
fico a região da Guarda, Covilhã, Fundão e Castelo Branco, contando com 45000 leitores (Jornal
do Fundão, 2017). De acordo com informação disponibilizada por Nuno Francisco, atual diretor
do jornal, a publicação foi lançada a 27 de janeiro de 1946 por António Paulouro. No tempo da
Ditadura, o Jornal do Fundão era fortemente vigiado pela polícia política, culminando com a sus-
pensão por um período de seis meses, em 1965. O jornal foi distinguido a 24 de agosto de 1985
com a Ordem do Infante D. Henrique. Seguiram-se outros distinções, nomeadamente o prémio
Gazeta Imprensa Regional.
De acordo com informações presentes no website do Reconquista, o jornal foi fundado em
Castelo Branco a 13 de maio de 1945. Dada a data, o fim da segunda Guerra Mundial foi um dos
temas no primeiro jornal, na altura constituído por quatro páginas. Já em 1978, a equipa adquiriu
o primeiro equipamento de impressão, sendo 11 anos mais tarde inaugurado um pavilhão na Zona
Industrial para impressão do jornal. Note-se que ainda hoje o Reconquista é impresso nesse local,
bem como o Gazeta do Interior.
Em 1955, o aniversário dos 50 anos do jornal marcou o início da publicação regular da primeira
página a cores, sendo que cinco anos depois, em 2000, é lançada a edição eletrónica do jornal.
Apesar disso, os conteúdos multimédia só surgem em 2007 e em 2009, com a abertura de canais
no Sapo Vídeos e no Youtube, respetivamente. Em 2011, é criada a assinatura digital e em 2014
o jornal altera o grafismo, bem como o logótipo. Em 2015, o Reconquista foi distinguido com o
Prémio Gazeta Imprensa Regional (Reconquista, 2016).
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APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS:AS FONTES AUTÁRQUICAS NO DISTRITO DE CASTELO
BRANCO
Neste capítulo apresentamos os resultados da nossa investigação, que se centram na identi-
ficação das fontes mais utilizadas pelos jornalistas do distrito de Castelo Branco, no tratamento
jornalístico das notícias autárquicas dos três jornais em estudo e na comunicação que se estabe-
lece entre a autarquia e os jornalistas. Os resultados são fruto de cinco entrevistas, realizadas a
jornalistas do Gazeta do Interior,Jornal do Fundão eReconquista, bem como aos responsáveis
pelos gabinetes de comunicação das câmaras municipais de Castelo Branco e do Fundão. Para
estes resultados contribuiu ainda a análise de 167 notícias das publicações em estudo.
Todos os jornalistas entrevistados concordam que as câmaras e as associações são quem envia
mais informação. Segundo Nuno Francisco, diretor do Jornal do Fundão, “as fontes institucionais
são incontornáveis num jornal do Interior”, dada a importância que os municípios, as associações
e as misericórdias têm nas dinâmicas sociais. Apesar disso, afirma que a relação que se estabelece
com estas fontes é de interdependência e não de dependência.
É nessa linha de pensamento que os jornalistas entrevistados demonstram não se cingirem a
estas fontes. Nuno Francisco afirma que a redação tenta fugir à construção de “um jornal em
torno de fontes institucionais, diferenciando-se através de reportagens próprias, onde lida com
outro tipo de fontes” no terreno. Já António Tavares, jornalista no Gazeta do Interior, diz que
no jornal recorrem a todas as fontes, pois na sua opinião “qualquer fonte é importante desde que
exista a necessidade de arranjar elementos para uma notícia ou uma reportagem”. Também Júlio
Cruz, subdiretor do Reconquista, é de opinião que todas as fontes são úteis, afirmando que prefere
utilizar contactos pessoais. “Utilizo pouco os assessores. Quando quero falar com uma pessoa vou
direto à mesma, não perco tempo”, diz. José Furtado, jornalista na mesma publicação, acrescenta
que as redes sociais facilitam esse contacto direto, que “é quase imediato”. Júlio Cruz é da mesma
opinião, afirmando que através das redes sociais se conseguem “informações úteis e rápidas, às
vezes muito mais rápidas do que por telefone”.
Com o objetivo de abordar a forma como os jornalistas absorvem a informação autárquica
que lhes é fornecida, centrámo-nos no tipo de assunto autárquico mais noticiado, no destaque
concedido às notícias autárquicas e na posição que ocupam nas páginas dos jornais. Para além
disso, iremos ainda debruçar-nos sobre o tratamento jornalístico dispensado às notas de imprensa.
Das peças autárquicas analisadas, contabilizámos 130 notícias e 37 “breves” – 115 apresen-
tavam uma foto ou ilustração e 52 não apresentavam qualquer tipo de imagem. No que toca aos
assuntos autárquicos mais abordados pelos três jornais em estudo, encontram-se explanados no
gráfico 1.
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O acesso às fontes autárquicas no jornalismo regional: estudo de três jornais do distrito de Castelo Branco
Gráfico 1. Assuntos autárquicos mais noticiados em frequências simples
Fonte: elaboração própria
Como podemos verificar, a maior parte das peças jornalísticas sobre matérias autárquicas, mais
concretamente 65, dá conta de obras públicas, seguindo-se a área da cultura, com 40 peças. Entre
os assuntos menos noticiados, encontramos as áreas da educação e saúde.
A nível do destaque atribuído às peças jornalísticas, verifica-se um maior número de peças
autárquicas nas páginas pares e ímpares (56 em cada uma destas secções). Segue-se a chamada
de primeira página, com 24 peças. As informações autárquicas são menos noticiadas nas páginas
centrais, já que se se contabilizaram apenas 6 peças.
Na tabela 2, é possível observar a relação entre o assunto autárquico e o destaque concedido,
sendo que qualquer valor acima de dois indica uma forte relação entre variáveis.
Tabela 2. Destaque atribuído ao assunto da notícia,
tendo em conta os resíduos ajustáveis das duas variáveis
Fonte: elaboração própria
Através da tabela, podemos perceber que os assuntos mais associados à primeira página, no-
meadamente à manchete, são os que dizem respeito a obras públicas (2,4). Quanto à foto principal
da primeira página, as temáticas que mais se relacionam com este espaço são as relativas a apoios
sociais (3,4). Por fim, notamos que os assuntos mais associados a páginas ímpares são os relativos
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a empresas (2), a páginas centrais os de desporto e lazer (4,4) e a páginas pares os que dizem
respeito à educação (2,6). Não se verificou nenhuma relação significativa entre o assunto e as
chamadas de primeira página ou a contracapa
No que diz respeito à posição das peças autárquicas nas páginas dos jornais, encontrámos 80
à cabeça da página, 77 em segundo plano e 10 a ocupar toda a página do jornal. Por forma a
aprofundar mais este ponto, no gráfico 2 apresenta-se o posicionamento dos assuntos autárquicos
nas páginas dos jornais.
Gráfico 2. Posicionamento dos assuntos autárquicos nas páginas dos jornais em frequências simples
Fonte: elaboração própria
Analisando a posição das notícias por assunto, podemos constatar que os assuntos relativos a
obras públicas têm mais peças colocadas à cabeça da página (32) do que em segundo plano (24
peças). Também as temáticas relativas a apoios sociais têm mais peças à cabeça da página (9)
do que em segundo plano (3). Os assuntos relativos à saúde e outras temáticas seguem a mesma
tendência: as duas únicas peças relacionadas com a saúde foram colocadas à cabeça da página e,
por fim, em 4 peças de outras temáticas, 3 foram colocadas à cabeça da página. Por outro lado,
as peças sobre cultura, empresas, desporto e lazer e educação seguem a tendência oposta, sendo
colocadas em segundo plano. Em 40 peças sobre cultura, 21 foram remetidas para segundo plano,
bem como as nove peças relativas a empresas, as 8 respeitantes a desporto e lazer e as cinco sobre
educação. Apenas as peças referentes a obras públicas e cultura ocuparam toda a página, com 9 e
uma peças, respetivamente.
No que concerne à peça propriamente dita, das 167 analisadas, 127 citavam a fonte, ao passo
que 40 não o faziam. Verificámos ainda que 91 peças assentavam em informação proveniente de
gabinetes de comunicação, enquanto 76 provinham de políticos. Por forma a aprofundarmos estes
dados, o gráfico 3 reflete os dados recolhidos acerca da identificação da fonte.
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O acesso às fontes autárquicas no jornalismo regional: estudo de três jornais do distrito de Castelo Branco
Gráfico 3. Identificação de fontes, em frequência simples
Fonte: elaboração própria
Através do gráfico, podemos verificar que, caso a fonte se encontre identificada, é um polí-
tico, na maior parte das peças analisadas (76). Por outro lado, quando a fonte não se encontra
identificada, todas as notícias provêm dos gabinetes de comunicação (40).
No que toca à informação recolhida de um político ou de um gabinete de informação, procu-
rámos perceber se o género da peça jornalística difere consoante a fonte, explicitada no gráfico
4.
Gráfico 4. Género da peça jornalística tendo em conta a fonte, em frequências simples
Fonte: elaboração própria
Como podemos verificar, das 37 “breves” contabilizadas, 32 utilizam exclusivamente infor-
mações provenientes de gabinetes de comunicação. Já no que diz respeito às notícias, das 130
analisadas, 71 provêm de políticos e não diretamente do gabinete de comunicação das câmaras.
Constatou-se que existe correlação entre as “breves” e a informação fornecida pelos gabinetes,
bem como entre as notícias e as informações que são prestadas por políticos.
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Avaliando agora o enfoque das notícias, atente-se ao gráfico 5.
Gráfico 5. Enfoque das notícias consoante a publicação por frequências
Fonte: elaboração própria
Como podemos observar, todas as publicações apostam no tratamento neutro da informação
autárquica, contabilizando-se 57 notícias desta natureza no Jornal do Fundão, 45 no Reconquista e
32 no Gazeta do Interior. No entanto, existem algumas diferenças. Nem o Gazeta do Interior nem
oReconquista atribuem um enfoque negativo às peças referentes às autarquias, mas contabilizam-
se 14 notícias positivas no Reconquista e 13 no Gazeta. Por outro lado, no Jornal do Fundão
encontrámos 3 notícias positivas e 3 negativas. Este enfoque foi inferido tendo por base marcas
textuais.
No que diz respeito às notas de imprensa recebidas nas três publicações, os jornalistas entre-
vistados são unânimes num aspeto: a informação deve ser sempre tratada, sob risco de os jornais
poderem vir a conter todos o mesmo ângulo de abordagem. Na figura 1, expomos as várias opi-
niões sobre o assunto expressas nas entrevistas.
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O acesso às fontes autárquicas no jornalismo regional: estudo de três jornais do distrito de Castelo Branco
Figura 1. Razões apontadas pelos jornalistas para a necessidade de tratar a informação autárquica
Fonte: elaboração própria
António Tavares, jornalista do Gazeta do Interior, é de opinião que a nota de imprensa deve
ser sempre tratada, não só porque cada jornalista tem a sua forma de escrever notícias, como
também pelo facto de a informação da nota dever ser adaptada à linha editorial do jornal. Para
além disso, destaca a necessidade de incluir na notícia os dois lados da mesma história, pois “a
partir do momento que se faça alguma acusação ou denúncia, o jornalista não fica só por ouvir
uma das partes, deve ouvir as duas e, eventualmente, até mais”.
Já Nuno Francisco, do Jornal do Fundão, defende que a Imprensa tem obrigação de ir mais
longe, utilizando as notas de imprensa como ponto de partida para o aprofundamento de determi-
nadas matérias. Afirma que “temos de questionar (...) se podemos tratar de uma forma diferente,
porque qualquer dia você arrisca-se a abrir os jornais e têm todos a mesma coisa. E quando temos
todos a mesma coisa anulamo-nos uns aos outros”.
Do lado do Reconquista, Júlio Cruz declara que existe a necessidade de a informação ser fil-
trada, selecionando-se o que “tem interesse público para uma situação”. A título de exemplo, José
Furtado, jornalista no mesmo órgão, explica que no caso dos estudos nacionais onde se incluem
os concelhos da região, as autarquias conservam a prática de enviar comunicados apenas com a
informação respeitante ao seu concelho. Por essa razão, o jornalista afirma que é preciso tratar
a informação, consultando-se o estudo completo e publicando-se a informação geral de todo o
distrito.
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Deste modo, podemos dizer que, regra geral, os jornalistas entrevistados recusam copiar na
íntegra os comunicados que chegam à redação. Júlio Cruz admite que isso pode acontecer espo-
radicamente, mas que no Reconquista é efetuado um esforço para que não seja regra. Já Nuno
Francisco afirma que “há notícias que tem de ser dadas tal como nos enviam”, no caso de a fonte
ser fidedigna. No entanto, reforça a ideia de que os jornalistas deve questionar-se sobre a possibi-
lidade de irem mais longe na informação que incluem na notícia, defendendo que não devem ser
"meros amplificadores de notas institucionais". Por fim, António Tavares assegura que a informa-
ção é sempre tratada.
Tanto a Câmara Municipal de Castelo Branco como a do Fundão declaram enviar informação
aos jornalistas através de notas de imprensa, por e-mail. Para além destas, Miguel Gavinhos, da
Câmara Municipal do Fundão, destaca “as conferências de Imprensa, as redes sociais, os even-
tos, as entrevistas e as chamadas telefónicas”. Teresa Antunes, da Câmara de Castelo Branco,
acrescenta que na maior parte das vezes é dado a conhecer aos media o “conjunto de ações ou
iniciativas que vai decorrer, deixando ao critério da agenda de cada órgão de comunicação” a
cobertura e divulgação.
No que diz respeito aos temas dessas informações, Miguel Gavinhos refere que se centram
em “eventos, políticas implementadas e concursos públicos”. Já Teresa Antunes afirma que os
temas mais comunicados pela câmara a que está ligada dizem respeito às atividades culturais do
município, onde inclui as feiras de produtos regionais. Destaca ainda os temas referentes às ações
políticas, que abrangem “obras e novos equipamentos, novos serviços e questões de urbanismo”.
Ambos os entrevistados das câmaras municipais, bem como os jornalistas do Gazeta do Inte-
rior e do Jornal do Fundão, concordam que a informação autárquica é enviada com regularidade,
diariamente ou duas ou três vezes por semana. Já no que diz respeito a quem é enviada, Miguel
Gavinhos explica que por atuarem em várias áreas, e por os órgãos de comunicação social se espe-
cializarem em campos diferentes, o município do Fundão aposta na “segmentação da informação”.
Como diz, “uma informação sobre agricultura é enviada para a comunicação social de índole geral
e de âmbito agrícola”, por exemplo.
Por outro lado, Teresa Antunes afirma que a câmara onde trabalha envia informação para todos
os órgãos de comunicação regionais do distrito, realçando que a difusão extravasa as fronteiras do
distrito, chegando aos de Portalegre e Guarda. Acrescenta ainda que se procura “sintonizar a
disponibilização da informação no site da câmara” com os jornais, não a libertando online antes
de ser publicada. Relativamente a este assunto, Júlio Cruz, jornalista no Reconquista, garante que
os comunicados da Câmara de Castelo Branco não são enviados na mesma altura para todos os
órgãos de comunicação. “Muitas vezes, vemos informação veiculada pela câmara noutros órgãos
de comunicação, antes de essa informação institucional chegar aos nossos”, afirma.
Apesar disso, Teresa Antunes declara que no gabinete não é adaptada a informação ao órgão
de comunicação. “O que acontece é que os órgãos de comunicação especializados nos pedem
informação adicional”, justifica. Quanto a esse ponto, Nuno Francisco, do Jornal do Fundão,
admite que sempre que o jornalista demonstre interesse em adquirir informação adicional por
parte das câmaras esta é disponibilizada. António Tavares, do Gazeta do Interior, acrescenta que
a informação é fornecida mesmo que estejam em causa questões sensíveis. “Normalmente, não
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O acesso às fontes autárquicas no jornalismo regional: estudo de três jornais do distrito de Castelo Branco
tentam fugir às questões. Se tentam, nós próprios, através de um diálogo, fazemos tudo para
inverter a situação.
No que diz respeito aos cuidados que as câmaras têm antes do envio da informação para os
órgãos de comunicação, Miguel Gavinhos afirma que a informação é revista pelo Executivo, “para
que a mensagem pretendida seja efetivamente passada”. Já Teresa Antunes declara que para a
Câmara de Castelo Branco é fundamental o envio de informação rigorosa. Como diz, “aquilo
que o gabinete de comunicação faz é disponibilizar informação que pode ser tratada em termos
jornalísticos”.
Após o envio da informação, ambos os responsáveis pelos gabinetes de comunicação declaram
fazer o acompanhamento dos materiais que são enviados, através de clipping. O resultado deste
acompanhamento leva Teresa Antunes a mencionar órgãos de comunicação, sem os identificar,
que transcrevem os comunicados na totalidade – “às vezes, nem mudam o título”.
Ainda no que concerne ao envio de informação autárquica por parte dos gabinetes de co-
municação das câmaras, todos os jornalistas entrevistados defendem que existem gabinetes que
funcionam melhor do que outros. Nuno Francisco afirma que nos últimos anos nota que certos ga-
binetes de comunicação das autarquias se encontram cada vez mais profissionalizados, enviando
“notas perfeitamente estruturadas em forma de uma notícia”. O funcionamento “depende muito
dos profissionais que estão nos gabinetes de comunicação (...). Vê-se quem tem formação e quem
não tem”.
Júlio Cruz e José Furtado também detetam a existência de assimetrias. O primeiro declara
que o gabinete de comunicação da Câmara de Castelo Branco “trabalha muito mal em termos de
comunicação (...). O próprio conteúdo da informação que envia é muito fraquinho”. Na sua ótica,
as câmaras dos concelhos mais pequenos trabalham “mais e melhor”, destacando o caso de Idanha-
a-Nova, Oleiros, Vila Velha de Ródão e Proença-a-Nova. José Furtado também afirma que esses
gabinetes “trabalham de forma integrada”, divulgando o “que vai acontecendo nas associações,
fora do próprio município”, ao contrário da Câmara de Castelo Branco, que trabalha apenas com
a informação que lhe diz respeito.
Já António Tavares, apesar de também defender a existência de diferenças entre gabinetes
de comunicação, faz notar que reside na quantidade de informação enviada e não na qualidade.
Destaca os concelhos de Castelo Branco, Idanha-a-Nova, Proença-a-Nova, Vila Velha de Ródão,
Oleiros e Fundão como os que enviam mais informação. No que diz respeito às informações que
constam no próprio comunicado, diz que “muitas vezes” não satisfazem todas as necessidades da
notícia. No entanto, ressalva que isso depende da sensibilidade de cada jornalista. “Pode achar
que há um ou outro ponto que convém focar (...). Aí, quando necessário, volta-se a contactar para
conseguir o resto da informação”.
Todos os jornalistas entrevistados asseguram que não se sentem pressionados pelas fontes au-
tárquicas para a publicação de notícias. Afirmam que essa pressão adquire moldes diferentes, no
sentido em que “quando [os gabinetes de comunicação] enviam informação têm um objetivo”,
como diz Nuno Francisco. Júlio Cruz acrescenta que qualquer e-mail enviado já constitui uma
pressão, por chamar a atenção para um assunto, mas ressalva que isso não tem de ser encarado
como um aspeto negativo: “quando se utiliza o termo pressão, está-se a conotar o termo negativa-
mente. Mas há pressões boas e pressões más”. Nesse sentido, dando o exemplo de uma pressão
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boa, aponta os casos em que os gabinetes de informação relembram ao jornalista o facto de estar
marcado determinado acontecimento. Sobre este tema, José Furtado sustenta que os “gabinetes
de Imprensa relacionados com empresas” e as fontes de outras informações que chegam à redação
são “mais insistentes” quanto à publicação de informação.
Quando questionados sobre os efeitos da proximidade entre fontes e jornalistas, decorrente do
meio regional em que operam, todos os jornalistas declaram que não podem permitir que isso afete
o seu trabalho. António Tavares confessa que, por vezes, lhe custa falar com uma pessoa conhecida
sobre determinados temas delicados, “mas o jornalista têm de o fazer”. Já Nuno Francisco refere
que apesar de o jornalismo de proximidade ter muitas vantagens, tem a desvantagem de se escrever
sobre pessoas e factos. Sobre isto, acrescenta que é impossível dar notícias que agradem a todos:
“é fácil, umas vezes é, outras vezes nem por isso, mas temos de saber lidar com isso”. Por fim, Júlio
Cruz defende que apesar das questões de proximidade não deverem afetar o trabalho jornalístico,
por vezes é inevitável que isso aconteça. Como diz, “temos que procurar que não influencie (...),
mas acaba sempre por influenciar, porque eles telefonam-te. Assim como tu lhes telefonas a eles”.
No que respeita aos aspetos a melhorar na relação que se estabelece entre as fontes autár-
quicas e os jornalistas regionais, as respostas são diversas. Para Teresa Antunes, os jornalistas
deveriam conhecer melhor as competências e limitações dos órgãos de poder local: “todos ga-
nhariam imenso, porque a posição era mais esclarecida dos dois lados”. Já Miguel Gavinhos, da
Câmara do Fundão, é de opinião que terá de existir sempre uma relação de proximidade, “com um
canal direto entre os gabinetes de comunicação e os órgãos de comunicação social” que permita
ao município transmitir “a mensagem pretendida de forma transparente e assertiva”.
Do lado dos jornalistas, tanto os responsáveis pelo Jornal do Fundão como pelo Reconquista
defendem que o importante é que cada uma das partes tenha consciência do papel que desempenha.
Segundo Nuno Francisco, não há reservas entre as autarquias e o Jornal do Fundão: “se as coisas
estiverem bem delineadas e bem claras, nós somos jornalistas e fazemos o papel de jornalistas”.
Júlio Cruz acrescenta que nestas situações os problemas surgem “quando alguém quiser pisar o
outro lado, quando o jornalista começar a querer ser político ou quando o político começar a querer
ser jornalista”. Por fim, José Furtado admite que alguns gabinetes de comunicação das autarquias
poderiam melhorar a sua comunicação, enquanto António Tavares destaca a necessidade de envio
de mais informação.
DISCUSSÃO DE RESULTADOS
Com este estudo, pretendíamos analisar a relação estabelecida entre os jornalistas do distrito
de Castelo Branco e as fontes autárquicas, mais concretamente no que diz respeito à informação
enviada pelos gabinetes de comunicação dos municípios e, consequentemente, à forma como esta
é tratada nos três jornais em estudo.
A investigação realizada permitiu evidenciar que fontes como as câmaras e as associações são
as fontes a que os jornalistas recorrem com mais frequência. Isto ocorre porque, nas regiões do
Interior, este tipo de fontes está intrinsecamente ligado às vivências sociais, em que os cidadãos
partilham interesses comuns (Camponez, 2002, pp. 128-273; Almeida, 2008, p. 17; Neveu, 2005,
p. 40). No entanto, os jornalistas entrevistados ressalvam que não se restringem apenas a estas
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O acesso às fontes autárquicas no jornalismo regional: estudo de três jornais do distrito de Castelo Branco
fontes, fazendo uso de contactos próprios e até mesmo das redes sociais, que lhes facilitam o
contacto direto. Neste sentido, podemos afirmar que esta conclusão contraria o estudo de Costa
(2005, pp. 75-79), que afirma que os jornalistas tendem a submeter-se à informação enviada pelos
gabinetes de comunicação das câmaras.
Em segundo lugar foi possível concluir que as câmaras de Castelo Branco e do Fundão en-
viam informações regularmente, estando disponíveis para fornecer dados adicionais a pedido dos
jornalistas, atitude que é defendida nos estudos de Camilo (1998, p. 117) e Santos (1997, p. 87).
No entanto, apesar dessa disponibilização, os jornalistas das três publicações defendem que toda a
informação recebida deve ser tratada, acima de tudo, para evitar que as notícias publicadas sejam
todas iguais. Para além disto, é defendido, entre outros motivos, que a informação enviada deve
servir como um ponto de partida para o aprofundamento de matérias, incluindo-se os dois lados de
uma história. Contrariamente, Teresa Antunes defende que existem órgãos de comunicação social
no distrito que não modificam nenhum elemento dos comunicados que são enviados, chegando a
nem sequer alterar os títulos. Os jornalistas entrevistados não negam a prática da cópia integral
dos comunicados, mas afirmam que não é corrente nas redações em que trabalham.
Foi ainda possível verificar que, no que diz respeito à publicação de informação autárquica,
os assuntos mais abordados referem-se, em primeiro lugar, a obras públicas e equipamentos e,
em segundo, a temáticas culturais. Ambos os assuntos foram destacados por Teresa Antunes
como os mais veiculados nos comunicados da Câmara de Castelo Branco, embora pela ordem
inversa. Concluiu-se, também, que quando a fonte da notícia é identificada as informações são,
na sua maioria, transmitidas por um político. Por outro lado, quando se tratam de notícias cuja
informação saiu de um gabinete de comunicação, a fonte nem sempre é identificada. Note-se ainda
que a análise das peças jornalísticas mostrou que as informações disponibilizadas pelos gabinetes
de comunicação estão mais associadas a “breves”, enquanto os dados transmitidos por políticos
dão origem a notícias.
O facto de o jornalista regional desenvolver a atividade muito próximo do seu público cria um
ambiente pouco propício ao jornalismo de investigação (Camponez, 2002, p. 122; Ribeiro, 2008,
p. 461). Apesar desta condicionante, todos os jornalistas afirmaram que não podem deixar que
essa proximidade afete o seu trabalho, sendo necessário distinguir-se o papel do político do papel
desempenhado pelo jornalista. Posto isto, os jornalistas entrevistados defendem que não se sentem
pressionados pelas fontes autárquicas para a publicação de informação. Os jornalistas do Jornal
do Fundão e do Reconquista explicam que a influência se expressa em moldes diferentes: o envio
de informação, associado a um determinado objetivo, constitui só por si uma pressão, que não tem
necessariamente de ser considerada negativa. Aliás, Júlio Cruz, do jornal Reconquista, ressalva
que essa pressão até pode ser favorável.
A investigação permitiu concluir que a relação entre os jornalistas do distrito de Castelo
Branco e as fontes autárquicas é pautada pela interdependência, sendo que no jornalismo regi-
onal estas fontes adquirem grande importância, visto que as suas ações incidem diretamente nas
dinâmicas sociais. No que toca ao tratamento da informação, notámos que a informação autár-
quica consta principalmente em páginas pares e ímpares, bem como nas chamadas de primeira
página, maioritariamente à cabeça da página.
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Note-se ainda que as informações prestadas pelos gabinetes de comunicação deram origem, na
sua maioria, a “breves”, enquanto as transmitidas por políticos foram inseridas em notícias. Todas
as publicações apostam num enfoque neutro das notícias, apesar de existirem peças de caráter
positivo e, residualmente, de caráter negativo. Por fim, o estudo evidenciou que a transmissão de
informação autárquica é realizada regularmente, atendendo aos pedidos de informação adicional
dos jornalistas. Apesar disso, todos os jornalistas apontaram discrepâncias no funcionamento das
várias câmaras municipais do distrito.
NOTAS FINAIS
O objetivo principal do presente trabalho consistia em compreender a relação que se estabe-
lece entre as fontes autárquicas e os jornalistas regionais, mais concretamente dos que exercem a
profissão no distrito de Castelo Branco. Para o atingir, recorremos a uma abordagem mista, pro-
cedendo à realização de entrevistas semiestruturadas em profundidade e à análise de conteúdo dos
jornais em estudo.
As entrevistas foram dirigidas a jornalistas do Gazeta do Interior, Jornal do Fundão eRecon-
quista, bem como aos responsáveis pelos gabinetes de comunicação das câmaras municipais de
Castelo Branco e do Fundão. No âmbito da análise de conteúdo, foram examinadas 167 peças das
três publicações, num período de três meses. Aquando da elaboração da parte referente à revisão
bibliográfica, foi notória a escassez de trabalhos internacionais sobre esta temática, bem como de
estudos recentes focados nas particularidades do jornalismo regional.
No que diz respeito a propostas para estudos futuros, destaca-se a possibilidade de analisar o
trabalho empreendido pelos gabinetes de comunicação das autarquias locais, comparando as in-
formações transmitidas com as notícias publicadas. Esta proposta resulta do facto de os jornalistas
entrevistados terem apontado discrepâncias na comunicação municipal das várias autarquias do
concelho. Ainda no âmbito regional, seria interessante estudar de que modo as instituições públi-
cas, enquanto anunciantes, influenciam a imprensa regional, dependente da publicidade para a sua
sobrevivência económica.
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Article
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No presente artigo procuramos perceber como funcionam as estruturas que as câmaras municipais dos distritos de Braga e de Viana do Castelo criaram e implementaram para se relacionar com a comunicação social e as estratégias de trabalho implementadas. Pretendemos, igualmente, avaliar a reacção e postura de jornalistas e directores do Correio do Minho e do Diário do Minho perante a crescente profissionalização das estruturas municipais associadas à comunicação.Deste modo, procuramos analisar o impacto que as câmaras municipais têm na imprensa regional e perceber se, e como, o trabalho das estruturas de comunicação municipais, concretamente dos dois distritos do Minho, condiciona o funcionamento dos dois jornais, o seu conteúdo e a apresentação do seu produto jornalístico.Após a análise realizada, concluímos que a actividade das estruturas dos municípios minhotos associadas à comunicação condiciona os dois diários bracarenses e o conteúdo e a apresentação do seu produto jornalístico.
Chapter
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A eficácia que a assessoria de imprensa tem na indução de notícias, e consequentemente na formatação da opinião pública, facto amplamente demonstrado por um conjunto de autores (Sigal, 1973; Ericson et al., 1989; Michie, 1998; Manning, 2001; Davies, 2008; Ribeiro, 2009), reveste esta atividade de uma particular importância no contexto da comunicação organizacional. Assim, pretende-se com este capítulo contribuir para a reflexão e discussão ontológica da assessoria de imprensa através de, numa primeira parte, uma intricada procura do campo – paradoxalmente algures entre o jornalismo, as relações públicas e a propaganda; e, numa segunda parte, pela delimitação do seu processo operacional através do triângulo: ‘produção de conteúdos’ – ‘relacionamento com os jornalistas’ - ‘criação de eventos’.
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Institutional messages provide a conceptual and empirical link between the predominantly macro world of institutions and the micro world of organizational communication. The concept of the institutional message is used colloquially but has not been developed theoretically.The conception that emerges from a review of the scholarly and primitive uses is that institutional messages are collations of thoughts that take on lives independent of senders and recipients. They may have the force of rules, spread intentionally or unintentionally via multiple channels to narrow or wider audiences. This essay considers the institutionality of messages in terms of their endurance, reach, encumbency, and intentionality. Institutional messages carry institutional logics—patterns of beliefs and rules. They are collations of thoughts that are intentional, enduring, have a wide reach, and encumber organizational participants to engage in certain behaviors or to take performative responses. It is argued that individuals and organizations develop institutional logics as they make sense of institutional messages. Implications and suggestions for research are included.
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Este ensaio nasce de uma necessidade e de um desejo. A necessidade advem da consciencia do pouco que se tem pesquisado sobre as fontes no nosso pais, apesar de elas constituirem uma dimensao central para a compreensao do jornalismo. O desejo surge e ganha expressao nao apenasda vontade de estudar e de investigar, mas igualmente de o fazer em conjunto, dando na medida do possivel um mote comum a um grupo de docentes e investigadores ligados ao jornalismo, mesmo que cada um deles o possa glosar a seu modo.
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This article examines the nature of strategic communication, which is defined as the purposeful use of communication by an organization to fulfill its mission. Six relevant disciplines are involved in the development, implementation, and assessment of communications by organizations: management, marketing, public relations, technical communication, political communication, and information/social marketing campaigns. The nature of the term strategic is examined, and key aspects of communication are identified. This article is based, in part, on a panel discussion involving the journal's editors and international scholars at the International Communication Association in May 2005 in New York.
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Neste trabalho, pretendemos sistematizar as práticas de comunicação corporativa que são desenvolvidas por algumas instituições da administração pública, concretamente os municípios. Tal sistematização, formalizada num modelo de comunicação adequado, determina linhas de acção comunicativa perpassadas por princípios de actuação corporativa (da eficácia e da democracia) e por várias dinâmicas (lineares ou circulares, dialógicas ou monológicas e unilaterais, etc.). Tencionamos atingir dois objectivos: o primeiro remete à necessidade de se conceberem modelos de comunicação. Tal como Stephen Littlejohn e Dennis McQuail e Sven Windahl o fazem relativamente à comunicação de massa, também nós reivindicamos o valor organizador, heurístico e metodológico dos modelos para o estudo dos fenómenos de comunicação corporativa, já que possibilitam estabelecer uma imagem global de fenómenos comunicacionais que, aparentemente, parecem desgarrados, sem valor corporativo nem funcionalidade estratégica. A segunda meta está relacionada com a pretensão de discriminarmos categorias de actividade comunicacional que estão subjacentes a qualquer organismo da administração publica local portuguesa e são resultantes da interacção de um conjunto específico de parâmetros. Neles, existem pressupostos relativos a exercícios específicos da linguagem e a efeitos a alcançar.
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Grounded in an agenda-building framework, this experiment manipulated two dimensions of affective attributes—valence and arousal—from a corporate blog message to examine their influence on corporate reputation and stakeholder engagement. Overall, the findings showed significant valence effects on reputation and engagement, while arousal effects were only present on corporate reputation. This study adds empirical evidence to the explication of agenda building by focusing on affective attributes and by testing the compelling-arguments hypothesis concerning the role of affective attributes’ (second level) impact on object salience (first level).
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The theory and practice of corporate communication is usually driven by other disciplinary concerns than the field of organizational communication. However, its particular mind-set focusing on wholeness and consistency in corporate messages increasingly influence the domain of contemporary organizational communication as well. We provide a formative and critical review of research on corporate communication as a platform for highlighting crucial intersections with select research traditions in organizational communication to argue for a greater integration between these two areas of research. Following this review, we relax the assumptions underlying traditional corporate communication research and show how these dimensions interact in organizational and communication analysis, thus, demonstrating the potential for a greater cross-fertilization between the two areas of research. This cross-fertilization, as we will illustrate, enriches the theorization of corporate and organizational communication and may better link micro- and macro level analyses.