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Melhora do desempenho de leitura com o uso de lâminas espectrais: revisão sistemática e meta-análise [Improvement in reading performance using spectral overlays: systematic review and meta-analyses]

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RESUMO: As lâminas espectrais são importantes ferramentas para minimizar distorções visuoperceptuais durante a leitura, aumentar o conforto visual e a fluência do leitor. Objetivo: Realizar uma revisão sistemática de todos os estudos que verificaram a prevalência da população beneficiada com o uso das lâminas espectrais. Método: Todos os títulos e resumos dos 225 artigos completos, de 1980 a 2017, foram avaliados independentemente por dois autores. Da seleção final, 26 estudos sobre a prevalência do uso de lâminas espectrais foram lidos na íntegra. Resultados: 63% da população em geral informam melhora perceptual da qualidade do texto com o uso das lâminas. A prevalências por meio do uso prolongado da lâmina, por pelo menos dois meses, revela um índice de 30% da população geral. Por fim, sob uso de lâminas, 33% da população melhorou a velocidade de leitura, quantificada via Rate of Reading Test, tendo 18% apresentado ganhos de moderados a robustos. Os grupos clínicos que apresentam maior probabilidade de ganhos na velocidade de leitura com o uso da lâmina espectral são, respectivamente: Síndrome de Tourette, Esclerose Múltipla, Transtorno do Espectro Autista, Dificuldade de Leitura. Conclusão: grande proporção da população apresenta ganhos na qualidade visual com o uso das lâminas espectrais, sendo esses índices maiores nos transtornos com hiperexcitabilidade cortical. ABSTRACT: Spectral overlays are important interventions to reduce visual-perceptual distortions during reading, providing more comfort, fluency to the reader. Objective: systematically review all studies that assessed the population impact of the spectral overlays. Method: All titles and abstracts of 225 complete articles, from 1980 to 2017, were evaluated independently by two authors. In the final selection, 26 studies on the prevalence of the use of colored overlays were read in full. Results: 63% of children in the general population inform perceptual improvement in text clarity with the use of overlays. The prevalence with the sustained use of at least two months is revealed in 30% of the general population. Finally, under the use of overlays, 33% of the population improved reading speed, quantified via Rate of Reading Test, with 18% presenting moderate to robust gains. The clinical groups that are most likely to gain reading speed with the use of overlays are, respectively: Tourette Syndrome, Multiple Sclerosis, Autistic Spectrum Disorder, Reading Difficulty. Conclusion: a large proportion of the general population improves their visual quality with the use of spectral overlays, with disorders with cortical hyperexcitability presenting higher percentage. RESUMEN: Las transparencias espectrales (overlays) son intervenciones importantes para reducir las distorsiones viso-perceptivas durante la lectura, proporcionando más comodidad y fluidez al lector. Objetivo: revisar sistemáticamente todos los estudios que evaluaron el impacto de los overlays en la población. Método: Todos los títulos y resúmenes de 225 artículos completos, de 1980 a 2017, fueron evaluados de forma independiente por dos autores. En la selección final, 26 estudios sobre la prevalencia del uso de los overlays fueron leídos en su totalidad. Resultados: 63% de los niños de la población general informan una mejoría perceptual en la claridad del texto con el uso de los overlays. La prevalencia con el uso contínuo de al menos dos meses se revela en el 30% de la población en general. Finalmente, con el uso de los overlays, 33% de la población mejoró la velocidad de lectura, cuantificada a través de la Prueba de Tasa de Lectura, con 18% presentando mejorías de moderadas a robustas. Los grupos clínicos que tienen más probabilidades de mejorar la velocidad de lectura con el uso de los overlays son, respectivamente: Síndrome de Tourette, Esclerosis Múltiple, Trastorno del Espectro Autista, Dificultad de Lectura. Conclusión: una significativa proporción de la población presenta índices de mejoría en su calidad visual con el uso de las transparecias espectrales, siendo éstos mayores en individuos con transtornos relacionados a la hiperexcitabilidad cortical.
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PsicolArgum. 2018 jul./set., 36(93), 343-361 343
doi: http://dx.doi.org/10.7213/psicolargum.36.93.AO05
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Melhora do desempenho de leitura com o uso de lâminas
espectrais: revisão sistemática e meta-análise
Improvement in reading performance using spectral overlays: systematic
review and meta-analyses
Mejora de la lectura con el uso de transparencias espectrales: revisión
sistemática y meta-análisis
Douglas de Araújo Vilhena[a], Márcia Reis Guimarães[b], Ricardo Queiroz Guimarães[c]
[a] Psicólogo. Doutorando em Neuropsicologia (UFMG). Coordenador do Laboratório de Pesquisa
Aplicação à Neurociências da Visão (UFMG), Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. E-mail:
douglasvilhena@ufmg.br
[b] Médica. Doutorado em Oftalmologia (UFMG). Diretora do Departamento de Neurovisão do
Hospital de Olhos de Minas Gerais. Brasil. E-mail: marciag2020@gmail.com
[c] Médico. Doutorado em Oftalmologia (UFMG). Diretor do LAPAN, do Hospital de Olhos de
Minas Gerais e da Fundação Hospital de Olhos. E-mail: ricardoguimaraes@ufmg.br
Resumo
As lâminas espectrais são importantes ferramentas para minimizar distorções visuoperceptuais
durante a leitura, aumentar o conforto visual e a fluência do leitor. Objetivo: Realizar uma revisão
sistemática de todos os estudos que verificaram a prevalência da população beneficiada com o
uso das lâminas espectrais. Método: Todos os títulos e resumos dos 225 artigos completos, de
1980 a 2017, foram avaliados independentemente por dois autores. Da seleção final, 26 estudos
sobre a prevalência do uso de lâminas espectrais foram lidos na íntegra. Resultados: 63% da
população em geral informam melhora perceptual da qualidade do texto com o uso das lâminas.
A prevalências por meio do uso prolongado da lâmina, por pelo menos dois meses, revela um
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índice de 30% da população geral. Por fim, sob uso de lâminas, 33% da população melhorou a
velocidade de leitura, quantificada via Rate of Reading Test, tendo 18% apresentado ganhos de
moderados a robustos. Os grupos clínicos que apresentam maior probabilidade de ganhos na
velocidade de leitura com o uso da lâmina espectral são, respectivamente: Síndrome de Tourette,
Esclerose Múltipla, Transtorno do Espectro Autista, Dificuldade de Leitura. Conclusão: grande
proporção da população apresenta ganhos na qualidade visual com o uso das lâminas espectrais,
sendo esses índices maiores nos transtornos com hiperexcitabilidade cortical.
Palavras-chave: Síndrome de Irlen. Estresse visual. Leitura. Remediação da leitura. Intervenção
precoce. Dificuldade de leitura.
Abstract
Spectral overlays are important interventions to reduce visual-perceptual distortions during
reading, providing more comfort, fluency to the reader. Objective: systematically review all
studies that assessed the population impact of the spectral overlays. Method: All titles and
abstracts of 225 complete articles, from 1980 to 2017, were evaluated independently by two
authors. In the final selection, 26 studies on the prevalence of the use of colored overlays were
read in full. Results: 63% of children in the general population inform perceptual improvement
in text clarity with the use of overlays. The prevalence with the sustained use of at least two
months is revealed in 30% of the general population. Finally, under the use of overlays, 33% of
the population improved reading speed, quantified via Rate of Reading Test, with 18% presenting
moderate to robust gains. The clinical groups that are most likely to gain reading speed with the
use of overlays are, respectively: Tourette Syndrome, Multiple Sclerosis, Autistic Spectrum
Disorder, Reading Difficulty. Conclusion: a large proportion of the general population improves
their visual quality with the use of spectral overlays, with disorders with cortical hyperexcitability
presenting higher percentage.
Keywords: Irlen Syndrome. Visual Stress. Reading. Reading Remediation. Early Intervention.
Reading difficulty.
Resumen
Las transparencias espectrales (overlays) son intervenciones importantes para reducir las
distorsiones viso-perceptivas durante la lectura, proporcionando más comodidad y fluidez al
lector. Objetivo: revisar sistemáticamente todos los estudios que evaluaron el impacto de los
overlays en la población. Método: Todos los títulos y resúmenes de 225 artículos completos, de
1980 a 2017, fueron evaluados de forma independiente por dos autores. En la selección final, 26
estudios sobre la prevalencia del uso de los overlays fueron leídos en su totalidad. Resultados:
63% de los niños de la población general informan una mejoría perceptual en la claridad del texto
con el uso de los overlays. La prevalencia con el uso contínuo de al menos dos meses se revela
en el 30% de la población en general. Finalmente, con el uso de los overlays, 33% de la población
mejoró la velocidad de lectura, cuantificada a través de la Prueba de Tasa de Lectura, con 18%
presentando mejorías de moderadas a robustas. Los grupos clínicos que tienen más probabilidades
de mejorar la velocidad de lectura con el uso de los overlays son, respectivamente: Síndrome de
Tourette, Esclerosis Múltiple, Trastorno del Espectro Autista, Dificultad de Lectura. Conclusión:
una significativa proporción de la población presenta índices de mejoría en su calidad visual con
el uso de las transparecias espectrales, siendo éstos mayores en individuos con transtornos
relacionados a la hiperexcitabilidad cortical.
Palabras clave: Síndrome de Irlen. Estrés visual. Lectura. Remediación de Lectura.
Intervención rápida. Dificultad de lectura.
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Introdução
Alguns leitores apresentam distorções visuoperceptuais durante a leitura de textos,
como a presença de sombras e halos ao redor da palavra, espaçamentos irregulares em
meio ao texto e percepção de movimento, como letras saindo do papel ou vibrando (Irlen
& Lass, 1989; Stein & Walsh, 1997; Wilkins, Lewis, Smith, Rowland, & Tweedie, 2001).
A compensação física e cognitiva empregada para manter a leitura nessas situações gera,
frequentemente, ardência ocular, lacrimejamento, cefaleia e fotofobia progressiva (Evans
et al., 1996; Kriss & Evans, 2005; Scott et al., 2002).
A sensação de instabilidade no texto ocorre inclusive em leitores com boa
acuidade visual e na ausência de problemas refracionais e ortópticos (Monger, Wilkins,
& Allen, 2015; Scott et al., 2002). A dificuldade em visualizar o texto pode se apresentar
em diferentes intensidades, provocando rápido cansaço visual ou prejudicando a leitura
apenas após prolongado tempo de exposição, inclusive em leitores proficientes. A
acentuada presença desses sinais e sintomas de dificuldades visuoperceptuais é referida
na literatura como Síndrome de Sensibilidade Escotópica, Síndrome de Irlen, Síndrome
de Meares-Irlen, Estresse Visual e Distúrbio do Processamento Visual.
As lâminas espectrais (spectral/coloured overlays) são folhas em acetato
transparente em tonalidades específicas usadas sobrepostas no texto impresso ou na tela
do computador. As lâminas tem se mostrado eficientes para minimizar as distorções
visuoperceptuais e, consequentemente, melhorar o conforto durante a leitura, a deixando
mais fluente e duradoura (Hlengwa, Moonsamy, Ngwane, Nirghin, & Singh, 2017; Jeanes
et al., 1997; Tyrrell, Holland, Dennis, & Wilkins, 1995; Wilkins, Jeanes, Pumfrey, &
Laskier, 1996; Wilkins & Lewis, 1999; Wilkins et al., 2001). Ao minimizar as distorções
na leitura, com ganhos no conforto e fluência, é esperado uma aderência prolongada ao
uso desse recurso em condições de sala de aula (Jeanes et al., 1997; Scott et al., 2002;
Wilkins et al., 2001).
Uma vez que a luz branca é composta por diferentes comprimentos e frequências
eletromagnéticas, as lâminas absorvem e refletem específicas faixas de luz do espectro
visível. O bloqueio de certas faixas ativará de forma distinta as células fotorreceptoras na
retina, alterando a transmissão da informação entre os sistemas visuais magno e
parvocelular. O sistema magnocelular é considerado o caminho visual dominante na
percepção do texto, pois media a capacidade de identificar rapidamente as letras e as suas
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posições na palavra, além de controlar a orientação visual da atenção, das fixações e
sincronizações oculares (Chase, Ashourzadeh, Kelly, Monfette, & Kinsey, 2003). O seu
reequilíbrio com o sistema Parvocelular ajuda a redistribuir a informação visual nos
neurônios corticais da área visual primária occipital, evitando áreas de hiperexcitação
(Allen, Gilchrist, & Hollis, 2008; Wilkins et al., 2001). Assim, a específica tonalidade da
lâmina (ex., amarelada, azulada) pode aumentar ou diminuir a transmissão do sistema
magnocelular, reequilibrando o processamento neurovisual (Croyle, 1998; Solan, Ficarra,
Brannan, & Rucker, 1998).
Desde a década de 1980 a melhora da leitura com o uso da lâmina espectral tem
sido documentada, com diferentes populações, parâmetros e resultados. Na nossa revisão
nos propomos a rever os seguintes aspectos. Qual a porcentagem média de leitores que
apresenta melhora da qualidade visual do texto com o uso da lâmina espectral? Existe
diferença entre os resultados de amostras populacionais em comparação a sujeitos com
dificuldade de leitura e outros grupos clínicos? Quantos leitores manteriam o uso
prolongado da lâmina selecionada durante o seu processo de aprendizado? Quantos
leitores apresentam melhora quantitativa na habilidade de leitura com as lâminas?
Para responder essas perguntas, foi realizada uma revisão sistemática da literatura
com meta-análise para verificar quantos leitores da população em geral e de grupos
clínicos se beneficiariam com o uso de lâminas espectrais. Foi quantificada a prevalência
via a escolha por meio do autorrelato, via o seu uso prolongado por pelo menos dois
meses, e também pelo ganho na velocidade de leitura.
Método
Revisão Sistemática
Bancos de dados foram pesquisados por meio do Portal de Periódicos da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) no sistema da
Universidade Federal de Minas Gerais. Artigos experimentais completos em português
ou inglês, de 1980 a 2017, foram pesquisados com as seguintes expressões no Título,
Resumo ou Palavras-chave: lâminas coloridas/espectrais (Coloured/Spectral Overlays),
Irlen, Meares-Irlen, Síndrome de Sensibilidade Escotópica (Scotopic Sensitivity
Syndrome), Estresse Visual (Visual Stress). Banco de dados consultados: ERIC, PubMed,
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ScienceDirect, Scopus. Os seguintes bancos de dados não retornaram resultado: LILACS,
PePSIC, SciELO.
Todos os títulos e resumos dos 225 artigos foram avaliados independentemente
por dois autores. Foram inclusos retrospectivamente no banco de dados duas dissertação
de mestrado (Garcia, 2016; Leão, 2018) e uma monografia de graduação Universidad de
Cuenca (Bernal, 2011). Da seleção final, 26 estudos experimentais ou observacionais
sobre o uso de lâminas espectrais foram selecionados e lidos na íntegra para compor a
presente revisão sistemática.
Instrumento
O Rate of Reading Test (RRT) é o teste de leitura mais utilizado nas publicações
científicas sobre as lâminas. O teste mede a velocidade de leitura em voz alta, sendo
composto por 15 palavras curtas de alta frequência, repetidas e organizadas
aleatoriamente em cada uma das 10 linhas (150 palavras no total), com fonte Times New
Roman 9pt e espaçamento simples (Wilkins et al., 1996). Esse formato do RRT,
construído com base na teoria da hiperexcitabilidade cortical, acentua os sintomas de
estresse visual, permitindo analisar em menor tempo o efeito da lâmina na leitura
(Wilkins, 1995; Wilkins et al., 2001). O RRT passou por diferentes validações, sendo que
o desempenho nesse instrumento não pode ser explicado por problemas refrativos,
ortópticos ou pelos efeitos placebo (Bouldoukian, Wilkins, & Evans, 2002; Monger et al.,
2015; Wilkins & Lewis, 1999). Para eliminar o efeito de treino, a aplicação do RRT é
composta por uma fase de treino para a habituação, seguida por quatro leituras
intercaladas com e sem a lâmina espectral ideal (procedimento ABBA).
Análise Estatística
A diferença significativa entre dados categóricos/nominais foi determinada pelo
Teste de Chi-Quadrado (χ2) e com significância (p) estipulada em 0,05.
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Resultados
As lâminas mais frequentemente utilizadas nas publicações científicas são as Irlen
Overlays, que foram desenvolvidas na década de 1980 pela psicóloga educacional Helen
Irlen, e as Intuitive Overlays, desenvolvidas pelo Prof. Emérito Arnold Wilkins (1994).
Esses dois tipos de lâminas espectrais são compostos por 10 tonalidades, que podem ser
combinadas para formar outras cromaticidades. A seguir, serão descritos diferentes
parâmetros para a identificação da proporção de pessoas que fazem o uso das lâminas
espectrais, tanto na população geral quanto clínica. Para a análise dessa prevalência,
considerou-se o autorrelato (critério qualitativo), o uso prolongado voluntário (validade
prática), e a melhora no desempenho de leitura (critério quantitativo).
Prevalência por meio do autorrelato
De acordo com a Tabela 1, de 40 a 88% das crianças da população geral relataram
melhora no conforto visual e na nitidez do texto com o uso das lâminas espectrais (Jeanes
et al., 1997; Scott et al., 2002; Tyrrell et al., 1995; Wilkins et al., 1996; Wilkins & Lewis,
1999; Wilkins et al., 2001). A união das onze amostras de crianças e adolescentes,
descritas na Tabela 1, totaliza 1756 alunos, dos quais 1108 (63%) escolheram pelo menos
uma lâmina espectral. Porcentagens maiores foram encontradas nos estudos de Miller
(1985) e Evans e Joseph (2002), onde 88% e 89% dos universitários, respectivamente,
relatam melhora qualitativa da leitura com as lâminas. Comparando esses dois grupos
etários, a melhora visual com o uso da lâmina espectral foi maior em adultos do que em
crianças (χ2 = 47,01, p < 0,0001).
Considerando grupos clínicos, a melhora visual foi maior em crianças com
dificuldade de leitura do que os jovens da população em geral 2 = 57,24, p < 0,0001).
Em crianças com dificuldade de leitura, o índice de melhora perceptual do texto com a
lâmina varia de 71 a 100% (média de 87%, amostra total = 268, autorrelato = 232)
(Bernal, 2011; Kriss & Evans, 2005; Northway, 2003; Tyrrell et al., 1995).
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Tabela 1.
Prevalência, em diferentes populações, do autorrelato de melhora na qualidade da leitura com as lâminas
espectrais
Pop
Amostra
n/N
%
Crianças e Adolescentes
Grupo controle, 1118 anos
26/39
67%
Seleção aleatória, 511 anos
47/93
51%
Seleção aleatória, 1112 anos
32/59
54%
Seleção aleatória, 711 anos
81/199
41%
Seleção aleatória, 1012 anos
132/153
86%
Seleção não especificada, exclusão de
crianças com idade de leitura com mais de
dois anos abaixo da idade cronológica, 816
anos
23/40
58%
Seleção aleatória, 811 anos
38/77
49%
Seleção aleatória, 711 anos
81/203
40%
Seleção aleatória, 810 anos
78/89
88%
Seleção aleatória, 812 anos
314/378
83%
Seleção aleatória, 68 anos
256/426
60%
TOTAL
1108/1756
63%
Adultos*
Seleção espontânea, amostra não
representativa, 1844 anos
101/113
89%
Seleção amostral não especificada,
universitários com e sem dificuldade leitora
57/65
88%
TOTAL
158/178
89%*
Dificuldade de leitura*
Amostra de conveniência, 712 anos
17/24
71%
Amostra de conveniência, disléxicos, 712
anos
27/32
84%
Amostra populacional, 710 anos
58/58
100%
Amostra de conveniência, disléxicos, 612
anos
50/64
78%
Idade de leitura de um a dois anos abaixo da
idade cronológica, 816 anos
9/12
75%
Idade de leitura de três a cinco anos abaixo
da idade cronológica, 1416 anos
6/6
100%
Amostra estratificada, presidiários com
desconforto e dificuldade de leitura de
moderada a severa, 1667 anos
65/72
90%
TOTAL
232/268
87%*
*Chi-Quadrado com diferença significativa em relação ao grupo de Crianças e Adolescentes, p < 0,05.
1
Prevalência por meio do uso prolongado
Diferentes estudos longitudinais demonstraram a prevalência do uso prolongado
das lâminas espectrais nas atividades diárias de leitura, com no mínimo dois meses de
intervalo após a seleção da lâmina por meio do autorrelato (ver Tabela 2). Em crianças,
o uso prolongado das lâminas espectrais por pelo menos dois meses após a sua prescrição
ocorreu em 19% da amostra (Wilkins et al., 1996), por pelo menos 3–4 meses em 19–
43% (Jeanes et al., 1997; Scott et al., 2002), e 8–10 meses em 24–32% (Jeanes et al.,
1997; Wilkins & Lewis, 1999; Wilkins et al., 2001). Em crianças com transtorno de
aprendizagem da leitura, o índice do uso prolongado por 3 meses subiu para 63% (40/64)
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(Northway, 2003). Em suma, 299 das 1014 crianças (29,5%) mantiveram o uso
prolongado das lâminas por pelo menos dois meses.
Tabela 2.
Prevalência do uso prolongado das lâminas espectrais em crianças da população geral
Tempo de uso
Amostra (n/N)
Prevalência
Estudo
2 meses
15/77
19%
Wilkins et al. (1996)
3 meses
66/152
43%
Jeanes et al. (1997)
4 meses
31/94
33%
Scott et al. (2002)
4 meses
38/199
19%
Scott et al. (2002)
8 meses
135/426
32%
Wilkins et al. (2001)
10 meses
11/34
32%
Jeanes et al. (1997)
10 meses
3/32
9%
Jeanes et al. (1997)
Prevalência por meio do ganho no desempenho de leitura
O desempenho de leitura é um importante parâmetro para verificar a intensidade
dos benefícios das lâminas espectrais e a probabilidade do seu uso prolongado. As
Tabelas 3 e 4 expõem os dados de todos os estudos que utilizaram o RRT para avaliar a
influência das lâminas espectrais na velocidade de leitura. Em amostras populacionais,
ao utilizar o critério de corte em 5%, que é o habitualmente empregado como parâmetro
inicial de melhora na velocidade de leitura, foi encontrada a prevalência de 19–36% em
crianças (Garcia, Momensohn-Santos, & Vilhena, 2017; Kriss & Evans, 2005; Singleton
& Henderson, 2007a; Wilkins et al., 1996; Wilkins et al., 2001), de 43% em adolescentes
(Singleton & Henderson, 2007a), e de 24–38% em universitários (Evans & Joseph, 2002;
Nichols, McLeod, Holder, & McLeod, 2009). Não houve diferença estatística na
prevalência entre esses três grupos etários (χ2 = 0,02, p = 0,89).
Em crianças a adultos com dificuldade de leitura, foram obtidos ganhos de pelo
menos 5% na velocidade de leitura em 41–57% da amostra, sendo esta prevalência
estatisticamente maior do que a da amostra populacional 2 = 8,53, p = 0,0035). Da
mesma forma, outros grupos clínicos também apresentam maior probabilidade de ganhos
de pelo menos 5% no RRT, chegando a 92% 2 = 17,71, p = 0,0001) em crianças com
Síndrome de Tourette, a 77% 2 = 20,83, p = 0,0001) em pacientes com esclerose
múltipla, e a 74% 2 = 58,79, p = 0,0001) em pacientes com Transtorno do Espectro
Autista.
Ao utilizar um critério de corte moderado de 10% no RRT, foi verificada uma
incidência de 12–14% em crianças (Kriss & Evans, 2005; Singleton & Henderson,
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2007a), e de 22% em adolescentes (Singleton & Henderson, 2007a). Com o critério de
corte mais rigoroso de melhora de 25% na leitura, foi encontrada uma prevalência de 5%
em crianças de 6 a 8 anos (Wilkins et al., 2001) e de 2% em adultos (Evans & Joseph,
2002). Em amostras clínicas, esta proporção aumentou para 30% em pacientes com
Transtorno do Espectro Autista (Ludlow, Wilkins, & Heaton, 2006; A. K. Ludlow, A. J.
Wilkins, & P. Heaton, 2008; Whitaker, Jones, Wilkins, & Roberson, 2016), e 31% em
pacientes com esclerose múltipla (Newman Wright, Wilkins, & Zoukos, 2007). Em suma,
33% da população geral apresenta no mínimo ganhos leves na velocidade de leitura com
o uso da lâmina espectral ideal, com cerca de 18% demonstrando ganhos moderados.
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Tabela 3.
Meta-análise da prevalência (número de sujeitos/amostral total) que obtêm ganhos na velocidade de leitura
no RRT com o uso da lâmina espectral ideal
População
N
Melhora na velocidade de leitura no teste
RRT
Referência
> 5%
> 8%
> 10%
> 15%
> 25%
Amostra populacional
Crianças e
Adolescentes
68
21
15
12
9
2
Garcia et al. (2017)
32
8
7
4
-
1
Kriss e Evans (2005)
50
15
9
7
-
-
Singleton e Henderson
(2007a)
67
29
19
15
-
-
77
15
-
-
-
-
Wilkins et al. (1996)
426
153
-
-
-
21
Wilkins et al. (2001)
n/N
241/720
50/217
38/217
9/68
24/526
%
33%
23%
18%
13%
5%
Adultos
113
38
-
-
-
2
Evans e Joseph (2002)
26
15
12
9
-
-
Henderson et al. (2013)
73
26
-
10
-
-
Monger et al. (2015)
74
18
-
-
-
-
Nichols et al. (2009)
n/N
97/286
12/26
19/100
2/113
%
34%
46%*
19%
2%*
χ2
0,02
6.53
0,01
6.32
p
0,89
0,011
0,75
0,012
Dificuldade de leitura*
Crianças*
58
27
22
17
10
8
Leão (2018)
32
15
11
10
-
1
Kriss e Evans (2005)
60
19
-
-
-
-
Ritchie et al. (2011)
22
9
-
-
-
-
Singleton e Henderson
(2007b)
n/N
70/172
32/90
27/90
10/58
9/90
%
41%
36%*
30%*
17%
10%*
χ2
3,19
5,09
5,94
0,39
6.32
p
0,07
0,022
0,015
0,53
0,012
Adultos*
16
12
10
7
-
-
Henderson et al. (2013)
30
16
-
-
-
-
Nichols et al. (2009)
n/N
26/46
10/16
7/16
%
57%*
63%*
44%*
χ2
10,12
10,12
12,13
p
0,0015
0,0015
0,0005
Transtorno do
Espectro Autista*
19
15
-
-
-
6
Ludlow et al. (2006)
34
25
-
-
-
13
Ludlow et al. (2008)
15
12
-
-
-
-
Ludlow et al. (2012)
12
8
-
-
4
-
Ludlow e Wilkins (2016)
16
11
9
8
3
2
Whitaker et al. (2016)
n/N
71/96
9/16
8/16
7/28
21/69
%
74%*
56%*
50%*
25%
30%*
χ2
58,79
8,69
9,93
1,89
58.40
p
0,0001
0,003
0,0016
0,17
0,0001
Síndrome
de
Tourette*
n/N
11/12
-
-
6/12
-
Ludlow e Wilkins (2016)
%
92%*
50%*
χ2
17,71
9,05
p
0,0001
0,003
Esclerose
múltipla*
n/N
20/26
-
-
-
8/26
Wright et al. (2007)
%
77%*
31%*
χ2
20,83
31,16
p
0,0001
0,0001
*Chi-Quadrado com diferença significativa em relação ao grupo de Crianças e Adolescentes, p < 0,05.
Limitação: 54% de sujeitos com problemas refrativos não corrigidos e RRT com fonte ampliada.
Leitura e lâminas espectrais
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Tabela 4.
Síntese da Meta-análise da prevalência do ganho na velocidade de leitura no RRT com o uso
da lâmina espectral ideal
População
Melhora na velocidade de leitura no teste RRT
≥ 5%
≥ 8%
≥ 10%
≥ 15%
≥ 25%
Amostra
populacional
Crianças e
Adolescentes
33%
23%
18%
13%
5%
Adultos
34%
46%*
19%
-
2%*
Dificuldade
de leitura*
Crianças*
41%
36%*
30%*
17%
10%*
Adultos*
57%*
63%*
44%*
-
-
Transtornos*
Autista*
74%*
56%*
50%*
25%
30%*
Tourette*
92%*
50%*
Esclerose múltipla*
77%*
31%*
*Chi-Quadrado com diferença significativa em relação ao grupo de Crianças e
Adolescentes, p < 0,05.
Discussão
Prevalência por meio do autorrelato
De acordo com onze amostras de sete estudos (N = 1756), 63% das crianças
avaliaram que houve melhora na qualidade e/ou conforto visual com o uso das lâminas
espectrais. Ou seja, seis a cada dez crianças preferiram ler com a lâmina. Todos os sete
estudos populacionais confrontaram previamente o participante com estímulos visuais
estressores para eliciar respostas mais fidedignas e melhorar a autoconsciência das
distorções visuais na leitura.
Há um elevado e significativo índice de universitários (89%) que relatam melhora
visual com o uso das lâminas. Evans e Joseph (2002) verificaram que 89% dos
universitários relatam melhora qualitativa da leitura com as lâminas, porém a amostra foi
espontânea e não representativa da população, uma vez que estudantes com suspeitas de
dificuldade visuoperceptual na leitura tendem a se voluntariar em pesquisas. No entanto,
essa prevalência é similar aos 88% encontrados por Miller (1985), o que sugere que
Universitários, por possuírem alta demanda de leitura, valorizam mais o conforto visual
provido pelas lâminas espectrais.
Significativamente mais crianças com dificuldade de leitura (87%) relatam
melhora visual com as lâminas espectrais do que o grupo de comparação (63%). Dentre
Leitura e lâminas espectrais
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354!
todas as referidas estimativas, uma provável proporção de falso positivos, que o
autorrelato de melhora é um critério qualitativo, podendo o participante selecionar a
lâmina por razões estéticas (escolha da cor favorita) ou motivacionais (pela novidade em
si ou pelo efeito placebo inerente a qualquer método), apesar de estudos terem
demonstrado que essas variáveis possuem pouca influência (Bouldoukian et al., 2002; A.
K. Ludlow, A. Wilkins, & P. Heaton, 2008; Wilkins et al., 2001). Importante destacar
que normalmente em pesquisas, especialmente com adultos, há uma maior tendência dos
participantes se voluntariarem devido a suspeitas prévias de algum transtorno, o que
aumenta a incidência em comparação a uma amostra representativa e aleatória da
população geral.
Muitos leitores selecionarão uma lâmina espectral devido a maior qualidade visual
e contraste do texto, no entanto não a utilizarão a longo prazo, pois não apresentam
distorções visuais que necessitam ser remediadas. Assim, 63% das crianças e 89% dos
adultos apresentam melhora do conforto visual leitor com a lâmina espectral. No entanto,
esses leitores não necessariamente utilizarão a lâmina no cotidiano de sala de aula ou
apresentarão um ganho no desempenho de leitura, critérios importantes para o diagnóstico
de um distúrbio do processamento visual subjacente.
Prevalência por meio do uso prolongado
O uso prolongado das lâminas espectrais se refere ao seu uso voluntário e
continuado a longo prazo, sendo um bom indicador da prevalência populacional de seu
efeito terapêutico. Esse dado evidencia que o leitor a utiliza espontaneamente no dia a
dia, a considerando importante para melhorar a qualidade visual de sua leitura, o que
reduz a proporção de falso positivo encontrado na prevalência por meio do autorrelato.
Deve-se levar em consideração que algumas pessoas, mesmo sendo beneficiadas pela
lâmina espectral, descontinuam o seu uso por a considerar constrangedora, escura ou
inconveniente (Williams, Lecluyse, & Rock-Faucheux, 1992).
Em média, a prevalência reduziu de 63% para 29% após 2–4 meses de uso das
lâminas (Jeanes et al., 1997; Scott et al., 2002; Wilkins et al., 1996), e de 58% para 31%
após 8–10 meses (Jeanes et al., 1997; Wilkins et al., 2001). Ou seja, 29,5% (n/N =
299/1014) das crianças em idade escolar utilizaram espontaneamente as lâminas como
ferramenta educacional no cotidiano de sala de aula. Esse índice é um dos mais
Leitura e lâminas espectrais
!
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355!
importantes aqui descritos, pois provê validade prática para uso das lâminas espectrais,
evidenciando que grande proporção de pessoas continua as usando mesmo após o declínio
do fator motivacional.
Prevalência por meio do ganho no desempenho de leitura pelo RRT
O desempenho de leitura é um importante parâmetro para verificar a intensidade
dos benefícios das lâminas espectrais e a probabilidade do seu uso continuado. Qualificar
a velocidade de leitura, por meio do RRT, é uma forma objetiva de analisar a eficiência e
a prevalência do ganho visual leitor com o uso das lâminas, o que tornou esse teste o mais
utilizado nos estudos científicos na área. O RRT foi criado após Tyrrell et al. (1995) terem
percebido diferença significativa nos sintomas visuais e na leitura somente após 10
minutos, sendo fundamental criar um teste que possua reduzido caráter linguístico, focado
nos processamentos visuais necessários para a leitura, e que consiga detectar diferença
em um menor tempo de aplicação.
Para quantificar o efeito das lâminas espectrais na velocidade de leitura de
crianças brasileiras, o teste RRT foi recentemente utilizado em duas dissertações de
mestrados, realizadas na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (Garcia, 2016) e
na Universidade Federal de Alfenas (Leão, 2018). Garcia (2016) investigou uma amostra
de 68 crianças no 5º e 6º ano do Ensino Fundamental, cujos resultados foram publicados
por Garcia et al. (2017). A dissertação de Leão (2018) investigou uma amostra de 58
crianças do e 4º ano com dificuldade de leitura. Em ambas as dissertações foram
excluídas da amostra crianças com problemas refrativos não corrigidos. Problemas
refracionais afetam a acuidade visual, impactando na acurácia e fluência leitora, o que
limita a análise do ganho real na velocidade de leitura. Esse rigor na seleção da amostra
não foi adotado por Ritchie et al. (2011), onde 54,3% das 61 crianças escocesas com
dificuldade de leitura apresentavam problemas ópticos não corrigidos. Ademais, a
metodologia utilizou o teste RRT com fonte ampliada, anulando o fator estressor induzido
pelo teste padrão, que estipula a impressão com letra pequena e espaçamento simples,
preconizado por Wilkins et al. (1996).
O uso da lâmina espectral ideal melhorou a velocidade de leitura para 34% (n/N
= 338/1006) da população geral, com 18% (n/N = 57/317) demonstrando ganhos
moderados. O critério de ganho de pelo menos 15% no RRT é considerado como uma
Leitura e lâminas espectrais
!
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356!
melhora além da variabilidade intra-individual (Garcia et al., 2017), porém apenas quatro
de treze estudos explicitaram a frequência da amostra com esse ganho na taxa de leitura.
É possível que o critério mais rigoroso de ganho na velocidade de leitura (mínimo de 25%
de aumento) não tenha refletido a real proporção da população com forte melhora na
leitura, especialmente na população de adultos, devido ao efeito de teto do RRT, já que
há um limite fonoarticulatórios para uma leitura em voz alta.
Estudos verificaram que quanto maior a dificuldade, desconforto e presença de
distorções, maior é o ganho na velocidade de leitura com o uso das lâminas espectrais
(Garcia et al., 2017; Hollis & Allen, 2006; Tyrrell et al., 1995; Wilkins et al., 2001). A
dificuldade de leitura é um dos maiores indicadores tanto para o autorrelato de melhora
na qualidade de acesso visual ao texto quanto para o ganho na velocidade de leitura com
o uso das lâminas (Kriss & Evans, 2005; Singleton & Henderson, 2007b; Tyrrell et al.,
1995). A presente meta-análise verificou que 87% dos sujeitos com dificuldade de leitura
optaram pelo uso de lâminas espectrais, tendo 30% das crianças e 44% dos adultos
melhorado a velocidade de leitura em pelo menos 10%, valores que são
significativamente maiores do que os observados nos respectivos grupos controle.
Transtornos que provocam hiperexcitação cortical tendem a ser beneficiados no
desempenho de leitura com o uso das lâminas, cujo efeito seria uma atenuação da
sobrecarga sensorial visual, frequente no Transtorno do Espectro Autista e esclerose
múltipla. A alta proporção de pacientes com o Transtorno do Espectro Autista (74%) com
ganhos de 5% no RRT se deve à maior sensibilidade a estímulos sensoriais (olfativo,
auditivo, gustativo, tátil e visual) que se manifesta e impacta desfavoravelmente na vida
cotidiana desses pacientes (Al-Heizan, AlAbdulwahab, Kachanathu, & Natho, 2015;
Cermak, Curtin, & Bandini, 2010; Leekam, Nieto, Libby, Wing, & Gould, 2007).
Com o uso das lâminas espectrais, pacientes com esclerose múltipla apresentam
melhora significativa, no curto e em longo prazo, na leitura e na procura visual, com
redução dos sintomas de estresse visual (Newman Wright et al., 2007). Esses autores
atribuem parte desse efeito a transtornos que provocariam hiperexcitabilidade cortical,
como a alta frequência de enxaqueca (comorbidade de 56%) ou vivência de pelo menos
uma crise epilética (4%) e não pela esclerose múltipla em si.
Importante destacar que a análise da velocidade de leitura deve ser
complementada com outros dados clínico e quantitativos, como por exemplo os de
oculomotricidade, uma vez que a sensibilidade do RRT em predizer o uso prolongado das
Leitura e lâminas espectrais
!
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lâminas varia de 60 a 73% (Northway, 2003; Wilkins et al., 1996; Wilkins et al., 2001).
Ademais, mesmo o RRT sendo um bom indicador do uso prolongado, muitos pacientes
poderiam não apresentar ganhos na velocidade de leitura, mas somente no conforto visual
(Northway, 2003).
A fluência de leitura é composta por três componentes primários: (a)
acurácia/precisão na decodificação, (b) velocidade/automaticidade no reconhecimento de
palavras e (c) o uso apropriado de recursos prosódicos (Kuhn & Stahl, 2003). Embora o
benefício do uso de overlays pareça proporcionalmente pequeno, o RRT avalia apenas o
componente de velocidade de leitura, que é um dos três componentes da fluência de
leitura, junto com a acurácia e a prosódia. Essa restrição técnica restringe o RRT aos
aspectos visuais da leitura, reduzindo os aspectos linguísticos, uma vez que as palavras
são familiares (alta frequência de ocorrência) e com curto comprimento (2 a 4 letras). As
lâminas espectrais beneficiam outros aspectos envolvidos na leitura, como o contraste do
texto impresso no papel (figura/fundo), atenuação das diversas distorções que se
manifestam progressivamente e no conforto visual pela redução da percepção de brilho e
do esforço visual. Estas contribuições não contempladas pelo RRT.
A partir dos resultados no RRT, é possível depreender que os benefícios
proporcionados pelas lâminas espectrais se apresentam dentro de uma escala de
intensidade. Essa classificação se adequa à tendência corrente que considera o conceito
de dimensionalidade na descrição das disfunções do desenvolvimento (ex., Transtorno do
Espectro Autista). Neste contexto, a descrição dos benefícios aferidos pelos usuários de
overlays passa a ser feita dentro de um contínuo que varia entre ganhos leves (5%),
moderados (10%) ou robustos (25%), auxiliando na compreensão da ampla variação dos
sintomas visuoperceptuais de pessoa para pessoa.
Considerações finais
A lâmina espectral se mostrou um instrumento de intervenção efetiva e de fácil
acesso para melhorar a qualidade de leitura de crianças e adultos. Na presente meta-
análise, foi verificado que seis em cada dez crianças (63%) e nove em cada dez adultos
(89%) relataram melhora na qualidade e/ou conforto visual com o uso das lâminas
espectrais. Caso a lâmina fosse fornecida, 30% da população faria o seu uso prolongado
durante tarefas diárias de leitura. Sob uso de lâminas, 33% da população melhorou a
Leitura e lâminas espectrais
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358!
velocidade de leitura, quantificada pelo RRT, tendo 18% apresentado ganhos de
moderados a robustos, impactando na dinâmica do aprendizado escolar. Esse ganho no
desempenho leitor não pode ser explicado por problemas ópticos, por razões estéticas ou
motivacionais. Os transtornos que mais apresentaram ganhos foram o Transtorno do
Espectro Autista, Síndrome de Tourette, Esclerose Múltipla e Dificuldade de Leitura.
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Objective: To investigate the effects of spectral overlays on reading performance of Brazilian elementary school children. Methods: Sixty-eight children (aged 9-12 years) enrolled in the 5th and 6th grade were included in the study. The Rate of Reading Test (RRT - Brazilian Portuguese version) was used to evaluate reading speed and the Irlen Reading Perceptual Scale was used to allocate the sample according to reading difficulty/discomfort symptoms and to define the optimal spectral overlays. Results: A total of 13% of the children presented an improvement of at least 15% in reading speed with the use of spectral overlays. Pupils with severe reading difficulties tended to have more improvement in RRT with spectral overlays. Children with severe reading discomfort obtained the highest gains in RRT, with an average of 9.6% improvement with intervention, compared to a decrease of -8.2% in the control group. Participants with severe discomfort had an odds ratio of 3.36 to improve reading speed with intervention compared to the control group. Conclusion: The use of spectral overlays can improve reading performance, particularly in those children with severe visual discomfort.
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The authors review theory and research relating to fluency instruction and development. They surveyed the range of definitions for fluency, primary features of fluent reading, and studies that have attempted to improve the fluency of struggling readers. They found that (a) fluency instruction is generally effective, although it is unclear whether this is because of specific instructional features or because it involves children in reading increased amounts of text; (b) assisted approaches seem to be more effective than unassisted approaches; (c) repetitive approaches do not seem to hold a clear advantage over nonrepetitive approaches; and (d) effective fluency instruction moves beyond automatic word recognition to include rhythm and expression, or what linguists refer to as the prosodic features of language.
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Individuals with autism spectrum disorder (ASD) often show atypical processing of facial expressions, which may result from visual stress. In the current study, children with ASD and matched controls judged which member of a pair of faces displayed the more intense emotion. Both faces showed anger, disgust, fear, happiness, sadness or surprise but to different degrees. Faces were presented on a monitor that was tinted either gray or with a color previously selected by the participant individually as improving the clarity of text. Judgments of emotional intensity improved significantly with the addition of the preferred colored tint in the ASD group but not in controls, a result consistent with a link between visual stress and impairments in processing facial expressions in individuals with ASD. Autism Res 2015. © 2015 International Society for Autism Research, Wiley Periodicals, Inc. © 2015 International Society for Autism Research, Wiley Periodicals, Inc.
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[Purpose] There is a dearth of studies that have examined the occurrence of sensory processing dysfunction and its components in Saudi Arabian children with autism. Therefore, this study investigated the manifestation of sensory processing dysfunction in autism and compared the functional components of sensory processing between Saudi Arabian children with and without autism. [Subjects and Methods] A convenience sample of 46 Saudi Arabian children with autism and 30 children without autism participated in this study. The sensory processing functions of both groups were assessed with the Short Sensory Profile. [Results] The overall findings indicated that 84.8% of children with autism demonstrated definite sensory processing dysfunction. The most prevalent sensory processing dysfunctions involved the under-responsive/seeks sensation (89.13%), auditory filtering (73.90%), and tactile sensitivity (60.87%) domains. Most of the children without autism (66.66%) demonstrated typical sensory function; the most prevalent sensory processing dysfunctions involved the tactile sensitivity (33.3%), under-responsive/seeks sensation (23.33%), and movement sensitivity (20%) domains. [Conclusion] Saudi Arabian children with and without autism have clinically significant sensory dysfunctions. However, the prevalence of those sensory dysfunctions in children with autism is significantly higher than in the children without autism.
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To investigate whether the clinical tests used in routine eye examinations can identify adults whose reading rate increases with their preferred coloured overlay(s).Methods Routine optometric tests were used to measure 73 undergraduate students’ refractive error, visual acuity, stereo-acuity, amplitude of accommodation, near point of convergence, associated heterophoria at near, colour vision and ocular motility. Participants chose an overlay or combination of overlays with colour optimal for clarity, and completed the Wilkins Rate of Reading Test with and without an overlay(s) of this colour.ResultsOverall, there was a significant increase in reading speed with overlay (t(72) = −5.26, p < 0.0005). Twenty-six participants (36%) increased their reading rate by >5% with their chosen coloured overlay(s). Ten participants (14%) had a reading speed increase of >10%. The increase in reading speed was not significantly associated with any clinical finding.Conclusion Tests which are completed in routine eye examinations did not identify those participants who benefitted from coloured overlays in terms of reading speed.
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Forty-six children aged 12–16 were shown a page of meaningless text covered in random order by different plastic overlays, including seven that were various colours and one that was clear. By successive pairwise comparison each child selected the overlay that provided the greatest perceptual clarity of the text. The children with below-average reading ability were more likely to chose a coloured overlay, and they reported more perceptual difficulty on tasks devised by Irlen (1983). In separate sessions with and without the overlay of their choice, the children read for 15 minutes and performed a visual search task. The overlay had little effect on reading initially, but after about 10 minutes the children who chose a coloured overlay read more slowly without the overlay than with it. These children reported more symptoms of visual discomfort and showed signs of tiring when they read without the overlay. The visual search performance of the children who chose a coloured overlay was initially impaired but improved to normal levels when the overlay was used. Fourteen children aged 8–16 acted as chronological or reading age-matched controls, and undertook the reading and visual search tasks using a clear overlay which had no effect on performance.
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To assess visual performance and the effects of color overlays on reading in children who were deaf and children who could hear. Thirty-one children who were deaf (mean [±SD] age, 14 [±1.99] years) and 39 children who could hear (mean [±SD] age, 13.58 [±3.09] years) underwent an optometric examination with specific emphasis on near vision. Participants chose an overlay with color optimal for clarity and comfort and completed the Wilkins Rate of Reading Test both with and without an overlay of this color. Nineteen of the participants who were deaf were retested a year later with a modified rate of reading test that used only words that can readily be signed. This modified rate of reading test was repeated 1 week after its first administration. Participants who were deaf had greater ametropia (p = 0.003), a more distant near point of convergence (p = 0.002), and reduced amplitude of accommodation (p < 0.001) compared with normal-hearing participants. All the children who were deaf chose a color overlay, with 45% choosing a yellow overlay, which increased the rate of reading by 18%. Only 66% of the participants who could hear chose an overlay, and it had no effect on reading speed. With the modified reading test, 7 of 19 (37%) again chose yellow. These participants showed a 9% increase in reading speed with the yellow overlay, which was repeatable 1 week later. The remainder showed no increase in rate of reading with their chosen overlay. An eye examination of children who are deaf needs to include a comprehensive assessment of near visual function so that deficiencies of amplitude of accommodation, near point convergence, and ametropia can be treated. A yellow overlay improved reading speed in the participants who were deaf, whereas other colors did not, a finding at variance with earlier work on hearing populations.
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A number of studies have shown that students experiencing specific reading disabilities have processing deficits related to their visual system. The transient system, which is responsible for motion detection and transient‐on‐sustained inhibition, is sluggish. This research project manipulated colour and contrast for a rate of reading task and showed that students with a transient processing problem process information differently whether they are normal or disabled readers. Short wavelengths (blue) and low contrast have been shown to balance the relative processing of the transient and sustained systems on visual, perceptual and some reading tasks. This study adds support for the use of these techniques to enable students with transient processing problems to increase their rate of reading.