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Capítulo 5 31
CAPÍTULO 5
EXPERIÊNCIAS COM MAMÍFEROS
CARNÍVOROS NA CAATINGA
Cláudia Sofia Guerreiro Martins
Laboratório de Ecologia, Manejo e Conservação
da Fauna Silvestre, Escola Superior de Agricultura
“Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo –
LemaC/ESALQ/USP
Carolina Franco Esteves
Instituto para Conservação dos Carnívoros
Neotropicais – Pró-Carnívoros
Atibaia-SP
Cláudia Bueno de Campos
Instituto para Conservação dos Carnívoros
Neotropicais – Pró-Carnívoros
Atibaia-SP
RESUMO: A Caatinga, uma das mais
biodiversas Florestas Tropicais Sazonalmente
Secas, abriga 183 mamíferos, dos quais 12 a
16 espécies são da Ordem Carnivora. Além de
enfrentarem elevadas temperaturas e escassez
de água na maior parte dos meses do ano, as
principais ameaças aos mamíferos no Bioma são
antrópicas. Não existem mamíferos carnívoros
endêmicos do bioma, mas muitas espécies
estão na lista nacional das ameaçadas de
extinção como a onça-pintada (Panthera onca)
e a onça-parda (Puma concolor). Esses dois
felinos são foco das pesquisas desenvolvidas
pelo Programa Amigos da Onça: Grandes
Predadores e Sociobiodiversidade na Caatinga,
apresentado aqui como um estudo de caso
interdisciplinar. Dois de seus projetos trouxeram
resultados promissores sobre ecologia e
biologia das onças e dimensões humanas das
interações com as espécies. O bioma é uma
fronteira para a ciência, em todas as áreas
do conhecimento. Em relação aos carnívoros
prevalece uma lacuna de conhecimento sobre
parâmetros básicos da ecologia e história
natural das espécies. Recurso nanceiro é o
maior desao para trabalhos como os propostos
pelo Programa Amigos da Onça, além da falta
de apoio para a conservação de espécies
de mamíferos carnívoros em detrimento à
exploração e ao uso de recursos naturais na
Caatinga.
PALAVRAS-CHAVE: conservação, dimensões
humanas, onça-parda, onça-pintada, semiárido
EXPERIENCE WITH CARNIVOROUS
MAMMALS IN CAATINGA
ABSTRACT: Caatinga, one of the most
biodiverse Seasonally Dry Tropical Forests,
is home to 183 mammals, including 12 to 16
species from the Order Carnivora. In addition
to facing high temperatures and water scarcity
most months of the year, the main threats to
mammals in the Biome are anthropogenic.
There are no endemic carnivorous mammals in
the biome, but many species are on the national
list of endangered species such as the jaguar
Desenvolvimento Sustentável do Semiárido Brasileiro Capítulo 5 32
(Panthera onca) and the puma (Puma concolor). These two charismatic felines are
the focus of research conducted by the Programme of Big Cats Friends: big predators
and socio-biodiversity in Caatinga, presented here as an interdisciplinary case study.
Two of its projects brought promising results on the ecology and biology of big cats and
human dimensions of interactions with species. The biome is a frontier for science in
all areas of knowledge. Regarding carnivores, there is a lack of knowledge about basic
parameters of ecology and natural history of the species. Financial resources are the
biggest challenge for projects such as those proposed by the Programme, besides the
lack of support for the conservation of carnivorous mammal species to the detriment of
the exploitation and use of natural resources in Caatinga.
KEYWORDS: conservation, human dimensions, jaguar, puma, semiarid
1 | INTRODUÇÃO
A Caatinga (844.453 km²) ocupa 11% do território nacional e é uma das maiores
e mais distintas regiões brasileiras (MMA, s.d.). Pouco estudada cienticamente no
que se refere à sua fauna, estudos mostram que ela contém uma rica biodiversidade
que contribui para sua manutenção (SILVA et al., 2004). Historicamente está sob
grande pressão de ocupação e exploração (GIULIETTI et al., 2004) e, juntamente com
o Cerrado, é o bioma que mais sofre com os desmatamentos, o que contribui para a
perda e fragmentação de habitats.
Reconhecida como uma das mais biodiversas formações orestais da América
Latina, o bioma pertence à categoria das Florestas Tropicais Sazonalmente Secas
(SDTF, acrônimo em inglês para Seasonally Dry Tropical Forests) (APGAUA et al.,
2015).
A fauna caatingueira é composta de 183 espécies de mamíferos, incluindo 11
endêmicas, e deste total, a maior parte é representada por espécies de roedores e
morcegos (CARMIGNOTTO; ASTÚA, 2017). Não existem mamíferos carnívoros
endêmicos da Caatinga, mas várias espécies estão na lista nacional de ameaçadas
de extinção (BRASIL, 2014) como, por exemplo, a onça-pintada (Panthera onca) e a
onça-parda (Puma concolor). Até há doze anos, dados limitavam a ocorrência da onça-
pintada a 0,1% da Caatinga, no Parque Nacional da Serra da Capivara, representando
a única população no interior do bioma (SANDERSON, 2002). Em 2007, foi registrada
a presença da espécie em áreas da região central onde era considerada extirpada
(MORATO et al., 2007).
O estado de conservação da onça-pintada no bioma é “criticamente em perigo”
(MORATO et al., 2013), e da onça-parda é “em perigo” (AZEVEDO et al., 2013). Todas
as ameaças que elas enfrentam têm um denominador comum: o homem; por isso,
experiências com carnívoros ou com qualquer outro elemento da biota serão exitosas
se forem além da biologia e da ecologia e incorporarem as dimensões humanas
(MARCHINI, 2015).
Desenvolvimento Sustentável do Semiárido Brasileiro Capítulo 5 33
A partir do resgate de algumas ações de órgãos públicos, academia e
organizações do terceiro setor em unidades de conservação e fora delas, é possível
ter uma aproximação à atenção que tem sido dispensada à pesquisa e conservação na
Caatinga, com foco nos mamíferos carnívoros. Alguns trabalhos têm sido conduzidos
para algumas espécies deste grupo (OLMOS, 1993; SILVEIRA et al., 2010; DIAS;
BOCCHIGLIERI 2016a, 2016b; PENIDO et al., 2016; DIAS et al., 2019), porém,
limitados a um ou poucos aspectos de sua ecologia.
A interação entre humanos e a natureza na Caatinga começou no m do
Pleistocênio-Holocênio, quando as primeiras populações se estabeleceram seguindo
provavelmente uma rota migratória a partir do litoral (MARTIN, 2005). Essas interações
têm acontecido como se os recursos naturais fossem inesgotáveis, tornando-se alvo
de sobre-exploração em um contexto de fraca governança (BRAGAGNOLO et al.,
2017).
Cientes de que a Caatinga está entre os biomas mais vulneráveis do mundo às
mudanças climáticas (SEDDON et al., 2016); de que o funcionamento dos ecossistemas
e a dinâmica das populações humanas dependem fortemente das variações sazonais
e interanuais dos padrões de chuva (com imprevisibilidade); de que o uso de produtos
orestais e a caça de animais silvestres modicam os habitats (ALBUQUERQUE et al.,
2017), encontramos justicativas plausíveis para aumentar a ciência e o conhecimento
que se produzem na e a favor da Caatinga.
O trabalho realizado pelo Programa Amigos da Onça: Grandes Predadores e
Sociobiodiversidade na Caatinga, do Instituto Pró-Carnívoros, é apresentado aqui
como um estudo de caso interdisciplinar de pesquisa e conservação com mamíferos
carnívoros, com foco nas onças-pintadas e onças-pardas.
2 | MAMÍFEROS DA ORDEM CARNIVORA DA CAATINGA
Existe divergência na literatura sobre quantos mamíferos da Ordem Carnivora
realmente ocorrem na Caatinga (variam de 12 a 16 espécies, baseado em PAGLIA
et al., 2012; FEIJÓ; LANGGUTH, 2013; CARMIGNOTTO; ASTÚA, 2017), fato que
demonstra a necessidade de mais pesquisas. O consenso está em onze espécies:
Cerdocyon thous, Leopardus tigrinus, Leopardus pardalis, Puma concolor, Puma
yagouaroundi, Panthera onca, Eira barbara, Galictis cuja, Nasua nasua, Procyon
cancrivorus, Conepatus semistriatus. Paglia et al. (2012) citam também a ocorrência de
G. vittata no bioma, e, juntamente com Carmignotto e Astúa (2017) incluem Leopardus
wiedii (conrmado pela publicação de Meira et al. (2018)). Estes ainda consideram a
distribuição de Lycalopex vetulus, Speothos venaticus, Leopardus braccatus (às vezes
citado como L. colocolo) e Lontra longicaudis na Caatinga.
As pesquisas em ecologia das onças-pintadas e onças-pardas que a equipe do
Programa Amigos da Onça vem conduzindo desde 2016 na região do ‘Boqueirão da
Onça’, norte da Bahia, trazem novas perspectivas para estes dois grandes felinos no
Desenvolvimento Sustentável do Semiárido Brasileiro Capítulo 5 34
bioma. O Boqueirão é um dos últimos contínuos de vegetação preservada de caatinga.
Nele, em 2018, foi criado o mosaico de unidades de conservação, incluindo um Parque
Nacional (ParNa) de 347 mil hectares (Decreto n.º 9336, de 5 de Abril de 2018) e uma
Área de Proteção Ambiental (APA) de 505 mil hectares (Decreto n.º 9337, de 5 de
Abril de 2018) (Figura 1). A onça-pintada era considerada extinta nesta região e a
identi cação de uma subpopulação residente permite especular sobre a existência de
um “corredor” que viabiliza sua dispersão (DESBIEZ et al., 2013). Porém, é necessária
mais investigação sobre barreiras físicas, consequência da presença de atividades
antrópicas.
Figura 1: Localização da área de estudo do Programa Amigos da Onça, compreende duas
Unidades de Conservação no norte da Bahia, o Parque Nacional e a Área de Proteção
Ambiental do Boqueirão da Onça na Caatinga.
Uma das demandas do Plano de Ação Nacional (PAN) para a Conservação dos
Grandes Felinos (BRASIL, 2018) que, sanada, contribuirá para melhorar seu estado
de conservação, relaciona-se com informações ecológicas. Nesse sentido, a equipe
tem conduzido estudos pioneiros no Boqueirão da Onça para as onças-pintadas e
onças-pardas e suas presas, com resultados inéditos.
Para o monitoramento são usadas armadilhas fotográ cas e colares, colocados
em indivíduos, contendo um sistema satelital e de posição geográ ca (GPS). Em 14
meses de monitoramento por câmeras foi possível registrar 26 espécies de mamíferos
na região, a maioria da Ordem Carnivora (46%) (CAMPOS et al., 2019). Com os
colares, resultados preliminares de dois indivíduos monitorados permitiram estimar
para a onça-pintada uma área de vida de 473 km², e para a onça-parda, 295 km². As
duas espécies demonstram uma tendência em usar áreas de boqueirões, i.e., vales
profundos comumente encontrados no conjunto de serras do Boqueirão da Onça.
Na região da área de vida da onça-parda foi construído um complexo eólico
com 90 torres, dividindo seu território. Enquanto foi monitorada durante a fase de
construção do parque eólico, o indivíduo evitou cruzar as linhas que são formadas pela
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sequência de aerogeradores, alcançando o outro lado por uma das duas extremidades
do complexo. No caso da onça-pintada, o predomínio de pontos de localização em
áreas distantes de aglomerados humanos e do complexo eólico indicam a tendência
em usar áreas mais preservadas, porque, diferentes das onças-pardas, são mais
sensíveis às perturbações humanas (CRAWSHAW; QUIGLEY, 1991). Apesar das
informações serem apenas de um indivíduo de cada espécie, elas são consideradas
de grande relevância para o conhecimento e conservação desses felinos na Caatinga.
Atualmente o Programa está monitorando mais dois indivíduos (uma onça-pintada e
uma onça-parda) com colar que, em breve, trarão mais informações sobre as espécies
no bioma.
Os avanços nas construções de complexos eólicos em áreas de mata nativa da
Caatinga são mais rápidos do que a obtenção, análise e conclusão dos dados para
a comprovação dos tipos e níveis de impactos sobre as populações de mamíferos,
principalmente de médio e grande porte. Esta é uma lacuna que precisa ser preenchida,
principalmente para o uso de informações sobre a ecologia de grandes felinos para
tomadas de decisões na escala de grandes projetos, pois são consideradas espécies
guarda-chuva (por utilizarem grandes áreas, sua conservação acolhe espécies com
necessidades de área menor).
Fragmentação de habitats, abertura de estradas, instalação de empreendimentos
de geração de energia, mineração, são algumas das atividades antrópicas com
impactos diretos e/ou indiretos sobre a paisagem, os recursos, e os carnívoros, cujas
espécies mais exigentes em termos ecológicos (menor densidade populacional, maior
porte, extensa área de vida, etc.) são afetadas primeiro, em comparação às espécies
generalistas. Esses animais são particularmente vulneráveis à extinção em ambientes
alterados e a sua presença é indicativo de qualidade de habitat (CROOKS, 2002). Na
Caatinga, além da pressão antrópica, os mamíferos também enfrentam escassez de
água e temperaturas elevadas (DIAS et al., 2019).
3 | INTERAÇÕES ENTRE HUMANOS E MAMÍFEROS CARNÍVOROS NA CAATINGA
Interações podem ser positivas ou negativas, conforme o impacto causado. Existe
um quadro de “conito” quando a fauna impacta pessoas, sua segurança ou de suas
propriedades, quando os humanos impactam a fauna, ou quando existe divergência
entre pessoas por causa da fauna silvestre (MADDEN, 2004b; MADDEN; MCQUINN,
2014). A tendência atual é substituir “conitos humanos-fauna silvestre”, por “interações”
ou “coexistência humanos-fauna silvestre” (PETERSON et al., 2010), e esses conceitos
passarem a liderar iniciativas de conservação. Mais do que “coocorrência” (partilha
e/ou sobreposição territorial e temporal), “coexistência” determina comportamentos
de existência conjunta, incluindo convivência harmoniosa ou coexistência apesar de
rivalidade. No primeiro caso, interesses de animais e humanos são satisfeitos, no
segundo caso, um ‘compromisso’ é negociado para permitir a existência de ambos
Desenvolvimento Sustentável do Semiárido Brasileiro Capítulo 5 36
(FRANK, 2015).
A caça sempre ocorreu na Caatinga, preferencialmente de mamíferos de porte
maior, carnívoros como as onças-pintadas e onças-pardas (ALVES et al., 2016, ALVES;
LOPES; ALVES, 2016; BARBOZA et al., 2016). Em entrevistas conduzidas em 2017
pelo Programa Amigos da Onça, 78% dos respondentes indicaram que as presas
naturais das onças escassearam e para o avistamento é necessário adentrar mais na
caatinga do que até cinco anos atrás (ENEL, 2018). Esse fato corrobora pesquisas já
publicadas apontando para o declínio das populações das espécies de mamíferos de
maior porte (ALBUQUERQUE et al., 2012a, 2012b; ALVES et al., 2012; ALVES et al.,
2016; BARBOZA et al., 2016), e um aumento da pressão de caça sobre pequenos
mamíferos e aves, como preás (Galea spixii) e mocós (Kerodon rupestris) (ALVES;
LOPES; ALVES, 2016). Pelo exposto, as interações humanos e fauna silvestre na
Caatinga são de conito, com prejuízo para a fauna.
Uma das principais ameaças aos felinos tem sido o abate em retaliação à
predação de animais domésticos, e apesar da grande maioria dos conitos terem
a onça-parda como espécie responsável, a onça-pintada é comumente culpada e
perseguida. Dentre os vilões, animais domésticos como cães e porcos também são
conhecidos como predadores de criações (CAMPOS et al., 2007).
Assim, as interações humanos e fauna silvestre na Caatinga também resultam
em prejuízo para os humanos. Conito como resultado de perda econômica, mas
também considerando variáveis cognitivas, psicológicas, comportamentais e sociais.
Os seis macro objetivos do PAN dos Grandes Felinos (BRASIL, 2018) têm
implícito o conceito de “conito” em todos, quer a estratégia vise atuar sobre a ecologia
das espécies (objetivos I, II e IV), quer seja para atuar sobre variáveis das dimensões
humanas dos conitos (objetivos III, IV e V). O Programa vem atuando de forma
pioneira também neste eixo.
Desde 2013, a equipe do Programa tem direcionado seus esforços no sentido de
reduzir os conitos com carnívoros promovendo mudanças no manejo dos rebanhos,
do sistema extensivo para o semi-intensivo, inicialmente em duas comunidades no
Boqueirão da Onça. Foram construídos “chiqueiros” (= currais) à prova de ataques
de onças e com conforto térmico para os rebanhos como aliados para a mudança do
manejo: o criador assume o compromisso de não deixar animais soltos durante a noite
na caatinga (período de maior chance de encontro com as onças) e cria um vínculo
com o Programa.
Paralelamente à redução dos conitos, o Programa gerou resultados preliminares
na pesquisa das dimensões humanas das interações com as onças. Nas entrevistas
aplicadas no Boqueirão da Onça (ENEL, 2018), a espécie mais vezes mencionada
entre os carnívoros, foi a onça-parda (88%), seguida da onça-pintada (72%). Isto
signica que as duas espécies são as mais proeminentes na mente dos locais, apesar
de não serem as mais avistadas: a onça-parda ocupa o terceiro lugar e a onça-pintada,
o sexto, numa lista de 32 espécies referidas. A frequência de avistamentos diminuiu
Desenvolvimento Sustentável do Semiárido Brasileiro Capítulo 5 37
nos últimos três anos. Metade dos entrevistados relatou sofrer prejuízo (predação)
por animal silvestre, citando a onça-parda como primeiro responsável, seguida da
raposa (C. thous). Por “medo” e “ameaça pessoal”, 1/3 dos respondentes admitiram
que eliminariam completamente as onças se não fossem punidos.
4 | LACUNAS DO CONHECIMENTO
Além do Programa Amigos da Onça, exposto como estudo de caso, outras
instituições como a Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), a
Universidade Federal do Pernambuco (UFPE), a Universidade Federal do Rio Grande
do Norte (UFRN), o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos
Carnívoros (CENAP/ICMBio), a Universidade Federal da Paraíba (UFPB), entre outras,
desenvolvem pesquisas com mamíferos na Caatinga dentro ou fora de unidades
de conservação. É fundamental aumentar as áreas de atuação, principalmente no
interior do bioma, para a obtenção do conhecimento além da riqueza, distribuição e
composição de espécies (CARMIGNOTO; ASTÚA, 2017).
Mas existem limitações de disponibilidade e prioridade na alocação de recursos, e
isso, juntamente com uma visão equivocada da região, estigmatizada pela semiaridez
e pelos baixos Índices de Desenvolvimento Humano (IDHs) de suas populações
humanas, criou e reforçou uma crença de que a biodiversidade na Caatinga é pobre
em espécies e endemismos, e cienticamente desinteressante (LEAL et al., 2003).
Há grande lacuna no conhecimento sobre biologia e ecologia das onças, que
variam de forma distinta entre biomas. Na Caatinga as pesquisas com onça-pintada têm
incidido no Parque Nacional da Serra da Capivara (BRANDÃO et al., 2009; SILVEIRA
et al., 2010) e na Chapada Diamantina (PEREIRA; GEISE, 2009), e apenas iniciaram
no Boqueirão da Onça com o CENAP/ICMBio (até 2012) e o Programa Amigos da
Onça (2012-atual).
Apesar dos resultados promissores, a proposta do eixo de ecologia e biologia
das onças do Programa é para o longo prazo. Ainda é necessário executar esforços
para a identicação de variáveis da paisagem que podem inuenciar o comportamento
das onças e suas presas. Qual ou quais a(s) variável(is) principal(is) que inuencia(m)
na movimentação das onças na região? Qual é a densidade atual das onças-pintadas
e onças-pardas no Boqueirão? Como é o comportamento das onças frente ao avanço
de parques eólicos na região?
Quanto às dimensões humanas das interações com as espécies, os estudos
exploratórios permitiram a elaboração de hipóteses de pesquisas de longo prazo. Quais
variáveis determinam as interações estabelecidas? São valores, crenças, normas,
conhecimentos, experiências pessoais, hábitos, sentimentos, percepção de risco, de
controle de comportamento ou de abundância das espécies e de suas presas?
O desao do “desbalanço” entre perguntas respondidas e por responder é o
motor da geração do conhecimento que deve fundamentar ações de conservação
Desenvolvimento Sustentável do Semiárido Brasileiro Capítulo 5 38
direcionadas ao bioma e sua biota.
5 | ENTRAVES E DIFICULDADES
A Revista Pesquisa Fapesp publicou um artigo expondo as enormes diferenças
entre as regiões do Brasil (MARQUES, c2012), em termos de investimento em pesquisa
e desenvolvimento. Do dinheiro investido pelo conjunto dos estados brasileiros em
2010, São Paulo respondeu por 86% do total. Com os cortes orçamentários do
Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), a partir de
2017, a disparidade em relação ao repasse em outros estados se manteve (MARQUES,
c2017).
Preterir a Caatinga face a outros biomas (como a Amazônia e Mata Atlântica) tem
facilitado comparações pejorativas para ela, o que pode ter resultado em reduzidos
investimentos na conservação da sua biodiversidade (SANTOS et al., 2011; OLIVEIRA;
BERNARD, 2017).
Os 28,6 milhões de pessoas residentes no bioma, dos quais 9,5 milhões vivem
em pequenos agrupamentos rurais, são altamente dependentes dos recursos naturais
que vêm sendo afetados por perturbações antrópicas, agudas e crônicas, ao ponto
de não mais serem capazes de atender à demanda por serviços ecossistêmicos das
populações rurais e urbanas (ALBUQUERQUE et al., 2017, BRAGAGNOLO et al.,
2017). A combinação dessas perturbações afetou a maioria dos ecossistemas da
Caatinga elevando para 94% a extensão territorial moderada ou altamente vulnerável
à deserticação (VIEIRA et al., 2015).
Recurso nanceiro é o maior desao para trabalhos como o que o Programa
Amigos da Onça propõe. A maioria são valores baixos vindos da iniciativa privada e de
doações de instituições conservacionistas estrangeiras, e quase nenhum investimento
público nacional. Além disso, há a resistência dos caprinocultores à mudança de
manejo dos rebanhos.
A fragilidade da administração pública gera desarticulação entre pesquisa
para a conservação, política ambiental e tomadas de decisões, quadro que reúne
as diculdades à oportunidade excepcional que temos de promover os pilares da
sustentabilidade da maior e mais diversa oresta tropical sazonalmente seca.
6 | PERSPECTIVAS E CENÁRIOS
À escala global, a Caatinga está subordinada ao modelo de desenvolvimento
sustentável proposto pela Organização das Nações Unidas (ONU), que busca alcançar
a conservação ambiental com a inclusão social e a prosperidade econômica (SACHS,
2015). É um modelo que deve envolver governos, iniciativa privada e sociedade civil,
em um compromisso de mudança de políticas e práticas, com ações e efeitos no longo
prazo.
Desenvolvimento Sustentável do Semiárido Brasileiro Capítulo 5 39
À escala nacional, sempre se considerou a Caatinga como um problema difícil
de lidar, onde “secas imprevisíveis, fomes, migrações, profunda desigualdade,
esgotamento dos recursos naturais, planos fracassados de desenvolvimento e um
sistema corrupto de poder” vêm limitando o desenvolvimento humano há séculos
(ANDRADE, 1998; AB’SABER, 1999).
À escala regional de atuação do Programa Amigos da Onça, encontramos
convergência entre a proposta de desenvolvimento sustentável da ONU e os nossos
eixos de pesquisa e intervenção. Em prol da conservação da biodiversidade e seus
ambientes, estamos alinhadas e cooperativas com a manutenção e estabelecimento
de conectividade entre áreas protegidas ou fragmentos para a dispersão de indivíduos
de espécies silvestres, redução da pressão humana sobre os recursos naturais,
substituição dos modelos tradicionais de produção, agricultura e pecuária no bioma,
e melhoria da qualidade de vida das populações. Estamos igualmente dispostas a
contribuir com a elaboração do plano de manejo do mais novo Parque Nacional do
bioma Caatinga, o ParNa Boqueirão da Onça.
7 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
A breve apresentação sobre os mamíferos da ordem Carnivora da Caatinga,
tendo como estudo de caso a pesquisa desenvolvida pelo Programa Amigos da Onça,
revela a urgência para o aumento de pesquisas e esforços de conservação nas áreas
do bioma, formadas pelas interações entre os meios físicos (geologia, hidrologia,
pedologia, climatologia, topograa, etc.), bióticos (fauna e ora) e sociais (qualidade
de vida e comportamento humano).
Prevalece uma grande lacuna de conhecimento sobre informações básicas dos
carnívoros encontrados no bioma: ocialização da lista de espécies do bioma, áreas
de ocorrência, nível de ameaça, densidades populacionais, dieta, ciclos reprodutivos,
adaptações siológicas e comportamentais, processos ecológicos, genética, etc.
Diante disso, as questões que precisam ser aprofundadas são: quais
características da paisagem auxiliam na permanência das populações dos carnívoros
na Caatinga? Quais as relações entre fauna e ora que caracterizam ou direcionam o
uso do espaço por esse grupo? As duas espécies de onças ocorrem simpatricamente
no bioma? Como é a interação e a sobreposição de nicho entre carnívoros silvestres
e domésticos? Nas questões sociais, é convivência o que tem havido entre humanos
e carnívoros na Caatinga? Como ela tem acontecido? Subordinada a quais fatores e
com quais efeitos para ambos os lados, essas interações têm sido permeadas?
A fragmentação e perda de habitat, instalação de empreendimentos de geração
de energia, mineração, alterações ou eliminação das fontes naturais (nascentes) de
água, redução na base de presas e abate de indivíduos por retaliação à predação de
animais domésticos, são as principais ameaças aos carnívoros na Caatinga. Por m,
a desarticulação entre pesquisa para a conservação, política ambiental e tomadas
Desenvolvimento Sustentável do Semiárido Brasileiro Capítulo 5 40
de decisões gerados pela fragilidade da administração pública, mostra uma balança
desigual de uso e exploração versus conservação e convivência com as espécies de
mamíferos carnívoros da Caatinga.
REFERÊNCIAS
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