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Este artigo investiga construções binominais quantitativas em uma perspectiva construcionista baseada no uso. Para isso, desenvolve, sobre os dados utilizados para a investigação, o método de análise colexêmica distintiva, um tipo de medida de associação entre lexema e construção, que compara duas ou mais construções alternantes. Nesse sentido, compreende-se que as construções envolvidas na análise apresentam certo grau de equivalência funcional, na medida em que expressam grande quantidade, porém apresentando diferenças sutis em termos de significado, explicitadas pelas preferências colocacionais de cada construção específica. O ponto central do artigo reside na reflexão sobre em que medida uma análise colostrucional de caráter distintivo pode contribuir para o entendimento mais profundo da organização do conhecimento linguístico do falante na forma de uma rede de construções inter-relacionadas.
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ODISSEIA ISSN: 1983-2435
Odisseia, Natal, RN, v. 4, n. esp., p. 173-193, jul.-dez. 2019 173
Construções binominais quantitativas em perspectiva distintiva:
uma análise colostrucional
Quantifying binomial constructions from a distinctive perspective:
a colostructional analysis
Karen Sampaio Braga Alonso*
karensampaio@hotmail.com
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Diego Leite de Oliveira**
diegooliveira@letras.ufrj.br
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Nuciene Caroline Amphilóphio Fumaux***
carol.fumaux@gmail.com
Universidade Federal do Rio de Janeiro
________________________________
RESUMO: Este artigo investiga construções binominais quantitativas em uma
perspectiva construcionista baseada no uso. Para isso, desenvolve, sobre os dados
utilizados para a investigação, o método de análise colexêmica distintiva, um tipo de
medida de associação entre lexema e construção, que compara duas ou mais
construções alternantes. Nesse sentido, compreende-se que as construções
envolvidas na análise apresentam certo grau de equivalência funcional, na medida
em que expressam grande quantidade, porém apresentando diferenças sutis em
termos de significado, explicitadas pelas preferências colocacionais de cada
construção específica. O ponto central do artigo reside na reflexão sobre em que
medida uma análise colostrucional de caráter distintivo pode contribuir para o
entendimento mais profundo da organização do conhecimento linguístico do falante
na forma de uma rede de construções inter-relacionadas.
PALAVRAS-CHAVE: Gramática de Construções Baseada no Uso. Construções
Binominais Quantitativas. Análise Colexêmica distintiva. Um monte de SN. Uma
enxurrada de SN.
ABSTRACT: This paper investigates quantifying binomial constructions from a
usage-based constructionist perspective. For this purpose, it develops, on the data
used for the investigation, a distinctive collexeme analysis, a type of measure of
* Professora do Departamento de Linguística e Filologia da Faculdade de Letras da UFRJ e dos
Programas de Pós-Graduação em Linguística da UFRJ e PROFLETRAS UFRJ.
** Professor do Departamento de Letras Orientais e Eslavas da Faculdade de Letras da UFRJ e do
Programa de Pós-graduação em Linguística da UFRJ.
*** Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Linguística da UFRJ.
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association between lexemes and constructions, which compares two or more
alternating constructions. In this sense, it is understood that the constructions
involved in the analysis present a certain degree of functional equivalence, as they
express a large amount, but having subtle differences in terms of meaning, explained
by the collocational preferences of each specific construction. The central point of the
paper is to reflect on the extent to which a distinctive colostructional analysis can
contribute to a deeper understanding of the organization of speaker's linguistic
knowledge in the form of a network of interrelated constructions.
KEYWORDS: Usage-Based Construction Grammar. Quantifying Binominal
Constructions. Distinctive Collexeme Analysis. Um monte de NP. Uma Enxurrada de
NP.
Introdução
No decorrer dos últimos anos, diversos métodos de análise utilizados em
Gramática de Construções Baseada no Uso (GCBU) têm se revelado bastante
produtivos na descrição e explicação de construções das línguas naturais (cf.
GOLDBERG, 2019; DIESSEL, 2015; PEREK, 2015). Nessa seara de métodos de
investigação das construções linguísticas, interessa-nos, no presente artigo, a
exploração de um conjunto de métodos conhecido na literatura como análise
colostrucional (GRIES; STEFANOWISTCH, 2003, 2004).
O termo “colostrucional” consiste em uma espécie de neologismo, que
envolve a semântica evocada pelas noções de lexema, colexema e construção. O
conjunto de métodos em pauta considera o fato de que os lexemas observados em
uma construção não ocorrem de modo aleatório, mas sim sistemático, sendo
possível falar em preferências colocacionais dos lexemas (cf. HILPERT, 2014). Essa
concepção fundamenta-se na ideia de que a identificação das preferências de
ocorrência dos lexemas que podem preencher os slots de uma construção contribui
para a descrição de aspectos sutis das construções sob análise e que, de outra
forma, talvez não fossem observados pelo pesquisador. Assim, a metodologia em
pauta revela-se interessante não só, mas também, quando se busca comparar
construções que atuam em um mesmo domínio funcional e que, no âmbito do
princípio da não sinonímia, espera-se apresentarem alguma diferença, seja do ponto
de vista semântico, seja do ponto de vista pragmático (cf. GOLDBERG, 1995).
Este trabalho busca aplicar uma análise colostrucionial a um conjunto de
construções abarcadas pelo rótulo de construções binominais quantitativas do
português brasileiro, que, em um nível de abstração mais esquemático, podem ser
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representadas como “UM(A) N de SN1. Neste trabalho especificamente, são
observados os padrões ‘UM MONTE de SN’ e ‘UMA ENXURRADA DE SN’ para
expressar a semântica de grande quantidade. O objetivo central do presente artigo é
contrastar os padrões construcionais mencionados, a partir do procedimento
metodológico de análise colexêmica distintiva e refletir sobre em que medida o
método em questão pode contribuir para o entendimento da organização das
construções no constructicon, como o conjunto de conhecimentos que o falante tem
de sua língua.
O artigo se divide da seguinte forma: primeiramente apresentaremos o
arcabouço teórico que fundamenta esta pesquisa, para, em seguida, fornecermos
uma breve descrição das construções investigadas, após o que delineamos a
metodologia utilizada na análise empreendida no presente trabalho, para, finalmente,
discutirmos os resultados a que chegamos através da análise colostrucional.
Algumas considerações encerram o artigo.
1 Gramática de Construções Baseada no Uso
Com a virada construcionista nos estudos linguísticos (cf. FILLMORE; KAY;
O’CONNOR, 1988; LANGACKER, 1987; LAKOFF, 1987; GOLDBERG, 1995, 2006,
2019; TRAUGOTT; TROUSDALE, 2013; HILPERT, 2014 e outros), a fronteira bem
definida entre sintaxe (ou gramática), como o domínio das regularidades, e o léxico,
como o domínio das idiossincrasias, deixa de existir como tal, em prol da integração
entre os dois domínios como parte do conhecimento internalizado do falante sobre o
funcionamento de sua língua. Em vez de se compreender o sistema linguístico como
um conjunto de regras gramaticais, aplicáveis a um arcabouço lexical organizado em
lista, a língua é compreendida como um inventário altamente estruturado na forma
de uma rede de unidades simbólicas convencionalizadas, que pareiam, por um lado,
forma linguística e, por outro, aspectos do significado, como propriedades
semânticas, pragmáticas e discursivo-funcionais (cf. GOLDBERG, 1995, 2006, 2019;
CROFT, 2001; HILPERT, 2014). Nesse sentido, sintaxe e léxico recebem um
tratamento homogêneo, sendo ambos interpretados à luz do conceito de construção,
considerada a unidade básica de análise gramatical (cf. GOLDBERG, 2006), ainda
1 A notação UM(A) N DE SN é utilizada para descrever um padrão geral de construções binominais
quantitativas e será mais bem explicada ao longo do artigo.
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que as construções apresentem graus distintos de esquematicidade/especificidade,
produtividade e composicionalidade (TRAUGOTT; TROUSDALE, 2013).
Como já dito, em uma concepção construcionista, as construções se
organizam na forma de uma rede complexa de relações, nos planos taxonômico,
associativo, sintático e lexical2. Dos planos elencados, os que nos interessam de
modo mais fundamental para o presente trabalho são os planos taxonômico e lexical,
que passamos a descrever nas linhas que seguem.
Do ponto de vista taxonômico, as construções se relacionam entre si em
níveis de maior ou menor especificidade ou abstração. Em uma perspectiva baseada
no uso, a língua emerge a partir da experiência e, portanto, a partir do contato do
falante com instâncias concretas de uso, mais especificadas e envolvidas em um
contexto discursivo específico (BYBEE, 2010; 2013). Com o passar do tempo e a
partir do contato do usuário da língua com instâncias diversificadas de um
determinado padrão, tais instâncias de uso vão sendo comparadas e categorizadas,
a ponto de padrões correlacionados serem construídos como representações mais
abstratas, estas sim denominadas construções. Tais representações abstratas, à
medida que os falantes vão se deparando com mais instâncias de uso da língua,
podem assumir maior grau de abstração e generalização, de modo que nós mais
abstratos podem ou não emergir na rede, representando o conjunto de
conhecimentos que o falante tem de sua língua. Se pensarmos, por exemplo, em
uma construção transitiva do tipo SVO do português brasileiro, talvez seja possível
sugerir uma representação em rede com a organização taxonômica ilustrada abaixo:
2 Para maior compreensão sobre as relações apresentadas, conferir o trabalho de Diessel (2015).
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Figura 1. Proposta de organização da rede da construção transitiva SVO do português
brasileiro
Na figura anterior, temos a representação das relações entre as construções
transitivas em termos taxonômicos. Cada nó especificado refere-se a uma
construção da língua, organizada de acordo com seu grau de especificidade (ou
esquematicidade) e composicionalidade. No nível mais baixo da rede temos nós
mais especificados e menos composicionais, em que o significado da construção
como um todo não é refletido como o somatório de suas partes. Num nível mais alto,
temos construções mais esquemáticas, com menor grau de especificidade e maior
grau de composicionalidade e produtividade. Por fim, no nível mais abstrato, temos a
construção transitiva SVO, totalmente esquemática, e com alto grau de
produtividade em termos de extensibilidade (cf. BARDDAL, 2008).
Como já dito anteriormente, a distinção clássica entre sintaxe e léxico é
abolida em uma perspectiva construcionista, de modo que as construções passam a
ser consideradas as unidades básicas de análise gramatical. A diferença entre as
construções, portanto, se dá em termos de especificidade fonológica, na medida em
que é possível ter construções totalmente especificadas ou substantivas, como, por
exemplo, em [CASA] ou totalmente não especificadas do ponto de vista fonológico e,
portanto, mais esquemáticas, como, por exemplo, em [S V O], já exemplificada
anteriormente. Construções substantivas e esquemáticas diferem entre si em termos
de produtividade, no que se refere a sua extensibilidade, isto é, sua capacidade de
atrair itens diversificados para preencherem os slots não fonologicamente
especificados. Nesse caso, os itens a participarem de tais slots não preenchidos são
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os lexemas que, por sua própria natureza, consistem em construções mais
especificadas fonologicamente.
Para ilustrar a natureza das relações lexicais, ou seja, as relações que se dão
entre os lexemas construções mais especificadas e geralmente atômicas (cf.
TRAUGOTT; TROUSDALE, 2013) e as construções mais esquemáticas, tomemos
a construção ditransitiva do português, tal como descrita por Furtado da Cunha
(2017). A autora define a ditransitiva “como uma construção que consiste de um
verbo ditransitivo, um argumento agente (A), um argumento recipiente (R) e um
argumento paciente (P)” (FURTADO DA CUNHA, 2017, p. 116), em que um “agente
faz com que o recipiente receba o paciente” (p. 117). De acordo com a própria
autora, o significado de transferência expresso pela construção está associado a
verbos de oferecimento, cujo protótipo é o verbo dar.
Nesse sentido, com base na GCBU (cf. DIESSEL, 2015), seria possível
postular a existência de um link lexical forte entre a construção (ou lexema) DAR e a
construção DITRANSITIVA do português brasileiro, dada a frequência com que tal
lexema é recrutado para participar das instâncias da construção. Outros lexemas
também recrutados pela construção são verbos como ‘presentear’, ‘entregar’,
‘passar’ etc., porém com um link lexical mais fraco, também por razões de
frequência.
Seguindo, portanto, os princípios da GCBU, levaremos em conta, para a
descrição das construções em foco neste trabalho, que: (1) os falantes têm acesso
direto apenas a formas linguísticas concretas, ou seja, aos construtos; e (2) as
construções, estruturas abstratas, recrutam preferencialmente nomes que se
acomodam a elas por coerência semântica, o que nos leva a concluir que conhecer
os lexemas mais atraídos por uma dada construção é conhecê-la.
As construções ‘UM MONTE DE SN’ e ‘UMA ENXURRADA DE SN’ fazem
parte de um rol de diferentes construções binominais quantitativas abstraídas do uso
e que servem, na língua portuguesa, para a multiplicação de referentes em termos
de grande quantidade. Embora funcionalmente equivalentes, o uso de cada uma
delas possui particularidades bastante interessantes, a partir das quais podemos
fazer uma breve reflexão acerca da abstração de construções mais esquemáticas na
língua.
Assim sendo, a questão que pretendemos provocar permeia os limites da
metodologia de análise de dados de corpus para uma descrição adequada da rede
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construcional. Na análise por nós empreendida, por exemplo, pudemos observar que
a maioria esmagadora das construções binominais quantitativas apresenta um artigo
indefinido seguido de um nome nu singular, da preposição dee de um outro nome
nu, no plural. Em função desse comportamento recorrente das construções
binominais quantitativas no português, postulamos, que, em termos de realidade
psicológica, o falante tenha armazenadas tanto as construções ‘UM MONTE DE SN’
e ‘UMA ENXURRADA DE SN’, como a construção mais abstrata UM(A) N de SN’.
Isso implica considerar que, embora haja dados no corpus em que, no lugar
do artigo indefinido, observemos a ausência do determinante ou mesmo a presença
de outros elementos, como, por exemplo, artigos definidos e demonstrativos, não
postulamos que os falantes do português tenham armazenada uma construção
ainda mais abstrata na rede, como SN de SN, por exemplo. Isso porque, em se
considerando a metodologia adotada, não obtivemos resultados quantitativos
suficientemente fortes para sugerir que o falante faça uma abstração para além
daquela em que o determinante é preenchido por um artigo indefinido. A análise dos
dados nos leva a avaliar, nos casos de ausência de determinantes ou presença de
elementos diferentes de um(a), uma motivação mais contextual do que a abstração
de uma construção mais ascendente na rede.
Essa ausência do um(a) ou presença de elementos diferentes de um(a) é
mais observada na construção ‘UMA ENXURRADA DE SN’ do que em ‘UM MONTE
DE SN’, e isso muito provavelmente se deve ao fato de que ‘UMA ENXURRADA DE
SN’ é uma construção mais recente na língua e apresenta maior grau de
analisabilidade e composicionalidade, na comparação com ‘UM MONTE DE SN’.
Essa última, por sua vez, conforme já demonstrado em Fumaux (2018), foi deixando
de recrutar elementos diferentes de um no decorrer de seu longo processo de
formação, ao mesmo tempo em que se observava a preferência dessa construção
por recrutar nomes cada vez menos coerentes com o sentido original de monte
(formação geológica).
Análises colostrucionais, modeladas para medir a força de atração de itens e
construção, podem, nos diferentes níveis taxonômicos, nos ensinar não apenas
sobre o uso das construções, mas também sobre a representação mental que os
falantes fazem delas. Essa relação entre os métodos de análise colostrucional e o
nível taxonômico das construções será apresentada na seção 3 deste trabalho.
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2 Construções binominais quantitativas do tipo um N1 de N2
Falantes do português têm à sua disposição um longo arsenal de construções
gramaticais que servem para quantificar referentes. Construções de plural (como Ns),
construções formadas por pronomes indefinidos seguidos de nomes (como muito(s)
N(s)), com numerais cardinais e nome (como Num Card N), dentre outras, são
algumas das alternativas de que eles podem lançar mão quando desejam expressar
noções de quantidades de mais de um, quantidades subjetivas, como as de pouco
ou muito, ou ainda precisas, como as de cinco, dez, entre outras.
As construções binominais focalizadas no presente estudo se caracterizam
por ser um formativo nominal complexo constituído, preferencialmente, pela
combinação de um artigo indefinido seguido de um nome (entendido como
quantificador), da preposição de e de um SN (entendido como quantificado).
Semanticamente, entende-se que é uma construção utilizada, de forma geral, no
português, para quantificar (multiplicar) referentes contáveis. Por exemplo, em um
monte de pessoas, o referente pessoa foi multiplicado em grande quantidade, ao se
combinar sintagmaticamente o artigo indefinido um, o nome quantificador monte, a
preposição de e o nome quantificado pessoas.
Além dessas propriedades gerais, construções desse tipo têm como
característica o fato de que podem recrutar nomes quantificadores que não são
originalmente relacionados com a ideia de quantificação. No exemplo anterior, foi
possível observar o recrutamento dos colexemas monte e pessoas pela construção
um(a) N1 de N2, em que monte é recrutado para preencher o slot do quantificador,
embora originalmente refira-se ao sentido de formação geológica, ou seja, não se
trata de um quantificador nato, mas de um nome que ganha esse sentido ao
instanciar a referida construção quantitativa.
De fato, parece haver uma gama de itens que podem ser recrutados para
preencher o primeiro slot da construção quantitativa UM(A) N1 DE N2, os quais
compartilham com ela alguma afinidade semântica; no caso, algum traço a partir do
qual se pode inferir a ideia de quantidade grande ou pequena. No caso de grande
quantidade, podemos ter exemplos como os de um mundo de ideias; um universo de
possibilidades; uma chuva de críticas; uma enxurrada de e-mails; uma avalanche de
problemas; uma nuvem de exemplares; uma montanha de livros; um monte de
gente; uma pilha de meias; uma pá de coisas; um caminhão de mensagens; uma
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cambada de marmanjos; uma cacetada de provas; uma porrada de canetas; uma
dezena de crianças; uma centena de participantes; um mar de lágrimas etc. (outros
exemplos, bem como maiores detalhes dessas construções podem, ainda, ser
encontrados em ALONSO, 2010 e BRODBECK, 2010).
A relação entre itens e construções vem sendo estudada na literatura da
gramática de construções por diferentes autores (por exemplo, GOLDBERG, 1995;
HILPERT, 2014; PEREK, 2015), e é uma preocupação constante da área. De fato,
toma-se, por princípio, que nomes frequentemente recrutados por construções
gramaticais fornecem pistas acerca do sentido dessas construções, uma vez que
apresentariam maior coerência semântica com elas.
Seguindo esse raciocínio, entende-se que a construção quantitativa do tipo
UM(A) N1 DE N2vai preferencialmente recrutar nomes quantificadores clássicos ou
potencialmente quantificadores (que podem gerar inferência de quantidade via, por
exemplo, extensão metafórica) para o slot aberto notado como N1. Nesse mesmo
sentido, no que tange ao slot aberto notado como N2 e quando se trata de
construções que quantificam referentes em termos de grande quantidade, como é o
caso das construções abordadas neste artigo, espera-se que sejam recrutados
nomes contáveis ou nomes abstratos pluralizados.
Assumindo como verdadeira a hipótese da coerência semântica da
construção, também se espera que ela influencie a seleção dos nomes recrutados
para os slots N1 e N2. Assim, quanto maior a afinidade semântica entre o nome
quantificador e o nome quantificado, mais chances eles teriam de ocorrer juntos na
construção; e quanto menor a afinidade semântica entre os dois nomes, menor a
chance de se apresentarem como colexemas na construção quantitativa.
A preferência por nomes contáveis ou tomados como contáveis, bem como a
coerência semântica entre N1 e N2 foram corroboradas pelos resultados
encontrados em Alonso e colegas (no prelo) e por Alonso e Fumaux (no prelo).
Conforme já dito anteriormente, submetendo construções quantitativas de grande
quantidade do tipo UM(A) N1 DE N2 (especificamente, um monte de SN, uma
montanha de SN, uma enxurrada de SN e uma chuva de SN) a análises
colexêmicas, as referidas pesquisas obtiveram como resultado o recrutamento
preferencial de nomes que se acomodavam mais fortemente à semântica de cada
uma das construções.
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Ainda sobre a relação entre itens e construções, Talmy (2006) defende que
uma dada sentença é formada por dois subsistemas: o gramatical e o lexical, em
que a estruturação gramatical afetaria o conteúdo especificado no léxico,
funcionando como, segundo o autor, um tipo de esqueleto imagético. A partir daí, o
autor faz uma reflexão acerca do processo de quantificação (tomado de forma
bastante geral), em que descreve as seguintes categorias gramaticais: dimensão,
plexidade, estado de delimitação e estado de divisão.
No presente artigo, vamos nos deter à categoria da plexidade, uma vez que
ela se aplica mais diretamente aos nossos dados. Segundo Talmy (2006), plexidade
associa a ideia de quantidade ao conceito de massa (equivalente aos valores de
singular e plural) o qual nos interessa especificamente ou ação. Sobre o conceito
de massa, o autor ilustra suas ideias a partir dos seguintes exemplos:
(1) A flor se abriu.
(2) As flores se abriram.
No exemplo (1) A flor se abriu a entidade flor é conceptualizada como
única (uniplexidade), enquanto que, no exemplo (2) As flores se abriram a
entidade é copiada, multiplicada (multiplexidade). Analogamente, tomando um
exemplo como uma enxurrada de críticas, entende-se que a construção quantitativa
de grande quantidade uma enxurrada de SN copia a entidade crítica,
reconfigurando-a, assim, em termos do processo de multiplexização. No caso, a
forma plural críticas ilustra bem o fato de que essa construção prefere nomes
contáveis ou tomados como contáveis (ainda que abstratos), coerentes com ela.
Abordando construções binominais no inglês, Zhan e Traugott (2015)
oferecem uma taxonomia que procura rememorar as relações dentro da rede
construcional, focando os diferentes níveis de esquematicidade em que essas
construções podem ser analisadas. Essa taxonomia abarca desde níveis mais
abstratos a que as autoras chamam de esquemas até níveis menos abstratos
denominados de microconstruções –, incluindo, ainda, os construtos, que
correspondem às realizações dessas construções no uso da língua.
a. Esquemas: construções abstratas que são generalizações taxonômicas
sobre diversas construções mais particulares. Ex. quantificação binominal [Ni of a Nj]
←→ [Dimensãoi relacionada a SEMj].
b. Subesquemas: subgrupos de esquemas, menos abstratos, mas ainda
assim construções esquemáticas. Por exemplo, entre os subesquemas dos
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quantificadores binominais, estão: dimensão pequena (a bit of N) e dimensão grande
(a lot of N).
c. Microconstruções: Construções do tipo individual. Membros de um
subesquema pequeno: a bit/shred/jot/iota of N
d. Constructos: Instâncias de microconstruções, tokens de uso real. Ex: they
are hacks without a shered of intellectual honesty.
No presente artigo, investiremos em uma análise colostrucional colexêmica
distintiva, considerando as construções um monte de SN, uma montanha de SN,
uma enxurrada de SN e uma chuva de SN, seguida por uma análise covariacional, a
qual investiga construções binominais quantitativas, a partir de relações colexêmicas
encontradas em um nível taxonômico mais alto, a saber um N1 de N2, em que os
dois slots estão abertos.
Embora já tenham sido apresentados resultados de estudos anteriores acerca
dessas construções, ainda não havia um trabalho em que se aplicasse sobre elas
análises colostrucionais distintiva e covariacional, o que representa o ineditismo
dessa pesquisa em relação ao que já foi feito anteriormente acerca dessas
construções binominais quantitativas no português.
A seguir, na seção 3, passamos à descrição da análise colostrucional
propriamente dita e ao delineamento do corpus sobre o qual essa análise foi
efetuada.
3 Análise colostrucional
O conjunto de métodos intitulado análise colostrucional e proposto por
Stefanowistch e Gries (2003), Gries e Stefanowistch (2004) visa a identificar as
relações que se dão entre os lexemas e as construções em línguas naturais. Esse
conjunto de métodos se coloca como uma contribuição interessante, na medida em
que permite ao pesquisador identificar lexemas que são atraídos com mais
frequência para os slots esquemáticos das construções, em diversas situações
específicas: (i) quando o pesquisador está interessado na investigação de uma
construção com grau relativo de especificidade, que apresenta apenas um slot
esquemático, (ii) quando o pesquisador deseja contrastar construções desse tipo
que, apesar de diferirem na forma, apresentam funções similares, e (iii) quando o
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pesquisador deseja estudar construções mais abstratas que apresentam dois slots
esquemáticos.
Para atender às três demandas mencionadas, são utilizados três métodos
distintos, a saber: a análise colexêmica, que visa a observar o grau de atração entre
lexemas e um slot de uma construção; a análise colexêmica distintiva, que visa a
analisar o grau de atração entre lexemas e um slot em duas ou mais construções; e
a análise colexêmica covariacional, que tem por objetivo analisar o grau de atração
entre lexemas e dois slots de uma mesma construção, em um nível mais abstrato de
análise. Passamos, nas próximas linhas, a descrever esses métodos mais
especificamente.
A análise colexêmica geralmente é utilizada para identificar as preferências
colocacionais dos lexemas em relação a apenas um slot de uma construção
específica. Ela leva em consideração a frequência de ocorrência dos lexemas que
ocorrem no slot esquemático, a sua frequência de ocorrência no corpus como um
todo e o número de palavras do corpus, exibindo, com base em uma média
triangulada entre esses dados, a força de atração entre o lexema e a construção. No
que diz respeito ao estudo das construções binominais quantitativas, Alonso e
colegas (no prelo), ao contrastarem nguas como o russo e o português brasileiro,
aplicaram esse método com vistas a identificar as propriedades colocacionais da
microconstrução UM MONTE DE SN’. Na análise em pauta, os autores puderam
observar que, apesar de essa microconstrução permitir a ocorrência de um número
expressivo de lexemas variados, ela atraía mais frequentemente os lexemas gente
e ‘coisa’, vocábulos que caracterizam entidades animadas e inanimadas,
respectivamente, porém de cunho genérico.
A análise colexêmica distintiva, por seu turno, permite comparar duas ou mais
construções e leva em consideração a frequência de ocorrência dos lexemas que
ocorrem no slot esquemático constrastivamente entre as construções analisadas.
Esse tipo de análise demonstra-se bastante profícuo para contrastar construções
que se encontram no mesmo nível de abstração na rede, na mesma língua ou em
línguas diferentes. Por exemplo, Alonso e colegas (no prelo) utilizaram esse método
para contrastar construções binominais quantitativas do russo e do português,
chegando à conclusão de que construções similares em ambas as línguas atraíam
colexemas distintos, ainda que o elemento fixo na posição de N1 exibisse as
mesmas propriedades lexicais. No presente trabalho, o método de análise
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colexêmica distintiva será utilizado para contrastar o slot esquemático SN nas
construções UM MONTE DE SN’ e UMA ENXURRADA DE SN’, no português
brasileiro.
Por fim, a análise colexêmica covariacional, como já dito, permite que o
pesquisador observe particularidades de construções em um nível mais abstrato da
rede taxonômica, na medida em que analisa as preferências colocacionais de dois
slots esquemáticos de uma mesma construção. Para aplicar esse método de análise
ao fenômeno em pauta, é necessário subir um nível na rede e analisar a construção
UM(A) N DE SN’, identificando quais são os lexemas atraídos tanto para o slot 1
como para o slot 2. No entanto, por questões da seleção do corpus utilizado na
pesquisa, bem como pelo interesse dos pesquisadores deste trabalho por apenas 2
microconstruções da rede de construções binominais quantitativas já mencionadas
acima, o primeiro slot da construção UM(A) N DE SN’ restringiu-se apenas aos
lexemas monte e enxurrada, o que, em certa medida, restringe o escopo de
possibilidades da análise colexêmica covariacional. Em um futuro próximo,
pretendemos ampliar o escopo de investigação para um conjunto maior de lexemas
para que esse tipo de análise possa ser realizado.
Para desenvolver a análise colostrucional pretendida neste artigo, recorremos
a dados extraídos do corpus CHAVE, que contém textos coletados dos jornais
Público, de Portugal, e Folha de São Paulo, do Brasil, compilados entre os anos de
1994 a 1995. Cabe ressaltar que, para esta pesquisa, foram utilizados somente os
dados do português brasileiro, correspondendo a um total de 35.699.765 palavras.
Ressaltamos, além disso, que se trata da mesma metodologia contida em Alonso e
Fumaux (no prelo). Após a organização dos dados em uma tabela, estes foram
processados no programa de análises estatísticas R, utilizando-se o script fornecido
por Stefan Gries (2014), para o desenvolvimento das análises colostrucionais. No
script referido, seguimos o passo a passo para o desenvolvimento da análise
colexêmica distintiva, cujos resultados serão apresentados na próxima seção.
4 Análise dos resultados
Como já mencionado na seção anterior, a análise colexêmica distintiva se
difere das demais análises colexêmicas por permitir a comparação direta entre as
preferências colocacionais de construções alternantes. Neste trabalho,
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consideramos que as construções UM MONTE DE SN’ e UMA ENXURRADA DE
SN’ exibem certo grau de alternância, na medida em que as duas apresentam
equivalência funcional no rol das construções binominais quantitativas de grande
quantidade. No entanto, com base no princípio da não sinonímia supramencionado,
acreditamos que essas construções exibem especificidades semânticas, estilísticas
e contextuais e, nesse sentido, uma análise colexêmica distintiva poderia nos ser útil
ao apontar não somente os lexemas preferidos por cada construção para ocuparem
o slot esquemático SN o que já é possível observar com uma análise colexêmica
simples mas também aqueles que são repelidos pelas construções em uma
perspectiva contrastiva. Ao observarmos os lexemas preferidos e repelidos por cada
construção, podemos identificar as especificidades semânticas não observáveis
diante de outros tipos de análise.
Antes de iniciarmos a análise dos dados, é preciso atentar para o fato de que a
análise colexêmica distintiva aplicada às duas construções em foco no presente
estudo está circunscrita às especificidades e à dimensão do corpus selecionado na
pesquisa. Sendo assim, todos os resultados e inferências a que chegamos a partir
da aplicação do método devem ser compreendidos dentro desse limite metodológico.
A tabela 1 abaixo apresenta os resultados de uma análise colexêmica distintiva das
construções investigadas neste trabalho. São apresentados os resultados relativos
aos dez lexemas mais frequentes e mais relevantes que ocorrem no slot
esquemático das construções em pauta:
Tabela 1 Análise colexêmica distintiva das construções UM MONTE DE SN e UMA
ENXURRADA DE SN
Na tabela, são indicadas as frequências observadas, as frequências
esperadas (considerando o conjunto total de dados), bem como a probabilidade de
cada lexema ocorrer em cada construção aleatoriamente e, por fim, o grau de
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significância de cada combinação. De acordo com Gries (2014), quanto maior o
valor de Pbin, maior o grau de significância3.
Um breve olhar sobre os lexemas mais frequentes nas construções
binominais quantitativas em pauta nos permite concluir que os itens mais atraídos
pela construção UM MONTE DE SN’ são os lexemas ‘gente’ e ‘coisa (s)’, que
ocupam, respectivamente, na tabela, as linhas dois e três. Alonso e colegas (no
prelo) já haviam demonstrado que gente e ‘coisa(s)’ são os elementos mais
atraídos pela construção UM MONTE DE SN’ e, pelo princípio da coerência
semântica, impactam fortemente a representação cognitiva que o falante tem dela
construção de quantificação de referentes genéricos. Sendo esses os usos
prototípicos da construçãoUM MONTE DE SN’, esse resultado de atração, mesmo
que circunscrito ao corpus selecionado, parece bastante relevante e coerente com
outros estudos acerca do tema, reforçando os resultados anteriormente obtidos.
Complementarmente, o que a análise colexêmica distintiva traz de novo para a
investigação da construção UM MONTE DE SN’ é que os lexemas gente e coisa(s)
são repelidos por UMA ENXURRADA DE SN’, contribuindo para uma compreensão
mais profunda da organização dessas construções na rede.
Para além dos nomes apresentados na tabela, outros lexemas sem
significância estatística também puderam ser observados como colexemas da
construção UM MONTE DE SN’. Esses lexemas formam um arcabouço diversificado
de itens, que vão desde entidades animadas como ‘amigos’, ‘caras’, entre outros,
até entidades inanimadas como ‘filmes’, assuntos etc. Trata-se de itens que,
embora semanticamente distintos, não se afastam muito da ideia de referentes
genéricos prototipicamente recrutados pela construção.
Por esse mesmo raciocínio, lexemas como votos, pedidos, processos,
também de referência genérica, seriam potenciais colexemas da construção UM
MONTE DE SN’. Entretanto, neste corpus, esses lexemas, embora bastante
produtivos, não só não apareceram na construção, como foram repelidos por ela. A
3 De acordo com o script proposto por Gries (2014), os valores são os seguintes: pbin*>3 => p<0.001;
pbin*>2 => p<0.01; pbin*>1.30103 => p<0.05. Geralmente o teste multidimensional aplicado aqui é
utilizado para um conjunto de três ou mais variantes de uma variável dependente. Porém, apesar de,
neste trabalho, estarmos estudando somente duas construções alternantes, decidimos utilizar o
mesmo teste aplicado a mais de duas variantes e não o teste exato de Fisher, mais indicado quando
existem apenas duas variantes, porque consideramos o fato de que existem muito mais do que
apenas duas microconstruções em competição no rol das construções quantitativas do português
brasileiro. A diferença de significado a depender do teste aplicado não se demonstrou diferente do
ponto de vista estatístico.
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partir daí, alguém poderia perguntar por que isso acontece. A resposta parece não
estar na avaliação de gramaticalidade de usos como ‘um monte de votos’ ou ‘um
monte de pedidos’, por exemplo, mas numa investigação a fundo dos contextos em
que os lexemas em questão foram encontrados instanciando construções binominais.
A natureza genérica dos lexemas atraídos pela construção UM MONTE DE
SN’ se distingue significativamente em relação aos lexemas mais atraídos por UMA
ENXURRADA DE SN’, a qual parece, ao menos em relação ao corpus utilizado,
exibir maior especificidade, haja vista a maior preferência da construção em relação
a lexemas como ‘dólares’, conforme se observa na primeira linha da tabela, bem
como ‘ações’, ‘dinheiro estrangeiro’, entre outros.
Um olhar mais atento aos contextos de utilização de UMA ENXURRADA DE
SN’ nos permite identificar a recorrência do uso de tal construção em situações que
envolvem movimento, como é possível observar nos trechos a seguir:
(3) Uma redução abrupta do compulsório, avaliam os técnicos, provocaria uma febre
de operações de ACC no mercado e uma enxurrada de dólares entrando no país.
(Coleção CHAVE)
(4) O livro consegue realizar com sucesso um dos objetivos básicos de seus
idealizadores e organizadores: abrir, ou até escancarar, portas e janelas do universo
da produção acadêmica de conhecimentos sobre os índios no Brasil para uma vital
enxurrada de informações que deve (esperamos) invadir outro universo, o da
educação escolar (Coleção CHAVE)
Em (3), a ocorrência ‘uma enxurrada de dólares’ ilustra um típico exemplo da
construção ‘UMA ENXURRADA DE SN”, em que o contexto de movimento,
sinalizado pelo verbo ‘entrar’, favorece a seleção de uma construção quantitativa
que mantém com ele um grau alto de coerência semântica. Considera-se assim,
visto que a noção de movimento é facilmente inferível do conceito de enxurrada. A
recorrência do lexema ‘enxurrada’ em situações que envolvem deslocamento pode
ser, inclusive, facilmente observada em outros contextos de uso, isto é, fora da
construção quantitativa.
Entendemos que a construção ‘UMA ENXURRADA DE SN’ incorpora o
sentido de movimento inferido do contexto e que exibe, por outro lado, maior
analisabilidade (ou seja, o falante reconhece mais facilmente as partes componentes
da construção) do que a que se observa em UM MONTE DE SN’. Em sendo assim,
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a referência de ‘enxurrada’ como um grande volume de água que se desloca depois
de uma chuva, por exemplo, estaria mais disponível para o falante, em situação de
uso em construção binominal quantitativa, do que o de ‘monte’ como formação
geológica, se considerarmos seu uso na mesma situação. O efeito disso é o de que,
nos casos de ‘UMA ENXURRADA DE SN’, o falante se encontra mais livre para
apagar o artigo indefinido, substituí-lo por evento de natureza distinta, inserir
elementos intervenientes etc.
O dado em (4) ‘uma vital enxurrada de informações’ ilustra exatamente
essa situação em que são admitidos elementos intervenientes, no caso ‘vital’,
entrando na construção. Esse exemplo reforça a argumentação em torno do fato de
que a construção ‘UMA ENXURRADA DE SN’ é coerente com o sentido de
movimento, tipicamente atrelado aos contextos em que é preferencialmente usada
nesse caso, o verbo ‘invadir’ sinaliza a ideia de deslocamento. Estamos
argumentando, então, que, enquanto a construção ‘UM MONTE DE SN tem a sua
semântica bastante atrelada a um conjunto de itens mais destacadamente dois,
‘gente’ e ‘coisa(s)’ de sentido genérico; a construção ‘UMA ENXURRADA DE SN
parece preferir, ainda, se acomodar muito claramente à noção de movimento, que,
ao contrário, não está nos itens recrutados propriamente ditos, mas na sua própria
semântica e, por consequência, na sua recorrência em contextos de movimento nas
diferentes situações de uso.
Observamos também, em relação a essa amostra, o uso do adjetivo ‘vital’ no
que diz respeito à sua semântica. A seleção desse adjetivo modificando enxurrada
pareceria, fora da construção binominal quantitativa, no mínimo, inusitado;
entretanto, na construção, o adjetivo ‘vital’ se coloca não em relação a ‘enxurrada’,
tomando o lexema de forma isolada, mas em relação à ideia de muita informação
expressa por uma enxurrada de informações’, ou seja, é a quantidade grande de
informações (relevantes) que é vital. Exemplos como esse nos mostram como uma
futura análise qualitativa com maior detalhamento dos dados de UMA ENXURRADA
DE SN se faz necessária.
Os lexemas preferencialmente recrutados por ‘UMA ENXURRADA DE SN
são itens bastante específicos da área econômica, o que, nessa análise, atribuímos
ao fato de que o corpus selecionado se compõe de textos jornalísticos e de que a
maior parte dos dados foram encontrados em colunas da área da economia. A
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ampliação dos dados poderá vir a revelar, no futuro, o quanto esse resultado reflete
ou não a especificidade do corpus.
Considerações finais
Este artigo buscou refletir sobre de que modo uma análise colexêmica
distintiva, como uma medida de associação entre lexemas e construções, pode
contribuir para a identificação de aspectos semânticos sutis de construções
alternantes, na rede de construções da língua. Mais especificamente, foi
desenvolvida a análise colexêmica distintiva de construções binominais quantitativas,
a saber, as construções UM MONTE DE SNe UMA ENXURRADA DE SN.
Circunscritos a um corpus de língua escrita no domínio jornalístico, os
resultados apontam para preferências colocacionais distintas, no que diz respeito a
cada uma das duas construções estudadas neste trabalho. Se, por um lado, os
lexemas atraídos pela construção UM MONTE DE SN se caracterizam por sua
natureza genérica, incluindo entidades animadas e inanimadas como ‘gente’ e ‘coisa’
e corroborando os resultados observados em trabalhos organizados pelos autores
em outras ocasiões; por outro lado, a construção UMA ENXURRADA DE SNtende
a atrair lexemas inanimados de natureza mais específica e, no corpus analisado,
demonstrou-se bastante recorrente com lexemas utilizados em textos que abordam
a esfera econômica, tais como dólares, ações, capital, entre outros.
Ainda sobre a construção UMA ENXURRADA DE SN, observamos que a
semântica de movimento ou fluxo, evocada pelo lexema ‘enxurrada’, parece
contribuir para a semântica dessa microconstrução específica, corroborada pelo
contexto em que a construção ocorre. É comum o uso da construção em contextos
de verbos de movimento e o uso de preposições que expressam a direção da
enxurrada, sinalizando a maior especificidade da construção UMA ENXURRADA
DE SNem relação à construção UM MONTE DE SN, em que não se observa um
conteúdo semântico específico atrelado ao lexema monte’, que, dado o seu
percurso histórico (cf. FUMAUX, 2018), parece mais direta e exclusivamente
associada à semântica de grande quantidade da construção.
A análise colexêmica distintiva permite observar, assim como na análise
colexêmica simples, as preferências colocacionais da construção, na medida em que
indica a frequência com que os lexemas ocorrem em seu slot esquemático. Porém,
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para além do que a análise colexêmica simples nos fornece, a distintiva permite a
comparação entre construções alternantes, contribuindo para a identificação do que
é específico de cada construção e para a abstração dos aspectos comuns entre elas,
que podem estar envolvidos em uma construção mais abstrata em um nível superior
da rede. Se em um nível mais baixo na rede, as construções UM MONTE DE SNe
UMA ENXURRADA DE SNapresentam especificidades semânticas e contextuais,
a frequência com que ocorrem na língua associada à abstração das diferenças entre
elas permite a postulação de um nível mais abstrato na rede, envolvido na
expressão de grande quantidade e que pode ser notado como ‘UM N DE SN’, em
que o slot esquemático 1 pode ser instanciado pelo lexema ‘monte’, que tende a
atrair, para o slot esquemático 2, lexemas de cunho mais genérico e sem restrições
de animacidade, estatisticamente observadas. Além disso, o mesmo slot
esquemático 1 dessa construção mais abstrata também pode ser instanciado pelo
lexema ‘enxurrada, que tende a atrair, para o slot esquemático 2, lexemas com
maior grau de especificidade, envolvidos em uma situação coerente com a
semântica de movimento, e geralmente inanimados.
Evidentemente, a análise em pauta requer maior aprofundamento, com a
ampliação do corpus para um conjunto mais amplo de gêneros textuais e domínios
discursivos, incorporando-se também à análise textos da modalidade oral da língua,
para que seja possível ter um panorama mais geral acerca do funcionamento das
construções binominais quantitativas no conjunto de conhecimentos que o falante
tem de sua língua, o que certamente será o tema de um trabalho a ser desenvolvido
futuramente.
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Recebido em 31/08/2019
Aceito em 11/11/2019
Chapter
Full-text available
Considerações iniciais Neste capítulo, apresentamos a análise colostrucional, uma família de métodos de medida de associação utilizados no campo de estudos linguís-ticos conhecidos como Modelos Baseados no Uso. Para tanto, o capítulo se organiza da seguinte forma: na primeira seção, tratamos da relação da análise colostrucional com o arcabouço teórico dos Modelos Baseados no Uso, bem como fornecemos algumas das bases operacionais do método; em seguida, aplicamos a análise colostrucional ao estudo de construções binominais quantificadoras do português, mostrando alguns resultados aos quais o método possibilita chegar; por fim, apresentamos uma breve dis-cussão em torno da análise colostrucional, e algumas considerações gerais sobre o tema encerram o capítulo. Modelos Baseados no Uso e análise colostrucional Abordagens linguísticas baseadas no uso defendem que a língua, como sistema mental de representação, emerge a partir da interação entre processos cognitivos de domínio geral e de dados da experiência do falante. Nesse sentido, a representação do sistema linguístico tende a ser concebida em termos de redes de padrões associativos convencionalizados, estabele-cidos entre forma e sentido, também conhecidos como construções. Tais padrões se organizam hierarquicamente em níveis distintos de abstração, podendo exibir desde uma total especificação fonológica (substantivos) até uma estrutura não especificada fonologicamente ('esquemáticos'). Tendo isso em vista, tomamos, neste capítulo, as construções binominais
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Este trabalho consiste em um estudo contrastivo das construções binominais quantificadoras um monte de SN, do português brasileiro, e kutcha SNgen, do russo, em uma perspectiva construcionista baseada no uso. Para identificar especificidades semânticas em ambas as construções, foi realizada uma investigação empírica baseada em análises colostrucionais. Os resultados indicam que apesar de algumas similaridades entre português e russo em termos de operações cognitivas envolvidas na conceptualização das construções binominais quantitativas um monte de SN e kucha SNgen, há especificidades relativas a cada construção em cada língua no que se refere à compatibilidade dos lexemas que nelas ocorrem.
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RESUMO Este trabalho compara duas construções de estrutura argumental do Português Brasileiro - as construções de movimento causado e ditransitiva - para investigar seus elos de polissemia, com base em aspectos sintáticos, semânticos e pragmáticos que elas possam compartilhar. Segundo Goldberg (1995), as construções tipicamente se associam a uma família de sentidos distintos mas relacionados, formando uma rede inter-relacionada. Esse parece ser o caso das construções focalizadas aqui. A análise de instâncias reais dessas construções mostrou que elas compartilham o mesmo padrão sintático, embora tenham significados diferentes.
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Quotes “An important book, clarifying the concept of productivity, which is often used in the language sciences but is seldom clearly defined. Apart from providing an illuminating meta-analysis, Barðdal develops an original theory of the productivity of case and argument structure constructions.” — Jordan Zlatev, Lund University & Copenhagen Business School “A 'two-for-one' package, containing both an original and realistic approach to productivity in terms of Construction Grammar and, simultaneously, a penetrating study of case and argument structure in Icelandic. On both accounts the book is a novel and, in my view, a highly successful contribution to theoretical and empirical linguistics.” — Thórhallur Eythórsson, University of Iceland
Article
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This paper addresses the emergence and development of the Chinese cleft construction, with particular attention to the period from Early Archaic Chinese through Late Medieval Chinese. Prototype copulas are typically of the form [NP SHI NP], are predicational or specificational, and cue information focus. We trace the gradual development over time of copula clefts in addition to prototype copula constructions. A key factor in their development is the use in Medieval Chinese of nominalizations in post-copula position. Copula clefts typically have the form [NP SHI XP DE] and cue both specificational and contrastive meaning. The study is a contribution to the developing field of constructionalization by making more explicit the way in which individual constructional changes contribute sequentially to constructionalization. It also demonstrates one way in which a complex contrastive cleft construction may come into being.
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One of the most hotly debated concepts of current syntactic theory is the notion of construction, which has given rise to a new theoretical paradigm known as Construction Grammar. However, Construction Grammar is not a uniform theory, but subsumes a whole family of theoretical approaches in which constructions are the basic units of grammar. This paper is concerned with a particular variety of Construction Grammar known as ‘Usage-based Construction Grammar’. In this approach, grammar is seen as a dynamic network of emergent structures that are in principle always changing under the influence of general cognitive processes involved in language use. Although the network metaphor of Usage-based Construction Grammar is frequently invoked in the literature, it has not yet been sufficiently described. It is the purpose of this article to elaborate the network model of Usage-based Construction Grammar. Specifically, the paper considers five different types of “links” between constructions and other linguistic elements that constitute the general architecture of grammar in this approach, namely the links between (i) schematic constructions and constructs, (ii) constructions and lexemes, (iii) constructions and syntactic categories, (iv) phrasal constructions and clausal constructions, and (v) between constructions of the same type (e.g. the transitive construction and the passive construction). Combining evidence from a wide range of studies, the paper seeks to develop a more structured approach to the usage-based analysis of grammatical phenomena.
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The argument structure of verbs, defined as the part of grammar that deals with how participants in verbal events are expressed in clauses, is a classical topic in linguistics that has received considerable attention in the literature. This book investigates argument structure in English from a usage-based perspective, taking the view that the cognitive representation of grammar is shaped by language use, and that crucial aspects of grammatical organization are tied to the frequency with which words and syntactic constructions are used. On the basis of several case studies combining quantitative corpus studies and psycholinguistic experiments, it is shown how a usage-based approach sheds new light on a number of issues in argument realization and offers frequency-based explanations for its organizing principles at three levels of generality: verbs, constructions, and argument structure alternations.
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This book investigates the nature of generalizations in language, drawing parallels between our linguistic knowledge and more general conceptual knowledge. The book combines theoretical, corpus, and experimental methodology to provide a constructionist account of how linguistic generalizations are learned, and how cross-linguistic and language-internal generalizations can be explained. Part I argues that broad generalizations involve the surface forms in language, and that much of our knowledge of language consists of a delicate balance of specific items and generalizations over those items. Part II addresses issues surrounding how and why generalizations are learned and how they are constrained. Part III demonstrates how independently needed pragmatic and cognitive processes can account for language-internal and cross-linguistic generalizations, without appeal to stipulations that are specific to language.
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Elizabeth Closs Traugott and Graeme Trousdale develop an approach to language change based on construction grammar. Construction grammar is a theory of signs construed at the level of the phrase, clause, and complex sentence. Until now it has been mainly synchronic. The authors use it to reconceptualize grammaticalization (the process by which verbs like to have lose semantic content and gain grammatical functions, or word order moves from discourse-prominent to syntax-prominent), and lexicalization (in which idioms become fixed and complex words simplified). Basing their argument on the notions that language is made up of language-specific form-meaning pairings and that there is a gradient between lexical and grammatical constructions, Professor Traugott and Dr Trousdale suggest that language change proceeds by micro-steps that involve closely related changes in syntax, morphology, phonology, semantics, pragmatics, and discourse functions. They illustrate their exposition with numerous English examples drawn from Anglo-Saxon times to the present, many of which they discuss in depth. The book is organized in six chapters. The first outlines the approach and the questions to be addressed. The second reviews usage-based models of language change. The third considers the relation between grammatical constructionalization and grammaticalization. Chapters 4 and 5 focus respectively on lexical constructionalization and the role of context. The final chapter draws the authors' arguments together and outlines prospects for further research. Constructionalization and Constructional Changes propounds and demonstrates a new and productive approach to historical linguistics.