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Preferência alimentar de moscas-das-frutas

Authors:
  • ATSI Brasil Pesquisa e Consultoria Agronômica

Figures

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Rápidas
Enxertia de hortaliças
Mudas de rúcula em bandejas
Preferência alimentar de mosca-das-frutas
Os 15 anos do
Greening
no Brasil
Família de vírus
Kitaviridae
Capa: Desao da
Diabrotica speciosa
Ácaros predadores contra a mosca-branca
Porta-enxertos em pera
Manejo de pulgões em batata
Coluna ABCSem
Coluna Associtrus
Coluna ABBA
NOSSA CAPA
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Expedição
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Desafio nacional
Como enfrentar
Diabrotica speciosa
,
cujos adultos passam a atacar flores
e frutos de tomateiro
C
C
Cultivar
Cultivar Hortaliças e Frutas • Ano XVII • Nº 118 • Outubro / Novembro 2019 • ISSN - 1518-3165
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conhecimentos e expressar suas opiniões.
DESTAQUES
24
Família
Kitaviridae
Nova família de vírus associada ao com-
plexo leprose dos citros é batizada em ho-
menagem ao pesquisador Elliot Kitajima
Vetores de danos
A problemática de afídeos
na transmissão de vírus
na cultura da batata 36
04
06
08
12
16
20
24
29
32
36
40
41
42
20
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Rápidas
Cultivar HF • Outubro / Novembro 201904
Nutrição
A Yara marcou presença no 8º Seminário
Nacional de Tomate de Mesa, em Goiânia. O
seminário promoveu troca de informações sobre
os avanços técnico-científicos, tendências e
desafios para a cultura nos mercados nacional
e internacional. O especialista agronômico da
Yara, Bruno Dittrich, palestrou sobre a visão da
companhia e o modo como a nutrição adequada
influencia positivamente a cadeia do negócio.
"Adotar um programa nutricional que entenda
as peculiaridades de clima, solo brasileiro,
dentre outros aspectos, mostra-se como uma
medida assertiva para ganhos em produtividade
e qualidade na produção", opinou o especialista.
Dittrich também destacou o programa nutricio-
nal GranTomate, desenvolvido especialmente
para a cultura.
Bruno Dittrich
Marcelo Tavares
Tecnologia
A Seminis, empresa de sementes de hortaliças da
Bayer, em parceria com a distribuidora Tecseed,
realiza o Tech Campo, iniciativa que leva conhe-
cimento por meio de treinamentos a pequenos e
médios produtores. A ação itinerante consiste em
um trailer personalizado com materiais informa-
tivos, um moderno laboratório para auxiliar na
identificação de pragas e doenças e uma equipe
capacitada. Segundo o gerente de Marketing da
Seminis no Brasil, Marcelo Tavares, entender as
necessidades dos horticultores é uma questão
prioritária. “Queremos oferecer dicas e orienta-
ções de manejo alinhadas com as realidades de
região e negócio, além de estimular a troca de boas
práticas agronômicas”, explicou. O projeto passará
pelos estados do Paraná, Santa Catarina e Mato
Grosso do Sul e será finalizado em dezembro.
Proteção individual
Há 20 anos, a Basf realiza o Programa EPI,
uma iniciativa de responsabilidade social para
aumentar a oferta e o uso de equipamentos de
proteção individual para a aplicação de produ-
tos fitossanitários. Além da comercialização, a
Basf realiza ações educativas e de comunicação
para conscientizar sobre o uso correto dos
equipamentos. De acordo com o gerente de
Stewardship e Sustentabilidade da Basf, Mau-
rício do Carmo Fernandes, a empresa construiu
uma base forte de conhecimento tecnológico
ao longo dos anos. “Reunimos uma ampla rede
de especialistas e parceiros para aumentar a
conscientização do uso correto dos EPIs por
agricultores e aplicadores, fomentar a capacita-
ção profissional e ter segurança no trabalho a
campo”, explicou Fernandes.
Maurício do Carmo Fernandes
Pesquisa
A Ilsa lançou o Caderno de Re-
sultados de Campo 2018/2019,
um documento demonstrativo
que acompanha os resultados dos
produtores que utilizam os ferti-
lizantes orgânicos e organomine-
rais da empresa. O estudo traz
dados, avaliações e depoimentos
de agricultores do Rio Grande
do Sul e de Santa Catarina
sobre cultivos como alho, cebola,
tomate, beterraba, brócolis,
uva, entre outros. “Como uma
empresa de biotecnologia que
investe constantemente em
pesquisa e desenvolvimento, esse
acompanhamento e medição de
resultados é fundamental para a
melhoria dos produtos”, avaliou
o diretor de Marketing/P&D
da Ilsa Brasil, Thiago Stella de
Freitas.
Fruticultura
O conceito de saúde vegetal
do programa Pronutiva foi
destaque da UPL no XXVI
Congresso Brasileiro de
Fruticultura, entre 30 de
setembro e 4 de outubro,
em Juazeiro, Bahia. “Nos-
so objetivo foi apresentar
informações e conhecimento
sobre o programa Pronutiva,
que integra o uso de soluções
para proteção de cultivos
com as mais modernas
tecnologias de biossoluções”,
explicou o gerente de Ma-
rketing para HF e Perenes da
UPL Brasil, João Mancine. O
executivo também foi um dos
palestrantes do evento, com o
tema “Saúde vegetal: o con-
ceito de proteção, nutrição e
fisioativação de plantas”.
João Mancine Thiago Stella de Freitas
Cultivar HF • Outubro / Novembro 201906
Hortaliças
Técnica ainda pouco utilizada pelos produtores brasileiros, a enxertia pode auxiliar no
manejo de estresses bióticos e abióticos, com consequentes ganhos em produtividade
A
enxertia é uma técnica agrícola normalmente
usada em frutíferas e hortaliças a fim de otimizar
a produção agrícola. A enxertia consiste no uso
de uma planta vigorosa para substituir o sistema radicular
de um cultivar de interesse econômico, mas suscetível a um
ou mais fatores estressores, como déficit hídrico, salinidade,
fungos e bactérias de solo. O novo sistema radicular é cha-
mado de porta-enxerto (cavalo) e a parte superior ou cultivar
de interesse é o enxerto (cavaleiro).
Enxertia em
hortaliças
Além de ser uma opção para o manejo de estresses bió-
ticos, como os nematoides, fungos e bactérias de solo, a en-
xertia pode também auxiliar a minimizar os efeitos negativos
de estresses abióticos, como a seca, temperaturas extremas,
salinidade e deficiência de nutrientes. Entretanto, a utili-
zação da enxertia depende, em parte, do estabelecimento
de métodos e equipamentos eficientes para a realização da
enxertia (Figuras 1 e 2) e desenvolvimento de porta-enxertos
vigorosos com resistência a patógenos de solo. Entre as horta-
Outubro / Novembro 2019 • Cultivar HF
liças, a utilização de mudas enxertadas
de tomateiro (Solanum lycopersicum
L.) tem conquistado maior relevância
a cada ano, embora ainda haja muitas
dúvidas quanto as vantagens e desvan-
tagens da sua utilização.
Apesar da grande variedade de es-
pécies intimamente relacionadas com
o tomateiro, que poderiam ser usadas
como porta-enxertos, o tomateiro tem
sido enxertado principalmente sobre
híbridos de tomateiro ou híbridos
interespecíficos. Tradicionalmente, a
principal razão para a enxertia de toma-
te tem sido fornecer resistência contra
patógenos de solo, como Fusarium spp.,
Verticillium spp., Ralstonia solanacea-
rum e Meloidogyne spp (Tabela). Mais
recentemente, porta-enxertos estão
sendo usados para fornecer tolerância
a estresses abióticos e induzir maior
absorção de nutrientes e água. Entre
os estresses abióticos, salienta-se que a
salinidade tem recebido mais atenção
devido ao uso intensivo de produção
em ambiente protegido, fertirrigação e
alta demanda de evaporação do toma-
teiro. De fato, diferentes porta-enxertos
podem proporcionam tolerância a
salinidade. Por exemplo, cultivares de
tomateiro Fanny e Goldmar enxertados
sobre o porta-enxerto 'AR-9704' apre-
sentam melhor desenvolvimento sobre
condições de elevada salinidade. Dessa
07
Figura 1 - Detalhe da técnica de enxertia de tomateiro
por fenda cheia ou garfagem (A) e bisel (B)
melhorados. Esses porta-enxertos,
normalmente híbridos interespecíficos
(por exemplo, S. lycopersicum × S. ha-
brochaites), podem induzir ganhos de
produtividade mesmo sob condições
adversas. Por exemplo, o tomateiro cv.
Flórida 47 enxertado em porta-enxertos
'Beaufort' e 'Multifort', ambos híbridos
interespecíficos, apresentaram aumen-
to de frutos comercializáveis em até
41%. Da mesma forma, o tomate 'El
Cid' enxertado sobre o porta-enxerto
Fotos Lucas Aparecido Gaion híbrido "Multifort" obteve um aumento
de 12,9% na produção de frutos. Além
disso, o uso de híbridos interespecíficos
como o porta-enxerto pode melhorar a
qualidade dos frutos, elevando a con-
centração de macro e micronutrientes,
compostos fenólicos, acúmulo de vi-
tamina C, licopeno e flavonoides em
frutos de plantas enxertadas.
A enxertia, desde que bem com-
preendida, pode ser uma importante
ferramenta de manejo da cultura do
tomateiro, especialmente para pequenos
tomaticultores que cultivam tomate em
ambiente protegido. Contudo, em com-
paração com outros países, a enxertia
ainda é uma técnica pouco utilizada
pelos agricultores brasileiros. De fato, há
necessidade de maior divulgação técnica
sobre o assunto para capacitação dos
produtores, o que permitiria o emprego
adequado da enxertia, principalmente
para culturas olerícolas.
forma, o uso de
plantas enxertadas
poderia permitir o
reaproveitamento
de substrato e re-
dução da concen-
tração da solução
nutritiva.
A importân-
cia econômica e a
grande área cul-
tivada de tomate
(no campo e am-
biente protegido)
estimularam o
desenvolvimento
de porta-enxertos
Lucas Aparecido Gaion,
Aline Dell Passo Reis e
Daniele Gazoli Teixeira Machado,
Centro de Ciências Agrárias
Universidade de Marília (Unimar)
Tabela - Relação de alguns porta-enxertos para tomateiro e suas principais características de resistência
Porta-enxerto
‘AR-9707’ (
Solanum lycopersicum
)
‘Maxifort’ (
S. lycopersicum
x
S. habrochaites
)
‘Multifort’ (
S. lycopersicum
x
S. habrochaites
)
‘Beaufort’ (
S. lycopersicum
x
S. habrochaites
)
‘Guardião’ (
Solanum lycopersicum
)
‘Protetor’ (
Solanum lycopersicum
)
‘Magnet’ (
Solanum lycopersicum
)
Pontos positivos*
Tolerância à salinidade
Resistência à ToMV:0-2; Fol:0-1; For; V e tolerância a metais pesados
Resistência à ToMV:0-2; Fol:0-3; For; V; Ma; Mj; Mi
Resistência a patógenos de solo e maior capacidade de absorção de nutrientes
Resistência à Rs, V:1-2, Fol:1-2, For, ToMV, Ma, Mj, Mi
Resistência à Rs, V, F, Forl, Ma, Mj, Mi, ToMV
Resistência à Rs, V:1, Fol:1-2), For, Pl, ToMV, Mj, Mi
*Resistências: ToMV: Vírus do mosaico do tomateiro; Fol:
Fusarium oxysporum
f. sp.
lycopersici
; For:
Fusarium oxysporum
f. sp.
radicis-lycopersici;
Rs:
Ralstonia
solanacearum
; V:
Verticilium
spp.; Ma:
Meloidogyne arenaria
; Mi:
Meloidogyne incognita
; Mj:
Meloidogyne javanica
. As informações de resistência a patógenos e
demais características dos porta-enxertos foram extraídos do catálogo das empresas, a qual os genótipos pertencem, e de trabalhos científicos.
Figura 2 - Detalhe da realização da enxertia de tomateiro através de
máquina automatizada (A) e detalhe da fixação de enxerto e porta-
enxerto com adesivos específicos para uso em enxertia mecânica (B)
C
C
Cultivar HF • Outubro / Novembro 201908
Como acertar na escolha do melhor tipo de bandeja para a produção de
mudas de rúcula de modo a proporcionar desenvolvimento adequado das
plantas após o transplantio para os canteiros
Bandeja correta
Rúcula
A
rúcula (Eruca sativa) pertence
à família das Brassicáceas, a
mesma da couve, também
denominada pinchão, produz folhas
muito apreciadas na salada. Suas folhas
são alongadas e o limbo recortado, com
coloração verde-escura e sabor picante
(Filgueira, 2003). Cabe mencionar que
o seu cultivo pode ser realizado por meio
da produção de mudas, bem como de
semeadura direta nos canteiros. Porém,
devido ao pequeno tamanho de suas
sementes, destaca-se a importância de
se trabalhar com o sistema de produção
de mudas, pois oferece maior facilidade
de manejo em relação ao espaçamento
entre plantas e entre linhas, além do con-
trole das plantas daninhas, culminando
em plantas mais uniformes (Pereira &
Puiatti 2005).
Ao considerar a produção de mudas,
a utilização de bandejas, é uma técnica
que traz muitas vantagens ao produtor,
elevando a produtividade e a qualidade
do produto, além de reduzir a quantida-
de gasta de sementes (Filgueira, 2003).
As bandejas podem ser de isopor
ou de plástico, com tamanho variado.
Porém, a grande maioria apresenta
dimensões de 68cm x 34cm e a quan-
tidade de células (128, 242, 284, 288
etc) é definida conforme o tipo de muda
a ser formada. As células podem apre-
sentar o formato de pirâmide ou cone
invertido com o intuito de conduzir as
raízes para o fundo, onde são perfuradas,
proporcionando a poda natural das raízes
(Wendling & Gatto 2001).
Existem várias opções de tamanhos e
tipos de bandejas para serem utilizadas
na produção das mudas de olerícolas.
Outubro / Novembro 2019 • Cultivar HF 09
As bandejas foram mantidas em estufa de ambien-te pro-
tegido coberta com lona plástica transparente, posicionadas
em cavaletes de madeira a um metro de distância do solo. As
mudas eram irrigadas duas vezes ao dia com o auxílio de um
regador de dez litros. O desbaste foi realizado sete dias após a
emergência (DAE) das mudas, deixando uma muda de rúcula
por célula.
Os canteiros foram preparados e levantados ma-nualmente
com a enxada, sendo preparados dois can-teiros com 15cm de
altura do chão por 19m de com-primento e 1,20m de largura.
Utilizou-se sombrite de 50% como cobertura para os canteiros,
onde foram coletadas amostras para análise de solo (Tabela 1).
Seguindo as recomendações de Filgueira (2000) para a
cultura da rúcula, foi realizada adubação a lanço com 110,41g
de ureia, 30 dias antes do transplantio das mudas de rúcula.
As mudas foram transplantas para os canteiros aos 22 DAE,
quando atingiram de três a quatro folhas, cujas bandejas foram
irrigadas antes para facilitar o manuseio sem agredir e estressar
as mudas. Após o transplantio jogou-se casca de arroz nos
O uso de bandejas proporciona vantagens ao
produtor, como a elevação da produtividade
e a qualidade do produto
Fotos Magda Liz Tavares Velasquez
Entretanto, há uma certa preferência pelo uso de bandejas
com células menores, pois quanto menor o volume das célu-
las, maior será o número de mudas e menor necessidade de
substrato, com consequente menor custo de produção (Godoy
& Cardoso, 2005).
Em relação aos substratos utilizados nas bandejas, o mate-
rial deve ser livre de patógenos e de sementes de plantas dani-
nhas, com uma boa qualidade física e uma fonte de nutrientes.
A utilização de substrato auxilia no transplantio com a forma-
ção de torrões. Pode ser composto por vermiculita expandida,
materiais orgânicos, fertilizantes e aditivos (Filgueira, 2008).
Segundo Filgueira (2008), a idade certa para o transplantio
das mudas é variável, conforme as condições agroecológicas
e a espécie. A profundidade depende da espécie. No no caso
das mudas com caule pouco evidente, recomenda-se o plan-
tio na altura do torrão. É preciso ter cuidado para auxiliar na
retomada do desenvolvimento, após o estresse produzido pelo
transplante.
EXPERIMENTO
Com o objetivo de avaliar a influência de ban-dejas com
diferentes tamanhos de células na produção de rúcula (Eruca
sativa Miller) e no desenvol-vimento das plantas no canteiro,
um experimento foi conduzido, durante os meses de setembro
e outubro de 2017, na casa de vegetação e no campo experi-
mental do Univag – Centro Universitário de Várzea Grande
- MT. Utilizou-se cultivar de rúcula folha larga (Eruca sativa).
O delineamento experimental foi inteiramente casualizado
(DIC) com três tratamentos, representados pelas bandejas de
128, 200 e 288 células, cada tratamento com sete repetições,
totalizando 21 parcelas.
As bandejas com 128, 200, 288 células foram preenchidas
com o substrato comercial, cujos componentes eram casca de
pínus bioestabilizada, vermiculita, moinha de carvão vegetal,
água espuma fenólica. Posteriormente, as bandejas foram
molhadas para melhor aderência do substrato e permanência
nas células. Em seguida, procedeu-se a semeadura, com cinco
sementes por célula.
Tabela 1 - Caracterização química e física do solo do campo experimental do Univag
na profundidade de 0-20 cm do solo
Mg
0,95
Al
0,0
H
1,0
K
57,50
Areia
615,2
Na
0,17
Silte
64,0
Ca
2,65
Argila
120,80
---(g. Kg-1)---
---(cmolc.dm-3)---
Ph
(H2O)
5,9
M.O
(g.dm-3)
10,65
P
(mg.dm-3)
105,82
*Analise realizada no laboratório agropecuário Plante Certo.
Mudas foram pesadas para determinar a massa verde
canteiros com o intuito de melhorar as condições biológicas
do solo, como controlar a umidade. A irrigação dos canteiros
foi realizada com o auxílio de um regador de dez litros, sendo
irrigados uma vez ao dia.
As avaliações foram realizadas em dois momen-tos, um
no transplantio das mudas, no dia 23 de setembro de 2017, e
outra após o desenvolvimento final das plantas no canteiro, no
dia 27 de outubro de 2017, onde foram avaliadas cinco plantas
por repetição em cada etapa da avaliação. As variáveis avaliadas
foram número de folhas, comprimento da maior folha (cm),
comprimento total (cm), massa verde (g) e massa seca (g).
Com o auxílio de uma régua de 30cm realizou-se a ava-
liação das variáveis de comprimento da maior folha (cm) e
comprimento total da planta (cm), para ambas as etapas da
avaliação. O comprimento da maior folha foi mensurado do
pecíolo da folha até o final da nervura central. Já no compri-
mento total da planta considerou-se a distância vertical entre
o colo da planta e a extremidade da última folha desenvolvida.
Posteriormente, as amostras coletadas no campo foram
lavadas em água corrente, para a retirada das impurezas e
levadas ao laboratório para a determinação da massa verde
foliar e massa seca foliar.
Para a determinação da massa verde na primeira avalia-
ção, as mudas foram pesadas em uma balança de precisão.
Entretanto, na segunda avaliação, por conta do tamanho das
plantas de rúcula a pesagem para determinar a massa verde
foi feita em uma balança convencional. Após a determinação
da massa verde, em ambas as avaliações, as plantas foram
co-locadas em sacos de papel identificados, levados à estufa
de circulação forçada de ar (65°C) por 72 horas para a deter-
minação da massa seca e posteriormente foram pesadas em
uma balança de precisão.
Para avaliar os dados realizou-se a análise de variância,
e as médias foram comparadas ao teste de Tukey a 5% de
probabilidade.
RESULTADOS
As médias observadas para número de folhas (NF), com-
primento da maior folha (CMF), comprimento total (CT),
massa verde (MV) e massa seca (MS), aos 21 dias após a
semeadura, verificou-se que o tratamento com a bandeja
de 128 células proporcionou maior número de folhas, com-
primento da maior folha, comprimento total e massa verde
quando comparado aos demais tratamentos. No entanto, foi
constatada maior massa seca com a utilização da bandeja de
288 células. Não houve diferença estatística entre o uso da
bandeja de 200 e 288 células para as variá-veis estudadas,
exceto para a massa seca (Tabela 2).
Os resultados observados na primeira etapa do experimen-
to estão de acordo com os encontrados por Crippa (2015) que
ao avaliar o desenvolvimento do repolho em diferentes tipos
de bandeja e substrato, verificou que a bandeja de 128 células
se sobressaiu quando comparada às de 200 células e 288 célu-
-las. Isso provavelmente se deve ao maior volume de substrato
que envolve a planta nas bandejas de 128 células, por conta
do maior espaço e volume de substrato em torno da muda, e
consequentemente mais nutrientes e água disponíveis, o que
proporciona condições mais favoráveis ao seu desenvolvimento
(Oliveira et al, 1993).
Salvador et al, (2001) notou em seus estudos que bandejas
com células menores por conta da maior concentração de
raízes necessitam de mais oxigênio e remoção de CO2, assim
ficando vulneráveis ao estresse hídrico, por conta da quanti-
dade de substrato, que nem sempre é suficiente para retenção
ade-quada de água para manutenção da turgidez.
Em contrapartida, mudas produzidas em células maiores
promove uma precocidade no cultivo da cultura e conse-
quentemente uma colheita mais rápida comparada às mudas
produzidas em bandejas de células menores. Portanto, o uso de
bandejas com células maiores é uma alternativa favorável ao
agricultor, pois as hortaliças maiores e mais pesadas são uma
caraterística importante para comercializá-las posteriormente
(Reghin & Otto, 2003).
Aos 25 dias após o transplantio, constatou-se que as ban-
dejas de 128 e 200 células proporcionaram maiores médias
observadas para todas as variáveis analisadas no estudo,
quando comparadas ao tratamento 3 com o uso de 288 células
(Tabela 3).
Apesar da bandeja de 128 células, na 1ª avalia-ção ter
apresentado estaticamente o melhor resultado, na 2ª avaliação
as plantas produzidas na bandeja de 200 células se igualaram
Experimento avaliou a influência de bandejas com
diferentes tamanhos de células na produção de rúcula
Cultivar HF • Outubro / Novembro 201910
Tabela 2 - Médias obtidas para número de folhas (NF), comprimento da maior folha (CMF-cm), comprimento
total (CT-cm), massa verde (MV-g) e massa seca (MS-g), de mudas de rúcula aos 21 dias após a semeadura
(1ª Avaliação)
Bandejas
128 células
200 células
288 células
CV%
NF/P
3,00 ± 0,11a*
2,57 ±0,09b
2,31 ±0,07b
9,59
CMF (cm)
5,69 ± 0,20a
4,78 ± 0,19b
5,00 ± 0,16b
9,64
CT (cm)
8,35 ± 0,25a
7,18 ± 0,23b
7,35 ± 0,14b
7,54
MV (g)
0,54 ± 0,01a
0,35 ± 0,01b
0,30 ± 0,007c
9,06
MS (g)
0,04 ± 0,001b
0,04 ± 0,001b
0,06 ± 0,001ª
7,88
*Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si estatisticamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
Tabela 3 - Médias obtidas para número de folhas (NF), comprimento da maior folha (CMF-cm), comprimento
total CT-cm), massa verde (MV-g) e massa seca (MS-g), de plantas de rúcula aos 25 dias após o transplantio
(2ª Avaliação)
Bandejas
128 células
200 células
288 células
CV%
NF/P
37,54 ± 2,05a*
39,45 ± 2,71a
20,42 ± 1,31b
17,19
CMF (cm)
20,36 ± 0,38a
20,08 ± 0,44a
17,54 ± 0,67b
7,04
CT (cm)
28,64 ± 0,37a
29,85 ± 0,64a
24,61 ± 0,78b
5,96
MV (g)
160,48 ± 8,97a
173,54 ± 7,91a
86,97 ± 11,47b
18,05
MS (g)
13,36 ± 0,41ª
14,87 ± 0,57ª
7,74 ± 0,65b
12,30
*Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si estatisticamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
estatisticamente, portanto, notou-se
uma recuperação das plantas de rúcula,
quando foram para um local em que
encontraram condições mais favoráveis
ao seu desenvolvimento.
Resultados semelhantes foram re-
portados por Marques et al (2003) que
verificaram que as melhores mudas de
alface foram produzidas na bandeja
de 128 células. No entanto, as mudas
produzidas nas bandejas de 200 células
apresentaram melhor recuperação no
campo nas variáveis número de folhas,
mas-sa verde e massa seca, se igualando
estatisticamente com as mudas das
bandejas de 128 células. Em relação às
mudas produzidas na bandeja de 288
células, obtiveram os piores resultados
estaticamente em todas as variáveis
avaliadas e em ambas as avaliações, as-
sim entrando em acordo com o presente
experimento.
Em estudos realizados por Echer et
al (2000) notou-se uma diferença na
qualidade das mudas, mesmo 55 dias
após o transplantio. No entanto, com
o decorrer do tempo as diferenças di-
minuem, podendo até desaparecer com
o prolongamento do ciclo da cultura.
Observa-se também que se o ciclo for
prolongado até as plantas atingirem o
ponto de colheita, ganha-se em produção
por conta do atraso compensatório na
mais vantajosas por conta da maior
concentração de mudas em um espaço
reduzido, menor volume de substrato
e maior facilidade no transporte em
comparação a bandejas com 128 e 200
células.
CONCLUSÃO
Para a produção de mudas de rúcula
recomenda-se a utilização de bandejas de
isopor com 200 células, pois possibilitam
a obtenção de plantas adultas melhores
tanto quanto as mudas produzidas nas
bandejas de 128 células, aliando a van-
tagem de economia financeira, de subs-
trato e de espaço físico, quando compa-
radas às outras bandejas. Com um saco
de substrato comercial com 25kg, que
custa em média R$ 41,50, preenche-se
aproximadamente 31 bandejas com 200
células, enquanto a mesma quantidade
de substrato preenche aproximadamente
20 bandejas com 128 células.
colheita.
Apesar de observar que as bandejas de
128 e 200 células apresentaram plantas
com maior desenvolvimento, Farinacio
(2011) notou que os viveiristas e co-
merciantes de mudas têm uma maior
preferência pela utilização de bandejas
com 288 células, por considerarem-nas Magda Liz Tavares Velasquez,
Univag - Centro Universitário de Várzea Grande
C
C
Outubro / Novembro 2019 • Cultivar HF 11
Cultivar HF • Outubro / Novembro 201912
As moscas-das-frutas são pra-
gas limitantes para a expan-
são da fruticultura nacional
e estão entre os principais insetos que
causam danos nos frutos e restringem
as exportações devido às barreiras
quarentenárias impostas pelos países
Tanto a mosca-sul-americana como a mosca-do-
mediterrâneo preferem ovipositar em frutos maduros,
com características físico-químicas que correspondem
à maturação. Desta forma, o monitoramento no
campo durante este período constitui uma importante
ferramenta para evitar perdas por infestação destes insetos
Preferência
mapeada
Citrus
Paulo Lanzetta (2015)
importadores. Atualmente o Brasil ex-
porta aproximadamente 2% dos frutos
produzidos, sendo que a maior parte
das exportações está relacionada a frutos
de manga, maçã, uva de mesa e melão.
Embora a presença de mosca-das-frutas
não seja o único entrave que dificulta as
exportações, é sem sombra de dúvidas
o principal desafio a ser vencido para
aumentar a qualidade das frutas produ-
zidas e a venda para o mercado externo.
Em 2015, o Ministério da Agricul-
tura, Pecuária e Abastecimento (Mapa)
criou o Programa Nacional de Combate
às Moscas-das-Frutas (PNMF) com
foco nas espécies de Anastrepha (A. fra-
terculus, A. obliqua e A. grandis) nativas
do continente americano, na mosca-
-da-carambola (Bactrocera carambolae),
praga quarentenária presente, restrita aos
estados do Amapá, Roraima e Pará. O
programa também focou na mosca-do-
-mediterrâneo (Ceratitis capitata), praga
exótica, há mais de 100 anos presente
no Brasil e com grande distribuição no
território nacional. Embora várias espé-
cies de moscas causem danos no Brasil,
as duas com maior importância agrícola
são a mosca-das-frutas sul-americana e
a mosca-do-mediterrâneo, consideradas
pragas quarentenárias para os países
membros da União Europeia, para os
Estados Unidos e países do Oeste Asiá-
Outubro / Novembro 2019 • Cultivar HF 13
(cm), a espessura da casca (mm), o pH, o teor de açúcares
(expresso em °Brix) e a acidez (expressa em porcentagem
de ácido cítrico).
Dos estádios de maturação de frutos de laranjeira Navelina
avaliados, verificou-se infestação apenas no estádio IV (final da
maturação). Os índices de infestação neste estádio foram de
0,72 pupário/fruto e de 2,05 pupários/fruto para Anastrepha
fraterculus e Ceratitis capitata, respectivamente.
Os dados demonstram a maior suscetibilidade dos fru-
tos de laranjeira Navelina quando a maturação do fruto
cítrico é mais avançada, tendo em vista a diminuição da
acidez e o aumento da taxa de açúcares. Conforme ocorreu
no presente estudo, a acidez total reduziu do estádio I ao
IV de 0,85 a 0,52, bem como a taxa de açúcares aumentou
de 9,9 a 11,1 (Tabela 1).
DESENVOLVIMENTO EM FRUTOS MADUROS
Sessenta frutos de laranja Navelina de cada estádio de
maturação foram ofertados para cada espécie de mosca-das-
-frutas por um período de 24 horas. Após a exposição, os frutos
foram individualizados em recipientes plásticos com tampa
perfurada contendo vermiculita, onde deixou-se transcorrer
o desenvolvimento dos imaturos para se proceder a contagem
dos pupários e sua separação para observações de parâmetros
biológicos.
Observou-se que a duração do período ovo-adulto de A.
fraterculus e de C. capitata em frutos de laranjeira Navelina foi
em média de 30 dias. O número médio de ovos (fecundidade)
de A. fraterculus foi superior ao de C. capitata. No entanto, a
fertilidade (capacidade de gerar larvas) foi similar para as duas
espécies, em torno de 60%. Após a emergência, as fêmeas de
moscas-das-frutas levaram em média 15 dias para começar a
oviposição nos frutos, sendo então importante o monitoramen-
to na área para identificar este momento e realizar o controle
antes. A maior parte da postura (80%) foi realizada nos pri-
meiros 15 dias do período de oviposição, sendo que o pico de
oviposição ocorreu no 11º dia (299 ovos) para A. fraterculus e
no 16º dia para C. capitata (269 ovos).
Adulto de
Anastrepha fraterculus
tico, principais importadores de frutas produzidas no Brasil.
No Sul do Brasil, duas mudanças que alteraram as
informações sobre a ocorrência de moscas-das-frutas nos
últimos anos têm sido observadas. A primeira delas se refe-
re ao fato de que a C. capitata sempre foi relacionada como
uma espécie secundária. Entretanto, estudos demonstram
que para as regiões de fronteira, tanto com a Argentina
quanto com o Uruguai, a maioria das moscas capturadas
é da espécie C. capitata. A segunda mudança está rela-
cionada com a época de ocorrência da A. fraterculus nos
pomares. Tradicionalmente, não eram observados danos
em citros por essa espécie e no final do outono a população
da mosca-das-frutas era considerada baixa. Nos últimos
três anos têm sido registradas altas infestações nos meses
de maio e junho, comprometendo o cultivo de citros em
todas as regiões do Estado. Estima-se que a perda média
tenha chegado a 40% da produção.
Os sintomas do ataque de moscas-das-frutas iniciam-
-se com o aparecimento de pontos amolecidos na casca e
descoloração na região da postura, com posterior mudança
na coloração, que passa de parda a marrom. Na cultura dos
citros o nível de infestação varia de acordo com a cultivar, a
localização do pomar e as condições climáticas. No entanto,
os citros apresentam mecanismos que podem afetar o desen-
volvimento e a reprodução das moscas-das-frutas, a exemplo
das características físico-químicas dos frutos (cor, peso, acidez,
entre outros).
Neste sentido foram realizados estudos, em laboratório, a
fim de verificar a época de ocorrência da mosca-sul-americana
e da mosca-do-mediterrâneo em frutos de laranjeira cultivar
Navelina. Também foi determinada a preferência para ovipo-
sição em três espécies cítricas (laranja, tangerina e limão), bem
como a relação da oviposição, das duas pragas, com a espessura
da casca de frutos cítricos.
DESENVOLVIMENTO RELACIONADO
AOS ESTÁDIOS DE MATURAÇÃO
Foram coletados frutos de laranjeira cultivar Navelina
obtidos de pomares comerciais localizados no município
de Rosário do Sul, no Rio Grande do Sul. Após a floração,
foi acompanhado o desenvolvimento dos frutos para carac-
terizar quatro estádios fenológicos, definidos a partir das
suas características físicas e químicas. Os quatro estádios
de maturação foram definidos como: I) fruto com aproxi-
madamente 5cm de diâmetro (fruto com ¾ do tamanho
final); II) fruto com 6cm a 7cm de diâmetro (fruto verde
próximo ao tamanho final); III) fruto na mudança de
cor verde para amarela e IV) final da maturação, onde
os frutos apresentam toda casca com coloração amarelo-
-alaranjada (Figura 1). Para as análises físicas e químicas,
foram determinados o peso (g) e o diâmetro dos frutos
Naymã Dias (2015)
Tabela 1 - Valores médios das características físico-químicas de frutos de laranjeira ‘Navelina’ em quatro estádios
de maturação. Safra 2013/14
Estádio
I
II
III
IV
Peso (g)
55,03
120,04
245,87
257,30
Diâmetro (cm)
4,74
6,19
7,80
7,98
Espessura da casca (mm)
7,68
4,43
3,48
2,49
pH -
2,85
3,12
3,56
3,56
Açúcares (oBrix)
9,9
10,2
10,7
11,1
Acidez (%)
0,85
0,78
0,60
0,52
Cultivar HF • Outubro / Novembro 201914
PREFERÊNCIA PARA OVIPOSIÇÃO
EM FRUTOS CÍTRICOS
Foram ofertados frutos de três espécies cítricas (laranjeira
Navelina, tangerineira Clemenules e limoeiro Siciliano) para
cada espécie de mosca-das-frutas, por um período de 24 horas.
Após o período de exposição, os frutos foram retirados para
a contagem de ovos.
Verificou-se que A. fraterculus preferiu ovipositar em
frutos de tangerineira e C. capitata em frutos de laranjeira.
Em frutos de limoeiro não houve oviposição por ambas as
espécies. Quando analisada a influência da presença do li-
mão na oviposição, tanto para laranja como para tangerina
não houve diferença significativa no número de ovos de A.
fraterculus, indicando não haver esta influência na escolha do
fruto por esta espécie. Já para C. capitata verificou-se que em
laranja houve maior oviposição quando este fruto foi ofereci-
do em combinação com limão, parecendo haver um estímulo
para oviposição quando nesta situação. Considerando que
a frutificação de laranjeira Navelina e de limoeiro Siciliano
ocorre no mesmo período (fevereiro a julho), pode haver a
maior probabilidade de oviposição em laranja, quando estas
cultivares cítricas estão presentes na mesma área. A escolha
INFLUÊNCIA DA ESPESSURA DA CASCA
Para avaliar a relação entre a profundidade de oviposição
de moscas-das-frutas e a espessura da casca de citros, frutos
maduros de laranja Navelina e de tangerina Clemenules foram
oferecidos às fêmeas de A. fraterculus e C. capitata por 24 horas.
Após o período de exposição, os frutos foram analisados em
microscópio estereoscópico para identificar a localização dos
ovos em cada fruto.
Verificou-se que a espessura da casca de laranjas Navelina e
tangerina Clemenules não influenciou a oviposição de A. fra-
terculus e C. capitata. Ambas as espécies não depositaram seus
ovos dentro das frutas cítricas. As fêmeas colocaram os ovos na
região do flavedo (camada externa da casca) de laranja e entre
o albedo (camada fibrosa da casca) e o flavedo em tangerina.
A maior profundidade de deposição dos ovos em tangerina
pode estar relacionada à menor firmeza da casca, comparada à
laranja, permitindo maior sobrevivência larval devido à menor
dificuldade de a larva migrar da casca para a polpa.
CONSIDERAÇÕES
A definição dos estádios de maturação de uma cultivar
permite relacionar as condições em que o fruto se encontra
adequado à infestação. Embora o desenvolvimento dos frutos
no campo esteja relacionado a uma série de fatores, como
temperatura, regime pluviométrico e radiação, a caracterização
físico-química pode fornecer uma indicação do período em
que ocorre o desenvolvimento larval de moscas-das-frutas e
assim orientar o estabelecimento de estratégias de controle.
Para a cultivar Navelina, constatou-se que a infestação ocorre
somente no último estádio de maturação (casca com coloração
amarelo-alaranjada), correspondendo ao período de junho a
julho no estado do Rio Grande do Sul.
Com isso, é possível verificar que tanto a mosca-sul-
-americana, como a mosca-do-mediterrâneo preferem
ovipositar em frutos maduros, com características físico-
-químicas que correspondem à maturação. Desta forma, o
monitoramento, no campo, durante este período, constitui
uma importante ferramenta para evitar perdas por infesta-
ção de moscas-das-frutas.
Fotos Naymã Dias (2014)
A atração de insetos benéficos às culturas é uma
das formas de utilização de
Tithonia diversifolia
C
C
do hospedeiro por insetos é influencia-
da por estímulos químicos e visuais.
Desta forma, as fêmeas de C. capitata
podem ter identificado compostos
inadequados para o desenvolvimento
dos seus descendentes em frutos de
limoeiro Siciliano.
Figura 1 - Estágios de maturação de laranja ‘Navelina’.
I) fruto com o tamanho final; II) fruto verde próximo ao
tamanho final; III) fruto na mudança de cor verde para
amarela e IV) casca com coloração amarelo-alaranjada
Naymã Pinto Dias,
Unesp
Mirtes Melo e
Dori Edson Nava,
Embrapa Clima Temperado
Cultivar HF • Outubro / Novembro 201916
Citrus
Passados 15 anos do registro oficial do Greening no
Brasil, a citricultura brasileira contabiliza profundas
transformações, avanços na pesquisa, aumento de custos
e esforços. Contudo, a doença continua a avançar e a
desafiar as estratégias de manejo
Ameaça
debutante
Em 2019 completaram-se 15
anos de registro oficial do
Greening ou Huanglongbing
(HLB) no Brasil. Desde seu primeiro
relato em 2004, a citricultura passou por
profundas transformações, com aumento
do uso de inseticidas que tem impactado
diretamente nos custos de produção e no
equilíbrio biológico. Apesar dos avanços
nas pesquisas e no manejo da doença,
o Greening continua sendo um grande
desafio.
O que mudou na citricultura desde o
surgimento dessa terrível doença bacteriana?
Uma das mudanças marcantes foi a
diminuição da área de plantio de citros no
cinturão citrícola de São Paulo e Triângu-
lo Mineiro, sem, contudo, diminuição do
número de plantas cítricas em produção
ou formação. Esse fato é decorrente do
maior adensamento de plantio, que vem
sendo aumentado prevendo-se a perda de
parte do plantio em decorrência da infes-
tação pelo HLB. O crescimento do nú-
mero de plantas por área tem por objetivo
também incrementar a produtividade do
pomar, essencial para cobrir os custos de
produção, que também aumentaram em
função da incidência da doença no estado
de São Paulo e no Triângulo Mineiro.
Após 15 anos, como está a situação da
doença no estado de São Paulo e no Triân-
gulo Mineiro?
Em 2019, a incidência de plantas
sintomáticas, não necessariamente in-
cidência de plantas doentes, atingiu o
índice de 19,02% das plantas cítricas do
cinturão citrícola São Paulo/Triângulo
Mineiro (Figura 1). A incidência foi
crescente até 2015, porém, nos anos
de 2016 e 2017 decresceu, dando uma
impressão de tendência de diminuição.
Entretanto, em 2018 e 2019 a incidência
voltou a aumentar, atingindo, nesse ano,
o maior valor em termos de plantas sinto-
máticas encontradas nos pomares. Esses
resultados evidenciam que o inóculo está
cada vez mais alto, com possibilidade de
transmissão da bactéria para os pomares
com e sem manejo da doença.
Em termos de incidência da doença
Pedro Takao Yamamoto
Outubro / Novembro 2019 • Cultivar HF 17
nas regiões produtoras de citros, tem se observado que, a
partir do epicentro, onde foram relatadas as primeiras plantas
afetadas pelo Greening, nas regiões de Matão e Porto Ferreira,
a incidência vai diminuindo tanto no sentido Norte/Noroeste
como Sul do estado. As maiores incidências estão concentradas
nas regiões de Brotas (55,10%), Limeira (48,30%) e Duartina
(32,43%), e as menores nas regiões de Itapetininga (1,09%),
no Triângulo Mineiro (0,31%) e em Votuporanga (1,64%).
Das cinco regiões com maior presença de plantas sinto-
máticas, localizadas na região Central do estado, a incidência,
comparando 2018 com 2019, diminuiu ou manteve-se estável
em Matão, Porto Ferreira, Duartina e Brotas, mas aumentou
consideravelmente na região de Limeira (de 34,01% para
48,30%). No outro extremo, onde a incidência é menor,
apesar de ter sido observado aumento na região do Triângulo
Mineiro (de 0% para 0,31%), a incidência diminuiu nas regi-
ões de Votuporanga (de 1,96% para 1,64%) e de Itapetininga
(de 1,73% para 1,09%). Nas regiões de nível de severidade
intermediário, apesar de a incidência ser estável na região de
Avaré (~10,76%), houve aumento nas regiões de Altinópolis
(de 10,12% para 12,20%), Bebedouro (de 6,78% para 8,15%)
e São José do Rio Preto (de 3,74% para 5,02%).
Esses resultados, embora pareçam animadores para al-
gumas regiões, são alarmantes. A preocupação se dá pois se
constata a incidência da doença em todas as regiões citrícolas
de São Paulo e do Triângulo Mineiro.
Quanto à faixa etária dos pomares, os resultados dos
levantamentos têm indicado que a incidência está estável
ou diminuindo nas plantas de até cinco anos de idade. No
entanto, tem aumentado naquelas com mais de seis anos de
idade (Figura 2). Esses dados indicam que quanto mais tempo
a planta fica no campo, maior é a chance de contaminação, e
por isso a maior incidência nos pomares mais velhos.
Para o Greening, o tamanho da propriedade também afeta
o manejo. Considerando-se as dimensões, e também a adoção
de tecnologias, o manejo é mais fácil em propriedades de maior
porte. A incidência de plantas sintomáticas é maior nas faixas
de tamanho de propriedade com até 100 mil árvores (Figura
3). As propriedades são caracterizadas pelo número de árvores
e correspondem ao tamanho da área, de modo que até dez mil
árvores são até 21ha, de dez mil a 100 mil árvores são de 21,1ha
a 210ha, de 100 mil a 200 mil árvores são 210,1ha a 1.050ha
e, por fim, mais de 200 mil árvores são mais de 1.050ha.
Quais são as recomendações para o combate eficiente ao
Greening?
Um passo fundamental é a escolha do local de plantio,
em função da incidência de Greening diferenciada entre re-
giões. Além disso, recomenda-se o plantio em grandes áreas,
evitando-se plantios recortados, não uniformes e estreitos para
diminuir a área de borda, por onde o inseto vetor, o psilídeo
Diaphorina citri, invade a propriedade.
Figura 1 - Incidência de plantas cítricas com sintomas do
Huanglongbing
, ou
Greening
, no Estado
de São Paulo e Triângulo Mineiro. Fonte: Fundecitrus (2019)
Figura 2 - Incidência de HLB no Estado de São Paulo e Triângulo Mineiro em função da idade das
árvores. Fonte: Fundecitrus (2019)
Figura 3 - Incidência de HLB no Estado de São Paulo e Triângulo Mineiro em função do tamanho
da propriedade citrícola. Fonte: Fundecitrus (2019)
No caso de renovação de pomar, se recomenda fazê-la em
blocos grandes, contínuos e extensos, evitando o plantio de
pomares novos ao lado de pomares velhos e com incidência
da doença. A segunda recomendação é o plantio de mudas
sadias, produzidas em viveiros protegidos com tela antiafídica,
certificados e cadastrados.
Medidas para a aceleração do crescimento e da produção
também devem ser adotadas para evitar a contaminação das
plantas, tais como: plantio de mudas com formação, aden-
samento de plantio, uso de mulching plástico, irrigação e
nutrição adequada.
Cultivar HF • Outubro / Novembro 201918
Uma medida que não deve ser es-
quecida é a inspeção frequente de todas
as plantas do pomar. Essas inspeções de-
vem começar a partir do segundo ano da
implantação do pomar. É recomendado
realizar, no mínimo, seis inspeções em
todas as plantas durante o ano, principal-
mente entre fevereiro e agosto, quando os
sintomas do Greening são mais visíveis.
Após as inspeções, detectando-se
plantas com sintomas, deve-se realizar a
erradicação das plantas doentes. Todas as
plantas encontradas devem ser imediata-
mente eliminadas, independentemente
de idade e severidade dos sintomas. Antes
da erradicação, recomenda-se a pulveri-
zação das plantas doentes para evitar a
dispersão de insetos contaminados para
plantas sadias.
Assim como a inspeção de plantas
sintomáticas, é importante realizar o
monitoramento do psilídeo. Identificar
a presença do inseto é fundamental para
saber o momento e os talhões mais ade-
quados para realizar as pulverizações. O
monitoramento deve ser realizado com
armadilhas adesivas amarelas instaladas
nas plantas das bordas da propriedade e
dos talhões. Além disso, é fundamental
que os pragueiros façam a inspeção peri-
ódica das diferentes fases do ciclo de vida
do psilídeo, nas inspeções rotineiras de
outras pragas. Detectada a presença do
inseto-vetor, deve-se realizar o controle,
seja com inseticidas sistêmicos ou de
contato.
Tanto para o monitoramento do
inseto-vetor quanto para a inspeção de
plantas sintomáticas deve-se dar atenção
especial às bordas das propriedades.
Aproximadamente 80% dos psilídeos e
das plantas infectadas encontram-se nos
primeiros 100 metros a 200 metros da
divisa da propriedade, a chamada faixa
de borda. Isso ocorre porque quando
o inseto voa de um pomar para outro,
pousa nas primeiras plantas de citros e,
a partir daí, invade o restante do pomar.
Em posse desse conhecimento é plau-
sível a aplicação de inseticidas na faixa
de borda com mais frequência que na
área central.
Nessas áreas de borda da proprieda-
de, outra medida que se tem tomado é
o plantio mais adensado, com as linhas
paralelas à borda para facilitar a aplicação
de inseticida. É recomendado também o
replantio frequente nessa faixa de borda
após erradicações, evitando que as aber-
turas facilitem a penetração e distribui-
ção do psilídeo ao longo da propriedade.
Para um manejo eficiente do Gre-
ening não basta as ações dentro da
propriedade, há necessidade também
de ações fora dela e, muitas vezes, em
conjunto com os vizinhos. Nem todas
as plantas de citros ou de murta (Mur-
raya paniculata), hospedeiro tanto do
inseto-vetor como da bactéria, recebem
os cuidados necessários para evitar a
contaminação pela bactéria. Assim,
essas plantas podem servir de fonte de
inóculo para a disseminação do Greening,
principalmente aquelas em pomares
orgânicos ou abandonados, em chácaras
e em quintais. Portanto, há necessidade
de estenderem algumas ações às áreas
adjacentes às propriedades, tais como:
- Eliminação de plantas de citros com
sintomas de Greening e plantas de murta
na vizinhança. Pode-se propor a troca
por mudas de outras frutíferas.
- Aplicação de inseticida em plantas
de citros e de murta localizadas em
quintais ou pomares vizinhos, onde não
O manejo eficiente do
Greening
exige medidas integradas e amplas
Pedro Takao Yamamoto
Ana Clara Ribeiro de Paiva
Fernando Henrique Iost Filho
Escola Superior de Agricultura ‘Luiz de Queiroz”
Universidade de São Paulo
C
C
Folha de citros com a presença de sintomas provocados pela doença
for possível a eliminação, quando for
detectada a presença do psilídeo.
- Liberação do parasitoide Tamari-
xia radiata, inimigo natural de D. citri,
em áreas urbanas, quintais, pomares
abandonados ou orgânicos onde não há
aplicação de inseticidas.
CONCLUSÃO
Nesses 15 anos de convivência
com o Greening, muito se avançou nas
pesquisas e no conhecimento tanto do
agente causal como do inseto-vetor.
Muito recurso foi gasto para desenvolver
tecnologia para o manejo da doença. En-
tretanto, o Greening continua avançando
e sua incidência aumentando a cada ano,
apesar do decréscimo de sua evolução em
alguns anos.
O poder de destruição dessa doen-
ça é inquestionável e, caso medidas de
manejo, tanto dentro da propriedade
quanto nas vizinhanças, não forem
adotadas, o Greening se alastrará e
incidirá em toda a propriedade. Essa
doença intensificou o uso de insetici-
das nos pomares, retornando a prática
outrora não utilizada nos citros de
aplicação de produtos fitossanitários
em calendário, tornando a sua racio-
nalização um grande desafio para a
citricultura. Cabe aos pesquisadores,
consultores e produtores trabalharem
em conjunto, estabelecendo práticas
sustentáveis no manejo do vetor e da
doença.
Cultivar HF • Outubro / Novembro 201920
Estudo aprofundado do complexo leprose dos citros levou
à nomenclatura da nova família de vírus, composta pelos
gêneros Cilevirus, Higrevirus e Blunervirus e batizada em
homenagem ao pesquisador Elliot Kitajima
Família
Kitaviridae
Citrus
A
leprose dos citros (LC) é
uma das mais sérias amea-
ças à citricultura paulista,
sendo uma doença de etiologia viral
e endêmica presente no continente
americano, da Argentina até o Méxi-
co. Para avaliar sua importância eco-
nômica, estima-se que os produtores
paulistas gastam aproximadamente
80 milhões de dólares/ano somente
com acaricidas específicos para o
controle do ácaro-vetor, evitando a
disseminação da LC. Seu primeiro
relato se deu na Flórida, no início do
século 20, onde causou perdas signifi-
cativas e era referida como “scaly bark
ou “nailhead rust”, mas deixou de ser
detectado a partir dos anos 1960. A
partir dos anos 1920, doença similar
foi descrita na Argentina, no Paraguai
e no Brasil, tendo sido considerada
similar à dos EUA, e passado a ser
chamada de leprose. A enfermidade
caracteriza-se por lesões em folhas,
ramos e frutos de laranjeiras; pode
resultar em desfolha e intensa queda
dos frutos. As lesões nos ramos, se
muito numerosas, podem coalescer,
resultando na morte do ramo, e re-
sultar em uma morte descendente
da planta em poucos anos (Figura
1 A-E). Laranjeiras são as mais sus-
cetíveis; tangerinas e pomelos em
menor grau e limões são considerados
imunes.
No início, a etiologia da LC foi
controvertida, mas em 1940, Frezzi,
na Argentina, demonstrou a associa-
ção do ácaro, identificado como Brevi-
palpus obovatus, com a LC. Musumec-
ci e Rossetti demonstraram em 1963,
que a LC no Brasil era transmitida por
B. phoenicis. Knorr, na Flórida notou
que lesões de ramos da LC, enxerta-
das em ramos sadios, se propagavam
sugerindo etiologia viral, hipótese que
foi confirmada subsequentemente
por uma série de evidências, como
a presença de alterações celulares e
partículas semelhantes às causadas
por vírus por Kitajima et al nos anos
Unesp
Outubro / Novembro 2019 • Cultivar HF 21
próximo aos gêneros Nucleorhabdovirus e Cytorhabdovirus,
ambos vírus de plantas e integram a família Rhabdoviridae.
Dentre os VTB conhecidos no Brasil, CoRSV (um
dichorhavírus) (Figura 3E) e o da pinta verde do maracujá
(PfGSV) (Figura 3B), um possível Cilevirus, podem cau-
sar certas perdas, e além deles, levantamentos sucessivos
têm identificado vários casos de VTB, como leprose do
afineiro (LigLV) (Figura 3A), mancha anular do solano-
-violeta (SvRSV) (Figura 3C), mancha anular da dama-
-da-noite (CeRSV) (Figura 3G), mancha clorótica do
Fotos Elliot W. Kitajima
1970 e transmissão mecânica do vírus por Colariccio et al
em 1995. A presença da CL acha-se confirmada em quase
todos os países da América Latina (Argentina, Paraguai,
Brasil, Bolívia, Colômbia, Venezuela, Panamá, Nicarágua,
Honduras, El Salvador, Belize e México).
Em 1995, o signatário se integrou à Esalq como pro-
fessor visitante, após aposentar-se da Universidade de
Brasília, onde era docente, a convite do professor Raul
Machado, para gerir o recém-criado Laboratório de Mi-
croscopia Eletrônica do campus. Para manter suas pesqui-
sas, decidiu começar investigações sobre vírus de plantas
transmitidos por ácaros Brevipalpus (VTB), com enfoque
na LC, atividade mantida até hoje e que contou com apoio
de uma equipe multidisciplinar, multi-institucional e mul-
tinacional, e suporte financeiro da Fapesp. Desde 2006,
quando se aposentou compulsoriamente, mantém os
estudos sobre VTB como servidor voluntário/pesquisador
colaborador da Esalq, com a anuência do Departamento
de Fitopatologia e Nematologia e a direção da instituição.
Nestes 24 anos de investigações desde então, houve um
incremento exponencial de informações não só sobre CL,
mas sobre VTB em geral, com a identificação e caracteri-
zação de vários deles e avanços nos conhecimentos sobre a
biologia e a sistemática dos ácaros Brevipalpus, e das rela-
ções dos que atuam como vetores e os vírus transmitidos.
Um avanço significativo na compreensão do patossiste-
ma da LC foi dado, quando se conseguiu obter sequenciais
parciais do vírus causador a partir do dsRNA em 2003,
com as quais se desenvolveu uma ferramenta para sua
detecção molecular (RT-PCR) de maneira rápida e precisa,
em grande número de amostras, tendo contribuído para
confirmar a presença do LC nos países já citados. Logo
a seguir, em 2006, logrou-se obter a sequência total do
genoma do agente da CL, que foi denominada de vírus
da leprose C (CiLV-C), distinto de outros vírus de planta
conhecidos, para o qual foi proposta a criação de um gê-
nero novo Cilevirus, aceito pelo International Committee
for Virus Taxonomy (ICTV).
Estudos morfológicos já haviam sinalizado, em 2003,
que existem dois tipos distintos de VTB baseados nos
efeitos que eles causavam nas células infetadas. O tipo cito-
plasmático, com partículas baciliformes curtas e a presença
de uma inclusão densa (viroplasma) no citoplasma (Figura
2A). Outro, referido como nuclear, induz um viroplasma
claro no núcleo, tendo partículas em forma de bastonetes
curtos, presentes no núcleo e no citoplasma (Figura 2B).
Estudos moleculares confirmaram esta dicotomia, indi-
cando que o tipo citoplasmático corresponderia aos Cilevi-
rus, como CiLV-C, enquanto o nuclear corresponderia aos
Dichorhavirus. Este gênero, que tem como membro tipo
o vírus da mancha das orquídeas (OFV) (Figura 3D), é
Figura 1 - O patossistema da leprose dos citros. A)
E. Leprose
causada pelo vírus da leprose C
(CiLV-C), um
Cilevirus
. A) Queda intensa dos frutos; B) lesões nos frutos; C) lesão foliar; D) lesão
nos ramos; E) laranjeira com morte descendente. F-K). Sintomas foliares em laranjeiras (exceto
J, laranja-azeda) causadas por outros vírus: F) leprose C2 (CiLV-C2) da Colômbia,
Cilevirus
; G-K),
Dichoravirus
: G) leprose N (CiLV-N); H) mancha clorótica (CiCSV); I) mancha brilhante (CiBSV); J) e
K) leprose causada por isolados do vírus da mancha da orquídea (OFV), respectivamente no México
e na África do Sul. (Imagem K , cortesia de G.Cook)
Figura 2 - Micrografias eletrônicas de transmissão de alteraões celulares caracteristicas da infecção
por
Cilevirus
(A) e
Dichorhavirus
(B). A. Célula parenquimatosoa de lesão foliar de laranjeira,
causada pelo CiLV-C. Uma enorme inclusão vacuolada e eletron densa (viroplasma) (*) surge no
citoplasma. Na inserção, partículas virais, baciliformes e curtas, podem ser vistas no citoplasma
(setas). Em B, célula de uma lesão foliar clorótica em orquídea (
Oncidium
sp.) mostrando uma
inclusão nuclear (*). Na inserção, partículas em forma de bastonetes curtos, dispersos no núcleo
A B
Cultivar HF • Outubro / Novembro 201922
Clerodendrum (ClCSV) (Figura 3F)
e outros ainda sem identificação, em
diversas espécies de plantas, em geral
ornamentais. Em todos estes casos de
VTB, a característica comum é que os
sintomas resultantes da infecção são
invariavelmente localizados (manchas
cloróticas, anelares, necróticas), que
não se tornam sistêmicos, possivel-
mente porque estes VTB não logram
infetar células do floema e, assim,
invadir os vasos crivados, para serem
transportados à distância dentro da
planta infetada.
Merece destaque o fato de a LC, na
realidade, não ser uma enfermidade
única, mas uma síndrome com sinto-
mas muito semelhantes, que podem
ser causada por vários VTB distintos,
além do CiLV-C, que de longe é o mais
importante economicamente e o mais
disseminado (Figura 1 A-E). Na Co-
lômbia foi descrito o CiLV-C2, outro
Cilevirus (Figura 1F). No México e
na Colômbia, um isolado do OFV foi
identificado como agente causal de
CL (Figura 1J). Outros Dichorhavi-
rus como o da leprose N (CiLV-N)
(Figura 1G) detectado em região de
clima ameno e de maiores altitudes
no Sudeste brasileiro, da mancha
clorótica (CiCSV) (Figura 1H) identi-
ficado no Piauí, da mancha brilhante
(CiBSV) (Figura 1I) nos estados de
Santa Catarina e Rio Grande do Sul
são considerados parte da síndrome
da LC. Recentemente foi relatado na
África do Sul o primeiro surto de CL
em laranjeiras (Figura 1K) fora do
continente americano, causado por
um isolado do OFV. Embora a CL da
Flórida tenha desaparecido há cerca
de 50 anos, análises feitas em amos-
tras herbarizadas mostraram que ela
teria sido causada por outro possível
isolado do OFV. Na Colômbia, CiLV-
-C foi detectado em 2006, e CiLV-C2
em 2013, havendo indícios de que
este passe ser o vírus predominante.
No Brasil, o CiLV-C2 ainda não foi
registrado, tampouco isolados de OFV
afetando plantas cítricas como ocorre
na Colômbia, no México e na África
do Sul. Os Dichoravirus descritos
entre nós (CiLV-N, CiCSV e CiBSV)
são marginais e de rara ocorrência.
Estudos sobre diversidade de CiLV-
-C mostram que o isolado original-
mente estudado e referido como de
Cordeirópolis (CiLV-C CRD) ocorre
em todo continente americano. Mas
no estado de São Paulo, outro isolado
detectado há aproximadamente dez
anos, chamado de São José do Rio
Preto (CiLV-C SJP), está rapidamente
se dispersando em todos pomares.
Possivelmente este isolado seria mais
eficientemente transmitido pelas
populações de B. yothersi presentes
nos pomares.
As investigações sobre este pa-
tossistema dos VTB incluem os
ácaros Brevipalpus (Figura 4 A-B),
pertencente à família Tenuipalpidae.
Atualmente acham-se listadas 291
espécies reconhecidas de Brevipalpus,
que se distribuem globalmente das
regiões equatoriais às subtropicais.
Poucas delas, contudo, estão envol-
vidas na transmissão dos VTB. Até
recentemente, eram reconhecidas as
espécies B. obovatus, B.californicus e
Figura 3 - Exemplos de intomas de lesões localizadas em folhas e frutos, causadas por diferentes vírus transmitidos por ácaros
Brevipalpus
(VTB).
Cilevirus
: A) leprose do alfineiro (LigLV); B) pinta verde do maracujá (PfGSV); C) mancha anular de
Solanum
violifolium
.
Dichorhavirus
: D) mancha da orquídea (OFV); E) mancha anular do café (CoRSV); F) mancha clorótica de
Clerodendrum
(ClCSV); G) mancha anular da dama-da-noite (CeRSV)
Kitajima se debruçou sobre ácaros
e vírus envolvidos no complexo da
leprose de citros
Fotos Elliot W. Kitajima
Outubro / Novembro 2019 • Cultivar HF 23
Tabela 1 - Vírus transmitidos por ácaros
Brevipalpus
e as espécies
tidas como vetoras*
Natural
B. yothersi
B. yothersi
B. yothersi
B. obovatus
B. californicus
B. papayensis
B. phoenicis s.s.
B. yothersi
B. aff.yothersi
B. phoenicis sp.n
B.obovatus
Experimental
B. papayensis
B. ferraguti
B. ferraguti
Hospedeira
Laranjeira
Laranjeira
Maracujá
Solano-violeta
Orquidea
Citrus
sp.
Cafeeiro
Laranjeira
Clerodendrum
spp.
Laranjeira
Agave
Laranjeira
Dama-da-noite
Solano-violeta
Espécie vetora
Vírus
Cilevirus
CiLV-C
CiLV-C2
PfGSV
SvRS
Dichorhavirus
OFV
CoRSV
CiLV-N
ClCSV
CiCSV
CiCSV
CeRSV
*Apud A.D. Tassi (2019)
B. phoenicis como vetoras. Ácaros Brevipalpus são peque-
nos (adultos medem ca. 0,3mm), achatados e de coloração
vermelha-marrom (Figura 4A), e a maioria deles se repro-
duz por partenogênese telítoca, fêmeas gerando fêmeas.
Alimentam-se sugando células, que são perfuradas pelo
estilete (Figura 4 C, D). Há evidências indicando que
partículas dos VTB presentes nas células infetadas são
ingeridas juntamente com o conteúdo celular circulando
no corpo do ácaro a partir do intestino médio, passando
pela glândula prosomal anterior (=salivar) e introduzida
na planta hospedeira com a saliva no início da alimenta-
ção, resultando na infecção. Os Dichorhavirus, como OFV,
CoRSV e ClCSV multiplicar-se-iam nos tecidos do vetor,
enquanto os Cilevirus (CiLV-C, CiLV-C2, PfGSV, SvRSV)
apenas circulariam no corpo do ácaro-vetor, sem infetá-lo.
Houve recentemente alterações nos critérios morfológi-
cos para identificação das espécies de Brevipalpus com
a introdução de caracteres adicionais e também com a
utilização de marcadores moleculares (DNA do núcleo
ou mitocondrial) resultando em mudanças importantes
na sistemática. Assim, a espécie tida como B. phoenicis foi
desmembrada em pelo menos oito espécies, algumas no-
vas e outras “ressuscitadas” e isto levou à reconfiguração
das espécies tidas como vetoras. Por exemplo, a principal
espécie vetora de CiLV-C foi identificada como B. yothersi,
enquanto o vetor de CoRSV, seria B. papayensis. A Tabela
1 lista os VTB e as espécies de Brevipalpus atualmente
reconhecidas como vetoras.
Hoje a epidemiologia do CiLV-C é bem conhecida
disseminação de seu vetor, B. yothersi. A recente chegada
do Greening/HLB causou mudanças significativas no ma-
nejo fitossanitário (intensificação do uso de inseticidas,
redução no espaçamento entre plantas) da citricultura
paulista, aliada e um menor número de acaricidas es-
pecíficos para B. yothersi disponível. Para enfrentar este
novo desafio, várias pesquisas estão em andamento para
encontrar soluções para se manter CL sob controle.
Com relação à criação da família Kitaviridae, foi ela
uma cortesia prestada pelo grupo de trabalho responsável
pela sistemática de Cilevirus, dentro do ICTV. O ICTV
incentivou recentemente a criação de novas famílias
para numerosos gêneros “órfãos”, e este grupo propôs
incluir os gêneros Cilevirus, Higrevirus e Blunervirus, que
têm organização genômica similar, em uma nova família
Kitaviridae, homenageando o signatário, em função de
suas contribuições para o avanço dos conhecimentos
sobre os VTB. Contudo, deve-se deixar bastante claro
que tais avanços não teriam sido alcançados pelo traba-
lho de uma só pessoa, e resultaram da participação de
um grupo numeroso, com mais de 50 pessoas (docentes,
pesquisadores e estudantes), de diversas instituições
brasileiras e do exterior, além de agências de fomento à
pesquisa como a Fapesp, com as quais este preito deve
ser compartilhado.
Figura 4 - A) Imagem ao microscópio estereoscópico de
B. obovatus
(cima) e
B. yothersi
(abaixo), respectivamente
vetores dos vírus da mancha anular do café (CoRSV) e da leprose do citros C (CiLV-C). B) Micrografia eletrônica de
varredura (MEV) de
B. yothersi
. C) MEV do estilete de
B. yothersi
, utilizado para perfurar a epiderme da planta
(D), durante o processo de alimentação (imagens A e B, cortesia de A.D. Tassi)
e as estratégias de seu manejo na citricultura
paulista baseiam-se essencialmente no controle
químico e outras práticas culturais para evitar a
Elliot W. Kitajima,
Pesquisador Colaborador, Departamento de Fitopatologia e Nematologia,
Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, USP, campus Piracicaba
C
C
A B
CD
24 Cultivar HF • Outubro / Novembro 2019
Desao
nacional
Caracterizada pelas cores verde e amarela, Diabrotica
speciosa tem causado danos em tomate para indústria que
extrapolam os efeitos indiretos. Com ataque a flores e
frutos em desenvolvimento, praga também pode favorecer
vírus como TMV e ToMV. Novos estudos nas áreas
comportamentais e de controle são necessários diante dos
fenômenos contemporâneos em torno deste inseto
Capa
Fotos Cecília Czepack
Dentre as pragas que ata-
cam o tomateiro está a
Diabrotica speciosa. Esta
espécie é polífaga, amplamente
distribuída nos estados brasileiros
e em alguns países da América do
Sul. Nas lavouras de tomate é uma
praga de grande importância, pois
na fase larval ataca as raízes da
cultura, acarretando diminuição
da absorção de nutrientes, e na
fase adulta se alimenta das folhas,
diminuindo a área foliar e, como
consequência, a produção de fo-
toassimilados. Portanto, ambas as
fases são consideradas causadoras
de danos indiretos que acarretam
grandes perdas no tomateiro.
Outubro / Novembro 2019 • Cultivar HF 25
MORFOLOGIA, BIOLOGIA
E COMPORTAMENTO
D. speciosa é o nome científico
deste coleóptero da Família Chry-
somelidae, conhecido vulgarmente
por vaquinha, brasileirinha, va-
quinha verde-amarela, cuja larva
é também identificada por outro
nome vulgar: larva-alfinete, devido
ao hábito de perfurar os tubércu-
los de batata, deixando orifícios
redondos, assemelhando-se a furos
provocados por alfinetes. Dano
semelhante já foi encontrado nos
frutos do tomateiro.
O adulto de D. speciosa possui
entre 4,5mm e 6mm de compri-
mento, sendo os machos sempre
menores em relação às fêmeas,
que, prontas para a oviposição,
apresentam abdome bastante en-
tumecido. Possuem coloração
verde, com três manchas amarelas
sobre os élitros, sendo a basal mais
longa e avermelhada. Apresentam
antenas escuras, cabeça variando
do marrom-avermelhado ao negro
e pernas escuras, alimentando-se
da parte aérea das plantas.
Os ovos são amarelos e medem
0,5mm de diâmetro, e o período de
incubação dura em torno de seis
dias a oito dias. As formas jovens
apresentam 10mm de comprimento
quando completamente desenvol-
vidas e têm coloração geralmente
esbranquiçada. Porém, podem se
apresentar ligeiramente amarela-
das. A cabeça, o tórax e as pernas
têm coloração negra, além de
possuírem uma placa quitinizada
de cor escura no último segmento
abdominal.
D. speciosa apresenta três insta-
res larvais, sendo que o período de
desenvolvimento das fases imaturas
(ovo, larva, pré-pupa e pupa) igual-
mente aos adultos, pode variar em
função do clima e do hospedeiro.
Segundo a literatura, o ciclo de vida
pode durar de 24 dias a 40 dias,
sendo ovo de cinco a sete; larva de
14 a 26; pré-pupa cinco dias e pupa
cinco a sete dias (Figura 1).
As pupas apresentam 5mm de
comprimento, são brancas e ficam
protegidas em uma câmara pupal
logo abaixo da superfície do solo.
Normalmente os adultos de
D. speciosa preferem áreas onde o
solo é mais escuro e úmido, devido
Flor de tomateiro atacada por adulto de vaquinha
Danos em frutos de tomateiro
causados por
Diabrotica speciosa
à possibilidade de ovipositar e a
sua prole ter maiores condições de
sobrevivência. O cultivo de tomate
para indústria proporciona am-
bientes úmidos, devido aos ciclos
de regas dos pivôs, que favorecem
o seu desenvolvimento.
As larvas-alfinete alimentam-se,
geralmente, do sistema radicular,
mas podem ser encontradas em
tubérculos e estolões. Sua longevi-
dade e reprodução são afetadas por
temperatura e hospedeiros.
Estudos relacionados a cultivos
de milho apontam que as larvas
apresentam uma distribuição em
reboleira, com alta variabilidade,
podendo ocorrer de 0-100 larvas
por planta. A mobilidade é pe-
quena, sendo que altos teores de
umidade e matéria orgânica favo-
recem a sobrevivência das formas
jovens, que permanecem próximas
ao redor das raízes e geralmente se
concentram nos primeiros 10cm da
superfície do solo.
DANOS EM TOMATE
PARA A INDÚSTRIA
Nestes últimos anos, em culti-
vimento. No caso de flores, podem
provocar abortamento e reduzir
o número de frutos nas pencas.
Quanto aos frutos, os adultos co-
meçam o ataque fazendo furos que
podem ser confundidos com aque-
les ocasionados por brocas grandes,
como Helicoverpa e Chloridea. O
que diferencia estes ataques são a
presença de adultos se alimentando
internamente desses frutos e fezes
de aspecto filiforme e de coloração
escura na entrada desses orifícios.
O ataque de frutos já havia sido re-
latado em nectarina, onde causam
depreciação, entretanto em frutos
do tomateiro, apenas relatos espo-
rádicos foram encontrados.
Além dos adultos, as formas
jovens conhecidas como larvas al-
finete, foram observadas atacando
frutos de tomate rasteiro, típico
para processamento, mais especi-
ficamente aquelas pencas que se
desenvolvem encostadas ao solo.
Os frutos atacados apresentam
furos arredondados e quando aber-
30 Cultivar HF • Outubro / Novembro 201926 Cultivar HF • Outubro / Novembro 2019
vos de tomate para a indústria no
estado de Goiás, os danos dessa
praga não se restringiram somente
a efeitos indiretos. Adultos de D.
speciosa têm sido observados ata-
cando flores e frutos em desenvol-
Figura 1
Presença da larva alfinete no interior de fruto de tomateiro
tos verifica-se um escurecimento
bastante típico, e com o tempo
apodrecem e ficam inviáveis para
a utilização na indústria.
Sabe-se que adultos danificam
a parte aérea (folhas) de diversas
culturas como solanáceas, cucur-
bitáceas, crucíferas, leguminosas e
gramíneas, além disso, são citados
como vetores de patógenos, como
bactérias e vírus. No caso de vírus,
podem ser facilmente transmitidos
de forma mecânica ou até mesmo
de um inseto para outro, por meio
do contato com material regur-
gitado, defecado ou hemolinfa
contaminada. Segundo estudos, na
ordem Coleóptera, as espécies dos
gêneros Cerotoma spp. e Diabrotica
spp. são vetores de importantes
viroses nas Américas.
Observa-se no campo o aumen-
to de doenças nas áreas com maior
população de D. speciosa, fato que
requer estudos epidemiológicos
mais aprofundados para conhecer,
identificar e quantificar as doenças
associadas a este coleóptero cada
vez mais frequente nas áreas de
tomate para a indústria.
Duas viroses com potencial
de se intensificarem em função
do ataque da D. speciosa são o
mosaico-do-fumo, causado pelo
TMV (Tobacco mosaic virus), e o
mosaico-do-tomateiro, causado
pelo ToMV (Tomato mosaic virus).
Estes vírus infectam diversas espé-
cies de plantas, como o tomateiro.
Ambos são normalmente assin-
tomáticos, mas algumas estirpes
severas podem levar ao mosaico
suave alternado com embolhamen-
to foliar. No campo, a transmissão
desses vírus é mecânica, geralmen-
te por meio do contato direto entre
plantas e pelas mãos de operários,
e a forma de ataque de adultos
de D. speciosa tem potencial para
disseminar estes vírus.
CONTROLE
Segundo alguns autores, o con-
trole desse coleóptero, tanto na
fase adulta como larval, é baseado
quase que, unicamente, no uso de
agroquímicos. Contudo, esta fer-
ramenta tem apresentado cada vez
menos eficiência, já que o inseto,
em virtude de seu comportamento
polífago, se espalha facilmente
nos cultivos, promovendo as temi-
das reinfestações, principalmente
quando as condições ambientais
favorecem o aumento populacional
da praga. Fato este que se confirma
no estado de Goiás, visto a presença
de plantios de milho o ano inteiro,
hospedeiro comum deste inseto.
Com relação às formas larvais,
geralmente o controle se dá por
meio do tratamento de sementes,
Furos em frutos de tomateiro provocados pelo ataque da larva alfinete
Fotos Cecília Czepack
30 Cultivar HF • Outubro / Novembro 201928 Cultivar HF • Outubro / Novembro 2019
que tem sido considerado ineficaz,
segundo estudos, especialmente em
gramíneas como o milho, pois as
larvas podem causar danos nesta
cultura por um período de um a
dois meses após a semeadura, logo o
inseticida utilizado no tratamento
das sementes não possui residual
suficiente para garantir uma prote-
ção adequada ao sistema radicular
das plantas.
Os adeptos da agricultura or-
gânica recomendam o uso de
macerados da própria praga como
repelente, alertando para a fitoto-
xicidade, sugestão sem respaldo da
pesquisa científica. O uso de iscas
com raiz de taiuiá (Cayaponia sp.)
e os frutos de porongo, cabaça ou
cuia (Lagenaria sp.) são também
recomendados.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto constatam-se
as lacunas da pesquisa científica
sobre o avanço desta, que usual-
mente se apresenta como praga se-
cundária, mas que tem apresentado
potencial para onerar ainda mais a
cultura do tomate para a indústria.
Não se trata de uma crítica, pois
as informações aqui apresentadas
são observações atualizadas do fe-
nômeno que tem ocorrido no cam-
po. Faz-se necessário apresentar
estratégias de controle eficientes,
com reduzido impacto ambiental
e para tanto devem ser conduzidos
Cecilia Czepak,
Vinicius S. Magalhaes,
Karin F. S. Collier,
Lucas G. Santos,
Anderson de S. Zandomenighi,
Willian L. Silva,
Alisson de S. Zandomenighi,
Sergio L. Marques Filho,
Leonardo Y. S. Schmidt,
Luidgi S. Nascimento e
Karina C. A. Godinho
Escola de Agronomia/UFG
estudos nas áreas comportamen-
tais e de controle. Ressalta-se que
observações devem servir de alerta
para os pesquisadores da área, pois
esta praga, que traz nas suas cores
os tons da bandeira brasileira, tem
potencial para se tornar um proble-
ma nacional.
Frutos de tomateiro danificados pela incidência de
Diabrotica Speciosa
Fotos Cecília Czepack
C
C
Outubro / Novembro 2019 • Cultivar HF 29
Toma t e
Predador aliado
Ácaros predadores como
Amblyseius tamatavensis
podem auxiliar no manejo integrado
da temida mosca-branca
Bemisia tabaci
. Superar entraves como a presença de tricomas
glandulares, que contêm substâncias adesivas capazes de dificultar a movimentação do agente
de controle biológico, está entre os desafios para o emprego viável deste método em tomateiro
A
mosca-branca, Bemisia ta-
baci (Gennadius) biótipo B
(Hemiptera: Aleyrodidae) é
uma das principais pragas da cultura
do tomate. Este inseto suga a seiva
das folhas, o que pode comprometer
o desenvolvimento das plantas e a
produção. Todavia, talvez ainda mais
sério é o fato desta espécie ser vetora
de vírus, com destaque para o gemi-
nivírus, responsável pelo mosaico do
tomateiro. Em geral, quando a cultura
de tomate é infestada com adultos já
infectados pelo vírus, a simples picada
de prova já é suficiente para causar
a sua transmissão. Dessa forma, o
nível de tolerância dos produtores
de tomate para esta praga é extrema-
mente baixo.
O controle de B. tabaci biótipo B
é invariavelmente realizado com a
aplicação frequente de inseticidas.
Estas aplicações acabam ocorrendo
de forma preventiva para assegurar
a eliminação da mosca-branca e a re-
dução da possibilidade de ocorrência
de viroses. Todavia, as falhas no con-
trole desta praga com inseticidas são
cada vez mais comuns. Conforme já
largamente documentado, a aplicação
Odair Aparecido Fernandes
30 Cultivar HF • Outubro / Novembro 2019
frequente e sem critérios de inseticidas pode trazer efei-
tos negativos, com destaque para o desenvolvimento de
populações resistentes da praga, principalmente quando
produtos que apresentam o mesmo modo de ação são uti-
lizados. Outro ponto negativo é a mortalidade de inimigos
naturais, responsáveis pelo controle biológico natural.
A utilização do controle biológico é uma das bases
do Manejo Integrado de Pragas (MIP). Na cultura do
tomate, a prática do MIP ainda é incipiente e precisa ser
incentivada principalmente pelo considerável número
de pragas e doenças. Essa utilização do MIP resulta na
redução de custos, melhoria da qualidade do ambiente
de produção e até no aumento do valor agregado ao
produto final.
Uma das alternativas de controle biológico é a utiliza-
ção de ácaros predadores. Em diversos países têm havido
grande interesse para controle da mosca-branca em
hortaliças utilizando ácaros predadores, com destaque
para a espécie Amblyseius swirskii Athias-Henriot (Acari:
Phytoseiidae). Este ácaro é eficiente no controle de ovos
e ninfas da praga em diversos cultivos de olerícolas e de
ornamentais, e tem sido utilizado principalmente na
Europa. Todavia, a sua eficiência não foi evidenciada
em plantas de tomate. Isso decorre provavelmente pela
presença de tricomas, que são estruturas presentes na
superfície das folhas e hastes de algumas plantas (se-
melhante aos pelos nos animais). No caso do tomate, os
tricomas são glandulares (estrutura globulosa na extre-
midade) e contêm substâncias adesivas que dificultam
a movimentação desse ácaro predador e, desta forma,
limitam a eficiência do controle biológico da praga nesta
cultura. Importante salientar que essa espécie de ácaro
predador não ocorre no Brasil.
No Brasil, foi realizado um trabalho intenso pela
equipe do professor Gilberto José de Moraes (Esalq/
USP) para prospecção de ácaros predadores para o
controle de B. tabaci biótipo B. Nesta prospecção foi
encontrada a espécie Amblyseius tamatavensis Blom-
mers (Acari: Phytoseiidae) (Figura 1A) que se mostrou
bastante eficiente no controle da mosca-branca. Essa
espécie de ácaro predador se alimenta primordialmente
de ovos da mosca-branca (Figura 1B), embora possa
também se alimentar dos primeiros instares das ninfas da
praga. Quando alimentado com ovos de mosca-branca,
A. tamatavensis apresenta considerável taxa reprodu-
tiva, comparativamente aos outros ácaros predadores
utilizados comercialmente no mundo para controle de
mosca-branca.
Uma fêmea de A. tamatavensis coloca, em média,
entre um e dois ovos por dia, podendo, às vezes, até
ultrapassar esse número. Em menos de dois dias, ima-
turos deste ácaro predador eclodem e passam a predar
os ovos da mosca-branca. A fase jovem tem duração de
quatro dias, aproximadamente, enquanto a longevidade
dos adultos é, em média, de 15 dias. Assim, durante o
seu tempo de vida, cada fêmea pode colocar cerca de
15 a 20 ovos. Esta espécie de ácaro predador consome
cerca de oito ovos de B. tabaci biótipo B por dia. Desta
forma, a capacidade de predação pode chegar a cerca de
150 moscas-brancas por indivíduo de ácaro predador.
Isto é notável e pode contribuir sobremaneira com o
controle biológico da praga em diversos cultivos, inclu-
sive tomate.
Em um estudo conduzido também pela equipe do
professor Gilberto José de Moraes (Esalq/USP) em plantas
jovens de pimentão (Capsicum annuum L.), em Piracica-
Figura 1 - Ilustração de fêmeas adultas de
Amblyseius tamatavensis
(A) e detalhe de uma fêmea sobre
folíolo de tomate contendo ovos de mosca-branca, que são preferidos para alimentação deste predador
A B
Fotos Odair Aparecido Fernandes
Outubro / Novembro 2019 • Cultivar HF 31
ba, São Paulo, este ácaro foi capaz de
reduzir de 60% a 80% as densidades
populacionais de B. tabaci biótipo
B. Em outro estudo, conduzido pela
equipe do professor Marcelo Poletti
(Promip), em Engenheiro Coelho,
São Paulo, também foi verificada
elevada predação de ovos da mosca-
-branca em plantas de algodão (Gos-
sypium hirsutum L. cultivar Deltapine
51) e batata (Solanum tuberosum L.
cultivar Atlantic).
Confirmando as expectativas
iniciais, estudos conduzidos em Ja-
boticabal, São Paulo, indicam que
A. tamatavensis também foi muito
eficiente no controle de B. tabaci
biótipo B em tomate (Solanum licoper-
sicum L. híbrido Santyno F1 - Grupo
Santa Cruz). Apesar da presença de
tricomas glandulares em tomate, A.
tamatavensis apresentou boa capaci-
dade de movimentação para localizar
e controlar a mosca-branca.
Nestes estudos conduzidos na
Unesp, campus de Jaboticabal, ve-
rificou-se que a liberação de pelo
menos 26 ácaros predadores por m2
de área de cultivo de tomate permitiu
nível de controle de cerca de 90% da
praga (Figura 2). Avaliou-se também
a liberação do ácaro predador logo
após a detecção dos primeiros adul-
tos de mosca-branca e comparou-se
com a liberação após uma semana
da infestação inicial dos adultos da
praga. Os níveis mais elevados de
predação foram conseguidos quando
a liberação do predador foi realizada
logo após a observação dos primeiros
adultos de mosca-branca. Ainda, após
quase um mês de avaliação no tomate,
verificou-se a presença do predador
nos folíolos, numa demonstração do
sucesso na sobrevivência do ácaro
nesta cultura.
A liberação dos ácaros predadores
é realizada de forma bastante simples,
já que são mantidos em recipiente
contendo vermiculita. Desta forma,
a liberação pode ser facilmente rea-
lizada salpicando o produto sobre as
folhas do tomateiro. A liberação já
é realizada desta forma com grande
sucesso com outros ácaros predadores
em outras culturas. Além disso, um
detalhe importante é que A. tama-
tavensis pode ser facilmente criado
para fins comerciais utilizando presas
alternativas, o que facilita sua multi-
plicação. Estes fatores são primordiais
para que este ácaro predador seja
adquirido e distribuído nos cultivos
agrícolas, dentro de um programa de
controle biológico aplicado.
Por fim, em situações de altas
infestações da praga, a maior quanti-
dade de ácaros predadores liberados
- ou a utilização de outros métodos
de controle em conjunto com a li-
beração do ácaro predador - deve ser
considerada. No entanto, no tomate
existem outras pragas e doenças im-
portantes, e, por isso, na adoção do
MIP, o uso de produtos seletivos é
fundamental para o sucesso do ácaro
predador. Por enquanto não existe
uma lista descrevendo quais produtos
químicos podem ser utilizados em
conjunto com A. tamatavensis, como
ocorre para outros ácaros predadores
já comercializados para o controle de
outras pragas. Porém, já é de conhe-
cimento geral que ácaros predadores
são suscetíveis a produtos acaricidas.
Ressalta-se que existem inseticidas
que também possuem ação acaricida.
Sendo assim, o produtor deve se aten-
tar e buscar orientação sempre que
necessário para evitar que a aplicação
de produtos para outras pragas ou
doenças causem a morte deste agente
de controle biológico.
Os cultivos agrícolas têm deman-
dado soluções mais sustentáveis para
o manejo de pragas e doenças. O
sucesso alcançado com a utilização de
ácaros predadores para o controle de
mosca-branca em outros países sugere
que este método de controle também
pode ser viável no Brasil. Com base
nos estudos realizados, conclui-se
que existe um grande potencial de
se controlar B. tabaci biótipo B em
tomate no Brasil com o uso do ácaro
predador A. tamatavensis, dentro de
um programa de MIP.
Figura 2 - Efeito da liberação do ácaro predador
Amblyseius tamatavensis
no controle de mosca-branca em tomate. A liberação do
predador foi realizada um dia após a infestação inicial de mosca-branca, com adoção de 26 ácaros predadores/m2 de cultivo de tomate
José Chamessanga Álvaro
Raphael de Campos Castilho
Odair Aparecido Fernandes
FCAV/Unesp
C
C
32 Cultivar HF • Outubro / Novembro 2019
Escolha
compatível
Pera
Com bom potencial para se tornar uma alternativa de diversificação da produção
de frutíferas de clima temperado no Brasil, a expansão da cultura da pera muitas
vezes esbarra na dificuldade de se encontrar cultivares e porta-enxertos mais
adaptados às condições brasileiras
A
pera está entre as frutas de clima temperado de
maior interesse mundial, sendo a mais importada
pelo Brasil. O consumo do mercado interno é de
cerca de 210 mil toneladas, das quais, aproximadamente 90%
têm como origem Argentina, Chile e Portugal (FAO, 2017).
Isso ocorre devido à baixa produção brasileira, que está em
torno de 22.108 toneladas em uma área de 1.305 hectares,
fazendo com que o país ocupe o 46º lugar no ranking mundial
de produtores de pera.
A produtividade brasileira e a qualidade dos frutos são
consideradas baixas, não apresentando padrão adequado para
atender às exigências do mercado consumidor. A baixa pro-
dução de peras no Brasil vem sendo atribuída principalmente
à falta de cultivares que se adaptem às condições climáticas
não favoráveis à cultura.
Dessa forma, a produção de peras acaba concentrando-se
nas regiões que apresentam o mínimo de condições exigidas
pela cultura, sendo cinco os principais estados produtores,
onde ocorrem safras de fevereiro a abril: Rio Grande do Sul,
Santa Catarina, Paraná e São Paulo.
CULTIVARES ROCHA E SANTA MARIA
Dentre as principais cultivares de peras europeias que estão
apresentando produção e qualidade alta com maior adaptação
às condições climáticas das regiões produtoras do Sul do país
estão Santa Maria e Rocha.
As cultivares Santa Maria e Rocha estão cada vez mais
difundidas mundialmente pelas características atraentes que
compõem seus frutos, apresentando excelente resistência ao
manuseio e ao transporte, além de não perder sua qualidade
quando armazenadas, com indicações de cultivo principal-
mente na região Sul do país. O cultivo de pereira europeia
pode se tonar uma alternativa para diversificar a produção de
fruticultura de clima temperado e subtropical na região Sul.
Laís Cristina Bonato Malmann Nedilha
Outubro / Novembro 2019 • Cultivar HF 33
PORTA-ENXERTOS
PARA PEREIRAS
Para um bom desempenho das culti-
vares de pereiras é necessária a utilização
de porta-enxertos que contribuam para
um eficiente crescimento vegetativo
e produtivo. Porém, a falta de porta-
-enxertos adequados para as condições
edafoclimáticas da região Sul do país
está entre os maiores obstáculos para a
expansão da cultura.
No país, a maioria dos pomares é
formada por pereiras enxertadas sobre
marmeleiro (Cydonia oblonga Mill.), no
entanto algumas cultivares europeias
apresentam incompatibilidade quando
enxertadas sobre esta espécie, tornando-
-se necessário um aprofundamento no
entendimento de novas possíveis combi-
nações entre cultivares e porta-enxertos.
A compatibilidade dentro da espécie
e entre espécies depende da cicatrização
e regeneração dos tecidos no local da
união. Quando ocorre a incompatibili-
dade, há o impedimento da formação e
a funcionalidade dos feixes vasculares,
afetando a translocação de seiva e,
consequentemente, o crescimento e o
desenvolvimento da planta.
CONDIÇÕES EDAFOCLIMÁTICAS
PARA CULTIVO
A pereira é uma cultura de clima
temperado. Devido a isso, é indicada
para regiões de maiores altitudes e que
apresentem horas de frios homogêneas,
com temperaturas abaixo ou iguais a
7,2ºC. Estas regiões são mais propícias
para o desenvolvimento da espécie, for-
necendo as horas de frio necessárias para
superação da dormência. Este período
de dormência compreende o tempo
necessário de acúmulo de frio para que
as gemas formadas no outono brotem
adequadamente na primavera; Portanto,
selecionar a cultivar mais adequada para
cada condição edafoclimática é muito
importante para o sucesso do cultivo
de pereira.
LIMITAÇÕES DE CULTIVO
A escolha da cultivar é um fator
limitante para a produção, pois deve-se
considerar as necessidades em exigências
de frio de cada cultivar e outros aspectos
de manejo e comercialização, que irão
depender de cada região de produção.
O porta-enxerto possui influências
nas características vegetativas e produ-
tivas da copa, tendo grande importância
na adaptação aos fatores ambientais,
devido à ligação entre o solo e a cultivar,
podendo interferir na absorção de nu-
trientes, adaptando-se às características
físico-químico do solo. A escolha adequa-
da do porta-enxerto possibilita modificar
o tamanho e o vigor da planta. A redução
do crescimento vegetativo permite plan-
tios mais adensados, melhorando e faci-
litando o manejo do pomar. Selecionar o
porta-enxerto correto garante melhores
características de tamanho, vigor e supe-
ração de condições de estresse.
Além do marmeleiro, em alguns po-
mares as pereiras estão enxertadas sobre
porta-enxertos Pyrus calleryana (Decne),
que proporcionam plantas com alto vi-
gor e entrada mais tardia em produção.
Com o alto vigor dos porta-enxertos, as
cultivares de pereira europeia levam em
torno de seis a sete anos para começar
Figura 1 Figura 2
a produção e necessitam de drástica
intervenção no manejo da copa, carac-
terísticas indesejadas pelo fruticultor.
NOVOS PORTA-ENXERTOS
PARA PEREIRAS
No processo de seleção do porta-
-enxerto é importante levar em conta a
sua afinidade com a cultivar copa, bem
como a adaptação do conjunto copa/
porta-enxerto às condições de clima e
solo. Na busca por novas opções para
a cultura da pereira foram oferecidas
novas seleções de marmeleiro (Cydonia
oblonga), assim como de P. communis L.,
como os híbridos de Old Home x Far-
mingdale (OHF) nos EUA, podendo ser
opções para melhorar a produtividade,
a precocidade e a qualidade dos frutos
de algumas cultivares de pereiras euro-
peias. Os porta-enxertos da série OHF
se destacam por apresentar um grau
elevado de tolerância ao fogo bacteria-
no, considerado uma das doenças mais
graves em pereiras, tolerante a geadas,
resistência média ao pulgão e de seu vigor
classificado como semianão.
A seleção de P. communis L. também
foi utilizada para a obtenção do porta-
-enxerto CAV 3, desenvolvido pelo grupo
de Fruticultura do CAV/Udesc em 2012,
obtida a partir de sementes comerciais,
por meio da técnica de seleção massal,
em uma população de 320 seedlings
estabelecida em 2008.
A introdução de alguns novos porta-
-enxertos requer o conhecimento da
extensão e natureza das reações de
compatibilidade. Após o processo de
enxertia, ou seja, durante todo o perí-
odo de cicatrização e regeneração dos
tecidos, ocorre uma cascata de eventos e
sinalizações na planta que culminam em
diferentes respostas e efeitos fisiológicos.
Uma das possibilidades de verificar a
compatibilidade copa/porta-enxerto seria
pelo estudo de características ligadas
ao desenvolvimento inicial da planta,
sendo que a porcentagem de brotação
de gemas pode ser considerada uma das
mais importantes.
RESULTADOS E INDICAÇÕES
Foi conduzido um experimento na
área experimental do Departamento de
Agronomia da Universidade Estadual do
Centro-Oeste (Unicentro) no Campus
Cedeteg, situada em Guarapuava, Pa-
raná. Os tratamentos constituíram das
combinações das cultivares de pereira
(Santa Maria e Rocha) com os porta-
-enxertos (OHF 69, OHF 87 e CAV 3),
totalizando seis tratamentos. O deline-
amento experimental foi de blocos ao
acaso em esquema fatorial 2 x 3, com
quatro repetições e cinco plantas por
parcela experimental.
As avaliações de porcentagem de
brotação foram realizadas em dois ciclos
vegetativos, primeiro e segundo ano
da implantação do plantio, respectiva-
mente. As avaliações se iniciaram na
34 Cultivar HF • Outubro / Novembro 2019
Estágio de ponta-verde, brotação em pereiras com uso
de porta-enxertos e primeira floração antecipada
segunda quinzena de setembro de 2017
e na primeira quinzena de setembro de
2018, quando as plantas começaram a
brotação. Primeiramente foi feita a con-
tagem de gemas totais e a partir do início
da brotação (estádio fenológico de ponta
verde) foram realizadas avaliações sema-
nalmente até a estabilização da brotação,
que ocorreu na primeira quinzena de
outubro em 2017 e de outubro em 2018,
totalizando seis avaliações em 2017 e
cinco avaliações em 2018. Os resultados
foram expressos em porcentagem de
gemas brotadas.
Os resultados da avaliação de por-
centagem de brotação demostram que
houve efeito linear positivo em função do
tempo no primeiro ano de avaliação, para
ambas as cultivares (Figuras 1A e 1B). O
início da brotação (IB – 5%) ocorreu na
segunda quinzena de setembro, sendo
mais tardio para a combinação Rocha/
CAV 3 (Figura 1B).
No primeiro ano de avaliação (2017)
os maiores índices de brotação final re-
gistrados foram na combinação Rocha/
OHF 69 (92,28%) (Figura 1B) e Santa
Maria/OHF 69 (96,47%) (Figura 1A)
aos 35 dias após o início da brotação.
Conforme as equações do modelo
proposto (Figuras 1A e 1B), o porta-
-enxerto OHF 69, em ambas as cultiva-
res, atingiu 50% da brotação no menor
período de tempo, que foi de 16,5 e 12,6
dias para as cultivares Santa Maria e Ro-
cha, respectivamente. Já o porta-enxerto
OHF 87 obteve esse percentual aos 16,7
dias, para ambas as cultivares; e o porta-
-enxerto CAV 3 somente alcançou 50%
da brotação aos 23,5 e 18,8 dias, para as
cultivares Santa Maria e Rocha, respec-
tivamente.
No segundo ciclo de avaliação da
porcentagem de brotação, os valores
de percentual de brotação final foram
menores em comparação ao período
anterior, porém, a velocidade de brota-
ção foi maior (Figuras 2A e 2B). Como
pode-se observar, o porta-enxerto OHF
69 atingiu 50% da brotação no sexto dia
após o início, para ambas as cultivares,
Fotos Laís Cristina Bonato Malmann Nedilha
Laís Cristina Bonato Malmann Nedilha
UFPR
Janaina Marek
Engenheira Agrônoma, Doutora em Agronomia
(Produção Vegetal) e Pesquisadora
Leo Rufatto,
Udesc
Renato Vasconcelos Botelho
Unicentro
representando uma redução média de
oito dias.
A estabilização da brotação ocorreu
aos 35 dias (Figuras 1A e 1B) após o
início da brotação no primeiro ano de
avaliação, enquanto no segundo ano
a mesma ocorreu aos 28 dias (Figuras
2A e 2B). Esta redução no número de
avalições realizadas no segundo ano,
provavelmente se deu em função das
diferenças de condições climáticas após
o início da brotação.
No segundo ciclo de avaliação nova-
mente foi observado um aumento linear
da brotação em função do tempo, para
ambas as cultivares (Figuras 2A e 2B).
A formação dos brotos, das estruturas
reprodutivas e a eficiência produtiva são
fortemente influenciadas pela transloca-
ção de seiva via xilema e floema, os quais
podem ser afetados pelo porta-enxerto
utilizado. Neste contexto, nota-se que
o porta-enxerto CAV 3, em ambas as
cultivares avaliadas, não apresentou bom
desempenho nas duas avaliações.
Percebe-se que o porta-enxerto CAV
3 foi o que proporcionou a porcentagem
de brotação mais lenta em ambas as
cultivares avaliadas, sendo que aos 35
dias após o início da brotação na pri-
meira avaliação, a cultivar Santa Maria
apresentou 86,15% e a cultivar Rocha,
82,24% de brotação (Figuras 1A e 1B), e
aos 28 dias após o início da brotação, na
segunda avaliação, a cultivar Santa Maria
apresentou 68,48% e a cultivar Rocha,
61,25% de brotação (Figuras 2A e 2B).
Durante todo o período de avaliação,
que compreendeu de setembro/2017 a
novembro/2018, pôde-se perceber que
as condições de clima foram favoráveis
ao desenvolvimento inicial das plantas,
apresentando temperaturas médias
mínima e máxima, de 11,9ºC e 22,5°C,
respectivamente, com precipitação
acumulada de 1.275,9mm e 834,6mm,
totalizando 2.110,5mm acumulados
durante os 14 meses de condução do
experimento.
Após um ano de adaptação das
plantas às condições edafoclimáticas na
região em estudo, a quantidade de horas
de frio acumuladas durante os meses de
maio a setembro de 2018 foi de 481,3
UF (Unidades de Frio), calculadas
de acordo com o Método Carolina do
Norte Modificado, que correspondeu a
276 horas de frio (≤ 7,2ºC) acumuladas
pelas plantas durante o período hibernal.
Conforme observado, entre as seis
combinações avaliadas, apenas as combi-
nações Rocha/OHF69 (92,51%), Santa
Maria/OHF (90,28%) e Rocha/OHF87
(86,53%) atingiram a brotação máxima
(BM ≥ 80%). Tal fato indica que estas
combinações melhores se adaptaram
às condições edafoclimáticas neste pri-
meiro ciclo de desenvolvimento e que
possivelmente o porta-enxerto OHF
69, tanto para a cultivar Rocha quanto
para a cultivar Santa Maria, bem como
o porta-enxerto OHF 87 sob a cultivar
Rocha, proporcionaram a redução da
quantidade de horas de frio exigidas
por estas cultivares, classificadas como
europeias.
As avaliações de desenvolvimento
vegetativo inicial, assim como nas fases
fenológicas da cultura, representam uma
importante ferramenta para verificar
a adaptação às condições climáticas.
Permitindo, deste modo, selecionar a
melhor combinação da cultivar copa e
porta-enxerto, uma vez que o cultivo de
pereira é uma excelente alternativa para
a diversificação da fruticultura na região.
A brotação de gemas tende a ser mais
uniforme após as plantas suprirem o frio
Outubro / Novembro 2019 • Cultivar HF 35
necessário para cada genótipo. Diante
disto, a lenta evolução da brotação do
porta-enxerto CAV 3, em ambas as cul-
tivares e nos dois anos, possivelmente
pode ter ocorrido pela maior exigência
em frio do porta-enxerto em relação aos
demais. Provavelmente, isto ocasionou
menor porcentagem de gemas brotadas,
apesar da uniformidade observada.
A escolha do porta-enxerto deve levar
em consideração, portanto, a adaptabili-
dade da combinação entre copa e porta-
-enxerto às condições edafoclimáticas,
além do seu efeito em reduzir o vigor da
cultivar copa, a fim de garantir melhor
desenvolvimento e maiores produtivi-
dades.
Entre as frutas de clima temperado de maior interesse
mundial, a pera desponta como a mais importada pelo Brasil
C
C
Batata
36 Cultivar HF • Outubro / Novembro 2019
Os afídeos são pragas-chave na cultura da batata.
Alguns autores consideram os afídeos ou pulgões
(Homoptera: Sternorryncha: Aphididae) como
o principal grupo de insetos-praga das áreas agrícolas que se
localizam na zona temperada, graças à possibilidade de se
reproduzirem por partenogênese telítoca, provocar danos
diretos (injeção de toxinas, redução de tamanho pela sucção
de seiva) e indiretos (aparecimento de fumagina graças à
secreção de fezes açucaradas ou honeydew). No entanto, o
principal dano se dá pela transmissão de vírus vegetais.
Estes danos diretos se correlacionam com densidade
populacional ou número de insetos em campo. Contudo, os
indiretos dizem respeito à transmissão de vírus com caráter
de associação não persistente e persistente (vide quadro),
comuns em material de propagação vegetativa, no caso a
batata-semente.
Atualmente acredita-se que 70% dos fitovírus trans-
mitidos por insetos vetores são disseminados por afídeos.
Mas por que esta facilidade na transmissão de fitovírus? Os
afídeos obedecem perfeitamente alguns pré-requisitos para
serem bons vetores: possuem alta mobilidade, conseguindo
se deslocar a grandes distâncias quando em voos migratórios;
o comportamento alimentar é totalmente diferente de outros
homópteros que dilaceram as células hospedeiras do vírus,
ao contrário de Auchenorrincha (cigarrinhas), os afídeos
são mais delicados e perpetuam a célula buscando o floema
intercelularmente; são extremamente polífagos, possuem
uma alta gama de hospedeiros alternativos para se alimentar
e são estrategistas R, desta maneira possuem alta fecundidade
(partenogênese); possuem um ciclo de vida curto (alguns
dias, dependendo da temperatura), são colonizadores (se
fixam à planta depois da escolha e se reproduzem em altos
índices) e finalmente são multivoltinos (várias gerações du-
rante uma cultura).
PRINCIPAIS ESPÉCIES NA CULTURA
As principais espécies que se encontram na cultura de
batata são: Aphis gossypii, Aulacorthum solani, Brevicoryne
brassicae, Macrosiphum euphorbiae e Myzus persicae, sendo
estas últimas duas espécies as de maior importância no pro-
cesso de transmissão, principalmente pelo fato de colonizar as
plantas de batata (residentes da cultura) enquanto as demais
Outubro / Novembro 2019 • Cultivar HF 37
Vetores
de danos
Os adultos possuem corpo ovalado
com aproximadamente 2mm de com-
primento. As ninfas se assemelham
muito aos adultos, no entanto, a forma
é mais achatada e mede entre 1mm
- 1,5mm. As formas ápteras são de
coloração verde-clara. Adultos alados
são verdes, com cabeça, antena e tórax
pretos, se reproduzem por partenogêne-
se telítoca, sem participação do macho,
gerando em torno de 80 indivíduos/
fêmea. Atacam preferencialmente as
folhas em todo o desenvolvimento
vegetativo.
Os prejuízos são de ordem direta,
resultado da sucção contínua de seiva,
e indireta, pela transmissão de vírus.
Os danos mais severos são decorrentes
das doenças que têm esses vírus como
agente causal. Destacam-se o vírus
do mosaico da batata (Potato virus Y -
PVY), o vírus A da batata (Potato virus
A - PVA) e o vírus do enrolamento da
folha da batata (Potato leafroll virus -
PLRV). As perdas por degenerescência
provocadas por esses patógenos podem
variar de 40% a 100%.
Outras culturas hospedeiras de
importância econômica são cebola,
amendoim, beterraba, melão, pepino,
melancia, mamão, soja, algodão, feijão,
tabaco, alface, tomate, pimentão, milho,
berinjela e trigo, entre outras culturas.
Macrosiphum euphorbiae (Thomas,
1878) ou pulgão-grande-da-batatinha,
pulgão-verde-escuro-da-batata
Seus adultos ápteros medem aproxi-
madamente 1,7mm a 3,6mm de com-
primento e sua forma imatura possui
coloração mais pálida e olhos averme-
lhados, antenas com extremidades mais
escuras ou por completo e sifúnculos
Além de provocar prejuízos diretos à cultura da batata,
afídeos transmitem vírus causadores de severos prejuízos.
Por isso, mais que apenas controlar o inseto é necessária
uma série de medidas que evitem a disseminação dos
patógenos nas áreas de produção
espécies são migratórias e/ou visitantes.
M. persicae é considerada a espécie mais
importante no processo de transmissão,
pois apresenta um componente auxiliar
(HCPro), responsável por aumentar o
potencial vetorial.
Atualmente, a infecção por fitovírus
em batata vem crescendo em importân-
cia nas lavouras de Minas Gerais, São
Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul.
Durante o ano todo, a presença de inú-
meras plantas alternativas que servem
como hospedeiras tanto para o inseto-
-vetor quanto para os fitovírus favorece
a disseminação e o estabelecimento de
viroses nas áreas de produção.
BIOECOLOGIA DE AFÍDEOS
Myzus persicae (Sulzer, 1776) ou
pulgão-verde-da-batata, pulgão-verde-
-do-pessegueiro
Fernando Sanhueza Salas
com pontas escuras. Os adultos alados medem cerca de 3mm
a 4mm de comprimento. São visivelmente maiores que as
formas ápteras, com seus sifúnculos e antenas mais escuros
que os dos insetos ápteros. Nas formas aladas, as antenas são
maiores que o corpo. Atacam as folhas, o caule, os ramos e os
frutos durante todo o ciclo de desenvolvimento da cultura.
Os prejuízos provocados se constituem em um dos danos
diretos pela sucção de seiva e injeção de toxinas. Esse pulgão
é vetor de fitovírus de característica não persistente: Papaya
ringspot virustype watermelon (PRSV-W), Zucchini yellow
mosaic virus (ZYMV), Potato virus Y (PVY), Cucumber mosaic
virus (CMV).
Outras culturas conhecidas como hospedeiras da espécie
são beterraba, rabanete, pimenta, pimentão, Citrus spp., pepi-
no, melancia, gladíolo, morango, feijão, algodão, alface, rosa,
batata-doce, tomate, berinjela, trigo, caupi, videira e milho.
APARELHO BUCAL E HÁBITO ALIMENTAR
O aparelho bucal dos pulgões e a forma de alimentação
são fatores importantes que permitem a habilidade vetora
do inseto desse aparelho bucal. É do tipo picador-sugador,
sendo adaptado para a penetração de tecidos e a extração
de nutrientes. É formado por dois pares de estiletes (man-
dibulares e maxilares), um labium e um labrum. O labrum
é curto, cobrindo a base dos feixes estiletares, possuindo na
sua superfície interna um sulco longitudinal que direciona o
feixe estiletar. O labium (rostro ou probóscide), é um órgão
segmentado em forma de calha e quando não está sendo uti-
lizado na alimentação, está posicionado na região ventral do
inseto. Os fluidos são succionados através do canal alimentar
e a saliva secretada pelo canal salivar. O sistema salivar é for-
mado por um par de glândulas principais e duas acessórias,
enquanto o canal alimentar é formado pelo próprio canal
oriundo dos estiletes, a bomba de sucção e do tubo digestivo
dividido em estomodeu, mesêntero e proctodeu.
A atividade estiletar durante a penetração e mesmo a
sua salivação e ingestão de fluidos já foram amplamente
estudadas através do monitoramento eletrônico de gráficos
(EPG – Electrical penetration graphs), mostrando que o
pulgão possui pelo menos quatro fases de secreção salivar
durante a penetração dos estiletes na planta: secreção intra-
celular, salivação intracelular, salivação no interior dos vasos
crivados do floema e salivação associada à ingestão de seiva
do floema. Também se sabe que há dois tipos de saliva en-
volvidos na fase de secreção intracelular. A saliva gelificante,
que auxilia a bainha salivar, recobrindo e dando suporte ao
estilete e formando dutos intercelulares que evitam ações
de defesa das plantas, como a formação de caloses e ação
de proteinases P. Outras funções são lubrificá-lo durante
a penetração, conferindo a rigidez necessária. Esta saliva
acaba sendo substituída periodicamente, graças à secreção
de gotas no extremo terminal, deixando marcado o caminho
seguido pelo estilete. Estas gotículas também são úteis para
selar os orifícios de inserção dos estiletes maxilares preser-
vando a viabilidade da célula nas picadas de prova, ou seja,
na transmissão de vírus não persistentes como o vírus do
mosaico da batata (Potato Y virus – PVY). A saliva aquosa é
utilizada na digestão dos tecidos e na própria lubrificação
dos estiletes, sendo que nas demais fases da secreção salivar,
está envolvida no processo de ingestão-egestão, em que po-
dem ser trocadas determinadas substâncias entre o inseto e
a planta hospedeira, inclusive fitovírus (principalmente os
de floema, como o vírus do enrolamento da folha da batata
Potato leafroll virus, PLRV). Apesar de no início das pes-
quisas relacionadas com insetos vetores se pensar que esta
interação se dava muito superficialmente, atualmente se sabe
que é um processo muito mais complexo, desde a escolha
da planta até o próprio processo de penetração estiletar e
transmissão do patógeno.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O controle de pulgões é desafiador, uma vez que não se
trata apenas do controle do inseto, mas sim de uma série
de medidas que evitem a disseminação dos patógenos nas
áreas de produção.
A utilização de material sadio e certificado evita que as
próprias plantas cultivadas sirvam como fonte de infecção
primária, ou seja, ofereça patógenos para que outra plantas
do mesmo local sejam contaminadas. A infecção ocorre a
partir da fonte de inóculo externa, por meio de revoadas ou
voos migratórios de insetos, quando virulíferos e principal-
mente alguns indivíduos que colonizaram hospedeiras em
áreas adjacentes à área plantada.
Uma vez que a área é iniciada sem fonte de inóculo (plan-
tas sadias), a preocupação é evitar que o patógeno chegue à
área, ou seja, evitar que insetos contaminados se alimentem
e colonizem as plantas de batata.
30 Cultivar HF • Outubro / Novembro 201938 Cultivar HF • Outubro / Novembro 2019
Figura - Principais tipos de onda envolvidos no comportamento alimentar de afídeos (Adaptado de Garzo, 2002)
monitorando da resistência de insetos
a inseticidas, nesse caso as espécies de
pulgões, principalmente quando consi-
derado o elevado número de aplicações
para o controle de uma praga que possui
ciclo curto e potencial de reprodução
assexuada.
O único método eficaz para detectar
a presença de pulgões na área é por
meio de monitoramento. Embora es-
tudos tentem demonstrar a flutuação
populacional das espécies de acordo
com o estágio fenológico da cultura,
essa dinâmica é facilmente afetada por
condições do ambiente e não servem
como parâmetros seguros para a tomada
de decisão.
O monitoramento deve ser realizado
por meio da observação de plantas alea-
tórias no talhão, tomando toda a planta
como unidade de amostra, pois embora
os pulgões apresentem preferência por
brotações novas, muitas vezes podem
estar localizados em folhas mais velhas
na parte mais baixa (protegida). Por
se tratar de espécies vetoras, e não ser
possível determinar a campo (de uma
forma rápida e segura) o percentual de
insetos contaminados, não há nível de
controle definido. Cabe salientar que
os voos de pulgões em busca de novas
plantas possuem distância média de
100m, o que indica que em condições
de ventos moderados a infestação terá
início pela bordadura, onde o monito-
ramento deve ser intensificado.
O controle químico, por meio da
utilização de produtos sistêmicos, é
uma medida eficiente para o controle,
mas isoladamente não representa solu-
ção. Devem ser utilizados, sempre que
possível, produtos com seletividade a
inimigos naturais, como parasitoides,
por exemplo, que representam uma fer-
ramenta natural de controle de pulgões.
Outra medida importante é o con-
Outubro / Novembro 2019 • Cultivar HF 39
C
C
A
batata,
Solanum tuberosum
L., é uma espécie da família Solanace-
ae originária da região andina, com mais de quatro mil variedades
comestíveis, cultivadas em 130 países. Trata-se da terceira maior fonte de
alimento para o ser humano, atrás apenas do arroz e do trigo. O Brasil
representa o 11° país no mundo quanto à produtividade, com 279.410kg/
ha, sendo a hortaliça mais importante, com uma produção anual de apro-
ximadamente 3,5 milhões de toneladas em uma área de cerca de 130 mil
hectares. O agronegócio da batata envolve em torno de cinco mil produtores
em 30 regiões de sete estados brasileiros (Minas Gerais, São Paulo, Paraná,
Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Goiás e Bahia) - Associação Brasileira
da Batata (ABBA). O cultivo é dividido em três épocas de plantio: das secas
(janeiro a abril); de inverno (maio a julho) e das águas (agosto a dezembro).
O fato deste tubérculo ser plantado de maneira contínua ajuda muito na
perpetuação tanto de insetos como de patógenos, destacando-se: I) fungos
(requeima, pinta-preta, fusariose); II) bactérias (canela-preta, murchadeira);
III) vírus (PVYO, PVYN, PVYC, PVYNTN, PVY N-Wi PLRV,
Begomovírus
ToSRV e
Crinivírus
– ToCV); IV) insetos (vaquinha, mosca-minadora, afídeos
e “mosca-branca”, estes dois últimos responsáveis pela disseminação de
fitovírus) e; V) nematoides (
Meloidogyne
e
Pratylenchus
).
Batata e desafios fitossanitários
Tabela 1 - Principais afídeos vetores de vírus e sintomas apresentados por batata
Vírus
Potato leafroll virus
Potato virus
A
Potato virus
S
Potato virus
Y
Sigla
PLRV
PVA
PVS
PVY
Transmissão
Afídeos (C)*, enxertia, semente
Afídeos (NC), semente
Afídeos (NC), contato, semente
Afídeos (NC), contato, semente
Espécies vetoras
Aphis fabae, A. gossypii, Aulacorthum solani,
Macrosiphum euphorbiae, Myzus persicae
A
. frangulae, A.nasturtii, Metopolophium dirhodum,
M. persicae, M. euphorbiae, Sitobion avenae
A. fabae, A. narsturtii, M. persicae
e
R. padi
M. persicae, M. euphorbiae
e
R. padi
(+15 espécies)
Sintomas em batata
Enrolamento de folhas, amarelecimento, nanismo, deformação foliar
Mosaico suave e deformação foliar, latência
Clorose leve, mosqueado, enrrugamento de superficie e deformação nas
margens das folhas
Mosqueado, mosaico, pontos cloróticos, deformação foliar, necrose. Os
sintomas variam dependendo do isolado do vírus
* NC (Não circulativo – Não persistente e semipersistente) e C (Circulativo – persistente não propagativa e persistente propagativa)
trole de plantas voluntárias no período
de entressafra, bem como o controle de
plantas daninhas dentro e fora da área
de plantio, de forma a reduzir hospedei-
ros que permitem a multiplicação tanto
dos vírus quanto dos vetores.
Inúmeros pesquisadores têm discu-
tido amplamente o Manejo Integrado
de Pragas na cultura de batata (MIP-
batata) e determinam como principal
problema a quebra de paradigmas,
incentivando a utilização integrada
das ferramentas de controle (químicas,
culturais, biológicas, comportamentais
etc). Outra necessidade evidente é o
Fernando Sanhueza Salas,
Instituto Biológico de São Paulo
Cristiane Müller,
Corteva AgroScience
Thiago Navarro,
Instituto Biológico de São Paulo
Regiane Oliveira,
Unesp
ABCSEM
Associação Brasileira do Comércio de Sementes e Mudas
Nunca foi tão rápido registar
um agroquímico no Brasil.
A quantidade de registros
vem aumentando significativamente
nos últimos quatro anos. Neste ano,
até o mês de maio foram aprovados
169 produtos, número que supera o
total de 2015, e é 14% superior ao do
mesmo período do ano passado, quan-
do se iniciou a “agilização” da avaliação
de processos. O Governo afirma que o
número de registros aumentou porque
o sistema ficou mais eficiente, sem per-
der o rigor de avaliação; que a quanti-
dade de substâncias novas aprovadas é
mínima, e que os químicos são seguros
se forem usados corretamente. Isso
porque a maioria dos produtos aprova-
dos é composta por “genéricos”, cujas
moléculas principais já estão à venda,
e cuja aprovação é aguardada há anos,
em uma imensa fila de processos. Com
essa agilização de aprovações, espera-
-se que haja uma maior concorrência
entre as empresas de agroquímicos, e
com isso, a diminuição de preço dos
produtos e, consequentemente, que
os produtores possam ter maior viabi-
lidade nos seus plantios.
Esse cenário tem preocupado ati-
vistas do meio ambiente e da saúde.
Afirmam que a liberação de mais agro-
químicos, ainda que não inéditos, acar-
retaria em uma aplicação mais intensa
pelos agricultores. Porém, indústria e
Embrapa afastam essa possibilidade. O
produtor não vai usar mais produtos
porque estão mais baratos. Os insu-
mos, entre eles os defensivos, estão
entre os maiores custos da produção,
por isso o produtor quer mais é reduzir
registro dificulta um manejo adequado
das aplicações dos agroquímicos na
lavoura, visto que o agricultor não tem
parâmetro a respeito, como período de
carência e concentração do produto a
ser utilizado naquela cultura. Por esse
motivo que o setor defende a agilização
de registros e extensões de uso.
De acordo com o Programa de
Análise de Resíduos de Agrotóxicos
em Alimentos (Para) da Anvisa, o
risco agudo das CSFIs é baixo; porém,
em contrapartida a não conformidade
encontrada ainda é elevada, devido,
principalmente, à detecção de resíduos
de agroquímicos não registrados para
as culturas. Ainda com referência aos
defensivos não autorizados (NA),
representam aproximadamente 85%
dos resultados insatisfatórios. Uma vez
que não existem estudos que possibi-
litem estabelecer, em âmbito nacional,
limites de resíduos que representem
segurança aos consumidores para esses
produtos, qualquer resultado “NA
encontrado nas análises do Para pode
significar risco à saúde. É evidente que
os agroquímicos precisam ser utilizados
na agricultura com a finalidade de
proteger as plantações e garantir uma
colheita mais segura e saudável para
todos. A redução do nível de irregula-
ridades precisa ser focada na aplicação
das boas práticas agrícolas, com conse-
quente ganho na segurança alimentar
do produto final e na qualidade de
vida do próprio produtor rural e dos
consumidores envolvidos.
Cenário real
As alterações nos registros de agroquímicos, a maior oferta para culturas de suporte fitossanitário
insuficiente, as preocupações ambientais e a necessidade de focar em boas práticas agrícolas
seu uso.
O Brasil é o maior consumidor de
defensivos do mundo em números ab-
solutos. Mas perde para Japão, União
Europeia e Estados Unidos quando
são levadas em conta duas variáveis:
a quantidade de alimento produzida
e a área plantada. Nesses casos, a apli-
cação pelo país é proporcionalmente
menor. O Brasil é o 3º maior exportador
agrícola do mundo. Os dados são da
Organização das Nações Unidas para
Alimentação e Agricultura (FAO),
apresentados em seu informe anual
no ano passado. No ranking de uso
por hectare de lavoura, o Brasil foi o 7º
naquele ano, com gasto equivalente a
111 dólares. O Japão, líder do ranking,
aplicou 455 dólares. Já por tonelada de
alimento produzido, o Brasil foi o 13º,
com 8 dólares. O Japão, novamente
na liderança, gastou 95 dólares. Além
disso, o Brasil é um país tropical, cujo
inverno não é rigoroso o suficiente
para interromper os ciclos de pragas e
patógenos, como ocorre nos países de
clima temperado; portanto, o mesmo
clima favorável que possibilita ao Brasil
colher duas safras por ano, favorece a
ocorrência de pragas e doenças.
A agilização dos processos de regis-
tro de produtos “genéricos” e de novas
fórmulas é fundamental na produção
das chamadas “culturas de suporte
fitossanitário insuficiente”, as minor
crops. Para essas, não há ou há pouquís-
simas opções de produtos registrados
para manejo e controle de pragas e
doenças. São enquadradas como CSFIs
boa parte das frutas e hortaliças e ainda
alguns cereais e leguminosas. A falta de
C
C
Mariana Ceratti,
Consultora da ABCSem pela Projeto Agro
Cultivar HF • Outubro / Novembro 201940
ASSOCITRUS
Associação Brasileira dos Citricultores
O
Fundecitrus apresentou
no dia 10 de setembro de
2019 a primeira reestima-
tiva da safra de laranja do cinturão
citrícola de São Paulo e Triângulo
Mineiro, onde se concentram a pro-
dução e o processamento brasileiro de
laranjas.
A reestimativa indica a produção
de 388,42 milhões de caixas, uma
redução de apenas 0,12% em relação
à estimativa de maio de 2019. É impor-
tante relembrar que na safra anterior
a produção foi de 285,98 milhões de
caixas e o crescimento da produção
de 36% foi decorrente das condições
climáticas favoráveis no final de 2018
até maio de 2019.
Nesta safra, as condições climá-
ticas a partir de maio estão bastante
desfavoráveis. A maior parte da região
citrícola está sofrendo com uma in-
tensa seca, com redução de chuvas de
32% no cinturão citrícola em relação
à média histórica. Em algumas áreas a
redução atingiu 69%.
Além da seca, as temperaturas ex-
tremamente altas deverão intensificar
as quedas e a perda de peso da laranja,
o que deverá aumentar significati-
vamente a taxa de queda de frutos
estimada em 17,5%. Por outro lado,
estas condições climáticas deverão ter
um grande impacto na próxima safra,
o que já se previa em virtude de a bia-
nualidade ser menor, mas devido ao
estresse da grande produção da safra
que nada mudou no comportamento
das grandes processadoras envolvidas
no processo e que os métodos usados
pelo cartel desde o início da década
de 1990 continuam a ser utilizados
impunemente.
Existem ainda outras distorções
como o diferencial de preços pagos aos
citricultores nos dois principais produ-
tores de laranja para processamento:
enquanto na Flórida os citricultores re-
cebem 15 dólares a 17 dólares por caixa
de laranja, os citricultores do cinturão
citrícola paulista recebem menos de 5
dólares por caixa, uma diferença que
só se explica pelo poder econômico,
político e de mercado do cartel, que
impõe os preços independentemente
dos fundamentos do mercado. Outra
distorção refere-se à cotação do suco de
laranja na Bolsa de NY: ao comparar
o valor do suco na Bolsa com o valor
da laranja pago aos citricultores da
Flórida, verifica-se que, ao contrário do
que seria esperado, o valor da matéria-
-prima, a laranja, é maior que o dobro
do valor do suco no mesmo mercado!
Os danos causados pelo cartel não
se limitam à apropriação da renda dos
citricultores, vão muito além. Quando
se analisa o setor com mais profun-
didade, encontram-se perdas fiscais,
cambiais e econômicas que afetam a
economia do País.
Distorções
no mercado
Em meio às condições climáticas desfavoráveis à safra de laranja, citricultores enfrentam
também as perdas impostas pela redução dos preços contratados
atual, a intensa seca e as altas tem-
peraturas têm abortado as florações
e intensificado a queda de frutinhos.
Essa reestimativa foi feita quando
aproximadamente 30% da safra havia
sido colhida. Há ainda 70% da safra,
que será colhida em condições bas-
tante desfavoráveis e tudo indica que
o período de colheita será mais longo
em função do tamanho da safra, o que
deverá aumentar a queda de frutos,
principalmente para os citricultores
independentes, pois a indústria prio-
riza a colheita dos pomares próprios.
Estima-se ainda, para os fornecedo-
res, dificuldades na contratação de
colhedores e transportadores, pois a
demanda deverá aumentar e a concor-
rência com a indústria, cuja fruta tem
prioridade no recebimento, fatalmente
implicará aumento de preços de colhei-
ta e transporte.
Apesar deste cenário nada anima-
dor, as processadoras de laranja, que
já confessaram a atuação cartelizada
e assumiram o compromisso de cessar
as práticas em processo encerrado em
28/2/2018 no Conselho Administrati-
vo de Defesa Econômica (Cade), estão
impondo aos citricultores a redução
dos preços contratados de R$ 20,00
para R$ 18,00 por caixa. Outra não
autoriza a colheita ou impõe limites
severos à colheita da fruta contratada,
mas aceita a fruta entregue a preços
significativamente abaixo dos valores
contratados. Essa atuação demonstra
C
C
Outubro / Novembro 2019 • Cultivar HF 41
Flávio Viegas,
Associtrus
ABBA
Associação Brasileira da Batata
O
consumo de batata no Brasil mudou nas últimas
duas a três décadas? A quantidade total mudou
pouco, mas a forma de consumo alterou radical-
mente.
No final do milênio, a produção nacional total era de 2,5
milhões de toneladas a três milhões de toneladas (150 mil hec-
tares). Predominava a compra de batatas frescas para cozinhar
com carne, fazer “maionese” e também sopas. Também era
comum em casamentos comprar um saco (naquela época, de
60kg) e fazer picles. Considerando que a população do país era
de 100.000.000 de habitantes, é possível concluir que o con-
sumo anual era de 20kg/pessoa a 25kg/pessoa, ou seja, 1,5kg/
pessoa/mês a 2kg/pessoa/mês ou 50g/pessoa/dia – equivalente a
um tubérculo do tamanho de uma bolinha de pingue-pongue.
Em 2018, estima-se que a produção nacional destina-
da ao consumo da batata fresca seja de aproximadamente
2.000.000 de toneladas. Considerando que a população
brasileira dobrou, conclui-se que o consumo anual é de 10kg/
pessoa - 0,8kg/mês - 30g/dia – equivalente a um tubérculo do
tamanho de uma azeitona preta. Na região Sul, o consumo
de “maionese” continua, porém aumentou gradativamente
a ingestão de batata chips e palha – estimativa atual de 60
mil toneladas/ano, o equivalente a 300g/pessoa/ano – 25g/
mês – menos de 1g/dia. Transformado em batata fresca, o
consumo equivale a 1,2kg/pessoa/ano – 100g/mês – 3g/dia –
equivalente a um grão de milho.
A grande mudança passou a ser o consumo de batatas
pré-fritas congeladas. Em 2018 foram consumidos 530.000
toneladas sendo 200.000 nacional e 330.000 importados. Este
volume total corresponde a 2,5kg/pessoa/ano – 2kg/mês – 70g/
dia – equivalente ao tamanho de um ovo de galinha caipira.
Por que reduziu o consumo de batata fresca? Por que o
consumo de batata chips estagnou? Por que o consumo de
batata-palha cresceu? Por que o consumo de batata pré-frita
cresceu mais ainda? A seguir, algumas comparações que
ajudam a esclarecer as perguntas:
etc. Estas “sensações” são intrínsecas às variedades, ou seja,
dependem da composição e não da aparência.
Então, quem define as variedades? A resposta desta
pergunta justifica o que tem ocorrido.
As indústria de chips e palha utilizam variedades que
resultam em produtos crocantes e sequinhos. Atualmente
o consumo de batata-palha vem crescendo por estar sendo
incluída em cachorro-quente, estrogonofe, restaurantes por
quilo e churrascarias. O consumo de chips vem se man-
tendo estável, provavelmente devido ao excesso de oferta
e concorrência.
O maior crescimento tem ocorrido em batatas pré-fritas
congeladas. Além do uso de variedades que resultam em
produtos sequinhos e crocantes, a indústria oferece inúmeras
alternativas de cortes que despertam a curiosidade e a satis-
fação de muitos consumidores. Outro fator que impulsiona
o consumo é a satisfação de quem compra os produtos - ba-
res, restaurantes, lanchonetes, domicílios. A praticidade, a
versatilidade, a conservação e o custo-benefício contribuem
para o sucesso dos comerciantes.
A retração do consumo de batata fresca está relacionada
a inúmeros fatores, porém não há dúvidas de que o processo
de seleção está interferindo negativamente, pois os comer-
ciantes buscam em primeiro lugar o lucro e não a satisfação
dos consumidores. Como mudar o processo de seleção? É
simples – basta o governo criar legislações e obrigar que os
consumidores finais tenham acesso a informações úteis. A
mais importante é a aptidão culinária da batata – cozida,
assada, purê, chips, palito etc.
O mesmo deve ser exigido para diversos produtos como
alho (forte ou fraco), jiló (amargo ou não), laranja (doce ou
azeda), limão (com suco ou seco), tomate (doce ou azedo),
melão (doce ou sem graça), pimenta (forte, média, fraca),
pepino (indigesto ou não), pipoca (estoura ou falha), man-
dioca (dura ou mole) etc. Tem que ser obrigatório informar
com palavras de fácil compreensão. Alguns produtos são
autoexplicativos, como banana nanica e prata, goiaba bran-
ca e vermelha, alface crespa e lisa, repolho verde ou roxo,
cenoura, quiabo, nabo branco, jaca etc.
Mudanças no consumo
Entenda as alterações no mercado de batata ao longo das últimas décadas no Brasil
C
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Natalino Shimoyama,
ABBA
Cultivar HF • Outubro / Novembro 201942
Itens
Quem define as variedades
Critério de Seleção
Satisfação do Consumidor
Consumo
Fresca
Atacadistas e Varejistas
Beleza Externa
Não
Retração
Chips e Palha
A Indústria
% sólido
Sim
Crescimento
Pré-frita
A Indústria
% sólido
Sim
Crescimento
Item
Praticidade
Atratividade
Conservação
Satisfação
Fresca
Não
Não
Não
Não
Chips
Sim
Sim
Sim
Sim
Palha
Sim
Sim
Sim
Sim
Pré-frita
Sim
Sim
Sim
Sim
Um fator relevante e decisivo para justificar o comporta-
mento dos consumidores está diretamente relacionado à sua
sensibilidade, ou seja, à satisfação ao consumir a batata. As
pessoas distinguem naturalmente o que é gostoso ou ruim,
o que é crocante ou flácido, o que é sequinho ou encharcado
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