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Bilinguismo e reconhecimento de fala no silêncio e no ruído em adultos

Authors:

Abstract

Método Participaram da pesquisa 87 indivíduos entre a faixa etária de 18 e 55 anos de idade, normo-ouvintes, os quais foram distribuídos em: grupo controle, composto de 30 monolíngues falantes do português brasileiro; grupo estudo alemão, 31 bilíngues simultâneos falantes do português e do alemão como segunda língua; grupo estudo italiano, formado por 26 bilíngues sucessivos, falantes do português e do italiano como segunda língua. Por meio do teste Listas de Sentenças em Português Brasileiro, foram obtidos seus Limiares de Reconhecimento de Sentenças no Silêncio e no Ruído. Resultados No silêncio, não houve diferenças estatisticamente significantes de desempenho tanto quando comparados os indivíduos bilíngues e monolíngues como quando comparados os grupos bilíngues. Por sua vez, no ruído, verificou-se diferença significante entre os grupos bilíngues, em relação ao monolíngue. Entretanto, quando comparado o desempenho dos grupos bilíngues, não se observou diferença significante entre eles. Conclusão O bilinguismo influenciou positivamente o desenvolvimento de habilidades auditivas, que repercutiram em desempenhos superiores dos bilíngues no reconhecimento de fala na presença de ruído, e o período de aquisição da segunda língua não influenciou o desempenho dos bilíngues.
Artigo Original
Original Article
Ferreira et al. CoDAS 2019;31(5):e20180217 DOI: 10.1590/2317-1782/20192018217 1/6
ISSN 2317-1782 (Online version)
Este é um artigo publicado em acesso aberto (Open Access) sob a licença Creative Commons Attribution, que permite
uso, distribuição e reprodução em qualquer meio, sem restrições desde que o trabalho original seja corretamente citado.
Bilinguismo e reconhecimento de fala no
silêncio e no ruído em adultos
Bilingualism and speech recognition in silence
and noise in adults
Geise Corrêa Ferreira1
Enma Mariángel Ortiz Torres1
Michele Vargas Garcia1
Sinéia Neujahr Santos1
Maristela Julio Costa1
Descritores
Bilinguismo
Adulto
Testes Auditivos
Percepção da Fala
Testes de Discriminação da Fala
Keywords
Bilingualism
Adult
Hearing Tests
Speech Perception
Speech Discrimination Tests
Endereço para correspondência:
Geise Corrêa Ferreira
Rua Floriano Peixoto, 1750, Santa
Maria (RS), Brasil, CEP: 97015-372.
E-mail: geisecorrea@gmail.com
Recebido em: Outubro 04, 2018
Aceito em: Fevereiro 21, 2019
Trabalho realizado no Programa de Pós-graduação em Distúrbios da Comunicação Humana, Universidade
Federal de Santa Maria - UFSM – Santa Maria (RS), Brasil.
1 Universidade Federal de Santa Maria – UFSM - Santa Maria (RS), Brasil.
Fontes de nanciamento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES; Número
do Processo: 42002010017P9.
Conito de interesses: nada a declarar.
RESUMO
Objetivo: Comparar a habilidade de reconhecimento de sentenças no silêncio e no ruído em indivíduos
normo-ouvintes monolíngues, falantes do português brasileiro e, bilíngues, falantes do português brasileiro
e do alemão, e do português brasileiro e italiano, bem como analisar a inuência do período de aquisição da
segunda língua no desempenho dos bilíngues. Método: Participaram da pesquisa 87 indivíduos entre a faixa
etária de 18 e 55 anos de idade, normo-ouvintes, os quais foram distribuídos em: grupo controle, composto de
30 monolíngues falantes do português brasileiro; grupo estudo alemão, 31 bilíngues simultâneos falantes do
português e do alemão como segunda língua; grupo estudo italiano, formado por 26 bilíngues sucessivos, falantes
do português e do italiano como segunda língua. Por meio do teste Listas de Sentenças em Português Brasileiro,
foram obtidos seus Limiares de Reconhecimento de Sentenças no Silêncio e no Ruído. Resultados: No silêncio,
não houve diferenças estatisticamente signicantes de desempenho tanto quando comparados os indivíduos
bilíngues e monolíngues como quando comparados os grupos bilíngues. Por sua vez, no ruído, vericou-se
diferença signicante entre os grupos bilíngues, em relação ao monolíngue. Entretanto, quando comparado o
desempenho dos grupos bilíngues, não se observou diferença signicante entre eles. Conclusão: O bilinguismo
inuenciou positivamente o desenvolvimento de habilidades auditivas, que repercutiram em desempenhos
superiores dos bilíngues no reconhecimento de fala na presença de ruído, e o período de aquisição da segunda
língua não inuenciou o desempenho dos bilíngues.
ABSTRACT
Purpose: To compare the ability to recognize sentences in silence and in noise in monolingual normal-hearing
Brazilian Portuguese speakers, and bilingual speakers of Brazilian Portuguese and German, and bilingual speakers
of Brazilian Portuguese and Italian, as well as to analyze the inuence of age of second language acquisition on
the performance of bilinguals. Methods: 87 normal-hearing individuals aged between 18 and 55 years participated
of this research. They were categorized into: Control Group, composed by 30 monolingual Brazilian Portuguese
speakers; German Research Group, 31 simultaneous bilingual native speakers of Portuguese and speakers of
German as a second language and; Italian Research Group, consisting of 26 successive bilinguals, native speakers
of Portuguese and speakers of Italian as a second language. The Sentence List Test in Brazilian Portuguese was
used to measure their Sentence Recognition Thresholds in Silence and Noise. Results: In silence, there were no
statistically signicant dierences in performance when comparing the bilingual to the monolingual individuals,
and when comparing the bilingual speakers among themselves. On the other hand, in noise, there was a signicant
dierence between the bilingual groups and the monolingual one. However, there were no signicant dierences
between the bilingual groups when their performance was compared. Conclusion: Bilingualism positively
inuenced the development of language and listening skills, which led the bilinguals to outperform in speech
recognition in the presence of noise. Also, the period of a second language acquisition did not inuence bilingual
performance.
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INTRODUÇÃO
O aumento de indivíduos bilíngues é um fenômeno mundial
que decorre, em grande parte, do processo de globalização e da
imigração, acarretando mudanças sociais e culturais cada vez
mais fortes que demandam conhecer mais idiomas por se estar
em contato com essa diversidade. Conforme dados(1), atualmente
existem 7.097 línguas vivas. Entre elas, cerca de 200 línguas
estão presentes no Brasil e são chamadas minoritárias por não
constituírem a língua ocial do país
(1,2)
. Considerando-se a
realidade do Rio Grande do Sul, pode-se armar que a presença
de comunidades falantes de línguas minoritárias de imigração é
bastante signicativa, especialmente alemã e italiana.
O bilinguismo pode ser considerado um fenômeno complexo
multidimensional que envolve aspectos linguísticos, psicológicos
e socioculturais(3). Trata-se de indivíduo bilíngue aquele que
apresenta capacidade de fazer uso social de duas línguas, sem
que necessariamente tenha o mesmo grau de prociência em
ambas ou iguais performances em todos os níveis linguísticos
(3)
.
O autor atribui ainda que a função e o uso das línguas, bem
como a alternância de código, ou seja, como e com qual frequência
e condições o indivíduo alterna de uma língua para outra e a
interferência entre línguas, devem ser também considerados
para denir bilinguismo.
Nos últimos anos, muito se tem falado sobre os efeitos
linguísticos do bilinguismo e da mudança em direção a uma
abordagem mais positiva desses efeitos, em especial os benefícios
no aspecto intelectual. Tal abordagem, vista hoje como “divisor
de águas” em pesquisas de diferentes áreas, começou a partir
dos anos 60, quando foi realizado um estudo(4) sobre os efeitos
do bilinguismo no funcionamento intelectual que causou grande
impacto em áreas como psicologia, neurociência, educação,
fonoaudiologia, entre outras. Com base nas constatações
vigentes na época, os autores partiram da hipótese inicial de que
tanto os monolíngues quanto os bilíngues testados obteriam os
mesmos escores em medidas cognitivas não verbais, podendo
os bilíngues ter um desempenho melhor nas medidas verbais.
Entretanto, ao contrário das evidências anteriores, esse estudo
vericou desempenho signicativamente melhor dos bilíngues em
comparação aos monolíngues em testes de inteligência verbal e
não verbal, demostrando, assim, os benefícios do bilinguismo
(4)
.
Considerando-se os aspectos linguísticos, estudos demonstraram
que indivíduos bilíngues apresentaram vantagem em comparação
com monolíngues em tarefas com estímulos linguísticos
(5-8)
.
Tal aspecto ocorre em tarefas nas quais a interferência precisa
ser suprimida para que o processamento do estímulo-alvo ocorra
de forma ecaz, evidenciando-se, assim, a vantagem no controle
inibitório dos bilíngues(9).
Na última década, houve um aumento expressivo na quantidade
de pesquisas abordando a linguagem e o processamento cognitivo
de bilíngues(10), porém, do ponto de vista do sistema auditivo
e da inuência nas habilidades auditivas, o número ainda é
restrito. Estudos demonstraram que o desenvolvimento do
sistema auditivo pode ser beneciado quando um indivíduo
é exposto a duas línguas diferentes(6-12). Isso ocorre porque o
indivíduo enfrenta situações em que a língua materna promove
um contexto linguístico que eleva a velocidade e a efetividade
do processamento da informação(12,13).
A literatura tem demostrado que os bilíngues possuem
desempenho superior ao dos monolíngues em tarefas de estímulos
verbais apresentadas em situações conitantes, como em escuta
dicótica(6-12), porém, quando diante de ruído e reverberação, tal
fato não é evidenciado. Em relação ao reconhecimento de fala,
estudos apontam que indivíduos bilíngues apresentaram o mesmo
desempenho quando comparados aos monolíngues em situações
de silêncio, entretanto, em condições de escuta desfavorável
(ruído), os bilíngues demonstraram ter mais diculdade em
relação aos monolíngues(14-16).
Como determinante para o aprendizado de uma segunda
língua, a concepção do fator idade é controversa
(17-19)
. Na literatura,
podem ser encontradas referências para vários períodos críticos,
cada um com base em um componente especíco de linguagem,
entre eles, o desenvolvimento fonológico(17).
Com base nesse período, o bilinguismo pode ser dividido
em aquisição precoce, em que ambas as línguas são aprendidas
simultaneamente desde a primeira infância, e em tardio ou
sequencial, em que a segunda língua é adquirida após o período
crítico. Autores indicam vantagens no aprendizado simultâneo
em comparação com a aprendizagem sequencial da segunda
língua(20).
Considerando-se o exposto, a m de investigar a contribuição
do bilinguismo no desenvolvimento e no aprimoramento de
habilidades auditivas, objetivou-se investigar e comparar a
habilidade de reconhecimento de sentenças, no silêncio e no
ruído, em indivíduos normo-ouvintes monolíngues, os falantes
do português brasileiro, em bilíngues, os falantes do português
brasileiro e do alemão, e, do português brasileiro e do italiano,
bem como analisar a inuência do período de aquisição da
segunda língua no desempenho dos bilíngues.
MÉTODO
Este estudo observacional, de caráter transversal, descritivo e
quantitativo, foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa de
uma Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sob parecer de
número 0098.0.243.000-11. Os participantes foram orientados
quanto aos objetivos e procedimentos que seriam realizados e,
após concordarem em participar voluntariamente da pesquisa,
assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.
Para compor a amostra, foram estabelecidos como critérios
de inclusão indivíduos adultos, do sexo feminino e do sexo
masculino, com idade entre 18 e 59 anos, normo-ouvintes,
com limiares menores que ou iguais a 25 dBNA (decibel nível
de audição), na faixa de frequências de 250 a 8.000 Hz, com
ensino médio completo. Com base nesses critérios, foram
selecionados 30 monolíngues, falantes do português brasileiro
e 57 bilíngues falantes do português brasileiro/alemão e do
português brasileiro/italiano. Os indivíduos bilíngues foram
convidados a participar por meio de contato telefônico e e-mail,
disponibilizados pelas associações de descendentes de alemães
e italianos.
Para possibilitar a análise de comparação entre tais indivíduos,
eles foram distribuídos em três grupos, conforme os seguintes
critérios: grupo controle (GC): ser monolíngue, falante do
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português brasileiro: não ter uência na fala nem na compreensão
de qualquer outro idioma, normo-ouvinte, com ensino médio
completo. Grupo estudo alemão (GEA): ser bilíngue, falante de
português brasileiro, como língua materna, e do alemão, com
idade de aquisição desse idioma antes dos 6 anos, normo-ouvinte,
com ensino médio completo. Grupo estudo Italiano (GEI):
ser bilíngue, falante do português brasileiro e do italiano, como
segunda língua, com idade de aquisição de 6 anos até os 19 anos
de idade, normo-ouvinte, com ensino médio completo.
O critério para determinar o período crítico para a aquisição
da segunda língua foi o fonológico
(17)
, o qual estabelece a idade de
aproximadamente 6 anos para o seu desenvolvimento, denindo,
assim, os grupos falantes simultâneos (GEA) e sucessivos (GEI).
Tal critério foi considerado por sua importância no processo de
aprendizagem da segunda língua, uma vez que, nos casos de
aprendizagem simultânea, permite que o indivíduo se torne capaz
de distinguir, de forma espontânea, as diferenças fonológicas
entre as línguas e, nos casos de aprendizagem sucessiva, o
conhecimento fonológico da língua materna é utilizado para
comparar/facilitar o aprendizado da segunda língua.
Foram considerados critérios de exclusão apresentar alterações
neurológicas evidentes; presença de rolha de cerúmen ou de
outras alterações no meato acústico externo; apresentar alterações
audiológicas; incapacidade ou diculdade para responder ao
teste ou memorizar as sentenças do teste, Listas de Sentenças
em Português. Para os grupos de estudos, incluiu-se, ainda, não
ser prociente na segunda língua.
Com base nos critérios anteriormente citados, os indivíduos
foram distribuídos da seguinte maneira: GC: 30 monolíngues
dos sexos feminino e masculino, com idade entre 20 e 52 anos;
GEA: 31 bilíngues simultâneos dos sexos feminino e masculino,
com idades entre 18 e 55 anos; GEI: 26 bilíngues sucessivos
dos sexos feminino e masculino, com idade entre 18 e 50 anos.
Primeiramente, foram obtidas informações referentes aos dados
pessoais, nível de escolaridade, aspectos referentes ao histórico
otológico e queixas auditivas por meio da anamnese direcionada.
Em seguida, a m de se obter critérios para determinar sujeitos
bilíngues e monolíngues, aplicou-se o questionário especíco
de bilinguismo, sendo este elaborado para coletar informações
referentes à aquisição da primeira e da segunda língua, como
a idade, a forma e o contexto de aquisição da segunda língua,
bem como situações diárias e o tempo de uso da segunda língua
para vericar sua uência. Por m, somaram-se questões sobre
a autoavaliação do desempenho nas habilidades linguísticas,
como fala, compreensão, leitura e escrita. Tais perguntas foram
elaboradas de acordo com os aspectos propostos na literatura
(3)
,
a m de denir indivíduos bilíngues alemão e italiano com os
critérios de elegibilidade anteriormente citados.
Na sequência, foram submetidos às seguintes avaliações:
inspeção visual do meato acústico externo, Audiometria Tonal
Liminar (ATL) e Logoaudiometria. Em seguida, foram obtidos
os Limiares de Reconhecimento de Sentenças no Silêncio
(LRSS) e no Ruído (LRSR), utilizando-se o Teste Listas de
Sentenças em Português (LSP)
(21)
, constituído por uma lista
de 25 sentenças e sete listas de dez sentenças e um ruído com
espectro de fala. As sentenças e o ruído estão gravados em CD,
em canais independentes, permitindo sua apresentação tanto no
silêncio quanto no ruído(22).
Os indivíduos foram avaliados em cabine acusticamente
tratada, utilizando-se um audiômetro digital de dois canais,
marca Fonix Hearing Evaluator, modelo FA 12 tipo I, e fones
auriculares tipo TDH-39P, marca Telephonics. As sentenças
foram apresentadas utilizando-se um Compact Disc Player
Digital Toshiba, modelo 4149, acoplado ao audiômetro.
O teste LSP foi aplicado em campo sonoro, com o indivíduo
posicionado a um metro da fonte sonora, de frente para a ela,
a 0º a 0º azimute. Primeiramente, foi realizado um treinamento
para que os sujeitos se familiarizassem com o teste e fosse obtido
o LRSS aproximado, apresentando as cinco primeiras sentenças
da lista 1A e, então, com base nessa medida, foi aplicada uma
lista de dez sentenças. Para a obtenção dos limiares, foi usado
o procedimento denominado “ascendente-descendente”, que
permite determinar o limiar de reconhecimento de fala, ou seja,
o nível necessário para que o indivíduo identique corretamente
em torno de 50% dos estímulos de fala apresentados em
uma determinada condição (silêncio ou ruído). A primeira
frase foi apresentada, usando-se como referência o limiar de
reconhecimento de fala, obtido com fone na melhor orelha.
Em seguida, quando reconhecido corretamente o estímulo de
fala, o nível dos estímulos foi diminuído ou aumentado
(21)
,
dependendo do caso. Esse procedimento foi repetido até o
nal da lista de frases, utilizando-se inicialmente intervalos
de 5 dB e, após a primeira mudança no padrão de resposta do
paciente, de 2,5 dB. Tal procedimento foi utilizado tanto para
medidas de reconhecimento de sentenças no silêncio como no
ruído, conforme a disponibilidade de intervalos do equipamento
utilizado.
Na obtenção dos LRSR, foi utilizado o mesmo procedimento,
porém na presença de ruído competitivo que foi mantido constante,
a 65 dB NPS (A)(21). O LRSR foi expresso por meio da relação
S/R, que representa a diferença entre a intensidade média de
apresentação das sentenças e o ruído. Portanto, para o cálculo
da relação S/R, foi subtraída a intensidade média calculada da
fala apresentada da intensidade do ruído (65 dB NA)(21).
Os dados foram analisados descritivamente e receberam
tratamento estatístico, utilizando-se o programa Statistica
versão 9.1. Para vericar a normalidade das variáveis, foi
aplicado o teste Shapiro Wilk. A m de comparar o desempenho
dos monolíngues (GC) e bilíngues (GEA) e (GEI), assim como
o desempenho entre os grupos bilíngues, utilizou-se, para as
variáveis LRSS e S/R e para as variáveis independentes, quando
essas variáveis apresentaram normalidade, o Teste T. Para grupos
independentes, para as variáveis sem distribuição normal, o
Teste U de Mann Whitney. Foi considerado nível de signicância
estatística de p < 0,05 (5%).
RESULTADOS
Vericou-se desempenho similar entre os monolíngues (GC)
e bilíngues falantes do alemão (GEA) e do italiano (GEI), no
reconhecimento de fala no silêncio, enquanto, para as medidas
obtidas na presença de ruído, foi observada uma diferença
signicante entre os monolíngues (GC) e os grupos bilíngues
(Tabela 1).
Não foi observada diferença entre bilíngues simultâneos (GEA)
e bilíngues sucessivos (GEI) nas tarefas de reconhecimento de
fala no silêncio e no ruído (Tabela 2).
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DISCUSSÃO
Estudos demonstraram os efeitos positivos sobre o controle
cognitivo, a linguagem(8-23) e o sistema auditivo de indivíduos
expostos a duas línguas diferentes(6-12). Dessa forma, entender
o desempenho dos bilíngues no reconhecimento de fala em
diferentes situações acústicas é de suma importância para
elucidar a inuência da aquisição da segunda língua em relação
ao sistema auditivo.
Assim sendo, inicialmente se pesquisou a inuência no
bilinguismo no desempenho no LRSS, no qual se percebeu que
não houve diferença estatisticamente signicante no desempenho
dos bilíngues (GEA e GEI) em relação aos monolíngues
(GC), quando estes foram avaliados no silêncio (Tabela 1).
Assim, evidenciou-se que os bilíngues não se diferenciaram
dos monolíngues quando o principal aspecto avaliado esteve
relacionado à audibilidade, uma vez que todos os indivíduos
que participaram do estudo eram normo-ouvintes.
Tais resultados concordam com os achados referidos na
literatura
(16-25)
, nos quais o grupo dos bilíngues e o dos monolíngues
tiveram resultados semelhantes quando avaliados no silêncio.
Estudos atribuem(26,27) tais achados ao parâmetro determinante
para o reconhecimento de fala no silêncio, que é o limiar de
audibilidade.
Por sua vez, na análise das medidas obtidas na presença
de ruído competitivo, foi observada diferença estatisticamente
signicante, sugerindo que indivíduos bilíngues têm desempenho
superior nessa condição (Tabela 1). Tal achado vai de encontro a
estudos
(15,16)
que vericaram desempenho inferior dos bilíngues
na percepção de fala no ruído. Por outro lado, estudos realizados
com presença de informação conitante, em escuta dicótica,
vericaram melhor desempenho dos bilíngues quando comparados
aos monolíngues(6-13).
Com base nos achados anteriormente citados, foi observado
que indivíduos com as mesmas habilidades auditivas de
reconhecimento de fala no silêncio podem ter habilidades de
reconhecimento diferentes em ambientes ruidosos, motivados
por diversos aspectos biopsicossociais. Estudos referiram que o
contato com falantes de línguas diversas mostrou-se vantajoso,
já que características cognitivas, como funções executivas
do controle inibitório, da atenção e da memória, foram mais
evidentes em bilíngues(11-28).
Autores atribuem ainda que a atenção e a memória facilitam
o processo de focalizar em um som-alvo na presença do ruído(11).
Ao considerar o desempenho dos bilíngues na presente pesquisa
em situação conitante, pode ser inferido que as vantagens
anteriormente citadas contribuíram no seu desempenho auditivo,
uma vez que tais aspectos são fundamentais para o aprimoramento
das habilidades auditivas.
Ainda, em relação à percepção de fala em situações
desfavoráveis de escuta, foram encontradas referências na
literatura, mostrando que indivíduos bilíngues apresentaram
desempenho inferior na discriminação da fala em situações
ruidosas ou degradadas(15-29), porém a maioria desses estudos
utilizou estímulos na segunda língua dos bilíngues(16-29), o que
pode justicar a diculdade em situações de ruído vericada
nas pesquisas citadas.
Considerando-se tais aspectos, dois pontos de vista são
levantados na literatura, justicando a possível desvantagem dos
bilíngues no reconhecimento de fala sob condições desfavoráveis:
o primeiro está relacionado ao grau de prociência, que, por
mais elevado que seja, fará os bilíngues terem mais diculdade
na sua segunda língua(16). O segundo aspecto diz respeito à idade
de aquisição da segunda língua(15,20-29), referindo desvantagem
quando a segunda língua é adquirida após o período crítico de
aprendizagem.
Dessa forma, salienta-se que, no presente estudo, a
avaliação foi realizada em português, língua materna de todos
os participantes, fato que pode ter inuenciado positivamente
nos resultados desses indivíduos.
Uma visão alternativa diz que o bilinguismo em si é
responsável pelas desvantagens na percepção da fala, as quais
não se limitam à aquisição tardia nem à forma de avaliação,
utilizando a primeira ou a segunda língua dos sujeitos, como
Tabela 2. Comparação do desempenho no reconhecimento de sentenças no silêncio e no ruído entre indivíduos normo-ouvintes bilíngues falantes
do alemão (GEA) e bilíngues falantes do italiano (GEI), avaliados em campo sonoro
GEA (n = 31) GEI (n = 26)
Média DP Média DP p-valor
LRSS 19,76 4,43 19,22 3,08 0,600
S/R -13,31 2,16 -13,39 2,20 0,619
Teste t de Student (LRSS); Teste U de Mann Whitney (S/R)
Legenda: GEA: grupo estudo alemão; n: número de indivíduos; GEI: grupo estudo italiano; DP: desvio padrão; LRSS: limiar de reconhecimento de sentenças no
silêncio; S/R: relação sinal-ruído
Tabela 1. Comparação do desempenho no reconhecimento de sentenças no silêncio e no ruído entre indivíduos monolíngues (GC) e bilíngues
falantes do alemão (GEA) e entre monolíngues (GC) e falantes do italiano (GEI) avaliados em campo sonoro
GC (n = 30) GEA (n = 31) GEI (n = 26)
Média DP Média DP p-valor Média DP p-valor
LRSS 20,05 3,98 19,76 4,43 0,785 19,22 3,08 0,387
S/R -11,89 1,84 -13,31 2,16 0,014* -13,39 2,20 0,001*
Teste t de Student (LRSS); Teste U de Mann Whitney (S/R); *:valor significante estatisticamente
Legenda: GC: grupo controle monolíngues; n: número de indivíduos; GEA: grupo estudo alemão; GEI: grupo estudo italiano; LRSS: limiar de reconhecimento de
sentenças no silêncio; S/R: relação sinal-ruído; DP: desvio padrão
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citado anteriormente. Essa visão foi levantada em um estudo
(30)
com audiometria vocal em sujeitos bilíngues, o qual sugere que
bilíngues executam mais lenta e menos precisamente tarefas
relacionadas à percepção da fala no ruído, porque necessitam
de um tempo de reação maior, pela necessidade de pesquisar
seu léxico. Algumas dessas causas podem ser perceptivas, as
quais podem incluir manutenção da atenção para a linguagem
apresentada ou necessidade de selecionar fonemas apropriados,
segundo um conjunto maior de alvos potenciais ou a necessidade
de parar e procurar em seu léxico, que é maior(30).
Quanto ao aspecto do período de aquisição da segunda
língua, conforme os resultados obtidos, os dois grupos, GEA
(bilíngues simultâneos) e GEI (bilíngues sucessivos), tiveram
resultados estatisticamente signicantes, melhores em relação
aos monolíngues, porém, entre os grupos bilíngues, não foi
constatada diferença. Tais dados sugerem que a idade de
aquisição da segunda língua não foi determinante para que o
bilinguismo produzisse efeitos na percepção de fala nos grupos
estudados (Tabela 2).
Por sua vez, os resultados obtidos por outros autores(15,20-29)
evidenciaram melhor desempenho nos bilíngues simultâneos
em relação aos sucessivos (tardios). No que tange à aquisição de
uma segunda língua, neurocientistas armam que crianças são
aprendizes mais ecientes que adultos. Segundo eles, o cérebro
das crianças possui capacidade especializada para a aquisição
de língua, em especial no período crítico, e tal capacidade é
evidenciada até a puberdade, porém com um declínio gradual
e contínuo que ocorre com o avançar da idade(17).
Ao considerar os achados do presente estudo e da literatura
analisada, evidenciou-se que o aprendizado de uma segunda
língua, na maioria das vezes, inuencia as habilidades auditivas,
linguísticas e cognitivas, apesar de não haver opinião unânime
entre pesquisadores e um número ainda restrito de pesquisas
voltadas à inuência sobre o sistema auditivo.
Dessa forma, vale ressaltar que, diante das divergências
encontradas no desempenho dos bilíngues no reconhecimento
de fala no ruído, é de suma importância realizar novos estudos
que busquem comparar o desempenho desses indivíduos com
instrumentos cujos estímulos verbais sejam na língua materna
e na segunda língua, sendo ambos investigados em situações de
silêncio e ruído, bem como com diferentes níveis de uência,
pois tais dados contribuirão para o melhor entendimento da
inuência do bilinguismo nas habilidades auditivas.
CONCLUSÃO
O bilinguismo inuenciou positivamente o desenvolvimento
de habilidades auditivas que repercutiram em desempenhos
superiores dos bilíngues no reconhecimento de fala na presença de
ruído e o período de aquisição da segunda língua não inuenciou
o desempenho dos bilíngues neste estudo.
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Contribuição dos autores
GCF realizou a análise e interpretação dos resultados, redação e revisão do
artigo; EMOT realizou o delineamento do estudo, coleta, análise e interpretação
dos resultados, redação e revisão do artigo; MVG realizou interpretação dos
resultados, revisão e aprovação nal da versão a ser publicada; SNS realizou
interpretação dos resultados, revisão e aprovação nal da versão a ser publicada;
MJC realizou o delineamento do estudo, análise e interpretação dos resultados,
redação e revisão do artigo, e aprovação nal da versão a ser publicada.
... In fact, other behavioral research has shown that the ability to inhibit interference in a sentence interpretation task was positively correlated with L2 proficiency (Filippi et al., 2012); however, the paradigm used by Filippi et al. used was different than that used in the studies discussed above. More recently, others have also demonstrated a behavioral advantage in sentence recognition in noise in the L1 of bilinguals compared to monolinguals (Ferreira et al., 2019), while bilinguals in their L2 have been found to perform worse than monolinguals when the stimuli included a combination of words and sentences (Bsharat-Maalouf and Karawani, 2022). Importantly, Bsharat-Maalouf and Karawani (2022) also recorded electrophysiological responses to vowel sounds and found earlier auditory brain stem responses in noise in bilinguals compared to monolinguals, suggesting a different pattern of language group differences at the level of neural responses. ...
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Research on bilingualism has grown exponentially in recent years. However, the comprehension of speech in noise, given the ubiquity of both bilingualism and noisy environments, has seen only limited focus. Electroencephalogram (EEG) studies in monolinguals show an increase in alpha power when listening to speech in noise, which, in the theoretical context where alpha power indexes attentional control, is thought to reflect an increase in attentional demands. In the current study, English/French bilinguals with similar second language (L2) proficiency and who varied in terms of age of L2 acquisition (AoA) from 0 (simultaneous bilinguals) to 15 years completed a speech perception in noise task. Participants were required to identify the final word of high and low semantically constrained auditory sentences such as “Stir your coffee with a spoon” vs. “Bob could have known about the spoon” in both of their languages and in both noise (multi-talker babble) and quiet during electrophysiological recording. We examined the effects of language, AoA, semantic constraint, and listening condition on participants’ induced alpha power during speech comprehension. Our results show an increase in alpha power when participants were listening in their L2, suggesting that listening in an L2 requires additional attentional control compared to the first language, particularly early in processing during word identification. Additionally, despite similar proficiency across participants, our results suggest that under difficult processing demands, AoA modulates the amount of attention required to process the second language.
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Background Speech audiometry is utilised for diagnostic and rehabilitative purposes. Speech audiometry involves materials linguistic in nature. The ideal protocol is to have a tester who is a native or at least a fluent speaker of that language to conduct the test on a native listener. Except for a set of psychometrically equivalent word recordings that have yet to be validated, no other existing speech audiometry materials have been developed in Singapore English. Objective This study aims to develop and validate a local set of phonemically balanced English word lists for use on Singaporeans. Methods The first phase encompassed the development of spondaic and phonemically-balanced monosyllabic word lists for Speech Reception Threshold (SRT) and Word Recognition Score (WRS) testing. The second phase established perceptual equivalence across the monosyllabic word lists. The third phase encompassed the validation of these materials on 72 normal-hearing and hearing-impaired Singaporeans between 21 to 80 years old. Participants were tested with two spondaic and six monosyllabic word lists. Participants’ SRT and WRS values were analysed. Results The mean SRT and pure tone audiometry (PTA) average difference was 5.79 dB. All 43 normal-hearing participants achieved a maximum WRS of 100%, at an average presentation level of 28.1 dB above their PTA average. Test-retest analysis revealed clinically insignificant differences across all word lists. Conclusion The test materials are validated to be suitable for testing on Singaporean English speakers. Normative SRT and WRS data for Singaporeans have also been established.
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Purpose Due to the pandemic of the Covid-19 disease, it became common to wear masks on some public spaces. By covering mouth and nose, visual-related speech cues are greatly reduced, while the auditory signal is both distorted and attenuated. The present study aimed to analyze the multisensory effects of mask wearing on speech intelligibility and the differences in these effects between participants who spoke 1, 2 and 3 languages. Methods The study consisted of the presentation of sentences from the SPIN test to 40 participants. Participants were asked to report the perceived sentences. There were four conditions: auditory with mask; audiovisual with mask; auditory without mask; audiovisual without mask. Two sessions were conducted, one week apart, each with the same stimuli but with a different signal-to-noise ratio. Results Results demonstrated that the use of the mask decreased speech intelligibility, both due to a decrease in the quality of auditory stimuli and due to the loss of visual information. Signal-to-noise ratio largely affects speech intelligibility and higher ratios are needed in mask-wearing conditions to obtain any degree of intelligibility. Those who speak more than one language are less affected by mask wearing, as are younger listeners. Conclusion Wearing a facial mask reduces speech intelligibility, both due to visual and auditory factors. Older people and people who only speak one language are affected the most. Keywords: Speech Perception; Stimuli; Vision; Audition; Pandemic; Covid
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Objectives: The primary function of the human auditory system is to ensure proper speech comprehension. Speech audiometry enables the assessment of the conductive and the sensory aspects of the ears, providing some insight into the central auditory processing function. Materials and methods: We conducted an analysis of 79 patients with chronic otitis media (COM) undergoing surgery at the Department of Otolaryngology, Jagiellonian University Medical College, in Kraków between 2005 and 2014. Tonal audiometry and speech audiometry were used as part of the hearing assessment. The pre-operative and long-term post-operative findings were compared, focusing mainly on speech audiometry. Results: At the end of the mean 10-year follow-up, a significant percentage worsening in speech comprehension from the baseline was demonstrated in group III (hearing loss > 70 dB(decibels)), as compared with the remaining groups. There was a significant (p = 0.017) difference in speech comprehension between the treated and contralateral ears, with the mean maximum speech comprehension rates of 80% in the treated ear versus 92% in the contralateral ear. Conclusion: We demonstrated a correlation between the findings of tonal audiometry and speech audiometry. The severe damage caused by chronic middle ear diseases not only leads to conductive hearing loss but also acts as a significant contributor to poor speech comprehension in a long-term follow-up. The speech comprehension in a healthy ear is significantly better than in a diseased ear. Middle ear reconstructive surgery offers the maximum improvement in speech comprehension at the hearing loss of 41 to 70 dB in speech audiometry.
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Critical period-as defined in Longman dictionary of language teaching and applied linguistic (Richards, 2009)-is a period during which language can be acquired more easily than at any other time, and the present study examines the critical age for learning a second language by testing 120 participants of three age groups i.e. 3-5, 11-13, 17 and above, through dichotic listening (a technique which has been used to study how the brain controls hearing and language, in whichthe subjects wear earphones and receive different sounds in the right and left ear and then are asked to repeat what they have heard). To check the significance of the results of this studypaired sample T-test and one-way ANOVA were used. It can be inferred from the results that age of a learner may not be a key factor in his or her success in
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We investigated the independent contributions of second language (L2) age of acquisition (AoA) and social diversity of language use on intrinsic brain organization using seed-based resting-state functional connectivity among highly proficient French-English bilinguals. There were two key findings. First, earlier L2 AoA related to greater interhemispheric functional connectivity between homologous frontal brain regions, and to decreased reliance on proactive executive control in an AX-Continuous Performance Task completed outside the scanner. Second, greater diversity in social language use in daily life related to greater connectivity between the anterior cingulate cortex and the putamen bilaterally, and to increased reliance on proactive control in the same task. These findings suggest that early vs. late L2 AoA links to a specialized neural framework for processing two languages that may engage a specific type of executive control (e.g., reactive control). In contrast, higher vs. lower degrees of diversity in social language use link to a broadly distributed set of brain networks implicated in proactive control and context monitoring.
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The current study examines the relation between cognitive control and linguistic competition resolution at the sublexical level in bilinguals. Twenty-one Spanish–English bilinguals and 23 English monolinguals completed a non-linguistic Stroop task (indexing inhibitory control) and a linguistic priming/lexical decision task (indexing Spanish phonotactic-constraint competition during English comprehension). More efficient Stroop performance (i.e. a smaller Stroop effect) in bilinguals was associated with decreased competition from Spanish phonotactic constraints during English comprehension. This relation was observed when nonword targets overlapped in phonotactic constraints and phonological form with preceding cognate primes (e.g. prime: stable (Spanish: estable)/target: esteriors). Findings suggest a link between non-linguistic cognitive control and co-activation of linguistic structures at the sublexical level in bilinguals.
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Recent research suggests that bilingual experience reconfigures linguistic and nonlinguistic cognitive processes. We examined the relationship between linguistic competition resolution and nonlinguistic cognitive control in younger and older adults who were either bilingual or monolingual. Participants heard words in English and identified the referent among four pictures while eye-movements were recorded. Target pictures (e.g., cab ) appeared with a phonological competitor picture (e.g., cat ) and two filler pictures. After each eye-tracking trial, priming probes assessed residual activation and inhibition of target and competitor words. When accounting for processing speed, results revealed that age-related changes in activation and inhibition are smaller in bilinguals than in monolinguals. Moreover, younger and older bilinguals, but not monolinguals, recruited similar inhibition mechanisms during word identification and during a nonlinguistic Stroop task. Results suggest that, during lexical access, bilinguals show more consistent competition resolution and recruitment of cognitive control across the lifespan than monolinguals.
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Over the past four decades, code-switching (CS) has been established as a mark of high linguistic competence among adult simultaneous (2L1) bilinguals, those who acquired two 'first' languages before age three. The status of CS among second language (L2) learners, who learned one language after age three, is much less clear; children represent an especially understudied population in this line of inquiry. This study aims to address this research gap and presents a comparison of child 2L1 bilinguals and child L2 learners in kindergarten, first and second grade of a Spanish immersion program. Twelve hours of recorded spontaneous classroom speech were analyzed for grammatical categories, switch points, and conversational strategies of CS. The results of this study show that the grammatical patterns and conversational strategies of child L2 learner CS strongly parallel those of 2L1 child bilinguals, pointing toward a high level of linguistic competence. Based on these findings, it is suggested that proficiency rather than language background may be a greater factor in CS patterns. Furthermore, evidence of the strategic use of CS by 2L1 and L2 learners alike suggests the potential benefit of an alternative bilingual pedagogy, which normalizes the use of CS as a linguistic resource instead of the more commonly evoked 'deficit perspective' on L2 learner CS.
Article
This study explores the effect of individual differences in the age of acquisition of a second language using resting-state functional magnetic resonance imaging (rs-fMRI) to examine functional connectivity and its relation with cognitive control within bilinguals. We compared simultaneous bilinguals, who learned two languages from birth, to sequential bilinguals, who learned a second language following mastery of their first language. Results show an effect of language experience on the strength of anticorrelation between the default mode network and the task-positive attention network and on cognitive control, with simultaneous bilinguals demonstrating stronger anticorrelations between the two networks, as well as superior cognitive control compared to sequential bilinguals. These findings demonstrate that the timing of language learning may have an impact on cognitive control, with the simultaneous learning of two languages being associated with more optimal brain connectivity for cognitive control compared to sequential language learning.
Article
We investigated the impact of early childhood and adulthood bilingualism on the attention system in a group of linguistically and culturally homogeneous children (5- and 6-year olds) and young adults. We administered the child Attention Network Test (ANT) to 63 English monolingual and Korean-English bilingual children and administered the adult ANT to 39 language- and culture-matched college students. Advantageous bilingual effects on attention were observed for both children and adults in global processing levels of inverse efficiency, response time, and accuracy at a magnitude more pronounced for children than for adults. Differential bilingualism effects were evident at the local network level of executive control and orienting in favor of the adult bilinguals only. Notably, however, bilingual children achieved an adult level of accuracy in the incongruent flanker condition, implying enhanced attentional skills to cope with interferences. Our findings suggest that although both child and adult bilinguals share cognitive advantages in attentional functioning, age-related cognitive and linguistic maturation differentially shapes the outcomes of attentional processing at a local network level.
Article
Bilingualism is not a phenomenon of language; it is a characteristic of its use. It is not a feature of the code but of the message. It does not belong to the domain of “langue” but of “parole.” If language is the property of the group, bilingualism is the property of the individual. An individual’s use of two languages supposes the existence of two different language communities; it does not suppose the existence of a bilingual community. The bilingual community can only be regarded as a dependent collection of individuals who have reasons for being bilingual. A self-sufficient bilingual community has no reason to remain bilingual, since a closed community in which everyone is fluent in two languages could get along just as well with one language. As long as there are different monolingual communities, however, there is likelihood of contact between them; this contact results in bilingualism.
Article
This study compared monosyllabic word recognition in quiet, noise, and noise with reverberation for 15 monolingual American English speakers and 12 Spanish-English bilinguals who had learned English prior to 6 years of age and spoke English without a noticeable foreign accent. Significantly poorer word recognition scores were obtained for the bilingual listeners than for the monolingual listeners under conditions of noise and noise with reverberation, but not in quiet. Although bilinguals with little or no foreign accent in their second language are often assumed by their peers, or their clinicians in the case of hearing loss, to be identical in perceptual abilities to monolinguals, the present data suggest that they may have greater difficulty in recognizing words in noisy or reverberant listening environments.