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Desigualdade na distribuição de renda nos municípios do estado de Minas Gerais

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O presente estudo tem como objetivo demonstrar a desigualdade na distribuição de renda dos municípios do estado de Minas Gerais com base nos dados dos Censos Demográficos dos anos de 1991, 2000 e 2010. Foi utilizada como metodologia a pesquisa de abordagem quantitativa, classificada quantos aos objetivos em descritiva, e quanto aos procedimentos em documental. A variável utilizada para a apresentação de dados referentes à desigualdade da distribuição de renda foi o coeficiente de Gini, obtido no Atlas do Desenvolvimento Humano. Foram coletados dados para os anos de 1991, 2000 e 2010 e realizada a análise de mapas coropléticos do coeficiente de Gini dos municípios do estado de Minas Gerais através de recursos cartográficos utilizando cartogramas construídos pelo método coroplético. Constatou-se que no ano de 1991 havia 18 (2,11%) municípios com altíssima concentração de renda. No ano 2000, este número subiu para 77 (9,03%) dos 853 municípios do estado de Minas Gerais. Já em 2010, este número foi reduzido para 42 (4,92%). Isso quer dizer que a concentração de renda e desigualdade na distribuição da mesma aumentou do ano de 1991 para o ano 2000, e foi reduzido deste para o ano 2010, sinalizando que na ‘década inclusiva’ (2000-2010), a renda destas localidades passou a ser distribuída de forma mais equitativa.
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Acta Scientiarum
http://periodicos.uem.br/ojs/acta
ISSN on-line: 1807-8656
Doi: 10.4025/actascihumansoc.v41i2.46865
CIÊNCIAS SOCIAIS
Acta Scientiarum. Human and Social Sciences, v. 41, e46865, 2019
Desigualdade na distribuição de renda nos municípios do
estado de Minas Gerais
Éder de Souza Beirão*, Eduardo Vinícius Pereira Barbosa e Marcos Esdras Leite
Universidade Estadual de Montes Claros, Avenida Rui Braga, s/n, 39401089, Montes Claros, Minas Gerais, Brasil. *Autor para correspondência. E-mail:
ederbeirao@gmail.com
RESUMO. O presente estudo tem como objetivo demonstrar a desigualdade na distribuição de renda dos
municípios do estado de Minas Gerais com base nos dados dos Censos Demográficos dos anos de 1991,
2000 e 2010. Foi utilizada como metodologia a pesquisa de abordagem quantitativa, classificada quantos
aos objetivos em descritiva, e quanto aos procedimentos em documental. A variável utilizada para a
apresentação de dados referentes à desigualdade da distribuição de renda foi o coeficiente de Gini, obtido
no Atlas do Desenvolvimento Humano. Foram coletados dados para os anos de 1991, 2000 e 2010 e
realizada a análise de mapas coropléticos do coeficiente de Gini dos municípios do estado de Minas Gerais
através de recursos cartográficos utilizando cartogramas construídos pelo método coroplético. Constatou-
se que no ano de 1991 havia 18 (2,11%) municípios com altíssima concentração de renda. No ano 2000,
este número subiu para 77 (9,03%) dos 853 municípios do estado de Minas Gerais. Já em 2010, este
número foi reduzido para 42 (4,92%). Isso quer dizer que a concentração de renda e desigualdade na
distribuição da mesma aumentou do ano de 1991 para o ano 2000, e foi reduzido deste para o ano 2010,
sinalizando que na ‘década inclusiva’ (2000-2010), a renda destas localidades passou a ser distribuída de
forma mais equitativa.
Palavras-chave: desigualdade de renda; coeficiente de Gini; Minas Gerais.
Inequality in te distribution of income of the municipalities of the state of Minas
Gerais
ABSTRACT. The present study aims to demonstrate the inequality in the income distribution of the
municipalities of the state of Minas Gerais based on data from the Demographic Census of the years 1991,
2000 and 2010. The quantitative approach was used as a methodology, descriptive, and as to documentary
procedures. The variable used to present data on inequality of income distribution was the Gini coefficient
obtained in the Atlas of Human Development. Data were collected for the years 1991, 2000 and 2010 and
the analysis of coropléticos maps of the Gini coefficient of the municipalities of the state of Minas Gerais
was done through cartographic resources using cartograms constructed by the coroplético method. It was
verified that in the year of 1991 there were 18 (2.11%) municipalities with very high concentration of
income. In 2000, this number rose to 77 (9.03%) of the 853 municipalities in the state of Minas Gerais. In
2010, this number was reduced to 42 (4.92%). This means that the concentration of income and inequality
in the distribution of income increased from the year 1991 to the year 2000, and was reduced from this to
the year 2010, indicating that in the ‘inclusive decade’ (2000-2010), the income of these localities
distributed more evenly.
Keywords: rent inequality; Gini coefficient; Minas Gerais.
Received on March 6, 2018.
Accepted on June 24, 2019.
Introdução
Desigualdade social é um problema que afeta a sociedade da maioria dos países, sejam eles desenvolvidos
ou subdesenvolvidos, sendo que esta ocorre mais comumente nos últimos. O nível de desigualdade pode ser
afetado ou afetar várias dimensões da sociedade relacionando-se aos níveis de educação, saúde, nutrição,
mortalidade, violência e outras características, determinando e sendo determinado por elas. Portanto, seus
impactos vão muito além da dimensão econômica.
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Segundo Cohen, Kluegel, e Land (1981), a desigualdade social diz respeito a processos que
costumam ocorrer na sociedade e que tem o efeito de limitar o status de um determinado grupo,
classe ou círculo social. A desigualdade social passa pelo direito ao voto, à liberdade de expressão,
aos direitos à propriedade, acesso aos serviços de saúde, educação, habitação, transporte, direitos
trabalhistas, qualidade de vida, emprego e acesso ao crédito. Para Cimadamore e Cattani (2007, p. 7),
“[...] a pobreza e a desigualdade são construções sociais que se desenvolvem e consolidam a partir de
estruturas, agentes e processos que lhes dão forma histórica concreta”. A desigualdade social e a
pobreza não são problemas sociais surgidos recentemente na sociedade e no mundo.
Conforme Correia (2009), a desigualdade se tornou mais evidente a partir do advento do capitalismo,
pois a transição do feudalismo para o capitalismo no século XVI expulsou muitos camponeses de suas terras,
que ofereciam os meios para sustentar sua família e por isso, precisaram de ajuda e caridade alheia. Alguns
autores enxergam a desigualdade como um problema social (Clarke, 1995; Temple, 1999; Easterly, 2007;
Stiglitz, 2009; Wilkinson & Picketti, 2009; Castells-Quintana & Royuela, 2012), como algo que possui uma
função destrutiva, que retrata o fenômeno do crescimento econômico. Friedman (2008), por sua vez,
argumenta que igualdade demais pode ser prejudicial, pois este cenário eliminaria a motivação para a
tomada de riscos e o crescimento econômico, abrindo espaço para a estagnação na economia. Para Barros,
Carvalho, Franco, e Mendonça (2007), uma das principais consequências da desigualdade é o agravamento e
a persistência dos níveis de pobreza, visto que a desigualdade na distribuição de renda se constitui em um de
seus principais determinantes.
A América Latina é uma região continental marcada pela desigualdade e pela pobreza, e de acordo com
Mendonça (2009), esta é sua principal característica. O território em sua totalidade é conhecido por possuir
“[...] desigualdade econômica e social em proporções não encontradas em outras regiões do mundo”
(Mendonça, 2009, p. 79) e por apresentar historicamente os piores índices de desigualdade do mundo. Para
Boron (2002), os países da América Latina ainda se voltam a enfrentar temas como erradicação da pobreza
extrema, reforma agrária, favelização, alfabetização e mortalidade infantil. Ao passo que países centrais,
com populações já basicamente satisfeitas, as reformas já discutem pautas identitárias, questões étnicas,
sociais, culturais, ecologia e direito ao aborto.
O Brasil é integrante da América Latina, uma região continental composta integralmente por países
subdesenvolvidos que convivem com a desigualdade e a pobreza. O país avançou pouco na redução da
desigualdade, mais precisamente na questão da desigualdade de renda, visto que no Censo de 1991 seu
coeficiente de Gini era de 0,63, aumentou para 0,64 no Censo de 2000 e foi reduzido para 0,60 no Censo de
2010.
A região sudeste do Brasil é uma das que possuem menores coeficientes de Gini no Brasil, indicando que
a mesma possui menor desigualdade de renda. No Censo de 1991, os estados do Espírito Santo, Minas
Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo alcançaram índice de 0,60, 0,61, 0,61 e 0,55, respectivamente. Já no ano
2000, o Censo mostrou que os indicadores destes estados foram de 0,60, 0,61, 0,60 e 0,58, nesta ordem. No
último Censo, realizado no ano de 2010, a desigualdade de renda dos estados do sudeste brasileiro foi de
0,56, 0,56, 0,59 e 0,56, na devida ordem.
No período em questão, o estado de Minas Gerais foi o que obteve menor variação percentual do
coeficiente de Gini entre os que compõem a região sudeste do Brasil, demonstrando que pouco avançou
rumo à redução da desigualdade de renda. Sendo assim, este foi escolhido com vistas a investigar a baixa
variabilidade da sua desigualdade de renda.
Nesse sentido, diante da importância da discussão sobre a desigualdade no contexto brasileiro, mais
especificadamente no estado de Minas Gerais, o presente estudo apresenta a seguinte questão-problema:
Como se encontra a situação da desigualdade na distribuição de renda nos municípios do estado de Minas
Gerais?
Para responder à questão norteadora, objetiva-se demonstrar a desigualdade na distribuição de renda dos
municípios do estado de Minas Gerais com base nos dados dos Censos Demográficos dos anos de 1991, 2000
e 2010.
Para o desenvolvimento do trabalho ora apresentado, adotou-se os seguintes procedimentos
metodológicos: pesquisa, levantamento de dados e seleção bibliográfica acerca da temática proposta. Após,
foi feita análise de dados secundários obtidos em fontes como o Atlas do Desenvolvimento Humano do
Brasil e elaboração de mapas cartográficos através do software Esri ArcGIS 10.5 (Environmental Systems
Research Institute [ESRI], 2018).
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A fundamentação teórica encontra-se apoiada nas ideias de Jessé Souza (2006), Alberto Cimadamore e
Antônio Cattani (2007), Marcelo Côrtez Neri e Pedro Herculano Cavalcanti Ferreira de Souza (2012), David
Harvey (2013), Thomas Piketty (2015) e outros autores que contribuíram significativamente para a discussão
aqui proposta.
O trabalho está dividido em seis seções, a saber: Introdução; Revisão de Literatura; Procedimentos
Metodológicos; Análise e Discussão de Resultados; Considerações Finais; e Referências.
Revisão de literatura
A desigualdade é um dos temas centrais de discussões políticas, econômicas e sociais da atualidade.
Conforme Piketty (2015), estas discussões são polarizadas, sendo que um destes polos defende um
posicionamento liberal de direita e outro o tradicional de esquerda.
Piketty (2015) afirma que a posição liberal de direita defende que somente as forças do mercado, a
economia, a iniciativa privada e individual e o aumento da produtividade podem tornar possível a melhoria
efetiva da renda e das condições de vida dos menos favorecidos. Em contrapartida, aqueles que defendem a
posição tradicional de esquerda, alegam que somente as lutas sociais e políticas são eficientes na busca da
redução da pobreza e miséria dos menos favorecidos. O autor ainda completa afirmando que esta posição
tem sua origem nos teóricos socialistas do século XIX e da prática sindical.
Os teóricos não quantificavam a desigualdade e, portanto, a resposta para a existência de tal fenômeno
era a lógica do sistema capitalista. Piketty (2015, p. 26) afirma que para estes teóricos, “[...] a lógica do
sistema capitalista é alargar incessantemente a desigualdade entre duas classes sociais opostas, os
proletários e os capitalistas, e isso tanto no âmbito dos países industrializados como entre países ricos e
países pobres”. Harvey (2013) afirma que as classes mais altas acreditam que a desigualdade social tem uma
função dentro da sociedade e na economia. Para os integrantes das classes mais altas é necessário que haja a
desigualdade na sociedade para que se tenha equilíbrio e o crescimento econômico ocorra de fato.
Para Harvey (2013), a desigualdade social foi construída para que o risco e a inovação empresarial fossem
encorajados, conferindo assim a um determinado território, competitividade e crescimento.
Consequentemente, o autor afirma que se as classes inferiores se encontram em condições de desigualdade
é porque estas falharam motivadas por razões pessoais ou culturais no melhoramento de seu capital
humano.
Neste contexto, as classes superiores cumpriram seu papel e mantem-se em constante crescimento e as
inferiores se deterioraram justamente por terem feito o mesmo. Conforme Harvey (2013, p. 20), nesta
concepção, de um mundo neoliberal darwiano, idealizada e perseguida pelas classes mais altas, “[...]só os
mais aptos poderão e irão sobreviver”.
A desigualdade e a pobreza são problemas sociais enfrentados pela grande maioria dos países, sobretudos
aqueles que são considerados subdesenvolvidos, como é o caso da América Latina.
Os países e regiões da América Latina desde os tempos coloniais, se constituíram com a influência da
pobreza e da desigualdade embora possuam suas peculiaridades próprias. Os mesmo compartilham os altos
níveis de pobreza e desigualdades e estas acabam por influenciar a vida política, econômica, social e cultural
da região.
Para Cimadamore e Cattani (2007, p. 7), “[...] a desigualdade gera pobreza à proporção que, em um
determinado ponto histórico, a distribuição do estoque de recursos econômicos faça parte de um jogo de
soma zero”. Neste sentido, Fogel (2002) afirma que o que se tem notado é um incremento do índice de Gini,
representando um aumento na desigualdade de renda entre os países latino-americanos.
Langoni (1972), ao tratar da desigualdade de renda no Brasil, ressalta que esta é ocasionada pelo mercado
de trabalho devido à heterogeneidade da força de trabalho com respeito a nível educacional, idade, sexo,
setor de atividade e região de residência, concluindo que um dos principais determinantes da desigualdade
de renda no Brasil é a política educacional entre os membros da força de trabalho. Diferenças estas criadas
pela sociedade brasileira.
Limitando-se à realidade brasileira, Souza (2006) vai mais longe e afirma que os debates que se ocupam
da questão da desigualdade tem sido conduzidos sob o cerne da fragmentação do conhecimento e também
da fragmentação da percepção da realidade. Em outras palavras, os debates acerca da desigualdade brasileira
tem sido travados de forma fragmentada e sensacionalista pela grande mídia e o que se tem observado é a
tentativa de ‘chocar o público e por sentimentalizar e novelizar a política’. Souza (2006) argumenta que
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temas como ‘violência, segurança pública, direitos humanos, marginalidade, políticas sociais, sistema
prisional e ações voluntárias’ são práticas sociais e temas de discussão que, apesar de possuírem elevada
importância, têm sido tratados de forma superficial e generalizada pela mídia, Academia e a reflexão pública
brasileira. Neste sentido, não tem havido esforços neste sentido para buscar as causas e razões mais
profundas desses problemas sociais.
Ainda no que se refere à realidade brasileira, Simão (2004) reafirma a importância de levar em
consideração aspectos históricos e institucionais relativos ao período colonial para compreensão da
distribuição de renda no Brasil hoje. O autor exemplifica com a concentração de terras em latifúndios,
associada ao modelo agrário, que predomina no país, bem como o escravismo e a maneira como se deu o
abolicionismo no Brasil, permitindo a marginalização dos negros.
Em síntese, esta fragmentação e superficialidade citadas pelo autor ajudam a compreender que a
desigualdade social é um conceito que abrange diversos outros tipos de desigualdades. O tipo de
desigualdade mais conhecido é a econômica que versa sobre a distribuição desigual da renda e da riqueza.
O coeficiente de Gini
Ainda não se entrou em consenso sobre a medida que melhor represente a desigualdade, porém
Morrisson (1996, p.81-96) afirma que o coeficiente de Gini ou os indicadores de Theil e de Atkinson, dentre
outros, são utilizados para medir a desigualdade.
Para este estudo, o coeficiente de Gini foi escolhido como indicador de desigualdade, pois a intenção é
avaliar a desigualdade de renda, um dos vários tipos de manifestação deste fenômeno.
Para Neri e Souza (2012, p. 8), o coeficiente de Gini “[...] é uma medida menos intuitiva, porém mais
abrangente da evolução da desigualdade”. Os autores ainda afirmam que esta medida sintetiza melhor o
conjunto de mudanças observadas.
Corroborando com tal afirmação, Pochmann (2012) evidencia o fato das estatísticas do coeficiente de
Gini e de outros indicadores revelam o sentido das transformações sociais ocorridas no Brasil.
O coeficiente de Gini foi desenvolvido pelo estatístico italiano Corrado Gini e publicado no documento
intitulado Variabilità e mutabilità (Variabilidade e mutabilidade em italiano), no ano de 1912. Conforme
Neves, Câmara, Sesso Filho, Esteves, e Marconato (2015), o coeficiente de Gini é um instrumento que tem
por finalidade medir o grau de concentração de renda em determinado grupo, onde também é apontada a
diferença entre o rendimento de pobres e ricos. Numericamente, o indicador varia de zero a um, sendo que o
valor zero representa uma situação de igualdade e um o oposto.
Shorrocks (1982) destaca que o coeficiente de Gini pode ser decomposto em componentes da renda e a
expressão resultante depende do coeficiente de concentração de cada componente e de seu peso na renda
total. O cálculo do coeficiente de Gini é realizado da seguinte forma:
(1)
onde: G representa o coeficiente de Gini; X é a proporção acumulada da variável ‘população’; e Y é a
proporção acumulada da variável ‘renda’.
De maneira simplificada, o coeficiente de Gini é representado pela seguinte fórmula:
  Σ (2)
onde: G representa o Coeficiente de Gini; Ch é o coeficiente de concentração da renda; h corresponde à
renda total; e Φh é o peso do fator h na renda total.
Desigualdade de renda no Brasil
O Brasil, por exemplo, país subdesenvolvido (em desenvolvimento), é desigual em termos sociais e
econômicos. Apesar de o país coniver com tal realidade, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE], 2011), a desigualdade de renda no Brasil
caiu continuamente desde 2001.
Entre os anos de 2001 e 2011, a renda per capita dos 10% mais ricos se elevou 16,6%, enquanto a renda
dos mais pobres cresceu 91,2% no mesmo período. Este fenômeno, traduzido pelos dados, foi intitulado por
Neri e Souza (2012) de ‘década inclusiva’.
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Prova disso é que no ano de 2011, conforme o PNAD, o Brasil atingiu seu menor nível de desigualdade de
renda desde seus primeiros registros, iniciados em 1960, pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Para ilustrar a situação, a Figura 1 traz a situação da desigualdade no Brasil, representada pelo
coeficiente de Gini, desde o ano de 1960 (primeiro registro) até o ano de 2011.
Figura 1. Desigualdade (Gini) no Brasil de 1960 a 2011.
Fonte: Neri e Souza (2012)
Através da Figura 1 é possível observar que do ano de 1960 ao ano de 1990 a desigualdade, representada
pelo coeficiente de Gini, obteve um crescimento exponencial. Em 1960, o coeficiente de Gini era de 0,54 e se
elevou para 0,61 em 1990, sendo que neste último ano, foi aquele em que pode-se observar o maior
coeficiente dentro da série histórica, indicando que a desigualdade na distribuição de renda se elevou neste
período.
A partir daí pode-se observar um decrescimento, até que no ano de 2011, este atingiu o menor índice,
0,53, indicando que a desigualdade na distribuição de renda diminuiu no período que compreende os anos
de 1990 a 2011.
Para Neri e Souza (2012, p. 6), no período em questão, “[...] os ganhos de renda obtidos aumentam
paulatinamente, na medida em que caminhamos do topo para a base da distribuição de renda”. Conforme os
autores, como consequência da redução da desigualdade, “[...] a pobreza mantém uma contínua trajetória
decrescente, que vem desde o fim da recessão de 2003 independentemente da linha de pobreza e da medida
usada” (Neri & Souza, 2012, p. 9).
De acordo com Neri e Souza (2012), a redução da pobreza é explicada pela redução da desigualdade de
renda, que também pode ser explicada pela adoção das metas do milênio das Organizações das Nações
Unidas (ONU) por parte do governo do Brasil.
Tentando compreende se tal fenômeno se estende ao estado de Minas Gerais, uma das 27 unidades
federativas do Brasil, o presente estudo buscou analisar a desigualdade na distribuição de renda dos
municípios do estado de Minas Gerais com base nos dados dos Censos Demográficos dos anos de 1991, 2000
e 2010.
Segundo Silva, Fontes, e Alves (2006), apesar do estado de Minas Gerais apresentar um papel importante na
economia brasileira e na política, se caracterizando como um dos mais dinâmicos do pais, dono de muitas
riquezas e um vasto território, o mesmo apresenta uma economia cheia de dualidades, pois “[...] algumas regiões
e municípios demonstrando alto desenvolvimento e prosperidade, enquanto em outros predominam atraso
econômico e penúria, péssimos indicadores sociais, alto índice de pobreza e fome” (Silva et al., 2006, p. 55).
De acordo com os autores, esta heterogeneidade que caracteriza o estado “[...] apresenta-se tanto em variáveis
econômicas quanto geográficas e sociais e, em parte, pode ser explicada por sua extensão territorial e pela
concentração da produção e da população em determinadas áreas” (Silva et al., 2006, p. 55).
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Procedimentos metodológicos
Para as demonstrações pretendidas com este estudo, foi realizada uma pesquisa de abordagem
quantitativa. Quanto aos objetivos a pesquisa se classifica em descritiva. Quanto aos procedimentos
técnicos, por sua vez, a pesquisa classifica-se em documental. A variável utilizada foi o coeficiente de Gini,
que retrata a desigualdade de renda.
Os dados da pesquisa foram coletados na plataforma Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil,
desenvolvida em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a Fundação
João Pinheiro (FJP) e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).
Foram coletados dados para os anos de 1991, 2000 e 2010, em que ocorreram os últimos Censos
Demográficos no Brasil. Posteriormente à coleta e organização dos dados, foram efetuadas análises dos
mapas coropléticos que foram construídos por meio da utilização do software cartográfico Esri ArcGis 10.5.
(ESRI, 2018).
Caracterização do estado de Minas Gerais
Minas Gerais é uma das 27 unidades federativas existentes no Brasil, integrante da região sudeste, quarto
em extensão territorial e o segundo em número de habitantes. Limita-se ao sul e sudoeste com o estado de
São Paulo, a oeste com Mato Grosso do Sul, a noroeste com Goiás e o Distrito Federal, a norte e nordeste
com o estado da Bahia, a leste com o Espírito Santo e a sudeste com o Rio de Janeiro. A Figura 2 apresenta o
mapa de localização do estado de Minas Gerais.
Figura 2. Mapa de localização do estado de Minas Gerais.
Fonte: Elaborado pelos autores.
O estado de Minas Gerais tem área total de 586.522,122 km2, estimativa populacional da Pesquisa
Nacional por Amostra de Municípios (IBGE, 2018) do ano 2018 de 21.119.536 habitantes, densidade
demográfica de 36,01 hab. Km-2, Produto Interno Bruto (PIB) per capita de R$ 17.931, posicionando-se na
décima posição em termos de crescimento econômico, clima tropical e tropical de altitude e tem como
capital o município de Belo Horizonte/MG.
O território do estado é divido em 853 municípios que são subdivididos nas mesorregiões de Campos
das Vertentes, Central Mineira, Jequitinhonha, Metropolitana de Belo Horizonte, Noroeste de Minas,
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Norte de Minas, Oeste de Minas, Sul e Sudoeste de Minas, Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, Vale do
Mucuri, Vale do Rio Doce e Zona da Mata.
Análise e discussão de resultados
Nesta seção serão apresentados mapas coropléticos do coeficiente de Gini dos municípios dos municípios
do estado de Minas Gerais nos anos de 1991, 2000 e 2010, que serão interpretados em conformidade com a
teoria apresentada na fundamentação teórica. Os valores da variável encontram-se uniformemente
distribuídos dentro dos limites da área do estado de Minas Gerais. Neste sentido, o fenômeno da
desigualdade de renda muda de valor nos limites das unidades geográficas do estado de Minas Gerais, e,
portanto, sua variação espacial ocorre de forma abrupta nos limites geográficos das unidades estatísticas e
administrativas.
A desigualdade de renda da população residente nos municípios do estado de Minas Gerais se torna mais
evidente quando se analisa individualmente cada município, posto que é um dos Estados em que mais se
verifica a coexistência de regiões modernas em contraposição aquelas tidas como estagnadas. Deste modo,
os municípios coloridos com a cor azul possuem baixíssima concentração de renda, os da cor verde baixa.
Aqueles coloridos com a cor amarela possuem concentração média de renda. Os da cor laranja possuem alta,
e os da cor vermelha altíssima concentração.
Para facilitar a análise, foram construídos três mapas, um para cada ano, onde pode-se visualizar o mapa
coroplético da desigualdade de renda no período estudado.
No ano de 1991, diversos municípios do estado de Minas Gerais tiveram seu coeficiente de Gini
estratificado em baixíssimo, baixo, médio e alto. Além dos estratos supracitados, os municípios que não
obtiveram estas classificações receberam o estrato de altíssima concentração de renda. Os municípios que
receberam tal estrato correspondem a 18 (2,11%) dos 853 municípios do estado de Minas Gerais. São eles:
(1) Almenara; (2) Baependi; (3) Campo Belo; (4) Carmo do Cajuru; (5) Conquista; (6) Crisólita; (7) Cruzeiro
da Fortaleza; (8) Divisópolis; (9) Estrela do Indaiá; (10) Itambacuri; (11) Jesuânia; (12) Luminárias; (13)
Mamonas; (14) Recreio; (15) Salto da Divisa; (16) Santa Maria do Suaçuí; (17) São Domingos das Dores; e
(18) Tupaciguara (Figura 3).
Figura 3. Mapa do coeficiente de Gini dos municípios do estado de Minas Gerais no ano de 1991.
Fonte: Elaborado pelos autores.
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Estes fazem parte do estrato de municípios com altíssima concentração de renda, portanto maior
desigualdade em sua distribuição, pois a renda concentra-se na mão de poucos e a maioria sofre com sua
ausência.
No ano 2000, conforme Figura 4, os municípios do estado de Minas Gerais foram estratificados da mesma
forma, em baixíssima, baixa, média, alta e altíssima concentração de renda. Dentre estes, pode-se destacar
novamente aqueles que receberam o estrato de altíssima concentração de renda e consequente altíssima
desigualdade em sua distribuição.
Figura 4. Mapa do coeficiente de Gini dos municípios do estado de Minas Gerais no ano de 2000.
Fonte: Elaborado pelos autores.
No ano de 2000, estes foram responsáveis por um número mais expressivo, sendo estes 77 (9,03%) dos 853
municípios do estado. São eles: (1) Água Boa; (2) Águas Formosas; (3) Aiuruoca; (4) Almenara; (5) Amparo da Serra;
(6) Angelândia; (7) Arinos; (8) Ataléia; (9) Bom Jesus da Penha; (10) Bom Repouso; (11) Bonito de Minas; (12)
Brasilândia de Minas; (13) Buenópolis; (14) Buritis; (15) Caparaó; (16) Caratinga; (17) Carmópolis de Minas; (18)
Centralina; (19) Chapada Gaúcha; (20) Coluna; (21) Comendador Gomes; (22) Conceição do Pará; (23) Conquista;
(24) Cordisburgo; (25) Cristais; (26) Divinolândia de Minas; (27) Esmeraldas; (28) Estrela do Indaiá; (29) Formoso;
(30) Fruta de Leite; (31) Guaraciaba; (32) Ibiá; (33) Ibiracatu; (34) Icaraí de Minas; (35) Ingaí; (36) Ipuiúna; (37)
Itaipé; (38) Itamarandiba; (39) Itambacuri; (40) Lagoa Grande; (41) Jequitaí; (42) Jequitibá; (43) Jesuânia; (44) José
Raydan; (45) Luislândia; (46) Luminárias; (47) Madre de Deus de Minas; (48) Manhumirim; (49) Mário Campos; (50)
Miravânia; (51) Monjolos; (52) Monte Formoso; (53) Montezuma; (54) Nanuque; (55) Nova Belém; (56) Nova Lima;
(57) Novo Oriente de Minas; (58) Paracatu; (59) Passa-Vinte; (60) Pavão; (61) Pedra do Anta; (62) Ponte Nova; (63)
Romaria; (64) Rubelita; (65) Salto da Divisa; (66) Santa Cruz de Salinas; (67) Santa Margarida; (68) São João Batista
do Glória; (69) São João del Rei; (70) São João do Manteninha; (71) São Miguel do Anta; (72) São Tiago; (73) Senador
Modestino Gonçalves; (74) Sericita; (75) Serro; (76) Ubaporanga; e (77) União de Minas.
Além de enumerá-los, é possível afirmar ainda que houve um crescimento da concentração de renda e da
desigualdade na distribuição da mesma no período, visto que em 1991 este estrato era responsável por 2,11% do
estrato e em 2000 a porcentagem de participação foi 9,03%.
Já no ano de 2010, como pode-se observar na Figura 5, assim como nos anos de 1991 e 2000, o coeficiente
de Gini dos municípios do estado de Minas Gerais foi estratificado em cinco estratos: baixíssimo, baixo,
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médio, alto e altíssimo. Os que receberam o estrato de altíssimo foram 42 (4,92%) dos 853 municípios do
estado. São eles: (1) Águas Formosas; (2) Amparo da Serra; (3) Araçuaí; (4) Barbacena; (5) Belo Horizonte;
(6) Bonito de Minas; (7) Brumadinho; (8) Buritis; (9) Capitão Andrade; (10) Caraí; (11) Carrancas; (12)
Caxambu; (13) Central de Minas; (14) Chiador; (15) Cristália; (16) Cruzília; (17) Diego de Vasconcelos; (18)
Estrela do Indaiá; (19) Jabuticatubas; (20) Jequitaí; (21) Juiz de Fora; (22) Lagoa Formosa; (23) Leopodina;
(24) Liberdade; (25) Luisburgo; (26) Mamonas; (27) Matutina; (28) Medina; (29) Mercês; (30) Monte
Formoso; (31) Nacip Raydan; (32) Nova Lima; (33) Prados; (34) Salinas; (35) Santa Margarida; (36) Santo
Antônio do Retiro; (37) São João do Manteninha; (38) São João do Paraíso; (39) Senador Cortes; (40) Serro;
(41) Timóteo; e (42) Tiros.
Figura 5. Mapa do coeficiente de Gini dos municípios do estado de Minas Gerais no ano de 2010.
Fonte: Elaborado pelos autores.
Alguns municípios se mantiveram no mesmo estrato por todo o período analisado. No caso daquelas
localidades com altíssima concentração de renda, o município de Estrela do Indaiá se destaca por ter se
mantido no mesmo estrato nos anos de 1991, 2000 e 2010. No caso deste estrato em específico, outros
municípios obtiveram a mesma classificação por dois anos seguidos como foi o caso de que se concentrou no
estrato de município com elevado grau de concentração de renda no período que compreende os anos de
Almenara, Conquista, Itambacuri, Jesuânia, Luminárias e Salto da Divisa. Já o município de Mamonas,
esteve no estrato de municípios com altíssima concentração de renda nos anos de 1991 e 2010.
Outra análise que se pode fazer a partir da análise destes mapas é a regional, tomando como base o mapa
apresentado na Figura 3. A partir da observação do mapa coroplético do coeficiente de Gini dos municípios
do estado de Minas Gerais no ano de 1991, é possível inferir que as localidades com baixíssima concentração
de renda encontram-se dispersas no mapa.
Já aquelas com altíssima concentração de renda localizam-se em sua maioria nas mesorregiões do
Central Mineira, Jequitinhonha, Metropolitana de Belo Horizonte, Vale de Mucuri, Vale do Rio Doce e Zona
da Mata. Dentre esta, pode-se destacar as mesorregiões de Jequitinhonha e Vale de Mucuri que são
marcadas por altíssima concentração de renda e por consequência intensa desigualdade de renda e de ordem
socioeconômica. Simão (2004) assevera que essa mesorregião é baseada na agricultura de subsistência,
sendo uma das mais pobres do estado de Minas Gerais.
Page 10 of 11 Beirão et al.
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No ano de 2000, o panorama da desigualdade de renda no estado de Minas se modificou, visto que, como
já fora evidenciado, o número de municípios com altíssima concentração de renda aumentou
consideravelmente, de 2,11% para 9,03%. Se a renda se concentrou, a desigualdade na distribuição da
mesma se elevou, principalmente nas mesorregiões do Central Mineira, Jequitinhonha, Metropolitana de
Belo Horizonte, Noroeste de Minas, Norte de Minas, Sul/Sudoeste de Minas, Vale de Mucuri e Zona da Mata.
O destaque desta vez é da mesorregião do Jequitinhonha, Noroeste de Minas e Norte de Minas que possuem
o maior número de municípios com altíssima concentração de renda e por consequência altíssima
desigualdade na distribuição da mesma.
Já no ano de 2010, a situação se modificou mais uma vez, visto que o número de municípios com
altíssima concentração de renda foi reduzido de 77 para 42, representando uma redução de 4,11% em
relação ao ano de 2000. Neste ano, a concentração de renda ocorreu mais comumente das mesorregiões do
Central Mineira, Jequitinhonha, Norte de Minas, Sul/Sudoeste de Minas e Zona da Mata.
Neste cenário, o ano censitário de 2000, foi o que obteve maior concentração de renda e por
consequência maior desigualdade em sua distribuição. Além disso, pode-se inferir que o estado de Minas
Gerais obteve maior concentração de renda do ano de 1991 para 2000, portanto maior desigualdade na
distribuição da mesma e obteve uma considerável redução desta desigualdade e concentração no ano de
2010, indicando que a desigualdade aumentou e diminuiu, respectivamente, no período analisado, entre os
municípios do estado de Minas Gerais.
A redução da desigualdade de renda ocorrida entre os censos de 2000 e 2010 do estado de Minas Gerais,
ocorre em decorrência do fenômeno intitulado por Neri e Souza (2012) como ‘década inclusiva’, visto que,
assim como o Brasil, o estado experimentou crescimento e decrescimento de seu indicador de desigualdade
de distribuição de renda, o coeficiente de Gini, sofrendo com este crescimento os impactos da ‘década
inclusiva’. Sendo assim, o fenômeno supracitado foi evidenciado por meio da análise dos dados,
comprovando a tendência nacional.
Considerações finais
Esse estudo objetivou demostrar a desigualdade de renda dos municípios do estado de Minas Gerais com
base nos dados dos Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010.
Foi realizada a análise e interpretação de mapas do coeficiente de Gini dos municípios do estado de
Minas Gerais nos anos de 1991, 2000 e 2010, através de recursos cartográficos utilizando cartogramas
construídos pelo método coroplético.
No ano de 1991, diversos municípios obtiveram coeficiente de Gini baixíssimo, baixo, médio e alto. Além
disso, 18 (2,11%) dos 853 municípios do estado de Minas Gerais alcançaram coeficiente de Gini considerado
altíssimo, tendo estes altíssima concentração de renda, portanto maior desigualdade. No ano 2000, o
coeficiente de Gini também foi representado no mapa coroplético por meio de cinco estratos, baixíssimo,
baixo, médio, alto e altíssimo, sendo que este último estrato sofreu uma elevação na sua participação,
passando de 2,11% em 1991 para 9,03%, indicando que houve um aumento da concentração de renda e
consequentemente da desigualdade na distribuição da mesma no território mineiro. Já no ano de 2010,
adotando a mesma divisão, o estrato de altíssima concentração de renda sofreu uma redução de 9,03% para
4,92%, indicando que houve um decréscimo na concentração de renda e portanto a renda nesta localidades
foram distribuídas de forma mais equitativa.
Neste cenário, o ano censitário de 2000 foi o que obteve maior concentração de renda e por consequência
maior desigualdade em sua distribuição. Além disso, pode-se inferir que o estado de Minas Gerais obteve
maior concentração de renda do ano de 1991 para 2000, portanto maior desigualdade na distribuição da
mesma e obteve uma considerável redução desta desigualdade e concentração no ano de 2010, indicando
que a desigualdade aumentou e diminuiu, respectivamente, no período analisado. Em relação aos
censitários de 2000 e 2010, estes comprovaram o fenômeno da ‘década inclusiva’, pois o mesmo fora
evidenciado na análise dos municípios do estado de Minas Gerais.
O estudo concluiu que, o estado de Minas Gerais apesar de usufruir de condições mais favoráveis que a de
outras unidades da federação em termos de distribuição de renda, ainda possui localidades com elevada
concentração de renda e, portanto, elevada desigualdade na distribuição da mesma, sendo necessária a
adoção de novas e eficazes políticas de descentralização regional por parte do governo estadual, a fim de
diminuir as diferenças entre as regiões mineiras e erradicação da pobreza e da desigualdade de renda no
território e no Brasil.
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Article
The aim of the research is to identify the key features of spatial inequality of income distribution in Brazil and its representation on different spatial scales: on the regional, state or municipal level, as well as special statistical grids (mesoregions and microregions). The economic development of Brazil in the beginning of the XXI century is characterized by reducing of the level of income inequality, as well as a certain decrease of the level of spatial inequality between the southern and northeastern regions. The common rule is that the heterogeneity of income distribution gradually increases from top to the lower levels of spatial division. The analysis of inequality measures has proven that despite of the general decrease of regional inequality in 2000–2010, the lower levels of territorial division have shown the lowest progress in reducing regional inequality. The paper also proposes the ways to illustrate spatial inequality when applying polyscale method, based on mapping the variation of average population income in Brazil on different scale levels.
Article
Full-text available
This article aims to analyze the evolution of the spatial distribution of access to basic sanitation services, water supply, sewage and garbage collection in the state of Paraná municipalities for the years 2006 and 2013. The study discusses the effects the Basic Sanitation Law of 2007 in the municipal districts. We used the methodology Exploratory Analysis of Spatial Data (ESDA) to identify univariate coefficients I Moran, scatter diagrams and maps of clusters of variables municipalities. Data were from the Department of SUS (DATASUS), the Ministry of Health. The results can be inferred that there has been progress in access to water supply, sewage and garbage collection. In water supply and garbage collection there has been a rise in access, there was also a reduction in the dispersion over the period analyzed indicating a possible convergence between the municipalities in supply, with respect to the second was an increase in access and there was an increase scattering over the period.
Article
Full-text available
Consistent with the provocative hypothesis of Engerman and Sokoloff [Engermann, Stanley and Kenneth Sokoloff (1997), “Factor Endowments, Institutions, and Differential Paths of Growth Among New World Economies: A View from Economic Historians of the United States,” in Stephen Haber, ed. How Latin America Fell Behind, Stanford CA: Stanford University Press., Sokoloff, Kenneth L. and Stanley L. Engerman (2000), Institutions, Factor Endowments, and Paths of Development in the New World, Journal of Economic Perspectives v14, n3, 217–32.], this paper confirms with cross-country data that agricultural endowments predict inequality and inequality predicts development. The use of agricultural endowments –specifically the abundance of land suitable for growing wheat relative to that suitable for growing sugarcane – as an instrument for inequality is this paper's approach to problems of measurement and endogeneity of inequality. The paper finds inequality also affects other development outcomes – institutions and schooling –which the literature has emphasized as mechanisms by which higher inequality lowers per capita income. It tests the inequality hypothesis for development, institutional quality and schooling against other recent hypotheses in the literature. While finding some evidence consistent with other development fundamentals, the paper finds high inequality to independently be a large and statistically significant barrier to prosperity, good quality institutions, and high schooling.
Article
Resumo: Demonstra que, se a pobreza na América Latina é explicada pelo tipo de inserção internacional determinado pelo capital, a desigualdade é ampliada principalmente por razões internas ao corpo social. A redefinição das trajetórias de desenvolvimento nunca se concretiza. Pelo contrário, a superexploração da força de trabalho é reproduzida e a modernização da sociedade determina uma inserção no contexto internacional a partir de ideologias, mitos e uma cultura política alheios a sua realidade. No entanto, não se trata de cultivar o nacionalismo cego e exótico. A questão social latino-americana só pode se resolver por meio de uma ruptura com os padrões atuais e os recentes acontecimentos políticos da região parecem apontar nesta direção. Abstract: The article shows that poverty in Latin America countries can be explained by international context imposed by capitalistic relations. Social development is based on over exploitation of work force. In addition, there is a reproduction of an ideology and a political culture that doesn't recognize the exploitation as a result of the modernization based on inequality. In this context, a disruption is necessary and the recent events seem to be an alternative for the continent.
Article
In 2001, Joseph Stiglitz was awarded the Nobel Prize for economics. In 2002, he published an article in the Review (Vol. 141, No. 1-2) entitled "Employment, social justice and societal well-being" in which he proposes that the purpose of economic activity is to improve the well-being of individuals, and that employment is essential to this well-being. In this regard, his description of the negative effects of unemployment echoes that given in the abovementioned article by Amartya Sen ... [more] In 2001, Joseph Stiglitz was awarded the Nobel Prize for economics. In 2002, he published an article in the Review (Vol. 141, No. 1-2) entitled Employment, social justice and societal well-being in which he proposes that the purpose of economic activity is to improve the well-being of individuals, and that employment is essential to this well-being. In this regard, his description of the negative effects of unemployment echoes that given in the abovementioned article by Amartya S...
Book
This book, based on thirty years' research, goes an important stage beyond either of these ideas: it demonstrates that more unequal societies are bad for almost everyone within them---the well-off as well as the poor. The remarkable data the book lays out and the measures It uses are like a spirit level which we can hold up to compare the conditions of different societies. The differences revealed, even between rich market democracies, are striking. Almost every modern social and environmental problem---ill-health, lack of community life, violence, drugs, obesity, mental illness, long working hours, big prison populations---is more likely to occur in a less equal society. The Spirit Level goes to the heart of the apparent contradiction between the material success and social failings of many modern societies, but it does not simply provide a key to diagnosing our ills. It tells us how to shift the balance from self-interested 'consumerism' to a friendlier and more collaborative society. It shows a way out of the social and environmental problems which beset us and opens up a major new approach to improving the real quality of life, not just for the poor but for everyone. It is, in its conclusion, an optimistic book, which should revitalize politics and provide a new way of thinking about how we organize human communities. As the authors write, 'It falls to our generation to make one of the biggest transformations in human history. The role of this book is to point out that greater equality is the material foundation on which better social relations are built.' (PsycINFO Database Record (c) 2012 APA, all rights reserved)(jacket)
Article
Principles from the social thought of the Indian philosopher P.R. Sarkar are employed to show that there exists an optimal level of economic inequality that joins the values of economic justice and efficiency. Sarkar favored establishing a living wage as well as a maximum wage that allows for work incentives. It is argued that the primary justification for inequality is to provide incentives for individual productivity, and that the value of those incentives should not exceed the economic contributions they produce. To determine the relative importance of income incentives in motivating individual economic contributions, it is found necessary to develop a multifaceted model of human productivity. Such a model is developed using concepts from humanistic psychology. A Sarkarian individual productivity curve is introduced in diagrammatic analysis to demonstrate the existence of an optimal level of inequality, and also to explain the persistence of extreme income inequality.
Article
In this study we document the contribution of the recent decline on income inequality to the income?s growth of the poorest and consequently to the reduction of poverty and extreme poverty in the country. First, we investigate the income growth of the poorest. We demonstrated that, between 2001 and 2005, the national income grew 0,9% a year, but the richest lost. The annual income growth rate of the richest 10% and 20% was negative (?0,3 and ?0,1, respectively). Then, once the national income grew, the poorest necessarily have perceived some gain. In fact, the income growth rate of the poorest 10% reached 8% a.a. Therefore, the 2001?2005 period register two desirable transformations in the Brazilian income distribution: there was growth (although very modest) and the degree of inequality reduced significantly (the Gini coefficient, for example, decline 4,6%). Next, we analyze the huge decline on poverty in this period. We demonstrated that, on the contrary to the history of the country, the recent decline on poverty essentially resulted from the decline of inequality. The percentage of poor and also the extremely poor fell down 4,5 percentage points each. The novelty is that in this period the main determinant was the inequality decline and not the income growth. Finally, we investigate the degree of substitution and complementation between growth and inequality reductions to fight against poverty. We demonstrated that to reach the same decline on poverty, just counting with growth, it would be necessary to increase the income of all families in 14,5%, and to reach the same decline on extreme poverty it would be necessary to increase the income of all families in 22%.
Article
Esse trabalho é um resumo da pesquisa DISTRIBUIÇÃO DA RENDA E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DO BRASIL, realizado através de um convênio entre o IPE e o Ministério da Fazenda, a ser publicado pela editora APEC. Agradeço em especial a colaboração do professor Isaac Kerstenetzsky, presidente do IBGE, por ter fornecido os dados do Censo Demográfico de 1970, e ao professor Antonio Delfim Netto pelo apoio e estímulo ao longo de todo o trabalho. A realização desta pesquisa num prazo relativamente exíguo só foi possível pela capacidade e dedicação dos analistas Claudio Martagão Gesteira Neto e Luis Oscar Dantas do SERPRO. Eu me beneficiei extremamente das críticas e sugestões dos professores Affonso Celso Pastore, Guilherme Dias e Ruben Almonacid do IPE, que acompanharam de perto a elaboração desta pesquisa. Igualmente úteis foram as críticas feitas a uma versão preliminar deste trabalho, pelo professor Lancer Taylor da Universidade de Harvard. Desnecessário repetir que erros e omissões são de minha exclusiva responsabilidade.