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Consumo de alimentos ultraprocessados em crianças atendidas pelo serviço de Atenção Básica na região Sul do Brasil

Authors:

Abstract

Objetivo Investigar o consumo de alimentos ultraprocessados na alimentação das crianças brasileiras de 2 a 9 anos da região Sul do Brasil. Metodologia Estudo transversal, no qual foram utilizados os dados públicos dos relatórios do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional. Utilizou-se os dados de consumo alimentar de crianças de 2 a 9 anos dos anos de 2015 e 2016. Os grupos de alimentos utilizados para as análises foram: consumo de biscoitos, bolachas recheadas e guloseimas; bebidas adoçadas; macarrão instantâneo, salgadinho e biscoito de pacote e hambúrguer/e ou embutidos. Resultados Foram analisados os dados de 22.761 crianças. Destas, 55,8% tinham idade entre 2 e 4 anos e 44,1% entre 5 e 9 anos. O grupo bebidas adoçadas (70,45%), seguido pela categoria macarrão instantâneo, salgadinhos e biscoitos de pacotes (63,25%) foram os que apresentaram maior média de consumo entre as duas faixas etárias. Quando comparado às prevalências do Brasil, o consumo de alimentos ultraprocessados foi significativamente maior na região Sul. Em relação à faixa etária, verificou-se que o consumo de alimentos ultraprocessados por crianças de 5 a 9 anos foi superior, quando comparadas às crianças de 2 a 4 anos (p < 0,002). Conclusões Há necessidade da implementação de ações de saúde e educação efetivas que possam diminuir as prevalências do consumo de alimentos ultraprocessados no Brasil, especialmente na região Sul.
Consumo de alimentos ultraprocessados em
crianças atendidas pelo serviço de Atenção
Básica na região Sul do Brasil
Consumption of Ultraprocessed Foods in Children
attended by the Basic Attention Service in the
SouthRegionofBrazil
Isabela Faraco de Freitas Libanio1Rafaela da Silveira Correa1,2 Andresa de Souza Monteiro1
Juliana Paludo Vallandro1
1Centro Universitário Ritter dos Reis (Uniritter), Porto Alegre, RS, Brasil
2UniversidadeFederaldoRioGrandedoSul,PortoAlegre,RS,Brasil
Int J Nutrol 2019;12:3540.
Address for correspondence Juliana Paludo Vallandro, PhD, Rua
Fernando Abbott 455 - Apartamento 901, Torre B. Bairro Cristo
Redentor, Porto Alegre, RS, Brasil. CEP: 91040-360
(e-mail: jujupaludo@hotmail.com).
Palavras-chave
alimentos
industrializados
consumo de
alimentos
crianças
Resumo Objetivo Investigar o consumo de alimentos ultraprocessados na alimentação das
crianças brasileiras de 2 a 9 anos da região Sul do Brasil.
Metodologia Estudo transversal, no qual foram utilizados os dados públicos dos
relatórios do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional. Utilizou-se os dados de
consumo alimentar de crianças de 2 a 9 anos dos anos de 2015 e 2016. Os grupos de
alimentos utilizados para as análises foram: consumo de biscoitos, bolachas recheadas
e guloseimas; bebidas adoçadas; macarrão instantâneo, salgadinho e biscoito de
pacote e hambúrguer/e ou embutidos.
Resultados Foram analisados os dados de 22.761 crianças. Destas, 55,8% tinham
idade entre 2 e 4 anos e 44,1% entre 5 e 9 anos. O grupo bebidas adoçadas (70,45%),
seguido pela categoria macarrão instantâneo, salgadinhos e biscoitos de pacotes
(63,25%) foram os que apresentaram maior média de consumo entre as duas faixas
etárias. Quando comparado às prevalências do Brasil, o consumo de alimentos
ultraprocessados foi signicativamente maior na região Sul. Em relação à faixa etária,
vericou-se que o consumo de alimentos ultraprocessados por crianças de 5 a 9 anos foi
superior, quando comparadas às crianças de 2 a 4 anos (p<0,002).
Conclusões Há necessidade da implementação de ações de saúde e educação
efetivas que possam diminuir as prevalências do consumo de alimentos ultraprocessa-
dos no Brasil, especialmente na região Sul.
Abstract Objective To investigate the consumption of ultraprocessed foods by children
between2and9yearsoldlivingintheSouthregionofBrazil.
Juliana Paludo Vallandro's ORCID is https://orcid.org/0000-0002-
2356-8104.
received
January 8, 2019
accepted
May 16, 2019
DOI https://doi.org/
10.1055/s-0039-1693673.
ISSN 1984-3011.
Copyright © 2019 by Thieme Revinter
Publicações Ltda, Rio de Janeiro, Brazil
THIEME
Artigo Original | Original Article 35
Published online: 26.09.2019
Introdução
O número de crianças com excesso de peso, emtodo o mundo,
aumentou de 32 milhões para 42 milhões entre 2000 e 2013.1
A PesquisaNacional de Demograa e Saúde(PNDS) mostra que
7% das crianças menores de 5 anos estão com índice de massa
corporal (IMC)/idade acima dos padrões de normalidade pro-
postos pelo escore Z.2Entre as crianças de 5 a 9 anos, 33,5%
estão com excesso de peso e 14,3% estão obesas.3Canellas et al
em seu estudo que utilizou dados da Pesquisa de Orçamentos
Familiares (POF) de 20082009 comprovou a associação entre
o consumo de alimentos ultraprocessados (AUP) e excesso de
peso e obesidade em crianças e adultos.4Além disso, evidên-
cias apontam uma prevalência de 19 a 45% e 33,20% de
síndrome metabólica e resistência à insulina em crianças e
adolescentes obesos, respectivamente.3,5
Nas últimas décadas, ocorreram mudanças nos padrões
alimentares infantis, que acarretaram no aumento do con-
sumo de alimentos ultraprocessados.6De acordo com o Guia
Alimentar para a População Brasileira do Ministério da Saúde,
os AUP, tais como biscoitos recheados, salgadinhos de pacote e
macarrão instantâneo, são aqueles cuja fabricação envolve
diversas etapas, técnicas de processamento e ingredientes,
muitos deles de uso exclusivamente industrial.7Fatores
como a globalização, publicidade infantil vinculada aos ali-
mentos, ritmo acelerado de vida e maior poder de compra das
famílias contribuem para substituição de preparações de
refeições caseiras por alimentos industrializados.8
O padrão alimentar estabelecido nos primeiros anos de
vida pode permanecer ao longo da vida. A alimentação
adequada nesta idade é essencial para o crescimento saudá-
vel da criança e também para a prevenção de doenças
crônicas não transmissíveis.9Há evidências cientícas que
demonstram desenvolvimento de síndrome metabólica em
crianças e adolescentes obesos.10,11 Diante deste contexto, o
objetivo do presente estudo é investigar o consumo de
alimentos ultraprocessados na alimentação das crianças
brasileiras, de acordo com os dados do Sistema de Vigilância
Alimentar e Nutricional (SISVAN) 2015/2016.
Metodologia
Trata-se de um estudo transversal, em que foram utilizados
os dados públicos dos relatórios do SISVAN de todo o Brasil,
coletados ao longo dos anos de 2015 e 2016 e estraticados
por região, sexo, raça e faixa etária (24anose 59anos de
idade).
A coleta de dados foi realizada pelos serviços de saúde da
Vigilância Alimentar e Nutricional (VAN) e incluiu as avalia-
ções antropométrica (medição de peso e comprimento/
altura) e do consumo alimentar. Esses dados foram coletados
da página do SISVAN, que pode ser acessada através do
endereço eletrônico http://dabsistemas.saude.gov.br/siste-
mas/sisvanV2/.
No SISVAN o consumo alimentarde crianças de 2 a 9 anos foi
avaliado por meio de um formulário estruturado cujo objetivo
era registrar determinados alimentos consumidos pelas cri-
anças no dia anterior e identicar padrões de alimentação e
comportamento saudáveis ou não-saudáveis. O marcador
saudável incluiu o consumo de frutas, verduras e feijão; e
não-saudável o consumo de embutidos, bebidas adoçadas,
macarrão instantâneo e biscoitos salgados, bem como o con-
sumo de doces, guloseimas e biscoitos recheados.11,12
Para a análise do presente estudo, foram utilizados dados
encontrados no SISVAN referentes ao consumo alimentar de
crianças maiores de 2 anos e menores de 5 anos e de crianças
maiores de 5 anos e menores de 9 anos dos anos de 2015 e
2016. Os grupos de alimentos utilizados para as análises
foram: biscoitos, bolachas recheadas e guloseimas; bebidas
adoçadas; macarrão instantâneo, salgadinho e biscoito de
Methodology Cross-sectional study, in which public data of the System of Food and
Nutritional Supervision reports were used. The nutritional consumption data of
children in the range of 2 to 9 years old of the years from 2015 to 2016 were utilized.
The data utilized for the analysis were: the consumption of cookies and snacks,
sweetened drinks, instant noodles, crisps and crackers, and hamburgers and/or
sausages.
Results Data from 22,761 children were analyzed. Of these, 55.8% were aged
between 2 and 4 years, and 44.1% between 5 and 9 years. The group sweetened
beverages (70.45%), followed by the category instant noodles, snacks and crackers
(63.25%) had the highest average consumption between the two age groups. When
compared with the prevalence of Brazil, the consumption of ultraprocessed foods was
signicantly higher in the South region. In relation to the age group, it was veried that
the consumption of ultraprocessed foods by children from 5 to 9 years old was higher
when compared with that of children from 2 to 4years old (p<0.002).
Conclusions Therefore, there is a necessity of implementing effective health and
education actions that can decrease the prevalence of the consumption of ultra-
processed foods in Brazil, especially in the South region.
Keywords
industrialized foods
food intake
children
International Journal of Nutrology Vol. 12 No. 1/2019
Consumo de alimentos ultraprocessados em crianças de Freitas Libanio et al.36
pacote e hambúrguer e/ou embutidos, todos considerados
alimentos ultraprocessados, conforme a última edição do
Guia Alimentar para a População Brasileira do Ministério da
Saúde.7
Para a análise estatística, utilizou-se o programa SPSS
(Statiscal Package for the Social Sciences) versão 21.0 (IBM
Corp, Armonk, NY, EUA). As variáveis quantitativas foram
descritas por média e desvio padrão e as categóricas por
frequências absolutas e relativas. Para comparar médias
entre as faixas etárias, entre os anos e na comparação da
região Sul com os dados do Brasil, o teste t-student para uma
amostra foi utilizado. O nível de signicância adotado foi de
5% (p<0,05).
O presente estudo não passou por análise de Comitê de
Ética, visto que foram utilizados dados secundários de um
banco de dados público já existente, sem nenhum tipo de
intervenção direta ou indireta nos indivíduos.
Resultados
Foram analisados os dados de 7.618 crianças em 2015 e
15.143 em 2016, totalizando uma amostra de 22.761 cri-
anças da região Sul. Das 22.761 crianças, 55,8%, tinham
idade entre 2 a 4 anos e 44,1% entre 5 a 9 anos. Quando os
dados foram estraticados por raça e gênero, foi observada
uma diferença no número amostral de 9,88% e 45,64%,
respectivamente, ou seja, a amostra se tornou menor em
relação aos dados estraticados por idades. Essa diferença
foi ocasionada, provavelmente, por perdas amostrais, falta
de informações na hora da coleta ou qualquer tipo de viés
de informação. Os dados apresentados na Tabela 1 descre-
vem de forma completa as características das crianças
avaliadas.
Foi constatada uma alta prevalência de consumo de
alimentos ultraprocessados nas crianças avaliadas da região
Sul. O grupo bebidas adoçadas (70,45%; n¼16.172),
seguido pela categoria macarrão instantâneo, salgadinhos
e biscoitos de pacotes (63,25%; n¼14.492) foram os que
apresentaram maior média de consumo entre as duas faixas
etárias. Em contrapartida, os grupos biscoito, bolachas
recheadas e guloseimas (49,5%; n¼11.231) e hambúrguer
e/ou embutidos (45,17%; n¼9.868) foram menos consumi-
dos. Quando estraticadas por estados da região Sul, as
prevalências de consumo foram: biscoito, bolachas rechea-
das e guloseimas no Paraná (PR) (47,5%; n¼4.616), Santa
Catarina (SC) (48,25%; n¼1.561) e Rio Grande do Sul (RS)
(53,25%; n¼1.880); bebidas adoçadas no PR (73,5;
n¼7.015), SC (67,5%; n¼2.258), e RS (71,25%, n¼2.513);
macarrão instantâneo, salgadinhos e biscoitos de pacote no
PR (63,5%; n¼6.267), SC (64,25%; n¼2.482), e RS (66,75%;
n¼2.488); hambúrguer e/ou embutidos no PR (41%;
n¼3.875), SC (50%; n¼1.508), e RS (46%; n¼1.665) de
consumo de AUP.
De acordo com a Tabela 2, quando comparado o con-
sumo de AUP entre os anos de 2015 e 2016, as diferenças não
foram signicativas. Desta forma, as análises posteriores
foram realizadas agrupando os dois períodos para aumento
do tamanho da amostra e do poder estatístico.
ATabela 3 apresenta a comparação das prevalências de
consumo de AUP entre a região Sul e o Brasil, em que foi
possível observar que o consumo de hambúrguer e/ou
embutidos por crianças entre as duas faixas etárias e o
consumo de macarrão, salgadinhos e biscoitos de pacote
por crianças de 2 a 4 anos, foi signicativamente maior na
região Sul.
Na comparação entre as faixas etárias, vericou-se que o
consumo de macarrão instantâneo, salgadinhos, biscoitos de
pacote e hambúrguer e/ou embutidos por crianças de 5 a 9
anos foi superior, quando comparado ao das crianças de 2 a 4
anos (Tabela 4).
Tabela 2 Comparação de consumo de alimentos ultraprocessados
entreosanosde2015e2016
Ultraprocessados
(% de consumo)
2015 2016 p
Média DP Média DP
Biscoito, bolachas
recheadas,
eguloseimas
49,0 6,13 50,0 1,0 0,709
Bebidas adoçadas 72,1 4,8 68,8 3,5 0,203
Macarrão
instantâneo,
salgadinhos,
ebiscoitos
de pacote
62,5 3,0 64,0 1,9 0,339
Hambúrguer
e/ou embutidos
45,3 5,9 45,0 6,0 0,925
Abbreviations: DP, desvio padrão; p, nível de signicância teste t.
Tabela 1 Caracterização da amostra de crianças atendidas pelo
serviço de Atenção Básica na região Sul avaliadas pelo SISVAN
Variáveis Ano 2015 Ano 2016 Ano
2015/2016
n(%) n(%) n(%)
Faix a et ária
24 4.517 (59,3) 8.199 (54,2) 12.716 (55,8)
59 3.101 (40,7) 6.944 (45,8) 10.045 (44,1)
Total 7.618 (100) 15.143 (100) 22.761 (100)
Sexo
Feminino 3.366 (52,7) 3.089 (51,6) 6.455 (52,1)
Masculino 3.020 (47,3) 2.896 (48,4) 5.916 (47,8)
Total 6.386 (100) 5.985 (100) 12.371 (100)
Raça/Cor
Negra 122 (1,7) 258 (1,9) 380 (1,9)
Parda 908 (12,9) 1.235 (9,2) 2.143 (10,4)
Branca 5.724 (81,3) 11.421 (84,8) 17.145 (83,6)
Amarela 277 (3,9) 551 (4,1) 828 (4,0)
Indígena 5 (0,07) 9 (0,07) 14 (0,1)
Total 7.036 (100) 13.474 (100) 20.510 (100)
n¼frequência absoluta; (%)¼porcentagem em relação ao número
total; SISVAN, Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional.
International Journal of Nutrology Vol. 12 No. 1/2019
Consumo de alimentos ultraprocessados em crianças de Freitas Libanio et al. 37
Discussão
Neste estudo, foi possível observar o elevado consumo de
AUP entre as crianças da região Sul do Brasil. O grupo de
alimentos bebidas adoçadas (70,45%), seguido pelo grupo
macarrão instantâneo, salgadinhos e biscoitos de pacotes
(63,25%) foram os que apresentaram maior média de con-
sumo entre as duas faixas etárias analisadas. Um estudo
realizado na região metropolitana do RS, encontrou resulta-
dos semelhantes, em que os AUP contribuíram em grande
parte na alimentação de crianças de 3 a 4 anos. Os alimentos
mais consumidos foram pães (78,8%), seguido de bebidas
açucaradas (75,6%), doces (63,2%), biscoitos (52,5%), embu-
tidos (42,9%), chips (17,7%) e macarrão instantâneo
(11,0%).13 Quando anali samos o consumo de AUP nos estados
da região Sul, vericamos que não houve diferenças estatis-
ticamente signicativas entre os estados do PR, SC e RS, já
que todos apresentaram alto consumo desta categoria de
alimento.
Estudos internacionais e nacionais também identicaram
um alto consumode AUP.No Canadá, a contribuição energética
por AUP aumentou de 24,4% em 1938 para 54,94% em 2001.14
No Brasil, o consumo de alimentosin natura ou minimamente
processados, como arroz,feijão e ovos,diminuiu entre 10 e 27%
em 16 anos. Já a ingestão de pães e biscoitos aumentou 21%
durante o mesmo período. Um estudo realizado com dadosda
Pesquisa de Orçamentos Familiares demonstrou participação
calórica de 21,5% proveniente de AUP na dieta de 32.898
brasileiros com 10 ou mais anos de idade.15 As mudanças no
estilo de vida da população brasileira e na produção, distri-
buição e consumo de alimentos enfraqueceram os padrões
alimentares tradicionais, baseados em alimentos in natura e
minimamente processados.16
A prevalência de consumo de AUP foi signicativamente
maior na região Sul, em relação à encontrada no Brasil. Dois
estudos utilizando dados da Pesquisa Nacional de Demogra-
a e Saúde (PNDS) de 2006, corroboram os dados do presente
estudo, visto que foi demonstrado que o consumo de doces,
refrigerantes e bebidas açucaradas na região Sul foi superior
ao das demais regiões. Evidências explicam que o consumo
de bebidas açucaradas, além de colaborar para o aumento do
consumo de carboidratos e energia na dieta, está relacionado
a alterações nos mecanismos regulatórios de saciedade.17,18
Da mesma forma que o presente estudo, os resultados da
pesquisa de Sparrenberger (2015) et al. apontaram que o
consumo de AUP tem relação direta com a idade da criança,
pois vericou-se que o consumo desses foi superior entre as
crianças de 5 a 10 anos quando comparado ao consumo entre
as crianças menores de 5 anos.18 Estudo realizado por
Karnopp também demonstrou que a contribuição energética
de AUP na alimentação de crianças maiores de 2 anos (36,1%)
foi mais representativa quando comparada à das crianças
menores de 2 anos (19,7%).19,20 Possivelmente este resultado
justique-se pelo fato de que, quanto maior a idade da
criança, maior sua autonomia, o que a torna mais suscetível
a sofrer inuências do meio em que está inserida optando
por alimentos pouco saudáveis.21
Alguns estudos já sugerem associação entre consumo de
AUP e excesso de peso e obesidade em crianças.22 Em Itajaí,
SC, encontrou-se uma prevalência de excesso de peso de 44%
das crianças em idade escolar, associado ao maior consumo
de biscoitos.23 Um outro estudo realizado em Porto Alegre,
RS, não demonstrou associação entre o consumo de AUP e o
estado nutricional das crianças. Porém, os AUP foram os que
mais contribuíram para a ingestão de lipídios, carboidratos,
sódio e gorduras trans na alimentação das crianças.18 Em
Curitiba, PR, as crianças que mais consumiam carboidrato
apresentaram risco 48% maior de sobrepeso/obesidade.23
Assim como o consumo de AUP, a prevalência de excesso
de peso em crianças também é mais expressiva na região Sul.
Dados de 2015/2016 do SISVAN mostram que a prevalência
de excesso de peso em crianças de 5 a 10 anos da região Sul
(34,66%) é superior à prevalência do Brasil (28,52%).24 Dados
Tabela 3 Comparação de consumo de alimentos ultraprocessados
entre a região Sul e o Brasil
Ultraprocessados
(% de consumo)
Região Sul Brasil p
Média DP
Biscoito, bolachas
recheadas, e guloseimas
24anos 50,03,7 48,5 0,611
59anos 49,04,9 49,5 0,899
Bebidas adoçadas
24anos 69,14,4 66,5 0,448
59anos 71,84,3 67,5 0,227
Macarrão instantâneo,
salgadinhos e biscoitos
de pacote
24anos 61,82,1 59,5 0,061
59anos 64,72,2 60,0 0,032
Hambúrguer
e/ou embutidos
24anos 40,53,1 31,0 0,007
59anos 49,83,1 38,5 0,004
Abbreviations: DP, desvio padrão; p, nível de signicância.
Tabela 4 Comparação entre as faixas etárias na região Sul
Ultraprocessados
(% de consumo)
24 anos 59 anos p
Média DP Média DP
Biscoito, bolachas
recheadas,
eguloseimas
50,0 3,7 49,0 4,9 0,702
Bebidas adoçadas 69,1 4,4 71,8 4,3 0,314
Macarrão
instantâneo,
salgadinhos,
e biscoitos
de pacote
61,8 2,1 64,6 2,2 0,049
Hambúrguer
e/ou embutidos
40,5 3,1 49,8 3,1 <0,001
Abbreviations: DP, desvio padrão; p, nível de signicância.
International Journal of Nutrology Vol. 12 No. 1/2019
Consumo de alimentos ultraprocessados em crianças de Freitas Libanio et al.38
da POF demonstram que o excesso de peso em crianças de 5 a
9 anos na regiã o Sul (35,9%) só é menor que na reg ião Sudeste
(38,8%),25 enquanto que os dados da PNDS indicam excesso
de peso de 7% em crianças menores de 5 anos no Brasil e 9%
na região Sul.2
Além do excesso de peso, o consumo aumentado de AUP
pode trazer repercussões metabólicas negativas, pois esses
alimentos, considerados de alta densidade energética, ricos
em gordura e pobres em bras, estão relacionados a altera-
ções como elevada concentração de insulina e resistência à
insulina em adolescentes.26 Somado a isso, estudos demons-
tram associação entre o consumo de AUP e maior concen-
tração de colesterol total (CT), fração de lipoproteína (LDL) e
presença de hipertensão arterial sistêmcia (HAS) em
crianças.12,19
Apesar do consumo de AUP ter aumentado entre a popu-
lação brasileira nos últimos anos, inclusive na população de
baixa renda,27 esses alimentos têm maior custo quando
comparados a alimentos in natura e minimamente proces-
sados. Na pesquisa de Mourabac, em que foi comparada a
inuência dos preço s sobre a compra de alimentos no Brasil e
no Reino Unido, foi demonstrado que, no Reino Unido os
alimentos prontos para consumo eram 13% mais baratos em
relação aos outros alimentos. Já no Brasil, os alimentos
prontos para consumo foram 52% mais caros, tornando a
preparação de alimentos caseiros e naturais economica-
mente mais vantajosa em relação a uma alimentação
baseada em AUP.28 O marketing utilizado para a venda dos
AUP é um dos fatores que contribui fortemente para o
aumento do seu consumo, seja pelo uso de embalagens
que inuenciam a percepção das crianças sobre os produtos,
alegações sobre a presença de vitaminas e minerais ou
diminuição/isenção de produtos malécos à saúde.29
Dentre as limitações do presente estudo, destaca-se o fato
de terem sido utilizados dados secundários, os quais podem
ter algum grau de viés de aferição. Além disso, não há acesso
disponível sobre possíveis perdas de sujeitos ocorridas ao
longo da coleta de dados. Cabe ressaltar que o instrumento
para análise do consumo alimentar utilizado foi aplicado de
forma transversal e não há descrição do dia da semana em
que ele foi aplicado. Como todo e qualquer inquérito die-
tético, o instrumento aplicado possui limitações inerentes ao
método, sendo inuenciado por fatores como memória do
entrevistado, capacidade de entendimento e nível de de-
dignidade da informação relatada. Este estudo apresenta
como principal ponto forte ter utilizado uma amostra repre-
sentativa de crianças usuárias do serviço de atenção básica
em saúde no Brasil.
Os resultados encontrados revelam elevada prevalência
de consumo de AUP entre as crianças analisadas. Portanto, há
necessidade da conscientização da população, principal-
mente de pais e responsáveis, sobre os riscos do consumo
de AUP na infância e também da implementação de ações de
saúde e educação efetivas que possam diminuir as prevalên-
cias do consumo desses produtos.
Conitos de Interesse
Os autores declaram não haver conitos de interesse.
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Consumo de alimentos ultraprocessados em crianças de Freitas Libanio et al. 39
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10061010
International Journal of Nutrology Vol. 12 No. 1/2019
Consumo de alimentos ultraprocessados em crianças de Freitas Libanio et al.40
... Com isso, os pequenos irão conseguir distinguir e compreender os sabores e texturas de cada componente. É de extrema importância que desenvolva um intervalo entre uma e outra refeição (Libanio et al., 2019). ...
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A humanized approach in pediatric dentistry is essential, particularly in addressing fear and anxiety surrounding children’s dental visits. This article discusses strategies to minimize these factors and their impact on children’s overall oral health. Children’s fear may stem from past trauma, while anxiety includes both mental and physical reactions. These emotions affect cooperation during treatment, often leading to inadequate home care and making dental visits challenging for the child. Various approaches—such as using music, conversation, and medication—can help control anxiety; for more extreme cases, techniques like conscious sedation and hypnosis are alternatives. Another key point is the importance of parental education and involvement in promoting oral health from early childhood, encouraging hygiene habits that prevent cavities and other diseases that can compromise both oral and overall health due to poor hygiene. The main goal of this article is to highlight the importance of humanized care for children, with the pediatric dentist playing a vital role in these early stages of life. This research was conducted through a qualitative literature review in databases such as SciELO, Google Scholar, and PubMed. Literature suggests that children who receive compassionate care are more likely to maintain a positive relationship with dental visits into adulthood. In summary, humanized care in pediatric dentistry facilitates the work of professionals and positively impacts the emotional development of young patients.
... 23 Another study, also conducted with children aged 2-9 years old attending a Primary Health Care Unit, found that the most frequently consumed UPF were sugary drinks with 70.4% and corn chips, instant noodles, and packaged cookies with 63.2%. 24 It is noteworthy that the hospital under study does not offer a number of PSA that appear to be some of the most commonly consumed by the public, such as filled cookies, soft drinks, snacks, instant noodles, etc. However, sugary drinks such as strawberry flavored yogurt, concentrated juice, and chocolate milk are offered in the hospital environment. ...
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Introdução: A dieta fornecida no ambiente hospitalar deve promover bons hábitos alimentares a partir da oferta de uma alimentação saudável. Entretanto, sabe-se que alimentos industrializados são servidos na alimentação hospitalar. Objetivo: Avaliar a presença e a frequência de oferta de alimentos ultraprocessados nas dietas pediátricas de um hospital universitário. Métodos: A amostra foi composta por 25 dietas pediátricas prescritas para crianças maiores de dois anos. A coleta de dados ocorreu de janeiro a agosto de 2020. Os cardápios foram analisados segundo o nível de processamento dos alimentos, conforme a classificação NOVA. Os dados foram analisados no programa Microsoft Excel, e os resultados obtidos foram descritos por frequência absoluta e relativa. Resultados: Alimentos in natura ou minimamente processados representam 54,3% (n=10.851). Os ingredientes culinários, 28,9% (n=5.768); os processados, 2,7% (n=551); e os ultraprocessados, 13,9% (n=2.789). Identificou-se um total de 29 alimentos ultraprocessados, dos quais os três mais frequentes foram o achocolatado em pó (23,5%, n=658), a margarina (18,5%, n=518) e o pão de forma (11%, n=308). A maior oferta ocorre no café da manhã (31%, n=854), no lanche da tarde (30%, n=844) e na ceia (24%, n=661), representando 85% (n=2.359) da oferta total. Conclusões: Os achados deste estudo incluem a presença de ultraprocessados em praticamente todas as dietas pediátricas hospitalares analisadas. No entanto, alimentos in natura ou minimamente processados representam mais da metade da composição dos cardápios.
... Os alimentos in natura ou minimamente processados são alimentos fontes de fibras, vitaminas e minerais; não sofrem modificações na composição nutricional, sendo indicado consumir diariamente (BRASIL, 2014). Ainda que os alimentos in natura tenham sido os mais consumidos pelas crianças, o consumo diário encontrado de 3 tipos de alimentos ultraprocessados estava presente, assim como no estudo de Libanio et al., (2019) no qual foi observado elevado consumo de alimentos ultraprocessados entre as crianças da região Sul do Brasil, resultados divergentes ao que preconiza o Guia Alimentar para a População Brasileira, recomendando que os alimentos in natura ou minimamente processados sejam base de uma alimentação nutricionalmente balanceada. O Guia recomenda limitar o uso de alimentos processados, consumindo-os, em pequenas quantidades e evitar os alimentos ultraprocessados, devido a seus ingredientes serem nutricionalmente desbalanceados (BRASIL, 2014). ...
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Os meios de comunicação estão presentes cada vez mais cedo no cotidiano das crianças, as quais, permanecem muito tempo em frente as telas, com acesso a propagandas de alimentos. Objetivo: Avaliar a influência que a mídia e a publicidade exercem no consumo alimentar de crianças em idade pré-escolar. Materiais e Métodos: Estudo descritivo, transversal e quantitativo, com 30 pré-escolares de 2 a 6 anos, alunos de uma escola privada em um município da Serra Gaúcha. Foi aplicado um questionário aos pais, referentes a preferências alimentares, tempo de exposição às mídias e recordatório alimentar. Foram calculados o valor energético, macronutrientes e micronutrientes e os resultados foram comparados com os valores de referência de ingestão dietética e com a recomendação do Guia Alimentar para a População Brasileira. Foram realizadas associações, através do teste estatístico qui-quadrado para amostras de aderência e Correlação de Pearson e Spearman, através do Software Statistical Package for the Social Sciences. Resultados: Observou-se que quanto maior o consumo de alimentos in natura, menor foi o consumo de ultraprocessados (p=0,0008; r= - 0,478), quanto mais tempo assistiam televisão e/ou celular, menor era o consumo de alimentos processados (p=0,037; r= - 0,383), em contrapartida, quanto mais tempo assistiam, maior foi o consumo ultraprocessados (p=0,05; r=0,360) através de uma correlação positiva regular. O consumo de cálcio estava significativamente abaixo da recomendação (p
... The five foods considered markers of unhealthy eating had a high consumption frequency, despite the fact that the Ministry of Health, in the Food Guide for Brazilian Children Under two years of age, recommends that these types of ultra-processed foods be not offered to children [24]. This result was similar to that found in the study that assessed data regarding children, aged between two and four years, made available in SISVAN reports from all over Brazil [27]. When considering the child's age and mothers' education, statistically significant differences were found in the consumption of four of the five unhealthy foods. ...
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Objective To describe children food consumption in the five municipal schools in Pelotas, Rio Grande do Sul, and their main characteristics. Methods Cross-sectional study of children enrolled in five municipal schools. The mothers were interviewed at the school. The questionnaire about habitual food consumption was based on the guidelines of the Food and Nutrition Surveillance System. The data were entered in EpiData 3.1 and reviewed in Stata 14.0. The consumption frequency was reported according to each exposure category. Statistical tests based on Chi-Square test with 5% significance level and adjusted analyses through Poisson regression were used. Results A total of 548 children were included. Females represented 51.1% of the total sample; the average age was 48.3 months. Children up to two years of age were those who consumed the most fruits and vegetables while sweets were mostly consumed by older children, aged between three and four years. Unhealthy foods had a high frequency of consumption, with sweet being the most consumed (58.8%), followed by packet snacks (53.3%). In the adjusted analysis, eating meals in front of the screens remained associated with lower consumption of vegetables. Conclusion Eating meals in front of the screens reduces children’s vegetables consumption. At the same time, the child’s age and maternal education seem to have some influence on the consumption of unhealthy foods, indicating the need for nutritional education interventions.
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A alimentação adequada é indispensável para o desenvolvimento e crescimento infantil, sendo assim é de extrema importância ter um instrumento de orientação, um material de fácil acesso e entendimento, que possibilite estreitamento de vínculo entre profissionais e usuários da atenção primária. A utilização de álbum seriado como ferramenta de educação, promove apoio às orientações sobre alimentação complementar transmitidas aos familiares e cuidadores de crianças menores de dois anos por ser um instrumento tanto visual quanto verbal. O presente trabalho tem como objetivo validar o conteúdo e a aparência do álbum seriado fotográfico: formas de apresentação da alimentação complementar para crianças menores de dois anos. O trabalho refere-se à aplicabilidade do álbum seriado fotográfico no contexto da alimentação complementar na Atenção Básica de Saúde para profissionais de saúde de um município da região central do estado do Rio Grande do Sul. Todos os participantes consideram o álbum bem ilustrado e de fácil compreensão, em relação a descrição dos conteúdos para profissionais, todos eles afirmaram que é um material de apoio, facilitador na hora das orientações. Dessa forma, tanto o conteúdo quanto a aparência do álbum seriado fotográfico foram considerados adequados pelos profissionais.
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Background: Iron deficiency is one of the leading causes of anaemia, with those most affected being children and women of childbearing age, in Brazil there is a scarcity of studies involving the local prevalence of anaemia. Aim: To evaluate anaemia and associated factors in schoolchildren in Santa Cruz do Sul through the analysis of biochemical and haematological markers and parasitological examination of faeces. Subjects and methods: School children from 10 to 12 years of age were evaluated through complete blood count, serum ferritin, C-reactive protein and stool parasitological examination, as well as socio-demographic characteristics and prophylaxis with ferrous sulphate in childhood. Results: It was found that 13.0% of the population was anaemic, girls were very slightly overrepresented among the anaemic children. Only 5.3% had altered haematocrit levels; 26.6% had low Mean Corpuscular Volume levels; 18.4% had low ferritin levels; 2.4% had increased C-reactive protein levels, and 21.7% had altered eosinophils. As for the socioeconomic level, classes A2 and D presented lower haemoglobin levels, as well as class D presenting lower ferritin levels, although without statistical significance. Only 6.0% of the population presented iron-deficiency anaemia and 46.0% of the schoolchildren had used ferrous sulphate supplementation in childhood. Conclusion: The prevalence of anaemia in the studied municipality is low, probably due to the high municipal human development index. Epidemiological studies are essential to characterise the population in a systematic form, to prevent future problems.
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Resumo O objetivo deste artigo é caracterizar os apelos publicitários presentes no ambiente alimentar para comercializar alimentos ultraprocessados e analisar o perfil nutricional desses alimentos segundo critérios da OPAS e presença de aditivos alimentares. Estudo transversal, com dados auditados em 20 pequenos supermercados de São Paulo. O protocolo INFORMAS foi utilizado para classificar as mensagens publicitárias. Os alimentos foram classificados segundo a NOVA. O perfil nutricional da OPAS foi utilizado para classificar os alimentos elevados em nutrientes críticos. Os padrões de publicidade foram identificados por análise fatorial. A associação entre os padrões e os grupos de alimentos foi investigada por regressão linear. Mais de 95% dos alimentos ultraprocessados tinham pelo menos um nutriente crítico em excesso. Verificou-se associação positiva entre o padrão nova marca, divertido e vantajoso com salgadinhos, produtos pré-prontos, lácteos e biscoitos, e entre o padrão nova marca e uso sugerido com lácteos. A padronização da publicidade de alimentos nos pequenos comércios varejistas está associada à oferta de salgadinhos, produtos lácteos, alimentos pré-prontos e biscoitos, produtos que excedem em nutrientes críticos.
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This article aims to characterize the advertising appeals present in the food environment to market ultra-processed foods and to analyze the nutritional profile of these foods according to PAHO criteria and the presence of food additives. Cross-sectional study, with data audited in 20 small supermarkets in São Paulo. The INFORMAS protocol was used to classify the advertising messages. The foods were classified according to NOVA. The PAHO profile model was used to classify foods high in critical nutrients. Advertising patterns were identified by factor analysis. The association between patterns and food groups was investigated by linear regression. More than 95% of the ultraprocessed foods had at least 1 critical nutrient in excess. There was a positive association between the new brand, fun and advantageous pattern with snacks, ready-made products, dairy products and cookies; between the new brand and suggested use pattern with dairy products. The standardization of food advertising in small retail stores is associated with offering snacks, dairy products, ready-to-eat foods and cookies, products that exceed critical nutrients.
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O objetivo deste estudo foi verificar a prevalencia de obesidade abdominal e a sua associacao com indicadores sociodemograficos, estado nutricional e maturacao sexual em escolares de oito a 17 anos, do sexo feminino. Trata-se de um estudo transversal realizado com 2.595 escolares do sexo feminino de escolas publicas e privadas da cidade de Cascavel, PR, Brasil. Foram coletadas informacoes sociodemograficas, antropometricas e de maturacao sexual. Para a analise dos dados aplicou-se o teste qui-quadrado e a regressao logistica binaria. A prevalencia de obesidade abdominal foi de 8,2%. As escolares do ensino medio apresentaram menores chances de ter obesidade abdominal quando comparadas as meninas do ensino fundamental (OR=0,36; IC95%=0,15–0,85) e aquelas com excesso de peso apresentaram maiores chances de ter o desfecho (OR=181,36; IC95%=84,43–389,58). Sao necessarias intervencoes educacionais visando a prevencao e reducao da obesidade abdominal, principalmente entre as escolares do ensino fundamental e com excesso de peso.
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Objectives: To evaluate the contribution of ultra‐processed food (UPF) on the dietary consumption of children treated at a Basic Health Unit and the associated factors. Method: Cross‐sectional study carried out with a convenience sample of 204 children, aged 2–10 years old, in Southern Brazil. Children's food intake was assessed using a 24‐h recall questionnaire. Food items were classified as minimally processed, processed for culinary use, and ultra‐processed. A semi‐structured questionnaire was applied to collect socio‐demographic and anthropometric variables. Overweight in children was classified using a Z score >2 for children younger than 5 and Z score >+1 for those aged between 5 and 10 years, using the body mass index for age. Results: Overweight frequency was 34% (95% CI: 28–41%). Mean energy consumption was 1672.3 kcal/day, with 47% (95% CI: 45–49%) coming from ultra‐processed food. In the multiple linear regression model, maternal education (r = 0.23; p = 0.001) and child age (r = 0.40; p
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OBJETIVO: Descrever e discutir a introdução de alimentos industrializados na dieta de crianças frequentadoras de berçários em creches, considerando a recomendação do Ministério da Saúde para uma alimentação saudável. MÉTODOS: Estudo transversal com 270 crianças frequentadoras de berçários de 8 creches públicas e filantrópicas do município de São Paulo. Por meio de questionário estruturado e pré-codificado, foi avaliada a introdução de alimentos a partir de 11 perguntas. Para cada alimento analisado foi registrada a idade em meses de introdução e avaliada a concordância com o oitavo passo do Guia Alimentar. No estudo das associações, utilizou-se o teste Qui-quadrado, a partir das variáveis idade e escolaridade maternas, renda familiar e trabalho da mãe fora do lar. RESULTADOS: Os resultados mostram que para aproximadamente 2/3 das crianças foram oferecidos, antes dos 12 meses, alimentos com potencial obesogênico, como macarrão instantâneo, salgadinhos, bolacha recheada, suco artificial, refrigerante e bala/pirulito/chocolate. São os filhos de mães com baixa escolaridade, mais jovens e com menor renda, os mais susceptíveis ao erro alimentar de introdução precoce de alimentos industrializados. CONCLUSÃO: Diante desses resultados, medidas educativas e preventivas devem ser propostas para a formação de hábitos alimentares saudáveis desde a infância, além da criação de campanhas abrangentes e efetivas que estimulem o consumo de frutas e hortaliças, considerando-se os fatores culturais, comportamentais e afetivos envolvidos com a alimentação.
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Energy dense, high fat, low fibre diets may contribute to obesity in young people, however their relationships with other cardiometabolic risk factors are unclear. We examined associations between an 'energy-dense, high-fat and low-fibre' dietary pattern (DP) and cardiometabolic risk factors, and the tracking of this DP in adolescence. Data was sourced from participants in the Western Australian Pregnancy (Raine) Cohort Study. At 14 and 17 y, dietary intake, anthropometric and biochemical data were measured and z-scores for an 'energy dense, high fat and low fibre' DP were estimated using reduced rank regression (RRR). Associations between DP z-scores and cardiometabolic risk factors were examined using regression models. Tracking of DP z-scores was assessed using Pearson's correlation coefficient. A 1 SD unit increase in DP z-score between 14 and 17 y was associated with a 20% greater odds of high metabolic risk (95% CI: 1.01, 1.41) and a 0.04 mmol/L higher fasting glucose in boys (95% CI: 0.01, 0.08); a 28% greater odds of a high-waist circumference (95% CI: 1.00, 1.63) in girls. An increase of 3% and 4% was observed for insulin and HOMA (95% CI: 1%, 7%), respectively, in boys and girls, for every 1 SD increase in DP z-score and independently of BMI. The DP showed moderate tracking between 14 and 17 y of age (r = 0.51 for boys, r = 0.45 for girls). An 'energy dense, high fat, low fibre' DP is positively associated with cardiometabolic risk factors and tends to persist throughout adolescence. Copyright © 2015 Elsevier B.V. All rights reserved.
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Background and Aims Cardiovascular disease development is related to known risk factors (such as diet and blood lipids) that begin in childhood. Among dietary factors, the consumption of ultra-processing products has received attention. This study investigated whether children’s consumption of processed and ultra-processing products at preschool age predicted an increase in lipid concentrations from preschool to school age. Methods and Results Cohort study conducted with 345 children of low socioeconomic status from São Leopoldo, Brazil, aged 3-4 years and 7-8 years. Blood tests were done to measure lipid profile. Dietary data were collected through 24-hour recalls and the children’s processed and ultra-processing product intake was assessed. Linear regression analysis was used to assess the relationship between processed and ultra-processed product intake at 3-4 years on changes in lipid concentrations from preschool to school age. The percentage of daily energy provided by processed and ultra-processed products was 42.6±8.5 at preschool age and 49.2±9.5 at school age, on average. In terms of energy intake, the main products consumed were breads, savoury snacks, cookies, candy and other sweets in both age groups. Ultra-processed product consumption at preschool age was a predictor of a higher increase in total cholesterol (β=0.430; P=0.046) and LDL cholesterol (β=0.369; P=0.047) from preschool to school age. Conclusion Our data suggest that early ultra-processed product consumption played a role in altering lipoprotein profiles in children from a low-income community in Brazil. These results are important to understanding the role of food processing and the early dietary determinants of cardiovascular disease.
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Objetivo avaliar a presença de resistência à insulina e sua relação com outras alterações metabólicas, em crianças e adolescentes obesos. Métodos estudo retrospectivo de 220 crianças e adolescentes de 5 a 14 anos. Foram realizadas avaliações antropométricas (peso, estatura e circunferência abdominal), clínicas (sexo, idade, estágio puberal e grau de obesidade) e bioquímicas (glicemia, insulina, colesterol total e frações, triglicerídeos). A resistência à insulina foi identificada pelo índice HOMA-IR. A análise das diferenças entre as variáveis de interesse e os quartis do HOMA-IR foi realizada pelos testes ANOVA ou Kruskal-Wallis. Resultados a resistência à insulina foi diagnosticada em 33,20% da amostra. Associou-se a níveis baixos de HDL-C (p = 0,044), medida da circunferência abdominal aumentada (p = 0,030) e ao conjunto de alterações clínicas e metabólicas (p = 0,000). Os indivíduos resistentes apresentaram maiores médias de idade (p = 0,000), IMC (p = 0,000), medida da circunferência abdominal (p = 0,000) e maiores medianas de triglicerídeos (p = 0,001), colesterol total (p ≤ 0,042), LDL-C (p ≤ 0,027) e menores de HDL-C (p = 0,005). Houve aumento das médias de IMC (p = 0,000), medida da circunferência abdominal (p = 0,000) e mediana de triglicerídeos (p = 0,002) à medida que os valores do HOMA-IR se elevavam, com exceção dos níveis de HDL-C que diminuíram (p = 0,001). Aqueles que apresentaram o maior conjunto de alterações simultâneas estavam entre o segundo e terceiro quartis do HOMA-IR (p = 0,000). Conclusão os resultados confirmaram que a resistência à insulina está presente em muitas crianças e em muitos adolescentes obesos, e que esta condição está associada a alterações que representam aumento do risco para o desenvolvimento de distúrbios metabólicos na maturidade.
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Production and consumption of industrially processed food and drink products have risen in parallel with the global increase in overweight and obesity and related chronic non-communicable diseases. The objective of this study was to analyze the relationship between household availability of processed and ultra-processed products and the prevalence of excess weight (overweight plus obesity) and obesity in Brazil. The study was based on data from the 2008-2009 Household Budget Survey involving a probabilistic sample of 55,970 Brazilian households. The units of study were household aggregates (strata), geographically and socioeconomically homogeneous. Multiple linear regression models were used to assess the relationship between the availability of processed and ultra-processed products and the average of Body Mass Index (BMI) and the percentage of individuals with excess weight and obesity in the strata, controlling for potential confounders (socio-demographic characteristics, percentage of expenditure on eating out of home, and dietary energy other than that provided by processed and ultra-processed products). Predictive values for prevalence of excess weight and obesity were estimated according to quartiles of the household availability of dietary energy from processed and ultra-processed products. The mean contribution of processed and ultra-processed products to total dietary energy availability ranged from 15.4% (lower quartile) to 39.4% (upper quartile). Adjusted linear regression coefficients indicated that household availability of ultra-processed products was positively associated with both the average BMI and the prevalence of excess weight and obesity, whereas processed products were not associated with these outcomes. In addition, people in the upper quartile of household consumption of ultra-processed products, compared with those in the lower quartile, were 37% more likely to be obese. Greater household availability of ultra-processed food products in Brazil is positively and independently associated with higher prevalence of excess weight and obesity in all age groups in this cross-sectional study.
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Objective: To establish temporal trends in household food and drink consumption in Brazil, taking into account the extent and purpose of its industrial processing. Methods: Data was obtained from Household Budget Surveys conducted in Brazil in 1987-1988, 1995-1996, 2002-2003 and 2008-2009. In all surveys, probabilistic samples of households in the metropolitan areas were studied and, for the last two surveys, the scope was national. The units of analysis were food purchases records of clusters of households. The purchased food items were divided according to the extent and purpose of their industrial processing into: 'in natura' or minimally processed foods, processed culinary ingredients and ready-to-consume, processed and ultra-processed food and drink products. The quantity of each item was converted into energy. For each survey, the daily availability of calories per capita and the caloric share of the food groups were estimated. For the national surveys, estimates were calculated by income quintiles. Temporal trends were assessed using linear regression models and difference of means tests. Results: The caloric share of ready-to-consume products significantly increased between 2002-2003 and 2008-2009 (from 23.0% to 27.8% of total calories), mainly because of the increase in the consumption of ultra-processed products (20.8% to 25.4%). In the same period, there was a significant reduction in the caloric share of foods and culinary ingredients. The increase in the ultra-processed products caloric share occurred across all income quintiles. There was an uniform increase in the caloric share of ready-to-consume products in the metropolitan areas, mostly in place of ultra-processed products, accompanied by a decrease in the share of 'in natura' or minimally processed foods and culinary ingredients. Conclusions: The share of ultra-processed products significantly increased in the Brazilian diet, as seen in the metropolitan areas since the 1980s, and confirmed at a national level in the 2000s.
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Obesity is a major public health problem, which is associated with physical, psychological and social problems. The prevalence in children and adolescents has increased dramatically in developed countries and economies in transition in recent decades. It is more common in population groups with lower educational and socioeconomic status. The increase has been attributed to changes in eating habits, with higher consumption of highly processed energy dense foods and low consumption of fruits and vegetables. It has also been associated with low levels of physical activities and with sedentary lifestyles. Some analyses suggest that dietary patterns, physical activity, sedentary lifestyle and sleep time tend to cluster, so that such combinations could increase the risk of overweight and obesity. It is important to consider the different clustering patterns of lifestyles when designing intervention strategies for preventive purposes.