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Consumo de alimentos ultraprocessados em
crianças atendidas pelo serviço de Atenção
Básica na região Sul do Brasil
Consumption of Ultraprocessed Foods in Children
attended by the Basic Attention Service in the
SouthRegionofBrazil
Isabela Faraco de Freitas Libanio1Rafaela da Silveira Correa1,2 Andresa de Souza Monteiro1
Juliana Paludo Vallandro1
1Centro Universitário Ritter dos Reis (Uniritter), Porto Alegre, RS, Brasil
2UniversidadeFederaldoRioGrandedoSul,PortoAlegre,RS,Brasil
Int J Nutrol 2019;12:35–40.
Address for correspondence Juliana Paludo Vallandro, PhD, Rua
Fernando Abbott 455 - Apartamento 901, Torre B. Bairro Cristo
Redentor, Porto Alegre, RS, Brasil. CEP: 91040-360
(e-mail: jujupaludo@hotmail.com).
Palavras-chave
►alimentos
industrializados
►consumo de
alimentos
►crianças
Resumo Objetivo Investigar o consumo de alimentos ultraprocessados na alimentação das
crianças brasileiras de 2 a 9 anos da região Sul do Brasil.
Metodologia Estudo transversal, no qual foram utilizados os dados públicos dos
relatórios do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional. Utilizou-se os dados de
consumo alimentar de crianças de 2 a 9 anos dos anos de 2015 e 2016. Os grupos de
alimentos utilizados para as análises foram: consumo de biscoitos, bolachas recheadas
e guloseimas; bebidas adoçadas; macarrão instantâneo, salgadinho e biscoito de
pacote e hambúrguer/e ou embutidos.
Resultados Foram analisados os dados de 22.761 crianças. Destas, 55,8% tinham
idade entre 2 e 4 anos e 44,1% entre 5 e 9 anos. O grupo bebidas adoçadas (70,45%),
seguido pela categoria macarrão instantâneo, salgadinhos e biscoitos de pacotes
(63,25%) foram os que apresentaram maior média de consumo entre as duas faixas
etárias. Quando comparado às prevalências do Brasil, o consumo de alimentos
ultraprocessados foi significativamente maior na região Sul. Em relação à faixa etária,
verificou-se que o consumo de alimentos ultraprocessados por crianças de 5 a 9 anos foi
superior, quando comparadas às crianças de 2 a 4 anos (p<0,002).
Conclusões Há necessidade da implementação de ações de saúde e educação
efetivas que possam diminuir as prevalências do consumo de alimentos ultraprocessa-
dos no Brasil, especialmente na região Sul.
Abstract Objective To investigate the consumption of ultraprocessed foods by children
between2and9yearsoldlivingintheSouthregionofBrazil.
Juliana Paludo Vallandro's ORCID is https://orcid.org/0000-0002-
2356-8104.
received
January 8, 2019
accepted
May 16, 2019
DOI https://doi.org/
10.1055/s-0039-1693673.
ISSN 1984-3011.
Copyright © 2019 by Thieme Revinter
Publicações Ltda, Rio de Janeiro, Brazil
THIEME
Artigo Original | Original Article 35
Published online: 26.09.2019
Introdução
O número de crianças com excesso de peso, emtodo o mundo,
aumentou de 32 milhões para 42 milhões entre 2000 e 2013.1
A PesquisaNacional de Demografia e Saúde(PNDS) mostra que
7% das crianças menores de 5 anos estão com índice de massa
corporal (IMC)/idade acima dos padrões de normalidade pro-
postos pelo escore Z.2Entre as crianças de 5 a 9 anos, 33,5%
estão com excesso de peso e 14,3% estão obesas.3Canellas et al
em seu estudo que utilizou dados da Pesquisa de Orçamentos
Familiares (POF) de 2008–2009 comprovou a associação entre
o consumo de alimentos ultraprocessados (AUP) e excesso de
peso e obesidade em crianças e adultos.4Além disso, evidên-
cias apontam uma prevalência de 19 a 45% e 33,20% de
síndrome metabólica e resistência à insulina em crianças e
adolescentes obesos, respectivamente.3,5
Nas últimas décadas, ocorreram mudanças nos padrões
alimentares infantis, que acarretaram no aumento do con-
sumo de alimentos ultraprocessados.6De acordo com o Guia
Alimentar para a População Brasileira do Ministério da Saúde,
os AUP, tais como biscoitos recheados, salgadinhos de pacote e
macarrão instantâneo, são aqueles cuja fabricação envolve
diversas etapas, técnicas de processamento e ingredientes,
muitos deles de uso exclusivamente industrial.7Fatores
como a globalização, publicidade infantil vinculada aos ali-
mentos, ritmo acelerado de vida e maior poder de compra das
famílias contribuem para substituição de preparações de
refeições caseiras por alimentos industrializados.8
O padrão alimentar estabelecido nos primeiros anos de
vida pode permanecer ao longo da vida. A alimentação
adequada nesta idade é essencial para o crescimento saudá-
vel da criança e também para a prevenção de doenças
crônicas não transmissíveis.9Há evidências científicas que
demonstram desenvolvimento de síndrome metabólica em
crianças e adolescentes obesos.10,11 Diante deste contexto, o
objetivo do presente estudo é investigar o consumo de
alimentos ultraprocessados na alimentação das crianças
brasileiras, de acordo com os dados do Sistema de Vigilância
Alimentar e Nutricional (SISVAN) 2015/2016.
Metodologia
Trata-se de um estudo transversal, em que foram utilizados
os dados públicos dos relatórios do SISVAN de todo o Brasil,
coletados ao longo dos anos de 2015 e 2016 e estratificados
por região, sexo, raça e faixa etária (2–4anose 5–9anos de
idade).
A coleta de dados foi realizada pelos serviços de saúde da
Vigilância Alimentar e Nutricional (VAN) e incluiu as avalia-
ções antropométrica (medição de peso e comprimento/
altura) e do consumo alimentar. Esses dados foram coletados
da página do SISVAN, que pode ser acessada através do
endereço eletrônico http://dabsistemas.saude.gov.br/siste-
mas/sisvanV2/.
No SISVAN o consumo alimentarde crianças de 2 a 9 anos foi
avaliado por meio de um formulário estruturado cujo objetivo
era registrar determinados alimentos consumidos pelas cri-
anças no dia anterior e identificar padrões de alimentação e
comportamento saudáveis ou não-saudáveis. O marcador
saudável incluiu o consumo de frutas, verduras e feijão; e
não-saudável o consumo de embutidos, bebidas adoçadas,
macarrão instantâneo e biscoitos salgados, bem como o con-
sumo de doces, guloseimas e biscoitos recheados.11,12
Para a análise do presente estudo, foram utilizados dados
encontrados no SISVAN referentes ao consumo alimentar de
crianças maiores de 2 anos e menores de 5 anos e de crianças
maiores de 5 anos e menores de 9 anos dos anos de 2015 e
2016. Os grupos de alimentos utilizados para as análises
foram: biscoitos, bolachas recheadas e guloseimas; bebidas
adoçadas; macarrão instantâneo, salgadinho e biscoito de
Methodology Cross-sectional study, in which public data of the System of Food and
Nutritional Supervision reports were used. The nutritional consumption data of
children in the range of 2 to 9 years old of the years from 2015 to 2016 were utilized.
The data utilized for the analysis were: the consumption of cookies and snacks,
sweetened drinks, instant noodles, crisps and crackers, and hamburgers and/or
sausages.
Results Data from 22,761 children were analyzed. Of these, 55.8% were aged
between 2 and 4 years, and 44.1% between 5 and 9 years. The group sweetened
beverages (70.45%), followed by the category instant noodles, snacks and crackers
(63.25%) had the highest average consumption between the two age groups. When
compared with the prevalence of Brazil, the consumption of ultraprocessed foods was
significantly higher in the South region. In relation to the age group, it was verified that
the consumption of ultraprocessed foods by children from 5 to 9 years old was higher
when compared with that of children from 2 to 4years old (p<0.002).
Conclusions Therefore, there is a necessity of implementing effective health and
education actions that can decrease the prevalence of the consumption of ultra-
processed foods in Brazil, especially in the South region.
Keywords
►industrialized foods
►food intake
►children
International Journal of Nutrology Vol. 12 No. 1/2019
Consumo de alimentos ultraprocessados em crianças de Freitas Libanio et al.36
pacote e hambúrguer e/ou embutidos, todos considerados
alimentos ultraprocessados, conforme a última edição do
Guia Alimentar para a População Brasileira do Ministério da
Saúde.7
Para a análise estatística, utilizou-se o programa SPSS
(Statiscal Package for the Social Sciences) versão 21.0 (IBM
Corp, Armonk, NY, EUA). As variáveis quantitativas foram
descritas por média e desvio padrão e as categóricas por
frequências absolutas e relativas. Para comparar médias
entre as faixas etárias, entre os anos e na comparação da
região Sul com os dados do Brasil, o teste t-student para uma
amostra foi utilizado. O nível de significância adotado foi de
5% (p<0,05).
O presente estudo não passou por análise de Comitê de
Ética, visto que foram utilizados dados secundários de um
banco de dados público já existente, sem nenhum tipo de
intervenção direta ou indireta nos indivíduos.
Resultados
Foram analisados os dados de 7.618 crianças em 2015 e
15.143 em 2016, totalizando uma amostra de 22.761 cri-
anças da região Sul. Das 22.761 crianças, 55,8%, tinham
idade entre 2 a 4 anos e 44,1% entre 5 a 9 anos. Quando os
dados foram estratificados por raça e gênero, foi observada
uma diferença no número amostral de 9,88% e 45,64%,
respectivamente, ou seja, a amostra se tornou menor em
relação aos dados estratificados por idades. Essa diferença
foi ocasionada, provavelmente, por perdas amostrais, falta
de informações na hora da coleta ou qualquer tipo de viés
de informação. Os dados apresentados na ►Tabela 1 descre-
vem de forma completa as características das crianças
avaliadas.
Foi constatada uma alta prevalência de consumo de
alimentos ultraprocessados nas crianças avaliadas da região
Sul. O grupo bebidas adoçadas (70,45%; n¼16.172),
seguido pela categoria macarrão instantâneo, salgadinhos
e biscoitos de pacotes (63,25%; n¼14.492) foram os que
apresentaram maior média de consumo entre as duas faixas
etárias. Em contrapartida, os grupos biscoito, bolachas
recheadas e guloseimas (49,5%; n¼11.231) e hambúrguer
e/ou embutidos (45,17%; n¼9.868) foram menos consumi-
dos. Quando estratificadas por estados da região Sul, as
prevalências de consumo foram: biscoito, bolachas rechea-
das e guloseimas no Paraná (PR) (47,5%; n¼4.616), Santa
Catarina (SC) (48,25%; n¼1.561) e Rio Grande do Sul (RS)
(53,25%; n¼1.880); bebidas adoçadas no PR (73,5;
n¼7.015), SC (67,5%; n¼2.258), e RS (71,25%, n¼2.513);
macarrão instantâneo, salgadinhos e biscoitos de pacote no
PR (63,5%; n¼6.267), SC (64,25%; n¼2.482), e RS (66,75%;
n¼2.488); hambúrguer e/ou embutidos no PR (41%;
n¼3.875), SC (50%; n¼1.508), e RS (46%; n¼1.665) de
consumo de AUP.
De acordo com a ►Tabela 2, quando comparado o con-
sumo de AUP entre os anos de 2015 e 2016, as diferenças não
foram significativas. Desta forma, as análises posteriores
foram realizadas agrupando os dois períodos para aumento
do tamanho da amostra e do poder estatístico.
A►Tabela 3 apresenta a comparação das prevalências de
consumo de AUP entre a região Sul e o Brasil, em que foi
possível observar que o consumo de hambúrguer e/ou
embutidos por crianças entre as duas faixas etárias e o
consumo de macarrão, salgadinhos e biscoitos de pacote
por crianças de 2 a 4 anos, foi significativamente maior na
região Sul.
Na comparação entre as faixas etárias, verificou-se que o
consumo de macarrão instantâneo, salgadinhos, biscoitos de
pacote e hambúrguer e/ou embutidos por crianças de 5 a 9
anos foi superior, quando comparado ao das crianças de 2 a 4
anos (►Tabela 4).
Tabela 2 Comparação de consumo de alimentos ultraprocessados
entreosanosde2015e2016
Ultraprocessados
(% de consumo)
2015 2016 p
Média DP Média DP
Biscoito, bolachas
recheadas,
eguloseimas
49,0 6,13 50,0 1,0 0,709
Bebidas adoçadas 72,1 4,8 68,8 3,5 0,203
Macarrão
instantâneo,
salgadinhos,
ebiscoitos
de pacote
62,5 3,0 64,0 1,9 0,339
Hambúrguer
e/ou embutidos
45,3 5,9 45,0 6,0 0,925
Abbreviations: DP, desvio padrão; p, nível de significância teste t.
Tabela 1 Caracterização da amostra de crianças atendidas pelo
serviço de Atenção Básica na região Sul avaliadas pelo SISVAN
Variáveis Ano 2015 Ano 2016 Ano
2015/2016
n(%) n(%) n(%)
Faix a et ária
2–4 4.517 (59,3) 8.199 (54,2) 12.716 (55,8)
5–9 3.101 (40,7) 6.944 (45,8) 10.045 (44,1)
Total 7.618 (100) 15.143 (100) 22.761 (100)
Sexo
Feminino 3.366 (52,7) 3.089 (51,6) 6.455 (52,1)
Masculino 3.020 (47,3) 2.896 (48,4) 5.916 (47,8)
Total 6.386 (100) 5.985 (100) 12.371 (100)
Raça/Cor
Negra 122 (1,7) 258 (1,9) 380 (1,9)
Parda 908 (12,9) 1.235 (9,2) 2.143 (10,4)
Branca 5.724 (81,3) 11.421 (84,8) 17.145 (83,6)
Amarela 277 (3,9) 551 (4,1) 828 (4,0)
Indígena 5 (0,07) 9 (0,07) 14 (0,1)
Total 7.036 (100) 13.474 (100) 20.510 (100)
n¼frequência absoluta; (%)¼porcentagem em relação ao número
total; SISVAN, Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional.
International Journal of Nutrology Vol. 12 No. 1/2019
Consumo de alimentos ultraprocessados em crianças de Freitas Libanio et al. 37
Discussão
Neste estudo, foi possível observar o elevado consumo de
AUP entre as crianças da região Sul do Brasil. O grupo de
alimentos bebidas adoçadas (70,45%), seguido pelo grupo
macarrão instantâneo, salgadinhos e biscoitos de pacotes
(63,25%) foram os que apresentaram maior média de con-
sumo entre as duas faixas etárias analisadas. Um estudo
realizado na região metropolitana do RS, encontrou resulta-
dos semelhantes, em que os AUP contribuíram em grande
parte na alimentação de crianças de 3 a 4 anos. Os alimentos
mais consumidos foram pães (78,8%), seguido de bebidas
açucaradas (75,6%), doces (63,2%), biscoitos (52,5%), embu-
tidos (42,9%), chips (17,7%) e macarrão instantâneo
(11,0%).13 Quando anali samos o consumo de AUP nos estados
da região Sul, verificamos que não houve diferenças estatis-
ticamente significativas entre os estados do PR, SC e RS, já
que todos apresentaram alto consumo desta categoria de
alimento.
Estudos internacionais e nacionais também identificaram
um alto consumode AUP.No Canadá, a contribuição energética
por AUP aumentou de 24,4% em 1938 para 54,94% em 2001.14
No Brasil, o consumo de alimentosin natura ou minimamente
processados, como arroz,feijão e ovos,diminuiu entre 10 e 27%
em 16 anos. Já a ingestão de pães e biscoitos aumentou 21%
durante o mesmo período. Um estudo realizado com dadosda
Pesquisa de Orçamentos Familiares demonstrou participação
calórica de 21,5% proveniente de AUP na dieta de 32.898
brasileiros com 10 ou mais anos de idade.15 As mudanças no
estilo de vida da população brasileira e na produção, distri-
buição e consumo de alimentos enfraqueceram os padrões
alimentares tradicionais, baseados em alimentos in natura e
minimamente processados.16
A prevalência de consumo de AUP foi significativamente
maior na região Sul, em relação à encontrada no Brasil. Dois
estudos utilizando dados da Pesquisa Nacional de Demogra-
fia e Saúde (PNDS) de 2006, corroboram os dados do presente
estudo, visto que foi demonstrado que o consumo de doces,
refrigerantes e bebidas açucaradas na região Sul foi superior
ao das demais regiões. Evidências explicam que o consumo
de bebidas açucaradas, além de colaborar para o aumento do
consumo de carboidratos e energia na dieta, está relacionado
a alterações nos mecanismos regulatórios de saciedade.17,18
Da mesma forma que o presente estudo, os resultados da
pesquisa de Sparrenberger (2015) et al. apontaram que o
consumo de AUP tem relação direta com a idade da criança,
pois verificou-se que o consumo desses foi superior entre as
crianças de 5 a 10 anos quando comparado ao consumo entre
as crianças menores de 5 anos.18 Estudo realizado por
Karnopp também demonstrou que a contribuição energética
de AUP na alimentação de crianças maiores de 2 anos (36,1%)
foi mais representativa quando comparada à das crianças
menores de 2 anos (19,7%).19,20 Possivelmente este resultado
justifique-se pelo fato de que, quanto maior a idade da
criança, maior sua autonomia, o que a torna mais suscetível
a sofrer influências do meio em que está inserida optando
por alimentos pouco saudáveis.21
Alguns estudos já sugerem associação entre consumo de
AUP e excesso de peso e obesidade em crianças.22 Em Itajaí,
SC, encontrou-se uma prevalência de excesso de peso de 44%
das crianças em idade escolar, associado ao maior consumo
de biscoitos.23 Um outro estudo realizado em Porto Alegre,
RS, não demonstrou associação entre o consumo de AUP e o
estado nutricional das crianças. Porém, os AUP foram os que
mais contribuíram para a ingestão de lipídios, carboidratos,
sódio e gorduras trans na alimentação das crianças.18 Em
Curitiba, PR, as crianças que mais consumiam carboidrato
apresentaram risco 48% maior de sobrepeso/obesidade.23
Assim como o consumo de AUP, a prevalência de excesso
de peso em crianças também é mais expressiva na região Sul.
Dados de 2015/2016 do SISVAN mostram que a prevalência
de excesso de peso em crianças de 5 a 10 anos da região Sul
(34,66%) é superior à prevalência do Brasil (28,52%).24 Dados
Tabela 3 Comparação de consumo de alimentos ultraprocessados
entre a região Sul e o Brasil
Ultraprocessados
(% de consumo)
Região Sul Brasil p
Média DP
Biscoito, bolachas
recheadas, e guloseimas
2–4anos 50,03,7 48,5 0,611
5–9anos 49,04,9 49,5 0,899
Bebidas adoçadas
2–4anos 69,14,4 66,5 0,448
5–9anos 71,84,3 67,5 0,227
Macarrão instantâneo,
salgadinhos e biscoitos
de pacote
2–4anos 61,82,1 59,5 0,061
5–9anos 64,72,2 60,0 0,032
Hambúrguer
e/ou embutidos
2–4anos 40,53,1 31,0 0,007
5–9anos 49,83,1 38,5 0,004
Abbreviations: DP, desvio padrão; p, nível de significância.
Tabela 4 Comparação entre as faixas etárias na região Sul
Ultraprocessados
(% de consumo)
2–4 anos 5–9 anos p
Média DP Média DP
Biscoito, bolachas
recheadas,
eguloseimas
50,0 3,7 49,0 4,9 0,702
Bebidas adoçadas 69,1 4,4 71,8 4,3 0,314
Macarrão
instantâneo,
salgadinhos,
e biscoitos
de pacote
61,8 2,1 64,6 2,2 0,049
Hambúrguer
e/ou embutidos
40,5 3,1 49,8 3,1 <0,001
Abbreviations: DP, desvio padrão; p, nível de significância.
International Journal of Nutrology Vol. 12 No. 1/2019
Consumo de alimentos ultraprocessados em crianças de Freitas Libanio et al.38
da POF demonstram que o excesso de peso em crianças de 5 a
9 anos na regiã o Sul (35,9%) só é menor que na reg ião Sudeste
(38,8%),25 enquanto que os dados da PNDS indicam excesso
de peso de 7% em crianças menores de 5 anos no Brasil e 9%
na região Sul.2
Além do excesso de peso, o consumo aumentado de AUP
pode trazer repercussões metabólicas negativas, pois esses
alimentos, considerados de alta densidade energética, ricos
em gordura e pobres em fibras, estão relacionados a altera-
ções como elevada concentração de insulina e resistência à
insulina em adolescentes.26 Somado a isso, estudos demons-
tram associação entre o consumo de AUP e maior concen-
tração de colesterol total (CT), fração de lipoproteína (LDL) e
presença de hipertensão arterial sistêmcia (HAS) em
crianças.12,19
Apesar do consumo de AUP ter aumentado entre a popu-
lação brasileira nos últimos anos, inclusive na população de
baixa renda,27 esses alimentos têm maior custo quando
comparados a alimentos in natura e minimamente proces-
sados. Na pesquisa de Mourabac, em que foi comparada a
influência dos preço s sobre a compra de alimentos no Brasil e
no Reino Unido, foi demonstrado que, no Reino Unido os
alimentos prontos para consumo eram 13% mais baratos em
relação aos outros alimentos. Já no Brasil, os alimentos
prontos para consumo foram 52% mais caros, tornando a
preparação de alimentos caseiros e naturais economica-
mente mais vantajosa em relação a uma alimentação
baseada em AUP.28 O marketing utilizado para a venda dos
AUP é um dos fatores que contribui fortemente para o
aumento do seu consumo, seja pelo uso de embalagens
que influenciam a percepção das crianças sobre os produtos,
alegações sobre a presença de vitaminas e minerais ou
diminuição/isenção de produtos maléficos à saúde.29
Dentre as limitações do presente estudo, destaca-se o fato
de terem sido utilizados dados secundários, os quais podem
ter algum grau de viés de aferição. Além disso, não há acesso
disponível sobre possíveis perdas de sujeitos ocorridas ao
longo da coleta de dados. Cabe ressaltar que o instrumento
para análise do consumo alimentar utilizado foi aplicado de
forma transversal e não há descrição do dia da semana em
que ele foi aplicado. Como todo e qualquer inquérito die-
tético, o instrumento aplicado possui limitações inerentes ao
método, sendo influenciado por fatores como memória do
entrevistado, capacidade de entendimento e nível de fide-
dignidade da informação relatada. Este estudo apresenta
como principal ponto forte ter utilizado uma amostra repre-
sentativa de crianças usuárias do serviço de atenção básica
em saúde no Brasil.
Os resultados encontrados revelam elevada prevalência
de consumo de AUP entre as crianças analisadas. Portanto, há
necessidade da conscientização da população, principal-
mente de pais e responsáveis, sobre os riscos do consumo
de AUP na infância e também da implementação de ações de
saúde e educação efetivas que possam diminuir as prevalên-
cias do consumo desses produtos.
Conflitos de Interesse
Os autores declaram não haver conflitos de interesse.
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