A formação do Candomblé: história e ritual da nação jeje na Bahia
... The methodology applied was ethnography and it is the result of fieldwork that has been taking place since 2015. Introdução Na Bahia, a formação do Candomblé, uma associação sócio-político-religiosa estrategicamente constituída pelos povos de várias etnias africanas (Parés, 2006) para a continuidade do culto de divindades africanas, sempre logrou privilégio nas investigações antropológicas e históricas. Primeiro, por concentrar as mais antigas instituições religiosas estabelecidas dessa matriz africana, atuando como centro irradiador para a formação de instituições filiais em outras partes do país. ...
... Santiago (2000) afirma que o pioneiro projeto de assimilação perpetrado pela metrópole no nosso país vitimou a religiosidade dos povos indígenas impondo-lhes uma unidade linguística com fins a evitar o pluralismo religioso. Por outro lado, em relação aos africanos escravizados, fomentou-se preliminarmente o bilinguismo linguístico, como corrobora Parés (2006), de modo a desarticulá-los política e religiosamente no momento do tráfico, para, então, serem aqui condenados ao idioma da colônia, inclusive ao serem forçados a abandonarem seus nomes africanos de batismo. Como afirma Pereira (2009), o poder é definido pela unidade, in casu, pela unidade linguística da colônia mediante as quais verdades foram instituídas. ...
Na Bahia, o Candomblé se constitui numa associação sócio-político-religiosa que emergiu como estratégia para que africanos e crioulos não apenas dessem continuidade ao culto de divindades de origem africana, mas como contraponto às políticas coloniais. Assim, dá-se primazia a figuras femininas que dão corpos e vozes às comunidades religiosas, mediante os cargos que lhe são atribuídos quando não diretamente, legitimados pelas divindades. Uma dessas figuras é Gersonice Ekedy Sinha Azevedo Brandão, considerada uma educadora para a comunidade do Ilê Axé Iyá Nassô Oká. Importante para o aprendizado das mulheres que ali se encontram em processo de iniciação, Ekedy Sinha é, também, referência para aquelas que estão em nível hierárquico equivalente ao seu, por apresentar domínio de cânticos, danças e rituais. O objetivo deste artigo é apresentar uma breve autobiografia dessa líder religiosa a partir de suas memórias e reflexões pessoais sobre o ser e o fazer no âmbito do Candomblé. A metodologia aplicada foi a etnografia e resulta de um trabalho de campo que vem ocorrendo desde 2015. Conclui-se que o Candomblé baiano marca uma presença de vanguarda notadamente nas questões de gênero e que nos oferece estratégias e ações que implicam mudança das “formas hegemônicas de poder, ser e conhecer” mencionadas por Maldonado-Torres (2008:66).
... Da mesma maneira, podemos encontrar registros sobre isso na cidade de Salvador, a partir de 1828, segundo as pesquisas de, envolvendo a encomenda de feitiços, organização de festas dos candomblés e a sustentação dos terreiros nos arrebaldes da cidade, de cujos africanos e seus descendentes, em situação de escravidão ou não, participavam de relações mediadas pelo dinheiro (Reis, 2001;Santos, 2005). Para os anos subsequentes, especi camente nos terreiros do chamado candomblé jeje, Luís Nicolau Parés (2006) fornece dados acerca da complexa rede de relações para o sustento econômico das casas de culto e seus organizadores. Gabriela Sampaio (2007) investigou extensa rede de dons e contra-dons eróticos, políticos e econômicos na sexualizada gura de Juca Rosa, afamado feiticeiro africano-descendente que morava no coração da capital do Império do Brasil. ...
... Se fosse um radical leitor de Weber, e não de certa maneira um herético, submeteria toda a interpretação do processo de preci cação, seguindo as de nições de Viviana Zelizer (2011), desenvolvidas por José Renato Baptista (2007) para religiões de matriz africana, dos feitiços e outros elementos do caso de Cunha ao contato com a mentalidade econômica religiosa supostamente disseminada pelo protestantismo na anglo-américa. Poderia até mesmo tratar, em parte como RobertSlenes (1991-92) eParés (2006) vêm propondo, de uma diáspora religiosa do que autoridades classi cavam como feitiço africano e de entidades espirituais. Mas esse não é o meu caso, nesse artigo. ...
Resumo: Este artigo trata da análise de um processo-criminal em Cunha, São Paulo, 1870, aberto para investigar o que foi chamado de Escola de Feitiçaria Coroa da Salvação. Os escravos envolvidos foram acusados de matar pessoas como prática de lições de feitiçaria, em investigação iniciada pela senhora do principal acusado. A escola envolvia escravos de várias fazendas locais, além de libertos que moram na região. A base teórica usada são, principalmente, textos de Max Weber sobre religião e magia para tentar observar as condições de possibilidade para a crença compartilhada por senhores e escravos no caso analisado. Palavras-chave: escravidão; magia; acusações de feitiçaria. Abstract: This article deals with the analysis of a criminal process, in Cunha, São Paulo, 1870, open to investigate what was called by the School of Witchcraft Crown of Salvation. The slaves involved were accused of killing people as practicing witchcraft lessons in an investigation initiated by the lady of the main accused. The school involved slaves from several local farms, as well as freedmen living in the area. The theoretical basis used are mainly texts by Max Weber on religion and magic to try to observe the conditions of possibility for the shared belief by masters and slaves in the case analyzed. Max Weber se notabilizou nas Ciências Sociais, dentre outros fatores, por abordar a religião como fenômeno social, entrelaçado a elementos de ordem diversa, centrais na sua compreensão. Momentaneamente, ele isola o fenômeno para investigá-lo e, assim que possível, relacioná-lo a tantos outros. Uma questão de estratégia analítica, de método. Para Weber, a crença na salvação, a conformação das regras de autorização para alguém ser mágico, feiticeiro ou sacerdote, as maneiras de produzir os fundamentos de sua reputação, da crença em suas habilidades extraordinárias, a sustentação social moral que imbui de poder um messias, as camadas letradas, os especialistas, que detém as rédeas da argumentação teológica e as justi cativas rituais, são, em alguma medida, aspectos dos universos chamados de religiosos. Esses seriam ambientados a partir dos desejos nutridos nas pessoas para responderem de forma confortável aos seus medos, às suas angústias. Tudo isso socialmente concebido e performatizado, experimentado com paradoxos de diversos níveis de complexidade. Para Weber, a sociogênese da crença na magia não ocorre em etapas evolutivas numa única temporalidade ahistórica, mais sim em processos sociais os mais diversos-alguns de cunho mundial, outros territorialmente mais localizados. O tempo também é socialmente construído e vivido, e as investigações de Weber trazem recomendações teóricas e metodológicas para observarmos e analisarmos os agentes sociais em relação nos seus devidos contextos históricos. Neste artigo, viso a fornecer alguns instrumentos para avaliar situações nas quais indivíduos se valeram de recursos mágicos e processos de magicização do mundo social para atingir os ns por eles almejados, num processo de busca de superação de angústias, dramas dolorosos. Terei como corpo analítico central parte de um caso ocorrido na cidade de Cunha, província de São Paulo, em 1869 (Processo-crime, Corte de Apelação, número 50, caixa 28, galeria c, ano 1870). Desde minha tese de doutorado não revisitava essa documentação, e esta é a primeira vez em que publico algumas análises, que serão completadas em outros artigos em fase nal de elaboração, parte de um livro que pretendo publicar com investigações e interpretações mais amadurecidas intelectualmente sobre o caso. A base teórica das análises neste artigo são algumas observações de Max Weber, contidas nos seus estudos sobre as condições sociais de possibilidade para crença na magia e as investiduras sociais que os candidatos a mágicos devem ter para que sejam reconhecidos como portadores de poderes mágicos, para os que neles acreditam. De maneira alguma tratarei de percorrer a vasta bibliogra a sobre a magia, tema central na Antropologia, muito menos sobre a historiogra a sobre religiosidade e escravidão nas Américas e Caribe. A proposta é me ater em textos que permitam pôr em relevo o quanto os procedimentos mágicos são constitutivos do funcionamento do mundo social, buscando compreender o que me parece ser uma densa trama de relações, presentes nas narrativas que constam nas diferentes peças processuais que compõem o já referido documento. Dessa forma, a perspectiva por mim adotada é procurar identi car em certos antropólogos aquilo que é útil para pensar os materiais de pesquisa, enfatizando questões inspiradas em textos especí cos sobre religião de autoria de Max Weber. O que de Max Weber ajuda na análise do caso de Cunha? Religião é ação no mundo, para Weber, mas as motivações dos éis adeptos seguem os mais diversos protocolos, baseados em regras morais compreendidas empiricamente. Tal a rmação não vale somente para o que denominou por grandes religiões mundiais, às quais ele dedicou volumes particulares. Tal maneira de tratar pesquisas sobre religião coloca o pesquisador diante do impedimento de não universalizar valores morais. Não percebo, nesse sentido, um caráter etnocêntrico em Weber, nem mesmo observo antropólogos sob sua in uência, tendo feito uso de seus apontamentos ao se debruçarem no entendimento de seus materiais de pesquisa. Citarei dois exemplos. Lygia Sigaud (1979) buscou avaliar as condições morais de interpretação de formas de remuneração e de lidar com dinheiro entre trabalhadores em engenhos de cana na Zona da Mata de Pernambuco, observando forte presença de justi cativas morais para
... um quarto viés interpretativo é trazido também por Deusimar de Lissá comparando algumas das características arquitetônicas da estrutura arqueológica com assentamentos dedicados ao vodum Ayizan, originário da região do Golfo da Guiné ocupada por povos Gbè-falantes, como os Adja, Gen, ewe e Fon (Da silva, 2019;Matory, 1999;Parés, 2018). No Brasil o culto aos voduns está relacionado a povos de origem ewe-Fon, pouco numerosos no Rio de Janeiro onde a maioria dos capturados vieram da África central e austral, de tronco linguístico Banto, mas frequente na Bahia onde adeptos desses cultos mais tarde tiveram grande influência na formação do Candomblé (eltis, Richardson, Behrendt, Klein, 2000;Parés, 2018;Reis, 1996). ...
... um quarto viés interpretativo é trazido também por Deusimar de Lissá comparando algumas das características arquitetônicas da estrutura arqueológica com assentamentos dedicados ao vodum Ayizan, originário da região do Golfo da Guiné ocupada por povos Gbè-falantes, como os Adja, Gen, ewe e Fon (Da silva, 2019;Matory, 1999;Parés, 2018). No Brasil o culto aos voduns está relacionado a povos de origem ewe-Fon, pouco numerosos no Rio de Janeiro onde a maioria dos capturados vieram da África central e austral, de tronco linguístico Banto, mas frequente na Bahia onde adeptos desses cultos mais tarde tiveram grande influência na formação do Candomblé (eltis, Richardson, Behrendt, Klein, 2000;Parés, 2018;Reis, 1996). todavia, existem relatos de culto aos voduns no Rio de Janeiro que recuam pelo menos até 1864, quando uma mulher vinda do antigo reino de Daomé (Benin) chamada Rosena teria dado início a essas práticas no bairro da saúde (Conduru, 2010;Netto, 2013;silveira, 2012). ...
O presente artigo é resultado de uma pesquisa realizada no centro da cidade do Rio de Janeiro que possibilitou discutir diferentes aspectos de um armazém especializado na venda de pessoas escravizadas, o Armazém M. Velludo & C., que funcionou na antiga Rua dos Ourives entre as décadas de 1860 e 1870. Ao longo do texto é discutido a história desse espaço; as relações estratigráficas dos remanescentes arqueológicos; e as afinidades desses materiais com elementos de cultos afro-brasileiros.
... Com os estudos sobre Cachoeira, não é diferente. Luiz Cláudio Dias do Nascimento (2010) e Luis Nicolau Parés (2007) trabalham com a tradição oral para falar do candomblé Jeje em Cachoeira, contrapondo-se ao grande enfoque na nação ketu de Salvador. Os mais recentes de Luísa Mahin do Nascimento (2016) e Luísa Mesquita Damasceno (2017) mostram a religiosidade no dia-a-dia cachoeirano. ...
... O movimento deste texto buscou também uma narrativa contaminada pelas presenças cotidianas de caboclos, orixás, inquices e bons irmãos de luz em Cachoeira. Tal cotidiano nos diz que o candomblé é uma maneira de ser e estar no mundo que ultrapassa as fronteiras do terreiro e é contada através de histórias Essas histórias, muitas vezes passadas pelas pessoas mais velhas, são também encontradas na literatura sobre Cachoeira (Sousa Júnior, 2005;Parés, 2007;Nascimento, 2010;Nascimento, 2016;Damasceno, 2017;Alvarenga, 2016, Vale, 2018. Histórias como as do Vapor, que já não navega mais no mar do Paraguaçu, e seu cozinheiro: "a embarcação que se movia sem a ajuda dos ventos e dos remos e sobre um de seus tripulantes, Zé do Vapor, que trabalhava na cozinha" (Sousa Júnior, 2005, p. 62). ...
Cachoeira é uma cidade do Recôncavo Baiano palco do protagonismo na guerra pela Independência da Bahia, casa de muitos terreiros de candomblé, morada de uma população majoritariamente negra. Cheia de histórias, a cidade possui uma forte presença da entidade caboclo em seu cotidiano. A proposta deste artigo é pensar como essa presença do caboclo dentro e fora dos terreiros da cidade nos ajuda a refletir sobre escrita etnográfica. Para tanto, buscarei acompanhar as maneiras como o caboclo aparece nas narrativas da história oficial da Bahia como símbolo nacional, na literatura dos Estudos Afro-brasileiros sobre os candomblés de Salvador e do Recôncavo Baiano como entidade marcada por uma multiplicidade e nas ruas da cidade de Cachoeira como uma presença cotidiana. A ideia, assim, é imprimir ao próprio texto o movimento do caboclo – que prescinde de chamado quando chega, vem da mata e, com sua braveza, dá seus pulos.
... Entre essas comunidades recriadas, pode-se citar as de matriz africana denominadas de Candomblé, que originalmente se organizaram no país em regiões mais periféricas e distanciadas dos aglomerados urbanos e próximas às áreas florestadas, tanto pela sua dependência da floresta quanto pelo menor custo das terras, sendo estas também consideradas como áreas de risco, locais alagadiços, insalubres e com terras pouco férteis, que não despertavam nenhum interesse político-econômico (Parés, 2006;Barros, 2011;Sales Júnior., 2014). ...
Nossa relação com a natureza tem sido alterada ao longo da existência humana. No Brasil, desde meados do século XVI, a floresta tem sido ocupada e cotidianamente transformada pelo homem. A floresta aqui é interpretada como patrimônio ambiental e cultural, território sagrado do Candomblé, considerada o território fundamental de ações culturais e habitat dos Òrisà, divindades cultuadas por esse segmento religioso. O Candomblé é uma sociedade que mantém todo a sua história baseada na oralidade, reconhecendo na fala sua forma de comunicação e mecanismo de preservação de conhecimentos ancestrais, envoltos em uma tradição que é transmitida verbalmente de geração em geração. Joinville, cidade que se fundou com a presença e força imigrante é, desde o início dos anos de 1980, território marcado pela presença do Candomblé. A pesquisa se deu por meio de entrevistas orais.
... Fathers and mothers of the saint from religions of African origin were respected and loyally followed by mostly black workers, but also white ladies, businessmen, and individuals from politics and the police. However, simultaneously, they were combatted and denounced in newspaper articles and persecuted by the authorities and the police [3][4][5][6][7] . ...
In this article, conflicts involving pharmacists and doctors are presented, especially those linked to the Inspectorate of Sanitation, in the city of Salvador in the last decade of the 19th century, a topic that has not yet been addressed by the historiography. We seek to discuss how the regulation created during the imperial government to control healing practices in general and the work of pharmacists in particular, ended up limiting the work of the latter. Considering the regulations imposed on them by the health authorities to be unfair, for restricting their performance while favoring charlatans, several pharmacists fought to acquire autonomy in the face of what they considered the authoritarianism of doctors. Such conflicts reveal how much the establishment of medical science as hegemonic in the country was a turbulent process even between these supposedly allied professions. The beginning of the Republic, a context permeated by debates and transformations that occurred with the fall of the monarchy, the abolition of slavery and the initial difficulties for the establishment of power, was strongly marked by the presence of doctors, who worked together with military and judiciary to impose a new social organization. This medical presence was visible in the strong influence of racialized thinking that characterized public policies.
... Apesar da presença da mais antiga faculdade de medicina do Brasil, cujos professores, respeitados nacional e internacionalmente, participavam ativamente da política e da vida social da cidade e do país, pululavam pelas ruas do Centro e pelos bairros afastados, além de curandeiros e receitistas, muitos líderes religiosos que tratavam das enfermidades e dos males do corpo e do espírito de seus fiéis. Pais e mães de santo de religiões de origem africana eram respeitados e seguidos de perto por trabalhadores, negros em sua maioria, mas também por senhoras brancas, homens de negócio, gente da polícia e da política -e ao mesmo tempo combatidos, denunciados em textos de jornais e perseguidos pelas autoridades e pela polícia [3][4][5][6][7] . ...
In this article, conflicts involving pharmacists and doctors are presented, especially those linked to the Inspectorate of Sanitation, in the city of Salvador in the last decade of the 19th century, a topic that has not yet been addressed by the historiography. We seek to discuss how the regulation created during the imperial government to control healing practices in general and the work of pharmacists in particular, ended up limiting the work of the latter. Considering the regulations imposed on them by the health authorities to be unfair, for restricting their performance while favoring charlatans, several pharmacists fought to acquire autonomy in the face of what they considered the authoritarianism of doctors. Such conflicts reveal how much the establishment of medical science as hegemonic in the country was a turbulent process even between these supposedly allied professions. The beginning of the Republic, a context permeated by debates and transformations that occurred with the fall of the monarchy, the abolition of slavery and the initial difficulties for the establishment of power, was strongly marked by the presence of doctors, who worked together with military and judiciary to impose a new social organization. This medical presence was visible in the strong influence of racialized thinking that characterized public policies.
... Nesse sentido, ao refletir sobre esse encontro e seus modos de interação, devemos nos preocupar menos com a origem da inserção dos caboclos nos candomblés e mais em investigar como os conteúdos de suas ações são significados na prática, pois "em processos históricos específicos, a tradição é tomada como estímulo para a inovação e antigas significações são atribuídas a elementos novos" (PARÉS, 2007). Ao restaurar os comportamentos, a comunidade religiosa do candomblé (humanos e entidades) elabora modos de relacionamento e ajuntamentos com uma cultura indígena vivificada na ação dos espíritos caboclos, mobilizando idiossincrasias na formulação de uma caracterização específica, guardada na memória dos terreiros e na memória dos espíritos e reativada através da performance ritual, e que apresentam a identidade indígena desfazendo-se das classificações de miscigenação. ...
Caboclos, entidades espirituais com características indígenas e regionais, inserem-se no Candomblé em uma perspectiva liminar. Suas presenças evocam formas de comportamento sociorrituais nas fronteiras de tradições reterritorializadas. Por um lado, o termo foi utilizado para denominar um resultado da mistura entre indígenas e brancos, operando uma diluição da identidade e apagamento étnico através da mestiçagem. Por outro, as expressões de espiritualidades indígenas nas religiões afro-brasileiras foram pensadas sob a formulação teórica do sincretismo. No entanto, articulando uma contramestiçagem, as ações das entidades operam um engajamento na transformação do significado da categoria Caboclo, antes utilizada para denominá-las em campos teóricos da mistura. Ao abordá-los na perspectiva dos estudos da performance, com ênfase no “aqui e agora”, enfatizamos as possiblidades de uma composição que estabelece relações entre suas ações e poderes a um conjunto de articulações de um imaginário social. A performance possibilita um devir da experiência, um material em movimento. No culto aos caboclos, agenciam-se poderes a partir da função integradora do ritual, estabelecendo um acesso a domínios e ancestralidades indígenas. Mais do que representações, nos terreiros são mobilizados modos de relação com uma possibilidade de cultura indígena viva na ação das entidades. Suas manifestações são o encontro entre mundos – um encontro “afroindígena” – experiências narradas e atualizadas nas práticas rituais. Contrabalanceando formulações teóricas dos campos de estudos da performance e estudos das religiões afro-brasileiras, buscamos analisar o repertório utilizado na restauração de comportamentos dos caboclos, considerando sua manifestação como um ato cosmopolítico. A manifestação das entidades, afirmando uma identidade indígena, apresenta homologias com processos de etnogênese de povos indígenas do Nordeste. Partindo da premissa de que na performance o “como se” não se diferencia do “é”, utilizamos a categoria “performados” para designar e propor uma possível leitura da apresentação dos Caboclos nos candomblés.
... Este documento também oferece informações mais precisas sobre sua nação: descreve-a como "preta jeje", termo que, na Bahia, designava africanos que falavam dialetos do tronco linguístico gbe, oriundos da região sul da atual República do Benim. Dos escravos embarcados na Costa da Mina para a Bahia, entre a segunda metade do século XVIII e a primeira década do XIX, os jejes predominavam(PARÉS, 2006, p. 28 OLIVEIRA, 1995; CASTILLO & ANDRADE, 2020. Sobre a importância da Costa da Mina no tráfico negreiro para a Bahia, ver, entre outros, VERGER (2002) e REIS (2021), p. 238-240. ...
No Candeal Pequeno, bairro popular da cidade do Salvador, há um altar dedicado ao orixá Ogum, que, segundo a memória oral, foi estabelecido por um próspero casal de africanos, senhores de muitas terras e fundadores do bairro. O presente texto reconstrói a trajetória da família e do seu envolvimento no culto a Ogum, identificando influências étnicas heterogêneas que variaram ao longo do tempo. Depois, o texto discute o papel desse orixá entre diferentes povos da região do Golfo do Benim e sua importância para lavradores, atividade principal do casal e de várias gerações de seus descendentes. O caso individual da família fornece insumos importantes sobre o envolvimento de africanos libertos na lavoura e sobre as influências mútuas entre grupos étnicos africanos no âmbito religioso no Brasil e na África.
... Así, en un proceso de apropiación, los nombres de las naciones se convirtieron en el punto de partida para la reconstrucción de procesos de identificación más inclusivos. Conviviendo en las calles, fraternidades, fiestas religiosas o grupos de trabajo, los minas encontraban similitudes lingüísticas y de comportamiento, creencias y lugares de origen en común y, a partir de ahí, creaban grupos más amplios y con autoconciencia colectiva (Soares, 2000;Parés, 2006;Law, 2006;Barreto Farias, Gomes & Soares, 2005). A lo largo del siglo XIX, los hombres y mujeres "minas" siempre fueron, numéricamente, una minoría en toda la población esclavizada de la capital de Río de Janeiro, ya que los africanos desembarcados en la ciudad eran, en su mayoría, de la costa centro-occidental, como los llamados angolas, benguelas, cabindas, cassanges, congos y rebolos (Karasch, 2000;Florentino, 1997). ...
Mi objetivo en este artículo es abordar los procesos de divorcio iniciados por africanas de la costa oeste conocidas en Río de Janeiro (Brasil), como “negras minas”, buscando comprender los significados que el matrimonio y el divorcio católicos tenían para estas mujeres, y también para sus cónyuges. De esta manera, también surgen otras preguntas: ¿hasta qué punto las denuncias de las minas se acercaron –o se alejaron– de las realizadas por mujeres de otros “colores”, orígenes y condiciones sociales? ¿Qué revelaron estas disputas sobre las nuevas y viejas formas de identificar a estas africanas? Para tratar de responder a estas preguntas, me voy a basar un conjunto de 19 acciones abiertas entre los años 1830 y 1860, en las que casi todos los involucrados – esposos, esposas y también muchos testigos – eran de la región africana conocida como La Costa de la Mina.
... Nina Rodrigues, portanto, reproduziu uma classificação étnica de uso corrente a seu tempo, inclusive êmico (cf. Parés, 2006). 4 Renato da Silveira (2006) afirma que nagô era a etnia do povo do reino de Ketu, argumento que encontra resistência na bibliografia sobre religiões afro-brasileiras ou mesmo em estudos sobre povos africanos e afro-diaspóricos, e mesmo controvérsias entre afrorreligiosas/os brasileiras/os. ...
Objetiva-se debater como, para a afrorreligiosidade brasileira, tradição é um termo ressignificado a partir da diáspora, operando de forma dialética com a “colonial modernidade” e a partir da atuação das mães de santo. O tráfico negreiro trouxe ao Brasil milhões de africanas/os escravizadas/os, que dividiram cativeiro com ameríndias/os, com quem aprenderam conhecimentos centrais para sua prática religiosa. Desta experiência, forçadamente sincretizada com o catolicismo, nasceram os Calundus coloniais. Estes eram formas afrorreligiosas heterogêneas, que embasaram as atuais religiões de matriz africana e contaram com o saber e a liderança político-religiosa das mães de santo. Assim, no Brasil, faz mais sentido falar em religiões afro-brasileiras. A experiência da escravidão está incluída na tradição, sendo componente intrínseco da formação de sociabilidades em sua constante atualização. A tradição é um construto da resistência do povo negro brasileiro à colonização e à atual “colonial modernidade”.
... De fato, é uma religião em constante transformação até os dias de hoje. E, embora os praticantes recorram à viagem da África ao Brasil e sua adaptação como forma de sobrevivência, não é o Candomblé que sobreviveu, mas o culto aos Orixás, à custa da formação de uma nova religião (PARÉS, 2006). ...
Durante a realização de uma etnografia sobre o Candomblé na cidade de Nova Iorque, destacou-se a presença de três mães de santo brasileiras que, levadas a dialogar e repensar as suas práticas no contexto norte-americano, reinventam as configurações religiosas tradicionais ou, melhor dizendo, inventam tradições, conforme o pensamento de Roy Wagner. Ao narrar as histórias dessas mulheres, pôde-se demonstrar de que forma elas reinventam o Candomblé, articulando segredos, permissões e traduções das suas práticas, fazendo, paradoxalmente, com que ele permaneça o mesmo, contribuindo para a propagação e para o estabelecimento da religião nesse novo lugar. Um dos pontos importantes encontrados nessa reinvenção foi a mudança no aspecto hierárquico, uma vez que as mães de santo adotam um sistema de interação mais horizontal com seus adeptos e clientes, em contraposição ao modelo mais verticalizado, como o prevalente nos terreiros brasileiros.
... Cazumbá com agudeza de espírito investigou minuciosamente o local, apreendendo armas, munições, bálsamo, capanga 4 , algumas moedas, uma faca de ponta, outros pertences e remédios destinados ao tratamento do ferimento no braço (CAMPOS,1957, p. 146). Neste conjunto de narrativas observa-se a identificação de árvore, estrada, poço, pedra, bálsamo que pleiteiam os espaços de crenças e saberes de origem africanas (LESSA, 2005;PARÉS, 2006;PARÉS, 2005;REIS, 1997) Com o aprisionamento de Lucas, Cazumbá, recebeu o prêmio de 4 contos de reis, o qual foi repartido com os auxiliares, ficando com o quinhão de 2 contos de réis (LIMA, 1990, p. 200) e a absolvição do homicídio. Voltou a ocupar cargo de oficial de justiça, posição importante para desaparição do processo que era considerado um criminoso (CAMPOS, 1957). ...
Este artigo trata sobre a origem do nome Cazumbá e como a família se fez presente no Recôncavo da Bahia e em Feira de Santana no final do século XIX.
Este livro é resultado de pesquisas do Núcleo de Estudos Afro-Baianos Regionais, o Kawé, e traz textos sobre os saberes transmitidos pela oralidade, que guardam parte da história regional contada sob a perspectiva do excluído. Memórias e história da superação de Inês Maria, de nome nagô Mejigã, sacerdotisa de Oxum na África, escrava no Engenho de Santana, em Ilhéus. Como destaca o organizador, Mejigã é destinado não só a acadêmicos, mas a integrantes de movimentos sociais e estudantes em geral.
Este livro é resultado de pesquisas do Núcleo de Estudos Afro-Baianos Regionais, o Kawé, e traz textos sobre os saberes transmitidos pela oralidade, que guardam parte da história regional contada sob a perspectiva do excluído. Memórias e história da superação de Inês Maria, de nome nagô Mejigã, sacerdotisa de Oxum na África, escrava no Engenho de Santana, em Ilhéus. Como destaca o organizador, Mejigã é destinado não só a acadêmicos, mas a integrantes de movimentos sociais e estudantes em geral.
Andrea Mendes DOI: 10.12957/periferia.2014.17276Joãozinho da Goméia (João Alves Torres Filho, 1914-1971) foi um pai de santo do candomblé angola, que migrou da cidade de Salvador para Duque de Caxias (na Baixada Fluminense) na década de 1940, onde conquistou grande popularidade e setornou um personagem conhecido – e controvertido - no universo do candomblé. Considerado líder de um culto pouco legítimo no meio conservador do candomblé de seu tempo, no início de sua trajetória como pai de santo era conhecido como “João da Pedra Preta”, em função do caboclo que se manifestava nele, muito procurado por seus seguidores. Nesse artigo, proponho uma análise de suas experiências no culto acaboclo, bem como rastrear alguns sentidos desse culto no candomblé, de modo geral, e suas possíveis ligações com práticas religiosas centro-africanas em uma memória delonga duração.
O presente trabalho relata e analisa as etapas de implementação de um projeto educacional original baseado em temas da africanidade. Os princípios pedagógicos de horizontalidade, legitimidade e complementaridade são introduzidos e discutidos. O projeto tem como objetivos recuperar, atualizar e difundir aspectos históricos, culturais e linguísticos das matrizes africanas diretamente relacionadas aos povos afrodescendentes do Recôncavo da Bahia e de outras localidades brasileiras. Tal iniciativa foi motivada por pesquisas de campo em território africano, durante as quais foi registrada e coletada expressiva quantidade de material atualizado, relevante e de interesse das comunidades afro-brasileiras em geral, a respeito da vida social e cultural nas regiões africanas visitadas. A metodologia de aplicação de cursos relativos a essas temáticas e abertos à comunidade é apresentada e desenvolvida. Diante do ineditismo do projeto, questões e dúvidas são levantadas e respondidas. O projeto foi bem acolhido pela comunidade e as razões para esse resultado positivo são discutidas.
Neste artigo apresentamos reflexões sobre o racismo religioso na vivência de mestres em saberes tradicionais de axé, oriundos de religiosidades afro-brasileiras. Para isso, entrevistamos e analisamos os discursos de mestres através da análise do discurso crítica (ADC), buscando compreender os significados dados por esses sujeitos às experiencias de discriminação racial e religiosa. Através de estudos interdisciplinares, identificamos três dimensões essenciais para a existência desse tipo de preconceito: a jurídica, a religiosa e a educacional. A partir da pesquisa realizada foi possível identificar vivências em que o racismo religioso atravessou a vida dos sujeitos, bem como contra discursos, ou discursos contra coloniais, capazes de possibilitar uma educação antirracista, por meio da construção de imagens positivas relacionadas aos saberes dos povos de axé.
This article examines the mysterious side of ‘company’, a fundamental aspect of human existence, exemplifying it with an ethnographic vignette about a dugout canoe in the mangroves of southern Bahia (Northeast Brazil). Inspired by Kant's proposal concerning aspects of world, the article distinguishes company both from empathy and from community, as distinct registers of human sociality. Being in company necessarily engages more than two persons inhabiting a common space; it involves an intersubjective encounter that has implications not only for what we do, but also for who we are and where we are. As they emerge into personhood from within company, persons necessarily experience the presence of third parties as a possible threat, inevitably giving rise to contradictory emotions: there is as much fear and conflict as peace within company, for it brings together entities with divergent interests and combines persons and objects in the world. The article addresses the way in which companionship engages power relations, by reference both to gender and to control over land. La compagnie et les mystères d'une pirogue Résumé Cet article examine le côté mystérieux de la « compagnie », un aspect fondamental de l'existence humaine, en l'illustrant par une vignette ethnographique sur une pirogue dans les mangroves du sud de Bahia (nord‐est du Brésil). Inspiré par la proposition de Kant concernant les aspects du monde, l'article distingue la compagnie de l’empathie et de la communauté, en tant que registres distincts de la socialité humaine. Être en compagnie implique nécessairement plus que deux personnes habitant un espace commun ; cela suppose une rencontre intersubjective qui a des implications non seulement pour ce que nous faisons, mais aussi pour qui nous sommes et où nous sommes. En émergeant à l'intérieur de la compagnie, les personnes ressentent nécessairement la présence de tiers comme une menace possible, ce qui suscite inévitablement des émotions contradictoires : il y a autant de paix que de peur et de conflit au sein de la compagnie, car elle rassemble des entités aux intérêts divergents et combine des personnes et des objets dans le monde. L'article aborde la manière dont le compagnonnage engage les relations de pouvoir, à la fois par référence au genre et au contrôle de la terre.
As bolsas de mandinga eram objetos de poder utilizados no Mundo Atlântico português para solucionar uma diversidade de problemas. Na capitania da Bahia do século XVIII, grupos de pessoas negras recorreram a estes amuletos para auxiliá-los na sobrevivência dentro do sistema escravocrata. Partindo desse pressuposto, nosso trabalho tem como objetivo analisar as experiências religiosas dos africanos e seus descendentes no que diz respeito ao uso das bolsas de mandinga. Para tanto, nosso foco vai girar em torno da adaptação criativa das práticas culturais desses sujeitos. As interações atlânticas foram determinantes para a deste evento.
In the context of the Candomblé of Bahia, ritual prohibitions, called quizilas, play an important role in the making of the symbolic relationship between the initiate and spiritual entities (orixás). Field research opened to the hypothesis that, in addition to the prohibitions associated with the risks of contamination and those of collective nature, there are individual prohibitions based on the sensitivity of the adept. Indeed, many elements associated with negative events experienced by orixás at mythological time produce, at present time, negative reactions in initiates, who may feel disgust, rejection, intolerance, especially towards food. The relationship between the initiate and orixá, therefore, involves a sort of overlapping of identity which is reflected in the initiate’s bodily sensitivity. The study of quizilas therefore indicated the importance of an ethnographic practice focused on the notion of “sensual body”.
Estudo síntese sobre os africanos do grupo courá / courana /courano na África e em Minas Gerais, Brasil, (século XVIII).
Capítulo do livro: A diáspora Mina: africanos entre o Golfo do Benim e o Brasil. Rio de Janeiro: NAU Editora, 2020. pp. 163-199, 2020.
Para adquirir o livro, acessar o site:
https://naueditora.com.br/produto/a-diaspora-mina-africanos-entre-o-golfo-do-benim-e-o-brasil/
O artigo objetiva apresentar o modo como as disputas por legitimidade religiosa se apresentam na linguagem cotidiana de adeptos do candomblé, pertencentes a um movimento político-religioso localizado no Rio de Janeiro. A partir de materiais obtidos por meio de pesquisa de campo, realizada entre fevereiro de 2018 e outubro de 2020, discutem se as seguintes questões: de que forma a categoria tradição tem sido mobilizada e simbolicamente utilizada como diacrítico por estes candomblecistas? Quais são as outras categorias utilizadas em seus discursos cotidianos que permitem apontar e desqualificar práticas religiosas, com a intenção de excluí-las do escopo do candomblé? É apontado que estão em jogo questões potencialmente conflituosas, que articulam polêmicas sobre fronteiras identitárias (quem pertence ou não ao que se considera o candomblé tradicional?). As principais conclusões indicam que a categoria “tradição”, considerada pelos interlocutores da pesquisa como central para conferir legitimidade religiosa, é disputada no universo estudado, sendo tais disputas performadas no cotidiano por meio de linguagem jocosa, especialmente a ironia, cujo uso se torna estratégico para, a um só tempo, apontar e criticar aquilo que se considera agramatical enquanto candomblé, e reforçar pertencimentos identitários pensados como mais “legítimos”.
A pesquisa etnobotânica revela saberes gerados na interação entre grupos socioculturais e a diversidade vegetal do território. No campo educacional, estudos indicam que esse conhecimento etnobotânico pode colaborar com a formação dos estudantes. Visando amplificar tal potencial pedagógico, este trabalho teve o objetivo de identificar categorias que revelem de que modo a pesquisa em Ensino aborda o conhecimento etnobotânico. Para isso, realizou-se pesquisa de “estado da arte”, tendo como tema o saber popular sobre plantas e como base de análise as publicações das edições de três eventos da área de pesquisa em Ensino - ENEBIO, EPEA, ENPEC - realizadas de 1997 até 2020. Foram selecionados 136 trabalhos, representando 1,10% da produção total dos eventos. A análise dos dados ocorreu a partir de quatro descritores: saber etnobotânico abordado; grupo produtor do saber; justificativa para inclusão do saber etnobotânico; inserção do saber etnobotânico. Os resultados revelaram a predominância do conhecimento sobre o potencial medicinal das plantas e sobre o cultivo e manejo de espécies alimentícias. Os saberes abordados, em geral, pertenciam a grupos étnicos, regionais e rurais. Dentre as razões para inserir conhecimento etnobotânico no ensino, destacaram-se benefícios culturais, pedagógicos e ambientais. Levantamento de saberes populares e proposição de sequências didáticas foram as maneiras mais frequentes de inserir o conhecimento etnobotânico nas pesquisas. Concluiu-se que o conhecimento etnobotânico apresenta potencial para uma educação multicultural, mas que se deve atentar para o risco da abordagem utilitária desses saberes.
As mulheres negras experienciam, cotidianamente, situações de opressão, seja pelo preconceito e discriminação racial, seja pelo de gênero, o que as coloca em constante conflito e sofrimento psíquico. Diante disto, este ensaio pretende refletir sobre a possibilidade de as religiosidades afro-brasileiras, em destaque, o candomblé, se constituírem como um território promotor de saúde mental, uma vez que oferecem um repertório simbólico importante para a promoção de comportamentos resilientes diante das adversidades. Serão analisadas três narrativas míticas sobre a orixá Oxum, divindade dos rios e das cachoeiras, compreendendo-as como potenciadoras de capacidades e qualidades, que podem produzir novos sentidos e ações de resistência.
Este artigo objetiva questionar as razões pelas quais um número significativo de africanos escravizados teve seus batismos registrados na Igreja de Santo Amaro de Ipitanga, apesar de viverem em Salvador, muitas léguas de distância da dita Matriz. A hipótese aberta é de que após o alvará de 1831 (que proibia o tráfico internacional de escravos), senhores de engenho na região de Brotas começaram a batizar seus escravizados em capelas privadas e registrá-los em locais distantes, como a Igreja de Santo Amaro de Ipitanga. Tais atos eram uma estratégia para contornar as leis brasileiras de proibição do tráfico internacional de escravizados. Para a análise de vasta documentação que aborda um período de cem anos, pré e pós proibição do tráfico, utilizamos os dados pessoais de africanos que constam no banco de dados do projeto Freedom Narratives. A análise de trajetórias pessoais e movimentação espacial foi feita a partir de um exame comparativo possível através da metodologia criada pelo projeto para analisar o que se compreende como “big data”.
Este artículo analiza cómo el cine de rumberas contribuyó al surgimiento de narrativas del miedo en torno a la religiosidad negra latinoamericana. Desde sus inicios, a finales de la década de 1930, este género cinematográfico registró en su estética e historias distintas manifestaciones religiosas, formales y festivas, retratándolas como parte del estado primitivo e inmoral de la población negra. Esto se articularía con los temores existentes en torno a las grandes urbes, la violencia y los legados coloniales de los países latinoamericanos, lo cual generó productos culturales donde se percibe un miedo latente. El artículo presenta un breve análisis de estos procesos principalmente en algunos filmes protagonizados por Ninón Sevilla en la década de 1950.
Artigo Demandas, direitos e entendimentos da "Justiça": um estudo de caso da sociedade escravista do Império do Brasil 1 Luiz Alberto Couceiro Universidade Federal do Maranhão ______________________________________________________________________ RESUMO: Nesse texto analiso um caso, ocorrido em 1872 e localizado em um processo criminal, em que escravos da fazenda Monte Verde, em São Fidélis (Rio de Janeiro), mataram e esquartejaram o feitor livre e administrador Tertuliano Guerra. Sustento o argumento de que os escravos estavam cientes de que ir à "Justiça", entregando-se após cometer um crime de morte, era recurso interessante para constranger seu senhor na esperança de terem suas reivindicações atendidas, suas questões judicializadas. Aqui, utilizo como estratégia analítica a interpretação de outros tipos de situações nas quais escravos tenham percebido que usar a justiça era um caminho interessante para fazerem valer seus direitos, inscritos em leis, e não somente os consuetudinários. PALAVRAS-CHAVE: Trabalho escravo e justiça, crime, direito e controle moral, Antropologia da escravidão. Nos últimos 15 anos, localizei 35 processos criminais no Arquivo Nacional (Rio de Janeiro) nos quais os acusados são escravos oriundos das Províncias do Norte do Império do Brasil, principalmente de Pernambuco. 2 Os processos são concernentes a 1850, que marca o final do tráfico internacional de escravos para o Brasil e a intensificação do tráfico interprovincial para as Províncias do Sul, até 1888. As tentativas de homicídio e os
Resumo: Este artigo é resultado de um estudo sobre a crença na feitiçaria no Império do Brasil. Nossa pesquisa mostrou que não existiam leis reguladoras das acusações de feitiçaria no Império, ao contrário da colônia e do período republicano. Analisamos casos paradigmáticos publicados no jornal O Alabama, em Salvador, Bahia, entre 1863 e 1871, para compreender como, através de quais elementos, as pessoas que nele escreveram trataram a crença no feitiço. Primeiro, traçamos o perfil desse jornal, depois caracterizamos a sociedade de Salvador com base nas discussões acerca das sociedades ditas complexas, e por último analisamos aquelas notícias como sendo de conflitos entre acusadores e acusados. Palavras-chave: antropologia das religiões afro-brasileiras-antropologia das sociedades complexas-acusações de feitiçaria. Abstract: This article is the result of a study on beliefs in witchcraft in the Empire of Brazil. In our research we discovered that there were not any laws concerning accusations of witchcraft in imperial Brazil, in contrast to the colonial and republican periods. We analyze paradigmatic cases published between 1863 and 1871 in the newspaper O Alabama (Salvador, Bahia) in order to understand how, and through which bases, its journalists treated belief in witchcraft. First we trace the profile of the newspaper and then characterize Salvadorean society in terms of discussions on "complex societies" before moving on to analyze the articles as conflicts between accusers and accused. Keywords: anthropology of afro-Brazilian religious-anthropology of complex societies-accusations of witchcraft. Seguindo os apontamentos de Mauss & Hubert, Malinowski, Fortune, Evans-Pritchard e Elias, acerca da proeminência do social na sustentação das crenças mágicas, procuraremos mostrar algumas das características da sociedade escravista de Salvador, na segunda metade do século XIX, que podem nos ajudar a entender em parte as notícias de O Alabama que versam sobre assuntos ligados aos terreiros de candomblé e
Este artigo tem como objetivo examinar a violência dirigida contra as religiões de matrizes africanas no Brasil contemporâneo, assim como algumas formas de enfrentamento desse fenômeno. Para a sua realização, foi compulsado um conjunto de reportagens que tratam a questão, publicadas em dois grandes portais jornalísticos. Tais reportagens foram submetidas a análise temática, a partir da qual foram gerados os tópicos aqui analisados: as religiões mais agredidas; os principais perpetradores; os estados da Federação onde predomina a violência em tela; e os tipos de violência perpetrada. A análise do material mostra que a violência contra o campo religioso afro-brasileiro é difusa, pode apresentar requintes de crueldade e é perpetrada por uma pletora de agentes. No que pese a sua extensão e virulência, ela vem sendo gradativamente enfrentada por um conjunto diversificado de agentes públicos e privados que se opõem frontalmente à sua existência na sociedade brasileira.
Peças compostas de três partes (nave, berloques e correntes), as pencas de balangandãs faziam parte da indumentária de mulheres negras escravizadas e livres do período colonial e imperial. Esses objetos já tiveram seus elementos lidos por abordagens realizadas em diferentes pesquisas acadêmicas. Entretanto, parte significativa dessas investigações tratou de modo superficial ou mesmo equivocado algumas questões fundamentais para seu entendimento, principalmente no que tange às tentativas de relacionar seus elementos visuais às culturas africanas e afro-brasileiras. A falta de subsídios históricos, artísticos e teóricos para aprofundamento nas questões de africanidade que tangenciam as análises das pencas se dá, muito provavelmente, pela quase inexistência de um campo estruturado de estudos das artes africanas e afro-brasileiras nos cursos de Artes Visuais e de História da Arte das universidades brasileiras. Com o intento de preencher essa lacuna, o presente artigo propõe análises que realoquem as pencas ao meio epistemológico e às tradições artísticas das quais elas são desdobramento.
Com o artigo que segue pretendemos problematizar alguns aspectos em torno dos estudos das religiões afro-ameríndias nas escolas. É sabido que essas se baseiam em “cosmopercepções” que ocasionalmente se aproximam ou se distanciam das formas ocidentais de interpelação de mundo que por sua vez norteiam, entre tantos outros aspectos, os currículos escolares e acadêmicos. O desafio que está posto consiste na implantação de políticas de reparação social e ações afirmativas que considerem essa realidade e como a historiografia pode se converter em ferramenta que auxilie nessa complexa empreitada. As proposições apresentadas consistem em diretrizes que têm por objetivo constituir uma abordagem mais fidedigna às concepções de mundo dessas religiões.
Este texto versa sobre questões concernentes às Religiões de Matriz Africana e o papel da linguagem na sua manutenção cosmológica lato sensu. Para tanto, toma como princípio norteador a Psicologia Analítica fundada pelo psiquiatra suíço Carl Gustav Jung (1875-1961), para refletir a respeito de alguns aspectos de dois conceitos, quais sejam, (1) inconsciente coletivo, entendido como um segmento da mente inconsciente mais profunda e (2) arquétipo, percebido, inicialmente, como antigas imagens derivadas do inconsciente (JUNG, 2000a, 2016; HILLMAN, 1992; SERBENA, 2010).
O presente trabalho trata da relação entre natureza e arquitetura no âmbito dos terreiros de Candomblé no Recôncavo Baiano, entre as cidades de Cachoeira e São Félix. Nesses lugares não há dicotomia entre o natural x artificial, mas uma imbricação no sagrado. As árvores sagradas tornam-se arquiteturas, natureza que compõe e cria uma arquitetura afro- brasileira particular, e a arquitetura torna-se natureza sacralizada, fazendo parte da mata ritual. Estando as árvores ali, sempre a abrir e fechar as festas. Os terreiros de Cachoeira e São Félix têm nas árvores sagradas que nascem dentro e furam os telhados dos barracões, Ilê Orixá e Casa de Caboclos um aspecto espacial simbólico que os diferenciam, que lhes atribui particularidade, peculiaridade, singularidade, que lhes é próprio. As árvores sagradas fundam, geram, organizam, e regem as arquiteturas dos terreiros de Candomblé de Cachoeira e São Félix.
A distinção entre fato e essência é de grande importância para diferenciar as tarefas da ciência e da filosofia, respectivamente, no programa husserliano. O igualamento das ciências históricas e naturais, porém, é exigido pela formulação de uma disciplina eidética pura, o que levantou alguns questionamentos sobre a plausibilidade de tal disciplina. Talvez a eidética não dê conta das características autorreferentes e não objetivas da existência, cruciais para os estudos históricos. No presente artigo, proponho que ainda se pode dizer que as ciências encontram seu limite quando se deparam com perguntas essenciais. Uma revisão do percurso dos estudos africanistas brasileiros, desde o seu início na medicina até chegarmos a uma ciência social pujante, visa identificar os momentos em que o cientista se torna essencialista ou antiessencialista, já não falando apenas enquanto cientista ao definir assimilação, tradição, identidade, etc.
A construção de gênero enquanto categoria analítica possibilitou uma oferenda teórico-metodológica importante para pensar o processo de tomada de consciência frente às ideologias do cisheteropatriarcado. Por outro lado, a noção interpelada e disseminada para pensar o feminismo durante muito tempo, a partir da vida das mulheres europeias, não nos possibilitou olhar para as outras experiências e saberes situados que eram produzidos principalmente pelas mulheres africanas, amefricanas e ameríndias. Nessa encruzilhada epistêmica, as narrativas de pessoas praticantes do Candomblé sobre as temáticas de gênero e sexualidade nos abastece de um conjunto imensurável de experiências de diversos corpos que trans[e]tam nesses espaços e fissuram o caráter universalista do conceito de gênero para pensar as relações sociais. O presente trabalho pretende fazer uma breve reflexão desta categoria no Candomblé a partir das contribuições de Oyèronké Oyewùmí, trazendo para debate gênero e os contrapontos baseados nas dinâmicas da matripotência e do transe de Orixás.
Este artículo tiene como propósito hacer un análisis de la adopción de la idea de acomodación razonable por motivos religiosos en Brasil. El artículo presenta algunos casos concretos (los más frecuentes) y apunta algunas dificultades y resistencias al concepto de acomodación en el pensamiento jurídico brasileño.
Esse texto visa apresentar a investigação sobre as práticas educativas imbricadas com as relações de gênero e sexualidade em um terreiro de candomblé de nação Ketu, o Ilé Asé Iyá Ogunté, em Ananindeua – Pará. Leva-se em conta os estudos feministas e de relações de sexo - gênero feitos por Rubin (2003), Yogyakarta (2006), Samara (2000) e Akotirene (2019) para buscar entender os processos pelos quais as relações de sexo/gênero servem como fatores de afirmação identitária. Salientamos a noção de cosmopercepção Oyěwùmí (2002) para compreender a forma multissensorial de perceber as relações sociais. A metodologia é baseada no “Reparar miúdo, narrar Kékeré” de Caputo (2018). Enxerga-se a existência de duas correntes principais de entendimento/atuação: a primeira nega a possibilidade de mudanças alegando questões biologizantes e associando sexo - gênero condicionados ao corpo físico de nascimento, e uma segunda corrente que entende a necessidade de reordenação das relações sociais e práticas educativas no que toca às redesignações de sexo - gênero dos membros das comunidades de terreiro. Assim, a percepção aponta para uma participação das crianças no processo de discussão desse debate, não estando alheias ao processo como o pensamento adultocêntrico pode fazer parecer, bem como a compreensão de que as transformações das regras sociais estão em constante processo de reformatação.
Este artigo versa sobre os aspectos de uma educação emancipadora ligada às tradições de matrizes africanas, pensada aqui como a educação nos terreiros e as implicações desta com a educação escolar formal monocrática. Desnuda elementos específicos desta educação com base na tradição dos orixás, voduns e inkices e as apresenta enquanto possibilidades enunciativas de visões de mundo negadas e perseguidas durante todo o processo de formação da educação brasileira. Vislumbra um horizonte de alternativas para uma educação pluriétnica e pluriversal.
Objetos de pesquisa explorados desde o início do século XX, as religiosidades afro-baianas foram analisadas em larga medida por narrativas folclorizantes e eivadas de diferentes preconceitos e racismos, que acabaram nutrindo o senso comum a respeito das suas práticas. A partir do último quartel dos novecentos, estas narrativas foram enfrentadas pela crítica de diferentes grupos étnicos e religiosos, além da academia. Neste artigo traçamos uma breve leitura a respeito desta encruzilhada de práticas religiosas e suas respectivas interpretações, utilizando como ponto de partida a experiência de membros da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos do Pelourinho e de outras manifestações religiosas soteropolitanas, entre os séculos XIX e XX. Neste espaço a religiosidade afro-baiana foi e ainda é experimentada entre os seus integrantes e nos oferece aportes para sugerir uma outra forma de se interpretar as suas práticas.
The present text bets on the power of reflections on a pedagogy guided by cosmoperception. It is a collective call for the enchanted ways of perceiving and relating to the other. “Ọrọ, nwa, ẹkọ”, the talk, the look, the education, insurgent forces that grow in the cracks, just like moss, alive, reborn. That is the way we think about education, as a living practice, turned to freedom. Freedom understood as a force that enables us to question certain hegemonic truths entrenched in our ways of being, thinking and producing knowledge. In dialogue with the criticisms on the decolonial thought and by authors and authoresses who are putting themselves into thinking about an epistemology from a diasporic place, from the edges of the world, we will try to problematize the effects of the epistemic erasures promoted by the colonial processes and how that has affected our educative practices. The look at the educational experience that happens in the sacred territory of candomblé, will be our starting point to think about politically and poetically transformative educational practices.
Este artigo está focado nos diversos modos de articulação entre o Tambor de Mina – a religião afro-brasileira prevalecente entre a população afrodescendente de São Luís (a capital do estado do Maranhão) –, e as festas do Espírito Santo – uma festa católica que é a mais importante celebração pública nas casas de culto de Tambor de Mina. A minha ênfase é nos processos criativos associados a esses diversos modos de articulação. Argumento que esses processos estão ligados, por um lado, às políticas mais amplas de gestão das fronteiras entre gêneros religiosos que cada casa de culto adota e, por outro lado, a diferentes políticas de exibição e contenção centradas na (in)visibilidade do Tambor de Mina no espaço público. O artigo é uma contribuição tanto para os debates antropológicos sobre criatividade como para as discussões sobre processos de interface entre diferentes gêneros religiosos nas religiões afro-brasileiras.ABSTRACTThis paper is focused on the diverse modes of articulation between Tambor de Mina – the African-Brazilian religion prevalent among the Afro-descendent population of São Luís (the state capital of Maranhão, Brazil) – and Holy Ghost feasts – a Catholic feast that is the most important public celebration in Tambor de Mina cult houses. My emphasis is on the creative processes associated with these diverse modes of articulation. I argue that these processes are connected, on the one hand, to the wider politics of management of the boundaries between religious genres that each cult house adopts and, on the other hand, to different politics of display and containment centred on the (in)visibility of Tambor de Mina in the public space. The paper is both a contribution to recent anthropological debates on creativity and to recent discussions on processes of interface between different religious genres in African-Brazilian religions.
Entre tantos outros atos baixados por Dom João VI, ao ensejo de sua vinda à frente da família real para esta sua colônia americana, no ano de 1808, resolveu o monarca português criar a Escola de Cirurgia da Bahia, na cidade do Salvador, primeiro curso de medicina em território brasileiro. Durante, portanto, longos 300 anos, a busca por assistência à saúde, diante da inexistência de profissionais com formação científica, levava a população necessitada a buscar serviços assistenciais então dispensados seja por benzedeiras, seja por raizeiros e curandeiros, seja por religiosos, nos locais de cultos de matriz africana.
A complex artistic research on the theme of cultural heritage and (neo)colonial processes of material and immaterial expropriation. Starting from the encounter with a phonographic relic at the Berliner Phonogramm-Archiv, the artist embarks on a journey to her own roots embodied in the practice of the Afro-Brazilian religion Candomblé. In the form of a theoretical treatise, an archive (photos, diagrams, maps, newspaper clippings, letters, documents), as well as a sound performance in the public space of the city of Weimar, several theoretical and performative elements are brought together in this transmedia artistic research that proposes a true decolonial practice.
O artigo analisa a regulamentação do episcopado sobre as festas no bispado do Rio de Janeiro no século XVIII, a partir de pastorais e editais localizados no Arquivo da Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro. Considera-se a ação dos bispos reformadores D. Antônio de Guadalupe, D. Frei João da Cruz, D. Antônio do Desterro, D. José Castelo Branco e D. José da Silva Coutinho. Interessa examinar essas normas, de cunho disciplinar e rigorista, assim como refletir sobre as artes de governar no Antigo Regime. As normas incidem sobre as festas através da música, das danças, das vestimentas e de um enquadramento espaço-temporal. Dentre elas, destaca-se uma pastoral contra os batuques, cujo sentido vai além da exclusão de elementos associados à população africana e afrodescendente. O artigo faz um inventário do termo batuque e discute com a historiografia da diáspora, para refletir se é possível associar as manifestações cerceadas pela pastoral aos grupos de cultura centro-africana.
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