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Outras perspectivas em análise de discurso crítica

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Abstract

O livro Outras perspectivas em análise de discurso crítica, organizado por Viviane de Melo Resende e Jacqueline Fiuza da Silva Regis, publicado pela editora Pontes, é uma contribuição para os estudos em Análise de Discurso Crítica (ADC), ao oferecer novas possibilidades teóricas e metodológicas para se pensar o campo heterogêneo e relativamente novo de estudos críticos do discurso. O livro é dividido, basicamente, em três diferentes aportes teóricos e metodológicos exibidos, cada um, na forma de capítulo introdutório seguido de capítulo com a aplicação da metodologia apresentada no anterior. Além das suas organizadoras, conta com artigos de outras três pesquisadoras e um pesquisador, são eles: María del Pilar Tobar Acosta, Margarete Jäger, María Laura Pardo e Gersiney Pablo Santos.
ISSN: 2317-2347 v. 8, n. 2 (2019)
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RESENDE, V. M.; REGIS, J. F. S. Outras perspectivas em análise de
discurso crítica. Campinas, SP: Pontes Editores, 2017. 233 p.
Jaqueline Coêlho*
O livro Outras perspectivas em análise de discurso crítica, organizado por
Viviane de Melo Resende e Jacqueline Fiuza da Silva Regis, publicado pela editora
Pontes, é uma contribuição para os estudos em Análise de Discurso Crítica (ADC), ao
oferecer novas possibilidades teóricas e metodológicas para se pensar o campo
heterogêneo e relativamente novo de estudos críticos do discurso. O livro encontra-se
dividido, basicamente, em três diferentes aportes teóricos e metodológicos exibidos,
cada um, na forma de capítulo introdutório seguido de capítulo com a aplicação da
metodologia apresentada no anterior. Além das suas organizadoras, conta com artigos
de outras três pesquisadoras e um pesquisador, são eles: María del Pilar Tobar Acosta,
Margarete Jäger, María Laura Pardo e Gersiney Pablo Santos.
Por ser um livro que intenciona apresentar novas perspectivas em Análise de
Discurso Crítica, recomenda-se que sua leitora ou seu leitor esteja familizarizada/o
com trabalhos que abordem a ADC de maneira introdutória, como é possível encontrar
em Magalhães (2005), Fairclough (2010), Ramalho e Resende (2011), Chouliaraki e
Fairclough (1999) e Foucault (1981 e 2012), entre outros. A leitura é indicada a alunas e
alunos de pós-graduação que se interessem por estudos críticos do discurso.
O termo Análise de Discurso Crítica” aparece pela primeira vez em 1985, no
Journal of Pragmatics, evocado por Norman Fairclough, percursor e autor de livros
norteadores da área. A importância de Fairclough se dá pela criação de um método para
o estudo crítico do discurso e por enaltecer o papel de linguistas para as pesquisas em
ciências sociais e sobre mídia (MAGALHÃES, 2005). A ADC surge em 1991, em um
seminário em Amsterdã que contou com a presença de acadêmicos renomados, como,
por exemplo, Teun Van Dijk, Gunther Kress, Ruth Wodak, Teo Van Leeuwen, além do
* Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Linguística Linguagem e Sociedade da Universidade
de Brasília PPGL/UNB; Docente de Língua Portuguesa do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia de Brasília IFB; Brasília, Distrito Federal, Brasil. suassuna.jc@gmail.com
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supracitado Norman Fairclough, e oferece suporte científico para questionamentos de
problemas sociais relacionados a poder e justiça (WODAK, 2004). Todos esses nomes
costumam ser evocados por pesquisadores que se utilizam da ADC, porém, outro autor
pouco mencionado no campo é citado no livro aqui resenhado e tem sua importância
reivindicada: Siegfried Jäger. A obra adota, desde sua apresentação uma posição de
enfrentamento ao que nomeiam “colonialidade do saber”, tanto pela negação ao
destaque dado quase que unicamente aos estudos de ADC em língua inglesa - que
ignora a produção nos últimos anos em outros países, sobretudo os de língua portuguesa
e espanhola - quanto ao apresentar uma linguagem em que transparece a voz das autoras
e seus posicionamentos ideológicos, questionando a separação entre o trabalho
acadêmico e a militância política. Não obstante, os capítulos que se propõe apresentar
novas abordagens são escritos por pesquisadoras do Brasil, da Alemanha e da
Argentina, e são acompanhados, respectivamente, por artigos escritos por pesquisadoras
e um pesquisador que ilustram sua aplicação em contexto brasileiro, à luz das
orientações que receberam daquelas. Ainda que o livro não esteja, em seu sumário,
fragmentado em partes propriamente definidas, mas em capítulos individuais, esta
resenha assim o faz a fim de concatenar as ideias que são apresentadas em pares.
A primeira parte da obra, mais teórica em relação às outras, é estreada com o
capítulo “Análise de Discurso Crítica: Reflexões Teóricas e Epistemológicas quase
excessivas de uma analista obstinada”, de autoria de Viviane de Melo Resende. A
autora organiza no capítulo primeiro do livro as teorias e epistemologias que estiveram
presentes durante seu trajeto acadêmico em análise de discurso crítica, valendo-se dos
referenciais teóricos legitimados em estudos críticos do discurso e oferecendo um
mapa epistemológico do modelo básico desenvolvido por Chouliaraki e Fairclough, e,
além disso, um mapa ontológico do funcionamento social da linguagem, reforçando a
necessidade de elaboração deste último, próprio de investigação, na fase inicial do
planejamento do projeto de pesquisa por parte de cada pesquisadora ou pesquisador.
Deste modo, a autora, que é referência para os investigadores que iniciam pesquisas
em análise de discurso crítica devido a seus livros introdutórios sobre o tema, mais uma
vez oferece possibilidades teórico-metodológicas a fim de auxiliar as pesquisas em
ADC. O capítulo seguinte, “(Con)textos de violação e resistência: um estudo em análise
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de discurso crítica sobre o caso Michele Maximino, de autoria de María Pilar Tobar
Acosta, apresenta a utilização metodológica baseada nos pressupostos teóricos e
metodológicos retomados do capítulo de Resende, almejando revelar as disputas
simbólicas que envolvem a maior doadora de leite do Brasil e sua representação
midiática.
A segunda parte apresenta a perspectiva alemã em Análise de Discurso Crítica,
mais especificamente a proposta desenvolvida por Siegfried Jäger e o Instituto de
Pesquisa Linguística e Social de Duisburg, que se diferencia das anteriores apresentadas
dada a sua abordagem calcada, sobretudo, nas teorias de Michel Foucault e por oferecer
uma bibliografia inédita a quem se dedica aos estudos de ADC no Brasil, todavia, as
referências bibliográficas são de textos escritos em alemão. O primeiro capítulo deste
par, de autoria de Margarete Jäger, recebeu o título “Quão Crítica é a Análise de
Discurso Crítica?”, provocando o potencial crítico de uma pesquisa em ADC, ao
reforçar que “a interpretação da realidade sempre será pautada por um determinado
saber, que, por sua vez, também é passível de ser questionado” (p. 104). Para tal, a
autora comenta os fundamentos teóricos do discurso e estabelece uma relação dialética
entre sujeito e discursos, na qual a constituição do sujeito se dá no contexto-sócio-
histórico-discursivo, e se opõe ao subjetivismo, ao individualismo e à concepção de
sujeitos autônomos. Jäger utiliza-se de outros conceitos foucaultianos, como, por
exemplo, saber-poder, além de privilegiar a análise de enunciados, que, diferente das
proposições, são denominadores comuns de conteúdo, e entende as análises de discurso
como parte de uma análise de dispositivo, ao defender que estes possuem uma função
estratégica ao se constituírem em situações sociais específicas e servirem para lidar com
os problemas advindos destas situações. O ponto central deste capítulo, e que abre
caminho para o capítulo que o seguirá, é a apresentação do complexo foucaultiano
normalidade e normalização como categorias discursivas. Para a autora, a análise de
símbolos coletivos é elementar para a análise de discurso. A fim de equalizar a
quantidade dos discursos, a escola alemã em ADC desenvolveu as categorias analíticas:
feixes discursivos - desenvolvimento de discurso tematicamente homogêneo,
fragmentos de discurso - textos ou fragmentos de textos que se unem em feixes
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discursivos, e acontecimentos discursivos - eventos que influenciam os direcionamentos
e as qualidades básicas do discurso.
No capítulo seguinte, de autoria de Jacqueline Fiuza Regis, intitulado “Você tem
medo de quê?: a denormalização do discurso sobre o medo do parto”, a proposta
teórico-metodológica do capítulo anterior é utilizada na análise da representação
discursiva de questões relacionadas à violência obstétrica no Brasil, oferecendo uma
reflexão acerca da importância da boa elaboração das questões de pesquisa e
comparando os conceitos em ADC da escola britânica e da alemã. O conceito de
denormalização é elaborado por Regis e apresentado em referência a ações
contradiscursivas, realizadas em contrapartida às normalidades construídas e
reproduzidas discursivamente.
A terceira parte do livro é composta de uma síntese do método sincrônico-
diacrônico para a análise linguística de textos. No quinto capítulo da obra, “O método
sincrônico-diacrônico para análise de textos e a teoria dos deslocamentos”, María Laura
Pardo apresenta o método formulado, e esclarece as noções de “rema do texto” e de
“nexo de valor”. Este método é apresentado como uma teoria básica que permite, pelo
mapeamento de categorias gramaticalizadas e semântico-discursivas, “reconstruir
representações sócio discursivas que se encontram no próprio texto” (p. 174), para gerar
teoria, de forma indutiva-qualitativa. A Perspectiva Funcional da Oração (PFO), é
reconsiderada e suas noções são expandidas para além da oração para o texto, mas
também para o contexto e o uso. No sexto e último capítulo do livro, “Aplicando o
método sincrônico-diacrônico de análise linguística de textos”, Gersiney Santos
demonstra o método e apresenta a análise sincrônico-diacrônica que realizou na tese
“Diálogos sobre a população em situação de rua no Brasil e na Europa: experiências do
Distrito Federal, Paris e Londres”, em sua pesquisa junto ao “Movimento Nacional da
População em Situação de Rua”.
O trabalho revela a necessidade de expansão dos estudos em Análise de
Discurso Crítica para além da produção teórica e metodológica do eixo acadêmico
europeu e de língua inglesa para uma produção que seja realizada em países latino-
americanos, africanos e orientais, e que contemple essas realidades sociais. Importante
ressaltar, contudo, que o livro não propõe uma negação aos estudos acadêmicos
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europeus e de língua inglesa, mas uma ampliação das possibilidades de investigação em
ADC, e, para tanto, em seus primeiros capítulos as abordagens já consagradas nos
estudos críticos do discurso estão presentes, mas, ao decorrer da obra, outros centros
acadêmicos são sugeridos. Por ser um trabalho inovador na área, é compreensível que
algumas lacunas tenham sido deixadas, como, por exemplo, a perceptibilidade sobre a
codificação das categorias gramaticalizadas pelo método sincrônico-diacrônico (p. 189).
A análise apresentada no segundo capítulo é pouco crítica em relação ao texto de
Dolores Aronovich Aguero. Entende-se que, ainda que as práticas discursivas sejam
ideologicamente investidas, elas também podem contribuir para enfraquecer relações de
poder, sendo, com isso, contra hegemônicas, mas, reforçando a provocação feita por
Margarete Jäger, no terceiro capítulo, e concordando que a ADC pode e deve ser uma
crítica não só linguística, mas da sociedade. “O pré-requisito teórico mais importante da
ADC nos parece ser, contudo, o fato de ela insistir que ninguém detém o monopólio da
verdade (...) para reconhecer que o poder não é apenas o poder de alguns poderosos”
(p.128) e, reforça-se que a tarefa de autocrítica e de crítica daquilo com que
concordamos pode ser usada como estratégia de ação de fortalecimento na luta social na
qual se empenha a/o analista, como foi realizado no capítulo quarto, quando a autora
não nega a possibilidade de estar reproduzindo discursos hegemônicos ao vincular a
realização da mulher à experiência da maternidade, no caso específico do estudo, à
experiência do parto: É importante notar, por fim, que, como em muitos dos chamados
apaixonados e encantados, esta representação também traz consigo o risco de
romantização e de essencialização do feminino.” (p.168), permitindo-se a possibilidade
de autocrítica, e indo de acordo ao defendido por sua orientadora, no capítulo anterior
ao de sua autoria.
A obra se beneficiaria de uma nova revisão, como, por exemplo, quanto à
pontuação em “O Movimento Nacional da População de Rua (MNPR) nasceu, no início
dos anos, 2000 ...” (p.200) e quanto à padronização dos textos, sobretudo os quadros e
gráficos que, no capítulo 3 foram traduzidos para o português, e o mesmo não ocorreu
nos do capítulo 5, dificultando a compreensão da ilustração da aplicação do método.
Sugere-se, caso opte por manter a língua originária, uma nota de rodapé explicativa.
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A leitura desta obra é recomendada principalmente a alunas e alunos de pós-
graduação que se interessem por estudos críticos do discurso, além de pesquisadoras e
pesquisadores da área que procuram por novas perspectivas para os estudos em análise
de discurso crítica e que anseiam por abordagens calcadas no enfrentamento da
“colonialidade do saber”, proposta pela obra.
Data de recebimento: 31/03/2019
Data de aceite: 01/06/2019
... O marco das produções da ACD pode ser referenciado com os seguintes lançamentos: revista Discourse and Society (1990) por van Dijk e os livros Language and power de Norman Fairclough (1989), Language, power and ideology de Ruth Wodak (1989), o livro Prejudice in discourse, que foi o primeiro livro de van Dijk (1984) sobre a problemática do racismo (MAZID, 2014). De lá para cá, a ACD tem se desenvolvido de maneira proeminente, tanto no aspecto metodológico como no aspecto teórico nos quais são colocados em relevo as suas potenciais características interdisciplinares, multidisciplinares e transdisciplinares nos trabalhos de pesquisa e nas discussões dos conceitos ( VAN DIJK, 2008;CIRNE, BARROS, EFKEN, 2022;RESENDE, REGIS, 2017;RESENDE, RAMALHO, 2006). Dessa maneira, pretendemos discutir o desenvolvimento da ACD de origem inglesa, assim como se mostra nas diversas obras publicadas por Norman Fairclough, e com enfoque nos modelos analíticos teóricos e metodológicos posteriores ao modelo tridimensional da obra de 1992 que focam aspectos distintos da crítica. ...
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ARTIGO Norman Fairclough para além da perspectiva do modelo tridimensional Norman Fairclough beyond the three-dimensional model perspective Norman Fairclough más allá de la perspectiva del modelo tridimensional RESUMO O artigo mostra três fases do trabalho de Fairclough com destaque para sua versão atual da ACD intitulada de 'virada argumentativa'. Essa abordagem da ACD foca na deliberação, no discurso político e nas questões de argumentação que demarcam a continuidade dos avanços da teoria social do discurso para além da proposta analítica do modelo tridimensional da obra Discourse and social change (1992). O resultado mostra que há uma versão nova da ACD faircloughiana com ênfase na argumentação prática e deliberação pública no processo de tomada de decisão e ação para superação de crises políticas dentro do contexto de sociedades democráticas. Palavras-chave: discurso político; virada argumentativa faircloughiana; ação; processos argumentativos; argumentação deliberativa.
... Among these scholars, there is one Dutch, two British, one Australian and one Austrian, but with one aspect in common: the tradition of publication in English; a central aspect, I believe, for the consolidation of this group as the theoretical and methodological core of CDA. Resende and Regis (2017) present an argument to defend this position: in the same seminar, in Amsterdam, Siegfried Jäger, from Duisburg, Germany, was also present, and the Duisburg CDA group has been carrying excellent and potent research in the field since then (regarding, for example, discourses on migration to Europe, sexist and racist discourses in Germany, etc.), But Siegfried Jäger rarely appears in the mentions to this inaugural meeting of CDA. ...
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Regarding an already consolidated tradition in discourse studies in Latin America, with featured importance in graduate programs in the field of Linguistics and a busy calendar of annual events in the field, it is possible to say that there is considerable amount of imported knowledge being applied and very little creativity in local theoretical or methodological production. Discourse studies are generally divided into two main schools of thought: French discourse analysis and English discourse analysis. The denomination that represents these lines of discourse sheds light on the colonized nature of the field. This colonization of discourse knowledge, in more immediate terms, indicates considerable effort applied to theories viewed as universally valid and scarcely modified for the situated context, but it also shows the implications of being a discourse analyst in a subordinate space within the academic field – a place where we, Latin American discourse researchers, occupy compared to our colleagues in the global North – and about contemplating theoretical alternatives. The decolonizing effort of this field should thus be directed to three converging paths: decolonizing knowledge, in the sense of criticizing theories and methods while understanding that there is no universal knowledge; decolonizing the power of the creative act of overcoming this universalizing knowledge, which means accepting the force of local methodological and theoretical production, especially by constantly questioning disciplinary separation and its impositions; and decolonizing the being, making strategic use of this paradoxical space, which contains the possibilities of knowledge communion, also including common knowledge. All this should have an impact on graduate-level education in discursive studies, in a virtuous cycle between consciousness, criticism and creativity.
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Em que pese uma tradição já consolidada dos estudos discursivos na América Latina, com posição destacada nos programas de pós-graduação da área de Linguística e um pulsante calendário de eventos anuais, pode-se dizer que há muita aplicação do saber importado e pouca criatividade teórica ou metodológica local. Os estudos do discurso dividem-se basicamente em duas grandes linhas: a análise de discurso francesa e a análise de discurso inglesa. Só os nomes pelos quais conhecemos essas vertentes de estudos discursivos já nos dizem da colonialidade do campo. Essa colonialidade de saberes do discurso, de forma mais imediata, significa um grande esforço de aplicação de teorias tomadas como universalmente válidas e pouco modificadas no contexto situado, mas também tem implicações sobre o ser analista de discurso nesse local de subalternidade no campo acadêmico – esse espaço que ocupamos as pesquisadoras de discurso latino-americanas em relação a nossos pares do Norte global – e sobre o poder pensar alternativas teóricas. O esforço decolonial desse campo, então, deveria dirigir-se a três caminhos convergentes: decolonizar o saber, no sentido de lograr criticar teorias e métodos, e compreender, como propõe o giro decolonial, que não há conhecimento universal; decolonizar o poder da ação criativa no esforço de superação desse conhecimento universalizante, isto é, assumir a potência de criação teórica e metodológica local, especialmente por meio do constante questionar da separação disciplinar e suas imposições; e decolonizar o ser, fazendo uso estratégico desse espaço paradoxal, o que carrega as potencialidades da comunhão de saberes, incluindo também o conhecimento comum. Tudo isso deve ter impacto sobre a educação, especialmente a educação pós-graduada em estudos discursivos, num ciclo virtuoso entre consciência, crítica e criatividade.
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Este artigo é recorte de projeto de pesquisa em que se investigam os textos publicados entre 2011 e 2013 nos jornais web Correio Braziliense, O Globo e Folha de S. Paulo sobre população em situação de rua. Neste recorte, analisam-se apenas os 95 textos publicados no Correio Braziliense cruzando as temáticas situação de rua e violência, e as 19 imagens que compõem estes textos. As análises apresentadas são favorecidas pelo uso de software para análise qualitativa e têm por base teórico-metodológica a análise de discurso crítica e a gramática do design visual. Tomados juntos, os resultados de análise sugerem naturalização da violência contra a população em situação de rua, em um efeito retórico de distanciamento, que não provoca empatia entre quem lê o jornal e as pessoas vítimas da violência representada.
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