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Memórias de um documento: a Conferência de Medellín à luz dos escritos de José Comblin

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Abstract

Consideramos, neste ensaio, ser possível compreender a Conferência de Medellín (1968), seus embates e desdobramentos, através de acentos que não se situam, especificamente, dentro do contexto do próprio evento. Para isso, a análise de documentos que foram produzidos como preparativos para a realização dessa Conferência se torna uma opção metodológica importante, no sentido de perceber esse evento em uma perspectiva que vai além das suas pautas pastorais e eclesiológicas. Nesse sentido, o presente artigo tem por objetivo pensar os direcionamentos da Conferência de Medellín tendo como principal referência de análise um documento produzido pelo padre José Comblin, no ano de 1968. Consideramos que o referido documento se apresenta como uma fonte de grande valor informativo quando se busca fortalecer a ideia de que o gesto profético da Igreja em favor da opção pelos pobres, que foi tomado pela Conferência de Medellín, não foi subsidiado levando em conta, tão somente, a herança do Vaticano II, mas pesou, em grande medida, a própria conjuntura social e política vivida pela América Latina.
https://doi.org/10.25247/2595-3788.2019.v2n1.p140-162 | ISSN 2595-3788
Esta obra está licenciada sob uma licença
Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.
Memórias de um documento: a Conferência de Medellín à
luz dos escritos de José Comblin
Conversion and reform from Medellín Conversion and reform from Medellín
Elenilson Delmiro dos Santos
Universidade Federal da Paraíba, Brasil
Resumo
Consideramos, neste ensaio, ser possível compreender a
Conferência de Medellín (1968), seus embates e desdobramentos,
através de acentos que não se situam, especificamente, dentro
do contexto do próprio evento. Para isso, a análise de
documentos que foram produzidos como preparativos para a
realização dessa Conferência se torna uma opção metodológica
importante, no sentido de perceber esse evento em uma
perspectiva que vai além das suas pautas pastorais e
eclesiológicas. Nesse sentido, o presente artigo tem por objetivo
pensar os direcionamentos da Conferência de Medellín tendo
como principal referência de análise um documento produzido
pelo padre José Comblin, no ano de 1968. Consideramos que o
referido documento se apresenta como uma fonte de grande
valor informativo quando se busca fortalecer a ideia de que o
gesto profético da Igreja em favor da opção pelos pobres, que foi
tomado pela Conferência de Medellín, não foi subsidiado levando
em conta, tão somente, a herança do Vaticano II, mas pesou, em
grande medida, a própria conjuntura social e política vivida pela
América Latina.
Palavras-chave
Conferência de
Medellín.
José Comblin.
Fonte
Documental.
América
Latina.
Abstract
In this paper, it is considered to be possible to understand
Medellin Conference (1968), its clashes and unfoldings by means
of accent marks that do not situate, specifically, inside the
context of the event itself. Thereunto, the analysis of documents
that were produced as preparations for the realization of this
Conference becomes an important methodological option, in the
sense of perceiving this event in a perspective that goes beyond
its pastoral and ecclesiological agenda. In this sense, the present
paper aims to think the directions of Medellin Conference, and
the main analysis reference is a document produced by priest
José Comblin, in 1968. It is considered that the referred
document is presented as a source of great informative value,
when it is sought to strengthen the idea that the prophetical
gesture of the Church in favor of the option by the poor, which
was taken by Medellin Conference, was not subsided considering
only the heritage of the Vatican II, but largely, the own social
and political conjuncture lived by Latin America.
Keywords
Medellín
Conference.
José Comblin.
Documental
Source.
Latin America.
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Introdução
São muitas as formas para se entender e dimensionar a importância de
uma Conferência Episcopal. No caso específico da Conferência do Episcopado
latino-americano realizado na cidade de Medellín, na Colômbia, entre 26 de
agosto e 6 de setembro de 1968, encontra-se atualmente à nossa disposição
uma vasta produção sobre o assunto. Produção essa que, a partir de diferentes
campos do conhecimento e por meio de abordagens conceituais distintas,
ajuda-nos a refletir, cinquenta anos depois, o que de fato foi e qual o
verdadeiro alcance que podemos atribuir a essa Conferência.
Entre os numerosos e importantes trabalhos que já se encontram
publicados até então, como referência, citamos o estudo recente do pe. José
O. Beozzo (2018). Nesse texto, o referido autor faz uma reflexão justamente
sobre o quinquagésimo aniversário de Medellín. Para isso, como ele mesmo
menciona, resolveu recolher depoimentos e fazer alguns balanços sobre a II
Conferência latino-americana no decorrer das últimas cinco décadas. Dentro de
cada uma, ora se balizando por depoimentos orais, ora por outras formas de
análises investigativas, apontou alguns momentos decisivos que fizeram da
Conferência de Medellín e das demais conferências eventos profundamente
significativos, não apenas por sua função episcopal, mas por sua natureza
eclesial.
Nessa direção, eis que o termo evento, na forma como foi utilizado por
Beozzo, adquire relevância nesta comunicação, principalmente quando
discutido no sentido proposto por Marshall Sahlins. Nos estudos deste
antropólogo, a questão do evento lhe é um tema recorrente. Aqui, porém,
estamos nos referindo a esse termo no sentido como aparece na sua obra
Cultura e razão prática (2007). A partir desse estudo, ao falar sobre evento,
Sahlins procura estabelecer uma relação entre estrutura e evento. Nesse
estabelecimento, “um evento torna-se uma relação simbólica” (SAHLINS, 2007,
p. 31). Em torno dessa construção, compreendemos que, quando o referido
autor fala em evento, está-se referindo não apenas a um acontecimento que se
deu em um momento específico da história, mas a algo que reverberou pelo
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mundo, extrapolou os limites da sua própria comunidade e foi além dos seus
objetivos internos.
Desse modo, entendemos que a Conferência de Medellín é isso: um
evento que repercutiu em toda a América Latina, até pelo mundo, não no
âmbito eclesiástico, mas em outras esferas desse continente. Esferas que,
depois de sua realização, de alguma forma, viram-se afetadas e modificadas
por ela. Por conta disso, estamos considerando, neste ensaio, que a referida
Conferência foi grande demais para ser vista de um ponto de análise específico.
Em função disso, estamos considerando que precisamos de fontes que nos
proporcionem uma visão mais ampla sobre o assunto. Nesse sentido, o
documento que foi produzido por José Comblin, em março de 1986, ou seja,
poucos meses antes da realização da Conferência de Medellín, mostra-se como
uma fonte privilegiada para o objetivo principal dessa comunicação, no caso, o
de pensarmos a Conferência de Medellín através dos resultados desse
documento.
A fim de chegarmos a esse objetivo, dividimos o presente texto em três
momentos. No primeiro, apresentaremos alguns dos principais acontecimentos
que se deram no exato ano de 1968, de modo particular no Brasil, no sentido
de apresentar os climas social e político em que ocorreu a Conferência. No
segundo momento, interessa-nos discorrer sobre a importância do referido
registro como fonte e como ele pode ser fundamental diante da possibilidade
de acesso a novas informações, esclarecimentos e indicações de leitura sobre
determinados fatos, ainda mais diante de uma temática cuja discussão, ao que
parece, está longe de um esgotamento. Por último, buscaremos fazer uma
apresentação do fato que ficou conhecido como o Caso Comblin, de acordo com
Alzirinha R. Souza (2018) e, logo depois, desenvolver uma recensão do próprio
documento produzido por José Comblin, no sentido de colocar em evidência as
várias problemáticas sociais para as quais esse teólogo quis chamar a atenção.
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1968: uma breve memória
Do ponto de vista histórico, o ano de 1968 parece marcado por uma
série de acontecimentos ainda não resolvidos. Não por acaso, esse ano
específico dispõe de um lugar vivamente preservado em nossa memória
histórica. Isso porque a nossa memória imediata, quando usada para acessar
informações relativas aos tempos de outrora, em geral, é ativada de modo que
as representações do tempo atual se apresentem como parâmetros balizadores
para as lembranças que se busca acessar. Por conta disso, torna-se natural que
os acontecimentos de 1968 ainda deixem em evidência a necessidade de novos
apontamentos, posto que suas conclusões encontram-se ainda em aberto.
Quanto a isso, atentemos para a obra Pedagogia do oprimido, de Paulo
Freire (1968). Assim como Medellín completou, no ano de 2018, cinquenta anos,
esta obra também viveu nesse corrente ano as suas bodas de ouro. Tudo isso,
sem parecer que esse meio século de existência lhe tenha colocado em situação
obsoleta. Ao contrário, desde que Freire, que na ocasião se encontrava
refugiado no Chile, presenteou-nos com esse trabalho, considerado por muitos
sua obra de referência, os impactos que vieram com ele ainda continuam
causando muito barulho. Alguns setores dos campos da educação, da política e
da cultura se viram, e muitos ainda se vêem, fortemente influenciados por ela.
Diversos países dos demais continentes, e seus diversos campos de estudo,
reconheceram a sua contribuição. Afinal, mais do que algo meramente
propositivo, trata-se de um trabalho que parte de uma realidade concreta de
opressão para fundamentar as suas concepções. Por conta disso, sua atualidade
é justificada, pois mudaram-se os personagens, mas a realidade de opressão
continua seguindo o seu curso.
Sem dúvidas, revisitar o ano de 1968 é colocar-se diante de muitos atos
opressivos e, igualmente, revolucionários que provocaram, ao mesmo tempo,
efeitos danosos e de esperança na sociedade. Dessa situação, resulta a
existência de uma multiplicidade de temas e de abordagens. Esse período se
fez, ainda, como um dos momentos em que a política, a cultura e, de modo
particular, as instituições religiosas se vissem desafiadas, em seus fins práticos,
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frente à conjuntura estabelecida. Isso porque o regime militar passou a
implantar em suas estruturas novos elementos que fortaleciam ainda mais o
regime, no sentido de continuar buscando meios para se efetivar no poder, o
que fez com que as demais representações civis buscassem afirmar sua
presença. Assim, um dos pontos fundamentais era ter que tomar um
posicionamento, se contra ou favorável ao sistema. Por esta razão, essas
representações, muitas vezes, estiveram em situações de conflitos ideológicos
em seus próprios círculos internos.
É bem verdade que, em meio às conjunturas e estruturas de 1968, ao
fazermos uma breve memória desse período, estamos desenvolvendo-a de
forma não linear por reconhecermos que não é tarefa fácil reproduzi-lo em
todos os seus acontecimentos tal qual eles realmente ocorreram. Quanto a isso,
vale mencionar que as nossas fontes bibliográficas operam por
descontinuidades. Entretanto, fontes que nos permitem uma ligeira
exceção. Há fontes, quando do seu acesso direto, que nos proporcionam o
fascínio do vivido, do ocorrido em primeira instância. É nesse sentido que o
documento de Comblin, em meio a todos os acontecimentos de 1968, além de
fazer parte do rol de acontecimentos desse ano, por ser ele também resultado
desse período, acena-nos com clareza para uma visão crítica do que acontecia
e, da mesma forma, do que estava por vir na Conferência foco de nosso estudo.
É claro, de todas as manifestações desse ano, é de nossa compreensão que
encontramos nele sustentação para pensarmos os direcionamentos que foram
tomados em Medellín.
Medellín através de um documento escrito: por quê?
“A história faz-se com documentos escritos, sem dúvidas. Quando
existem” (FEBVRE apud. LE GOFF, 2013, p.490). A citação de Lucien Febvre
(1878-1956) complementa-se a outra: “sem problemas não história”. Charles
Seignobos (1854-1942), por sua vez, preferiu dizer que “sem documentos não
história”. Sem querer entrar no mérito da problemática, nesse caso, em
querer saber do lado de quem se encontra a razão, se é que existe um lado
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verdadeiro quanto a isso, preferimos dizer que essas duas correntes de
pensamento fazem muito sentido quando utilizadas como direcionamentos
teóricos e práticos para pensarmos a Conferência de Medellín. De um modo ou
de outro, é de nosso entender que essas duas correntes em algum momento na
história da referida Conferência vão fazer sentido. Contudo, nossa investigação
de momento parte de um problema gerado por um documento, assim, por ora,
ficamos com Seignobos.
Nessa perspectiva, estamos considerando que a Conferência de Medellín
nos deixou um legado demasiadamente grande. Por isso, pensar esse evento,
antes e depois de sua realização, através de um documento específico, torna-
se uma opção interessante. Se por um lado os documentos frutos dessa
(dezesseis ao todo, advindos das suas conclusões) são importantes para
fazermos memória do legado eclesial e pastoral deixado por outro, os
documentos que foram produzidos anteriormente para subsidiar os delegados
presentes e que serviram para iluminar e provocar os debates no decorrer dessa
mesma conferência não são menos importantes. Por essa razão, acreditamos
que o documento produzido por Comblin se apresenta como uma fonte de
grande potencial por designar um conjunto bastante diversificado de
informações no que diz respeito à conjuntura social, política e cultural da
época, sendo, por isso, importante para pensarmos Medellín.
Ora, fascina numa fonte não apenas o acesso a possíveis novas
informações, mas a possibilidade de buscar uma maior aproximação dos
acontecimentos e dos anseios de um tempo passado. Tempo esse que, muitas
vezes, ainda lança inquietações sobre o tempo presente. Em se tratando do
documento de Comblin, esse se coloca como um tipo de fonte, mas não sendo
a única produzida levando em conta a demanda de uma época. Já em relação
ao evento que veio depois dele, a Conferência de Medellín, podemos dizer, ter-
se tratado de um momento para se discutir e apresentar algumas respostas
frente a essa demanda. Portanto, ser capaz de compreender tal relação,
demanda e resposta são fundamentais. Por essa razão, consideramos que o
documento de Comblin, como apresentação de uma demanda, foi de grande
contribuição para a Conferência de Medellín.
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Nesse sentido, podemos dizer que a referida Conferência foi, sem
dúvidas, um evento que proporcionou a produção de muitas fontes. Da mesma
forma, também podemos dizer que muitas fontes serviram para produzir
Medellín. Assim, uma vez produzidas, todas elas podem ser consideradas como
um ponto de partida para compreender o que foi essa Conferência. Vale
mencionar que, no campo da História, por definição, o homem produz as fontes
históricas. Assim, à medida que este homem produz as fontes, ele também está
produzindo uma forma de conhecimento. Nessa direção, compreende-se que os
meios dos quais ele se utiliza para isso se tornam um fator relevante de
investigação, pois podem, ao mesmo tempo, revelar os desdobramentos do
mundo social e cultural de quem produz. Desta feita, não apenas a fonte, mas
o próprio sujeito que a produz se torna, ele próprio, figura determinante para
uma aproximação compreensiva dos fatos que se investigam.
Desse modo, se fosse nossa opção investigar a Conferência de Medellín
tão somente através dos documentos que surgiram depois do evento ocorrido,
não seria, de modo algum, uma tarefa que nos colocasse diante de maiores
dificuldades. Ao contrário, como mencionamos anteriormente, se
considerarmos o número de documentos que se encontram ao nosso alcance, o
que eleva as nossas possibilidades de reflexões, certamente, nossa tarefa seria
bastante confortável. Todavia, tomar esse caminho de forma exclusiva foge, no
momento, ao nosso interesse. Por isso, nossa opção por um documento escrito
antes da realização da Conferência para pensar os seus desdobramentos tem a
ver, justamente, com o desafio de recuperar uma memória que consideramos
ter sido pouco acessada. Um documento que, inclusive, foi publicado no jornal
Diário de Pernambuco
1
, da cidade do Recife/PE, em sua edição do dia 12 de
junho de 1968.
Quanto a isso, se fosse o caso de considerarmos o devido periódico como
fonte, seria correto mencionar que iniciamos nossa abordagem investigativa
considerando que o pensamento de Comblin, posto em uma fonte impressa, no
1
Fundado no dia 7 de novembro de 1825, por Antonio José de Mirando Falcão, inicialmente
como folha de anúncios, o Diário de Pernambuco, com seus quase dois séculos de existência,
tem uma história que o coloca, atualmente, como um dos jornais mais antigos em circulação
na América Latina.
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ano de1968, torna-se relevante na medida em que poderíamos tomá-lo como
uma fonte de pesquisa histórica e não como uma fonte de verdade histórica.
Como sugerem Márcia P. da Silva e Gilmara Y. Franco (2010), é de grande
prudência não esquecer que, ao tomarmos um jornal como fonte, não significa
pensá-lo como receptáculo de verdades. Ao contrário, o que se propõe, nesse
caso, é pensá-lo “a partir de suas parcialidades, a começar pela observação do
grupo que o edita, das sociabilidades que este grupo exercita nas diferentes
conjunturas políticas, das intenções explícitas ou sutis em exaltar ou execrar
atores políticos” (SILVA; FRANCO, 2010, p. 5).
Desse modo, o jornal pode apresentar-se não apenas como uma fonte
privilegiada, mas como um veículo de compreensão da realidade de uma
determinada época e, principalmente, de como determinados grupos faziam
uso de suas representações no sentido de lidar com as demandas do seu tempo.
Isso implica dizer que podemos também considerar existir nesse tipo de
documento uma série de interesses, mesmo que sejam peculiares somente ao
próprio jornal. Um texto impresso, como um jornal, por exemplo, impõe a
necessidade de estabelecer um conjunto de categorizações e classificações,
assim como são no uso de qualquer outro tipo de fonte. Feito isso, entende-se
que as informações das quais essas fontes são portadoras se tornam de grande
utilidade para a pesquisa de interesse. Podemos, inclusive, através da pesquisa
de Márcia J. Espig (1998), elencar algumas delas:
O jornal possui toda uma série de qualidades peculiares,
extremamente úteis para a pesquisa histórica. Uma delas é a
periodicidade: os jornais constituem-se em verdadeiros
“arquivos do cotidiano”, nos quais podemos acompanhar a
memória do dia a dia e estabelecer a cronologia dos fatos
históricos. Outra é a disposição espacial da informação, que nos
permite a inserção do acontecimento histórico dentro de um
contexto mais amplo. E outro aspecto singular do material
jornalístico é o tipo de censura sofrida, diferentemente de
outras fontes que poderão ser submetidas a uma triagem antes
de serem arquivadas (ESPIG, 1998, p.274).
Assim, não restam dúvidas de que, quando do fazer científico, o uso de
documentos como fontes, sejam eles textos jornalísticos impressos ou textos
escritos, em qualquer situação, deve ser valorizado. Para isso, cabe ao
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pesquisador fazer as escolhas metodológicas e teóricas corretas, para que se
propicie extrair o máximo de informações que eles possam revelar. No caso
específico do documento escrito, ele pode suscitar uma verdadeira revolução
naquilo que ele pode sugerir. No tocante ao escrito em questão, é de nossa
compreensão que ele foi revolucionário, não apenas pela temática da
revolução, da necessidade de se fazer uma revolução, conforme consta no teor
desse documento, mas, principalmente, pela riqueza de informações que dele
se pode extrair. Ou seja, estamos considerando que o documento foco deste
trabalho não pode deixar de ser entendido como apelo social e religioso de uma
época.
O documento escrito constitui uma fonte extremamente
preciosa para todo pesquisador nas ciências sociais. Ele é,
evidentemente, insubstituível em qualquer reconstituição
referente a um passado relativamente distante, pois não é raro
que ele represente a quase totalidade dos vestígios da atividade
humana em determinadas épocas. Além disso, muito
frequentemente, ele permanece como único testemunho de
atividades particulares ocorridas num passado recente
(CELLARD, 2012, p. 295).
É bem isso que, em nosso entender, revela o documento de José Comblin,
no caso, o testemunho presencial de um teólogo que não se contentou em
simplesmente acompanhar como ouvinte as categorizações insensíveis e, em
certas situações, distorcidas da realidade, conforme ele próprio afirma, feitas
por um grupo de intelectuais que, no final, em nada contribuíam para expor as
verdadeiras demandas da América Latina em seus anos que antecederam a
Conferência de Medellín. Por isso, diante das interpretações que considerava
equivocadas e que, certamente, iriam trazer como consequência respostas fora
de sintonia com o contexto da época, não deixou de elaborar suas próprias
considerações sobre a realidade latino-americana. Sem demora, e diante da
urgência, Comblin buscou cumprir, a um tempo, o papel de historiador e
sociólogo, tendo por fim realizar uma reflexão que expusesse, como disse D.
Helder Câmara, citado por Alzirinha Souza (2018), algumas verdades terríveis
sobre a América Latina.
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A realidade latino-americana através do documento de José Comblin
O documento do qual tratamos de forma convicta como fonte resultou
em consequências das quais ainda temos muito que investigar. Foram muitas as
implicações que, quando este foi a público, provocou, inicialmente na
Arquidiocese de Olinda e Recife e, sem muita demora, em outras estruturas
católicas do Brasil. Não por acaso, por conta de seu conteúdo ter sido
considerado revolucionário e subversivo, consideramos que esse também
assumiu conotações de evento. Por isso, passou a ser conhecido como o Caso
Comblin, conforme esclarece Alzirinha Souza (2018). De acordo com essa
autora, o devido documento, que teve por título Notas sobre o documento de
base para a II Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, foi produzido
em preparação para a Conferência de Medellín, por solicitação de D. Helder
Câmara.
Movido pelo interesse que houvesse nessa Conferência consequências
práticas e imediatas, “D. Helder solicita em março aos professores do ITER uma
análise social e eclesiológica do momento brasileiro na época” (SOUZA, 2018,
p. 40). o Instituto de Teologia do Recife (ITER), nascido no pós-concílio e,
justamente, no ano em que ocorreu a Conferência de Medellín, sempre esteve,
de alguma forma, envolvido nos momentos marcantes do período. Conforme
afirma Newton D. Cabral, “tratava-se de um centro de reflexão em que a
atividade intelectual seria a tônica, porém com o cuidado de não ser uma
reflexão estéril, meramente especulativa, sem vínculos com a realidade”
(CABRAL, 2008, p. 184). A busca por essa proximidade com a realidade colocou
o ITER em uma forte ligação com D. Helder Câmara. Não surpreende, então,
que o Caso Comblin se tenha iniciado entre os seus professores, por uma equipe
coordenada por Comblin.
O evento conhecido como “Caso Comblin” se inicia quando em,
em 11 de junho de 1968, o jornal “Diário de Pernambuco”, que
historicamente era opositor do arcebispo, impulsionado pelo
discurso de W. Wanderley na Câmara Municipal, publica partes
desse documento. Em seu discurso, afirmaria: “era um
documento capaz de conduzir à prisão numerosos padres, mas
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também o arcebispo” (DDP, 11/06/68). Esse era considerado
uma verdadeira bomba revolucionária assinada por José
Comblin (SOUZA, 2018, p.40).
Como é conhecido de muitos que estudam alguns dos aspectos práticos
da vida de Comblin, este sempre se posicionou de maneira a considerar a
especificidade da América Latina. Suas argumentações continuamente
primaram para que houvesse uma particular atenção para as principais
discussões que se davam na época. Aspectos de uma intelectualidade tanto
exigida na Europa e que, a partir de então, na América Latina, encontrou uma
importante eficácia, principalmente, quando se direcionou para o cuidado da
vida integral de cada membro da sociedade.
Sem dúvidas, o delicado contexto social que se via na América Latina
exigia esse tipo de postura de um profeta comprometido com a causa social dos
mais pobres. E foi isso que fez Comblin. Em seu artigo intitulado Medellín: vinte
anos depois, fez questão de lembrar que a população pobre foi um dos temas
centrais dessa Conferência. Em suas palavras, a Igreja sempre esteve muito
ligada às classes privilegiadas, agora, “Medellín pretende inaugurar um novo
período em que a Igreja estará convivendo com os pobres, participando dos seus
sofrimentos e de suas lutas” (COMBLIN, 1988, p.811). E, voltamos a dizer, foi
isso que fez Medellín.
O documento de Comblin: uma recensão
Preocupado com as generalizações que tomavam conta dos conceitos
sociológicos e econômicos que se faziam ao longo do século XX sobre a realidade
latino-americana, Comblin, logo no início do seu escrito, deixou claro que
muitos desses conceitos, sejam americanos e/ou europeus, precisavam ser
revisados. À medida que avança em suas análises, ao longo do texto, vai
mostrando as suas justificativas para essa tomada de posição. Por levar em
conta essas necessidades conceituais que se tinham, Comblin se propõe, ele
mesmo, a fazer uma apreciação histórica da América Latina de modo a explicar
os fenômenos que, no seu entendimento, são as principais causas do seu
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subdesenvolvimento. Assim, ao longo das 27 páginas do seu escrito, percebe-se
que, para ele, a história se mostra como o campo capaz de apresentar algumas
respostas nesse sentido.
Desse modo, como diz José Comblin, “deixar de levar em conta essa
história é privar-se de considerações úteis e condenar-se a permanecer num
nível de generalidade em que os conceitos ficam inócuos e relativamente
estéreis” (COMBLIN, 1968, p. 1). Munido dessa perspectiva analítica, o referido
autor estrutura seu texto de modo que, em diferentes momentos, vai pondo em
destaque alguns termos chaves que considerava ser decisivos para as situações
de desigualdades da América Latina. Em relação a isso, por conta da expansão
do texto e da riqueza de informações que ele apresenta, o que demandaria um
trabalho de maior fôlego e de dedicação somente a essas informações, limitar-
nos-emos, aqui, a chamar a atenção para apenas alguns dos seus apontamentos.
De início, apresenta a questão da aristocracia como um problema
relativo a este continente, inclusive, sem precedentes se comparado a outras
localidades. Insiste em dizer que existe, por parte da classe aristocrática, uma
situação de comodismo quanto à sua boa condição social e aos privilégios que
dispõe. Por parte das classes menos favorecidas, o caminho que lhe convinha
para superar essa situação de desigualdade seria apenas com uma revolução.
Não é preciso dizer que, no contexto de produção desse texto, período da
Ditadura Militar, falar em revolução foi o mesmo que assinar um novo manifesto
comunista. Sem dúvidas, um termo problemático para a época, pois
evidenciava as desigualdades sociais existentes. Tão problemático que, no
texto, Comblin fez questão de mencionar, partindo de exemplos, como essas
desigualdades ocorreram em outros continentes. Daí lança a seguinte pergunta:
como fazer a revolução na América Latina diante de nossas diferenças sociais e
culturais? Como resposta, entende que:
[...] na América Latina não haverá desenvolvimento global, nem
formação de nações desenvolvidas sem uma ou várias
revoluções sociais (feitas pacífica ou violentamente de acordo
com o nível de sabedoria dos diversos protagonistas). Podemos
prever que a amplitude dessas revoluções sociais vão superar
de longe o que houve na história européia (COMBLIN, 1968, p.
2).
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Como se vê, quando fala em sabedoria dos diversos protagonistas, logo
se compreende por que a cultura se tornou um fator importante. Não por acaso,
Comblin chamou a atenção para o termo cultura. Em sua análise, a dependência
cultural dos latino-americanos em relação aos ibéricos deve ser considerada. O
autor parte do princípio de que não se pode colocar de maneira séria os
problemas das transformações sociais da política e das questões sociais latino-
americanas sem deixar de reconhecer o legado da cultura ibérica, no caso, seu
anarquismo, seus tipos de lideranças e as verdadeiras formas de participação
no poder. Outra questão de gravidade que menciona se refere à participação
da Igreja no processo de subdesenvolvimento da América Latina. Para Comblin,
a Igreja não pode ser considerada ausente no subdesenvolvimento.
Na verdade, insiste em dizer que em momento algum essa “ficou
ausente do processo. Por isso, se, se reconhece que há subdesenvolvimento na
América Latina, a Igreja não pode ser considerada inocente desse
subdesenvolvimento” (COMBLIN, 1968, p. 5). Relacionado a essa questão,
encontra-se, por um lado, a falta de cumprimento do papel da Igreja frente ao
atendimento às massas rurais e, por outro lado, a consideração de que existe,
por parte da mesma Instituição Católica, uma considerável solidariedade com
os grupos dominantes. O clero, formado exclusivamente de pessoas assimiladas
às classes altas, demonstra, de acordo com Comblin, de toda sua incapacidade
de se aproximar e compreender sequer a religião popular. Além disso, em
muitos casos, “o clero solidariza-se com o grupo dominante, adotando-lhe os
pontos de vista nos problemas sociais ou de maneira, na maneira de encarar o
assim chamado problema de desenvolvimento” (COMBLIN, 1968, p. 7), o que
justifica, para o autor, os esforços atuais (na época) da necessidade de uma
renovação pastoral.
Outra questão-problema da Igreja, que repercute na sociedade, é a sua
incapacidade de organização. Prova disso, argumenta Comblin, é a dispersão
verificada em suas dioceses e paróquias. As arquidioceses, por exemplo, não
conseguem formar um plano de ação conjunto, o que confere a oportunidade
de poder comparar essa situação aos antigos modelos feudais. Tais
considerações feitas por Comblin se tornam preparativos para, logo em seguida,
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Fronteiras, Recife, v. 2, n. 1, p. 140-162, jan./jun., 2019
adentrar no problema do colonialismo da Igreja. Este colonialismo do qual se
refere seria, então, fruto dessa desorganização. E mais, essa desorganização
gera uma dependência do capital estrangeiro e, consequentemente, uma
alienação das novas instituições religiosas. A não ser, é claro, que saibam fazer
uso temporário dessa situação. Porém, não é disso que trata esse
colonialismo.
Segundo Comblin, o assistencialismo, se não estiver direcionado para
uma mentalidade de conquista, de promoção humana, de saída do sujeito de
sua situação de dependência, acaba se tornando nada mais que parte da
estrutura econômica que ajuda a tornar os pobres objetos para ações de
caridades dos ricos e da própria Igreja. Ou, como prefere dizer: “tornaram-se
os assistidos profissionais das obras da Igreja sem que se realize uma verdadeira
obra de promoção ou recuperação humana” (COMBLIN, 1968, p. 10). Não muito
distante a esta situação, Comblin também chama a atenção para o ensino
classista, da qual a Igreja é colaboradora. Uma educação que, por dedicar-se
aos grupos privilegiados, acentua ainda mais o problema do
subdesenvolvimento da América Latina. Contudo, faz ainda questão de ressaltar
que tal situação talvez não fosse algo proposital por parte da Igreja. Mas, ainda
assim, a verdade é que este fato existe e colabora para a manutenção do abismo
cultural.
Quanto à cultura, “sabe-se que [...] é um dos maiores fatores de
condensação de uma classe aristocrática” (COMBLIN, 1968, p. 10). E não só ela,
outras ocorrências são apresentadas por Comblin como reprodutoras do
subdesenvolvimento. Algumas delas, novamente, contando com a participação
da Igreja, por exemplo, na forma com que essa trata os seus empregados; nas
burocracias eclesiásticas. Outra situação tem a ver com funcionalismo cartorial,
que se constituem modelos de administração subdesenvolvida. Nessa mesma
direção, assim como se observa na sociedade, existe uma evasão dos técnicos
mais qualificados para os países desenvolvidos; da mesma forma, o mesmo
ocorre na Igreja com os seus sacerdotes com melhores formações. Desculpas se
multiplicam quanto a isso, mas a verdade é que muitos saem em busca de
melhores condições para si mesmos.
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Fronteiras, Recife, v. 2, n. 1, p. 140-162, jan./jun., 2019
Ainda de acordo com Comblin, a religião primitiva e as estruturas
clericais também são um problema. Mas, ao referir-se à Doutrina Social da
Igreja, fá-lo de maneira a alertar que esses problemas vão encontrar dentro
dessa doutrina social os caminhos necessários para o seu enfrentamento e
superação. Entretanto, é bem verdade que, na prática cotidiana, essa doutrina
não foi colocada em favor da superação. A verdade é que, para Comblin, não
cabe à Igreja, tampouco ao clero, definir o caminho para o desenvolvimento da
América Latina. Ao expor essa opinião, ele se direciona de forma específica
para o problema do poder ou o problema político. Deste ponto em diante,
Comblin insiste na política.
Na América Latina, concorda que, devido à ineficiência das instituições
presentes na sociedade, a via democrática não será o suficiente para ajudar a
superar o subdesenvolvimento. Por isso, talvez seja possível fazê-lo pela força,
por um Estado forte (o que não implica dizer fazer uso de meios violentos). Ao
se referir à conquista do poder, Comblin volta a mencionar a Igreja, que até o
século XX sempre esteve de acordo, e até copiava as instituições que se
impuseram pelo uso da força, assim como fez o episcopado brasileiro ao aprovar
a “revolução” de 1964. Nesse sentido, “seria estranho que a Igreja não estivesse
implicada nas atitudes dominantes dos latino-americanos face ao poder”
(COMBLIN, 1968, p. 16). Vê-se, ainda, que, nesse período, a Igreja educou os
seus cristãos para uma vida doméstica em detrimento a de uma vida política.
Ou seja, Comblin entende que a educação católica poderia ter suscitado muitas
vocações políticas se tivesse colaborado nas formações de muitos grupos.
Atento ao problema da mentalidade em desenvolvimento, que diz
respeito à revolução cultural, Comblin compreendeu ter existido uma
contradição entre o que disse o Vaticano II, quando sugeriu que o mundo estava
caminhando para uma transformação cultural, e o que, de fato, se percebia na
América Latina, no caso, o atraso desse processo. Daí evoca a problemática:
como remover o obstáculo e fazer com que as massas latino-americanas
participem no processo de modernização? Nesse processo, a religião popular,
em grande parte fortalecida pelo próprio clero, e em benefício aos seus próprios
155 | Memórias de um documento: a Conferência de Medellín à luz dos escritos de José Comblin
Fronteiras, Recife, v. 2, n. 1, p. 140-162, jan./jun., 2019
interesses, torna-se um problema por não favorecer essa evolução, já que suas
práticas tendem a se manterem no atraso cultural.
Seguindo sua escala analítica, Comblin chega ao problema da
socialização, que tem a ver com o problema de consciência dos ricos. Isso
porque, ante os sacrifícios que se exigem para o desenvolvimento, a carga mais
pesada sempre é colocada sobre os mais pobres, ao passo que, para os mais
ricos, permanece a situação de privilégios. Em vista da superação desse
sistema, o autor acredita ser preciso a formação de uma consciência nacional
aliada a um Estado forte, de modo que esta aliança possa contradizer a herança
cultural deixada pelos ibéricos, marcada pelo individualismo aristocrático, pelo
isolamento familiar, pelo anarquismo e por outras circunstâncias por ele
apontadas.
Por último, o que resta em seu documento é a esperança de um futuro
melhor, que passa pelo compromisso não só da Igreja, mas da própria religião.
Portanto, Comblin considera que, diante do desinteresse internacional em
querer colaborar no desenvolvimento das sociedades subdesenvolvidas, eis que
faz a pergunta: “qual é o lugar dos católicos na política internacional?”
(COMBLIN, 1968, p. 24). Ele encerra seu documento fazendo algumas
considerações a respeito, seis ao todo.
O documento de Comblin e sua“presença” nas conclusões da Conferência de
Medellín
A Conferência de Medellín, em termos numéricos, se comparada ao
Concílio Vaticano II, não foi uma assembleia de grandes proporções, tampouco
de longa duração.
2
Os números exatos dos participantes dessa conferência, por
exemplo, tornam-se um problema, em uma perspectiva quantitativa, na medida
2
Diferentemente dos quatros anos de duração do Concílio Vaticano II, a Conferência de Medellín
se deu no transcorrer de doze dias, de 26 de agosto a 6 de setembro de 1968. A assembleia foi
aberta pelo Papa Paulo VI, na cidade de Bogotá/Colômbia. Apresentando como proposta
temática A Igreja na presente transformação da América Latina à luz do Concílio Vaticano II,
essa Conferência foi considerada por muitos como uma alternativa para colocar em prática
alguns direcionamentos pensados no Concílio Vaticano II, de modo que esses pudessem atender,
de maneira específica, às urgências da Igreja e dos povos presentes na América Latina.
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Fronteiras, Recife, v. 2, n. 1, p. 140-162, jan./jun., 2019
em que as fontes bibliográficas que dispomos se mostram distintas entre si.
Ainda assim, a não exatidão dos números se faz, aqui, um dado de pouca
relevância, pois nos interessa que essas mesmas fontes, naquilo que diz respeito
às questões pastoral, teológica e social, concordam que a Conferência significou
um momento importante para o catolicismo latino-americano.
Em relação ao tema da Conferência de Medellín, A Igreja na presente
transformação da América Latina à luz do Concílio Vaticano II, esse nos faz
pensar que existiu, por parte do episcopado, a compreensão que existia na
América Latina a necessidade de uma intervenção frente a uma situação
específica desse continente. Nesse caso, não seria, então, essa situação a
realidade de subdesenvolvimento, bem a propósito do que foi sugerido por
Comblin em seu documento? Para ele, levando em conta a história da América
Latina, deixar de lado os fatos seria privar-se de situações úteis. Afinal, “o
desenvolvimento e o subdesenvolvimento da América latina constituem
fenômenos específicos determinados em grande parte pela história do
continente” (COMBLIN, 1968, p. 1).
Entre outras situações, uma consistiu na adoção de uma nova postura por
parte da Igreja frente aos regimes políticos totalitários que se instauravam no
continente na segunda metade do século XX. Uma postura que, como era de se
esperar, não ocorreu sem consequências para as suas estruturas e,
principalmente, para alguns dos seus clérigos. Afinal, num contexto em que as
perdas da liberdade democrática, a censura e o silenciamento das vozes
dissonantes eram legitimados por medidas extremas do governo, uma
determinada ala da Igreja entendeu que essa instituição não poderia mais ser
vista como sendo solidária aos grupos dominantes.
Esse agravo social se tornou ainda mais alarmante na medida em que os
agentes civis que buscavam sua superação, de forma menos diplomática e mais
na base do enfrentamento, adotaram medidas revolucionárias. Quanto a isso,
citando o caso da revolução social ocorrida na Bolívia, Comblin entendia que
não cabia à Igreja nem propor, nem escolher os meios e os caminhos da
revolução social e que, apesar de fazer todo o possível para que ela se fizesse
de modo pacífico, nada garantiria que tal instituição religiosa evitaria as
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Fronteiras, Recife, v. 2, n. 1, p. 140-162, jan./jun., 2019
violências. Portanto, envolvidos por esses campos de disputas, os agentes
católicos que atuavam no campo externo da Igreja, antes e durante a realização
da Conferência de Medellín, trabalhavam e produziam de maneira que suas
observações e possíveis apontamentos não deixassem de contemplar essa
conjuntura que estava posta na sociedade. Afinal, em uma Conferência que se
propunha uma virada nas suas tomadas de atitudes, análises e reflexões dessa
natureza não podiam ser desconsideradas.
Assim, atenta a essas situações, “Medellín quis ser uma reflexão sobre a
realidade da América Latina à luz do Concílio Vaticano II” (BEOZZO, 1988, p.
791). Com essa justificativa, surge, então, a necessidade de fazer uma releitura
dos documentos conciliares à luz da América Latina, de modo particular, a
Gaudium et Spes, que “mesmo não sendo um documento que tenha sido escrito
na perspectiva dos pobres, serviu como projeção para Medellín” (COMBLIN,
1988, p. 809). Outro documento de grande inspiração para essa Conferência foi,
sem dúvidas, a encíclica Populorum Progressio,
3
pois exerceu uma “profunda e
duradoura influência sobre o continente e sobre as atitudes da Igreja, frente ao
desenvolvimento, ‘o novo nome da paz’, no dizer da própria encíclica”
(BEOZZO, 1998, p. 824).
Além da influência desses documentos, o episcopado direcionou
principalmente suas discussões tendo os pobres como principal perspectiva.
Conforme lembra Beozzo, a conferência de Medellín “deita raízes no grupo
‘Igreja dos pobres’ que se organizou já na primeira sessão do Concílio”
(BEOZZO, 1998, p.25). Entretanto, há quem considere, como é o caso de
Comblin, que, na verdade, essa conferência tratou, especificamente, da
pobreza da Igreja (documento 14), e não da opção pelos pobres. Diz ainda que
a opção pelos pobres, por sua vez, seria uma temática reservada para a
Conferência de Puebla. De todo modo, entendemos que a opção foi feita e, ao
assumir essa causa, o episcopado mostrou que, mesmo que a Conferência tenha
3
Considerando, pois, que muitos dos que estavam presentes no Vaticano II acreditavam que o
Concílio não atenderia de imediato às demandas do continente latino-americano, alguns bispos
fizeram chegar ao Papa Paulo VI o clamor por uma pauta que contemplasse as urgências da
América Latina. Surge, então, em 1967, a encíclica Populorum Progressio, cujo título era:
Desenvolvimento dos povos (BEOZZO, 1988).
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Fronteiras, Recife, v. 2, n. 1, p. 140-162, jan./jun., 2019
sido considerada, por alguns, como um evento que nasceu, anos antes, nos
corredores e nos porões do Concílio Vaticano II, ainda assim, procurou mostrar
que não estava disposta a ficar restrita a essa herança. Por isso, deu um passo
à frente, ou seja, “reconheceu que os pobres estão no centro da bíblia, e que
a Igreja deve ser a Igreja dos pobres” (COMBLIN, 1988, p. 811).
A Conferência de Medellín trouxe, portanto, para a Igreja latino-
americana, um forte impacto eclesiológico, pois uma de suas grandes
contribuições foi assumir que sua ação deveria partir de uma realidade
concreta, ao invés de apenas postulados doutrinários. Desse modo, para a
elaboração dos documentos da Conferência de Medellín, foi utilizado um
princípio que muito se assemelhava ao método da Ação Católica de ver, julgar
e agir: “Não basta, certamente, refletir, conseguir mais clarividência e falar. É
necessário agir. A hora atual não deixou de ser a hora da palavra, mas se
tornou, com dramática urgência, a hora da ação” (CELAM, 1998, p. 38). Com
isso, ao que parece, a Igreja na América Latina deixou de ser uma tentativa de
reprodução da Igreja europeia.
De fato, o ponto vital a se constatar é que, a partir da Conferência de
Medellín, “pela primeira vez, a Igreja latino-americana deixou de reunir
pessoas para cultuar a Deus somente através de liturgias e práticas
sacramentais, cujo conteúdo as fazia evadirem-se do mundo” (BOTAS, 1980, p.
5). Em vez disso, o que podemos observar é que, olhando para a Igreja em toda
a sua dimensão, torna-se inevitável não deixar de reconhecer que, em muitos
aspectos, ela passou por uma mudança estrutural significativa nesse período.
Posturas conformistas, como as que foram apontadas por Comblin, por
exemplo, no que diz respeito à posição da Igreja, tornaram-se situações cada
vez menos percebidas ao menos para alguns setores dela. De certa maneira, o
que se viu depois disso foi uma Igreja menos aliada ao regime e mais disposta
ao seu enfrentamento, se necessário fosse.
Nesse sentido, não podemos ignorar que muitas das situações que foram
postas por Comblin em seu documento sobre a realidade e os fatores que
levaram ao subdesenvolvimento da América Latina podem ser encontradas nas
conclusões da Conferência de Medellín. Como exemplo disso, logo na introdução
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Fronteiras, Recife, v. 2, n. 1, p. 140-162, jan./jun., 2019
do referido documento, o episcopado afirma a tarefa educadora da Igreja
frente a este continente, porém não deixa de reconhecer que “‘nem sempre’,
ao longo da história, foram todos os seus membros, clérigos ou leigos, fiéis ao
Espírito de Deus” (CELAM, 1998, p. 37). Ainda nesse momento, também não
deixa de reconhecer o quanto a mensagem que ela proferiu esteve distante do
evangelho que lhe foi confiado.
Em suma, feitas essas breves reflexões, não estamos, com isso,
afirmando categoricamente ter existido uma influência direta do documento de
Comblin nos andamentos da Conferência de Medellín, mas apenas apontando a
existência de alguns elementos que nos permitem buscar uma aproximação
entre o que se no documento produzido por ele e o que foi posto como
conclusão no registro final dessa Conferência.
Considerações finais
Ao nos colocarmos à disposição para adentrar em uma temática cuja
produção discursiva se apresenta, predominantemente, elaborada por autores
pertencentes ao campo da teologia, entendemos que fugir dessa produção não
seria uma opção possível. Ainda assim, ao utilizar dessas referências,
procuramos fazer de modo a favorecer outros direcionamentos teóricos e
metodológicos, no caso, perspectivas do campo da História, principalmente, e
das Ciências das Religiões. Com isso, buscamos aplicar outros olhares para um
evento que extrapolou as dimensões do campo da teologia e da própria
Instituição Católica. Por isso, entendemos que outras fontes de pesquisa ainda
são necessárias para dar conta desse importante evento que foi a Conferência
Medellín.
No primeiro momento, visando a uma maior aproximação factual com o
que foi Medellín, sua importância e alcance, fez-se necessário voltarmos,
mesmo que de forma breve, aos contextos social, político e institucional
religioso que marcou a década de 1960, haja vista que essas dimensões citadas,
aliadas aos fatores internos da própria Igreja, ajudaram a impulsionar a
realização da Conferência foco deste trabalho. Fez-se, então, importante dizer
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Fronteiras, Recife, v. 2, n. 1, p. 140-162, jan./jun., 2019
que muito do que se pode encontrar no documento de José Comblin tem a ver,
justamente, com esses desdobramentos sociais e religiosos. Situações essas
que, de longa data, repercutem na América Latina. Não por acaso, esse
documento chamou atenção e causou desconforto em alguns grupos específicos
da época, isso por conta do seu tom acusatório.
Outro aspecto importante que procuramos mostrar é que o documento
de Comblin como fonte de pesquisa se torna importante para aqueles que
preferem manter suas produções científicas através da abordagem puramente
documental. Assim, chamar a atenção para esse aspecto foi outro modo para
sinalizar a significância desse documento e do contexto em que foi produzido,
o que amplia as opções metodológicas e conceituais para se abordar a
conferência de Medellín. Sem dúvidas, sua melhor compreensão é o que torna
possível com que novas fontes de pesquisas sejam utilizadas no sentido de
trazer novas abordagens e pistas de análise para que o conhecimento que
temos sobre essa Conferência possa se tornar ainda mais amplo. Foi exatamente
isso que procuramos no segundo momento deste artigo.
Por último, concentramos nossa atenção no próprio documento. Nesse,
buscamos chamar a atenção para alguns momentos que julgamos importantes.
Mas do que um documento escrito que teve por pretensão fazer uma análise
sociológica e histórica da realidade latino-americana, que ao fazer tal incurso,
lançou duras críticas sobre as classes dominantes e ao sistema que provocou e
ainda provoca a situação de subdesenvolvimento na qual viveu e ainda vive esse
continente. Ao aprofundar sua análise, o autor não isentou a Igreja da sua
responsabilidade por essa situação. Em função disso, não temos dúvidas de que
se trata de um documento que provocou grande impacto. Seus efeitos
ressoaram longe, pois tocavam profundamente a realidade social da América
Latina. Apesar disso, seria pretensioso dizer que foi por conta desse documento
que a Igreja latino-americana deu um passo decisivo no enfrentamento das
questões sociais, mas, certamente, acreditamos que o referido registro cumpriu
um importante papel nessa direção.
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Fronteiras, Recife, v. 2, n. 1, p. 140-162, jan./jun., 2019
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Arquivos e jornais consultados
COMBLIN, José. Notas sobre o documento básico, 1968. (Arquivo do centro de
documentação padre José Comblin - UNICAP) Recife, PE.
DIÁRIO DE PERNAMBUCO, Recife/PE, 12 de jun. 1968.
Trabalho submetido em 17/02/2019.
Aceito em 16/04/2019.
Elenilson Delmiro dos Santos
Doutorando e mestre em Ciências das Religiões pelo Programa de Pós-Graduação em
Ciências das Religiões PPGCR da Universidade Federal da Paraíba UFPB. E-mail:
elenilsondelmiro@gmail.com
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Article
Full-text available
O presente artigo estabelece uma discussão acerca da utilização de fontes jornalísticas na pesquisa histórica. Através de exemplos referentes ao movimento do Contestado, tenta contribuir metodologicamente para uma conveniente utilização do material jornalístico, tecendo comentários a partir de considerações teóricas oriundas da história cultural recente.
Article
O artigo estuda as raízes e a inspiração de Medellín, examinando os passos dados pelo CELAM, durante o Concílio Vaticano II, para assegurar sua realização. Mostra o papel desempenhado pelo método utilizado na II Conferência, que coloca em primeiro plano a realidade sócio-econômica e política do continente, retomando-a à luz da palavra de Deus e do Concílio e desembocando em propostas de ação pastoral. Examina a recepção fiel, criativa e seletiva dos documentos do Concílio Vaticano II nas Conclusões de Medellín (Igreja dos pobres, CEBs, Educação libertadora) e a influência nelas exercida por documentos pontifícios, como a encíclica Populorum Progressio e os Discursos de Paulo VI, durante o Congresso Eucarístico de Bogotá. Conclui, analisando as principais lacunas de Medellín, no campo da história, da Bíblia e das culturas e resgatando sua relevância para a posterior caminhada da Igreja Latino-americana e caribenha. Abstract: The article studies the roots and the inspiration of Medellín, examining the steps taken by CELAM, during the second Vatican Council, to ensure its realization. It shows the role played out by the method utilized in the second Conference, which places in the foreground the socio-economic and political reality of the continent, taking it up again in the light of the word of God and of the Council giving way to proposals of pastoral action. It examines the faithful, Creative and selective reception of the documents of the Vatican Coucil II in the conclusions of Medellín (Church of the poor, CEBs, liberating education) and the infiuence put into action through pontifical documents such as the Encyclical Populorum Progressio and the discourses of Pope Paul VI during the eucharistic Congress in Bogotá. In conclusion, it analyzes the main lacunas of Medellín, in the field of history, the Bible and the cultures and it salvages the relevance for thefurther way ofthe Latiu American and Caribbean Church.
Article
Há duas maneiras de se fazer história. A primeira é ignorando o passado, como se este não contribuisse em nada com o momento presente. A segunda maneira é revisitando-o para que, compreendendo com distância histórica, documentos e crítica os eventos passados, possamos melhorar significativamente o momento presente. É com esse intuito que realizamos a pesquisa e escrevemos o presente artigo, em que revisitamos o ano de 1968, um ano de grande tensionalidade e divisões de opinião na Igreja do Brasil. Nele, apresentamos o “Caso Comblin”, que trata do vazamento público do documento “Notas sobre o documento de base para a II Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano”, que foi solicitado por D. Helder Câmara a José Comblin e à equipe do ITER como preparação à Conferência de MD, e como esse episódio acabou por desvelar as duas linhas opostas de Igreja no Brasil naqueles anos - e suas consequências.
In: Revista eclesiástica brasileira. v. 48, fasc. 192
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  • Oscar
BEOZZO, José Oscar. Medellín: vinte nos depois (1968 -1988). In: Revista eclesiástica brasileira. v. 48, fasc. 192, 1988. p. 771-805.
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Onde está o povo, aí está a Igreja? Histórias e memórias do Seminário Regional do Nordeste II, do Instituto de Teologia do Recife e do Departamento de Pesquisa e Assessoria
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