Content uploaded by Charlley Luz
Author content
All content in this area was uploaded by Charlley Luz on Jan 20, 2021
Content may be subject to copyright.
Prefácio de Ricardo Andrade e posfácio de Vanderlei Batista dos Santos
PRIMITIVOS
UMA ABORDAGEM ARQUIVÍSTICA
CHARLLEY LUZ
© 2015 by Charlley Luz
Todos os direitos de publicação reservados à 9Bravos.
1ª edição, 2015
Edição: Ricardo Sodré Andrade
Capa e diagramação: Kelly Adriano
Revisão: Thiago Charme e Magerson Bilibio
Todos os direitos reservados. A reprodução não autorizada desta publicação,
por qualquer meio, seja total ou parcial, constitui violação da Lei 9.610/98.
9Bravos
Caixa Postal 10537
CEP: 40170-970
Salvador - Bahia - Brazil
contato@9bravos.com.br
www.9bravos.com.br
www.facebook.com/9bravos
L 979
Luz, Charlley
Primitivos digitais : uma abordagem arquivística / Charlley Luz. – Salvador : 9Bravos, 2015.
ISBN: 9788567178066
1. Arquivologia I. Título
CDD 025.1714
______________
Índice para catálogo sistemático:
1. Arquivologia 025.1714
Rabiscos na parede binária 8
Visão ou abordagem arquivística 10
I – NOSSO PRIMITIVISMO 12
Nós somos os primitivos digitais. Seremos
lembrados no futuro? 13
No primitivismo digital, somos todos arquivistas. 16
Somos os Escribas digitais? 18
Pensamento Arquivístico 21
Memória Corporativa, tratamento da informação
e plataformas digitais 23
A economia criativa e o prossional da informação 25
Inovação em plataformas digitais 27
O mundo da informação digital e a arquivologia 30
Solução tecnológica não é comprar novo software 32
II – MAPAS E ESTRUTURAS 35
Informação Digital (Arquivística?) 36
O Arquivista como curador da Informação Digital 38
A informação digital: além do scanner,
para as interfaces 40
Arquitetura da informação: portais e arquivistas 2.0 42
A arquitetura de informação 43
Do sitemap ao Infomap: a evolução da estrutura
da informação 45
Taxonomia e Inteligência Articial (IA) 48
Original papel, cópia e eletrônico 49
Sumário
III – FERRAMENTAS E TECNOLOGIAS 53
Inovação tecnológica 2.0 54
Big Data: você já não vive sem 55
Gestão do conhecimento e do conteúdo 57
Produção de conteúdo 59
Tecnologia: metodologia de mídia social 61
Ferramentas na web 64
Mídias Sociais 66
Redes segmentadas 70
Bancos de ideias 74
Aplicativo para Smartphones 77
Uga Uga 79
Escrita rupestre em telas touchscreen 82
Agradeço ao Magerson,
minha mãe e irmãos/amigos a
convivência nessa vida nossa
PRIMITIVOS DIGITAIS
7
PRIMITIVOS DIGITAIS
Prefácio
Esta publicação é uma coletânea de reexões de Charlley Luz, arqui-
vista do tipo “pós-custodial”, que leva em consideração princípios e
teorias da arquivística enquanto ensaia sobre assuntos bastante atuais
do mundo da informação, principalmente em meio digital.
Mesmo que o autor declare ser esse um livro de linguagem não-aca-
dêmica, talvez por não atender a todos os rigores que alguém mais
exigente pode requisitar para considerar a leitura como parte do seu
aprendizado acadêmico formal, há que se observar elementos que
podem ser aproveitados na construção do conhecimento que sus-
tenta a prática prossional.
Ao leitor, segue o aviso de que a apreciação dessa obra demanda uma
abertura à exploração livre de novos espaços do campo de conheci-
mento a que nos acostumamos a chamar de nosso.
A construção do conhecimento inspirada por esta publicação passa
pelo experimento e o ensaio. É o registro de uma mente curiosa, de
quem entra em contato com tais temas em seu cotidiano prossio-
nal, partindo de uma base sólida (por assim dizer) que é a arquivísti-
ca, mas, frente às inquietudes e desconanças que o novo mundo do
digital costuma apresentar.
8
PRIMITIVOS DIGITAIS
O livro desaa o leitor acostumado aos documentos tradicionais a
encarar a nova etapa informacional da humanidade baseada em pla-
taformas digitais. É um universo rico, impossível de cobrir em uma
única obra. O autor, então, elege alguns temas para trabalhar e assim
o faz de forma competente.
Todos nós já utilizamos dispositivos tecnológicos no cotidiano; pla-
nilhas eletrônicas e editores de texto são ferramentas básicas nos
dias atuais e nisso estamos, praticamente, todos nivelados. A obra
que você, leitor, têm em mãos é um mirante para além dessas ferra-
mentas e usos, que são o princípio, talvez o cerne, do que Charlley
aponta como um momento de primitivismo digital.
Produzimos com nossas ferramentas tecnológicas, ainda desajeita-
das e em evolução, os documentos que serão observados no futuro
como os registros de uma época. Quão primitivos iremos parecer?
A resposta pode gerar algum temor, mas a preocupação é o com-
bustível para fazermos o melhor que pudermos para que as diversas
predições negativas sejam positivas quando o futuro, veloz, chegar.
Há um mundo vasto a conhecer e papéis que podem ser desempe-
nhados, já no presente, no qual o arquivista percebe outras formas
de trabalho, além daqueles que ele já reconhece. Curador digital, ar-
quiteto de informação, administrador de portais – são algumas das
perspectivas a serem encontradas e assumidas. Os tradicionais espa-
ços de trabalho agora estão juntos, misturados às novas formas de
produção, gestão e preservação da informação.
E, na medida em que as ferramentas e técnicas orescem, mudamos
juntos com elas. A web se torna cada vez mais social, mais semântica;
a massiva quantidade de dados que estão à disposição respondem
a questões de forma quase exata (há quem diga que isso faria das
hipóteses um instrumento desnecessário em alguns casos); conteú-
dos ricos são criados e disponibilizados em comunidades genéricas
ou segmentadas da internet e tudo isso é carregado em dispositivos
pequenos, nos nossos bolsos, mochilas e pulsos com a chegada dos
relógios inteligentes.
9
PRIMITIVOS DIGITAIS
Temos um longo caminho de experimentação e é isso que Charlley
faz ao longo do livro: preocupa-se, reete e expõe.
Que o imediatismo não se sobreponha à nossa consciência sobre
o amanhã. Temos conhecimento sólido, criatividade para inovar e
atitude positiva para amarrar a conhecida arquivística, de anos de ex-
periência e ainda em desenvolvimento, com a juventude do mundo
digital, que mal bateu à nossa porta e já está em todos os espaços.
Salvador, 17 de fevereiro de 2015.
Ricardo Sodré Andrade
Arquivista e Mestre em Ciência da Informação pela Universidade Federal da
Bahia e Doutorando em Informação e Comunicação em Plataformas Digitais
pela Universidade do Porto e Universidade de Aveiro.
PRIMITIVOS DIGITAIS
11
PRIMITIVOS DIGITAIS
Rabiscos
na parede binária
Por que ainda tememos a tecnologia? Enquanto as novas gerações já
nascem sabendo utilizar de forma intuitiva tablets e outros gadgets,
nós que aqui chegamos antes, ainda patinamos em utilizar os melho-
res recursos disponíveis.
Enquanto a geração internet nativa assume seus postos, seguimos
nós, prossionais da informação, arquivistas e bibliotecários, respon-
sáveis por organizar e preservar este volume imenso de informação
que ultrapassa os terabytes diários.
Temos de entender um pouco nosso cenário de atuação, bem como
entender os métodos disponíveis e temos de saber qual tecnologia
empregar. Este livro traz algumas considerações, não exaustivas,
nem conclusivas, acerca destes itens.
Acrescenta-se a isto uma abordagem arquivística. Não é um livro
sobre a ciência arquivística. Este é um livro de prática, com questio-
namentos e conteúdos que possibilitam uma abordagem ou visão
arquivística. Esta abordagem, um comportamento já mapeado pela
ciência, por intermédio de autores como Theo Thomassem, da qual
fazemos sua citação:
A metodologia arquivística atual frequentemente toma o contexto, e par-
ticularmente o contexto de proveniência, como ponto de partida para
12
PRIMITIVOS DIGITAIS
análise. Nesta abordagem, primeiro são analisadas a missão, funções e
tarefas do produtor de documentos, os agentes e seus mandatos são ma-
peados e o sistema de arquivos é criado, ou reconstruído. Esta abordagem
analítico-funcional é mais ampla do que a abordagem descritiva clássi-
ca e também é mais adequada para a análise de um arquivo ainda em
crescimento, de um arquivo que ainda será criado e para arquivos muito
extensos ou digitais, os quais não podem ser analisados documento por
documento. Thomassem (2006, p.15)
Consideramos esta abordagem ou visão arquivística, aplicável por
meio dos temas que aqui discorremos, entre elas a informação digital
humana, as plataformas digitais e também utilizando-se da identi-
cação das fontes geradoras de informação, sendo esta identicação
um comportamento típico de prossionais da informação, princi-
palmente arquivistas. Tratamos também da informação arquivística
quando assim for declarado no texto.
A linguagem deste livro procurou não seguir a linguagem acadêmica.
É, portanto, um livro de mercado, ideal para consultores, estudantes,
curiosos e professores que desejam ampliar, de uma forma uídica
e rápida, seu conhecimento sobre informação e tecnologias. Preten-
de-se, com ele, despertar questionamentos quanto a nossa atuação
prossional junto às plataformas digitais, portais corporativos e re-
des sociais.
Amplie seus horizontes, debata sobre os assuntos tratados e seja um
prossional da informação 2.0 neste mundo digital. Estimule sua
visão arquivística. Aguardo seus comentários, críticas, sugestões e
posicionamentos.
Charlley Luz
charlleyluz@gmail.com
13
PRIMITIVOS DIGITAIS
Visão ou
abordagem arquivística
O mundo corporativo - do trabalho e das instituições que geram
informação - vive seus processos e atividades por intermédio de in-
terfaces de portais e intranets e o que está lá dentro é informação ar-
quivística. Então, recordo um pouco os motivos pelos quais escrevi
o livro Arquivologia 2.0. Era de fato o vislumbre dessa realidade da
informação arquivística materializada nas plataformas digitais. Além
da discussão de nosso objeto cientíco da área como uma ciência
social aplicada, a realidade do mercado nos coloca em posição de
resolvermos para já o acesso, a preservação e a avaliação. O mundo
está virando informação digital.
A realidade cientíca está mais adiantada, já temos estudos sobre
a web semântica e arquivos, inteligência articial e linguagem e ar-
quivos e, enquanto isso, ainda olhamos para a história e debatemos
pontos importantes que não avançam. O debate é importante. En-
riquece a área da ciência da informação, esclarece as necessidades
prementes da ciência, mas quem está no mercado e nas instituições
quer um pouco mais. Quer saber como vai ser o futuro e o que pode
ser feito desde já.
Então é importante mostrar a prática. No entanto, a urgência da
tecnologia, assim como a urgência do mercado mostra que podemos
deixar de lado a especialização da área (a informação arquivística)
14
para podermos dar atenção a uma gestão de informação corporativa,
que englobaria a informação dos arquivos, mas também traria infor-
mações de outras áreas, como a de gestão do conhecimento.
Nesse sentido, gosto muito do autor da área de arquivo chamado
Theo Thomassen e o seu conceito de abordagem arquivística, citado
na introdução deste livro. Ou seja, o que se propõe aqui é ter uma
abordagem arquivística em nossa gestão da informação diária. Pense,
por exemplo, no e-mail. Sabemos que é um documento arquivístico,
mas também sabemos que para trata-lo de fato como deve ser, no
dia a dia corporativo, é muito difícil. Qual seria a abordagem ar-
quivística neste caso? Obviamente, seria estabelecer uma forma de
garantir a integridade da informação, envolvendo ou não o usuário,
mas utilizando o potencial dos sistemas digitais, servidores e toda a
parafernália digital disponível.
E a nuvem? Qual seria uma abordagem arquivística para garantir a
boa utilização da informação na nuvem? Ter uma política de pre-
servação e backup somente? Sabemos que há mais além disso. Uma
política aceitável engloba outros pontos, se pensarmos arquivistica-
mente. Temos um campo de atuação e área cientíca, cujo objeto pa-
rece variar (documento, arquivo ou informação arquivística). Assim,
o que nos espera, na aplicação pragmática, é a possível abordagem
arquivística que podemos dar nesse emaranhado mundo da infor-
mação digital.
Nossa ação prossional precisa se tornar mais interdisciplinar. Logo
vamos precisar criar, como prossionais da informação, a arqui-
tetura de informação de um portal aplicando uma abordagem ar-
quivística. Teremos de acompanhar uma comunidade de prática de
gestão do conhecimento, mas tendo uma abordagem arquivística. A
abordagem arquivísitica é um exercício de pensamento e atitude que
tentamos cristalizar neste livro. Que assim seja!
15
I
Nosso primitivismo
Primeira seção do livro, onde são feitas algumas considerações quan-
to ao nosso primitivismo digital. Qual o papel do prossional da
informação nesse mundo digital, de transição, e que tem a caracteris-
tica de apresentar à humanidade tudo que é novo? Algumas conside-
rações quanto a tecnologia, economia e criatividade necessárias para
resolver as questões do cotidiano e do futuro.
Busca-se tratar do entendimento quanto à realidade e soluções ino-
vadoras para as questões cotidianas.
Textos dessa seção:
• Nós somos os primitivos digitais. Seremos lembrados no
futuro?
• No primitivismo digital, somos todos arquivistas.
• Somos os Escribas digitais?
• Pensamento Arquivístico
• Memória Corporativa, tratamento da informação e platafor-
mas digitais
• A economia criativa e o prossional da informação
• Inovação em plataformas digitais
• O mundo da informação digital e a arquivologia
• Solução tecnológica não é comprar novo software
16
I – NOSSO PRIMITIVISMO PRIMITIVOS DIGITAIS
Nós somos os primitivos digitais.
Seremos lembrados no futuro?
Desde que os humanos deixaram de ser nômades e começaram a
dominar as técnicas de plantio, busca-se registrar conhecimentos e
repassar a outras gerações por meio de imagens – além da tradição
oral – os conhecimentos absorvidos em relação à agricultura e à
sobrevivência. Este fenômeno está registrado nas paredes das ca-
vernas, materializado por meio da escrita rupestre. Depois, a escrita
começou a aprimorar-se com os sumérios, antigos habitantes do sul
ma Mesopotâmia, e que necessitavam de um sistema para registrar
suas relações comerciais, seja com outros povos ou entre si.
Daí surge a escrita cuneiforme, cuja tecnologia era a tablita de argi-
la e a cunha, feita de taquara ou de metal para casos de escrita em
pedras. Quase em paralelo aos sumérios, os egípcios também desen-
volviam seu sistema próprio de escrita, dividido em dois: uma escrita
focada no sagrado (os hieróglifos), especíca para templos e faraós e
outra mais popular, a demótica, que era utilizada em documentações
correntes e relativa a direitos das pessoas comuns.
Mesmo na idade média, no obscurantismo, podemos observar que
o conhecimento era restrito aos ambientes monásticos, porém as
letras também eram restritas. Embora muitos aprendessem a decorar
orações, poucos tinham a missão de escrever. O escriba medieval
trabalhava com outra tecnologia, era o pergaminho, com tintas mais
elaboradas e muitas vezes usava a pena para escrever.
A abertura do conhecimento devido ao iluminismo, que criou uni-
versidades e trouxe à tona o conhecimento humano, também gerou
uma verdadeira revolução na escrita, a invenção dos tipos móveis
(cada letra era uma placa de metal que juntas formavam uma página)
possibilitou a cópia em larga escala de livros e jornais. Era a primeira
explosão informacional, freada somente pela parcela de analfabetis-
mo, que era bastante alta.
17
PRIMITIVOS DIGITAIS
Agora, estamos na segunda explosão informacional, possibilitada
pelo mundo digital onde cada letra é uma sequência de oito bits e
a combinação dessas sequências formam palavras e frases, imagens
e interação nas páginas dos plataformas digitais. É a tecnologia, as-
sim como o barro e o pergaminho, que temos à nossa disposição.
Falamos do mundo 2.0, com novos paradigmas de estruturação de
informações, novos usuários que consomem e geram informações e
novas relações entre pessoas.
Nesse mundo digital também surge a nova missão do escriba: agora
ele é o escriba digital, responsável por garantir a preservação das
informações digitais primitivas. Pois, as informações geradas hoje,
depois de pouco mais de 20 anos após a popularização das tecno-
logias de informação e comunicação, são as informações primitivas.
Para daqui a cem anos, seremos os primitivos digitais.
Essa missão do escriba digital, ou o que identiquei em 2010 no
Arquivista 2.0, é garantir que haja o tratamento e a preservação da
informação digital primitiva. Para isso, não precisamos começar a
falar em ASCII (bits). Mas, temos de saber como se dá a relação das
pessoas com as informações digitais.
Contudo, uma possível Arquivologia 2.0 trataria da arquitetura de
informação, da arquitetura de interface, sabendo a utilidade dos por-
tais corporativos, da taxonomia e da folksonomia. Além do mais,
como estas plataformas digitais auxiliam os processos de negócio
das empresas? Como se dá a relação das plataformas digitais com as
informações orgânicas? São questões que passam ao foco do Arqui-
vista 2.0, responsável pelas informações digitais humanas primitivas.
A Arquivologia 2.0 traz em sua matriz a preocupação com a concep-
ção das plataformas digitais e com as técnicas arquivísticas. Vamos
preparar o futuro da informação primitiva, para garantir nossa his-
tória para as novas gerações. Por meio da arquitetura de informação,
planejamento de portais corporativos e plataformas digitais, são de-
lineados os caminhos possíveis para uma abordagem 2.0 no universo
das informações arquivísticas digitais primitivas.
18
I – NOSSO PRIMITIVISMO PRIMITIVOS DIGITAIS
Costumo utilizar a imagem acima nas palestras sobre plataformas
digitais, em sua maioria corporicadas em interfaces de portais cor-
porativos. As características apresentadas mostram a variedade que
a visão arquivística deve ter, tratando do Planejamento da Gestão
da Informação Digital, dos documentos, workows e e-mails, até
os SIGAD (Sistemas Informatizados de Gestão Arquivística de
Documentos), denindo as plataformas tecnológicas, as políticas e
gestões de metadados e a taxonomia da estrutura de informações.
Ou ainda, planejando plataformas digitais por meio da arquitetura
de informação e arquitetura de interface, além de sua governança
e adoção. Tudo o que zermos em relação a isso terá efeito no que
cará para o nosso futuro.
19
PRIMITIVOS DIGITAIS
No primitivismo digital,
somos todos arquivistas.
Estamos na era do primitivismo digital. Tudo que fazemos agora
terá um impacto nos registros que serão acessados no futuro. Porém,
parte dessa história corre o perigo de se perder em sequências de
bits, estruturadas em bytes sem leitura no futuro. É a obsolescência
tecnológica. Para cuidar dela, usamos técnicas de preservação digital
que poderão, daqui a alguns anos, ajudar nossos descendentes a en-
tenderem os dias de hoje.
Acontece que a popularização de gadgets, de aparelhos que propi-
ciam participar dessa era digital primitiva, nos torna grandes gerado-
res de informação orgânica. Um exemplo? Tenho quase 4.000 fotos
só no meu celular, mais de 15.000 em meu computador, mais de
1.300 no Instagram e 1.344 fotos no Facebook, tudo sendo acumu-
lado de forma orgânica, mas não necessariamente organizadas. Não
sou fotógrafo. Apenas registro meus momentos.
Chega uma hora em que você resolve apagar grande parte dessas fo-
tos, até para poder ter um espaço maior na memória do seu gadget.
Nesta hora, somos arquivistas. Neste momento, fazemos uma avalia-
ção e eliminamos registros desnecessários (aquela foto que tremeu,
aquela que você já não acha tão legal…). Aqui também fazemos a
classicação dos documentos estabelecendo álbuns temáticos onde
encontraremos, quando quisermos, aquela imagem especíca.
Somos arquivistas de nós mesmos. Eliminamos as informações des-
necessárias e organizamos as que consideramos importantes para
a nossa própria história. Hoje, fazemos isso muito mais por uma
questão de performance das nossas ferramentas. Quem sabe um dia
nos daremos conta da necessidade de conviver com essa realidade. A
partir de então, teremos cursos de como organizar arquivisticamente
as fotos em seu dispositivo móvel, como o smartphone ou tablet.
E assim seguimos, deixando nosso rastro imagético nesse mundo de
impressões registrados em zeros e uns.
20
I – NOSSO PRIMITIVISMO PRIMITIVOS DIGITAIS
Somos os Escribas digitais?
A escrita rupestre foi o registro primitivo humano, mesmo não havendo
concordância até que ponto era comunicação ou arte. Apesar de não
haver concordância geral quanto ao objetivo desses registros, ca claro
que a transmissão de informação era importante já naquela época.
Não se tem clareza quanto à gura do produtor dos registros, mas
podemos notar uma precisão quanto à técnica e manejo da tecno-
logia existente: tintas primitivas e pedras das cavernas. É o primeiro
esforço da humanidade em registrar seu dia a dia.
A escrita começou a ser aprimorada com os sumérios, antigos habi-
tantes do sul da Mesopotâmia, que necessitavam de um sistema para
registrar suas relações comerciais, fosse com outros povos ou entre
si. A escrita cuneiforme era sua tecnologia, feita em tablitas de argila.
Nesse período, surgiram os primeiros escribas que, além de realizar
os registros, também cuidavam do acervo de seu local de trabalho.
A escrita evoluiu com a divisão da escrita iconográca do tipo hie-
róglifa e a demótica, já adotando símbolos para a representação de
palavras. Aqui o uso já apoiava o funcionamento do estado e as rela-
ções de poder político e econômico.
O escriba do Egito e seus instrumentos de trabalho
Foto: Magerson Bilibio
21
PRIMITIVOS DIGITAIS
Da mesma forma que os sumérios, os escribas egípcios eram res-
peitados por seu ofício e muitos eram próximos ao poder. Há ca-
sos de faraós que eram analfabetos e não dispensavam o serviço de
um escriba, para deixar seu nome registrado na história. Os escribas
egípcios já dominavam outra tecnologia: o papiro e as tintas. No
Museu do Louvre em Paris existe uma famosa estátua chamada Es-
criba Sentado, que mostra a admiração da sociedade daquela época
por quem desempenhava esta função, chegando a criar uma estátua
para representá-lo.
Estátua do Escriba Sentado – Egito. Acervo do Museu do Louvre
Foto: Magerson Bilibio
22
I – NOSSO PRIMITIVISMO PRIMITIVOS DIGITAIS
A gura do escriba depois é absorvida pelas instituições religiosas
na época medieval, era o escriba monástico, recluso a agremiações
religiosas e com a missão de copiar a Bíblia para a manutenção do
registro da palavra divina.
A invenção da prensa de tipo móvel por Gutemberg vem modicar
a relação da humanidade com a informação, possibilitando pela pri-
meira vez que a escrita pudesse ser reproduzida de forma múltipla e
liberando o escriba do serviço de copiar. Neste momento ele passa a
ser um gestor das informações e não mais seu continuador.
23
PRIMITIVOS DIGITAIS
Pensamento Arquivístico
A arquivologia lida com informações orgânicas e vai além do docu-
mento – trata das informações geradas nas situações de relação entre
pessoas e entre pessoas e instituições.
A arquivologia é uma ciência que até bem pouco tempo atrás estava
numa gaveta, guardada. Ela surgiu como ciência junto à Revolução
Francesa, porém há registro de suas aplicações já na época da escrita
cuneiforme (algumas Tabletas de Nuzi eram instrumentos arquivís-
ticos – indicavam onde determinado documento estava guardado).
Esta ciência surge agora como mais uma opção para tratar a infor-
mação em tempos de explosão informacional. Diria até como uma
forte opção. Isso porque a arquivologia trata de informações orgâ-
nicas, ou seja, vai além do documento enquanto objeto ou artefato,
trata das informações geradas nas situações de relação entre pessoas
e entre pessoas e instituições. Ou como diziam: é a informação que
é prova de alguma ação. Por isso ela é orgânica.
Seus princípios “arquivísticos” são adequados à realidade atual. Um
deles é o da organicidade, que vimos anteriormente. Nas platafor-
mas digitais, os uxos informacionais espelham a estrutura, funções
e atividades da instituição, em todos os contextos. E o gestor tem a
sua disposição telas de gerenciamento desses uxos (dashboards),
com dados e métricas em relação a sua estrutura e funcionamento.
Trata-se de um retrato real e orgânico do momento da instituição.
Um outro princípio é o chamado respeito ao fundo (ou princípio da
proveniência) que destaca que uma informação sempre terá um pai
(no caso o fundo arquivístico).
Em tempos de cloud computing (computação na nuvem), é mais
do que adequado que uma informação tenha um pai, ou origem.
Podemos ainda ver que este princípio da proveniência é aplicado
diretamente ao conceito de portal, por exemplo, como plataforma
unicadora de relações com os públicos externos e internos das em-
presas e instituições.
24
I – NOSSO PRIMITIVISMO PRIMITIVOS DIGITAIS
A cumulatividade (outro princípio arquivístico que arma que um
arquivo é a formação progressiva, natural e orgânica de informa-
ções) pode ser vista claramente por meio dos uxos automatizados
dos processos (workows), acumulando seus registros em série e
disponibilizando estes registros nos repositórios de conhecimento
tácito ou explícito em todos os tipos de plataformas digitais. Esta
formação é potencializada hoje com o uso de ambientes colaborati-
vos nas intranets.
Quanto à unicidade, as informações são geradas de forma evolutiva
e ao longo dos processos, isto é, na prática, na geração de dossiês
e processos administrativos e empresariais. Ou não é um ponto de
atenção evitar a duplicidade de informações em plataformas digitais?
A informação é única, apesar da multiplicidade de seu uso.
Como podemos ver, a arquivologia é mais atual do que nunca. Pode
mudar o seu foco, uma vez documento, agora informação. Mas po-
demos armar que o ponto de atenção hoje pode ser a informa-
ção humana digital e a sua perenidade junto à humanidade. Por isso
ganha força a ideia da Arquivologia 2.0, incorporando aspectos de
plataformas digitais colaborativas em sua matriz.
25
PRIMITIVOS DIGITAIS
Memória Corporativa, tratamento
da informação e plataformas digitais
A memória corporativa, no momento que age sobre o legado infor-
macional da empresa, reunindo as informações críticas e estratégicas
abaixo deste “guarda chuva”, garante a eciência do acesso à infor-
mação, necessária para que o usuário atinja seus objetivos.
Ao arquivista, prossional da informação responsável pelas infor-
mações orgânicas, cabe garantir que o acesso à informação ocorrerá
de forma eciente e ecaz, agora na forma de legado digital. As
formas de garantir este acesso se dão nas interfaces das plataformas
digitais que, hoje no contexto pós-custodial da informação, é como
o usuário pesquisa e utiliza estas informações.
As informações em suas devidas bases precisam ser tratadas por
meio de indexação, tanto estrutural quanto temática. Estrutural é
utilizando-se dos metadados, estruturados, adequados à sua nalida-
de e alinhados com alguma boa prática internacional, além da iden-
ticação da temporalidade e da estruturação (arranjo) por meio da
classicação. Já o tratamento temático é por intermédio dos tesauros
ou de lista de indexação.
Assim, o tratamento da informação é de fato sua classicação, sua
aplicação estrutural. E estaremos, com isso, criando estruturas lógi-
cas, adequadas ao exercício das funções das instituições e, também,
ajudando o trabalho das plataformas de busca que utilizam inteli-
gência articial e que possuem funcionalidade como identicação
de entidades, aplicação de aspectos linguísticos e estruturais às in-
formações.
O tratamento da informação digital com uma abordagem arquivísti-
ca mostra que é necessário a categorização temática, que para o usu-
ário pode signicar assertividade na busca da informação, com sua
aplicação em páginas dinâmicas geradas instantaneamente conforme
o termo buscado pelo usuário, além da navegação facetada construí-
26
I – NOSSO PRIMITIVISMO PRIMITIVOS DIGITAIS
da sobre a variação de temas. O resultado nal é uma interface mais
intuitiva, organizada por temas e não por uma denição somente
estrutural da informação.
A Memória Corporativa atua tanto como ferramenta para a guarda
e compartilhamento dos conhecimentos explícitos (documentos) ou
implícitos, quanto na estruturação da informação para que as in-
formações vinculadas aos objetivos estratégicos sejam identicadas,
organizadas e descritas. É aplicável nos SAI – Sistemas de Arquiva-
mento de Informações, vinculados a outros tipos de plataformas
digitais.
Os arquivos e centros de memória não são relativos apenas à histó-
ria, mas sim uma ponte dos conhecimentos individuais para o orga-
nizacional e vice-versa, que propicia o espiral de conhecimento e os
movimentos de socialização e externalização, além de interiorização
e combinação que compõem a Gestão do Conhecimento. Vale lem-
brar, estes centros de memória tratam a informação orgânica, resul-
tado da interação entre pessoas e instituições.
27
PRIMITIVOS DIGITAIS
A economia criativa e o
prossional da informação
O produto do prossional da informação pertence à economia cria-
tiva, que usa os espaços coletivos como forma de mercado para sua
produção e vê no indivíduo não uma mão de obra, mas um criador
transformador de realidades.
Você já ouviu falar de economia criativa? Quem lançou o conceito
foi o inglês John Howkins, autor do livro The Creative Economy. De
uma forma geral, ele arma que as pessoas da nova economia lucram
com seus cérebros e não precisam de capital ou terra. Precisam usar
sua criatividade. O conceito ganhou força na crise dos anos 2000,
que teve seu ápice em 2008, com a queda do mercado nanceiro.
A economia criativa é diferente da tradicional, aquela com modelo
fordista e taylorista, da manufatura, agricultura e comércio. É uma
nova visão de negócios que está surgindo e baseia-se em três pilares:
a imaginação, a principal fonte de criatividade, a criatividade, que
consiste em colocar a imaginação para trabalhar e a inovação, cujo
signicado é colocar as ideias em prática.
As empresas não devem mais operar com departamentos isolados,
onde as pessoas só falam de suas especialidades. Empresas e insti-
tuições com forte controle, individualizadas e de grande ênfase na
hierarquia não conseguem mais criar produtos e serviços inovadores.
Além do mais, as novas práticas sociais de compartilhamento estão
impondo modelos abertos de criação e acesso a bens culturais, por
exemplo. Esta mudança é inevitável, apesar da resistência das gran-
des empresas que têm desenvolvido todo um instrumental tecnoló-
gico e jurídico na tentativa de impedir esse uxo novo do processo
econômico.
28
I – NOSSO PRIMITIVISMO PRIMITIVOS DIGITAIS
Quando falamos em economia criativa, aplicamos esse conceito a
pelo menos duas dimensões, sendo elas as atividades econômicas
(ou ramo de atividades) e as ocupações (ou prossões).
Os arquivistas e prossionais da informação estão ligados prossio-
nalmente com a economia criativa por conta de seu trabalho com
patrimônio cultural, juntamente com as prossões “irmãs” bibliote-
conomia e museologia.
A FUNDAP, vinculada à Prefeitura de São Paulo, realizou no nal de
2011 o estudo Economia Criativa na Cidade de São Paulo: Diagnós-
tico e Potencialidade, que traz o mapeamento completo dos traba-
lhadores em patrimônio cultural na cidade. Na pesquisa, eles criaram
um capítulo especial para análise dos dados da área de patrimônio da
economia criativa.
Como ca o tradicional no mercado criativo?
Existe um grande paradoxo nisso tudo. De uma forma geral, existe
um vínculo dos arquivistas e prossionais da informação com insti-
tuições muito hierarquizadas ou vinculadas a estruturas estatais. De
outra forma, nossa “mais valia” é intelectual, criativa. Esse é o ponto
de equilíbrio a ser buscado: trabalhar com o patrimônio cultural, de
forma criativa e inovadora, mesmo que em instituições que operem
de forma tradicional. Usar nossa “mais valia” no tratamento das in-
formações humanas, preservando bens culturais.
As empresas e instituições precisam ver novas formas de se estru-
turarem e possibilitarem o emprego da economia criativa em suas
atividades; as novas gerações querem mais liberdade de trabalhar.
Não é à toa que muitos negócios da economia criativa são tocados
por prossionais que cansaram de trabalhar em empresas que ainda
pensam dentro do quadradinho. São empreendedores, prossionais
com home ofce e que trabalham “por projeto” com seus clientes,
tendo assim liberdade de atuação e de produção na economia criati-
va. É um mercado vem crescendo muito nos últimos anos.
Para os prossionais da informação, resta aceitar que seu produto
é da nova economia, é da economia colaborativa, criativa, da infor-
mação e do conhecimento, que questiona os direitos autorais, que
29
PRIMITIVOS DIGITAIS
usa os espaços da rede e coletivos como forma de mercado para sua
produção, que vê no indivíduo não uma mão de obra, mas sim um
criador, um transformador de realidades e um prossional que trata
da informação como um bem econômico e cultural.
O que precisamos mudar em nosso comportamento para fazer parte
da economia criativa?
30
I – NOSSO PRIMITIVISMO PRIMITIVOS DIGITAIS
Inovação em plataformas digitais
O uso das tecnologias de inovação aplicadas a plataformas digitais
na internet é considerado um fator competitivo dentre as diversas
plataformas existentes na web mundial. Por meio de ferramentas,
metodologias e novas formas de interação, os sites que possuem
tecnologias inovadoras permitem uma forma diferente de modelar,
prototipar e fomentar processos, projetos, produtos e serviços, apri-
morando o relacionamento com as pessoas que, com ele, interagem
por meio de diversas plataformas, seja via computadores, tablets ou
smartphones.
Os modelos de sites na internet possuem atualmente dois forma-
tos: estáticos e dinâmicos – onde, em sua maioria, divergem entre
layouts programados que facilitam o acesso do usuário, encontrados
em sites de buscas, com fácil visualização e ferramentas de interação
como redes sociais e leitores de e-mail.
A internet é tão dinâmica quanto o mercado e, no momento de pla-
nejar, desenvolver e fazer a manutenção do portal, é necessária a
atenção para novas tecnologias que surgem constantemente e que
ganham o mercado e o estilo de vida das pessoas, que interagem
entre si, com empresas, organizações e saciam as suas necessidades
conectadas à internet.
Conforme o comportamento adotado pelos usuários dessas tecnolo-
gias em uma região, a rede de pessoas conectadas do mundo off-line
pode construir um grande espaço no mundo online, com um grande
potencial de interação. Essa sociedade em rede é distribuída entre a
população quando as cidades facilitam o acesso do usuário, seja via
computador, tablets ou smartphones, com apoio de operadoras e
empresas de telefonia, provedores de acesso e de todo um ecossiste-
ma que potencialize a inclusão digital local.
31
PRIMITIVOS DIGITAIS
A internet passa por um momento de transformação onde o foco
não é na marca ou na organização – não é no emissor do conteúdo –
e sim no usuário que busca, por meio das plataformas digitais, expe-
riências, informações e satisfação. A Internet das Coisas representa
exatamente este foco, onde a experiência de ter interfaces em dife-
rentes dispositivos é propiciada diretamente ao usuário. De acordo
com o resultado divulgado pela NetCraft em abril de 2015, são quase
850 milhões de sites “endereços”existentes na web e quase 177 mi-
lhões de sites ativos na web. Nesse cenário, se diferenciam e ganham
destaque aqueles que aplicam novas tecnologias de inovação.
Fonte: http://news.netcraft.com/archives/2015/04/20/
As pessoas estão cada vez mais conectadas e buscando novas experi-
ências nas plataformas digitais, tanto as que proporcionam voz ativa
aos usuários quanto as pequenas formas de interação e metodologias
que integram o usuário, a informação, a marca e a sociedade. Esta é
a forma de fortalecer as redes e gerar resultados signicativos quem
busca produtos, serviços e satisfação na experiência online.
32
I – NOSSO PRIMITIVISMO PRIMITIVOS DIGITAIS
O mundo da informação
digital e a arquivologia
A web colaborativa reforça uma nova oferta de serviços online.
Hoje, as informações podem ser encontradas em diversos ambientes
institucionais, como nas instituições de ensino, empresas e governos.
Esse novo mundo 2.0 existe por intermédio da informação orgânica,
registro da inteligência coletiva, das decisões das pessoas e institui-
ções e do relacionamento prossional entre indivíduos. Estas são
características das informações arquivísticas. É a prova da ação hu-
mana e o registro de suas atividades nos processos. O foco da Arqui-
vologia 2.0 deixa de ser somente as organizações e passa ser a ação
humana, via sistemas de informação, nessas organizações.
Tanto é fato, que a gestão do conhecimento corporativo (GC), por
exemplo, registra hoje o que está acontecendo entre as pessoas nas
empresas e entre estas e as próprias instituições. Este é o diferencial
competitivo maior das empresas, as que registram o conhecimento
são mais destacadas em inovação e são mais valorizadas no mercado
e na sociedade.
O e-mail pode ser considerado, desde já, o documento mais impor-
tante nas empresas, pois é uma evidência sempre observada. Aliás,
este passa a ser o desao diário das empresas e dos prossionais da
informação. Como incorporar o e-mail como um documento digital
no universo corporativo? A colaboração corporativa, na qual indi-
víduos relacionam-se numa comunidade virtual, é hoje o destaque
deste mercado corporativo.
O arquivista, prossional da informação e responsável pelos docu-
mentos e informações orgânicas de uma instituição, deve pensar na
classicação e estruturação dessa informação, além da própria tem-
poralidade, da preservação digital e do tamanho limitado dos servi-
dores para registrar as informações.
33
PRIMITIVOS DIGITAIS
Técnicas como o GED (Gerenciamento Eletrônico de Documen-
tos) ou ECM (Enterprise Content Management), plataformas com
os requisitos de suporte arquivístico a documentos eletrônicos; a
classicação – que muitas vezes segue uxos organizacionais; a tem-
poralidade – o prazo que cada documento deve car sob custódia da
instituição e a descrição arquivística – que é orientada por normas
nacionais e internacionais, devem fazer parte da formação do pros-
sional da informação.
Este novo prossional arquivista não pode ter medo da tecnologia.
Ele deve dominar o vocabulário da área e entender as diferentes
tecnologias da informação. Anal, precisamos dela cada vez mais
em nosso cotidiano, seja elaborando mecanismos de descrição ar-
quivística, técnicas de localização de documentos ou até sistemas de
registros de protocolo.
A tecnologia envolve a razão e isto é uma forma de conhecimento.
E hoje não se vê mais a gestão do conhecimento, dos arquivos e
de conteúdos sem a tecnologia. Aliás, sabe-se que estas gestões são
implantadas somente por meio de sistemas que apoiam seu processo
de geração, classicação, utilização e custódia. Anal, a tecnologia, o
conhecimento humano e a informação sempre andaram juntas.
34
I – NOSSO PRIMITIVISMO PRIMITIVOS DIGITAIS
Solução tecnológica não é
comprar novo software
Perdemos muito tempo para entender o que era a informação digi-
tal para a área do arquivo corrente e permanente. Neste quesito os
bibliotecários saíram na frente. Com a gura da Biblioteca Digital,
passaram pela grande tempestade e hoje já se mostram como pro-
ssionais da informação aptos em gerenciar a informação digital de
suas bibliotecas.
Não tivemos um ‘Arquivo Digital’ ou algo do gênero. Tivemos um
tal de Repositório que, pelo nome (sujeito a trocadilhos), afasta mais
do que agrega. Nada contra o português correto, mas, no Brasil,
qualquer palavra de duplo sentido é um perigo. Perdemos muito
tempo também com algo limitado e que não resolve os problemas de
gestão, apesar da palavra gerenciamento fazer parte de seu nome. O
GED era o sistema que salvaria a vida dos gestores de arquivos pri-
vados e públicos e que recebeu muito investimento nos anos 2000.
Porém, se mostrou limitado. Face seu uso (imagens de documentos),
face sua forma de gerenciar (uma visão de “biblioteca” de documen-
tos ao invés dos princípios arquivísticos).
O GED embolou no meio do campo até que se deram conta que
a informação orgânica ia além da imagem (a maioria em PDF) do
documento. Assim, o mercado resolveu criar o ECM (Enterprise
Content Management) que nalmente tratava todos os formatos de
informação, aplicando uma visão integrada de gestão. Porém, esta
não foi uma alternativa criada pelos prossionais de arquivo, foi mais
uma solução dos órfãos do GED, cujos sistemas de gestão de ima-
gens não dava mais conta do mundo corporativo.
Só recentemente, os arquivistas criaram a gura do SIGAD (Siste-
ma Informatizado de Gestão Arquivística de Documentos). Numa
câmara técnica esforçada, que busca agilizar os entendimentos do
mundo digital da informação, o CONARQ (Conselho Nacional dos
35
PRIMITIVOS DIGITAIS
Arquivos, órgão vinculado ao Sistema Nacional de Arquivos do Bra-
sil) assumiu o conceito de uma gestão arquivística em plataformas
digitais, por intermédio da criação do E-Arq Brasil.
O mais interessante dessa criação é que não existe uma ferramenta
única (até pode existir se for a opção do gestor), mas a condição
para a existência do SIGAD é de fato a utilização de instrumentos
de gestão antes mesmo de um sistema informatizado. “O sucesso do
SIGAD dependerá fundamentalmente da implementação prévia de
um programa de gestão arquivística de documentos.” é o que diz o
E-Arq Brasil, quando fala no SIGAD.
Mais adiante, o mesmo E-Arq Brasil arma que “O SIGAD é um
conjunto de procedimentos e operações técnicas, característico do
sistema de gestão arquivística de documentos processado por com-
putador. Pode compreender um software particular, um determina-
do número de softwares integrados, adquiridos ou desenvolvidos
por encomenda, ou uma combinação destes.”. Dessa forma, conse-
guimos entender que nalmente os arquivistas zeram as pazes com
a tecnologia, podemos pensar na gestão sem ter que comprar uma
nova ferramenta tecnológica.
Então agora é bola pra frente, não é pessoal? Precisamos entender
um pouco mais de alguns elementos importantes para denir o SI-
GAD, considerando que os instrumentos de gestão arquivísticos tí-
picos (tabela de classicação, temporalidade, arranjo, etc) não sejam
gargalos, ou seja, já existam na prática. Estamos falando das plata-
formas digitais que compõem este SIGAD e que este é um sistema
desenvolvido para realizar as operações técnicas da gestão arquivís-
tica de documentos.
O ponto de partida é: como o SIGAD apresenta a gestão de do-
cumentos para o público e incorpora estas funções em sistemas já
existentes. Aqui temos de lembrar que um documento passa a ser
ocial após “captura” do sistema, ou seja, tenho que ter a possibili-
dade de ver este documento na hora que preciso e quando eu quiser.
Na prática, portanto, temos um sistema capaz de capturar e iniciar o
processo de “ocialização” do documento. Hoje, a maioria dos pro-
cessos corporativos são realizados por meio de workows (uxos de
36
trabalho) vinculados às intranets. Aqui já podemos imaginar que um
dos passos deste uxo é o registro (a captura) no SIGAD.
A partir deste exemplo devemos imaginar que o SIGAD não deve
ser pensado à parte dos sistemas existentes e utilizados. Cada vez
mais ele deve estar vinculado às intrantes, portais corporativos e sis-
temas ERP. O SIGAD tem a possibilidade de passar de um ambiente
digital que possamos comprar (uma tela de gestão do “GED”) para
ser ações arquivísticas integradas em plataformas digitais já existen-
tes. Não podemos mais pensar em nossa gestão arquivística como
um novo sistema, devemos imaginar os sistemas atuais agindo arqui-
visticamente. Assim, todo mundo pode por a mão no repositório e
contribuir na prática para a gestão documental arquivística por inter-
médio de sistemas informatizados.
37
II
Mapas e estruturas
Nesta seção do livro trataremos de instrumentos não arquivísticos
que podem ser utilizados por arquivistas e prossionais da infor-
mação no planejamento de ambintes digitais. Para a atuação deste
prossional da informação 2.0, é exigida uma série de domínios que
extrapolam as áreas comuns.
A estruturação da informação digital é apresentada por intermédio
de recursos de navegação e de organização do conhecimento de for-
ma acessível e, também, por meio da abordagem da informação or-
gânica e do comportamento arquivístico.
Textos dessa seção:
• Informação Digital (Arquivística?)
• O Arquivista como curador da Informação Digital
• A informação digital: além do scanner, para as interfaces
• Arquitetura da informação: portais e arquivistas 2.0
• A arquitetura da informação
• Do sitemap ao Infomap: a evolução da estrutura da informação
• Taxonomia e Inteligência Articial (IA)
• Original papel, cópia e eletrônico
38
II – MAPAS E ESTRUTURAS PRIMITIVOS DIGITAIS
Informação Digital (Arquivística?)
Quando o Manifesto Arquivologia 2.0 foi lançado, destacávamos
a necessidade de criar uma nova abordagem na arquivologia, que
incorporasse os conceitos transdisciplinares tratados em gestão do
conhecimento, arquitetura da informação, taxonomia, entre outros,
por exemplo. Era um chamado para que aprofundássemos na aca-
demia o debate sobre as novas formas de gerenciar informações em
ambientes corporativos, por meio de portais corporativos e intranets
incorporando a realidade das informações digitais.
Acredito cada vez mais que o foco de trabalho do prossional da
informação passa do documento físico (m da era da encapsula-
ção) para a gestão de informações orgânicas nas plataformas digitais,
que dão suporte para a administração e futuramente para a pesquisa.
Nesse sentido, os portais e intranets passam a ser uma nova arena
de trabalho de arquivistas, pois é a eles que auem as informações
de tomadas de decisão e que registram as relações entre instituições
e pessoas. São compostas por informações orgânicas, resultado das
relações comuns às instituições. Mudou o meio (do papel para o
digital), mas no nal a relação funcional que gerou a informação é
a mesma.
Do ponto de vista de evolução do objeto de trabalho e estudo, po-
demos ver que a arquivologia evoluiu da unidade documental (docu-
mento) para os arquivos (massa documental custodiada), passando
a seguir para a informação orgânica e agora para a chamada infor-
mação arquivística. Mas o que é a informação arquivística? O que
caracteriza a informação arquivística? É a informação encontrada
em arquivos? Mas o que a diferencia da informação orgânica? A in-
formação arquivística é a informação digital? Poderia dizer que in-
formação arquivística no ambiente digital é o conjunto de dados e
metadados ligados por sua gênese? Ela é uma informação gerada em
ambientes digitas? Resultado de SIGAD?
39
PRIMITIVOS DIGITAIS
Os processos corporativos continuam sendo os mesmos de 20 anos
atrás, mas hoje os gerentes autorizam orçamentos por intermédio
de uma interface digital, as áreas recebem demandas por e-mails e
os diretores acompanham tudo por dashboards de sistemas de BI
(Business Inteligence). Por que hoje o objeto é a informação arqui-
vística? O que a difere da informação biblioteconômica? (se de fato
os bibliotecários referem-se ao seu trabalho assim).
Segundo minhas pesquisas, o termo informação arquivística foi utili-
zado no Brasil por Lopes1 em 2000, ela deriva da tradução de Archi-
val Information utilizada fora do Brasil desde meados da década de
1980, mas que designa para eles a relação dos princípios arquivísticos
e as informações. Tal qual a sua relação umbilical com o produtor;
a sua originalidade, logo, a sua unicidade; a sua capacidade de ser
avaliada em termos de idade e de utilização.
Também percebi que, dentre as particularidades da informação ar-
quivística, ainda são assinaladas a natureza limitada dos seus supor-
tes, a acumulação das informações – produzidas ou recebidas – por
um indivíduo ou uma instituição, desde que sejam informações capa-
zes de ter signicação. E ainda aquelas que se referem às atividades
geradoras da informação e o fato de ser a informação arquivística a
primeira forma tomada por uma informação registrada, quando da
sua criação. (Revista Archives, 1988 apud Lopes, 2000, p.103).
Logo, é como um mantra em japonês, onde duas palavras podem
resumir um grande conceito. Acredito que a informação arquivística
não é a informação do documento, é por si só a soma dos princípios
arquivísticos representados nos valores da informação tanto para a
gestão como para a história ou memória. Será mesmo?
Talvez, esperamos por demais o que vem de fora, não tropicalizamos
e criamos muito conceitos. Acredito que o conceito de informação
arquivística precisa ser claramente denido pela nossa comunidade
brasileira para justicar o uso que está tendo. Este termo ainda não
existe no Dicionário Brasileiro de Terminologia Arquivística.
1 Luis Carlos Lopes, autor brasileiro da área de arquivo.
40
II – MAPAS E ESTRUTURAS PRIMITIVOS DIGITAIS
O Arquivista como curador
da Informação Digital
Um dos papéis de um curador da informação digital é gerenciar o
conteúdo de plataformas digitais. A Gestão de Conteúdo, que nada
mais é que o gerenciamento de informações, foca em captação, ajus-
te, distribuição e gerenciamento dos conteúdos para apoio ao pro-
cesso de negócios (por meio de plataformas digitais e SIGAD) de
toda a empresa ou instituição.
Esses conteúdos podem ser estruturados ou não, procedentes de
diversos sistemas, como de imagem, Gerenciamento de Documen-
tos (GD), bancos de dados, arquivos nos diretórios das máquinas
dos colaboradores e de qualquer outro arquivo digital como som ou
vídeo. É neste contexto que pode ocorrer a curadoria de conteúdo e
a edição de conteúdo objetivando a publicação de uma informação
nova. O objetivo é oferecer acesso a todos aos conteúdos da empre-
sa por meio de uma interface única baseada em browser (navegador).
Para tanto, o curador digital precisa atentar para as funcionalidades
essenciais de gestão de informações no ambiente digital:
– Gestão de usuários
– Criação, edição e armazenamento de conteúdo em formatos
diversos (html, doc, pdf, etc)
– Uso de metadados
– Controle da qualidade de informação (workow)
– Classicação, indexação e busca de conteúdo
– Gestão da interface com os usuários (arquitetura da infor-
mação)
– Gravação das ações executadas sobre o conteúdo
Além do mais, o arquivista, agora curador digital, deve participar e
acompanhar o processo de planejamento da campanha de lançamen-
to e sugerir ao departamento de marketing ou agência da instituição
41
PRIMITIVOS DIGITAIS
ações participativas e estimulantes. Vale, por exemplo, concurso para
escolher o mascote do portal, o nome de determinada área e, claro, o
devido treinamento para utilização dos recursos do portal.
Não existe uma fórmula, mas para o arquivista, caracterizado como
um prossional da informação e um curador digital, surge a possibi-
lidade de integrar e comandar equipes em todas as fases do processo
de implantação de plataformas digitais. O prossional da informa-
ção atua desde o estabelecimento da gestão documental, até o plane-
jamento e levantamento das informações, no processo de implemen-
tação e na divulgação e estímulo ao uso da gestão do conhecimento
nas corporações.
Os documentos nascem, são utilizados e extinguem-se no meio di-
gital. Está na hora de encararmos isto, sem temer os avanços tecno-
lógicos. Os sistemas de GD e GED fazem parte da realidade dos
arquivistas, portanto, é necessário avançarmos mais um passo em
direção a gestão do conteúdo e do conhecimento, dando o nosso
“toque” de organização a estas plataformas digitais. Somos os cura-
dores das informações digitais.
42
II – MAPAS E ESTRUTURAS PRIMITIVOS DIGITAIS
A informação digital:
além do scanner, para as interfaces
As interfaces de plataformas digitais passam a tomar espaço na aten-
ção dos prossionais da informação. São elas as substitutas da inter-
mediação do acesso do usuário à informação. Pense no balcão que
hoje separa o arquivista ou bibliotecário de seus usuários no arquivo
ou em seu serviço de informação. Pois é, a interface é o novo balcão,
por isso a preocupação para que o sistema seja bem feito, que as
informações sejam bem processadas, indexadas, classicadas e ar-
ranjadas. A chave dos requisitos de negócio, neste caso, pertence ao
prossional de informação.
No mundo 2.0, o usuário sabe a informação que deseja e vai atrás
dela sem a interferência de outros humanos. Logo, aquele balcão que
tanta preocupação e satisfação trazia para o prossional da informa-
ção não existirá mais, como hoje não existem mais a goma de mascar
Ploc, as balas Soft e o video game da Atari.
Qual o verdadeiro foco da arquivologia: o documento, a informação,
as massas documentais ou os arquivos de documentos acumulados?
Acredito que, além da informação digital extraída dos fundos e sé-
ries, o foco passa a ser, no mundo 2.0, a interface onde estão dis-
postas as informações orgânicas, geradas em tempos de explosão
informacional, ou seja, isso tudo vai além do documento ou de uma
massa documental. São as informações humanas geradas nas situa-
ções de relação entre as pessoas e entre estas e as instituições. E a
interface é o grande momento de entrada ou saída da informação,
além de ser a forma de geri-la.
Nas plataformas digitais, os uxos informacionais ainda espelham a
estrutura, funções e atividades da instituição, em todos os contextos.
Por exemplo, temos à disposição da administração e dos gestores
telas de gerenciamento desses uxos informacionais (dashboards de
Business Inteligence), com dados em tempo real e métricas em re-
43
PRIMITIVOS DIGITAIS
lação a sua estrutura e funcionamento. Um retrato real e orgânico
daquele momento da instituição.
Estas informações de gestão são entregues pelas interfaces das pla-
taformas digitais. São as interfaces de portais e sites que congregam
as informações de um SIGAD, de um GED, de um ECM, de uma
intranet e de tantos outros sistemas gerenciais e informacionais. Co-
nheci grandes corporações onde o portal traz, conforme o perl de
cada pessoa, as informações necessárias para o desempenho de suas
atividades. Cada vez mais a máxima “a informação certa na hora
certa” é uma realidade e isso se dá nas interfaces das plataformas
digitais.
Obviamente, sabemos que por trás dessas plataformas digitais exis-
tem as informações orgânicas, que precisam ser classicadas, tem-
porizadas, perladas e tratadas tecnicamente por prossionais da
informação aptos e capacitados em tratar estas informações.
O que acredito é que esse prossional será mais completo no mo-
mento em que entender um pouco mais os assuntos da Arquivolo-
gia 2.0: metadados, preservação digital, arquitetura da informação,
arquitetura de interface, sistemas digitais, entre outros temas, indo
além em seu entendimento, das maravilhas que fazem um escâner
com OCR.
44
II – MAPAS E ESTRUTURAS PRIMITIVOS DIGITAIS
Arquitetura da informação:
portais e arquivistas 2.0
Com o avanço da tecnologia e as facilidades trazidas pela internet,
principalmente com os portais, o conhecimento vence barreiras.
Consequentemente, abrem-se novas oportunidades de negócio e de
educação.
A informação, que gera o conhecimento somente quando relacio-
nada a outros elementos como experiência, valores, informação
contextual e intuição, necessita ser socializada, de amplo acesso e
de fácil tratamento. As inovações tecnológicas, que incluem a pos-
sibilidade de trabalhar com streaming media, hiperlinks dinâmicos,
governanças de conteúdo com variados níveis de permissão, geram
novas frentes junto à rede, como educação a distância o teletrabalho,
entre outros.
Os repositórios fazem parte dos portais de conhecimento, visto que
os documentos digitais ali guardados são utilizados como fonte de
informação. Os portais carregam, além de arquivos digitais, outras
fontes de informação, explícitas ou implícitas. Eles são plataformas
digitais de instituições ou grupos que usam técnicas de difusão e
recolhimento de informações junto a seus públicos.
Esses portais podem ter seu conteúdo atualizado por administra-
dores ou por todos os participantes do projeto, no estilo Wikipédia,
onde o conhecimento é construído por meio do conteúdo partilha-
do por qualquer interessado em contribuir com aquele(s) determina-
do(s) tema(s).
Essas ferramentas podem ser do tipo enquete, conteúdo dinâmico,
blogs e fotologs, além de custodiar documentos orgânicos, como
relatórios, notícias, memos, e instrumentos de comunicação como
newsletters.
45
PRIMITIVOS DIGITAIS
46
II – MAPAS E ESTRUTURAS PRIMITIVOS DIGITAIS
A arquitetura da informação
Arquitetos de informação geralmente desenvolvem rotinas próprias,
muitas vezes baseadas em metodologias já existentes, desenvolvidas
por outros arquitetos, para a concepção das estruturas e interfaces.
Vemos que essas metodologias se aplicam na concepção dos mais
variados ambientes: web comerciais (B2B, B2C, B2E), portais hori-
zontais e verticais e os portais corporativos. A modulação de portais
corporativos mostra-se cada vez mais como um campo especializa-
do, por sua própria especicidade.
A expressão arquitetura da informação foi apresentada pelo arquite-
to e desenhista gráco Richard Saul Wurman, que se destacou por
empregar excelentes grácos nas apresentações das informações.
O arquiteto Wurman, que cunhou o termo, diz que o arquiteto de
informação é a pessoa que organiza os padrões que são inerentes
aos dados, tornando o conjunto inteligível. Ela cria a estrutura ou
mapa das informações que permite que outras pessoas achem seus
caminhos pessoais até o conhecimento. Por m, que o arquiteto de
informação é a prossão que surge no século XXI, voltada para as
necessidades desta época, e que tem como foco a clareza, a compre-
ensão humana e a ciência da organização da informação.
Na época de Wurman, nem se pensava em internet. Os computa-
dores eram mostrengos que processavam informação. Não existia
o cenário de hoje, onde cada colaborador de uma instituição possui
uma estação de trabalho, onde se relaciona com outros colaborado-
res e com o ambiente externo, sendo um produtor de documentos,
informações e conhecimentos.
Com o advento da internet e das redes de comunicação locais (lans),
este cenário aprofunda-se. Nesta nova forma de trabalho surgiram os
portais. Estes precisam ser planejados, programados e abastecidos com
informações, lembrando que as plataformas digitais são interfaces de
47
PRIMITIVOS DIGITAIS
relacionamento com pessoas, sendo necessário, portanto, prever todo
relacionamento informacional dos portais com os seus usuários.
Cabe constar que os arquivistas desenvolvem nos seus processos de
descrição arquivística, de elaboração de instrumentos de pesquisa e
na indexação de arquivos, um processo parecido com a arquitetura
da informação. Na prática, ao estudar o produtor e o público que
acessa os documentos, analisar todas as fontes de informação, os
tipos, as mais importantes para o público, ao denir uma estrutura
para arranjar os documentos e descrever seu acervo o arquivista está
arquitetando a organização das informações de um arquivo.
No caso das plataformas digitais, os arquivistas podem analisar os
públicos que irão acessar os portais e sites e organizar as informa-
ções de forma lógica. Agrupar as informações por área de interesse,
portanto, é muito parecido com a classicação de grupos de docu-
mentos nos fundos, criando suas respectivas classes. Assim, organi-
zar informações educacionais em um portal pela área de interesse é
muito parecido com criar uma tabela de arranjo.
48
II – MAPAS E ESTRUTURAS PRIMITIVOS DIGITAIS
Do sitemap ao Infomap:
a evolução da estrutura da informação
As alterações que o mundo digital passa já alcançam as próprias téc-
nicas e denições deste universo. Num primeiro momento, quan-
do os sites eram criados para tomarem espaço e garantir a presença
das empresas nas teias da web, a arquitetura da informação entrava
como um elemento de estruturação de conteúdo e de organização
da informação. Porém, demorou até que a arquitetura da informação
ocupasse o espaço devido e a atenção que necessitavam os projetos
de plataformas digitais.
Esta competência já faz parte dos projetos de plataformas digitais
e a própria prossão é a forma como muitos jovens se aproximam
da realidade dos projetos e construção dos ambientes. Se antes a
arquitetura da informação era objeto de evangelização, hoje ela é
uma necessidade básica em qualquer ambiente digital que começa a
ser estruturado.
Mas agora é hora de dar um passo adiante. A arquitetura da informa-
ção não é mais o diferencial nas plataformas digitais. Novas necessi-
dades para entender e planejar as plataformas digitais ganham espa-
ço. Os instrumentos colaborativos e a participação, também possível
como evolução tecnológica, gera a necessidade de estruturação da
Arquitetura de Participação.
A relação das pessoas com as informações das plataformas digitais
estão modicadas. Se antes bastava um site com páginas xas para
conhecer as instituições e acessar o dado necessário, agora as infor-
mações são mais dinâmicas, existem uxos de informação diferencia-
dos e o conteúdo é transorganizacional. A disposição de conteúdos e
informações é básica, pois temos a necessidade de planejar a relação
entre usuários, entre conteúdos, entre pers e entre conhecimentos.
49
PRIMITIVOS DIGITAIS
Atualmente, a gestão do conhecimento se dá menos no discurso aca-
dêmico e mais na prática, por intermédio das plataformas digitais.
Os processos, conteúdos, pers, regras e estruturas, precisam ser
determinados nos mapas informacionais. De fato, o mapa do site dá
espaço, agora, ao mapa informacional, ou “infomap”.
Este mapa mostra o uxo do conhecimento, que ocorre nas insti-
tuições mais modernas. É este uxo o objeto do Infomap. Nessa
visão mais atualizada, os uxos de informação seguem os uxos dos
conteúdos internos à empresa. Assim, todo contexto do conteúdo
(ou seja, o que se sabe na empresa), a narrativa do conteúdo (de
que forma tudo que é dito é registrado) e também todo o conteúdo
(tudo o que é escrito na empresa), precisa ser elaborado, pensado e
organizado nos infomaps.
Assim, podemos destacar que o Infomap é focado nos serviços de
informação, no estabelecimento dos repositórios de conteúdo explí-
cito, no uso corrente e arquivamento ou descarte da informação ge-
rada e consumida nas instituições, além de possibilitar o tratamento
de informações.
O Infomap possibilita uma visão da informação mais nítida, sua
relação, sua estruturação e não mais como era anteriormente re-
presentada pelas caixinhas estanques da arquitetura da informação
tradicional. Os uxos, as relações das pessoas atrás desse uxo, as
estruturas de informação dizem mais respeito ao ponto atual do de-
senvolvimento de plataformas digitais.
A arquitetura da informação expande seus domínios e passa por uma
reinvenção. Obviamente ainda existem mapas de sites, ainda mais se
pensarmos nos ambientes como elemento de comunicação e menos
como ambientes transacionais. Porém, no universo corporativo, com
mais necessidades de ter a informação certa, na hora que se precisa,
o papel das empresas de consultoria e de desenvolvimento vai além
da caixinha e do “clique aqui”.
50
II – MAPAS E ESTRUTURAS PRIMITIVOS DIGITAIS
Taxonomia e Inteligência Articial (IA)
Sistemas de indexação de uma forma em geral utilizam anéis de si-
nônimo para resolver problemas em entender o que o usuário quer
na busca. Ou seja, será necessário que seja incluída na programação a
variação das palavras por meio de um vocabulário. Se tenho uma loja
de informática, obviamente que meu vocabulário terá palavras de
informática, como laptop. Uma será a palavra ocialmente utilizada,
as demais seguem lógicas linguistícas e de digitação.
Por exemplo: Lap top = laptop = laprop… Neste caso, também se
trabalha com os sinônimos, compondo assim o chamado anel de si-
nônimos. O resultado é o famoso “Você Quis Dizer Isso_______”,
recurso muito conhecido do Google. Ocorre que ferramentas de
Inteligência Articial (IA) ocupam cada vez mais espaço no mun-
do da informação e essas plataformas de tratamento de informação
acabam incorporando este árduo trabalho dos anéis de sinônimos.
Hoje em dia também são utilizados separadores de palavras (tokeni-
zadores) e lematizadores que executam análise linguística dos dados
indexados e do texto completo. Plataformas de Inteligência Artical
como Autonomy ou Fast, só para citar duas, acabam incorporando
outras funcionalidades linguísticas, deixando de fato para os anéis as
relações de sinonímia. Por exemplo, lematização ou stemming, serve
para reduzir uma palavra a sua própria raiz. Ele busca a conjugação
do verbo e chega à matriz do termo. São tirados os plurais, os gê-
neros são arrumados, prexos e suxos são extraídos. Logo, cria-se
um termo indexado e uma la de variações de palavras que acabam
indexando o conteúdo. Por exemplo, “executando”, “executou” e
“executor” são várias formas do radical “execut”.
Outro recurso na questão da busca é em relação a linguagem huma-
na e a linguagem de indexação. Entra em cena a lista de stopwords,
51
PRIMITIVOS DIGITAIS
uma lista com palavras irrelevantes para efeito de indexação de do-
cumentos, como preposições, pronomes e artigos (o, a, é, um, dois,
tu, tua, tudo, etc).
Isso tudo gera a tabela de termos indexada, que é utilizada na hora
da busca para o cálculo da relevância. Mas isto já é o campo da tec-
nologia da informação aplicada.
52
II – MAPAS E ESTRUTURAS PRIMITIVOS DIGITAIS
Original papel, cópia e eletrônico
Um projeto de GED/ECM não é nenhuma novidade no mundo
da TI e nem na gestão da informação, mas é importante destacar
alguns pontos primordiais no processo de gerenciamento eletrônico
de documentos.
O primeiro ponto é denir de fato o que é GED. A Gestão Eletrô-
nica de Documentos incorpora o conceito de digitalização de do-
cumentos. Aqui o trabalho é de fato garantir que os documentos
nascidos em papel passem a ter uma cópia digitalizada e que possa
ser facilmente recuperada por meio da indexação (palavras-chave).
Este documento não tem valor legal (é uma cópia). Esta é uma for-
ma de gerenciar, por intermédio de um ambiente digital, o acesso,
a indexação, busca e consulta de um documento. Porém, se houver
necessidade de prova o que vale legalmente é sua original impressa.
É fato. Não se aventure em tentar diminuir a papelada, pois essa
pode ser uma forma de levar as informações de sua instituição para
a ilegalidade.
Pela lei dos documentos digitalizados, a Lei 12.682/02, será necessá-
ria que haja fé pública validando a digitalização, isto é, o uso de uma
chave pública, assinatura digital, fornecida por cartórios. A única
forma de digitalização válida hoje, onde você pode “rasgar o papel”,
ou seja, eliminar o original, é a microlmagem, que também possui
uma série de regras que devem ser seguidas e também incorpora a
ideia de validação por meio de fé.
Outro ponto primordial é não confundir o GED com a Gestão de
Documentos Eletrônicos – GDE. Aqui falamos de documentos na-
to-digitais2 , que incorporam elementos diferentes do GED e que são
2 Os documentos que são criados, tramitados, eliminados e/ou arquivados ex-
clusivamente em meio digital.
53
PRIMITIVOS DIGITAIS
estabelecidos internacionalmente pelo projeto InterPares (que buscam
dar valor e a dedignidade necessária para documentos digitais).
Esses elementos são, por exemplo, um bom tratamento e uso dos
metadados, controle de versionamentos, autorias declaradas, trilhas
de auditoria e assim por diante.
O GED então é a digitalização de documentos, válida para preser-
var documentação, agilizar o gerenciamento e ajudar a resolver os
problemas do “big data”, porém não incorpora a ideia de dedig-
nidade necessária num documento como prova. Não se elimina um
documento original por ter uma cópia digital. Já o GDE é a criação,
uso e trâmite de documentos, processos e informações geradas nas
atividades de uma empresa ou instituição por meio de ferramentas
digitais, como intranets, portais e ferramentas de workow.
Para o GED existem softwares que tecnicamente trazem concei-
tos arquivísticos e que não acabam com sua tranquilidade, inclusive
existem alguns gratuitos muito bons, como por exemplo o DSpace,
FEDORA, Eprints ou o Archivemática (baseado na norma inter-
nacional OAIS – Open Archival Information System/ISO 14.721).
Esses softwares seguem preceitos arquivísticos para gestão de docu-
mentos, inclusive os digitalizados. No Brasil, temos o modelo E-Arq
Brasil, que traz requisitos para sistemas digitais de Gestão Arquivísti-
ca de Documentos, elaborado pela Câmara Técnica de Documentos
Eletrônicos do Conselho Nacional de Arquivos.
Se aparecer alguém na sua frente dizendo que vai acabar com o trâ-
mite de papéis em sua empresa não acredite – isso é no mínimo
leviano para não dizer irresponsável. O GED e os documentos digi-
talizados não substituem o documento original. Eles agilizam o uxo
informacional e otimizam a gestão da informação, mas ainda não
substituem legalmente o original.
Para o GDE cabe dizer que você já trabalha com ele. É a rede interna
de sua empresa, estruturada em diretório e pastas, por exemplo. É
o sistema de workow que gera passos, aprovações, possuem várias
etapas e que naliza uma decisão sempre documentada. Você pode
ter um GDE também numa intranet ou portal, plataforma digital
54
onde, além de informações de comunicação empresarial e de alinha-
mento estratégico, possui diretórios de arquivos, documentos cola-
borativos, processos digitais e conhecimentos explícitos. Talvez seja
importante analisar o uso dos metadados dessa massa documental já
existente para melhorar o gerenciamento desses documentos nasci-
dos digitalmente.
Inclua em seu projeto de implantação de GED esses elementos, as-
sim você garante que não estará rasgando e colocando fora docu-
mentos ociais e substituindo por cópias que podem ser manipula-
das e que necessariamente não representam a realidade, ou pior, que
não tenham valor legal.
Incorpore nesse processo de implantação de GED não só uma
ferramenta e um processo de TI, mas também um prossional da
informação, de preferência um arquivista, que faz bacharelado e é
formado para garantir que futuramente não haja dor de cabeça em
relação a seus documentos.
55
III
Ferramentas e tecnologias
Última seção do livro, abordaremos novas tecnologias, técnicas, me-
todologias e ferramentas utilizadas nas plataformas digitais e que
podem, por intermédio de uma abordagem arquivística, serem em-
pregados na estruturação da informação orgânica digital e na gestão
informacional.
É uma visão da realidade onde a informação é trabalhada de forma
ampla, em grandes volumes, ao que soma-se o trabalho diário de
gestão do conhecimento e informação. As ferramentas 2.0 são abor-
dadas de forma a mostrarem seu potencial para o gestor de informa-
ções digitais arquivísticas.
Textos dessa seção:
• Inovação tecnológica 2.0
• Big Data: você já não vive sem
• Gestão do conhecimento e do conteúdo
• Produção de conteúdo
• Política de mídia social
• Ferramentas na web
• Mídias Sociais
• Redes segmentadas
• Bancos de ideias
• Aplicativo para Smartphones
56
III – FERRAMENTAS E TECNOLOGIAS PRIMITIVOS DIGITAIS
Inovação tecnológica 2.0
Considera-se inovação tecnológica a concepção de um novo pro-
duto, novo serviço ou novo processo, bem como a adição de novas
funcionalidades ou características a produtos, serviços ou processo
sque signique melhorias incrementais e efetivo ganho de qualidade
ou produtividade, resultando numa maior competitividade no mer-
cado.
A inovação tecnológica aplicada as plataformas digitais é realizada
por meio de diversas ferramentas, metodologias e novas formas de
relacionamento que permitem o diálogo entre o portal da instituição
e o usuário. Dentre as mais variadas aplicações, vale ressaltar o uso
das mídias sociais como novos canais de relacionamento, tanto para
uxos de conversação quanto para distribuição de conteúdo aberto,
facilitando aplicações de recursos como o crowdsourcing (recursos
colaborativos), crowdlearning (aprendizagem colaborativa), open
source (código aberto), open data (dados abertos) e diversas outras
que potencializam a disseminação do conhecimento.
Thomas Baekdal - Where is Everyone?
57
PRIMITIVOS DIGITAIS
Fazer diferente é o lema da inovação. Para tal, a gestão da informa-
ção tem como desao inovar por meio de testes com as novas tecno-
logias e ferramentas que ganham o gosto da população, indo além da
simples distribuição de conteúdo realizada apenas por portais, mas
abrangendo novas ferramentas como blogs, mídias sociais, notícias
sociais, jogos, podcasts, webcasts e conteúdo direcionado (targeted)
para o usuário. É uma nova era de conexão e de novos desaos ao
prossional da informação que precisa incorporar estas inovações
em seu processo de gestão informacional.
58
III – FERRAMENTAS E TECNOLOGIAS PRIMITIVOS DIGITAIS
Big Data: você já não vive sem
Hoje, o grande trunfo da TI é sua capacidade de armazenamento de
dados, processamento de informações e velocidade de transmissão,
que são as bases do mercado contemporâneo.
O Big Data é um termo de mercado criado para o que chamamos
de “explosão informacional” ou, segundo a IBM, para a “acelerada
escala em que volumes cada vez maiores de dados são criados pela
sociedade.” O absurdo dessa explosão é tanto que já falamos em
petabytes e zetabytes de informações geradas todos os dias.
O princípio é o do caos. Estamos falando das informações que são
resultado de tudo que fazemos e que acabam virando dados em um
sistema de computador. A nota scal com CPF, a declaração para a
Receita Federal, as atividades da empresa numa intranet, a chamada
para um call center, uma compra online, tudo realizado via internet
e muitas vezes declarado nas redes sociais.
Para entender melhor, segundo artigo da IBM, o Big Data tem uma
fórmula simples para conceituá-lo.
59
PRIMITIVOS DIGITAIS
Big Data = volume + variedade +
velocidade + veracidade + valor.
Volume está claro. Geramos petabytes de dados a cada dia. O volu-
me aumenta exponencialmente.
Variedade também, pois estes dados vêm de sistemas estruturados
(hoje minoria) e não estruturados (a imensa maioria), gerados por
e-mails, mídias sociais (Facebook, Twitter, YouTube, entre outros),
documentos eletrônicos, apresentações estilo PowerPoint, mensa-
gens instantâneas, sensores, etiquetas RFID, câmeras de vídeo, etc.
Velocidade, porque muitas vezes é necessário agir praticamente em
tempo real sobre um imenso volume de dados, como em um contro-
le automático de tráfego nas ruas ou tráfego aéreo.
Veracidade, porque precisamos ter certeza que os dados fazem sen-
tido e são autênticos. Aqui a dedignidade e autenticidade é que con-
tam. Portanto o arquivista tem um papel primordial, anal ele é o
prossional que pode garantir este V.
Val or, p orq ue é ab sol uta ment e nec essá rio qu e a org aniz ação q ue im -
plementa projetos de Big Data obtenha retorno destes investimentos.
Independente do nível de privacidade da informação (se pública
ou restrita) o que importa é o que fazemos com esses dados. É aí
que entra o papel do “cientista de dados” que é o prossional que
irá cruzar essas informações e construir poderosas ferramentas de
dados sobre pessoas e comportamentos. Missão para arquivistas e
bibliotecários?
O cientista de dados analisa o todo e tira conclusões por meio de
sistemas de consolidação de informações. Li um artigo sobre Big
Data que diz:
“O uso do Big Data pode ser uma arma contra os problemas so-
cioeconômicos (sic), onde ele é interpretado com clareza no lme
“Moneyball” (O homem que virou o jogo), com o ator Brad Pitt, no
60
III – FERRAMENTAS E TECNOLOGIAS PRIMITIVOS DIGITAIS
qual o gerente de um time de beisebol usa o Big Data para reunir um
elenco de primeira linha sem gastar muito.” (Wikipedia).
Temos à disposição ferramentas básicas para lidar com o Big Data:
datamining (mineração de dados), o BI (Business Intelligence) que
é a ferramenta “per si” para Big Datas corporativos e outras ferra-
mentas que ajudam a inteligência na análise dos dados. E de outro
lado, como prossionais da informação que somos, podemos facili-
tar muito a coisa.
Se tivermos plataformas digitais que foram planejadas considerando
a padronização de metadados, a taxonomia para indexação e obser-
vando os princípios de arquitetura da informação, o trabalho pode
ser facilitado para todos. Estaremos estruturando um pedacinho
desse todo chamado Big Data.
61
PRIMITIVOS DIGITAIS
Gestão do conhecimento e do conteúdo
A gestão do conhecimento aplicada as plataformas digitais se res-
ponsabiliza não apenas pelas informações contidas em seus ambien-
tes, mas também pelas contidas na rede off-line, isto é, no conhe-
cimento tácito que precisa ser externalizado. Para garantir o uxo
de conteúdo e fortalecer uma rede sólida é necessário incentivar o
compartilhamento em formato distribuído, garantindo o uxo de
conversação e troca de informações entre diversas pessoas e canais
que possuem conhecimento acumulado. Estes, com habilidades e
informações distintas, mas com interesses em comum, potenciali-
zam uma rede, disseminando ideias, produzindo e compartilhando
conteúdo e construindo novos negócios e saberes.
Temos uma quantidade gigantesca de informações que passa a ser
produzida e disseminada por meio de aparelhos celulares, tablets ou
computadores, e pelas mídias sociais como Facebook ou blogs, ou
por ferramentas de compartilhamento de arquivos como Dropbox
ou Google Drive. A cada instante são criados arquivos de texto, ví-
deo, áudio e foto que facilitam a disseminação da informação, incen-
tivando o movimento de multidões e fortalecendo o conhecimento
numa sociedade conectada.
O conteúdo pode estar disponível nas plataformas digitais, mas a
forma de comunicação e disseminação das informações deve estar
alinhada às ferramentas aplicadas de acordo com tecnologias ofe-
recidas e condizentes com objetivos estratégicos institucionais. Um
exemplo disso é uma empresa que cria uma página no Facebook.
Ao publicar novos produtos, serviços ou notícias em seu portal, ela
deve, automaticamente, compartilhar as informações na página do
Facebook. É a garantia do uxo de informação que passa do portal
para a ferramenta. O mesmo acontece de um portal para um blog,
um podcast, um vídeo no YouTube, uma foto no Flickr ou qualquer
outro tipo de conteúdo que conecte o propósito da organização e
que é compartilhado nas ferramentas sociais. São registros institu-
cionais e, portanto, arquivísticos. A institucionalização destes regis-
tros é o ponto central da atuação dos prossionais da informação.
62
III – FERRAMENTAS E TECNOLOGIAS PRIMITIVOS DIGITAIS
Produção de conteúdo
A produção de conteúdo para plataformas digitais deve possuir uma
linha de temas a serem abordados que, agrupados, estão relacionados
com a proposta de valor da organização. No caso de um restaurante,
por exemplo, a produção de conteúdo aborda temas sobre culinária,
com fotos, receitas, vídeos das refeições sendo preparadas e demais
assuntos que se relacionam com a proposta inicial do negócio. Da
mesma forma a linha de conteúdo é aplicada em diversos modelos
de negócio. Condiciona-se, assim, a geração da informação digital a
um padrão institucional.
A instituição pode tanto produzir um conteúdo próprio quanto re-
mixar conteúdos existentes na web, atentando-se aos direitos auto-
rais de imagens, textos, artigos e vídeos, sempre apresentando a fon-
te do conteúdo inicial. No caso o melhor é optarmos pelo conteúdo
Copyleft, que garante essa remixagem e a citação de origem.
Para garantir a produção de conteúdo, deve-se trabalhar junto a um
prossional de comunicação, marketing ou jornalismo que irá inves-
tigar o mercado, as notícias que envolvem o ecossistema da organi-
zação, os eventos importantes da área, os novos produtos e serviços
da marca, o alinhamento com o conteúdo do portal e ter noções
básicas de mídias sociais para que, além de produzir conteúdo, ga-
ranta um uxo de conversação por meio das diversas ferramentas
adotadas pela organização.
O prossional de mídia social não só produz conteúdo para a or-
ganização, mas também é responsável pelo compartilhamento das
publicações (feeding) em diversas ferramentas, além da manutenção,
padronização de layout, comunicação, gerenciamento de conitos
das marcas e mensuração dos dados de acesso. Junto a este pros-
sional, o arquivista vai planejar o uxo integrado de informação e
denir os processos de indexação e preservação.
63
PRIMITIVOS DIGITAIS
Ao produzir conteúdo para a web 2.0, tanto para portais quanto
para as outras ferramentas aplicadas, deve-se atentar a aplicação de
palavras-chave (hashtags) nas publicações. São estes termos que irão
determinar o aparecimento da marca-organização nos resultados de
pesquisas na internet. É a forma como hoje são indexados os conte-
údos online e criam uma espécie de âncora entre os textos, exercitan-
do em sua potencialidade a ideia de hipertextualidade.
Utilizando uma padaria como exemplo de tagging em seus textos,
fotos, vídeos e demais publicações, ela sempre irá colocar palavras
que relacionem o conteúdo publicado com os temas que envolvem
o negócio. São palavras-chave como: confeitaria, bolo de aniversário,
pães quentinhos, panicadora, etc.
Palavras-chave (tags) identicam o conteúdo
64
III – FERRAMENTAS E TECNOLOGIAS PRIMITIVOS DIGITAIS
Política de mídia social
Para aprimorar o trabalho realizado nas mídias sociais, as instituições
precisam estabelecer políticas para que os responsáveis e colabora-
dores que tiverem acesso às publicações nos canais possam seguir
a mesma forma de comunicação, com mesma linguagem, design,
temas abordados, horários e conteúdos apresentados. É a criação
de uma política de atuação em redes sociais, prevendo também o
arquivamento e indexação das mensagens publicadas.
Um recurso muito utilizado é a criação de personas digitais. É denido
um grupo de parâmetros que molda o conteúdo e determina qual a
linguagem deve ser adotada. Para tanto, dene-se para a persona a sua
idade, quais os temas que aborda, quantas línguas fala e demais informa-
ções que traçam um perl a ser atendido por um padrão de publicação.
Tanto o prossional de mídias sociais que produz e compartilha o
conteúdo quanto os demais colaboradores da organização que pos-
suem acesso aos canais para publicarem conteúdo, cam alinhados
à narrativa padrão. Assim dene-se a geração de registros, condicio-
nando a gênese de conteúdo (ou documental) a padrões denidos.
Além de estabelecer a narrativa da persona digital, a gestão de mídias
sociais deve conter informações denidas sobre a linha de conteúdo
que será abordada, tais como sites de referência para a instituição
(sites de parceiros, fornecedores, concorrentes e outras organizações
que envolvem o ecossistema do negócio).
Outro ponto importante é denir se a produção de conteúdo é pró-
pria ou se haverá uma mixagem (mashup) de conteúdo externo para
publicar nos canais existentes. A produção própria exige mais tempo
do prossional responsável para pesquisar, coletar dados e produzir
um conteúdo exclusivo para a instituição. Existem diversos canais
como portais ou outras ferramentas 2.0: blog, página no Facebook,
Twitter, YouTube, SoundCloud, etc. Já a remixagem de conteúdo
permite adaptar textos, vídeos ou fotos já publicadas na internet
65
PRIMITIVOS DIGITAIS
(preferencialmente com uso de licença Creative Commons) para que
possam ser compartilhados.
No processo de denição da política de redes sociais, após deter-
minar a persona digital, a linha de conteúdo e a forma de produção
e tratamento informacional, é necessário denir quais serão as fer-
ramentas que estarão integradas com o portal, a periodicidade de
publicações e responsabilidade dos prossionais que irão fazer as
publicações e arquivamento.
Exemplo de controle de produção de conteúdo
66
III – FERRAMENTAS E TECNOLOGIAS PRIMITIVOS DIGITAIS
Ferramentas na web
No intuito de potencializar a comunicação da organização e o u-
xo de informação em uma plataforma digital, é necessário o uso de
diversas ferramentas e aplicativos que podem ser integradas com o
ambiente de gestão. Algumas ferramentas são consideradas também
plataformas, como por exemplo, o Ning, um serviço que permite
criar redes sociais especícas dentro dele, oferecendo diversas for-
mas de integração. Outro exemplo de plataforma é um site de vendas
de produtos onde o vendedor pode, junto com outros vendedores,
oferecer seus produtos dentro do ambiente de comércio eletrônico,
que já oferece ferramentas que facilitam a venda, como meios de
pagamento, fácil acesso por login, credibilidade e segurança.
As ferramentas se dividem entre diversas propostas de valor, seja
para se relacionar (redes de amigos), unir pessoas em comunidades
especícas (temas da sociedade), vender (e-commerce), aprender
(ensino a distância) e ensinar (crowdlearning), consumir conteúdo,
co-criar (crowdsourcing), colaborar (crowdfunding e open data) e
interagir com as propostas de entretenimento que diversos sites ofe-
recem gratuitamente ou de forma paga aos usuários.
Na maioria dos casos, em suas fontes de receita, as ferramentas gra-
tuitas utilizam em seus modelos de negócio a publicidade de anún-
cio, como o Facebook Ads, Google Adwords, banners dentro de
plataformas, entre outros meios. Já outras oferecem uma proposta
freemium, onde o usuário tem limitações dentro da versão gratuita
e, se desejar aprimorar a sua experiência, basta pagar para ter acesso
a versão completa da ferramenta.
67
PRIMITIVOS DIGITAIS
Exemplo freemium do hootsuite – dashboard para mídias sociais
A maioria das ferramentas de mídias sociais oferecem um serviço
inteiramente grátis ao usuário, onde lucram, em seus modelos de ne-
gócio, por intermédio de anúncios realizados pelas empresas que são
direcionados para cada usuário de acordo com as suas preferências.
O Google e o Facebook trabalham com esse modelo e oferecem
diversas ferramentas gratuitas que podem potencializar o posiciona-
mento do portal na internet de uma forma diferente.
O prossional da informação deve observar as condições de cedên-
cia ou não de direitos autorias, cópias e segurança, além de estudar
em cada um destes serviços o processo de institucionalização da in-
formação, como que o conteúdo gerado nestes serviços externos e
gratuitos pode ser internalizado pelo serviço de informação e torná
-lo, portanto, uma fonte de informação orgânica.
68
III – FERRAMENTAS E TECNOLOGIAS PRIMITIVOS DIGITAIS
Redes ou Mídias Sociais?
Mídias sociais não são redes sociais. Redes sociais são pessoas conec-
tadas no mundo off-line, sem ferramentas, onde construíram laços
de amizade e contato no decorrer de suas vidas, seja na família, na
escola, no trabalho e na comunidade. As pessoas que se conhecem
possuem laços, e esses laços denem se a rede é sólida ou não. Vide
abaixo o gráco sobre topologia de redes, criado por Paul Baran na
década de 1950 e que resume as formas de estrutras de redes:
Topologias de rede – Paul Baran
Mídias sociais são as ferramentas da internet que permitem aos usu-
ários se relacionarem entre si e com as marcas e organizações que
estão presentes na web. Atualmente, as mídias sociais mais utilizadas
são: Facebook, Twitter, blogs, Pinterest e diversos aplicativos para
celulares (smartphones) que permitem a conexão.
69
PRIMITIVOS DIGITAIS
Utilizando o conceito das redes sociais off-line de pessoas conecta-
das, as mídias sociais surgiram para potencializar o relacionamento
entre redes já existentes de pessoas, facilitando a comunicação por
meio de meios rápidos, baratos e lúdicos de comunicação.
O conceito “o2o” (online to off-line) é extremamente importante ao
cruzar as redes sociais com as mídias sociais, traçando estratégias que
abordem conteúdo e publicações relacionadas ao cotidiano da vida
das pessoas na sociedade, no local e onde a marca ou organização
atua.
Ao denir a política para mídias sociais é necessário levantar quais
são as necessidades principais da instituição nesta atuação. É a partir
dos objetivos principais que são denidas as melhores ferramentas
para trabalhar na web 2.0 em conjunto com plataformas digitais.
Check-list para denição de uso de rede social
70
III – FERRAMENTAS E TECNOLOGIAS PRIMITIVOS DIGITAIS
Crowdsourcing e Crowdlearning
Outras ferramentas na web permitem a marca ou organização rea-
lizarem processo de crowdsourcing e crowdlearning dentro de am-
bientes digitais da instituição. Tal fato modica alguns parâmetros
tradicionais de autoria e registro de informações.
O crowdsourcing é baseado na busca por dados na sociedade (ou
mercado) que podem agregar valor para a instituição ou para uma
pessoa. Para isto, abre-se informações institucionais para que se re-
ceba da comunidade novas ideias e soluções para determinados pro-
blemas. Existem diversas plataformas de co-criação que modicam
os conceitos de produção, tanto informacional como de produtos
de consumo, sendo uma realidade que deve ser confrontada pelos
prossionais da informação e arquivistas.
As ações de crowdsourcing são realizadas com o apoio de diversas
ferramentas de social media, denindo regras, premiações especiais
(não necessariamente em dinheiro – atualmente possuem outras for-
mas de premiações como badges, stickers e exposição do ganhador
na mídia social), mecânica das publicações, tipos de conteúdo e ou-
tros fatores que permitem ao usuário colaborar com a marca, pro-
duzindo conteúdo em massa e, consequentemente, gerando uxo,
relevância e posicionamento para uma empresa ou instituição. Cabe
deixar claras as regras de contribuição, autoria e de registro da parti-
cipação social nestas ações.
Um exemplo é uma ação do período de natal, realizada por uma
empresa que solicitou fotos de decoração natalina para os usuários
participarem de um concurso. Em troca de um prêmio, os usuários
postaram diversas fotos que contribuíram com a construção de um
banco de imagens com a hashgtag (palavra-chave) da empresa, posi-
cionando-a na internet e garantindo a relevância do conteúdo posta-
do em suas redes. Este é uma forma de gerar conteúdo colaborativo
e aproximar a empresa dos usuários.
71
PRIMITIVOS DIGITAIS
Já o crowdlearning emprega diversas formas de aprendizado coletivo
e colaborativo. Existem sites que permitem aos usuários interagirem
entre si para trocar informações importantes sobre determinado as-
sunto, na maioria das vezes com enfoque acadêmico e voltado para
temas especícos.
Além de englobar setores acadêmicos de instituições de ensino, alu-
nos e professores, o crowdlearning possibilita que as pessoas apren-
dam com apoio da dinâmica de jogos, com premiações (como no
crowdsourcing), pontos, badges e são destacadas como “melhores
professores”, “melhor colaborador”, etc. Este tipo de recurso incen-
tiva os usuários a fazerem parte de um ambiente de crowdlearning.
O crowdlearning pode ser aplicado de diversas maneiras, uma delas
é pelo uso das mídias sociais (Facebook, Twitter, Instagram, etc), uti-
lizando hashtags e incentivando o uxo de conversação em cima de
algum tema especíco, com o objetivo de coletar dados, possibilitar
o aprendizado mútuo e o compartilhamento do conhecimento. É
um novo elemento importante na gestão do conhecimento.
Além das mídias sociais, algumas plataformas digitais possuem suas
próprias páginas ou ambientes de aprendizagem colaborativa que
permitem a aplicação do crowdlearning entre os colaboradores e
usuários. Estes ambientes geram registros orgânicos e perenizam o
conhecimento tácito através da participação e interação social.
72
III – FERRAMENTAS E TECNOLOGIAS PRIMITIVOS DIGITAIS
Podcasts e webcasts
Diversos usuários e instituições pelo mundo já adotaram o podcast
como forma de registrar e disseminar o conhecimento. Uma das fer-
ramentas utilizadas, por exemplo, é o SoundCloud. O serviço per-
mite que o usuário grave conversas, bate-papos e entrevistas que
pode ser escutado no computador, em telefones celulares, tablets ou
tocadores de mp3. É possível ouvir os programas por meio de um
aplicativo que também possibilita a gravação, edição e publicação de
um podcast direto do celular.
The Truth Podcast – um colaborador dissemina notícias e
informações sobre NY
73
PRIMITIVOS DIGITAIS
A criação de registros fonográcos aumenta consideravelmente e
acaba sendo um desao aos prossionais da informação. Se de um
lado temos ferramentas que facilitam, o registro de conheciemtno e
informações, de outro os desaos são crescentes.
Caso haja pessoas dispostas a gravarem entrevistas, bate-papos ou
demais informações relevantes sobre temas especícos relacionados
a empresa ou instituição, a ferramenta permite publicar o player do
podcast direto no site, por meio de um código html.
Webcast da Oxford University – compartilhando conhecimento em vídeo
Os webcasts seguem no mesmo conceito dos podcasts só que em
vídeo. Ferramentas como o YouTube e hangout do Google permi-
tem a gravação e publicação de eventos, entrevistas, aulas, seminários
e bate-papos. Nunca foi tão fácil registrar o cotidiano institucional.
Existem diversas ferramentas gratuitas que permitem a gravação, edi-
ção e compartilhamento de conteúdo audiovisual facilmente. E, assim
como os podcasts, os webcasts também podem ser colocados, via có-
digo html, em uma página aberta no portal da empresa ou instituição.
74
III – FERRAMENTAS E TECNOLOGIAS PRIMITIVOS DIGITAIS
Embed do YouTube – permite compartilhar o conteúdo dentro do portal
Cabe ao prossional da informação manter um mapeamento com-
pleto destes registros colaborativos e institucionais, possibilitando
(com o uso de hashtags) sua recuperação e uso. E, assim como as
mídias sociais, realizar a cópia destes registros que devem ser institu-
cionalizadas, para garantir que estas informações sejam preservadas.
75
PRIMITIVOS DIGITAIS
Bancos de ideias
Os bancos de ideias fazem parte da tecnologia de crowdsorcing,
onde a organização pode, por meio do próprio portal, abrir uma
página para receber ideias dos usuários que queiram colaborar de
alguma forma com o sua instituição. A aplicação de um banco de
ideias pode ser realizada por meio de uma página aberta, com expo-
sição de todas as informações e espaço para que novas ideais possam
ser incluídas pelos usuários.
Um exemplo de ferramenta simples e gratuita que pode ser imple-
mentada em portais é o formulário do Google, criado por meio do
Google Drive. Nele é permitido abrir caixas com perguntas e espaço
para respostas, onde é possível coletar diversas ideias dos usuários
para, então, formar um banco de ideias único, possibilitando a or-
ganização possuir informações relevantes que irão colaborar com a
proposta de valor e o modelo de negócio da empresa.
A internet possibilita que as pessoas colaborem com a solução de
problemas em qualquer parte do mundo, onde estiverem. A insti-
tucionalização do conhecimento gerado é ponto de atenção ao se
planejar ambientes colaborativos como este.
76
III – FERRAMENTAS E TECNOLOGIAS PRIMITIVOS DIGITAIS
Integração do ofine com o online
Deve ser praxe de extrema importância alinhar os eventos off-line
com as ações online de uma instituição. Por exemplo: para um even-
to social, é importante que o prossional responsável pela cobertura
do evento possa rapidamente publicar o conteúdo produzido (fotos,
vídeos e textos) nos diversos canais da web e mídias sociais da insti-
tuição. A partir daí ca garantido o engajamento entre o público que
está no evento (off-line) e o público que está acompanhando pela
web (online).
O uso de hashtags (#) propicia uma maior visibilidade e engajamen-
to das pessoas que estiveram presentes nos eventos, pois após o pri-
meiro contato com a organização, elas têm a possibilidade de conti-
nuar o uxo de informação e troca de conhecimento por meio das
mídias sociais e diversas outras ferramentas que a web proporciona.
Nestes eventos presenciais, ou em serviços de informação, também
podem ser aplicadas metodologias de negócios para incentivar o com-
partilhamento do conhecimento. Algumas delas, que incentivam a
interação, a inovação e a geração de novos modelos, são: Business
Model Generation (Canvas), Design Thinking e Elevator Pitch.
O Business Model Generation é uma metodologia que permite que
uma pessoa ou um grupo de pessoas possam prototipar uma ideia
ou um negócio já estabelecido por meio de um quadro visual (can-
vas) contendo nove blocos que separam o negócio. A metodologia
incentiva a interação e a troca de conhecimento de forma lúdica e
ecaz, permitindo que os setores do negócio possam, de certa for-
ma, serem modicados por todos os envolvidos no modelo de negó-
cio. A metodologia pode ser aplicada pela equipe responsável pelos
ambientes digitais da organização. É uma metodologia aplicável para
serviços de informação (arquivos e bibliotecas) para a criação de
produtos de informação.
77
PRIMITIVOS DIGITAIS
Já o Design Thinking é um método prático e criativo de solução de
problemas ou questões, com vistas a um resultado futuro. De uma
visão estratégica, o design thinking visa abrir o conteúdo que a orga-
nização possui com as pessoas envolvidas, agrupá-los em conheci-
mento e capacidades especícas, gerar novas ideias, novos negócios,
prototipar, criar e fazer acontecer.
MARTIN (2009), “The design of business: why design thinking is the next
competitive advantage”
Mas de nada valem as ideias e projetos se eles não são bem apre-
sentadas. Por isso surgiu um novo termo que ganhou o mundo dos
negócios: elevator pitch. É um método no qual uma pessoa apresen-
ta uma ideia de forma resumida e enxuta a ponto de conquistar um
investidor em um elevador dentro de trinta segundos.
O elevator pitch considera os fatores mais importantes do negó-
cio na hora da apresentação e é acompanhado de poucos materiais,
como slides ou áudio, pois o seu foco é apresentar a ideia no mínimo
de tempo possível.
O elevator pitch se alastrou no mundo dos negócios e também po-
deria ser empregado nos serviços de informação, garantindo que as
informações sejam comunicadas de forma rápida e corretas. Reuni-
ões podem ser otimizadas se forem realizadas no espírito do Eleva-
tor Pitch.
78
III – FERRAMENTAS E TECNOLOGIAS PRIMITIVOS DIGITAIS
Gadgets
Gadget é o nome dado aos aparelhos (hardwares) da vida tecnológi-
ca. Computadores, notebooks, tablets e smartphones estão na lista.
Eles fazem parte da nova era da informação pois são ferramentas
que possibilitam o compartilhamento de informações de uma forma
cada vez mais rápida e ecaz.
Atualmente pessoas no mundo todo adotam novos gadgets ao seu
estilo de vida, fazendo com que o tablet, como Galaxy Tab ou iPad,
passe a fazer parte da sua vida todas as noites, seja para ler um livro,
acessar um site ou qualquer outro tipo de entretenimento e funcio-
nalidade. Além de relacionar de forma inovadora a força de trabalho
com as instituições.
O cenário muda constantemente e os gadgets têm evoluído mui-
to em vários conceitos. As empresas que produzem esses aparelhos
também lançam novas versões (atualizações) de softwares, que apri-
moram a usabilidade com as necessidades do ser humano.
Para acompanhar esse cenário é importante que as interfaces de pla-
taformas digitais garantam a acessibilidade dos usuários por meio
dos smartphones e tablets. Assim, é garantido o acesso às informa-
ções, o relacionamento direto entre canais e uxos de informação,
que são possibilitadas por esses meios. O uso de interfaces responsi-
vas, que se adequam ao navegador é uma boa opção na maioria das
vezes e sempre indico nas aulas de arquitetura da informação que
ministro.
79
PRIMITIVOS DIGITAIS
Aplicativo para Smartphones
Existem diversos aplicativos que foram criados especicamente para
smartphones. Eles permitem que as pessoas conversem entre si, pu-
bliquem fotos, vídeos, compartilhem locais, escrevam dicas sobre es-
tabelecimentos e disseminem o conhecimento de diversas maneiras.
A gestão documental hoje pode ocorrer num celular. Existem di-
versos serviços de workow que demandam aprovações de gestores
e são realizados via aplicativos em seus celulares. Com o celular é
possível escanear um documento para visualização (a resolução ge-
ralmente é para leitura), por exemplo. Tais aplicativos, com funcio-
nalidades que entregam experiência, produtos e serviços, suprem as
necessidades das pessoas (e portanto das instituições) diretamente
pelo celular.
81
Uga uga
Minhas divagações juvenis escritas em arquivo Carta Certa3 talvez
nunca sejam lidas novamente. Entre o cartão perfurado e o disquete
de 3 e ¼ temos uma história que se foi. Muitos sites já fecharam, o
Geocities (que durou até 26 de outubro de 2009) por exemplo, tinha
a memória de todo o início da web comercial. Agrupava assuntos
por cidades, uma proposta de classicação inovadora para os já dis-
tantes anos 90.
Logo após a web comercial ter dado certo, a informação digital to-
mou de assalto as instiuições, empresas e governos, gerando um
novo tipo de relação entre usuários e informações, por intermédio
dos portais corporativos (ou plataformas digitais). A partir disso, de-
senvolveu-se a gestão do conhecimento e da informação, abrindo
nova seara de trabalho para os prossionais da informação.
Seguindo isso, temos a realidade 2.0 trazendo a colaboração e o am-
biente social impactando no processo de recuperação e geração da
informação. A abordagem arquivística é de que as informações or-
gânicas são agora geradas nos processos de negócios, numa nova
forma de fazer as atividades, englobando a realidade digital.
3 Software editor de textos precursor ao Word da Microsoft.
82
PRIMITIVOS DIGITAIS
Os portais hoje comportam tanto as manifestações colaborativas
quanto as normativas, indo das comunidades de prática até os sis-
temas de gestão documental. Atualmente as plataformas digitais são
as zonas de atuação dos primitivos digitais. Cabe a nós, prossionais
da informação, ter claro o processo de geração e tratamento do con-
teúdo gerado nas atividades das instituições. É a nossa realidade ar-
quivística, agora amplamente potencializada pela informação digital
e pelas tecnologias de acesso.
Conseguimos entender as ferramentas utilizadas e ter clareza a res-
peito dos processos digitais e da estruturação e preservação obser-
vando a realidade das instituições. A consciência de que somos os
primitivos digitais precisa ser lembrada. Ainda não conseguimos im-
plantar de forma adequada a preservação digital. A informação em
sua gênese pode ser tratada e a abordagem arquivística é cada vez
mais necessária.
Com isso, é importante saber que o que fazemos tem impacto na
história a ser escrita. Anal, denimos o que será preservado e o que
será descartado; nisso interage nossa missão como prossionais da
informação e nosso papel de interesse na humanidade. Por isso, todo
o conteúdo aqui apresentado é um esforço para que, mesmo sendo
primitivos digitais, consigamos prospectar um futuro arquivístico
para nossa informação. Para esta missão a abordagem arquivística é
mais do que necessária.
83
PRIMITIVOS DIGITAIS
O futuro
Porque em breve teremos novos desaos que parecem saídos das
páginas de cção cientíca. Logo deveremos pensar nas revoluções
causadas pela impressão 3D, que pode alterar completamente o
modo de produção e acesso a mercadorias; pela internet das coisas,
que irá conectar todos os dispositivos em rede, e que precisa ter uma
ótima estrutura de web semântica para dar certo; pela ubiquidade e o
ciborguismo, que são informações em interfaces corpóreas (sim, ha-
verá implantes no corpo humano para facilitar o acesso e a conexão
com redes e informações); e pela informática quântica, que altera os
protocolos de criptograa e processamento de informação.
O cenários para os próximos anos é desaador e uma abordagem
arquivística pode determinar a forma como todas estas informações
poderão ser tratadas, registradas e disponibilizadas. Neste ponto da
história onde a tecnologia e a conexão em rede estarão praticamente
invisíveis, permeando cada um dos nossos passos e troca de infor-
mações, deixaremos de ser primitivos digitais. Seremos exploradores
de novas realidades. O que cou de registro desta era primitiva, só os
arquivistas poderão dizer.
PRIMITIVOS DIGITAIS
85
PRIMITIVOS DIGITAIS
Posfácio
Escrita rupestre em
telas touchscreen
Mais uma vez, Charlley Luz nos brinda com um texto ágil, coerente e
ousado que busca ampliar a visão dos prossionais sobre a ação dos
arquivistas no mundo digital globalizado. Seu novo trabalho, com o
sugestivo título de “Primitivos Digitais: uma abordagem arquivísti-
ca”, é claramente uma continuidade e uma evolução do pensamento
iniciado com “Arquivologia 2.0: a informação digital humana”, que
tive o prazer de prefaciar.
Nessa nova empreitada, Charlley Luz procura nos levar a questões
não aprofundadas no texto anterior, além de ampliar um pouco mais
suas abordagens iniciais. Não por coincidência esse livro está divido
em três partes: Nosso primitivismo, Mapas e Estruturas e Ferramen-
tas e Tecnologias. É claramente uma abordagem do geral para o
especíco. Primeiro trazendo informações gerais que, aos poucos,
vão se congurando e estruturas de pensamento e, nalmente, se
modelando por meio das tecnologias à disposição (e ao confronto)
dos prossionais da informação.
A despeito de Charlley comumente registrar “arquivistas e demais pro-
ssionais da informação”, direciono meus comentários aos arquivistas,
86
PRIMITIVOS DIGITAIS
prossionais da informação com cuja atuação estou mais familiariza-
do. Cono, contudo, que meus comentários são, com pouca ou ne-
nhuma adequação, aplicáveis a quaisquer prossionais da informação.
Em “nosso primitivismo”, Charlley demonstra sua visão da socie-
dade da informação, discorrendo sobre o papel dos cidadãos co-
nectados e o necessário investimento na formação dos arquivistas
para lidar com esse novo mundo. Lembra-nos algo que a academia
vem defendendo já há algum tempo, mas que não vem se reetindo
na prática cotidiana de trabalho, a interação entre as diversas áreas
do conhecimento em busca de um bem comum e da solução de de-
mandas informacionais. O autor propõe efetiva interdisciplinaridade
com áreas como arquitetura da informação, gestão do conhecimen-
to, aplicação de conceitos como economia criativa, entre outros. Res-
salta ainda que, surpreendemente para alguns, as novas tecnologias
não estão levando a prossão arquivista ao desaparecimento. Muito
ao contrário, “no primitivismo digital, somos todos arquivistas”.
Acredito que, diferente do que possa parecer aos leitores não fa-
miliarizados com os escritos de Charlley, isso nada tem a ver uma
possível armação de que a Arquivística é uma área sem grandes
questões epistemológicas ou que é constituída por uma teoria fraca,
anal, qualquer um poderia ser um arquivista. Na realidade, é a cha-
mada para o fato de que, mesmo nas atividades mais comuns - como
fotografar eventos e pessoas com câmera de telefone celular -, as
pessoas começam a perceber que pode perder sua memória pessoal,
caso não gerencie adequadamente seus documentos.
É um pensar arquivístico, uma abordagem que, mesmo que os pro-
dutores documentais não saibam, valoriza a prossão que, muitas
vezes, até desconhecem.
Nesta abordagem inicial, Charlley tece analogias bastante adequadas
sobre a adoção de conceitos arquivísticos consagrados, como orga-
nicidade, proveniência, cumulatividade e unicidade, demonstrando
que, em muitos casos, não há necessidade de renovação, senão a apli-
cação coerente do conhecimento arquivístico consagrado. Tece, ain-
da, en passant, um panorama sobre o uso das tecnologias para gestão
de documentos digitais arquivísticos, permitindo evidenciar que isso
87
PRIMITIVOS DIGITAIS
não é novidade. A novidade recai na participação dos arquivistas na
denição dos requisitos para o desenvolvimento dessas tecnologias.
Na seção “Mapas e estruturas”, Charlley Luz aborda a atuação do
arquivista num contexto 2.0, adjetivando-o como “curador digital”.
Inicialmente retoma a questão da relação entre as disciplinas, de for-
ma transdisciplinar, anal, novos instrumentos são necessários para
a gestão da informação no mundo digital. Algumas delas fora do do-
mínio comum da arquivística. Neste âmbito retoma discussões sobre
os interesses arquivísticos vinculados a, dentre outros, arquitetura de
interface, taxonomias, gestão de conteúdos, streaming media, hiper-
links dinâmicos, arquitetura de participação e inteligência articial.
O autor permanece com seu rme propósito de colocar contra a
parede alguns dogmas naturalizados da área. Assim não se furta em
discutir a “informação arquivística”, propondo uma denição que,
certamente, provocará discussões calorosas – muito embora o autor
deixe claro sua crença na necessidade de se buscar uma denição
mais clara no país.
Os portais e intranets passam a se constituir de um novo campo de
ação dos arquivistas, mas, comparativamente a realidade recente, a
que se referem? Documento, informação, massas documentais ou
arquivos? O autor considera que vão além do documento, das mas-
sas documentais e dos arquivos! São informações que demandam
interfaces para o acesso de um usuário que não tem qualquer interes-
se em saber que prossional permitiu que sua busca fosse frutífera,
adequada e tempestiva. Todavia, é evidente que, conforme registra o
autor, essas informações ainda carecem de tratamento arquivístico.
Ao retomar as relações da arquivística com a arquitetura da infor-
mação, o autor esclarece que vários processos arquivísticos possuem
similaridades com aquela área. Observa que as ações do arquivista ao
buscar entender o contexto de produção dos documentos, descrevê
-los e arranjos intelectualmente, está “arquitetando a organização das
informações de um arquivo”.
Concluindo a segunda seção do livro, Charlley faz uma digressão
pontual sobre GED, GDE, digitalização, documentos natos digitais,
88
PRIMITIVOS DIGITAIS
cópias e originais digitais, diferenciando-os e abordando aspectos so-
bre sua natureza e recursos tecnológicos relacionados.
Finalmente, na seção “Ferramentas e tecnologias”, Charlley lança
luz, no viés arquivístico, sobre a aplicação de tecnologias no trata-
mento da informação digital. Neste escopo destacam-se os textos
sobre inovação tecnológica, big data e mídias sociais.
Ao discorrer sobre inovação tecnológica, o autor trás para a realida-
de dos arquivistas termos como crowdsourcing, crowdlearnig, além
dos já conhecidos open source e open data. A ideia central desta
seção pode ser resumida na utilização de ferramentas - como blo-
gs, mídias sociais e conteúdo direcionado - para estabelecer novos
tipos de relacionamentos entre os usuários dos arquivos e as infor-
mações demandadas. Em outras palavras, fazer diferente! O que já
ocorre em algumas instituições estrangeiras, que utilizam recursos
web para, por exemplo, com a colaboração dos cidadãos, (re)indexar
documentos publicados (tagging), descrever fotograas ou transcre-
ver textos paleográcos, ou ainda, socializar o resultado de pesquisas
realizadas com base e, documentos do acervo.
Ao escrever sobre o big data, o autor nos lembra que esse termo foi
cunhado para representar os zetabytes de informações produzidas
diariamente e disponibilizadas via web. Nos cinco “v” da equação
que representa o big data (volume, variedade, velocidade, veracidade
e valor), o que mais nos chama a atenção é a veracidade porque se
relaciona à necessidade de os usuários das tecnologias utilizadas para
minerar dados da web atentarem para questões como a legitimidade
da fonte pesquisada. Observamos que poderíamos muito bem acres-
centar o “v” de volatibilidade. Anal, muitas informações podem
perder sua validade, não justicando seu armazenamento, no que se
pode vericar a possibilidade de inserção da avaliação arquivística.
Charlley considera que, ao se utilizar das mídias sociais, a instituição
deve se valer de metodologias próprias a esse meio para constituir
sua “persona digital”, linha de conteúdo e forma de produção otimi-
zando os resultados obtidos. Neste aspecto, senti falta da abordagem
arquivística no que respeita à gestão das informações ali produzidas,
incluindo avaliação e descarte. Isso porque, cada vez mais, essas re-
89
PRIMITIVOS DIGITAIS
des produzem registros que não se encontram em outros lugares,
constituindo-se de informações únicas sobre as atividades realizadas
e o relacionamento das instituições com seus clientes.
Ao concluir a leitura de “No primitivismo digital”, acredito que mui-
tas das questões levantadas por Charlley Luz estão imbrincadas nas
seguintes perguntas no que diz respeito à atuação prossional dos
arquivistas:
• há uma renovação do perl do prossional ou fuga do esco-
po da área?
• o arquivista vem identicando e atuando em novas especia-
lizações com base em sua formação ou essas novas atuações
independem da Arquivística?
• neste sentido, o conhecimento arquivístico vem sendo, pe-
remptoriamente, ignorado ou aprimorado?
São perguntas que precisam ser confrontadas e respondidas com se-
riedade, anal tem reexo direto no entendimento do que constitui-
se a prossão arquivista e sua adequação aos novos tempos.
A despeito deste fato, se pode armar que a área arquivística pode
abarcar questões como estudos de taxonomias arquivísticas não ex-
clusivamente para planos de classicação, mas para aplicações como,
por exemplo, a identicação da sensibilidade da informação (gestão
de risco). Também exige a gestão dos “novos” documentos (men-
sagens de correio eletrônico, documentos colaborativos, portais, co-
municações nas redes sociais etc.) e a concatenação dos conceitos
teóricos e de xpráticas de outras áreas e disciplinas, como a gestão
do conhecimento que abrange questões comumente ignoradas pela
área, como reuso da informação e o conhecimento tácito.
Para concluir, observo que, no posfácio ao “Arquivologia 2.0”,
Charlley arma que o que difere o Mundo 1.0 do 2.0 é a atitude.
Então, arquivistas, deixaremos nossa marca no passado tal qual nos-
sos antepassados mais antigos e suas escritas rupestres, desta feita
usando carimbos em telas touchscreen? Ou tomaremos a atitude de
reestabelecimento, reinvenção e, quiçá, inovação da prossão, alçan-
do-a a novos patamares, ampliando seus horizontes e demonstrando
90
sua aplicação, inclusive no tratamento dos bits que constituem as
informações e documentos que são a base de nossa sociedade con-
temporânea?
Neste livro, Charlley Luz demonstra que o campo está aberto para
o arquivista mostrar a que veio, rearmando seu papel social e sua
importância para a memória individual e coletiva, seja de pessoas
ou instituições! Participar ativamente do gerenciamento das infor-
mações orgânicas nesse novo universo tecnológico é o que colocará
o arquivista entre os prossionais que garantirão a preservação da
nossa história para as gerações futuras.
Brasília, 2 de julho de 2015.
Vanderlei Batista dos Santos
Arquivista, Mestre e Doutor em Ciência da Informação pela Universidade de Brasília.
Tempo vivido é memória,
tempo documentado é informação.
www.arquivista.net
www.facebook.com/arquivistanet