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Corpoconsciência, Cuiabá-MT, vol. 22, n. 03, p. 49-57, set./dez., 2018
ISSN 1517-6096 – ISSNe 2178-5945
INFLUÊNCIA DO TREINAMENTO FUNCIONAL SOBRE A APTIDÃO FÍSICA
DE IDOSAS ATIVAS
INFLUENCE OF FUNCTIONAL TRAINING ON THE PHYSICAL FITNESS
OF ACTIVE ELDERLY
INFLUENCIA DEL ENTRENAMIENTO FUNCIONAL SOBRE LA APTITUD
FÍSICA DE MAYORES
Antônio Gomes de Resende-Neto
Universidade Federal de Sergipe, Aracajú, Sergipe, Brasil
Email: neto.resende-edf@hotmail.com
Bruna Caroline Oliveira Andrade
Universidade Federal de Sergipe, Aracajú, Sergipe, Brasil
Email: oliveiraa.atendimento@gmail.com
Gabriel Vinicius dos Santos
Universidade Federal de Sergipe, Aracajú, Sergipe, Brasil
Email: gabrielviniciusufs@gmail.com
Diego Augusto Nascimento Santos
Universidade Federal de Sergipe, Aracajú, Sergipe, Brasil
Email: diegoaugustoufs@gmail.com
Levy Anthony Souza de Oliveira
Universidade Federal de Sergipe, Aracajú, Sergipe, Brasil
Email: levyanthonysouza@gmail.com
Iohanna Gilnara Santos Fernandes
Universidade Federal de Sergipe, Aracajú, Sergipe, Brasil
Email: iohanna.aju@hotmail.com
Marzo Edir Da Silva-Grigoletto
Universidade Federal de Sergipe, Aracajú, Sergipe, Brasil
Email: pit_researcher@yahoo.es
RESUMO
O objetivo deste estudo foi verificar o efeito do treinamento funcional sobre a flexibilidade, equilíbrio,
capacidade cardiorrespiratória e força muscular em idosas. A amostra foi dividida em Grupo Funcional - GF
(n=16, 67,1±3,7 anos) e Grupo Convencional – GC (n=14; 63,9±4,7 anos). Avaliou-se o índice de massa
corporal e a relação cintura/quadril. Para verificação da aptidão funcional foi utilizado parte da bateria Senior
Fitness Test. A análise dos dados foi feita mediante ANOVA. O presente estudo verificou em relação aos
valores iniciais melhora significativa do GF na força, flexibilidade e capacidade cardiorrespiratória, sem
diferença estatística do GC. Já no equilíbrio tanto na análise inter como na intragrupos o GF apresentou
aumento estatisticamente significativo. Em relação às variáveis antropométricas não foram encontradas
diferenças em nenhuma das análises. Conclui-se que o protocolo de treinamento funcional aplicado
demonstra-se eficiente na melhora da aptidão funcional em idosas ativas.
Palavras-chave: Treinamento Resistido; Envelhecimento; Atividades Diárias; Qualidade de Vida.
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Corpoconsciência, Cuiabá-MT, vol. 22, n. 03, p. 49-57, set./dez., 2018
ISSN 1517-6096 – ISSNe 2178-5945
Resende-Neto, A. G. de, Andrade, B. C. O., Santos, G. V. dos, Santos, D. A. N.,
Oliveira, L. A. S. de, Fernandes, I. G. S. e Da Silva-Grigoletto, M. E.
ABSTRACT
The objective of this study was to verify the effect of functional training on flexibility, balance,
cardiorespiratory capacity and muscular strength in the elderly. The sample was divided into Functional
Group - FG (n = 16, 67,1±3,7 years) and Conventional Group - CG (n = 14; 63,9±4,7 years). Body mass
index and waist / hip ratio were evaluated. To verify the functional fitness was used part of the Senior Fitness
Test battery. Data analysis was performed using ANOVA. The present study verified a significant
improvement in FG in strength, flexibility and cardiorespiratory capacity, with no statistical difference in GC.
Already in the balance in both the inter and intragroup analyzes the FG presented a statistically significant
increase. Regarding the anthropometric variables, no differences were found in any of the analyzes. It is
concluded that the applied functional training protocol is efficient in improving functional aptitude in active
elderly women.
Keywords: Resistance Training; Aging; Daily Activities; Quality of Life.
RESUMEN
El objetivo de este estudio fue verificar el efecto del entrenamiento funcional sobre la flexibilidad, equilibrio,
capacidad cardiorrespiratoria y fuerza en ancianas. La muestra fue dividida en Grupo Funcional - GF (n=16,
67,1±3,7 años) y Convencional - GC (n=14, 63,9±4,7). Se evaluó el índice de masa corporal y la relación
cintura/cadera. Para la verificación de la aptitud funcional se utilizó parte de la batería Senior Fitness. El
análisis de fue realizado mediante ANOVA. Se verificó en relación a los valores iniciales mejora significativa
del GF en la fuerza, flexibilidad y capacidad cardiorrespiratoria, sin diferencia estadística del GC. En el
equilibrio tanto en el análisis inter como en la intragrupos el GF presentó un aumento significativo. En
relación a las variables antropométricas no se encontraron diferencias en ninguno de los análisis. Se
concluye que el protocolo de TF aplicado se muestra eficiente en la mejora de la aptitud funcional en
ancianas.
Palabras clave: Entrenamiento Resistido; Envejecimiento; Actividades Diarias; Calidad de Vida.
INTRODUÇÃO
O envelhecimento é um fenômeno mundial.
Em 1991, representava 4,8% da população
brasileira, em 2000, 5,8% e, atualmente, 7,4%,
sendo estimado ultrapassar a marca de 64
milhões de indivíduos com mais de 60 anos até
2050 (IBGE, 2010). Trata-se de um processo
dinâmico e natural do desenvolvimento humano,
que envolve alterações neurobiológicas e
psicossociais, acompanhadas com a diminuição
da capacidade funcional e, assim incrementa a
possibilidade de desenvolver doenças crônico-
degenerativas (GARATACHEA et al., 2015). Esse
declínio da capacidade funcional pode ser
explicado em parte pela redução da capacidade dos
sistemas cardior-respiratório e musculoesquelético,
responsáveis pela inaptidão para desempenhar as
atividades consideradas básicas, mas essenciais
para manutenção de um estilo de vida independente
(HUNTER et al., 2016).
Dentre as diferentes estratégias adotadas
para atenuar os efeitos deletérios da senescência,
a prática sistematizada do treinamento de força é
a principal intervenção não farmacológica, capaz
de promover inúmeras adaptações favoráveis à
saúde e à qualidade de vida (WESTCOTT,
2012). No entanto, apesar de existir uma
associação entre atividade física e saúde, a maior
parte da população idosa é inativa devido o
fenômeno da urbanização de nossas sociedades
refletindo diretamente no estilo de vida
sedentário. Nessa perspectiva, a capacidade
funcional surge como novo paradigma na área de
saúde, direcionando pesquisadores a conhecer
novos métodos de treinamento e seus benefícios
para prevenir ou restaurar as possíveis
incapacidades e proporcionar maior adesão a
pratica sistematizada (DASKALOPOULOU et
al., 2017).
Nesse contexto, tem se tornado crescente a
busca por programas de treinamento que visam
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Influência do treinamento funcional sobre a aptidão física de
idosas ativas
majoritariamente adaptações multisistêmica
antienvelhecimento, priorizando o princípio da
especificidade e também o desenvolvimento da
força muscular de forma integrada com outros
componentes da aptidão física em níveis
suficientes para possibilitar a execução de tarefas
cotidianas de forma satisfatória e segura. Sendo o
treinamento funcional considerado por muitos o
mais eficiente nas respostas adaptativas à
funcionalidade humana (LA SCALA TEIXEIRA
et al., 2017). Esse método se fundamenta na
aplicação de sobrecargas que utilizam
instabilidade, coordenação e resistência, aplicada
a combinação de movimentos básicos de
aceleração, estabilização, produção de força e
manipulação que objetiva resgatar a capacidade
funcional do indivíduo e transferir seus ganhos
de forma efetiva para suas práticas diárias
(RESENDE-NETO et al., 2016).
Supõe-se então que o treinamento funcional
pode ser uma ferramenta que possibilitará
melhora de inúmeros fatores que advêm com o
avanço da idade. No entanto, poucos estudos
avaliaram se a inclusão do método na prescrição
de um programa de atividade física traz
benefícios adicionais na qualidade de vida dos
idosos ativos fisicamente. Sendo assim, o
objetivo dessa investigação foi analisar a influência
do treinamento funcional na flexibilidade,
equilíbrio dinâmico, resistência cardiorrespiratória
e força muscular de idosas ativas.
MÉTODOS
Procedimentos de Amostragem
A amostra foi constituída por 30 idosas
ativas, participantes do programa “Academia da
Saúde” de Aracaju-SE, praticantes de exercício
físico regular no mínimo três meses anteriores a
nova intervenção. A mesma foi dividida
aleatoriamente em dois grupos: Grupo funcional
(GF, n=16), turma matutina, sujeitos que
praticaram o treinamento com exercícios em
bases instáveis, elásticos, medicine ball, cones e
bambolês. E Grupo Convencional (GC, n=14),
turma vespertina, sujeitos que continuaram
seguindo as atividades do programa com
exercícios resistidos com bastão, alteres e
caneleiras. Os critérios de inclusão estabelecidos
foram: a) ter idade ≥ 60 anos; b) não apresentar
instabilidade articular ou cardíaca que impeça a
realização do treinamento; c) estar inscrita no
programa há mais de 3 meses e; d) ter o mínimo
de 85% de assiduidade. Já os critérios de
exclusão adotados foram: a) Inscrição em outro
programa de atividade física e; b) o não
comparecimento para realização do treinamento
de três dias seguidos ou alternados.
Os procedimentos experimentais foram
explicados e as idosas concordaram em participar
voluntariamente da pesquisa, assinando o termo
de consentimento livre e esclarecido. O presente
estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da
Universidade Federal de Sergipe (nº
1.021.732/CAAE: 42022915.9.0000.5546).
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Resende-Neto, A. G. de, Andrade, B. C. O., Santos, G. V. dos, Santos, D. A. N.,
Oliveira, L. A. S. de, Fernandes, I. G. S. e Da Silva-Grigoletto, M. E.
Figura 1 - Diagrama descrevendo os procedimentos do estudo
Nota: construção dos autores
Intervenção
Após as avaliações iniciais, os grupos
experimentais passaram por duas semanas de
familiarização, na qual foi aplicado 50% da
intensidade planejada para 1ª sessão. O período
de treinamento foi de 12 semanas, três sessões
semanais com duração de 50 minutos e o
intervalo entre sessões foi de 48 horas.
A Escala Modificada de Borg foi utilizada
para medir a percepção de esforço das
participantes e normatizar a intensidade do
treinamento entre os grupos (ASSUMPÇÂO et
al., 2008). Para ambos os grupos foram
realizadas uma sequência de 10 exercícios por
sessão, duas séries de 10 - 15 repetições e
intervalo de 30 segundos para exercícios
unilaterais, e 1 minuto para exercícios bilaterais
com o intuito de manter o volume do
treinamento.
Os sujeitos do GF realizaram 10 minutos de
aquecimento com atividades que exigem
agilidade e coordenação (Ex.: caminhada e trote
entre obstáculos, lançamentos de medicine ball e
deslocamento em escada de agilidade – Borg: 5-
6). Logo após, realizaram 30 minutos de
exercícios que exigiram força muscular dos
membros inferiores e superiores e específicos
para região do core (Ex: sentar e levantar do
banco, prancha frontal e exercícios de empurrar e
puxar com elásticos – Borg: 7-8); e por fim
realizaram uma série de 20 segundos por
exercício de alongamento para as principais
partes do corpo (pescoço, ombros, costas, tórax,
braços, punhos, mãos, parte inferior do tronco,
quadris, joelhos, coxas, pés e panturrilhas) com
níveis de amplitude articular submáximas que
também objetivaram a volta à calma e o
relaxamento.
Os sujeitos do GC continuaram realizando as
atividades rotineiras do programa: 10 minutos
aquecimento com caminhada contínua ou
ginástica aeróbica (Borg: 5-6). Logo após
realizaram 30 minutos exercícios localizados
para membros inferiores e superiores (Ex:
agachamentos com bastão, rosca direta e
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Influência do treinamento funcional sobre a aptidão física de
idosas ativas
desenvolvimento de ombros com garrafas –
Borg: 7-8); e por fim exercícios alongamentos
com níveis de amplitude articular submáximas
com as mesmas características do GF.
Procedimentos de coleta dados
Inicialmente, todas as participantes passaram
por uma anamnese, constando de questões
referentes aos aspectos sociodemográficos:
idade, sexo, estado civil, escolaridade, atividade
laboral, renda familiar e aos aspectos de saúde;
medicamentos utilizados, presença ou não de
doenças cardiovasculares, metabólicas e
patologias musculoesqueléticas.
Para a caracterização antropométrica foi
determinado o peso corporal (kg) por meio de
uma balança eletrônica (Lider®, P150C,
Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil) com precisão
de 0,01 kg, ao passo que a estatura foi
determinada por meio de um estadiômetro
(Sanny®, ES2030, Araraquara, São Paulo,
Brasil) com precisão de 0,1 cm, com base na
distância perpendicular entre o plano transversal
que atravessa o vertex e o ponto imediatamente
abaixo dos pés. Os perímetros da cintura e
quadril foram avaliados de acordo com o
protocolo da Organização Mundial de Saúde.
Os testes de desempenho foram realizados
em dois momentos distintos: momento inicial do
estudo (M1) e após 12 semanas de intervenção
(M2). Os avaliadores foram cegados quanto a
intervenção realizada pelas voluntárias e a
organização dos testes foi planejada de modo que
um teste influenciasse o mínimo possível nos
resultados dos demais e para todos os testes as
participantes foram encorajadas verbalmente a
darem seu máximo.
Para a verificação da aptidão funcional foi
utilizada a bateria Sênior Fitness Test validada
por Rikli e Jones, com testes que avaliam
componentes da aptidão física para desempenhar
atividades normais do cotidiano de forma segura
e independente, sem que haja uma fadiga
indevida. Os testes foram especificamente
idealizados para uso em campo e/ou clínico,
particularmente, para serem capazes de fornecer
medidas escalares contínuas através de uma
ampla faixa de níveis de habilidade que são
tipicamente encontrados na população idosa em
geral. Assim, os participantes do estudo
realizaram os seguintes testes:
a) Sentar e alcançar: tem a proposta de
avaliar a flexibilidade dos membros inferiores e
região lombar. A voluntária foi orientada a sentar
na borda da cadeira, com a perna direita
estendida o máximo possível com o tornozelo em
posição neutra, descer lentamente o tronco com
os braços estendidos e as mãos sobrepostas. A
perna esquerda manteve-se com o joelho
flexionado a 90º graus. A extremidade do hálux
correspondeu ao ponto zero. Não alcançando
esse ponto, o resultado foi negativo e,
ultrapassando-o, o resultado foi positivo. Para as
análises foi calculado média entre as medidas
obtidas dos lados.
b) Levantar e caminhar: tem a proposta de
avaliar a agilidade e o equilíbrio dinâmico. A
voluntária iniciou o teste sentada em uma
cadeira, mãos nas coxas e pés apoiados no solo.
Ao sinal do avaliador, a participante foi orientada
a levantar e caminhar o mais rápido possível,
sem correr, contornando um cone a uma
distância de 2,44 m e retornar à posição inicial.
O cronômetro foi acionado a partir do sinal do
avaliador e, novamente, quando a voluntária se
sentou totalmente na cadeira. Após
demonstração, foi realizada uma tentativa para
familiarizar e logo após, foi realizado duas
tentativas. Utilizamos o melhor escore (tempo
em segundos).
c) Sentar e levantar: tem o objetivo de
avaliar a força dos membros inferiores. O teste
iniciou com a voluntária sentada em uma cadeira
com o assento a uma altura de 40 cm em relação
ao solo e com os pés apoiados no chão. Antes de
iniciar o teste, o avaliador demonstrou o
exercício e então a voluntária realizou de uma a
três repetições para familiarização a tarefa,
iniciando o teste em seguida. Ao sinal do
avaliador, a voluntária sentou e levantou da
cadeira o mais rápido possível em um período de
30 segundos. A mesma foi encorajada a
completar o maior número de repetições
possíveis. Uma repetição só foi contabilizada
quando a voluntária, partindo da posição sentado,
realizou uma extensão completa do quadril e
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Resende-Neto, A. G. de, Andrade, B. C. O., Santos, G. V. dos, Santos, D. A. N.,
Oliveira, L. A. S. de, Fernandes, I. G. S. e Da Silva-Grigoletto, M. E.
voltou a posição inicial, tocando os glúteos na
cadeira novamente.
d) Caminhada de 6 minutos: tem a proposta
de avaliar indiretamente a resistência
cardiorrespiratória. Distância percorrida,
caminhando o mais rápido possível, em um
período de 6 minutos. O percurso retangular teve
uma distância total de 45,72m e foi demarcado
por cones a cada 4,57m. A voluntária foi avisada
quando faltava 2 minutos e 1 minuto para
término do tempo. Ao final do tempo, a
caminhada foi interrompida e então foi realizada
a medida da distância percorrida. (RILKI;
JONES et al., 2008).
Procedimentos de análise de dados
O cálculo amostral foi realizado utilizando o
programa G*Power versão 3.1.9.2 (Erdfelder,
Faul, & Buchner, 1996; Kiel, Alemanha) em
todas as variáveis da bateria Sênior Fitness Test a
partir dos resultados obtidos por Milton e
colaboradores (2006), esperando um incremento
médio de 5% da performance das participantes,
assim, consideramos para tamanho da amostra do
presente estudo um poder de 0,80 para as
análises executadas.
Análise descritiva com média, desvio padrão
e delta percentual foi utilizada para caracterizar
todas as variáveis obtidas. O teste de Shapiro-
Wilk foi aplicado para confirmar a normalidade.
Para as análises foi realizada uma ANOVA 2x2
com post-hoc de Bonferroni para múltiplas
comparações. Foram tabulados e analisados
utilizando-se o software Statistical Package for
the Social Sciences (SPSS), versão 22, adotando-
se nível de significância de 5% (p≤0,05).
RESULTADOS
Os protocolos de exercícios realizados
tiveram aderência de 89% das voluntárias. O GF
obteve uma perda por dispensa médica e três por
assiduidade menor que 85%. Enquanto o GC
obteve seis perdas por não cumprimentos de
todas as etapas do estudo. A taxa de participação
média foi de 30 sessões de 36 totais.
O presente estudo verificou que o
treinamento funcional promoveu aumento
clinicamente relevante em todos os componentes
da aptidão física. Entretanto, as variáveis
antropométricas (IMC e RCQ) não sofreram
modificações. Os valores detalhados apresentam-
se na tabela 2.
Tabela 2: Alterações após 12 semanas de Treinamento Funcional na aptidão física em idosas
fisicamente ativas. Valores apresentados em média e desvio padrão (M±DS)
VARIÁVEIS
CONVENCIONAL (n=14)
FUNCIONAL (n=16)
F
(p)
Pré-Teste
Pós-Teste
Pré-Teste
Pós-Teste
IMC (kg/m²)
27,89±4,31
28,02±2,40
28,68±3,57
28,50±4,53
0,01
(0,9)
RCQ
(CC/CQ)
0,87±0,05
0,89±0,07
0,88±0,06
0,86±0,06
0,91
(0,35)
Sentar e Alcançar
(cm)
2,10±3,94
3,61±2,50
0,40±4,79
3,76±2,94*
2,38
(0,14)
Levantar e
Caminhar (seg)
6,12±0,98
5,92±0,97
5,99±0,95
4,68±0,85*#
2,51
(0,04)
Caminhar 6 minutos
(m)
592,37±39,6
5
573,04±82,8
8
579,61±77,5
1
654,40±51,6
9*
4,74
(0,13)
Sentar e Levantar
(rep)
15,36±1,64
15,56±1,81
14,63±1,74
15,85±1,95*
1,44
(0,24)
Nota 1: IMC: Índice de massa corporal, CC: Circunferência da cintura, CQ: Circunferência do quadril. *-
Diferença significativa pré vs. pós intervenção (p≤0,05), #- Diferença significativa entre os grupos (p≤0,05).
Nota 2: construção dos autores
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Influência do treinamento funcional sobre a aptidão física de
idosas ativas
DISCUSSÃO
O presente estudo tem como principal
resultado os efeitos positivos após doze semanas
de intervenção em todos os componentes da
aptidão física a partir de um protocolo funcional
com foca em ações comumente utilizadas em
atividades cotidianas. As adaptações
multisistêmicas evidenciadas pelo treinamento
aplicado são justificadas pelo estímulo de
diferentes capacidades físicas em uma mesma
sessão de treino (RESENDE-NETO et al., 2016).
Vale ressaltar que a presente proposta
contemplou diferentes exercícios em um curto
período de tempo em uma sequência que permite
um aumento gradual de intensidade e
complexidade, respeitando as particularidades
das idosas.
Uma justificativa para as adaptações
superiores do GF em relação ao GC no teste de
Levantar e Caminhar é o dinamismo e a
instabilidade dos exercícios aplicados, que
podem estimular os sistemas de controle postural
e ativar músculos estabilizadores da coluna
vertebral com mais intensidade, fazendo com que
as condições de agilidade e equilíbrio se
desenvolvam com maior eficácia
(GRANACHER et al., 2013). Corroborando aos
resultados do presente estudo, Milton e
colaboradores (2006), analisando 24 mulheres
com idade de 58-78 anos, demonstraram um
efeito do treinamento funcional sobre a
agilidade/equilíbrio dinâmico 13% maior,
quando comparado com o grupo que realizou
atividades convencionais.
O desempenho superior do GF no teste de
Sentar e levantar (força de membros inferiores)
podem ser explicadas pela especificidade
neuromuscular e metabólica do teste com os
exercícios executados durante o treinamento
(agachamentos diversos). Feitosa-Neta e
colaboradores (2016), a partir da aplicação de um
protocolo sistematizado de treinamento funcional
constituído por exercícios de mobilidade,
circuitos com exercícios de força e potência em
padrões de movimentos específicos para as
necessidades diárias e atividades intermitentes de
alta intensidade, observaram aumentos (14% a
24%) significativos na força, potência muscular e
qualidade de vida com relação ao grupo
praticante de alongamentos.
Entretanto, o aspecto mais importante é que
os ganhos de força muscular com a prática
regular de exercícios funcionais podem melhor
auxiliar no desempenho de atividades da vida
diária em idosos (LA SCALA TEIXEIRA et al.,
2017). De Vreede e colaboradores (2005)
verificaram maiores ganhos na capacidade
funcional em um grupo treinado com exercícios
funcionais baseados em tarefas diárias quando
comparado a outro grupo treinado com
exercícios convencionais após 12 semanas de
intervenção em idosas com pelo menos 70 anos.
Na capacidade cardiorrespiratória, somente
o GF apresentou aumentos significativos. A
própria característica metabólica e o caráter
dinâmico proporcionado pelo modelo circuitado
da sessão podem promover alterações nos
mecanismos responsáveis pelo aumento na
capacidade do músculo esquelético ressintetizar
ATP pelo metabolismo oxidativo (JIMÉNEZ-
PAVÓN et al., 2017). Após 12 semanas de
treinamento com exercícios aeróbicos e
resistidos em circuito, Frontera e colaboradores
(1990) observaram o aprimoramento do
VO2max, acompanhado de aumento de 15% na
quantidade de capilares por fibra e de 38% na
atividade da citrato sintase, sugerindo assim,
algumas das principais respostas adaptativas a
protocolos de exercícios com essas
características.
Os protocolos experimentais (TF e TC)
aplicados foram eficazes na melhora da
flexibilidade, podendo essa adaptação ser
advinda dos alongamentos executados no início e
final das sessões. Além disso, Correia e
colaboradores (2014) afirmam que o treinamento
de força é eficiente no aumento da amplitude
articular e da elasticidade muscular em idosos,
independentemente do protocolo de exercícios
aplicado, sugerindo mecanismos como a redução
da rigidez articular e da taxa de disparo do fuso
muscular.
Outro aspecto importante partir dos
resultados obtidos foi a ausência de melhorias no
GC, que pode ser justificada pelo princípio da
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Resende-Neto, A. G. de, Andrade, B. C. O., Santos, G. V. dos, Santos, D. A. N.,
Oliveira, L. A. S. de, Fernandes, I. G. S. e Da Silva-Grigoletto, M. E.
adaptabilidade visto que as idosas continuaram a
realizar um programa de exercícios já
experimentados durantes anos, mostrando a
necessidade da variabilidade de estímulos para o
aprimoramento da aptidão funcional.
Contudo, vale salientar que a presente
investigação concentrou-se em analisar as
respostas adaptativas a um protocolo de
treinamento alternativo aplicado em praça
pública com mínimo recurso material, mas com
resultados promissores. Embora o presente
estudo tenha fornecido informações relevantes
sobre os benefícios desse protocolo de
treinamento funcional na aptidão física de
idosos, estudos futuros devem aplicar
intervenções mais duradouras, bem como
analisar variáveis estruturais, como massa
muscular e óssea, afim de verificar os efeitos
relacionados a outras condições associadas ao
envelhecimento, como sarcopenia e osteoporose.
CONCLUSÃO
Diante do exposto, conclui-se que o
treinamento funcional aplicado proporciona
melhora da aptidão física em idosas ativas,
sugerindo melhora das atividades da vida diária e
uma necessidade de inclusão deste método em
programas de promoção de saúde.
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Dados do autor:
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Recebido em: 25/09/2018
Aprovado em: 08/11/2018
Como citar este artigo:
RESENDE-NETO, Antônio Gomes e colaboradores. Influência do treinamento funcional sobre a aptidão física de idosas
ativas. Corpoconsciência, v. 22, n. 03, p. 49-57, set./ dez., 2018.