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Abstract

A presente pesquisa analisa a relação entre o novo ciclo de greves e o posicionamento político-ideológico das centrais sindicais na organização e comunicação com suas bases ante as demandas dos trabalhadores em seu local de trabalho, levando em consideração a conjuntura econômica e as políticas aplicadas pelos governos de Dilma (PT) e Temer (MDB).
Rev trab. Iniciaç. Cient. UNICAMP, Campinas, SP, n.26, out. 2018
doi:10.20396/revpibic2620181021
A atuação das centrais sindicais brasileiras no novo ciclo de greves
Mateus Oliveira dos Santos, Andreia Galvao
Resumo
A presente pesquisa analisa a relação entre o novo ciclo de greves e o posicionamento político-ideológico das centrais
sindicais na organização e comunicação com suas bases ante as demandas dos trabalhadores em seu local de
trabalho, levando em consideração a conjuntura econômica e as políticas aplicadas pelos governos de Dilma (PT) e
Temer (MDB).
Palavras-chave:
Sincialismo, greve, ideologia..
Introdução
A partir de pesquisa realizada na quota PIBIC
2016-2017, constatamos o aumento expressivo no
número de greves anuais no Brasil a partir de 2008,
marcada pela predominância de greves defensivas frente
às propositivas do período anterior (2003-2007).
Após a caracterização das dinâmicas internas à
atividade grevista, prosseguimos a pesquisa através de
um levantamento bibliográfico analisando o impacto
econômico e político na esfera do trabalho no período.
Tendo em vista a pulverização da representação
dos sindicatos devido a formalização de diversas novas
centrais, observamos ainda os reflexos ideológicos
destas na imprensa sindical.
Resultados e Discussão
O aumento no número de greves desde 2008
altera a predominância das greves propositivas pelas
defensivas e é impulsionado pelas greves no setor privado
da indústria e dos serviços (Dos Santos, 2017).
Representam, por um lado, setores historicamente
organizados que adquiriram conquistas nos governos de
Lula-PT (2003-2010), mas que vinham sofrendo com a
reestruturação do processo produtivo e a flexibilização do
trabalho (Krein & Biavaschi, 2015); e por outro, setores
com postos de trabalho precarizados recém-criados ou
formalizados e que puderam ser sindicalmente
organizados pela primeira vez (Baltar & Leone, 2015).
A representação institucional dos trabalhadores
destes setores, via filiação do sindicato de base a uma
central sindical, apresenta formato semelhante a
representação do conjunto dos sindicatos no Brasil (ver
Tabela 1).
A partir de um levantamento da imprensa sindical
das principais centrais de 2013 a 2017 (“Revista da UGT”,
“Jornal da Força”, “Jornal da CUT”, “Revista Visão
Classista”, assim como os editoriais e notas da imprensa
virtual), constata-se a constante denúncia às práticas
patronais de impor políticas contrárias à legislação
trabalhista vigente, reproduzindo nas filiais brasileiras
modelos de exploração capitalista aplicados pela empresa
em outros países.
Ainda em 2013, aparece o discurso de
manutenção da unidade sindical, reflexo das distintas
posições que as centrais tomaram frente às políticas
econômicas do governo de Dilma Rousseff e aos
candidatos que apoiariam na eleição de 2014. Evidencia-
se a desfragmentação do campo sindical que compunha a
“frente neodesenvolvimentista” que deu base aos governos
do PT. Posicionam-se, ainda, de forma diferente ante ao
impeachment de Dilma e às reformas propostas pelo
governo de Michel Temer (MDB), quando as centrais se
posicionaram em polos opostos na defesa do mandato do
PT e da reforma trabalhista.
Tabela 1. Percentual de contribuintes por central sindical por
setor (2013).
Central Sindical*
Setor
CUT
FS
NCST
UGT
CSB
Outros
Alojamento e
alimentação
12,40
32,89
28,74
21,48
0,07
4,42
Indústrias de
transformação
33,54
36,18
12,47
7,68
1,06
9,07
Outras
atividades de
serviços
17,48
16,11
6,90
16,87
33,35
9,29
Transporte,
armazenagem
e correio
34,32
10,34
30,51
10,79
1,14
12,90
Fonte: Ministério Público do Trabalho e Previdência Social.
*CUT (Central Única dos Trabalhadores, FS (Força Sindical), NCST (Nova Central
Sindical de Trabalhadores), UGT (União Geral dos Trabalhadores), CSB (Central
dos Sindicatos Brasileiros). Conclusões
Deflagradas pelos sindicatos de base, as greves a
partir de 2008 passaram a reagir de forma defensiva frente
à continuidade da reestruturação produtiva e às novas
formas de exploração.
As greves defensivas e de denúncia repercutiram
na imprensa sindical, ainda que as diferentes centrais
sindicais tenham divergido quanto às respostas dos
governos ante suas demandas. A cisão evidenciada na
imprensa sindical desde 2013 se acentuou no processo de
impeachment e nas reformas de Temer, onde as centrais
se dividiram na defesa das políticas necessárias à
resolução dos problemas de suas bases.
Agradecimentos
Agradeço à professora Andréia Galvão,
orientadora desta pesquisa, no acompanhamento dos
trabalhos e desenvolvimento da discussão. Agradeço
também ao PIBIC/CNPq pelo seu financiamento.
____________________
Baltar, P.; Leone, E. “Perspectivas para o mercado de trabalho após o
crescimento com inclusão social”. Estudos Avançados, 29 (85), 2015, p. 53-
67.
Dos Santos, M. O novo ciclo de greves no Brasil e sua relação com as
manifestações de 2013. Relatório final PIBIC quota 2016-2017. Campinas,
2017.
Krein, D; Biavaschi, M. B. “Os movimentos contraditórios da regulação do
trabalho no Brasil dos anos 2000”. Revista Cuadernos del Cendes, v. 32, n.
89, 2015, p. 47-82.
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