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A relação entre atores e seus impactos: o caso do turismo em comunidades indígenas brasileiras

Authors:

Abstract

A diferença cultural é chamariz para a atividade turística e as fronteiras simbólicas permeiam as relações entre os visitantes e visitados. Conforme essas relações são tecidas, impactos sociais e culturais podem ocorrer mais facilmente e expressivamente. Não obstante, ainda que seja inegável a responsabilidade da atividade turística no aceleramento das alterações socioculturais, faz-se necessário verificar quais outros agentes também interferem. É nesse sentido que se buscou discorrer acerca da relação entre os visitantes e visitados, bem como averiguar como os pesquisadores brasileiros perceberam essa relação nas comunidades indígenas. Para isso, realizou-se uma pesquisa em teses e dissertações brasileiras envolvendo turismo em comunidades indígenas, publicadas entre 1999 e 2012. Constatou-se que, embora não seja um fato homogêneo, os turistas interagiam de forma superficial ou não interagiam, além de se caracterizarem potenciais causadores de impactos socioculturais. No entanto, outros atores (Estado, iniciativa privada e comunidade local não indígena) também mantinham relações com as comunidades indígenas, algumas vezes, de formas harmoniosas e, em outras, conflituosas.
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ISSN 1677 6976 | www.ivt.coppe.ufrj.br/caderno
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A relação entre atores e seus impactos:
o caso do turismo em comunidades indígenas brasileiras
The relationship between actors and their impacts: the case of tourism in
brazilian indigenous communities
La relación entre actores y sus impactos: el caso del turismo en las
comunidades indígenas brasileñas
http://dx.doi.org/10.18472/cvt.18n2.2018.1235
Sandra Dalila Corbari < corbari91@hotmail.com >
Universidade Federal do Paraná (UFPR), Paraná, PR, Brasil
Miguel Bahl < migbahl@ufpr.br >
Universidade Federal do Paraná (UFPR), Paraná, PR, Brasil
Silvana do Rocio de Souza < silvanasouza.tur@gmail.com >
Universidade Federal do Paraná (UFPR), Paraná, PR, Brasil
FORMATO PARA CITAÇÃO DESTE ARTIGO
CORBARI, S. D.; BAHL, M.; SOUZA, S. R. A relação entre atores e seus impactos: o caso do
turismo em comunidades indígenas brasileiras. Caderno Virtual de Turismo. Rio de Janeiro, v.
18, n. 2, p. 5-22, ago. 2018.
CRONOLOGIA DO PROCESSO EDITORIAL
Recebimento do artigo: 29-jan-2016
Aceite: 19-fev-2018
ARTIGO ORIGINAL
REALIZAÇÃO APOIO INSTITUCIONAL PATROCÍNIOEDIÇÃO
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RESUMO
A diferença cultural é chamariz para a atividade turística e as fronteiras simbólicas permeiam as relações entre
os visitantes e visitados. Conforme essas relações são tecidas, impactos sociais e culturais podem ocorrer mais
facilmente e expressivamente. Não obstante, ainda que seja inegável a responsabilidade da atividade turística no
aceleramento das alterações socioculturais, faz-se necessário vericar quais outros agentes também interferem.
É nesse sentido que se buscou discorrer acerca da relação entre os visitantes e visitados, bem como averiguar
como os pesquisadores brasileiros perceberam essa relação nas comunidades indígenas. Para isso, realizou-se
uma pesquisa em teses e dissertações brasileiras envolvendo turismo em comunidades indígenas, publicadas
entre 1999 e 2012. Constatou-se que, embora não seja um fato homogêneo, os turistas interagiam de forma
supercial ou não interagiam, além de se caracterizarem potenciais causadores de impactos socioculturais.
No entanto, outros atores (Estado, iniciativa privada e comunidade local não indígena) também mantinham
relações com as comunidades indígenas, algumas vezes, de formas harmoniosas e, em outras, conituosas.
Palavras-chave: Turismo. Visitantes e visitados. Impactos socioculturais. Comunidades indígenas. Brasil.
ABSTRACT
e cultural dierence is attractive for the tourist activity and the symbolic borders permeate the relations
between the guest and hosts. Depending on how these relationships are constructed, social and cultural
impacts can occur more easily and expressively. However, although the responsibility of the tourist activity in
the acceleration of the socio-cultural changes is undeniable, it is necessary to verify which other agents also
interfere in this process. us, this article aims to discuss the relationship between guest and hosts, as well as
to investigate how Brazilian researchers perceived this relationship in indigenous communities. For that, a
research was carried out on Brazilian master’s thesis and doctoral dissertations involving tourism in indigenous
communities, published between 1999 and 2012. It was veried that, although it is not a homogeneous fact,
the tourists interacted supercially or did not interact, besides potential causes of sociocultural impacts.
However, other actors (state, private enterprise, non-indigenous local community) also maintained relations
with indigenous communities, sometimes in a harmonious and sometimes conictive way.
Keywords:
Tourism. Guest and hosts. Socio-cultural impacts. Indigenous communities. Brazil.
RESUMEN
La diferencia cultural es um atractivo para la actividad turística y las fronteras simbólicas permean las
relaciones entre los visitantes y visitados. Conforme estas relaciones son tejidas, impactos sociales o culturales
pueden ocurrir más facilmente y expresivamente. No obstante, aunque sea innegable la responsabilidad
de la actividad turística em el aceleramiento de las alteraciones socioculturales, es necesario vericar qué
otros actores también intereren. Es en esse sentido que se buscó discurrir acerca de la relación entre los
visitantes y los visitados, así como averiguar cómo los investigadores brasileños percibieron esa relación en las
comunidades indígenas. Para eso, se realizo una investigación em tesis de maestria y tesis doctorales brasileñas
que tenian como objecto el turismo en comunidades indígenas y que fueron publicadas entre los años de 1999
y 2012. Se constato que, aunque no es algo homogéneo, los turistas interactuaban de forma supercial o no
interactuaban, además de ser potenciales causantes de impactos socioculturales. Sin embargo, otros actores
(el Estado, la iniciativa privada, las comunidades locales no indígenas) también mantenian relaciones con las
comunidades indígenas, algunas veces, de forma armoniosa y, en otras, conictivas.
Palavras clave: Turismo. Visitantes y visitados. Impactos socioculturales. Comunidades indígenas. Brasil.
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INTRODUÇÃO
As diferentes culturas são um chamariz para a atividade e, por outro lado, essa “diferença” ressalta a
importância em preocupar-se com possíveis impactos sociais e culturais ocasionados pelo turismo.
As fronteiras simbólicas das comunidades podem gerar atribuição de características estereotipadas e
grosseiras a determinados grupos.
Por outro lado, a cultura é dinâmica, os grupos sociais sofrem inuência externa e se modicam
constantemente. Nos estudos do turismo, principalmente nos de caráter antropológico, as mudanças
culturais têm sido uma preocupação constante (GRÜNEWALD, 1999). Alguns autores, como Santana
Talavera (2003), defendem que o contato, direto ou indireto, dos grupos envolvidos no sistema turístico
conduz, inevitavelmente, à “aculturação”, outros, como Cuche (1999), defendem que as relações contínuas
de longa duração entre grupos étnicos, tal qual acontece no turismo, não levam necessariamente ao
desaparecimento de diferenças culturais; ao contrário.
Turistas, empresários, conquistadores, governadores, educadores e missioneiros, vários são os agentes
de contato entre as culturas que, direta ou indiretamente, induzem a alguma mudança, sobretudo nas
regiões menos desenvolvidas economicamente (NASH, 1989). No entanto, por vezes, recai no turista a
culpabilização por alterações socioculturais que ocorrem nas comunidades visitadas.
Se, por um lado, aparentemente, são ignorados outros agentes de mudanças, por outro, é inegável que
o desenvolvimento da atividade turística contribui para o aceleramento dessas alterações. No entanto, fez-
se importante vericar quais outros agentes mantinham relações com as comunidades indígenas e como
essas relações impactavam sócio e culturalmente tais comunidades.
É nesse sentido que se buscou discorrer acerca da relação entre os visitados e os visitantes, bem como
vericar a relação dessas comunidades e demais atores, como poder público, empresariado do município
ou região e da população não indígena local. Destarte, o objetivo geral da pesquisa foi averiguar como os
pesquisadores brasileiros haviam percebido a relação entre visitado e visitante nas comunidades indígenas
por eles estudadas.
Assim, a pesquisa foi desenvolvida em duas etapas, sendo a primeira uma pesquisa bibliográca para
a construção de um marco teórico e a segunda uma análise documental, baseada em teses e dissertações
brasileiras sobre o turismo envolvendo comunidades indígenas no País, publicadas entre 1999 e 20121.
Esse material foi analisado por meio da técnica de análise de conteúdo, mais especicamente a análise de
asserção avaliativa, e análise documental (BARDIN, 1977).
O presente texto apresenta a partir desta introdução a metodologia da pesquisa e a revisão de literatura
abordando os temas sociedade, cultura e mudanças culturais. Na sequência, apresentam-se os dados
obtidos com a análise documental e as considerações nais.
1 Cabe destacar que no presente artigo não são citadas todas as dissertações e teses resultantes da busca, nem todos os trechos,
mas os mais relevantes para a temática abordada no presente artigo científico.
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Metodologia de pesquisa
A presente pesquisa, de caráter qualitativo, foi desenvolvida com o objetivo de vericar como os
pesquisadores percebiam a relação entre visitado e visitante, considerando o turismo nas comunidades
indígenas brasileiras. Essas comunidades foram selecionadas por serem foco de estudos anteriores dos
autores, ademais, o corpus de estudo foram as dissertações e teses sobre a temática turismo em áreas
indígenas por critérios também quantitativos, uma vez que não seria viável uma pesquisa em toda a
literatura sobre o turismo no Brasil.
A pesquisa foi desenvolvida em duas etapas. Na primeira, utilizou-se o método bibliográco, por meio
do qual se construiu o marco teórico a partir da literatura sobre os temas pertinentes ao estudo proposto.
Para isso, o debate centrou-se na relação entre visitantes e visitados e suas possíveis consequências, ou
seja, os impactos resultantes desse contato. Para adentrar nesse tema, entendeu-se ser necessário abordar
as sociedades, cultura, distinções culturais e fronteiras culturais, relações entre visitantes e visitados e suas
problemáticas.
A segunda etapa, por sua vez, foi uma pesquisa documental, pautada no paradigma teórico-exploratório
e descritivo. Nessa etapa, foram averiguadas, por meio da análise de conteúdo (utilizando-se da técnica
de análise de avaliação) e da análise documental, teses e dissertações brasileiras sobre turismo envolvendo
comunidades indígenas, publicadas no período de 1999 a 2012 e listadas no Banco de Teses e Dissertações
da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), escolhido por ser um banco
de dados conável e que, por receber pesquisas diretamente dos Programas de Pós-Graduação do Brasil,
agregaria um número preciso de pesquisas sobre o tema. O período considerado para a coleta dos dados
compreende o interstício entre os anos de publicação da pesquisa mais antiga e das mais atuais disponíveis,
à época da consulta (2013 e 2014) no banco de dados supracitado. As consultas resultaram em um corpus
formado por 15 estudos. Entretanto, no decorrer das análises, constatou-se que uma tese selecionada não
se enquadrava no perl delineado, de modo que o corpus nal cou constituído por 14 pesquisas.
Após a realização da pesquisa documental, os dados foram analisados com base nas técnicas de análise
documental e de conteúdo, mais especicamente a evaluative assertion analysis (análise de asserção
avaliativa), baseando-se em Bardin (1977), a qual tem por objetivo identicar signicações conotativas
e afetivas das palavras em três dimensões: bom/mal (avaliativa), forte/fraco (potência) e rápido/lento
(atividade). Para a pesquisa foram utilizadas as duas primeiras dimensões citadas para compreender como
os autores perceberam as relações no que tange a sua importância e impactos, em um continuum entre o
positivo e o negativo e conforme a intensidade.
Cabe destacar que a pesquisa documental teve por objetivo vericar a existência ou não das informações
necessárias, por isso, recorreram-se às duas técnicas por elas serem percebidas como complementares
e por contribuírem para a extração do máximo de informações pertinentes à pesquisa. No entanto, a
investigação teve a análise de conteúdo como base principal, constituindo a análise documental recurso
complementar.
Fronteiras culturais: uma preocupação latente no turismo
Nas ciências sociais, diversas correntes de pensamento e formas de interpretação geram conceitos
distintos de sociedade, comunidade e cultura. Para Hoebel e Frost (2008), por exemplo, as sociedades são
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mais do que agregados humanos, são grupos de indivíduos unidos por um ou vários princípios comuns,
que ocupam um espaço identicável (um território), apesar de suas fronteiras não serem sicamente
visíveis. Barth (2011), por sua vez, acrescenta que uma sociedade é uma entidade que rejeita e discrimina
outras.
Já Geertz (1989), orientado pela antropologia hermenêutica, defende que a ampla variedade de
diferenças entre os indivíduos, seja relativa a crenças e valores, seja relativa a costumes e instituições, é
essencialmente sem signicado ao denir sua natureza: ser um humano. Porém, esse estudioso aponta
que a natureza humana constante, independente de tempo, lugar ou circunstância, pode ser uma ilusão,
uma vez que o homem está muito envolvido com o “onde ele está, “quem ele é” e “no que ele acredita, o
que são sentimentos que lhe são inerentes e o denem. Essa possibilidade dá margem ao surgimento do
conceito de cultura.
Embora não seja o objetivo do presente artigo se aprofundar nesses conceitos, amplamente discutidos
dentro das ciências sociais e de profunda complexidade, faz-se mister destacar a importância da cultura
para o setor do turismo. As diferentes culturas são um chamariz para a atividade e, por outro lado, essa
diferença” ressalta a importância em preocupar-se com possíveis impactos sociais e culturais ocasionados
pelo turismo.
Cohen (1985) aborda as fronteiras (boundaries) simbólicas das comunidades, que marcam o início e o
m de uma comunidade. O simbolismo se torna explícito durante e por meio de rituais, os quais conrmam
e reforçam a identidade social e o sentimento de pertença social a um coletivo e, concomitantemente,
aumenta a conscientização a respeito da fronteira, ou seja, da diferença entre os grupos (COHEN, 1985),
fronteira a qual representa a “máscara” utilizada pela comunidade aos outros grupos, mas em seu interior
a simbolização do limite é muito mais complexa, conforme destaca o autor. Destarte, podem ser atribuídas
características estereotipadas e grosseiras a determinados grupos, que não condizem com o que de fato o
referido grupo é (COHEN, 1985).
De modo semelhante a Cohen (1985), Bourdieu (1989) aborda uma característica importante para
o conceito de cultura: a distinção. A mesma cultura que une, por meio da comunicação, separa como
instrumento de distinção (BOURDIEU, 1989). Assim como armado por Cuche (1999), acredita-se que
a cultura é uma produção histórica, uma construção a partir das relações entre os grupos sociais onde
o caráter da situação determinará se o jogo de distinção levará a valorizar e a acentuar tal conjunto de
diferenças culturais mais do que outro” (CUCHE, 1999, p. 143). Não há, desse modo, culturas em “estado
puro, sem ter jamais sofrido inuência externa, porque “cada coletividade, no interior de uma situação
dada, pode ter a tentação de defender sua especicidade, fazendo um esforço através de diversos artifícios
para convencer (e se convencer) que seu modelo cultural é original e lhe pertence” (CUCHE, 1999, p. 143).
No que se refere à identidade cultural, o autor supracitado destaca que todo grupo é dotado de uma
identidade social, que é, ao mesmo tempo, inclusão e exclusão, distinguindo o “nós” dos “outros. Nesse
sentido, a identidade cultural seria a modalidade de categorização da distinção entre “nós” e “eles”, desde a
perspectiva cultural. Esse autor entende que o que cria a “fronteira” é a busca pela diferenciação e o uso de
traços culturais para marcar a identidade; não há identidade em si e para si; a identidade existe em relação
a uma outra, estando, assim, ligada à alteridade. Os traços culturais que denem essa fronteira, tais como
as características dos grupos, podem sofrer alteração, mas há a manutenção da dicotomia entre “nós” e “os
outros” (BARTH, 2011).
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Nos estudos do turismo, principalmente nos de caráter antropológico, as mudanças culturais têm
sido uma preocupação constante (GRÜNEWALD, 1999). Alguns autores, como Santana Talavera
(2003), defendem que o contato, direto ou indireto, dos grupos envolvidos no sistema turístico conduz,
inevitavelmente, à aculturação. Cuche (1999), por sua vez, defende que as relações contínuas de longa
duração entre grupos étnicos, tal qual acontece no turismo, não levam necessariamente ao desaparecimento
de diferenças culturais, ao contrário, tais relações são organizadas para manter essas diferenças, porque “as
culturas nascem de relações sociais que são sempre relações desiguais” (CUCHE, 1999, p. 143).
Assim, o contato entre grupos étnicos provoca a acentuação das especicidades por meio de uma
defesa simbólica das fronteiras identitárias. Nessa mesma direção, Barth (2011) aponta que, quando há a
interação entre indivíduos de culturas diferentes, espera-se que as diferenças sejam reduzidas; no entanto,
o que ocorre é a manutenção da fronteira. Destarte, buscou-se vericar como as relações entre visitantes
e visitados ocorrem nas comunidades indígenas brasileiras – povos que mantêm uma fronteira étnica-
cultural expressiva.
A relação entre visitantes e visitados no turismo
Turistas, empresários, conquistadores, governadores, educadores e missioneiros, vários são os agentes
de contato entre as culturas que, direta ou indiretamente, induzem a alguma mudança, sobretudo nas
regiões menos desenvolvidas economicamente (NASH, 1989). Desse modo, percebe-se que não apenas
os turistas são agentes de mudanças; há outros fatores e outros atores que contribuem para que haja
alterações nas sociedades.
Faz-se mister levar em consideração que o turismo é uma atividade penetrada ou estruturada no
poder para além da relação entre visitante e visitado. O envolvimento de múltiplos atores interessados
na atividade, bem como as questões de acesso e controle dos recursos, distribuição de benefícios e custos
oriundos do desenvolvimento do turismo implicam que o poder esteja no centro de quaisquer propostas
de desenvolvimento turístico (NEPAL; SAARINEN; MCLEAN-PURDON, 2016).
No que tange às relações entre as comunidades receptoras e seus visitantes, cabe salientar que elas
variam de caso para caso. Por isso, Barretto (2006) alerta que os pesquisadores precisam ter cautela quando
forem feitas inferências, evitando generalizações. A autora acrescenta que são recorrentes os estudos que
colocam os visitados como vítimas de “invasões” – embora não seja o objetivo do presente artigo eximir
o turismo, ou mais especicamente os agentes envolvidos, da responsabilidade por impactos nos mais
diversos âmbitos.
Barretto (2006, 2007) aborda que, quando os membros de uma sociedade receptora têm menor poder
aquisitivo, apresentam menos avanços tecnológicos e ocupam um status inferior no cenário internacional
que os seus visitantes, então o relacionamento entre eles será assimétrico, ou seja, a disputa por poder
que permeia todas as relações no turismo, relatada por Nepal, Saarinen e McLean-Purdon (2016), é mais
expressiva quanto maior a assimetria entre os envolvidos. No entanto, acredita-se que o relacionamento
entre visitantes e visitados é sempre assimétrico. Bianchi (2009) aborda que o turismo produz e reproduz
desigualdades entre os mercados e o destino, como exemplo o autor aponta o feminismo, ou seja, não
importa o quão feminista uma mulher britânica seja, a relação entre ela e as mulheres trabalhadoras de
Portugal será desigual. Se tal diferença entre países europeus é desigual, há que se reetir a desigualdade entre
países “desenvolvidos” e “subdesenvolvidos” e, mais ainda, entre turistas e comunidades marginalizadas
dentro desses países.
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Nesse sentido, é possível recorrer ao estudo de Bourdieu (1989) sobre o poder simbólico. O autor aborda
o espaço social como um sistema hierarquizado de poder e privilégios, baseado no capital econômico,
cultural, social e simbólico. A posição de um indivíduo no espaço social é denida de acordo com os
capitais adquiridos e incorporados por ele, e a arena onde ocorrem as disputas por poder é denominada
pelo autor de “campo. Esse estudioso não aborda o turismo em seus estudos, mas suas inferências
poderiam ser aplicadas às relações entre visitantes e visitados, contexto em que se observa disparidade de
capitais, principalmente o econômico, contribuindo para a diferenciação desses atores entre si.
Bourdieu (1989) dene o poder simbólico como um poder invisível, somente mobilizado ou efetivado
mediante o envolvimento de entes que se sujeitam ou produzem esse poder, de modo relacional. Cabe
destacar que, assim como apontado por Bianchi (2009), o poder não é unidirecional ou exclusivamente
associado ao turista, há inúmeras congurações e, por vezes, o turista pode ser o lado mais frágil da
relação.
No que tange à relação entre os visitantes e os prestadores de serviços envolvidos na atividade turística,
o relacionamento será sempre assimétrico, por mais que tenham a mesma formação cultural e consigam se
relacionar, considerando que essa relação está pautada no tempo livre versus trabalho (BARRETTO, 2006,
2007; NASH, 1989), bem como na distinção entre produção e consumo (HARKIN, 1995). Por vezes, esse
contato desencadeia sentimentos que podem variar do desejo de obter vantagens econômicas, à inveja e à
raiva pelas questões de desigualdade (BARRETTO, 2006), bem como ressalta o fato de o turismo não estar
facilmente ao alcance de todos (SANTANA TALAVERA, 2003); enquanto uma minoria explora o mundo,
a maioria das pessoas não pode abandonar sua “aldeia” (MARTÍNEZ MAURI, 2012).
Van den Berghe e Keyes (1984) seguem a mesma linha de pensamento e acrescentam que a assimetria
das relações não se assenta apenas em questões econômicas. Outros fatores enaltecem ainda mais a
diferença entre visitantes e visitados, como a língua, a religião e a orientação política (KRIPPENDORF,
2001). O turista é inconsistente, vindo, geralmente, de sociedades de alto poder aquisitivo, promovendo o
desejo na comunidade visitada de ter as mesmas condições que os turistas.
Mas essa assimetria, segundo os autores, também é pautada pela informação, o que favorece os
“tourees2, que brincam e fazem um espetáculo de si mesmos para a diversão do turista (VAN DEN
BERGHE; KEYES, 1984). Esses estudiosos destacam ainda que os turistas estão abertos ao engano,
à desconança e à exploração, pois são relativamente ignorantes quanto à realidade das comunidades
visitadas.
Sobre essa dicotomia, Nash (1989) ressalta que o contato entre visitantes e visitados não é denido
apenas pela estrangeria daqueles, mas também pela própria natureza do turismo. Desse modo, na
condição de indivíduo que dispõe de tempo de lazer, o turista não tem a intenção de mudar o mundo, mas
simplesmente “brincar” com ele, ou adquirir experiências a suas custas. Assim, tanto o turista quanto os
envolvidos com a infraestrutura turística efetuam transações com a sociedade receptora, distinguindo-se
esses atores por uma clara desigualdade de forças (NASH, 1989).
Esse autor destaca ainda que os forasteiros e seus antriões se tratam reciprocamente como pessoas,
mas também como objetos e nos casos em que a diferença entre essas pessoas é grande, como, por
2 A denominação “touree” é dada por Van den Berghe e Keyes (1984) ao nativo como um performer que modificou seu comportamen-
to para tornar-se atrativo ao turista, fingindo sua arte, sua roupa, sua música, sua dança, sua religião, entre outros aspectos, para
satisfazer a procura do turista por “autenticidade”.
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exemplo, nas fases iniciais do colonialismo, esse tratamento pode dar origem à discriminação por parte
dos colonizadores e a uma gama de reações por parte dos colonizados. Aqueles que tratam as outras
pessoas como meros objetos têm maior probabilidade de se sentirem livres para atuar orientados por seus
próprios interesses, ignorando os dos demais e, inclusive, seu padrão de vestimenta e o de comportamento
são, frequentemente, distintos daqueles que o turista teria no próprio lugar de onde provém, ou seja, os
comportamentos que são inibidos em sua localidade de origem passam a ter vazão no destino visitado
(ARCHER; COOPER; RUHANEN, 2005; NASH, 1989).
O turista não seria um mero espectador em movimento, ele se beneciaria de um desejo particular que
vem da consumação do espaço, se comunicando com os visitados por meio de algumas palavras e saudações
cerimoniosas, por coitos psiquicamente encarados pelo olhar ou efetivamente realizados e pela compra de
alguns objetos simbólicos, tidos como suvenires, por meio dos quais o turista se apropria magicamente do
destino (GRABURN, 1989). Entende-se que, ao agir dessa forma, o turismo não ultrapassa a “região da
fachada, pelo sociólogo canadense Erving Goman.
Goman (1985, p. 29) utiliza o termo “representação” para se referir a “toda atividade de um indivíduo
que se passa num período caracterizado por sua presença contínua diante de um grupo particular de
observadores e que tem sobre estes alguma inuência. Conforme esse estudioso, tal representação demanda
uma “fachada, ou seja, um equipamento expressivo, padronizado intencional ou inconscientemente do
qual determinado indivíduo se utiliza durante sua apresentação. Se essa analogia for pensada no âmbito
do turismo, tem-se algo semelhante ao “touree. E, destarte, compreende-se que há certa diculdade do
visitante em romper a “região de fachada” e adentrar à “região de fundo”, embora esse aprofundamento
não seja, necessariamente, uma das características das visitações turísticas.
Goman (1985) parte do pressuposto de que a interação é estabelecida de acordo com uma denição
prévia de papéis, hierarquias e expectativas existentes em cada encontro. Novamente relacionando ao
turismo, entende-se que a relação entre os atores sociais difere conforme interesses, poder e, também,
expectativas de cada um.
Destarte, compreende-se que as relações entre visitantes e antriões são complexas e não podem ser
generalizadas, devendo ser levados em consideração as especicidades de cada comunidade receptora
e o perl de seus visitantes. Ademais, na literatura, aponta-se o estágio de desenvolvimento turístico do
destino como um fator determinante das atitudes e das reações das comunidades visitadas em relação
aos visitantes e aos demais agentes envolvidos na atividade turística. Mas, também, essa relação não deve
ser vista como algo que precisa ser, obrigatoriamente, aprofundada, inclinada para uma experiência
antropológica.
Na relação entre visitantes e visitados, tem-se três atores – e realidades – importantes: o visitado e o
que ele pensa sobre o turista; o visitante e o que ele pensa sobre os visitados (no caso, os indígenas), bem
como suas expectativas anteriores; e o interlocutor (no caso, os guias ou outros atores que se intercruzam
nessa relação).
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As relações entre as comunidades indígenas e os visitantes: percepções de
pesquisadores brasileiros
Nas teses e dissertações estudadas, foram relatadas realidades bastante diferentes entre si, porém, em
todas as situações, os indígenas sofriam com algum tipo de estigma, seja pela expectativa dos turistas de
encontrar indígenas que retratassem elmente aqueles encontrados pelos europeus – conforme o termo
usado por Lac (2005), “índios da televisão, seja por esses indígenas serem vistos, por conta de diversas
modicações socioculturais, como “não índios, beirando à farsa, ao olhar do visitante.
Ao entrevistar um turista, Grünewald (1999) constatou que esse visitante acreditava que os Pataxó,
etnia indígena que habita o sul do estado da Bahia, estavam “se fantasiando. O autor observou, também,
que os turistas brasileiros que visitavam a aldeia de Barra Velha, Porto Seguro, Bahia, saíam mais
decepcionados que os estrangeiros, por acreditarem, ainda que não em sua totalidade, que se deparariam
com os indígenas nus e com uma “aldeia típica. Na Terra Indígena (TI) da Coroa Vermelha, Santa Cruz de
Cabrália, Bahia, os guias (não indígenas) precisariam desmisticar a imagem estereotipada que se tem dos
indígenas, pois, conforme relato de Grünewald (1999), os turistas demonstravam ter medo da interação
com os visitados, inclusive de serem atacados com lança.
O medo também é relatado por Lac (2005), que constatou que os Kaingang da TI de Iraí, no município
homônimo, eram conscientes desse sentimento por parte dos visitantes, e que seria por causa do temor
de que os indígenas fossem cruéis ou violentos que os visitantes não desciam dos ônibus que os levavam
até a comunidade. No caso da aldeia Marçal de Souza, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Lacerda
(2004) identicou que os visitantes armaram não ter nenhum tipo de preconceito com os Terena, porém,
o investigador observou que a maioria dos visitantes se penalizava diante da situação precária em que
viviam os indígenas, imaginando ser esse um retrato da vida cotidiana dos indígenas.
As situações pareceram se repetir nas comunidades. Lac (2005) constatou, ao entrevistar turistas, que,
apesar de apresentarem diferentes opiniões sobre os indígenas, todos os entrevistados, de maneira mais
ou menos direta, reproduziam imagens e estereótipos que corroboraram a imagem do “bom selvagem,
ou então para a “consciência culpada, ou seja, esses turistas também se penalizavam, tais quais os
entrevistados por Lacerda (2004).
Nunes (2006) expõe, no que se refere à RI de Dourados, no município homônimo, que alguns turistas
chegavam ao local sem saber que os indígenas falavam português, usavam roupas e outros produtos que,
aparentemente, não eram aceitos pelos visitantes como sendo algo indígena. E, no caso da aldeia Puiwa
Poho, os turistas saíam decepcionados, sem reconhecer a dinamicidade da cultura.
Lac (2005) ressalta, no entanto, que a visita é uma oportunidade para os turistas confrontarem suas
imagens e seus estereótipos com a realidade, embora os indígenas defendam que a realidade deva ser
confrontada por meio de conversa e convivência, e não apenas contemplação, como se vericou ocorrer,
a propósito, em quase todas as iniciativas abordadas no corpus desta pesquisa.
Apesar dessa imagem do “bom selvagem” e de os visitantes esperarem encontrar “aldeias autênticas
– inclusive foi relatado por um dos entrevistados por Lac (2005) que os visitantes buscavam ver coisas
que nunca viram –, havia uma dualidade de expectativa por parte dos turistas, uma vez que, assim
como relatado pela investigadora citada, estes expressaram que algumas coisas deveriam ser mudadas
nas comunidades indígenas que recebiam turistas, como, por exemplo, não cobrar por fotos, ter hábitos
higiênicos similares aos visitantes, trabalhar mais, entre outros aspectos.
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Além do fato de não levarem em consideração as especicidades socioculturais que levavam os
indígenas a seguir esses padrões, os turistas buscavam, desse modo, uma padronização do turismo não
condizente com a expectativa de encontrar uma aldeia típica, habitada por indígenas “autênticos”. Essa
situação gera algumas atitudes por parte dos indígenas. No caso dos Sateré-Mawé, da comunidade Sahu-
Apé, município de Iranduba, Amazonas (SANTOS, 2010), as reicações dos turistas geraram desconfortos
na vida dos indígenas, principalmente quando se iniciaram as visitações, uma vez que os espaços “não
poderiam” demonstrar nenhum aspecto de modernidade ou mudança cultural. Santos (2010) constatou
que até mesmo fraldas, brinquedos e carrinhos de passeio das crianças eram ocultados para evitar
questionamentos por parte dos visitantes e porque os guias aconselhavam a fazê-lo.
Porém, não apenas pessoas que vivem distantes dessas comunidades têm esse estereótipo. Baggio
(2007) constatou, ao entrevistar um dos caciques da TI Mangueirinha, localizada nos municípios de
Mangueirinha, Coronel Vivida e Chopinzinho, no Paraná, que pessoas da própria região não conheciam
esses indígenas e imaginavam que eles vivessem nus, utilizando apenas adornos de pena. Isso demonstra
que há certo desconhecimento, por parte da população brasileira como um todo, seja acerca do modo de
vida atual nas comunidades indígenas, seja sobre as diferenças entre as etnias indígenas.
Pôde-se perceber que os próprios indígenas, por vezes, consideram essas mudanças como algo positivo.
Um indígena entrevistado por Baggio (2007) disse que, por meio da divulgação da comunidade com
a atividade turística, os Kaingang poderiam mostrar à população, em geral, que o “índio já conseguiu
melhorar”, ao se referir ao fato de não viverem como os indígenas do imaginário social.
Ainda sobre esse fato, e sobre os Kaingang, um dos entrevistados por Baggio (2007) comentou que,
no início das operações turísticas na TI Mangueirinha, houve certa estranheza por parte dos visitantes,
bem como preconceito por parte dos familiares (como, por exemplo, pais de alunos que cavam receosos
ao saber que seus lhos visitariam uma comunidade indígena). Esse fato reforça a perspectiva de que
há desconhecimento por parte da população brasileira, e esse desconhecimento gera um preconceito.
E pode-se dizer que, tratando-se de conceito pré-formulado de maneira negativa, as pessoas podem se
recusar a visitar comunidades indígenas.
Santos (2010), por sua vez, averiguou que, apesar da visitação não durar mais do que duas horas, os
turistas, unanimemente, agradeceram pela oportunidade de visitar os Sateré-Mawé, deixando a impressão
de que estavam satisfeitos com a experiência.
Apesar de, aparentemente, serem a visão e o comportamento do turista os principais balizadores
da relação entre visitantes e visitados, não se pode deixar de mencionar a opinião que os membros
da comunidade receptora têm sobre os turistas. Os Pataxó da Barra Velha, por exemplo, disseram ter
satisfação em serem visitados, entretanto, por vezes, armavam a Grünewald (1999) que os turistas eram
bons apenas porque compravam suas peças de artesanato, ou seja, seu dinheiro era mais visado do que sua
presença de fato.
Sem fazer juízo de valor, não se pode negar, analisando a tese de Grünewald (1999) e de Neves (2012),
o caráter comercial da relação entre os Pataxó e os visitantes. Essa mesma característica foi identicada
na RI de Dourados, onde um dos entrevistados por Nunes (2006) armou que o turismo só era bom
porque dava dinheiro. Pode-se inferir, então, que, para esse sujeito, os turistas seriam dispensáveis, caso
não contribuíssem para sua geração de renda, o que é compreensível, tendo em vista que a atividade
turística surge como uma alternativa de renda para as comunidades.
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Essa situação não difere muito da vivida na aldeia Puiwa Poho, em Feliz Natal, Mato Grosso, estudada
por Nunes (2006). Essa aldeia, planejada e implementada visando exclusivamente ao atendimento a
turistas, constitui-se em uma espécie de “parque temático indígena, no entanto, o maior diferencial – e,
nesse caso, um diferencial negativo – refere-se ao fato de esse empreendimento ser privado e pertencer a
um empresário não indígena, que transforma os indígenas em “espetáculos vivos”.
No caso dos Kaingang de Iraí, como já abordado, os membros da comunidade se mostraram
conscientes do medo que aigia os visitantes. Por essa razão, esses indígenas classicaram como positiva
a visita daqueles que desciam dos automóveis, pois assim não se sentiam tratados como animais em um
zoológico, e também podiam conversar com esses visitantes e falar sobre o artesanato, a terra, a cultura,
conforme relato de Lac (2005). Essa investigadora aponta que o que os Kaingang estavam buscando, com a
atividade turística, era o respeito a sua cultura e a seu povo, o reconhecimento étnico. Também almejavam
ter voz – “o turismo é a nossa arma, como ressaltado por um de seus entrevistados. Assim, supõe-se que,
para esse respeito ser desenvolvido, é imprescindível, antes de tudo, o diálogo, e é isso que os Kaingang
demonstraram desejar.
Na TI Mangueirinha se expressou a mesma expectativa, sendo armado que o conhecimento
poderia levar ao respeito e que o turismo avivaria a possibilidade de visitados e visitantes realizarem um
intercâmbio, o que, na visão de um dos entrevistados, seria algo positivo (BAGGIO, 2007).
A satisfação com o intercâmbio também foi constatada por Jesus (2012). Um visitante entrevistado
por esse pesquisador armou ter percebido que os indígenas gostavam da presença de não indígenas, pois
era um modo de realizar intercâmbio e que, aparentemente, viver isolados não era algo positivo para os
Kadiwéu, habitantes da Reserva Indígena (RI) Kadiwéu, em Porto Murtinho, Mato Grosso do Sul. Um
indígena entrevistado por esse pesquisador armou que gostaria muito de receber turistas, o que já havia
feito, e que o turismo seria algo benéco para as mulheres artesãs.
Também há regras a serem seguidas pelos turistas, como aponta Leandro (2011). Para os Paiter-Surui,
da TI Paiterey Karah, localizada nos municípios de Cacoal e Espigão do Oeste (Rondônia) e Rondolândia
(Mato Grosso), era essencial que os visitantes adotassem uma determinada postura, como não jogar lixo
em lugares indevidos e não entrar com drogas, bebidas alcoólicas ou armas na comunidade. Pode-se
armar que as regras impostas pelas comunidades devem ser cumpridas, caso contrário haverá irritação
por parte dos visitados, podendo gerar descontentamento com a atividade turística como um todo.
Há também comportamentos que, apesar de não serem proibidos, geram desconforto aos visitados,
como é o caso dos Pataxó da Coroa Vermelha, que se sentiam constrangidos com o avanço dos turistas em
direção à aldeia (saindo do espaço do Parque Indígena e se aproximando das moradias), situação em que os
indígenas tratavam de indicar-lhes o caminho de volta, além de cercarem os visitantes de olhares curiosos
ou reprovadores (NEVES, 2012). Uma das razões dessa reprovação, como armado por um entrevistado,
é que alguns visitantes abordavam as mulheres Pataxó com perspectiva sexual; outros ingeriam bebidas
alcoólicas ou usavam drogas na presença de crianças, atitudes reprovadas pela comunidade. Portanto,
infere-se que a relação harmoniosa entre visitantes e visitados e o grau de satisfação da comunidade
receptora com a atividade turística estão intrinsecamente relacionados ao respeito às regras e à cultura
dos visitados.
Quanto à relação entre os indígenas e os visitantes, salienta-se, assim como abordado por Baggio
(2007) sobre os indígenas da TI Mangueirinha, que os indígenas interagiam de modo bastante intenso
com não indígenas e que, por isso, a relação com os visitantes não trazia estranheza de sua parte, ao
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contrário se alguma estranheza ocorresse, ela se dava por parte do visitante, em função de seu imaginário
e das expectativas em relação à comunidade visitada.
Por m, há também o contato do visitante com o não indígena, geralmente como guias de turismo. Esses
agentes intermediários são importantes para o entendimento da dinâmica sociocultural local, porém, eles
podem passar uma imagem errônea dos indígenas, o que reforçaria o preconceito. Um exemplo disso são
os guias que acompanhavam os visitantes na RI de Dourados. Segundo Nunes (2006), os guias recebiam
instruções básicas e não muito precisas sobre as etnias que estavam habitando essa RI e, por essa razão,
não estavam sendo capazes de transmitir a essência de sua cultura.
Nesse aspecto, também se pode tomar como exemplo o que se vericou ocorrer na aldeia Marçal de
Souza (LACERDA, 2004). Durante as visitas ao Memorial da Cultura Indígena, perdia-se a oportunidade
de serem explicadas as causas e as problemáticas indígenas, bem como de promover o intercâmbio
cultural, uma vez que os monitores não eram indígenas, segundo pesquisa de Lacerda (2004). Para esse
pesquisador, seria preciso integrar os visitantes e os Terena para promover efetivamente o conhecimento e,
consequentemente, o respeito à cultura desse povo, por isso, tanto a comunidade quanto os interlocutores
deveriam ser preparados para essa integração.
Neves (2012), por sua vez, relata que os guias de uma importante operadora e agência turística com
expressiva inserção no mercado nacional, que acompanhavam turistas ao Centro de Artesanato dos
Pataxó em Coroa Vermelha, aconselhavam os turistas a não comprar artesanato, justicando se tratar de
artigos de baixa qualidade.
Há, nesses casos, um distanciamento entre visitantes e visitados. Porém, em outros casos, ocorre o
contrário. Em Olivença, distrito de Ilhéus, Bahia, a interação entre os Tupinambá e os turistas era inevitável,
pois, além das manifestações públicas organizadas por esses indígenas, alguns deles trabalhavam e
praticavam atividades de lazer nos mesmos locais visitados pelos turistas (RAMOS, 2008). Nesse último
caso, há uma relação não mercadológica, o que, possivelmente, facilita diálogo para ambas as partes.
De modo geral, percebeu-se que a relação entre visitantes e as comunidades indígenas preocupou
mais os estudiosos e o poder público do que as próprias comunidades indígenas. Também, apesar de
haver um discurso (quase) homogêneo dentro das comunidades, no que se refere a essa relação, há de
se levar em consideração que cada membro dessas comunidades tem uma opinião individual, por isso,
mesmo no caso em que o turismo está sendo desenvolvido, isso não signica que tal atividade é avaliada
positivamente por todos os visitados.
A relação entre comunidades indígenas e demais atores: percepções de
pesquisadores brasileiros
Embora não seja o foco do artigo, a partir das análises realizadas, compreendeu-se ser interessante
destacar outras relações, para além da que ocorre entre visitantes e visitados, uma vez que elas impactam
tanto ou mais que os turistas nas mudanças socioculturais, como, por exemplo, as relações com o poder
público, com o empresariado e com a população local não indígena, apresentando-se na sequência alguns
fatos expressivos vericados na análise das dissertações e teses sobre o turismo em áreas indígenas no
Brasil, que compuseram o corpus da presente pesquisa.
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No que tange à relação com o poder público, percebeu-se que o tipo da relação dos indígenas com o
poder público local dependeu da característica de cada povo. Um dos prefeitos entrevistados por Baggio
(2007) constatou que os Guarani M’bya eram bastante reservados, não interagindo com não indígenas e
apresentavam reservas até mesmo para procurar os serviços públicos essenciais. Já os Kaingang mantinham
relações abertas e interagiam com a comunidade local e, consequentemente, com o poder público.
Percebeu-se também que, por vezes, a relação entre indígenas e o poder público foi conituosa. Em
Santa Cruz Cabrália e em Porto Seguro, as gestões atuantes quando da pesquisa de Grünewald (1999)
não enquadravam os Pataxó como atração turística, exceto pela venda de suvenires. Também não havia
nenhum plano ou projeto em que constassem as comunidades Pataxó como referencial histórico ou
atração cultural.
Outras vezes, o poder público desejava promover os indígenas, mas de modo não muito adequado.
Lac (2005) constatou, mediante um relato, que, quando os Kaingang de Iraí viviam ao lado do balneário,
o então prefeito sugeriu cercar a comunidade para que os indígenas se mantivessem o mais “tradicional
possível e cobrassem pela entrada de visitantes, tratamento esse que, para o entrevistado, assemelhou-se
ao dispensado a animais em um zoológico.
Em outros casos, o Estado age em prol das comunidades indígenas, mas com a participação mínima
ou sem a participação dos indígenas, como ocorreu com a RI de Dourado. Conforme relata Nunes (2006),
o poder público municipal teve intenção de desencadear parcerias para elaboração de pesquisas sobre
a cultura indígena, bem como de criar condições necessárias para a valorização e para a divulgação das
tradições culturais. No entanto, não ocorreu uma consulta “real” aos indígenas e, nesse processo, alguns
indígenas não compreenderam ou não aceitaram o projeto, se sentiram excluídos e começaram a expressar
o descontentamento com ele.
Outra relação conituosa percebida pelos pesquisadores foi dos indígenas com a iniciativa privada,
seja diretamente ligada ao setor do turismo ou não. Por vezes, algumas empresas turísticas ignoram a
existência de indígenas; outras respeitam os indígenas e recomendavam o passeio; e havia ainda as que
causavam indignação entre os indígenas, como constatou Grünewald (1999), a respeito de um proprietário
de casa de espetáculo interessado em colocar mulheres Pataxó seminuas para dançar. Ademais, havia
empresas que “se apropriam” dos indígenas como se fossem um atrativo seu, assim como identicou Lac
(2005) acerca de hotéis de Iraí que levavam os turistas à comunidade como se fossem proprietários dela.
Contudo, consideram-se mais impactantes os casos em que os funcionários de empresas turísticas
incitam o preconceito. Nunes (2006) vericou que era comum se obter informações acerca da RI
de Dourados nos hotéis da cidade, mas, geralmente, negativas, apontando os indígenas como bravos,
bêbados, sujos, como pessoas que viviam em condições desumanas, entre outros termos pejorativos. Havia
também acusações de crimes, como estupro de mulheres não indígenas. Quanto a isso, uma pessoa ligada
ao poder público municipal armou que, apesar da crença de que a redução de turistas em Dourados era
devida à falta de infraestrutura do município, a manutenção da imagem negativa dos indígenas contribuiu
signicativamente para isso.
Lustosa (2012) relata uma relação mais conituosa, que aqui se entende como resultado da especulação
imobiliária (ainda que visando, em parte, ao turismo), e não do turismo em si. O autor menciona um
empreendimento imobiliário que, além da constante busca pela ocupação da TI e da insistência em armar
a não existência de indígenas na região, contava com fazendas de camarões dentro da TI Tremembé de
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São José e Buriti. Ainda que pareça impactar mais no âmbito ambiental, isso prejudicava as práticas
tradicionais dos Tremembé, como a pesca do caranguejo (mangues foram privatizados), e também houve
interferência no trabalho da roça e na caça, que se encontrava escassa (LUSTOSA, 2012).
Os Jenipapo-Kanindé, apesar de terem superado o conito territorial outrora existente, estavam sendo
aigidos, primeiramente, pela oposição do empresariado cearense, que negava sua existência e, além
disso, foram vítimas do uso indevido da água da Lagoa da Encantada por uma empresa (LUSTOSA, 2012).
Nesse caso, conforme essa autora, além da degradação ambiental, o ecossistema foi fundamental, pois
estava relacionado à segurança alimentar, à identidade cultural e ao cotidiano da comunidade. Portanto,
infere-se que, por vezes, o impacto causado por empresas – turísticas ou não – é mais forte do que os
potenciais impactos causados pelos visitantes.
Por m, menciona-se a relação dos indígenas com a população local. Grünewald (1999) expõe que,
em Santa Cruz Cabrália, os moradores “nativos” tinham uma postura ofensiva em relação aos Pataxó;
a população carente da região não aceitava o fato de os indígenas terem proteção especial do Estado,
acusava-os de práticas inadequadas, como alcoolismo, corrupção, uso de drogas, entre outras. Os conceitos
negativos também eram oriundos dos empresários ligados aos setores imobiliário, fundiário e comercial,
que acusavam os Pataxó de serem “misturados aos brancos. Além disso, vericou-se haver discriminação
em relação às crianças, no colégio local, havendo, conforme Grünewald (1999), uma “discriminação
velada” aos alunos indígenas. Conseguir um trabalho também se tornava difícil e, comumente, os
moradores de Coroa Vermelha, indígenas ou não, mentiam dizendo ser de Santa Cruz Cabrália para não
serem discriminados, como indígenas. O preconceito também foi relatado a Santos (2010) por uma jovem
indígena, que relatou ter ouvido piadas referentes ao fato de ser indígena, porém, a entrevistada armou
que todos tinham orgulho de ser Sateré-Mawé.
Ainda sobre os Pataxó, os não indígenas não outorgavam legitimidade a projetos turísticos indígenas,
não considerando a cultura indígena sucientemente atraente para as possibilidades de turismo
(GRÜNEWALD, 1999). Já no caso do bairro Marçal de Souza, a localidade não era conhecida pelos
habitantes de Campo Grande por esse nome, mas sim como “bairro onde moram os índios”, promovendo,
assim, a ideia de uma espécie de gueto, um espaço caracterizado pela ocupação de uma população
diferenciada” (LACERDA, 2004).
Em relação a essas comunidades inseridas em um centro urbano, pode-se perceber que havia um senso
comum de que os indígenas que vivem nesse espaço “não são mais índios. Em Dourados, estudiosos e
moradores se preocupavam com o fato da RI de Dourados ser próxima à cidade e se isso tornaria possível
a preservação cultural (NUNES, 2006). Essa ideia parece estar ancorada no mito de que indígena deve
viver em meio à mata, pescando e caçando.
No caso dos Kaingang de Iraí, Lac (2005) constatou que os moradores desse município relembravam
saudosamente do tempo em que esses indígenas moravam ao lado do balneário e que foram criados juntos.
Segundo a pesquisadora, a sociabilidade da comunidade Kaingang era mais intensa com moradores da
zona rural e com a camada menos favorecida economicamente, pois, além da proximidade física dos
territórios, eles frequentavam os mesmos espaços, como bailes e jogos de futebol na TI. Porém, não
havia um interesse pela história e pela cultura dos Kaingang; poucos moradores conheciam a história do
município, menos ainda se interessavam em conhecer os indígenas, mesmo quando estes se mostravam
dispostos a realizar apresentações gratuitas para as escolas do munícipio (LAC, 2005).
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Assim, pode-se constatar que a relação entre as comunidades indígenas e a população não indígena,
principalmente dos municípios onde seus territórios estão inseridos, é bastante acentuada; em alguns
casos, tendo expressivo preconceito e, em outros, uma relação amistosa.
Considerações finais
As relações entre visitantes e visitados, em especial nas comunidades indígenas brasileiras em que se
verica o fenômeno, se trata de um tema complexo e delicado, que instiga reexões.
A distinção, ou seja, a mesma cultura que une como meio de comunicação entre os povos os afasta
como instrumento de distinção (BOURDIEU, 1989), a denominada fronteira étnica produz interesse de
desenvolvimento da atividade turística pela busca do diferente, do não usual ou do exótico. Vericou-se
nas dissertações e teses analisadas que o cerne dos problemas das relações entre visitantes e visitados
situa-se, em primeiro lugar, na fronteira étnica e, dentro disso, no desconhecimento a respeito das culturas
indígenas, nos estereótipos criados e no temor existente em diversos turistas a respeito dos indígenas, o
que tem origem nas preconcepções a respeito dos povos indígenas. Em segundo lugar, mas não menos
importante, tem-se o poder assimétrico entre os atores, que diz respeito não apenas ao âmbito social e
cultural, mas também econômico.
Foi possível analisar que, em alguns casos, o turista nem mesmo interagia com as comunidades
visitadas, destarte, a diculdade de que o visitante saia da “região de fachada” e vivencie com maior
profundidade a experiência se enaltece nos casos onde os indígenas são observados com pouca ou sem
nenhuma interação.
Por outro lado, assim como vericado na revisão bibliográca, a cultura é dinâmica, estando em
constante modicação (CUCHE, 1999), seja por assimilação de novos traços culturais ou por abandono
de traços culturais antigos, ou mesmo pelas descobertas e invenções endógenas, seja por interiorização
de traços alheios no contato com outros grupos, a cultura não é vivenciada passivamente pelos atores
sociais, pois, a cultura, enquanto produção histórica do fazer dos homens, é pautada nas relações sociais
e, consequentemente, permeada pelos impactos advindos das relações que os indivíduos e os grupos
estabelecem.
No caso do turismo em comunidades indígenas, alguns pesquisadores vericaram a surpresa ou
incompreensão por parte dos turistas a respeito do modo de viver dos indígenas atualmente. Novamente
se ressalta que tal atitude decorre do desconhecimento a respeito desses povos, bem como do fetichismo
criado a partir da imagem do “índio de 1500”, ou até mesmo de algumas etnias brasileiras que são mais
similares ao que habita o imaginário do não indígena.
Não obstante, embora a pesquisa tivesse como objetivo analisar as relações entre visitantes e visitados,
constatou-se que outros atores interferiam signicativamente nas comunidades indígenas e, com isso,
lançou-se brevemente um olhar sobre essas relações. Embora houvesse conitos e estes serem principalmente
– mas não exclusivamente – relacionados à questão territorial, pelo que pôde ser percebido nas análises,
determinadas relações eram harmoniosas; algumas gestões, geralmente municipais, se mostrando não
favoráveis às questões indígenas; outras, porém, eram favoráveis e auxiliavam os indígenas, inclusive no
âmbito das relações turísticas.
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A partir da presente pesquisa toma-se a liberdade de armar que o poder público é o agente que
mais exerce impacto por ser um agente regulador, que se torna um potencial promotor de mudanças
positivas ou negativas, o qual possui a responsabilidade, por motivos diversos, de promover o bem-estar
das populações, inclusive e principalmente as populações indígenas, estejam envolvidas ou não com o
fenômeno turístico.
No caso dos empresários (iniciativa privada) da área do turismo, em alguns lugares, a parceria entre
hotéis e agências de viagens e as comunidades indígenas foi mais intensa do que em outros. Dependeu, por
vezes, da iniciativa privada, o sucesso do desenvolvimento turístico nas comunidades indígenas, porém,
não raro, ocorram conitos territoriais por conta do uso e apropriação dos recursos e do próprio território,
entre esses atores e a comunidade indígena.
No que diz respeito à população não indígena local, a relação também não chegava a ser conitiva.
Embora ocorressem casos de preconceito e a população não indígena acreditasse, por vezes, que as
comunidades indígenas não fossem mais de “índios autênticos, na maioria dos casos, aparentemente,
havia certa harmonia nas relações estabelecidas entre eles. Não se deve deixar de mencionar que essas
relações contribuem para as alterações socioculturais, podendo-se inferir que as alterações socioculturais
se dão tanto nas relações harmoniosas quanto nas conituosas entre visitantes, sejam eles turistas ou não,
e os visitados, comunidades indígenas brasileiras.
Por m, o presente artigo traçou um panorama geral dos resultados de teses e dissertações brasileiras
sobre a relação entre atores nas comunidades indígenas brasileiras, em especial entre os atores envolvidos
na atividade turística. Compreende-se a necessidade de maior exploração em pesquisas futuras sobre o
turismo enquanto prática de alteridade, além de questões de suma importância como as relações de poder
e alterações no modo de vida das populações visitadas. Faz-se mister observar o fenômeno turístico com
olhar crítico, a m de preencher lacunas e diminuir impactos negativos decorrentes da atividade.
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... O contato, direto ou indireto, dos grupos envolvidos no sistema turístico pode conduzir a mudanças culturais. No entanto, alguns estudos defendem que as relações contínuas, de longa duração, tal qual acontece no turismo, não levam necessariamente ao desaparecimento de diferenças culturais, ao contrário, tais relações são organizadas para manter essas diferenças, provocando uma acentuação das especificidades por meio de uma defesa simbólica das fronteiras identitárias(Corbari;Bahl;Souza, 2018). quando são agregados novos elementos, por meio de intervenções ou inovações culturais, do empréstimo de elementos culturais ou por falhas na transmissão do conhecimento de uma geração para outra. ...
... O contato, direto ou indireto, dos grupos envolvidos no sistema turístico pode conduzir a mudanças culturais. No entanto, alguns estudos defendem que as relações contínuas, de longa duração, tal qual acontece no turismo, não levam necessariamente ao desaparecimento de diferenças culturais, ao contrário, tais relações são organizadas para manter essas diferenças, provocando uma acentuação das especificidades por meio de uma defesa simbólica das fronteiras identitárias(Corbari;Bahl;Souza, 2018). quando são agregados novos elementos, por meio de intervenções ou inovações culturais, do empréstimo de elementos culturais ou por falhas na transmissão do conhecimento de uma geração para outra. ...
... O contato, direto ou indireto, dos grupos envolvidos no sistema turístico pode conduzir a mudanças culturais. No entanto, alguns estudos defendem que as relações contínuas, de longa duração, tal qual acontece no turismo, não levam necessariamente ao desaparecimento de diferenças culturais, ao contrário, tais relações são organizadas para manter essas diferenças, provocando uma acentuação das especificidades por meio de uma defesa simbólica das fronteiras identitárias(Corbari;Bahl;Souza, 2018). quando são agregados novos elementos, por meio de intervenções ou inovações culturais, do empréstimo de elementos culturais ou por falhas na transmissão do conhecimento de uma geração para outra. ...
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Este artigo teve como objetivo discutir, à luz da literatura científica, as características do Turismo de Base Comunitária e de que forma elas contribuem para a dinâmica de comunidades tradicionais, dentro de um contexto nacional. Trata-se de uma análise bibliográfica elaborada a partir de publicações indexadas nas principais plataformas científicas como SciELO e Google Acadêmico, cuja busca ocorreu entre maio e junho de 2024. Os achados da pesquisa foram categorizados, apresentados e discutidos em três categorias, que se apresentam nos quatro tópicos de discussão que formam o desenvolvimento deste artigo: Formas de organização do TBC em comunidades Tradicionais; Impactos socioculturais do TBC em comunidades tradicionais; Relações entre visitantes e comunidades receptoras; e Principais desafios e oportunidades para o desenvolvimento do TBC em comunidades tradicionais. A pesquisa possibilitou concluir que, apesar de grandes desafios que as comunidades tradicionais enfrentam para o desenvolvimento do turismo de base comunitária, este tem se mostrado como uma estratégia viável para essas comunidades, possibilitando geração de renda, protagonismo de atores locais, manutenção dos modos de vida peculiares de cada povo e equilíbrio ambiental.
Article
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As Nações Unidas estabeleceram compromissos com países através dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). O turismo é mencionado explicitamente em quatro passagens da Agenda 2030, mas não em posição central. O objetivo deste artigo é identificar a presença explícita ou implícita dos ODS nas pesquisas publicadas em periódicos científicos de turismo no Brasil; em especial, busca-se identificar os ODS mais frequentes. Identificou-se as características principais das relações construídas, as lacunas de pesquisa e as áreas com maior concentração de conhecimento. Realizou-se análise bibliométrica dos artigos publicados nos quatro principais periódicos brasileiros de turismo entre 2018 e abril de 2021; os objetivos dos artigos foram classificados pelas relações com os ODS por meio da análise de conteúdo por julgamentos independentes. Entre os 396 artigos analisados, 43% têm relação com um ou mais ODS, principalmente com: 8 (19%); 12 (14%); 16 (7%); 11 (5%); 14 e 15 (3%). O trabalho contribui para reconhecer os ODS como critério de classificação e sugerir direções para pesquisas futuras.
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O objetivo principal desta pesquisa é analisar a presença da diversidade cultural indígena nos espaços apropriados pelo turismo na cidade de Manaus. De natureza qualitativa, o estudo se configura como socioantropológico com o desenho metodológico pensado a partir de uma triangulação de procedimentos e abordagens, envolvendo a pesquisa bibliográfica, documental e de campo. Foram realizadas entrevistas com lideranças indígenas e representantes das instituições públicas de turismo em Manaus, além de observação direta em 11 atrativos turísticos localizados em área urbana. Os resultados da pesquisa evidenciam a presença indígena em Manaus, sob a organização em comunidades, centros culturais e associações indígenas. Essas mobilizações têm sido fundamentais na luta pela visibilidade no contexto urbano, mas também para organizar e inserir as atividades culturais desses povos no cenário econômico, comumente propiciado pelas vias do turismo.
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Desde as origens do turismo de massas, na década de 1950, logo depois da Segunda Guerra Mundial, as expectativas em torno do turismo, do ponto de vista cultural, têm estado centradas na potencialidade do mesmo para promover o intercâmbio cultural entre visitantes e visitados, o conhecimento do outro, a consciência da alteridade e, como conseqüência, a paz mundial. Esta potencialidade do turismo foi difundida pela Organização Mundial do Turismo a partir de afirmações realizadas por um dos primeiros teóricos da economia do turismo, W. Hunziker, que entendia que o turismo tornara-se o primeiro instrumento da compreensão entre os povos [que] permite o encontro de seres humanos {...] os reúne {...] constitui um dos principais fatores de aproximação entre os povos e, conseqüentemente, da manutenção de relações pacíficas (apud Krippendorf, 2001, p, 82). Paradoxalmente, o livro que se tornou clássico na antropologia do turismo, "Anfitriões e convidados", mostra, a través dos estudos de caso expostos pelos autores, que a relação entre turistas e população local guarda poucas semelhanças com a relação entre um anfitrião e um convidado, a qual remete a um tipo de hospitalidade que marcou o Grand Tour, quando os nobres que viajavam eram convidados na casa de outros nobres, que faziam o papel de anfitriões, relação esta que se modificou quando a nobreza perdeu o seu poder econômico. Os estudos do livro antes mencionado vieram ao encontro da problemática levantada pelas organizações religiosas reunidas na Coalizão Ecumênica do Turismo do Terceiro Mundo que, na década de 1980 denunciavam os danos provocados pelo turismo, chegando a dizer que "a idéia de que este fenômeno favorece a paz e a amizade entre os povos [é] um mito contemporâneo" (Crick, 1992, p. 361).
Article
This collection of papers by sociologists and anthropologists focuses on the effect of tourism on the maintenance, transformation, and re-creation of ethnic boundaries. Tourism is seen as a special form of ethnic relations, particularly that form of tourism in which the cultural exoticism of the host population is the principal attraction for the tourist. This type of tourism leads to the formation of three main roles: tourist, touree, and middleman. The authors address different aspects of the marketing of ethnicity, such as the role of the state in the development of ethnic tourism; the modification and recreation of ethnic attributes and consciousness as the result of tourism; the transformation of art forms through the tourist trade; the role of the tourist agent; and the formation of ethnic stereotypes in tourist interactions.RésuméIntroduction: le tourisme et l'ethnicité recréée. Un groupe de sociologues et d'ethnologues examine l'effet du tourisme sur le maintien, la transformation et la recréation des frontières ethniques. Ils considèrent le tourisme comme un cas spécial de rapports ethniques, en particulier cette forme de tourisme dans laquelle l'exotisme culturel de la population autochtone constitue la principale attraction touristique. Ce type tourisme produit trois rǒles principaux: touriste, “touree,” et intermédiaire. Les auteurs de cette collection d'articles se consacrent à différents aspects du “marché de l'ethnicité”, tels que le rǒle de l'état dans le dévelopment du tourisme ethnique; la modification et la re-création d'attributs et de la conscience ethniques en conséquence du tourisme; la transformation des formes artistques par le commerce touristique; le rǒle de l'agent de tourisme; et la formation de stéréotypes ethniques dans les interactions touristiques.
Article
Tourism, in addition to being big business, is a strategy for framing and interpreting cultural difference. The driving ideology behind tourism is a form of exotopy, or appropriation of otherness. It shares this exotopic function with anthropology, which is Western culture's official discourse of alterity. Semiotically, tourism and modernist anthropology are oppositionally linked. That is, while their experiential and narrative strategies are opposed, they can both be mapped onto the same general space, by means of semiotic square, and can be shown to overlap. In the postmodern era, both anthropological and touristic ideologies are breaking down, as ethnographic and touristic practices increasingly overlap.RésuméAnthropologie moderniste et tourisme de l'authentique. Le tourisme, en plus d'être une activitééconomique importante, est une stratégie pour encadrer et interpréter la différence culturelle. Son idéologie motrice est une forme d'exotopie, ou appropriation de l'autre. Il partage cette fonction exotopique avec l'anthropologie, qui est le discours officiel occidental de l'altérité. En termes sémiotiques, le tourisme et l'anthropologie sont liés oppositionnellement. C'est-à-dire, tandis que leurs stratégies de narration et d'expérience sont opposées, on peut les tracer sur le même espace, par moyen d'un carré sémiotique, et y trouver un chevauchement. À l'époque post-moderne, les idéologies du tourisme et de l'anthropologie s'effondrent à mesure que les pratiques touristiques et ethnographiques se chevauchent.
The "critical turn" in tourism studies: a radical critique. Tourism Geographies
  • R V Bianchi
BIANCHI, R. V. The "critical turn" in tourism studies: a radical critique. Tourism Geographies, n. 11, v. 4, p. 484-504, 2009. Disponível em: <http://www.tandfonline.com/doi/ pdf/10.1080/14616680903262653>. Acesso em: 05 fev. 2018.
Índios do Descobrimento": tradição e turismo. 350 p. Tese (Doutorado em Antropologia Social
  • R A Grünewald
  • Os
GRÜNEWALD, R. A. Os "Índios do Descobrimento": tradição e turismo. 350 p. Tese (Doutorado em Antropologia Social) -Universidade Federal do Rio de Janeiro/Museu Nacional, Rio de Janeiro, 1999. Disponível em: <http://indiosnonordeste.com.br/wpcontent/uploads/2012/08/TESE-SOBRE-OS-PATAX%C3%93-BAHIA.pdf>. Acesso em: 04 jul. 2015.
Antropologia cultural e social. 5. ed. São Paulo: Cultrix
  • E A Hoebel
  • E L Frost
HOEBEL, E. A.; FROST, E. L. Antropologia cultural e social. 5. ed. São Paulo: Cultrix, 2008.
A (re)tradicionalização dos territórios indígenas pelo turismo: um estudo comparativo entre os Kadiwéu (Mato Grosso do Sul -BR) e Maori (Ilha Norte -NZ). 265 p. Tese (Doutorado em Geografia) -Universidade Federal do Paraná
  • D J Jesus
  • De
JESUS, D. J. de. A (re)tradicionalização dos territórios indígenas pelo turismo: um estudo comparativo entre os Kadiwéu (Mato Grosso do Sul -BR) e Maori (Ilha Norte -NZ). 265 p. Tese (Doutorado em Geografia) -Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2012. Disponível em: <http://dspace.c3sl. ufpr.br/dspace/bitstream/handle/1884/27396/R%20-%20T%20-%20JESUS,%20DJANIRES%20