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A Evolução dos Estudos Comportamentais no Campo do Marketing

Authors:
A EVOLUÇÃO DOS ESTUDOS
COMPORTAMENTAIS NO CAMPO
DO MARKETING
Ricardo Limongi França Coelho1
Universidade Federal de Goias
ricardolimongi@gmail.com
Marcos Inácio Severo de Almeida2
Universidade Federal de Goiás
misevero@yahoo.com.br
Alessandra Cristina Gomes3
Universidade Federal de Goiás
a3gomes@gmail.com
Denise Santos de Oliveira4
Universidade Federal de Goiás
deniseadm@hotmail.com
“People are not so complicated. Relationships between
people are complicated” Amos Tversky
OS ESTUDOS NA ÁREA COMPORTAMENTAL
Os estudos sobre comportamento do consumidor
possuem como característica a investigação a partir da
interdisciplinaridade por contribuir com a compreensão
do comportamento do consumidor em diferentes mo-
1 Doutor em Administração pela EAESP/FGV. Professor e pesquisador do Programa
de Pós-Graduação em Administração (PPGADM/UFG).
2 Doutor em Administração pela UnB. Professor e Pesquisador do Programa de Pós-
Graduação em Administração (PPGADM/UFG).
3 Mestranda em Administração pela Universidade Federal de Goiás.
4 Mestre em Administração pela Universidade Federal de Goiás.
169 A EVOLUÇÃO DOS ESTUDOS COMPORTAMENTAIS NO CAMPO DO MARKETING
mentos do consumo e abordagens (PERACCHIO, LUCE,
& MCGILL, 2014). A interdisciplinaridade do marketing foi
tema do artigo de Barcelos and Rossi (2015) ao investi-
garem, por meio de uma revisão bibliográca, as áreas
do conhecimento mais usadas nos estudos de marketing.
No estudo, os autores identicaram que as principais
áreas são Economia (ciência mãe para o marketing), Psi-
cologia, Sociologia e Antropologia (inuências principais
no entendimento dos consumidores). Essa interação do
marketing com outras áreas pode contribuir na investi-
gação de problemas de pesquisa por meio de novas abor-
dagens, tanto teóricas como metodológicas, tal como o
consumo, que abrange aspectos do comportamento dos
consumidores em relação a preferências, escolhas e pro-
cessos decisórios.
A Economia, em especial, é apontada por Kotler (2016)
como a que contribuiu com o início do marketing quan-
do economistas buscaram uma melhor compreensão da
teoria vigente até então, a neoclássica, para analisar as
ações promocionais e o impacto na demanda. Para que
os economistas possam ter uma melhor compreensão da
escolha dos consumidores, o marketing pode trazer uma
importante contribuição, anal, pesquisadores de marke-
ting buscam coletar informações para compreender, o
que, como, e porque os consumidores tomam suas deci-
sões a partir de diferentes situações (SIMONSON, 2015).
Dessa forma, a aproximação das áreas tem desaado os
pesquisadores de marketing a avaliar o comportamento a
partir de uma visão econômica na inuência da escolha e
na tomada de decisão, e se alinhado com o interesse dos
economistas comportamentais, cujo foco é compreender
170 A EVOLUÇÃO DOS ESTUDOS COMPORTAMENTAIS NO CAMPO DO MARKETING
como os diferentes agentes (pessoas, famílias, empresas
e governo) têm se comportado. Logo, trazer a discussão
do comportamento do consumidor sob a ótica da Econo-
mia, é uma tentativa de alinhar duas áreas, que, em geral,
utilizam também a Psicologia como alicerce teórico em
suas investigações.
Uma tentativa de agregar o conhecimento do marke-
ting na temática de consumidor foi a recente criação de
um periódico intitulado Journal of Marketing Behavior,
que tem como objetivo fomentar pesquisas do compor-
tamento humano nos diferentes locais de compra. Neste
sentido, Simonson (2015) argumenta que o papel dos pes-
quisadores de marketing deveria ser convencer os eco-
nomistas da inadequação dos modelos normativos para
explicar e compreender como as mudanças no ambiente
de compra estão alterando as decisões dos consumido-
res. O autor arma que é preciso avaliar se os estudos das
teorias comportamentais seguirão no caminho de áreas
como Psicologia e Economia, ou em uma nova direção.
Anal, ainda de acordo com o autor, a Teoria de Decisão
Comportamental, por exemplo, demonstra que a teoria
econômica falha ao descrever como o consumidor toma
a decisão, e que novas abordagens poderiam contribuir
na análise a partir da inuência sistemática do julgamen-
to e escolha. A Teoria de Decisão Comportamental tem
como um dos principais pontos de partida o estudo de
Simon (1955), em que, essencialmente, discute a raciona-
lidade limitada e o aspecto de cognição, o que contrariou
os modelos normativos de decisão, que, em geral, viola-
vam este ponto. Cabe ressaltar que os estudos de Her-
berth Simon, vencedor do Nobel de Economia no ano de
171 A EVOLUÇÃO DOS ESTUDOS COMPORTAMENTAIS NO CAMPO DO MARKETING
1978, inuenciaram uma área que tem contribuído para
entender o processo comportamental em relação a deci-
são dos consumidores, a Economia Comportamental.
ECONOMIA COMPORTAMENTAL
“It is true that from a behavioral economics
perspective we are fallible, easily confused,
not that smart, and often irrational. We are
more like Homer Simpson than Superman”
Dan Ariely.
O objetivo da Economia é investigar como os recur-
sos são alocados para indivíduos e instituições, tais como
rmas e mercados (CAMERER, 1999; COLIN & GEORGE,
2004). Dentre as teorias clássicas da Economia, que bus-
cam compreender o aspecto comportamental na alo-
cação de recursos, está a teoria neoclássica, que possui
suposições com base na maximização da utilidade, equi-
líbrio e eciência do mercado, tais como: (a) os consu-
midores têm preferências bem denidas, o que evitaria
cometer erros na escolha; (b) as melhores escolhas dos
consumidores são baseadas em crenças e preferências
sem viés; (c) implicações da melhor escolha não por estí-
mulos e tentações; e (d) visão Homo Economicus, ou seja,
o homem seria racional, egoísta, e suas escolhas ocor-
rem de forma otimizada (SIMON, 1959; THALER, 2016;
TVERSKY & THALER, 1990). Tanto a Economia clássica
como a comportamental têm o foco em investigar como
as escolhas são feitas por meio de efeitos e incentivos,
porém, a comportamental não assume que as pessoas
são racionais. A Economia Comportamental se concentra
em compreender como as pessoas têm se comportado,
como são controladas pelo meio ambiente, e, em geral,
172 A EVOLUÇÃO DOS ESTUDOS COMPORTAMENTAIS NO CAMPO DO MARKETING
são conduzidas por meio da abordagem experimental
para compreender o comportamento dos consumidores
e suas mudanças. Para a Economia Comportamental, as
pessoas podem cometer o mesmo erro devido às inuên-
cias econômicas, psicológicas, sociais e emocionais que
podem ser afetadas por decisões em diferentes contex-
tos (ARIELY, 2010).
Dentre os estudos seminais que avançaram na com-
preensão da área da Economia em avaliar a inuência do
aspecto comportamental das escolhas, dois artigos es-
tão entre os mais inuentes em número de citações: (a) o
economista Simon (1955) com o artigo “A behavioral mo-
del of rational choice”; e, (b) os psicólogos cognitivistas
Kahneman and Tversky (1979) no artigo “Prospect theory:
An analysis of decision under risk. Simon (1955, 1959)
apresentou o conceito de racionalidade limitada em que
defendia que as decisões humanas não são ótimas, pois
existem diferentes limitações durante o processo de es-
colha. Gigerenzer and Goldstein (1996) complementaram
a discussão de Simon ao mencionarem que as escolhas
dos consumidores dependem da estrutura encontrada
no ambiente para então fazerem o melhor uso das ca-
pacidades limitadas durante a escolha. E Kahneman and
Tversky (1979) apresentaram o argumento que as deci-
sões nem sempre são ótimas, pois dependem de como
as escolhas são apresentadas, resultados que foram ob-
tidos a partir de experimentos de escolhas reais e sob
diferentes condições.
A área de Economia Comportamental, em especíco,
que tem historicamente concentrado seus estudos na
temática de escolhas, apareceu, inicialmente, no artigo
173 A EVOLUÇÃO DOS ESTUDOS COMPORTAMENTAIS NO CAMPO DO MARKETING
Behavioral Economics: Areas of Cooperative Research Be-
tween Economics and Applied Behavioral Analysis”, d e K a -
gel and Winkler (1972), economista e psicólogo, respecti-
vamente. No estudo, os autores evidenciam o potencial
para avanço na compreensão da análise do comporta-
mento a partir da aproximação entre as áreas de Econo-
mia e Psicologia, por utilizarem a abordagem experimen-
tal para condução das pesquisas. Cabe ressaltar que além
da abordagem cognitiva, a Economia Comportamental
também tem uma abordagem intitulada como operante,
em que é descrita por Porto (2016) por “se concentrar
mais na experiência de relacionamento entre o compor-
tamento e suas consequências para os consumidores,
empresários, investidores e gerentes quando são unida-
des econômicas individuais”.
Dessa forma, com o avanço do interesse da área de
Economia em se aproximar da área da Psicologia, o ter-
mo Economia Comportamental foi utilizado pelos pes-
quisadores interessados em unir o conhecimento das
duas áreas. Com o avanço dos estudos e com o objetivo
de identicar como os indivíduos tomam suas decisões,
a aproximação das áreas, de acordo com Camerer (1999),
contribuiu para obter melhores predições sobre o com-
portamento econômico dos indivíduos e, assim, compre-
ender melhor como os consumidores realmente tomam
suas decisões. Anal, não se tratam de experts em um am-
biente incerto em relação às diferentes oportunidades de
consumo, e por lidarem com as compras em diferentes
situações que alteram o nível de conhecimento do produ-
to, estímulos e tentações, como a perspectiva hedônica e
utilitária (KHAN, DHAR, & WERTENBROCH, 2004).
174 A EVOLUÇÃO DOS ESTUDOS COMPORTAMENTAIS NO CAMPO DO MARKETING
Dentre os pilares da Economia Comportamental está
a compreensão de como os indivíduos tomam suas de-
cisões (CAMERER, 1999). Um dos principais nomes que
discutiram a forma da racionalidade dos indivíduos é
Herbert Simon, que, nos anos de 1950, pros a teoria da
racionalidade limitada, que, em geral, defendia a teoria
dos indivíduos com base em algoritmos que incorpora-
riam mecanismos cognitivos (SIMON, 1955). Nos anos de
1970, dois psicólogos cognitivos, Amos Tversky e Daniel
Kahneman, discutiram a maximização de utilidades e re-
gras lógicas para os julgamentos e probabilidades como
referências para contribuir com a compreensão do as-
pecto cognitivo dos indivíduos, e contribuíram com o
aspecto da modelagem da racionalidade limitada pro-
posto anteriormente por Herbert Simon (KAHNEMAN,
2003). Kotler (2016) destaca que a junção da Economia
Comportamental com a área de marketing nas pesquisas
sobre Comportamento do Consumidor pode alertar os
consumidores a partir do resultado dos estudos sobre as
diferentes situações enfrentadas no momento da com-
pra. A área de vieses e heurísticas, por exemplo, estudam
por qual motivo as pessoas tomam decisões impulsivas
ou prejudiciais (TVERSKY & KAHNEMAN, 1975). Logo,
entender o comportamento humano e a irracionalida-
de humana do processo de decisão, é a chave para criar
proposições de valores ou produtos de relevância para o
mercado (THALER, 2016).
175 A EVOLUÇÃO DOS ESTUDOS COMPORTAMENTAIS NO CAMPO DO MARKETING
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Article
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Humans and animals make inferences about the world under limited time and knowledge. In contrast, many models of rational inference treat the mind as a Laplacean Demon, equipped with unlimited time, knowledge, and computational might. Following Herbert Simon's notion of satisficing, this chapter proposes a family of algorithms based on a simple psychological mechanism: one-reason decision making. These fast-and-frugal algorithms violate fundamental tenets of classical rationality: It neither looks up nor integrates all information. By computer simulation, a competition was held between the satisficing "take-the-best" algorithm and various "rational" inference procedures (e.g., multiple regression). The take-the-best algorithm matched or outperformed all competitors in inferential speed and accuracy. This result is an existence proof that cognitive mechanisms capable of successful performance in the real world do not need to satisfy the classical norms of rational inference.
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Behavioral economics increases the explanatory power of economics by providing it with more realistic psychological foundations. This book consists of representative recent articles in behavioral economics. This chapter is intended to provide an introduction to the approach and methods of behavioral economics, and to some of its major findings, applications, and promising new directions. It also seeks to fill some unavoidable gaps in the chapters’ coverage of topics.
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The current research methods of behavioral economics are characterized by inadequate empirical foundations. Psychologists involved in the experimental analysis of behavior with their research strategies and their experimental technology, particularly that of the Token Economy, can assist in providing empirical foundations for behavioral economics. Cooperative research between economists and psychologists to this end should be immediately fruitful and mutually beneficial. 1972 Society for the Experimental Analysis of Behavior
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Analysis of decision making under risk has been dominated by expected utility theory, which generally accounts for people's actions. Presents a critique of expected utility theory as a descriptive model of decision making under risk, and argues that common forms of utility theory are not adequate, and proposes an alternative theory of choice under risk called prospect theory. In expected utility theory, utilities of outcomes are weighted by their probabilities. Considers results of responses to various hypothetical decision situations under risk and shows results that violate the tenets of expected utility theory. People overweight outcomes considered certain, relative to outcomes that are merely probable, a situation called the "certainty effect." This effect contributes to risk aversion in choices involving sure gains, and to risk seeking in choices involving sure losses. In choices where gains are replaced by losses, the pattern is called the "reflection effect." People discard components shared by all prospects under consideration, a tendency called the "isolation effect." Also shows that in choice situations, preferences may be altered by different representations of probabilities. Develops an alternative theory of individual decision making under risk, called prospect theory, developed for simple prospects with monetary outcomes and stated probabilities, in which value is given to gains and losses (i.e., changes in wealth or welfare) rather than to final assets, and probabilities are replaced by decision weights. The theory has two phases. The editing phase organizes and reformulates the options to simplify later evaluation and choice. The edited prospects are evaluated and the highest value prospect chosen. Discusses and models this theory, and offers directions for extending prospect theory are offered. (TNM)
Three questions on Behavioral Economics
  • D Ariely
Ariely, D. (2010). Three questions on Behavioral Economics. Retrieved from: <http:/ /danariely.com/2010/07/10/three-questions-on--behavioral-economics/>
A contribuição da produção científica em Marketing para as Ciências Sociais
  • R H Barcelos
  • C A V Rossi
Barcelos, R. H., & Rossi, C. A. V. (2015). A contribuição da produção científica em Marketing para as Ciências Sociais. In: Revista de administracao contemporanea, Rio de Janeiro, v. 19, 2. ed. esp. (ago. 2015), p. 197-220. Disponível em: <http:/ /dx.doi.org/10.1590/ 1982-7849rac20151740>
Behavioral economics: Reunifying psychology and economics
  • C Camerer
Camerer, C. (1999). Behavioral economics: Reunifying psychology and economics. In: Proceedings of the National Academy of Sciences, 96(19), 10575-10577.
Why Behavioral Economics Is Really Marketing Science
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Kotler, P. (2016). Why Behavioral Economics Is Really Marketing Science. Retrieved from: <http:/ /evonomics.com/behavioraleconomics-neglect-marketing/>