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Abstract

Problematiza o conceito documento em disciplinas que privilegiam a ênfase nas características de fisicalidade do suporte para alguma finalidade prática. Argumenta a necessidade de complementaridade a tais construtos no sentido de buscar caminhos de compreensão do fenômeno holisticamente, lançando as seguintes hipóteses: a) a materialidade do documento é ulterior à fisicalidade do suporte; b) o documento se constitui como um produto de práticas sociais, envolvido por diferentes institucionalidades. A reflexão sobre a relação simbiótica entre materialidade do documento e práticas sociais e institucionalidades é precedida do questionamento da epistemologia como espaço meta-discursivo, encontrando no componente político uma alternativa complementar e estratégica. Busca compreender o documento como objeto com valor social (fonte de informação ou evidência), tendo em vista, dentre outros aspectos, a autoridade do sujeito que valida o objeto nalgum contexto institucional. Objetiva, ainda, demonstrar que a materialidade do documento tem sua identidade determinada por sua função documental e por práticas sociais que lhe conferem valor político. Para tanto, encontra subsídio em aspectos abordados nas obras de Michel Foucault e de Maria Nélida Gonzáles de Gómez, considerando variáveis presentes desde a concepção de valores documentais até a validação da informação para a transformação do objeto em documento. Consideram, nessa direção, regimes, ações e práticas informacionais, num espaço interpretativo direcionado à tentativa de compreensão de empreendimentos epistemológicos e políticos de algum modo tocados, institucionalmente, pela relação saber-poder.
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v. 23, n. 51, 2018.
p. 138-156
ISSN 1518-2924
Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da informação, v. 23, n. 51, p. 138-
156, jan./abr., 2018. ISSN 1518-2924. DOI: 10.5007/1518-2924.2018v23n51p138
Documento e institucionalidades: dimensões epistemológica e
política
Document and institutionalities: epistemological and political dimensions
Rodrigo RABELLO (rdgrabello@gmail.com)*
* Professor da Faculdade de Ciência da Informação - UnB.
Resumo: Problematiza o conceito documento em disciplinas que privilegiam a ênfase nas
características de fisicalidade do suporte para alguma finalidade prática. Argumenta a necessidade de
complementaridade a tais construtos no sentido de buscar caminhos de compreensão do fenômeno
holisticamente, lançando as seguintes hipóteses: a) a materialidade do documento é ulterior à
fisicalidade do suporte; b) o documento se constitui como um produto de práticas sociais, envolvido
por diferentes institucionalidades. A reflexão sobre a relação simbiótica entre materialidade do
documento e práticas sociais e institucionalidades é precedida do questionamento da epistemologia
como espaço meta-discursivo, encontrando no componente político uma alternativa complementar e
estratégica. Busca compreender o documento como objeto com valor social (fonte de informação ou
evidência), tendo em vista, dentre outros aspectos, a autoridade do sujeito que valida o objeto nalgum
contexto institucional. Objetiva, ainda, demonstrar que a materialidade do documento tem sua
identidade determinada por sua função documental e por práticas sociais que lhe conferem valor
político. Para tanto, encontra subsídio em aspectos abordados nas obras de Michel Foucault e de
Maria Nélida Gonzáles de Gómez, considerando variáveis presentes desde a concepção de valores
documentais até a validação da informação para a transformação do objeto em documento.
Consideram, nessa direção, regimes, ações e práticas informacionais, num espaço interpretativo
direcionado à tentativa de compreensão de empreendimentos epistemológicos e políticos de algum
modo tocados, institucionalmente, pela relação saber-poder.
Palavras-chave: Documento. Institucionalidade. Relação saber-poder. Epistemologia. Política.
Abstract: This paper problematizes the concept ‘document’ in disciplines prioritizing the emphasis
on the characteristics of physicality of the support for a practical objective. It points the need to
complement such constructs meaning to seek ways of comprehending the phenomenon holistically,
casting the following hypotheses: a) the materiality of the document is ulterior to the physicality of
the support; b) the document is constituted as a product of social practices, surrounded by different
institutionalities. The reflection on the symbiotic relation among the materiality of the document,
social practices, and institutionalities is preceded by the questioning of the epistemology as a meta-
discursive space, finding in the political component a complementing strategic alternative. It seeks to
comprehend the document as an object with social value (source of information or evidence),
considering, among other aspects, the authority of the subject who validates the object in an
institutional context. It aims also to demonstrate that the materiality of the document has its identity
determined by its documental function and by social practices conferring political value to it. Hence, it
finds subsidy in aspects approached in the works by Michel Foucault and Maria Nélida Gonzáles de
Gómez, considering variables found ranging from the conception of documental values to the
validation of information transforming the object in a document. They consider, thus, informational
practices, actions, and regimes, in an interpretative space aiming to attempt to comprehend political
and epistemological undertakings somehow regarded, institutionally, by the power-knowledge
relation.
Keywords: Document; Institutionality; Power-Knowledge Relation; Epistemology; Politics.
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ENSAIO
Recebido em:
17/05/2017
Aceito em:
04/12/2017
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1 INTRODUÇÃO
Campos do saber que têm o documento como objeto de estudo para citar
alguns: história, diplomática, arquivologia, biblioteconomia, documentação, ciência da
informação tendem, segundo epistemologias particulares, a interpretá-lo como
suporte que contém informação registrada, suporte que evidencia fatos, fonte para a
representação da realidade, fonte para a elaboração de metainformação ou produtos
documentais com a finalidade de organização, recuperação e uso de conteúdos em
sistemas de informação, dentre outros entendimentos. Tais enunciados trazem pistas
sobre a constituição do documento e tendem a focar características da fisicalidade do
suporte para alguma finalidade prática.
Existem, por sua vez, ao menos outros dois enunciados que auxiliam a
compreender o documento holisticamente e que merecem ser investigados: a) a
materialidade do documento é ulterior à fisicalidade do suporte; b) o documento se
constitui como um produto de práticas sociais, envolvido por diferentes
institucionalidades. Tais enunciados têm como mérito o fato de que o primeiro traz nas
palavras materialidade e documento valores em correspondência às expressões
nucleares do segundo enunciado, práticas sociais e institucionalidades.
A materialidade do documento em sinergia às interpretações das práticas
sociais e das institucionalidades revela não apenas a necessidade de epistemologias
alternativas com interesse em pesquisa fundamental ou básica, mas, até mesmo, a
possibilidade de questionamento da epistemologia como espaço metadiscursivo ou
lugar de interpretação pública dos campos do saber, encontrando no componente
político uma alternativa complementar e estratégica.
O componente político será abordado complementarmente à dimensão
epistemológica em algo que pode ser pensado como uma “dupla hermenêutica”
(GONZÁLEZ de GÓMEZ, 1999/2000) para o estudo das institucionalidades constituídas
e constituintes de valores do documento no sentido de operacionalizar modos de
validação da informação. Em particular, são de interesse os valores expressos em
práticas sociais respaldadas por saberes institucionais que legitimam discursos
(RABELLO; RODRIGUES, 2014; 2016) num processo de validação dos objetos para a sua
transformação em documento, também expresso, em sua politicidade, na condição de
monumento (FOUCAULT, 2005; LE GOFF, 1994).
Busca, com essa trajetória, subsídios para compreender o documento como
objeto com valor informativo (HJORLAND, 2000) à luz da sua potencialidade de fonte de
informação ou evidência (BUCKLAND, 1991), cuja autoridade de validação do sujeito ao
objeto em algum contexto institucional é, de modo ideal, reconhecida por outrem,
permitindo a atribuição de sentidos diversos, dentre os quais o de valor probatório no
âmbito acadêmico-disciplinar.
Depreende, ainda, que a materialidade do documento transcende a fisicalidade
do objeto, haja vista se apresentar como uma expressão material dos enunciados que
circulam socialmente e provocam práticas sociais e em contextos institucionais
(FROHMANN, 2008). Nesse sentido, o documento tem sua identidade determinada, em
parte, por sua função documental. Com efeito, o documento, como o produto de práticas
sociais, encontra, nalguma medida, peso político.
A emergência do olhar holístico sobre o documento como um fenômeno social
encontra subsídio em aspectos abordados nas obras de Michel Foucault e de Maria
Nélida Gonzáles de Gómez, onde se identificam variáveis a serem consideradas desde a
concepção de valores documentais até a validação da informação para a transformação
do objeto em documento. Consideram-se, nessa direção, regimes, ações e práticas
informacionais, num espaço interpretativo direcionado à tentativa de compreensão de
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empreendimentos epistemológicos e políticos de algum modo tocados,
institucionalmente, pela relação saber-poder.
A linha argumentativa que se segue está estruturada em três seções centrais. A
primeira delas aborda a “dupla hermenêutica” como caminho promissor de investigação
do documento para, na seção seguinte, identificar “alcances da materialidade” do
documento, algo complementarmente explorado na seção que antecede as
considerações finais em termos de institucionalidades.
2 DOCUMENTO E “DUPLA HERMENÊUTICA”
O documento pode ser apreciado tendo em vista, dentre outros aspectos, o
“aprisionamento” da palavra ou do registro num objeto, considerando, além do suporte,
a forma documental, ou a partir da crença na possibilidade de se “representar”
inequivocamente a realidade social, tendo o documento como fonte, ou, ainda, da
possibilidade de se reconhecer a monumentalidade do documento quando este serve de
recurso para a “legitimaç~o de discursos”. Tais valores são importantes para a reflexão
sobre o lugar de observação ou o empenho teleológico do observador que busca
compreender o documento como fenômeno social (RABELLO; RODRIGUES, 2014).
Assim, o documento, como produto e/ou fonte de representação, tem relevância
epistemológica, como construto, para diferentes disciplinas acadêmicas. Nesse caso, a
epistemologia se apresenta como campo de interpretação, de atualização e de revisão,
ou seja, como espaço meta-explicativo sobre a ciência e seus objetos. Isso tem resultado,
com efeito, no questionamento do lugar que define o que é ciência e o que é científico a
partir do primado da positividade de saberes sobre a natureza ou sobre os critérios
metódicos de representação do real.
González de Gómez (2000), no entanto, apresenta uma crise da epistemologia,
sobretudo a partir das contribuições de Ludwig Joseph Johann Wittgenstein. Nessa
direção, a autora aborda o desafio da epistemologia, tomando como exemplo o conceito
informação, também recepcionado como objeto da ciência da informação. A informação,
nesse contexto, se constituiria com um caráter estratificado e transversal, em relações
inter/transdisciplinares, com positivação conceitual dificultada haja vista seu estado de
“indecibilidade estrutural” e sua configuração em diferentes “modelos sociotécnicos”.
Esse percurso é relevante haja vista que ao conceito informação, dentre outros aspectos,
é atribuída posição nuclear para a constituição do documento.
As ciências modernas, sobretudo as humanas e sociais, têm enfrentado uma
crise metadiscursiva, algo que tem sido objeto de interesse da epistemologia. Não
obstante, a própria epistemologia também se apresenta como espaço metadiscursivo
em crise, tendo em vista a atual dificuldade de interpretação da noção de
“cientificidade” a partir dos desafios colocados, por exemplo, no plano da linguagem,
expresso na “virada linguística”, que tem o filósofo Wittgenstein como um de seus
principais expoentes.
No ocidente, a ciência se apresentou como a “voz” oficial da apreens~o e da
explicaç~o (preferencial e imperativa) do “mundo real”. Além disso, em diversificadas
arenas metadiscursivas ocorreram disputas pela definição da própria cientificidade e foi
a “[...] epistemologia que durante muito tempo reclamou para si o direito e a
competência de dizer da ciência um algo a mais que ela não disse e nem compreende
acerca dela mesma.” (GONZÁLEZ de GÓMEZ, 2000, p. 2). A partir dessa complexa
função, a epistemologia enfrentou uma dupla tarefa: a) estabelecer o que é ciência (o
todo); e b) buscar uma hierarquia e uma classificação (estudo das partes mediante uma
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valorização referencial e analítica) para a composição das disciplinas que formarão
aquele todo.
Seguindo esse raciocínio, o controle metodológico possibilitaria a
comensurabilidade de conceitos e teorias, sustentando-se, por fim, numa formalização
lógica da linguagem para sua utilização no processo argumentativo. Entretanto, o
conceito de paradigma científico de Thomas Kuhn, na consideração da universalidade
da linguagem, demonstra a fragilidade desse controle à luz dos pressupostos trazidos
por Wittgenstein. Tal fragilidade tem por fundamento a impossibilidade de existência
de uma linguagem universal, capaz de sintetizar as demais. Desse modo, a epistemologia
perderia a sua autoridade, pois nenhum saber, a partir da perspectiva de Wittgenstein,
teria autoridade para legitimar outro como científico e objetivo, perdendo o privilégio
exclusivo de ser o “saber julgador” ao se situar como o lugar de uma “interpretaç~o
pública”.
Para além das iniciativas normativas, as tomadas de decisões relativas à política
científica e a conformação epistemológica passaram, à luz da instabilidade exposta por
González de Gómez (2000), a ser justificadas posteriormente. Numa palavra, o
distanciamento da noção de formalidade científica centrada na noção de linguagem
objetiva, universal e comensurável prescinde de tornar opaco algo que a
epistemologia ainda contribui para a concepção de ciência: a propriedade de a ciência
estar em contínuo processo de construç~o, mediante o constante exercício de “por à
prova” teorias e métodos válidos, algo que a diferencia do caráter dogmático, por
exemplo, mítico-religioso.
A complexidade que envolve o lugar de intepretação da epistemologia pode ser
analisada, portanto, numa dimensão metodológica, em cujos diversos nexos advêm do
reconhecimento de premissas “poliepistemológicas” (GONZÁLEZ de GÓMEZ,
1999/2000), abarcando, além da política e do conhecimento técnico e científico, outros
horizontes, como as dimensões econômica e ética (GONZÁLEZ de GÓMEZ, 2015), num
ambiente teórico e metodológico propício para o denominado discurso “pós-
epistemológico” (GONZÁLEZ de GÓMEZ, 2016).
Ao tematizar as premissas “poliepistemológicas”, a autora problematiza, no
âmbito metodológico, a ideia de existência de um único programa de investigação para a
ciência da informação, questionando, para a disciplina, algo com um único núcleo ou
objeto de estudo como é o caso da informação ao destacar a influência e/ou a
consequência da escolha heurística para a intervenç~o no campo { luz da “dupla
hermenêutica”, de cunho “epistemológico” e político” (GONZÁLEZ de GÓMEZ,
1999/2000).
A “dupla hermenêutica” pode contribuir para o estudo do documento ao
permitir a investigação das institucionalidades daqueles que o validam e das
instituições que assim o recepcionam, como os arquivos, as bibliotecas, os laboratórios,
os museus, os cartórios, dentre outras. Nesse contexto, a linguagem tem papel relevante
empregada segundo forças sociais que delineiam a construção da memória coletiva e
que instrumentalizam a escrita da história (SCHWARTZ; COOK, 2004) e outros modos
de representação da realidade.
Os campos científicos encontram nas fontes documentais validadas
(identificação de objetos, análise, avaliação, certificação e julgamento) e, por
conseguinte, selecionadas por seus saberes metódicos e técnicos, valor em algo com
sentido informação e que evidencia algum fenômeno que possa ser traduzido em
termos probatórios no âmbito acadêmico-disciplinar. Isso porque o conhecimento
científico busca classificar e representar os fenômenos naturais ou sociais por
intermédio de procedimentos metódicos, levando à noção de positividade do
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conhecimento, cuja referência remonta os empreendimentos do início da ciência
moderna.
Nessa direção, faz-se oportuno ressaltar que nos setecentos houve o surgimento
de uma acepção científica taxonômica desenvolvida no bojo dos empreendimentos da
história natural, caracterizando-se como um “[...] espaço aberto na representaç~o por
uma an|lise que se antecipa { possibilidade de nomear.” (FOUCAULT, 1999, p. 178).
Essa historiografia iniciou um novo modo de intervenção, mediante o estudo dos seres
vivos. Trouxe um ordenamento e um olhar acurado sobre as coisas, que passaram a ser
classificadas e transcritas sob o imperativo da fidedignidade e da neutralidade das
ações. “E é nesse tempo classificado, nesse devir quadriculado e especializado que os
historiadores do século XIX se empenharão em escrever uma história enfim
‘verdadeira’.” (FOUCAULT, 1999, p. 180-181).
A partir desse raciocínio, posteriormente reiterado por Souza e Murguia (2012),
a classificação apresenta uma forma de ordenamento cuja disposição relacional permite
que os objetos possam adquirir vínculos significativos entre si, sejam vínculos entre
objetos naturais ou artificiais (MURGUIA, 2010, p. 133). Há, nesse contexto, o
pressuposto de que alguém com autoridade detém o poder de dizer que algo pode ou
não ser fonte para a representação da realidade. Criam-se práticas mediante as quais os
discursos são legitimados. O documento serve de prova, mas não deixa de ser um valor,
uma escolha ou para usar uma expressão empregada por Foucault (2005) e reiterada
e aprofundada por Le Goff (1994) um monumento.
O documento-monumento sintetiza e provoca a reflexão sobre as
institucionalidades envolvidas na transformação do objeto em algo com valor social, não
apenas em algo com valor acadêmico-disciplinar, mas também político. As fases da
arqueologia e da genealogia, que compõem parte significativa da obra de Michel
Foucault, podem ser profícuas para a realização de pesquisas que consideram a
simultaneidade de interesses epistemológicos e políticos tocantes à busca do
entendimento dessas diferentes institucionalidades.
Ambas as fases são complementares, de modo que “[...] Não pré e pós-
arqueologia ou genealogia em Foucault. Contudo, o peso e a concepção destas
abordagens mudaram no decorrer do seu trabalho. (DREYFUS; RABINOW, 1995, p.
116, grifos dos autores). Portanto, a arqueologia apresenta aparentemente força
epistemológica e a genealogia força política. Há de se ponderar que, nesta última fase, o
sentido hermenêutico fora em grande medida questionado em meio à pluralidade de
possíveis interpretações.
A arqueologia tem como objeto teórico as práticas discursivas ou o discurso-
objeto (compreendido com um conjunto de enunciados de um mesmo sistema de
formação), com vistas a descrever por que os discursos, num dado momento, são
orientados estrategicamente por determinados formalismos. A descrição acolhe e faz
funcionar ou excluir, esquecer ou desconhecer a estrutura formal do discurso
conjunturalmente conformada (DREYFUS; RABINOW, 1995).
A genealogia se caracteriza pela priorização da prática ante a teoria
(arqueologia). Nesse contexto, o sujeito investigador não se constitui como o expectador
desligado dos monumentos discursivos mudos, { medida que passa a “[...] diagnosticar e
compreender o significado das pr|ticas sociais a partir do seu próprio interior.”
(DREYFUS; RABINOW, 1995, p. 115), assim como diagnosticar o “biopoder”, entendido
como o conjunto de práticas históricas que produz os objetos humanos sistematizados
pelo estruturalismo e os sujeitos humanos explicados pela hermenêutica.
A relação saber-poder é um construto aprofundado nas formulações
genealógicas abordadas, dentre outras ocasiões, quando Foucault iniciou a depreender,
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primeiro, sobre as relações entre saber biológico e o poder moderno e, segundo, acerca
das ciências humanas e sociais, quando “[...] a genealogia pode perguntar sobre o papel
histórico e político desempenhado por estas ciências.” (DREYFUS; RABINOW, 1995,
p.130-131) e acerca da formação de tecnologias disciplinares do corpo.
Nessa perspectiva, o corpo passa a ser analisado como suporte onde as relações
de poder operam, seja o corpo produtivo e/ou submisso. O corpo é formado e
construído por regimes, “[...] ele é destroçado por ritmos de trabalho, repouso e festa;
ele é intoxicado por venenos [...]” (FOUCAULT, 2002, p. 27); h| alguma tecnologia
política e mecanismos que se inter-relacionam com o Estado e com instituições
particulares, num fenômeno denominado de microfísica do poder. O documento-
documento não seria uma expressão de tal microfísica?
A “dupla hermenêutica” assume, nesse horizonte interpretativo, o relevante
desafio de compreender a “legitimaç~o de discursos”, constituído e constituinte dos
valores produzidos por diferentes epistemes e institucionalidades e pela relação saber-
poder, sintetizada, nalguma medida, no binômio documento-monumento. Tal fenômeno
permite compreender as eletividades, mediadas pela linguagem, circunscritas
institucionalmente e expressas em termos de materialidade do documento e de práticas
sociais mediante as quais os discursos são legitimados.
3 ALCANCES DA MATERIALIDADE
A perspectiva da “legitimaç~o de discursos” realoca ou descentraliza, sem
prescindir de negar, o entendimento de documento focado na fisicalidade do suporte
(matéria + forma + conteúdo temático/descritivo), isto é, como “coisa” ou suporte que
contém evidência/registro (BUCKLAND, 1991) com abrangência à possiblidade de
representação e produção de índices (BRIET, 1951) no bojo do estrato “informacional
ou sem}ntico” (GONZÁLEZ de GÓMEZ, 1999) para fins de organização, recuperação e
uso (MEYRIAT, 1981) em instituições informativas e documentais ou de memória
(HJORLAND, 2000).
Essa fisicalidade, quando não concebida em possíveis inter-relações ou seja,
desconsiderando outros estratos de informação e forças que governam infraestruturas
e redes tende a não contemplar outros alcances da materialidade do documento. O
estudo do documento no contexto institucional passa pelo interesse de objetos
potencialmente informativos e, por vezes, as “[...] naturezas intrínsecas desses objetos
s~o relativamente irrelevantes.” (HJORLAND, 2000, p. 39). O estudo de tal
potencialidade informativa aponta para a difícil tarefa relacionada à circunstancialidade
e à situacionalidade da informação, seja como evidência ou representação de eventos
(espontâneos ou recriados) ou naquilo que pode, segundo “n” vari|veis, ser definido
com pertinente e significante (BUCKLAND, 1991).
A concepção holística da materialidade do documento pressuposta nas
variáveis presentes na transformação do objeto em algo com valor social e institucional
pode se beneficiar de possíveis interpretações que congregam perspectivas políticas e
epistemológicas, considerando ao menos 11 (onze) caminhos que podem se intercruzar,
a saber: a) institucionalidade, b) cultura material, c) regimes de informação, d) ações de
informação, e) práticas informacionais, f) validação da informação, g) estudo da forma
documental, h) historiografia, i) burocracia, j) materialidade da informação, k)
desenvolvimento de coleções, l) organização do conhecimento. Cada um desses
caminhos será abordado brevemente a seguir, numa espécie de “gloss|rio”.
A institucionalidade depreende da situação ou do espaço formal (ou menos
formal) onde ocorre a objetivação de atributos ou valores aos objetos por aqueles que
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os produzem, em termos, por exemplo, de autoridade epistêmica (GONZÁLEZ de
GÓMEZ, 2007), os coletam, os organizam e os armazenam ações incidentes a algo, a
algum objeto que pode ser traduzido na noção de patrimônio (GRIGOLETO; MURGUIA,
2013) ou os utilizam, tendo em vista o reconhecimento de alguma autoridade e/ou
relevância da informação que possa ser útil e culminar na sua apropriação para a
produção de conhecimento. Nesse contexto, o documento pode apresentar funções as
mais diversas fonte de ensino/instrução para a transmissão e obtenção de
conhecimento, para a memória social ou coletiva, para a prova, dentre outras próprias
a sua criação ou atribuídas posteriormente ao objeto.
A cultura material antecede, acompanha ou auxilia a explicar fenômenos da
institucionalidade dos objetos, à medida que remete aos testemunhos da presença e da
intervenção do homem no meio ambiente e nos objetos ali presentes, em
dessemelhantes contextos socioculturais. Quando tomada como objeto de estudo no
âmbito científico, no século XIX os estudos sociológicos de Émile Durkheim
contribuíram ao se voltarem a mecanismos gerais do funcionamento das coletividades
humanas; estudos arqueológicos marcaram uma mudança paradigmática quando
deixaram de considerar artefatos da pré-história, ossadas e utensílios (BUCAILLE;
PESEZ, 1989); estudos historiográficos, sobretudo após as contribuições dos Annales,
têm ocupado o lugar dos arqueólogos ao estudar os fenômenos pós-invenção da
imprensa (BURKE, 1992). A dimensão política, econômica e ética dos objetos e artefatos
quando concebidos como documento-monumento (LE GOFF, 1994) e/ou como
mercadoria (APADDURAI, 1991) pode ser apreciada em termos de regimes de
informação.
Os regimes de informação, em expressão de inspiração foucaultiana empregada
por Frohmann (1995), podem ser compreendidos, numa concepção particular de
González de Gómez (2003), como o modo de formação social dominante que define a
maneira de produção da informação em vigor em determinado lugar, tempo e
conjuntura. Inscrevem-se em possibilidades culturais e condicionados a relações de
poder. Delineiam ou influenciam a ação dos sujeitos, das organizações, das regras e das
autoridades. Orientam ou direcionam a escolha dos meios e dos recursos
informacionais preferenciais, bem como os critérios de padronização da informação
referencial ou de excelência. Padronizam as maneiras de organização, interação e
distribuição da informação, constituindo redes, formais e informais, relativamente
estáveis, operacionalizadas mediante ações de informação.
As ações de informação, em construto respaldado em parte pela teoria da ação
social de Max Weber e na teoria da ação comunicativa de Jürgen Habermas,
correspondem a uma perspectiva situacional que não privilegia o cognitivismo
embora, em estudo original de Wersig e Windel (1985), essa perspectiva tenha sido
uma clara influência a partir de abordagens individual e coletiva. Tais ações derivam
de variáveis de ordem política e ética presentes em estratos diversificados (GONZÁLEZ
DE GÓMEZ, 1999): informacional ou semântico (pragmático), dispositivos de
informação (tecnológico) e metainformacional ou infraestrutural (regulatório),
formando zonas de interseção tecnológicas de transmissão cultural (narrações),
integração social (configuração de coletivos; acordos e solidariedade) e de socialização
(identificações) (GONZÁLEZ DE GÓMEZ, 2012).
Esses estratos podem ser pensados, em sua particularidade, em termos de
práticas informacionais e correspondem a modos de operação nos regimes de
informação por meio dos quais as ações, em analogia à premissa informacional
apresentada por González de Gómez (1999), podem também desvelar qual é o caso em
que o objeto, valorado como documento, será o caso. Nas palavras de González de Gómez
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(1999/2000, p. 337), pode-se dizer que [...] uma ~o de informaç~o antecipa e
condiciona a concepção ou aceitação de algo como informação tal como a ação de
documentar antecipa e condiciona o que será produzido e reconhecido como
documento.”
As práticas informacionais podem anteceder o uso da informação
(SAVOLAINEN, 2007). Elas podem ser concebidas como a extensão ou especificação das
ações de informação, ou seja, quando estas são pensadas em contextos cotidianos,
profissionais e/ou epistêmicos. Por exemplo: o estrato “informacional ou sem}ntico”
corresponde, dentre outras práticas, ao âmbito do tratamento da informação em
instituições específicas (indexação em biblioteca, classificação em arquivo,
representação descritiva em museu etc.); o estrato dos “dispositivos de informaç~o”
corresponde, dentre outras práticas, à criação de instrumentos particulares, às
tecnologias diversas, às linguagens documentais (sistemas de classificação, tesauros,
ontologias etc.); o estrato “metainformacional ou infraestrutural” corresponde {s
políticas de informação diversas e/ou amplas, como àquelas que se situam no bojo de
políticas em ciência e tecnologia, direcionadas, por exemplo, às práticas relacionadas ao
acesso aberto, à ciência aberta, em contextos institucionais particulares, somando-se a
outras políticas específicas, como as de desenvolvimento de coleções, de organização, de
disseminação da informação, dentre outras.
A validação da informação, pressuposta em tais práticas, incide, nalguma
medida, na criação ou apropriação de valores para a transformação do objeto em
documento. O processo validação pode ser pensado, dentre outros aspectos, em termos
de relevância na recuperação da informação (SARACEVIC, 2009) e de elementos
intrínsecos que conferem credibilidade aos objetos, ou em termos da ação dos sujeitos
gnosiológicos em sua autoridade cognitiva que permite compreender os produtos ou
indícios de autoria (RIEH; BELKIN, 1998; RIEH, 2002; RIEH; DANIELSON, 2007), ou no
bojo das autoridades epistêmicas distribuídas em rede, segundo formas epistêmicas e
sociais heterogêneas, envolvendo atores em campos científicos, econômicos e sociais
(GONZÁLEZ DE GÓMEZ, 2007).
Tal dimensão pode se beneficiar de estudos dos documentos em perspectivas
que consideram não apenas os conteúdos objetivados ou a dimensão física do objeto,
mas também a forma documental e os valores de monumentalidade, onde incide, com
certa evidência, a relação saber-poder. Com efeito, o documento-monumento pode
exteriorizar, quando questionado com ferramentas teóricas e metodológicas, as ações e
práticas informacionais circunscritas em regimes de informação particulares, que se
constituem como regimes de poder e de verdade.
O estudo da forma documental, no âmbito da diplomática, pode ser considerado
um dos primeiros saberes sistematizados para uma espécie de “validaç~o da
informaç~o” com o objetivo de investigar o modo “estilizado” do documento segundo o
qual o teor documental ou conteúdo se apresentam para a resolução de um
determinado problema administrativo, jurídico ou histórico. A forma documental
ambiciona abranger a constituição do documento, contemplando a relação do teor
documental com a matéria (NÚÑEZ CONTRERAS, 1981) e em termos de elementos
internos e externos em conteúdos autênticos provenientes de uma determinada origem
(DURANTI, 1995). A autenticidade iniciou a ser investigada por intermédio da “arte” da
crítica documental sistematizada por Jean Mabillon, na obra De re diplomática libri six,
de 1681, e aprofundada posteriormente por autores como René Tassin, Charles
Toustain, Theodor von Sickel, Julius Ficker, dentre outros (TOGNOLI, 2013).
A partir da então denominada autenticidade diplomática, o documento pode ser
analisado considerando a evidência obtida no próprio documento (interesse da
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diplomática) ou daquela obtida na relação entre conjuntos de documentos. Ambas as
perspectivas podem ser de interesse para o campo historiográfico. Apenas no último
caso documento em conjunto/relação se constitui o interesse da arquivologia ou da
diplomática contemporânea para a análise instrumental da autenticidade dos
documentos com vistas à organização e à representação da informação para fins de
recuperação, acesso e uso. O documento produzido ou armazenado no âmbito
institucional e a possibilidade de análise científica de sua autenticidade passaram a
representar um valor para a extração da verdade a partir da palavra ou do registro
“aprisionado”, sobretudo para os empreendimentos historiográficos quando buscaram
elevar a história ao status de ciência (RABELLO; RODRIGUES, 2014).
Os movimentos historiográficos dos séculos XIX e XX instrumentalizaram a
“extraç~o” de conteúdos dos documentos em ao menos duas perspectivas distintas. A
dimensão positivista parte da crença de que a positividade obtida com a aplicação do
método científico, dentre eles, o diplomático (BLOCH, 1997), permite encontrar a
essência da verdade no documento a partir da sua autenticidade para a representação
inequívoca da realidade. Para outra dimensão, defendida pelos teóricos dos Annales,
dentre os quais os pioneiros Marc Bloch e Lucien Febvre, o investigador pode se
aproximar do real a partir da interpretação dos objetos por intermédio de alguma
institucionalidade ou de algum conhecimento metódico mediante o qual busca
interpretar o que, quando, em que lugar e como o objeto deve ser considerado
documento (BURKE, 1992; RICOEUR, 2007; GINZBURG, 2011).
Para além de servir de fonte para a historiografia positivista do século XIX, a
autenticidade do documento passou a auxiliar e a convergir com o interesse de controle
documental no contexto da burocracia moderna, ao se considerar a forma dos
documentos administrativos e jurídicos arquivados nas esferas pública e privada.
Sobretudo a arquivologia se ocupou dessa função.
A burocracia representa o domínio racional legal, isto é, constitui o meio pelo
qual o Estado moderno age, guardadas as exceções, mediante a lei. É, portanto, a
expressão racional desse Estado. Com a burocracia, o Estado gere o poder (MALISKA,
2006). O coletivismo constitutivo da burocracia tem em conta uma relação entre o
Estado (todo universal) e a parte (indivíduo). Nesses termos, a burocracia pode ser
definida como “[...] sistema de condutas significativas e n~o um sistema de
organizaç~o formal.” (TRAGTENBERG, 1985, p.187-188).
Como expressão simbólica de poder do Estado (BOURDIEU, 1996), a
racionalidade burocrática na administração moderna encontra, num de seus princípios,
“[...] documentos escritos (‘os arquivos’), preservados em sua forma original ou em
esboço.” (WEBER, 2002, p. 230). O arquivo, como um tipo ideal para o estabelecimento
de uma “rigorosa organizaç~o burocr|tica”, constitui-se como algo essencial, pois o seu
conhecimento se insere como virtude para eficiência da administração (WEBER, 2002),
algo que, naturalmente, desperta o interesse da arquivologia (FONSECA, 2005) como
um saber interessado nas técnicas e métodos operacionalizados na organização
burocrática onde a informação também se materializa.
A materialidade da informação pode ser pensada, segundo Bernd Frohmann, a
partir de uma leitura da arqueologia foucaultiana que o leva a considerar o documento
como uma expressão material que permite a correspondência entre informação e seu
caráter social e público, em diferentes campos e práticas. Os estudos dos efeitos da
materialidade da informação na coletividade, com base na materialidade dos
enunciados, traz um contraponto às análises “mentalistas”, que operam apenas no plano
individual.
147
Tal materialidade “[...] n~o consiste simplesmente de sua existência no espaço e
no tempo. A materialidade é medida pela massa, inércia e resistência (FROHMANN,
2008, p.22) e se insere na trama de institucionalidades em cujas propriedades
(manipul|veis) encontram nos documentos tessitura, pois s~o eles que “[...] circulam
através e dentre as instituições [apresentando] uma materialidade pronunciada
(FROHMANN, 2008, p.24). O documento se constitui, portanto, como a expressão
material da informação; é um valor que se atribui ao objeto que pode ser
institucionalizado, por exemplo, quando selecionado para constituir coleções.
O desenvolvimento de coleções embora com motivações que podem remeter a
tempos e contextos remotos, desde a Antiguidade (POMIAN, 1984), ou não tão remotos,
como na Modernidade (WEITZEL, 2012) corresponde, em termos disciplinares, a um
movimento biblioteconômico estadunidense influenciado pelos estudos organizacionais
a partir da segunda metade do século XX, momento marcado pelo avanço técnico e
tecnológico que culminou em diversas transformações nas práticas informacionais.
As bibliotecas e os espaços congêneres, a partir de então, têm se dedicado, de
modo sistemático, ao planejamento de coleções (EVANS, 2000) haja vista a ampliação
do oferecimento de produtos e serviços de informação no contexto tradicional
(analógico) e contemporâneo (que inclui ainda realidades digitais e em rede)
(TAMMARO; SALARELLI, 2008). O processo seleção, não apenas em bibliotecas, mas na
diversidade de instituições informativas e documentais, vem demandando o estudo da
validação da informação que adquire reconhecida relevância não apenas para o
desenvolvimento de coleções, mas, também, por auxiliar ou direcionar processos
subsequentes, tais como os de organização da informação e do conhecimento.
A organização do conhecimento é um campo de investigação no âmbito da
ciência da informaç~o (HJØRLAND, 2003) que busca “ordenar e suprir o conhecimento”
(JAENECKE, 1994) previamente selecionado, trazendo subsídios teóricos e
metodológicos para a elaboração de produtos documentais mediante a produção e a
utilização de linguagens documentais, ou seja, constitui um trabalho intelectual que tem
a organização do documento e da informação nele contida (conteúdo) como objeto de
estudo. Portanto, o campo objetiva a produção e a utilização da metainformação para
fins de organização, visando recuperação, acesso e uso da informação num sistema de
armazenamento e recuperação.
O percurso histórico do campo pode ser interpretado em termos de tratamento
temático da informação em três correntes centrais: catalogação de assunto (subject
cataloguing), de influência estadunidense; indexação (indexing), de influência inglesa; e
análise documental (analyse documentaire), de influência francesa (GUIMARÃES, 2008).
A trajetória da última corrente adquire particular relevância haja vista que remete ao
percurso do movimento bibliográfico em ascendência na segunda metade do século XIX
(WOLEDGE, 1983) e que veio a culminar, já no século XX, na proposição da
documentação como disciplina, sobretudo a partir da sistematização de Paul Otlet em
seu Traité de Documentation, de 1934 (FAYET-SCRIBE, 2001).
A documentação tem como objeto o documento na condiç~o de “[...] um suporte
de certa matéria e dimensão [...] em que se incluem signos representativos de certos
dados intelectuais. (OTLET, 1934, p. 43). A ampliação do conceito de documento
observado no cerne da documentação também pode ser identificada em outros
horizontes disciplinares, conforme se observa a seguir:
[...] a retomada [da] noção de biblos possibilitou que Otlet avançasse
também comparativamente { noç~o de fonte documental da “História
Positivista”, pois, para este autor, o texto escrito n~o seria o único
representante documental dotado de objetividade. Mesmo com esse
148
avanço, é interessante observar que a persistência da noção de
objetividade, atribuída ao documento, evidenciou a aproximação
conceitual entre Documentaç~o e “História Positivista” [emergindo] o
primeiro momento da Documentaç~o, de “fase positivista”, que
representa um período de transição da tradição rumo à inovação
conceitual. Essa fase foi marcada pela acepção otletiana de documento
após a década de 1930, quando o conceito foi formulado considerando
os objetos produzidos pelo homem em direção ao conteúdo [do
documento]. Tal ênfase consistiria o fator distintivo para a
transformação do objeto em documento, sendo que a ação humana de
agregar ao objeto uma função informativa lhe garantiria o status de
objetividade. [...] Tal concepção foi o ponto de partida para que a [...]
francesa Suzanne Briet (1951), em seu ensaio Qu'est-ce que la
documentation?, ampliasse ainda mais o conceito. [...] emerge [daí] o
segundo momento da Documentaç~o, de “fase hermenêutica”. Nesta
fase é possível fazer um paralelo entre os avanços da concepção de
documento encabeçados pelo movimento dos Annales e por Briet. A
“fase hermenêutica” compreender-se-ia, portanto, após a década de
1950, na ocasião em que se destacaram as ideias de Briet (1951) e de
seus seguidores Meyriat (1981), Escarpit (1981), Day (1997),
Buckland (1997), entre outros. Os argumentos comumente
empregados por esses autores demonstraram que [...] o documento
será o produto de um processo de objetivação (valoração) num ato
interpretativo e de atribuição de significados e sentidos, sob a
influência dos aspectos subjetivos “condicionados” pelo contexto
social e cultural com os quais os sujeitos necessariamente se
relacionam. (RABELLO, 2011, p.140-141).
A citação propicia um diálogo entre a ampliação do conceito de documento para
a documentação e para a historiografia em duas dimensões de representação. Na
dimensão positivista, os saberes s~o orientados pela crença da “representaç~o
inequívoca da realidade” (RABELLO; RODRIGUES, 2014), seja para o caráter
institucional de produção, armazenamento e organização dos conteúdos, mediante o
controle da informação como peças de “[...] fatos, opinião ou ideias que podem ser
processadas e gerenciadas em sistemas [...] (HJORLAND, 2000, p. 32), para a
arquivologia, para a documentação e, posteriormente, para a ciência da informação; seja
para as possibilidades metódicas de busca da “essência” do documento, para a
historiografia.
Na dimensão hermenêutica, a documentação passa a considerar a
intencionalidade na atribuição de sentido aos objetos. Igualmente nessa direção, a
historiografia, com os Annales e, posteriormente, com a nouvelle histoire, contribui para
a politização do métier do historiador e dos cientistas sociais, quando considera que
“todo documento é um monumento” (FOUCAULT, 2005; LE GOFF, 1994), ou seja, todo
documento é um objeto com valor, uma escolha, uma expressão de poder, algo que o
torna um referente para a representação da realidade e para a construção e a
legitimação de discursos, havendo a influência de diferentes institucionalidades.
4 DOCUMENTO E INSTITUCIONALIDADES
O documento é um objeto com valor. Esse valor é atribuído por sujeitos com
alguma autoridade, seja reconhecida por outrem (sujeitos agindo em nome de alguma
institucionalidade) ou por algum indivíduo que crê na própria autoridade. Em ambos os
149
casos, a seleção de algum objeto a partir da atribuição de sentido (validação da
informação) atribuído pelo indivíduo inserido em alguma coletividade, em cuja
institucionalidade pode atingir maior ou menor força de representação social em
agrupamentos como família, colecionadores, associações, comunidades epistêmicas,
dentre outros.
Atribui-se valor ao objeto tendo em vista sua potencialidade informativa ou de
fonte de informação algo que também pode ser interpretado como valor social para
utilização, seja ela uma consulta ou leitura (no sentido amplo do termo) ou
armazenamento, custódia, organização, recuperação, disseminação, acesso, com o
objetivo de atender demandas informacionais (de comunidades) variadas, tais como
obtenção de conhecimento técnico e científico, acesso à memória, proveito econômico,
experiência estética, dentre outras motivações.
Todo documento pressupõe um objeto, seja ele mais estável, de natureza
analógica, ou menos estável, de natureza digital. Em ambas as naturezas a
possibilidade de analogia intermediada por máquina, embora apenas no caso dos
recursos digitais esse modo de intermediação se apresenta como imperativo. A
abstração dos registros representados numericamente, ou digitalmente, necessita de
leitura e processamento em componentes ou dispositivos eletrônicos, computacionais.
O documento traz a ideia de um objeto que contém alguma evidência, um dado
com sentido informação que pode ser objetivado na produção do próprio objeto ou
atribuído posteriormente, seja um objeto artificial ou natural. Se o documento é um
objeto com valor informacional, logo nem todo objeto será um documento. Isso porque
os objetos são produzidos ou encontrados na natureza para finalidades diversas e nem
sempre são indagados com o objetivo de se atribuir algum predicado de fonte de
informação.
A materialidade do documento não se restringe à fisicalidade do objeto, embora
tal fisicalidade seja indispensável. Se o documento é um objeto com valor, portanto se
constitui de carga simbólica que varia conforme o sentido atribuído à informação nele
contida e a institucionalidade envolvida. Tal atribuição de sentido é constituída e
constituinte da materialidade dos enunciados os quais, mesmo quando informalmente,
circulam na sociedade e potencialmente provocam práticas institucionais.
Nessa direção, o documento é a materialização dos enunciados sociais quando
apropriados e validados em contextos institucionais. Em tal materialidade encontra-se o
modus tollens para a transformação do objeto em documento. A materialidade se
sintetiza no conceito de documento como algum objeto físico com valor simbólico
validado para determinada finalidade. O resultado do empreendimento permite
delinear aquilo que se denomina de função documental.
A função documental é o produto da valoração do objeto por sujeitos em
contexto institucional no sentido de transformá-lo em algo com alguma utilidade social.
O objeto com função documental pode formar uma coleção, armazenada e organizada
em diferentes espaços institucionais. Tais instituições, com características próprias,
definem conceitualmente o objeto agora com alguma função à medida que a partir delas
o documento pode adquirir adjetivações, como jurídico, administrativo, histórico,
arquivístico, museológico, biblioteconômico, dentre outros exemplos, dotadas de peso
simbólico atribuído pelas institucionalidades originárias.
Retornando ao argumento inicial, pensar a institucionalidade do documento
implica em refletir sobre a atribuição de valor cuja autoridade é reconhecida por
outrem. Um professor, um pesquisador, um profissional de qualquer campo do saber
gozam, desde a sua formação até a sua atuação, de alguma autoridade. Nesse caso, a
institucionalidade pressupõe o poder do sujeito com autoridade em julgar o objeto para
150
defini-lo ou selecioná-lo como fonte de informação válida. O saber empregado será
digno de confiança se reconhecido por outrem, pelos pares, por outros sujeitos também
atuando em distintos contextos institucionais.
O documento utilizado em contextos acadêmico-disciplinares num modo de
institucionalidade particular traz consigo algum valor probatório. A evidência de algo
contido no documento e utilizado no contexto acadêmico-disciplinar será recepcionada
a partir da expectativa de provar algo, tanto para refutar como para afirmar
determinado enunciado científico. A institucionalidade envolvida traz consigo algum
olhar ou empreendimento classificatório ou representacional de autoridade.
Portanto, o documento validado institucionalmente pressupõe a relação saber-
poder. Isso porque implica no poder expresso na prática social e discursiva aqui
também pensada como prática informacional de algum sujeito com autoridade em
cuja ação orientadora se baseia em algum saber. O saber é constitutivo e constituinte da
autoridade e do poder de definir aquilo cuja evidência tenha algum sentido
informação de interesse social.
Na obra Vigiar e Punir, publicada em 1975, Michel Foucault aborda a relação
saber-poder no bojo das por ele denominadas ciências “duvidosas”, ou humanas e
sociais, numa ocasi~o em que “[...] a genealogia pode perguntar sobre o papel histórico e
político desempenhado por estas ciências”, considerando o [...] componente centrado
na transformaç~o histórica de v|rios regimes de poder e de verdade.” (DREYFUS;
RABINOW, 1995, p.130-131).
Os regimes de poder e de verdade, em diferentes conformações sociotécnicas,
podem também ser considerados em termos de regimes de informação. As ações e
práticas de informação, em tais regimes, trazem pistas da agência de autoridades no
processo de validação da informação em diferentes campos do saber. Pode-se citar, por
exemplo, os empreendimentos para a escrita da história ou para a representação da
realidade social em outras disciplinas, para a atuação no âmbito burocrático-estatal ou
privado ou, particularmente, para a atuação dos profissionais de informação em
instituições informativas e documentais.
Autores como Joan M. Schwartz e Terry Cook sustentam a premissa de que
instituições informativas e documentais, como os arquivos, bem como os registros ali
armazenados e organizados “[...] necessitam sujeitar-se a um processo de ‘interpretaç~o
contínua’ entre produtores, guardi~es e usu|rios” (SCHWARTZ; COOK, 2004, p.23), algo
que reitera a concepção do documento como uma expressão de poder. O documento se
forja, em produção e reprodução, não apenas nas mencionadas instituições, como é o
caso do arquivo, da biblioteca, do museu, mas também em outros campos legitimadores.
Com efeito, para Lídia Freitas, os artefatos e os conteúdos informacionais são
igualmente “[...] insumo das relações institucionais de poder.” (FREITAS, 2012, p.69). Se
não existe, conforme Schwartz e Cook (2004), práticas informacionais
descompromissadas ou neutras por parte dos sujeitos envolvidos no âmbito
institucional, logo, o engajamento também alcança, ou é orientado, pela sistematização
dos saberes que “formam” – nos sentidos de compor campos acadêmicos que atuam na
pesquisa, no ensino e na aprendizagem a comunidade epistêmica em questão.
Considerando campos responsáveis pela formação de profissionais de
informação, a investigação de Eduardo Murguia aborda o caso dos agenciamentos da
ciência da informação pela biblioteconomia e arquivologia no Brasil como modo de
validação social sustentada pela relação saber-poder. Segundo tal estudo, ambas as
disciplinas encontrariam na ciência da informação a fundamentação teórica e a
legitimação institucional para sua inserção no âmbito científico e acadêmico, ainda que
“[...] as relações de poder entre as ciências n~o s~o constituídas de forma unidirecional,
151
pelo contrário, existe um embate entre os saberes fundamentados em tradições e
práticas diversas.” (MURGUIA, 2014, p.4).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Reduzir o entendimento de documento à sua fisicalidade ou { “coisa” (matéria +
forma + conteúdo temático/descritivo) pode ter alguma utilidade instrumental para
determinadas práticas informacionais; no entanto, conforme observado, essa
abordagem leva a uma perspectiva parcial do fenômeno. Pensar o documento como um
valor a partir das institucionalidades e da materialidade formadora ou desenvolvida
mediante práticas sociais e discursivas, respaldado pela dupla hermenêutica”, de cunho
epistemológico e político amplia os horizontes interpretativos.
A ampliação de horizontes serve, dentre outros aspectos, para investigar a
autoridade do sujeito reconhecida por outrem que valida o objeto em contexto
institucional com vistas à atribuição de sentidos formativos do documento. Com efeito, a
transformação do objeto em documento tem em tal validação o processo de atribuição
de valor a algo que potencialmente servirá de fonte de informação ou evidência e que
pode ser traduzido em termos de prova, por exemplo, no âmbito acadêmico-
disciplinar para a “representaç~o da realidade” e/ou para a “legitimaç~o de discursos”.
Se a materialidade do documento transcende a fisicalidade do objeto, haja vista
a dimensão simbólica e política inerente, alguns caminhos apresentam-se promissores
para a consideração dos horizontes que a perspectiva aponta. A institucionalidade,
pensada em termos socioculturais (cultura material), ou em termos políticos,
econômicos e éticos (regimes de informação), encontra nas ações e práticas
informacionais rastros para compreender o fenômeno da validação da informação.
Em meio a tais práticas, disciplinas particulares, como a diplomática, se
apresentam como um dos primeiros saberes sistematizados voltados para uma espécie
de validação da informação, algo em certa medida incorporado como procedimento
metódico da historiografia positivista e, posteriormente, incorporado e adaptado pela
arquivologia como recurso para o controle dos documentos gerados na burocracia
moderna.
Igualmente como particularidade das ações e das práticas informacionais em
instituições informativas e documentais, outras práticas de validação m se destacado,
como aquelas realizadas em processos de desenvolvimento de coleções ou de
organização da informação e do conhecimento. Os documentos, como expressões
materiais da informação em instituições corroboradas por tais práticas, adquirem
identidade quando a eles lhe atribuem determinada função.
O caráter não neutro e, por vezes, deliberadamente engajado na validação do
objeto em algo com sentido os sujeitos com autoridade de validação da informação
carregam consigo visões de mundo traduzidas, por exemplo, em métodos e técnicas
travestidos de imparcialidade auxilia a pensar o documento não apenas com valor
epistemológico para algum campo do conhecimento, mas como produto político da
relação saber-poder, sintetizada na palavra monumento.
A monumentalização dos documentos vem sendo, nalguma medida, tematizada
nos âmbitos das teorias historiográficas primeiramente com os Annales e,
posteriormente, com a nouvelle histoire e das demais ciências sociais, dentre outras,
com a teoria foucaultiana ou com as reflexões nos campos das ciências da
documentação e da informação, na tentativa de se desnaturalizar conhecimentos até
então secularizados pelo positivismo e por saberes e teorias que nele se inspiram.
Combatem-se tais concepções que compartilham da crença na possibilidade de se
152
compreender o mundo e os fenômenos como algo neutro, com pouca ou quase nenhuma
complexidade, de modo apolítico.
O construto documento-monumento, a contrapelo, é formulado por meio do
reconhecimento de distintos nexos e da tensão política pressuposta na relação saber-
poder, forjada institucional e disciplinarmente. A natureza política do documento-
monumento ensina que este serve de fonte de legitimação ou de criação de práticas
discursivas e/ou de recurso material para formar infraestruturas diversas, redes,
coleções, fundos de arquivo, bases de dados, banco de dados, dentre outras. Adere a
regimes de poder e de verdade os quais, quando investigados, trazem pistas da
configuração do mundo da vida.
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... No mesmo sentido, Smit (2012, p. 85, grifo nosso), salienta que a "Informação registrada equivale ao conceito de documento, embora o mesmo tenha sido investido de valores diferenciados ao longo do tempo." Em visão comum em publicações da área, o registro a informação registrada com materialidade em documentos, tem sido para a ciência da informação e para a organização do conhecimento seu insumo básico de aplicação (BRIET, 1951;BARITÉ, 2001;BUCKLAND, 1991BUCKLAND, , 1999ZANDONADE, 2018;CAVALCANTI, 2008;GIL-LEIVA, 2012;GUIMARÃES, 2003GUIMARÃES, , 2009HJØRLAND, 2003;LE COADIC, 2004;RABELLO, 2008RABELLO, , 2009RABELLO, , 2012RABELLO, , 2018RABELLO, , 2019GUIMARÃES, 2006;SMIT, 2012;SMIT, 2007). ...
... This may range from Content in any formatwritten or printed on paper, stored in electronic databases, collected on the Internet etc.to the personal knowledge of the staff of an organization. As terms below demonstrate (especially Information engineering, Information management, Information science), information is a term that covers many Sob esse viés, a informação não transformada em conhecimento não é de interesse da ciência da informação (BARRETO, 2002a(BARRETO, , 2002b(BARRETO, , 2007(BARRETO, , 2008BELKIN, 1980;BROOKES, 1980 Buckland (1991Buckland ( , 1999 e Rabello (2009Rabello ( , 2018Rabello ( , 2019. ...
... Seguindo premissas basilares de Buckland (1991Buckland ( , 1999 ou da informaçãocomo-coisa e de preceitos materializados à informação por Frohmann (1995Frohmann ( , 2008, Rabello (2009Rabello ( , 2018Rabello ( , 2019 Por conseguinte, Saracevic (1995Saracevic ( , 1996 Otlet (1934), Briet (1951) ou Buckland (1991Buckland ( , 1999 testemunham a esse respeito há um longo tempo, ainda que acerca do documento. ...
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A definição de informação líquida, seus, sua base teórica e suas implicações no contexto da ciência da informação e da organização do conhecimento foram divulgadas e fornecidas. Para tanto, perguntas tópicas resumem a problemática desta pesquisa: 1) como principais abordagens da informação na informação e na organização do conhecimento que podem informar a informação subsidiar o debate a respeito da informação eletrônica? 2) Definição de conteúdo à definição de uma definição teórica de uma definição? 3) Os atributos podem indicar a indicação de informação líquida? 4) Quais contribuições esse debate oferece à ciência da informação e à organização do conhecimento? Um pequisa teve como objetivo geral construir como bases teóricas para compreender a informação líquida no contexto da ciência da informação e da organização do conhecimento. Os objetivos específicos da informação; a) revisar as teorias que têm fundamentado o pensamento da ciência da informação b) identificar os conceitos de informação predominantes na área para subsidiar o debate relativo à informação líquida; c) constituição dos fundamentos teóricos para a compreensão da informação líquida e sistematização de seus atributos; ed) contestação como implicações da informação líquida no contexto da ciência da informação e da organização do conhecimento. Como metodológico, o estudo é de finalidade básica, do tipo bibliográfico, com uso de método hipotético-dedutivo, com objetivo de pesquisa exploratória e abordagem qualitativa. Foram utilizadas 559 obras para fundamentação teórica, no período de 1939 a 2011, entre livros, artigos científicos, dicionários, trabalhos de eventos, entrevistas e outros. Como principais resultados, a informação líquida define-se como uma informação disforme, atemporal e desmaterializada. É híbrida, ubíqua, aberta, rizomática e rentável. A informação líquida é de produção e de interesse de todo o indivíduo e sujeito da informação, pós-humano e líquido. Sua organização, fechamentos ou fechamentos em classistas, mecanismos semânticos são inadmissíveis. A informação líquida visa representar o conhecimento e a informação nos movimentos e fluxos em todo o espaço, lugar e não lugar que possa ocupar, tem maior capilaridade e penetração social. Sua condição é fugadia,, administração e desvio. Está essencialmente no polo virtual, é uma entidade sem corpo, maquinicamente hibridizada, desterritorializada e desmaterializada. Seus atributos são: híbrida, ubíqua, aberta, rizomática e incomensurável. Sua base foi inserida na categoria de tempo, na pós-modernidade teórica e modernidade líquida; no espaço com os conceitos de não lugar, ciberespaço, deep web e rizoma e em sujeito, com a apresentação do pós-humano e ressignificação do sujeito da informação. A informação líquida foi refletida em teorias e práticas da ciência da informação e da organização do conhecimento, nenhuma que foi evidenciada ações calculadas em processos, sistemas e planejados utilizados para organizar o conhecimento e a informação que não podem e/ou não conseguem realizar a mesma ação no polo virtual de objetos desmaterializados. A referência em ferramentas virtuais, como ferramentas de aprendizagem, técnicas de ponta e informação em ambientes virtuais e novas ferramentas de conhecimento, sob- tecnologias de ponta e informação, na área de conhecimento virtual. É necessário que a comunidade da ciência da informação revise os preconceitos e compreenda um contexto de ressignificações líquidas, do qual não se pode escapar.
... Sendo assim, é válido destacar que a história, o jornalismo, a diplomacia, a arquivologia, a biblioteconomia, a documentação, a ciência da informação, a área jurídica, a administrativa, a literatura, a editoração, entre outros campos do saber possuem o documento como objeto de estudo (RABELLO, 2018). Nessa linha, o documento assume a função de ser, por um lado, " […] suporte que contém informação registrada, suporte que evidencia fatos"; por outro, fonte e uso, como "[…] fonte para representar a realidade, fonte para a elaboração de metainformação ou produtos documentais", os quais são destinados à organização, à recuperação e à disseminação da informação e do conhecimento, fatores que convergem para o "[…] uso de conteúdos em sistemas de informação" (RABELLO, 2018, p. 139). ...
... Assim sendo, é importante destacar as diversas concepções da materialidade do documento, como institucionalidade, cultura material, regimes de informação, ações de informação, práticas informacionais, validação da informação, estudo da forma documental, historiografia, burocracia, materialidade da informação, desenvolvimento de coleções, organização do conhecimento (RABELLO, 2018). Frente a isso, o tratamento e análise do documento para garantir a representação Artigo A semiótica discursiva e aplicada à análise documentária adequada do conhecimento através dos conceitos identificados se configuram e se realizam através da linguagem. ...
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As relações humanas são marcadas por símbolos e dinâmicas de significação. O documento é artefato importante na trajetória da humanidade como recurso potencial de retomada da discursividade e narratividade do passado e projetado ao devir. O objetivo desta pesquisa é a análise das teorias que envolvem a semiótica discursiva a fim de aplicar seus conceitos na análise e tratamento dos documentos. Aplicou-se uma metodologia qualitativa de natureza exploratória, também se trata de uma pesquisa descritiva, de cunho epistemológico e interdisciplinar. A classificação do discurso permite a identificação dos simulacros e das valências que evidenciam os diversos aspectos semióticos presentes no documento que represente o pensamento filosófico de uma dada época, ainda carrega valores históricos, culturais, científicos, políticos, sociais, epistemológicos, metodológicos, entre outras possibilidades.
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Introdução: A defesa do argumento de que a materialidade do livro e do documento transcende a dimensão informacional estrita ao seu conteúdo e ao seu caráter utilitário encontra – nos estudos sobre a atribuição de intencionalidade aos objetos – um caminho teórico para se refletir sobre dimensões de materialidade. Objetivo: Explorar estudos sobre a atribuição de intencionalidade aos objetos como subsídio para demonstrar aspectos da multidimensionalidade da materialidade do livro e do documento. Metodologia: O referencial teórico conta com contribuições de autores que versam sobre a intencionalidade atribuída aos objetos no âmbito de saberes historiográficos, documentalistas e fenomenológicos, servindo de base para trazer luz ao mapeamento de estudos brasileiros contidos na Base de Dados de Periódicos em Ciência da Informação (BRAPCI). Os dados coletados foram explicitados mediante a ferramenta de visualização Voyant Tools, desenvolvida no âmbito das humanidades digitais. Resultados: Foi possível observar que os textos mapeados tratam o livro e o documento como objetos simbólicos, com valores culturais, sociais, de memória, entre outros. Conclusão: As diferentes noções de intencionalidade identificadas auxiliam a visualizar as atribuições de valores por sujeitos em contexto social e institucional, algo que auxilia a observar as dimensões de materialidade dos objetos.
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Introduction: The book is a symbolic object or a “semiophore”, which denotes its condition of being “beyond information”, involving, in addition, materiality and institutionality. Objective: To map authors, works and themes related or tangent to the subject “book’s materiality” in the scope of information science. Method: A mapping of the thematic coverage was carried out in national and international databases, then, the texts identified were analyzed and visualized using Voyant Tools tool. Results: 100 documents that covered the period between 1996 and 2020 were analyzed, with the highest occurrence of publication of book’s materiality thematic in the years of 2016, 2017 and 2018. In terms of terminology, expressions that lead to the understanding of the book as a documentary and symbolic support that contains information, stand out, and can compose collections in institutions worried with social memory, as is the case of libraries. The journals that most publish articles on the subject were Encontros Bibli and Journal of Documentation, and the databases that index the most journals that address the topic were BRAPCI and Library and Information Science Abstracts. Conclusion: The book’s materiality theme establishes a bridge between the breadth of the “materiality” concept and a relationship between book and document. The book – when studied based on the multidimensionality of materiality, whether expressed in analog or digital environment – constitutes itself as a symbolic object in addition to being conceived as a mere source of information. KEYWORDS Materiality. Book. Document. Information Science. Digital Humanities. Voyant tools.
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Perspectivas sociais em informação: estudos hispano-brasileiros Perspectivas sociales en información: estudios hispano-brasileños
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Perspectivas SOCIAIS em INFORMAÇÃO estudos hispano-brasileiros Perspectivas SOCIALES en INFORMACIÓN estudios hispano-brasileñas
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O presente texto versa sobre reflexões sobre a Epistemologia social na Ciência da Informação e como esta pode ajudar a pensar o fenômeno multicultural no contexto brasileiro. Para tanto, o presente texto se baseará na premissa que sustenta que a Epistemologia Social é uma base teórica da Ciência da Informação que incorpora diversos conceitos socioculturais, em especial, o multiculturalismo. A epistemologia social surgiu na década de 1950, a partir da elaboração de um artigo denominado Foundations of a theory of bibliography (1952), tendo como precursores Margaret Elizabeth Egan e Jesse Hauk Shera, com o propósito de estudar os meios pelas quais a sociedade produz, adquiram e disseminam o conhecimento e, atrelado a isso, como os bibliotecários/as atuam na orientação, baseado na mediação de seus usuários, na busca por informações que necessitem a ele. A sociedade multicultural além de ser uma manifestação de diferentes culturas, é um movimento afirmativo de reivindicação de direitos de grupo sociais marginalizados por políticas públicas que suprem suas necessidades para que se tenha uma vida sem discriminação. A Ciência da Informação deveria constituir-se em um campo de estudos tanto teórico quanto prático que contemple a multiculturalidade como fenômeno social fundante da configuração social. Contudo, somente sob uma perspectiva epistemológico-social calcada no paradigma social que a Ciência da Informação deverá abordar os problemas multiculturais da sociedade brasileira retomando uma nova versão da epistemologia social de Egan e Shera, caso o contrário sucumbirá como disciplina secundária no cenário contemporâneo.
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Considerando a posição nuclear do Tratamento Temático da Informação (TTI) no universo da Ciência da Informação, dada sua natureza mediadora entre a produção e o uso da informação, observa-se que a construção de seu referencial teórico-metodológico, enquanto área de estudos vem ocorrendo notadamente a partir de três correntes: a da catalogação de assunto (subject cataloguing), de influência norte-americana, a da indexação (indexing), de influência inglesa e a da análise documentária (analyse documentaire), de influência francesa. Nesse contexto, analisam-se as bases histórico-conceituais de cada uma delas, buscando identificar em que medida as mesmas encontram abrigo e espaço de interlocução no contexto da organização do conhecimento, especialmente no universo acadêmico da International Society for Knowledge Organization (ISKO), de modo a contribuir para as reflexões acerca do processo de construção da base epistemológica dessa área de estudos.
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This paper investigates the problem of the labelling of the library, documentation and information field with particular emphasis on the terms ‘information’ and ‘document’. What influences introduced the concept of ‘information’ into the library field in the middle of the twentieth century? What kind of theoretical orientations have dominated the field, and how are these orientations linked to epistemological assumptions? What is the implication of the recent influence of socially oriented epistemologies for such basic concepts in IS as ‘information’ and ‘document’? The article explores these problems and advocates an approach with emphasis on documents and on the concept ‘memory institutions’ as generic terms for the central object of study.
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Information science emerged as the third subject, along with logic and philosophy, to deal with relevance-an elusive, human notion. The concern with relevance, as a key notion in information science, is traced to the problems of scientific communication. Relevance is considered as a measure of the effectiveness of a contact between a source and a destination in a communication process. The different views of relevance that emerged are interpreted and related within a framework of communication of knowledge. Different views arose because relevance was considered at a number of different points in the process of knowledge communication. It is suggested that there exists an interlocking, interplaying cycle of various systems of relevances.
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This paper is put up for discussion to help Knowledge Organization find its proper place. To begin with, a few basic concepts from the field of communication theory are defined. The new concepts permit the conclusion that what we are facing at present is not a flood of information but one of messages, and that this latter flood must not be equated indiscriminately with a knowledge flood. Messages must be judged on their contents. To this end, 'knowledge' is subdivided into 'core-', 'peripheral', and 'pseudo-knowledge', and it is argued that the great majority of scientific publications contains peripheral and pseudoknowledge. With the aid of two interlocking and self-amplifying recursive mechanisms it is shown that and how pseudoknowledge is more and more gaining ground, particularly outside the mathematical and scientific disciplines, hence precisely in those fields which deal with social problems in the broadest sense of the word. Thus a deficit of knowledge on which to base action is produced, leading to a general disorientation - a modern form of ignorance, keenly manifesting itself at present in a crisis of leadership. The research tasks resulting from the above for Knowledge Organization are roughly outlined.
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Information behavior and information practice, two major concepts denoting the general ways in which people deal with information, are analyzed. Because of their general nature, they may be conceived of as umbrella concepts drawing on "umbrella discourses" with similar names. Information behavior is currently the dominating umbrella concept, while information practice stands as a critical alternative. The discourses above appear to be quite fragmentary, and researchers on information seeking rarely reflect on the discursive nature of the umbrella concepts. The discourse on information behavior primarily draws on the cognitive viewpoint, while information practice is mainly inspired by the ideas of social constructionism. The comparative study of the above concepts and discourses serves the needs to generate a self-reflective attitude to familiar discursive formations, in particular among researchers of information seeking.
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The word documentation, by which this journal describes its scope, is a partial synonym of bibliography, and the history of both words, through eighty years in one case and through four hundred in the other, reflects the development of highly significant ideas. This paper begins by discussing bibliography in the light of R. Blum's exhaustively learned treatise, and continues with an original exposition of documentation, which cannot claim to reach Blum's standard of thoroughness but does, it is hoped, set out correctly the important things.