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Arquitetura Dialógica no Contexto do Centro Histórico: o Método 1
ww
19.
Arquitetura Dialógica no Contexto do Centro His-
tórico: o Método
Rosio Fernandez Baca SALCEDO1
Paula Valéria Coiado CHAMMA2
Juliana Cavalini MARTINS3
Antônio PAMPANA4
INTRODUÇÃO
O
s centros históricos representam principalmente o traçado
inicial da cidade, são estruturas urbanas e arquitetônicas que
expressam as manifestações políticas, econômicas, sociais,
culturais e tecnológicas, das formações sociais dos diferentes
períodos históricos (SALCEDO, 2007, p.15), vestígios dessas
expressões materializadas no espaço se apresentam como
testemunhos de civilizações do passado.
Por ser um centro consolidado esta área passa a despertar
novos interesses culturais, econômicos, políticos que através
de projetos arquitetônicos desconfiguram o espaço, constro-
1Professora, Doutora do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo,
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, rosiofbs@faac.unesp.br
2Doutora, Bolsista Pós-Doutorado pela CAPES, Programa de Pós-Graduação em
Arquitetura e Urbanismo, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”,
paulachamma@faac.unesp.br.
3Mestranda em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho”,, arq.julianacavalini@hotmail.com
4Mestrando em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho”, pampannaarquitetura@gmail.com
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Interação: Panorama das Pesquisas em Design, Arquitetura e Urbanismo
em sem harmonia com o contexto, podendo ocasionar riscos
irreparáveis à integridade histórica e cultural, como
também
interferindo na vida dos usuários do lugar.
Muitos estudos demonstraram a importância de construir no
construído em harmonia com o contexto urbano, preservando a
arquitetura tradicional e valorizando o patrimônio arquitetônico e
urbano. As abordagens em centros históricos vão desde a constru-
ção de edifícios novos em harmonia com a ambiência (UNESCO,
1962 apud IPHAN, 2004, p. 84; UNESCO, 1976 apud IPHAN, 2004,
p.227), o respeito às peculiaridades tipológicas e construtivas dos
edifícios (GOVERNO DA ITÁLIA 1972 apud IPHAN, 2004, p. 169), a
reabilitação de edifícios (MARICATO, 2001, p.126), a conservação
e restauração dos edifícios (ICOMOS, 1964 apud IPHAN, 2004,
p. 77), os materiais a serem utilizados em construções novas ou
reabilitações (BOITO, 2002; BRANDI, 2004), a contemporaneidade
de projetos novos (SALCEDO, 2009), a arquitetura dialógica na sua
intertextualidade com o contexto urbano, histórico, social, econô-
mico e político (MUNTAÑOLA 2007, p.13). Para Salcedo (2011,
p. 163) está intertextualidade também estaria relacionada com o
contexto geográfico, arquitetônico, físico e tecnológico.
No entanto, é necessário conhecer quais elementos são
fundamentais para que uma arquitetura seja dialógica e harmoniosa
na sua relação com um contexto do centro histórico. Neste
sentido, o presente trabalho pretende propor o método dialógico
para a arquitetura em centros históricos com base na fundamen-
tação teórica e filosófica de Muntañola (2002, 2006, 2007), Bakhtin
(1997) e na hermenêutica de Ricoeur (2003), através da interpre-
tação da arquitetura como texto inserido em um contexto.
CONTEXTO: CENTRO HISTÓRICO
O conceito de Centro Histórico está associado à origem do núcleo
urbano, consequentemente, à valorização do passado (CARRION,
1998). Esta concepção não deve significar o congelamento da
cidade. Segundo o Governo da Itália (1972 apud IPHAN, 2004, p. 166)
os centros históricos são:
Todos os assentamentos humanos cujas estruturas unitárias
ou fragmentárias, ainda que se tenham transformado ao longo
do tempo, se hajam constituído no passado ou, entre muitos,
os que eventualmente tenham adquirido um valor especial
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Arquitetura Dialógica no Contexto do Centro Histórico: o Método
como testemunho histórico ou características urbanísticas ou
arquitetônicas particulares (GOVERNO DA ITÁLIA, 1972 apud
IPHAN, 2004, p. 166).
Para Salcedo (2007, p. 23) o centro histórico refere-se fun-
damentalmente às categorias: administrativa, histórica, urbana,
arquitetônica, social econômica e ambiental. A categoria urbana
se remete a formação inicial da cidade representada pelo traçado
urbano, às edificações, os espaços livres e seu mobiliário. Segundo
Castells (1982, p. 141) o espaço urbano é um produto material
relacionado com outros elementos, entre eles os homens, os quais
adquirem determinadas relações sociais, que dão ao espaço uma
forma, uma função, um significado social.
Com relação a categoria arquitetônica, Muntañola (1996, p.55)
define a arquitetura como lugar ou como criadora de lugares para
viver, e o lugar para viver é uma interpretação sociofísica em que se
entrecruzam de forma simultânea o falar e o habitar, o meio físico e
o meio social, o conceitualizar e o figurar.
Ainda sobre o lugar, Zárate (2015) expressa que os objetos
teóricos constituem ambientes físicos, sociais e simbólicos. O
ambiente físico refere-se aos padrões físicos, as tipologias arqui-
tetônicas, enquanto que o ambiente social se refere à identidade
social, aos grupos sociais, aos capitais sociais, a distinção de
classe, ao reconhecimento. Já o ambiente simbólico refere-se às
representações sociais, aos esquemas ou mapas mentais, aos
planos miméticos, símbolos, imaginários sociais e valores.
Para Santos (2009), cada sociedade vê o espaço de uma
forma que estará ligada às suas concepções sociais e culturais.
Compreender a cidade e a produção do espaço urbano implica
entender como esse espaço se relaciona à sua forma (a cidade),
mas não se reduzindo a ela, à medida que expressa mais que uma
simples localização e arranjo de lugares, expressa um modo de vida.
O TEXTO: ARQUITETURA DIALÓGICA
Muntañola (2006, p. 63) aborda a dialogia na arquitetura
com base na abordagem filosófica de Mikhail Bakhtin e na
hermenêutica de Paul Ricoeur. Entender a dialogia em arquitetura
é compreender o pensamento arquitetônico em Bakhtin, ou seja,
a relação estética entre forma e conteúdo, e nas interações entre
a arte, a ciência e a ética.
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Interação: Panorama das Pesquisas em Design, Arquitetura e Urbanismo
Segundo Holquist (apud MUNTAÑOLA, 2006, p. 63-64), o
pensamento arquitetônico está indissoluvelmente unido a con-
testabilidade (ansuwerability), ou seja, a capacidade de se dirigir a
alguém ou algo desde outro alguém ou outro algo. Essa capacidade
de dirigir-se à (to address) é essencial na teoria dialógica do
conversar que pressupõe uma intenção de se dirigir, de comunicar,
não individual, se não social.
Muntañola (2006, p. 64) ressalta que a estrutura cronotópica1
da arquitetura ocupa um lugar específico e muito relevante na
distribuição geral das artes, que é a construção sociofísica de um
território, na qual construir e habitar relacionam-se cronotopicamente.
A base teórica filosófica da dialogia trata de ver as relações entre
o corpo e a arquitetura numa relação cronotópica e fenomenológica
descrita por Bakhtin e teorizada por Paul Ricoeur. A tripla natureza das
relações entre corpo e arquitetura articula: o projeto, a construção e
o uso social, numa estrutura cronotópica entre realidade e represen-
tação do espaço sociofísico (MUNTAÑOLA, 2006, p. 65).
Essa relação (diálogo) entre o projeto, a sua leitura, o seu
contexto e o objeto final é caracterizada por Mikhail Bakhtin (1999),
como a Dialogia de uma obra. Portanto, a dialogia inicia-se pela
compreensão do texto arquitetônico, ou seja, o estudo do projeto,
o seu percurso, até a realização da obra; terminando no uso.
Essa análise só pode ser realizada e interpretada dialogicamente
entendendo o contexto histórico e interpretando os fatos políticos
e sociológicos em que a obra está inserida (ZÚQUETE, 2000).
Ricoeur (2003, p. 10) estabelece uma articulação hermenêutica
entre a narratividade e a arquitetura: a arquitetura é para o espaço
o que o relato é para o tempo, isto é, uma operação configuradora,
um paralelismo, por um lado entre o ato de construir, ou seja, de
edificar no espaço e, por outro lado, o ato de narrar, dispor a trama
no tempo. Ao cruzar espaço e tempo através dos atos de construir
e narrar, encontra-se a temporalidade do ato arquitetônico, a
dialética da memória e o projeto.
Para Ricoeur (2003, p. 13) sua analogia é organizada em três
dimensões sucessivas: prefiguração, configuração e refiguração;
definidas em tempo e relato com uma denominação muito antiga
de mimesis, isto é, recreação, representação criativa. A primeira
1
Bakhtin foi o filósofo que abordou o termo cronotopo. Este conceito provém
dos termos gregos kronos, cujo significado é tempo, e topos, que significa lugar
e se refere às relações que existem entre tempo e espaço nas criações literárias.
5
Arquitetura Dialógica no Contexto do Centro Histórico: o Método
fase: a prefiguração, no relato é empregada na vida cotidiana, na
conversação antes de separar-se dela para produzir as formas
literárias; na arquitetura estaria vinculada a ideia.
A importância do valor prefigurativo do projeto está como um
projetar histórias, ou seja, na compreensão de qualquer história
como uma cadeia de projetos. As prefigurações e as inovações,
que hoje não são novos, foram em maior ou menor medida no
seu dia. Projetar história é projetar o futuro como projeto cultural,
como proposta, somente assim o valor poético de um projeto une:
tradição e inovação, passado e futuro, velho e novo. Assim, se
prefigura, porque o velho contém inovação quando se interpreta
desde o novo. Projetar história é converter a arquitetura num
mecanismo que permite qualificação da interação social.
Com relação ao projeto, a prefiguração abrange o universo
poético da arquitetura em que o arquiteto faz a leitura do mundo
enquanto lugar e o interpreta como conceito. Determina um novo
padrão de ordem e valor, regido pelo senso estético e de harmonia
dessas relações fundamentadas nas narrativas históricas criadas
pela memória das experiências já vivenciadas pelo arquiteto e todo
seu conhecimento.
Sob a ótica da prefiguração, a hibridação deve ser entendida
como a interpretação do edifício velho através de um novo uso,
nova forma, intervindo em harmonia com o velho. Para Muntañola
(2007, p.13) a hibridação é um diálogo poético complexo:
cada una con su valor de reconocimiento histórico-social y con
su valor de peripécia funcional pero, además, tenemos la nueva
poética, que es la que há de dominar la cualidad estética del
cruce entre historias diversas, y que debe aprovechar la poética
própia de ló pré-existente para apoyar la suya propia, a fin de
que el nuevo usuário (la nueva voz o voces) pueda dialogar
con el antiguo, ya (outra voz o voces). Tal como indica Bajtín
en ese tipo de representación híbrida, el lenguage anterior
sigue existiendo y no es substituído por el nuevo, sino que es
iluminado por el nuevo (MUNTAÑOLA, 2007, p. 13) .
Para Ricoeur (2003, p. 17) a segunda fase do relato chamado de
configuração é aquela em que o ato de narrar se liberta do contexto
da vida cotidiana e penetra no campo da literatura, portanto, a
narração se registra mediante a escritura e a técnica narrativa. Na
arquitetura, a configuração é a construção no espaço do projeto
arquitetônico, ou seja, o ato de construir, de configurar o espaço. O
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Interação: Panorama das Pesquisas em Design, Arquitetura e Urbanismo
espaço construído é o tempo condensado. Construir é transformar
o meio natural num meio artificial mais adaptado às nossas
necessidades sociais (MUNTAÑOLA, 2002, p. 15). O progresso
tecnológico, os novos materiais e a sustentabilidade nos permitem
decidir como queremos viver. Nem todas as sociedades têm o
mesmo tipo de construção, as necessidades e o uso do espaço é
resultado das expressões culturais (RAPOPPORT, 2003).
Ainda segundo Ricoeur (2003, p. 20, 23) o ato de configuração
se divide em três etapas:
(...) por una parte, la puesta-en-intriga, que he definido como la
sintesis de lo heterogéneo, por otra parte, la inteligibilidad- el
intento de esclarecer lo inextricable - y finalmente, la confron-
tación de vários relatos, colocados ao lado de otros, frente o
detrás de ellos, es decir, la intertextualidad (RICOEUR, 2003,
p.20).
A intertextualidade se realiza na ambiência de edifícios já
existentes que contextualizam o novo edifício. A historicidade
também é entendida como o ato de inscrever um novo edifício
num espaço já construído. No ato da inscrição dar-se-á a relação
entre inovação e tradição. Como exemplo de arquitetura dialógica
é o Novo Museu da Acrópole, projetado pelo arquiteto Bernard
Tschumi e construído, em 2009, para abrigar uma importante
coleção de esculturas da Grécia antiga e os frisos do Parthenon.
Sua configuração estrutural e as fachadas de vidro possibilitam
a intertextualidade com os monumentos da Acrópole, as colinas
históricas das imediações, além de valorizar a escultura arquitetô-
nica do Parthenon e as escavações arqueológicas localizadas em
sua base, conforme pode ser visto nas Figuras 1 e 2.
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Arquitetura Dialógica no Contexto do Centro Histórico: o Método
Figura 01. Novo Museu da Acrópole,
Grécia: Vista interna do segundo
pavimento e sua relação híbrida com o
contexto imediato (fonte: Acervo dos
autores, 2015).
Figura 02. Novo Museu da Acrópole,
Grécia: Vista externa do segundo
pavimento e sua relação híbrida com o
contexto imediato (fonte: Acervo dos
autores, 2015).
O novo ato configurador projeta as novas maneiras de habitar
que se integram no contexto de histórias de vida já passadas. A
configuração é a forma de ordenar o espaço geométrico a fim de
atribuir-lhe uma função inerente às necessidades sociais para a
realização do conceito enquanto materialidade objetiva. Muntanõla
(2003) expõe o sistema configurante que pode ser entendido
como todo o universo de possibilidades de estrutura de arranjo
formal que o homem pode configurar, a natureza à favor de suas
necessidades sóciofísicas. Assim, representa o conceito referente
à ideia de leitura de mundo daquele dado momento sócio histórico,
tudo aquilo que é capaz de ser ordenado para representar um
conceito é entendido como um sistema configurativo.
A configuração é toda técnica determinada pelo projeto
aplicada aos elementos da natureza que compõem a paisagem
do meio ambiente a fim de ordená-la para que as ações da vida
do homem social e histórico sejam possibilitadas. Portanto, a
configuração diz respeito à dimensão lógica da arquitetura, que faz
uso de arranjos, em nível estrutural dos elementos constituintes
do espaço geométrico para dar-lhe um novo sentido e que melhor
represente a ideia expressa pelo projeto.
Para Ricoeur (2003, p. 26) a refiguração é a leitura do relato já
na obra construída, possibilitando a leitura e releitura dos lugares,
a partir de nossa maneira de habitar. Entenda-se por habitar, tanto
o uso (o ritual) como uma significação simbólico-cultural, isto é, o
homem não separa o uso prático da significação social deste uso.
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Interação: Panorama das Pesquisas em Design, Arquitetura e Urbanismo
Habitar é uma realidade que se transforma por meio do tempo e do
espaço (MUNTAÑOLA, 2002, p. 17).
A refiguração diz respeito ao universo fenomenológico da
arquitetura, possível de ser experienciada e conhecida. É a relação
de uso dada pelo homem social e histórico, vivenciada em seu
estado presente; é quando a arquitetura se realiza enquanto
lugar. Possibilita novas narrativas históricas sobre a memória
da experiência vivenciada deste lugar já resignificado. Essa
narrativa gera um juízo de valor comparado às outras experiências
já vivenciadas. Quanto melhor for o juízo de valor, melhor será a
realização da arquitetura e melhor possibilitará que as ações da vida
aconteçam e se desenvolvam. É na refiguração que a arquitetura é
avaliada e validada sobre o conceito que melhor reflete em relação
à natureza e a vida. Podemos assim, conhecer o real valor da
arquitetura como objeto social e histórico que a representa e sobre
as narrativas históricas criadas a partir das novas experiências como
objeto configurado. Neste universo predomina o sentido ético da
arquitetura, em que toda experiência deve entrar em concordância
com o pensamento que a solicitou, numa relação de verossimi-
lhança entre realidade objetiva e realidade social e histórica.
MÉTODO DIALÓGICO
Com base nessa fundamentação teórica e filosófica propõe-se
o método dialógico para arquitetura em centros históricos ou
centros urbanos consolidados, que compreende duas etapas: o
contexto do centro histórico e o texto ou arquitetura.
Em um primeiro momento, o contexto do centro histórico
compreende sua abordagem com relação a sua formação urbana,
morfologia urbana e edilícia, aos aspectos históricos culturais,
políticos e sociais. Além disso, deve abordar o contexto do arquiteto
com relação às suas experiências e formação profissional.
Em um segundo momento, a análise dialógica da arquitetura
se inicia pela compreensão do texto arquitetônico desde o projeto,
o seu percurso na construção até o uso social, ou seja, as fases
da Hermenêutica de Paul Ricoeur (2003): Prefiguração/Projeto,
Configuração/construção e Refiguração/Uso Social (qualidade de
habitação, viabilidade social, econômica, urbana e ambiental).
Na prefiguração os elementos de análise são: a) compreensão/
interpretação: compreensão do contexto histórico, cultural, social
e identidade do lugar e sua interpretação como forças motoras
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Arquitetura Dialógica no Contexto do Centro Histórico: o Método
do projeto; b) intencionalidade projetual ou intertextualidade:
relação dialógica entre a linguagem arquitetônica contemporânea
e o contexto especifico de expressão; c) hibridação: preservação
do edifício antigo e sua interpretação, atendendo aos novos usos
e valorizando o antigo através do novo; d) contemporaneidade:
contraste ou relação com a arquitetura tradicionalista e seus
valores atualizados.
Na configuração, os elementos de análise são: a) estilo:
ordem dos elementos na composição espacial interna e externa,
tipologias; b) intertextualidade: relação da arquitetura com o
contexto ou entorno; c) historicidade/Inovação: análise da inscrição
da nova arquitetura num espaço já construído, sendo que no ato da
inscrição dar-se-á a relação entre inovação e tradição; d) morfologia:
relação do edifício com os elementos que compõem a morfologia
urbana e edilícia do contexto; e) contemporaneidade: contraste ou
relação com a arquitetura tradicionalista e seus valores atualizados;
f) materialidade: materiais e tecnologias, sistemas construtivos e
acabamentos do edifício como um todo.
Na refiguração, a análise fenomenológica sociofísica
compreende: a) qualidade da arquitetura: funcional, relação espaço
construído/usuário, conforto ambiental; b) viabilidade social:
satisfação dos usuários com o espaço construído (juízo de valores);
c) viabilidade econômica: grau de acessibilidade ou apropriação do
espaço construído; d) viabilidade urbana: equipamentos coletivos e
serviços, transporte público existente no contexto urbano imediato
ou entorno; e) viabilidade ambiental: espaços públicos (praças,
jardins, parques, etc.) e mobiliário urbano (bancos, telefone,
comunicação visual, lixeiras, etc.)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O método dialógico apresenta-se como um processo de
reflexão para o campo disciplinar da arquitetura, como pressuposto
projetual marcado pela importância simbólica do conceito de lugar
como resultado das expressões sociais, históricas, culturais,
políticas, econômicas da sociedade e da interpretação desse
contexto e da própria arquitetura (o texto).
A analogia da arquitetura e da narratividade permitiu um avanço
na interpretação sociofísico do lugar, nas dimensões espaço-tempo:
prefiguração ou projeto, configuração ou construção e refiguração
ou uso social. Assim, apresenta-se, como método dialógico para
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Interação: Panorama das Pesquisas em Design, Arquitetura e Urbanismo
ser aplicado nos centros históricos ou centros consolidados, ou
seja, na prática projetual do arquiteto, na análise da arquitetura no
contexto e nas atividades de ensino de projetos nessa temática.
A aplicação do método dialógico na arquitetura possibilita a
reflexão e interpretação do passado e do presente, na busca de
um futuro melhor para todos os cidadãos, propondo uma vida com
bem-estar, beleza e segurança, ou seja, uma arquitetura de qualidade.
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