ArticlePDF Available

O ESPAÇO PERIURBANO NO MUNICÍPIO DE JUNDIAI-SP: CARACTERÍSTICAS E TENDÊNCIAS ATUAIS

Authors:

Abstract

Resumo: O espaço periurbano tem se constituído em um importante tema de discussão atinente às recentes transformações ocorridas nas áreas de transição rural-urbana. O objetivo deste trabalho é analisar as características e tendências atuais da formação desse espaço no município de Jundiaí, localizado numa região em que a dinâmica urbana tem se materializado de maneira intensa no território. Para tanto, o trabalho baseia-se no conceito de urbanização difusa, o que permite refletir sobre as mudanças ocorridas nas áreas urbanas complexas, como é o caso das regiões metropolitanas situadas no entorno de Jundiaí. No espaço rural, por sua vez, verifica-se a expansão de conteúdos e formas urbanas, assim como o estabelecimento de novas relações com a cidade. No caso estudado, o espaço periurbano é dotado de uma complexidade espacial que revela que tanto a periferia quanto as áreas de transição rural-urbana são espaços complexos de diferenciação social em que coexistem tensões, conflitos e também exclusividade.
Revista Formação, n.15 volume 1- p.85-96
85
O ESPAÇO PERIURBANO NO MUNICÍPIO DE JUNDIAI – SP:
CARACTERÍSTICAS E TENDÊNCIAS ATUAIS
Elias Oliveira NORONHA
**
Rosangela Aparecida Medeiros HESPANHOL
***
Resumo: O espaço periurbano tem se constituído em um importante tema de discussão atinente às recentes
transformações ocorridas nas áreas de transição rural-urbana. O objetivo deste trabalho é analisar as
características e tendências atuais da formação desse espaço no município de Jundiaí, localizado numa região
em que a dinâmica urbana tem se materializado de maneira intensa no território. Para tanto, o trabalho
baseia-se no conceito de urbanização difusa, o que permite refletir sobre as mudanças ocorridas nas áreas
urbanas complexas, como é o caso das regiões metropolitanas situadas no entorno de Jundiaí. No espaço
rural, por sua vez, verifica-se a expansão de conteúdos e formas urbanas, assim como o estabelecimento de
novas relações com a cidade. No caso estudado, o espaço periurbano é dotado de uma complexidade espacial
que revela que tanto a periferia quanto as áreas de transição rural-urbana são espaços complexos de
diferenciação social em que coexistem tensões, conflitos e também exclusividade.
Palavras-chave: Município de Jundiaí, espaço periurbano, urbanização difusa, áreas de transição rural-
urbana.
Resumen: El espacio periurbano es un importante tema de discusiones acerca de los actuales cambios en las
áreas de transición rural-urbana. El objetivo de este trabajo es analizar las características y tendencias
recientes de la formación de ese espacio en el municipio de Jundiaí, cuyo contexto regional ha evidenciado
cambios en la dinámica urbana en el territorio. De ese modo, el trabajo está basado en el concepto de
urbanización difusa, lo que ha tornado posible la comprensión de los cambios ocurridos en las regiones
metropolitanas ubicadas en las cercanías de Jundiaí. En el espacio rural, de su parte, se ha verificado la
expansión de contenidos y formas urbanas y, incluso el establecimiento de nuevas relaciones con la ciudad.
En el estudio de caso, se nota que el espacio periurbano es dotado de una complejidad espacial que plasma
que tanto la periferia como las áreas de transición rural-urbana son espacios complejos de diferenciación
social en que coexisten tensiones, conflictos y exclusividad.
Palabras clave: Municipio de Jundiaí, espacio periurbano, urbanización difusa, áreas de transición rural-
urbana.
Abstract: The urban sprawl is an important discussion theme concerning the recent transformations occurred
in the rural-urban transition areas. The aim of this paper is to analyse the current characteristics and
tendencies in the formation of space in Jundiaí’s municipality, which is placed in a region whose urban
dynamic has been intensely materialised through the territory. Therefore, the paper is based on the concept of
diffuse urbanisation, permitting to reflect about the changes occurred in the complex urban areas, just as the
metropolitan regions sited around Jundiaí. In the rural space, on the other hand, it is noted the expansion of
meanings and urban forms as well as the establishment of new relations with the city. In the case study, the
urban sprawl of the city is filled of a spatial complexity that reveals that both the periphery and the rural-
urban transition areas are complex spaces of social differentiation in which tensions, conflicts and also
exclusivity coexist.
Keywords: Jundiaí’s municipality, urban sprawl, diffuse urbanisation, rural-urban transition areas.
O artigo é parte das reflexões desenvolvidas durante pesquisa em nível de Mestrado realizada no Programa de Pós-graduação em
Geografia (UNESP, Presidente Prudente);
**
noronhaunesp@gmail.com (Mestrando em Geografia, FCT/UNESP);
***
medeiroshespanhol@yahoo.com.br (Docente do Departamento de Geografia, FCT/UNESP);
Revista Formação, n.15 volume 1- p.85-96
86
Introdução
Objetiva-se, com a produção deste artigo, analisar os processos e mudanças ocorridas no
espaço periurbano do Município de Jundiaí, localizado numa região em que a dinâmica urbana tem
se materializado de maneira intensa pelo território. Nas áreas rurais, por sua vez, tem-se verificado a
proliferação de formas e conteúdos urbanos, o que de fato revela um novo conjunto de relações
entre o campo e a cidade. Do ponto de vista teórico, o trabalho encontra-se fundamentado
basicamente em dois conceitos: a) urbanização difusa e, b) espaço periurbano. Os dois conceitos
estão sendo discutidos em escala internacional e revelam a idéia de complexidade espacial das
regiões metropolitanas mundiais e de suas proximidades, como é o caso da Região Metropolitana de
São Paulo. Lembrando aqui que o Município de Jundiaí encontra-se nas proximidades de duas
regiões metropolitanas no Estado de São Paulo: a Região Metropolitana de São Paulo e de
Campinas.
Ao caracterizar a conformação do espaço periurbano no Município de Jundiaí é plausível
contextualizar, em primeiro lugar, o processo de produção do espaço urbano e, em segundo lugar,
sua expansão para além da cidade, o que denota o crescimento das manchas urbanas e o surgimento
de ‘novos conteúdos às periferias da cidade e áreas rurais’ situadas nos limites de transição rural-
urbana. Nessa perspectiva de análise, tanto o campo quanto a cidade, no contexto da urbanização
difusa, representam realidades espaciais complexas que se transformam, que se adaptam, mas que
também mantêm suas especificidades, como é o caso dos espaços rurais tradicionais.
A estratégica localização geográfica do Município de Jundiaí resultou na permanência de um
espaço rural, porém em constante transformação e adaptação. Parte-se da hipótese de que os
territórios rurais constituídos em fins do século XIX, a partir da fragmentação da terra e
estabelecimento de uma produção agrícola familiar em regime de pequena propriedade, apresentam
novos conteúdos espaciais resultantes da expansão de uma cultura urbana que se difunde de maneira
acelerada, conformando, no sentido lefebvriano, novas relações e novos processos no campo.
Feito a caracterização das opções teóricas que norteiam o desenvolvimento desse trabalho,
ressalta-se que o artigo foi organizado em duas partes. Na primeira parte é apresentado o contexto
regional em que está localizado o Município de Jundiaí, revelando as principais características do
processo de urbanização difusa e conformação de uma ‘nova cidade’, dispersa e fragmentada pelo
território. Na segunda parte é feita uma análise dos processos de urbanização difusa e a
constituição de espaços periurbanos complexos no Município de Jundiaí, mostrando, por sua vez, a
dificuldade atual em delimitar tais realidades espaciais.
O contexto regional: um ponto de partida
A opção pelos conceitos de urbanização difusa e espaço periurbano advém, sobretudo, do
contexto regional em que o Município de Jundiaí está localizado. A figura 01 revela que um
aspecto importante é sua localização próxima à Região Metropolitana de São Paulo, bem como o
acesso privilegiado às principais vias de circulação: Via Anhanguera construída em 1940 e a
Rodovia dos Bandeirantes construída em 1978 –. Além disso, observa-se que o Município de
Jundiaí está localizado nas proximidades de dois importantes centros urbanos e consumidores:
Região Metropolitana de São Paulo e de Campinas.
Parte-se da premissa de que o atual processo de urbanização tem conformado uma realidade
territorial mais complexa, pressupondo que a realidade na qual o Município de Jundiaí está
localizado – contexto regional altamente urbanizado e industrializado encontra-se muito próxima
aos processos ocorridos no âmbito da urbanização difusa ou reticular tomada como referência por
Dematteis (1998) e difundido por Sposito (2004) em pesquisa realizada sobre os centros urbanos
paulistas.
Revista Formação, n.15 volume 1- p.85-96
87
Figura 01: Jundiaí e seus arredores
Entende-se que a urbanização difusa ou reticular possui algumas características, a saber:
primeiro, é marcada especialmente pela dispersão das manchas urbanas, não chegando a se
homogeneizar pelo território; e, segundo, é possível situá-la em contextos espaciais em que a
dinâmica urbana tem se apresentado de maneira predominante, mesmo que não de maneira
exclusiva. O Município de Jundiaí tem-se mostrado cada vez mais próximo a essas duas
características assinaladas e, portanto, um espaço convidativo de análise e investigação geográfica
das atuais relações campo-cidade.
Em síntese, sabe-se que o processo de urbanização difusa pode ser compreendido a partir da
dispersão das formas urbanas e, de acordo com Whitacker (2006), a partir da fragmentação
territorial da cidade. O resultado, segundo análise apresentada por Whitacker (2006), é a
conformação de uma cidade cada vez mais diversa e dispersa revelando, por conseguinte, o
surgimento de novas centralidades decorrentes dos novos equipamentos de consumo e dos novos
espaços de habitação e também das novas práticas socioespaciais de segmentação. Para o autor, a
criação da ‘nova cidade’ pode ser associada às distintas conformações assumidas pelo capitalismo,
o que resulta na combinação e sobreposição de lógicas pretéritas e digam-se também atuais.
Dessa maneira, a cidade como uma dimensão geográfica da realidade – visível e materializada
somente pode ser entendida a partir de sua complexidade, exigindo, portanto, a compreensão e
articulação ao contexto geográfico no qual está inserido e, por certo, com a organização de seu par
dialético: o campo. Pela mesma lógica de investigação, entende-se que o campo, como uma
Revista Formação, n.15 volume 1- p.85-96
88
realidade materializada e socialmente construída, deve ser compreendido a partir de suas relações
com a cidade e, portanto, no âmbito de seu recorte espacial de investigação.
Nessa perspectiva, poder-se-ia afirmar que, na atualidade, o urbano desenvolve-se no rural e o
rural no urbano. Em parte, essa problemática decorre das novas formas assumidas pela cidade
descontinuidade territorial –, o que cria o urbano muito além das cidades – cultura urbana, num
sentido lefebvriano –, mesmo que não corresponda num processo de urbanização do rural no
sentido preconizado por Graziano da Silva (1999). No próximo item será dada uma atenção especial
às características e tendências atuais do espaço periurbano no Município de Jundiaí, o que ratifica a
conformação de uma cidade fragmentada do ponto de vista territorial e, sobretudo, de uma
complexidade espacial dotada de novos sentidos e conteúdos aos estudos das relações campo-
cidade. A formação de um espaço periurbano complexo é um exemplo didático.
O Município de Jundiaí no contexto da urbanização difusa: a formação de um espaço
periurbano complexo
A principal referência em relação aos estudos da urbanização difusa no Estado de São Paulo é
o trabalho de Sposito (2004). Esta autora, em pesquisa realizada nos vinte e dois principais centros
urbanos do estado de São Paulo, observou que no período de 1970 1980 houve significativas
mudanças na morfologia urbana das cidades pesquisadas, decorrente, principalmente, dos processos
de aglomeração e da formação de tecidos urbanos descontínuos do ponto de vista territorial. Em
relação ao Município de Jundiaí tal processo não foi diferente, conforme revela a figura 02.
Pela figura 02, percebe-se que houve um aumento significativo do tecido urbano no
Município de Jundiaí no período de 1954 a 1983. Em relação a este processo, outros dois aspectos
podem ser considerados, a saber: a) a proximidade do Município de Jundiaí em relação aos
principais eixos viários do Estado de São Paulo – Rodovia dos Bandeirantes e Via Anhanguera –; e,
b) os sentidos dessa aglomeração urbana. O primeiro aspecto, numa perspectiva histórica, expressa
os sentidos de ocupação, de apropriação e de transformação desse espaço a partir das distintas
funções exercidas pela cidade principal. Por certo, os sentidos de ocupação e de transformação do
território perpassam fundamentalmente pelas implicações aos espaços rurais.
Sobre o segundo aspecto é destacável o processo de aglomeração entre a cidade principal
Jundiaí – e as que se encontram no seu entorno – Várzea Paulista, Campo Limpo Paulista, Itupeva e
Louveira –. Dessa forma, Sposito (2004), ao propor uma classificação das distintas formas espaciais
que configuram a rede urbana no Estado de São Paulo, concebe o Município de Jundiaí como uma
aglomeração de tipo não-metropolitana, cuja característica, no período de análise 1950 – 1980 –,
foi a conformação de uma aglomeração dispersa territorialmente.
De fato, uma das características presentes nesse processo, particular ao contexto regional em
que está inserido o Município de Jundiaí, é a descontinuidade territorial das cidades. Tal
característica, atual do processo de produção do espaço urbano, conforma uma cidade cada vez mais
dispersa, assim como também, a produção de uma morfologia caracterizada pelo redesenho da
espacialidade urbana: extensão do tecido urbano; fragmentação da cidade; e, intensificação da
circulação, impulsionada pela presença de fixos no território. Como observa Whitacker (2006), tais
aspectos rompem com o modelo clássico de cidade contínua ou concentrada.
Pressupõe-se, portanto, que a expansão do tecido urbano e a descontinuidade territorial urbana
ao longo das vias de circulação conformam uma ‘nova morfologia urbana’ próxima ao que
Dematteis (1998) denominou de ‘mancha de azeite’. Além disso, tanto o crescimento demográfico
quanto a extensão das manchas urbanas correspondem em dois aspectos característicos da
urbanização contemporânea, conceituada de “difusa ou reticular”. Todavia, é interessante observar
que a análise proposta por Dematteis (1998) refere-se às dinâmicas desenvolvidas em áreas urbanas
européias, em que há, desde os anos 1960, um redesenho da espacialidade urbana e de processos
que originam novos sentidos e conteúdos às periferias das cidades e regiões metropolitanas. Para
esse autor, tal processo decorre das mudanças nas estruturas territoriais urbanas.
Revista Formação, n.15 volume 1- p.85-96
89
Figura 02: Expansão do tecido urbano do Município de Jundiaí (1954 – 1983)
Dematteis (1998), ao considerar a realidade européia mostra que é possível destacar duas
principais dinâmicas em relação aos processos: a) a periurbanização, cuja característica é a
expansão progressiva das áreas externas – coroas urbanas – a partir dos sistemas radiais dos
sistemas urbanos, resultando na formação de um continuum; e, b) a cidade e/ou urbanização difusa,
em que o processo de expansão urbana torna-se independente dos campos de polarização dos
grandes centros urbanos, como é o caso das regiões metropolitanas.
Revista Formação, n.15 volume 1- p.85-96
90
Ainda para Dematteis (1998), a combinação dessas duas dinâmicas origem a três
morfologias: a) a periurbanização; b) a difusão reticular – característica dos tecidos mistos –; e, c) a
superposição ou combinação das duas primeiras. Para o referido autor, nas áreas em que há a
combinação do processo de periurbanização e de urbanização difusa – cidade difusa – aparecem as
regiões metropolitanas. O referido autor compreende que a desconcentração urbana ocorrida em
escala européia deve ser entendida como um fenômeno estrutural e que o reconhecimento desses
processos no período atual perpassa pela compreensão das diferenças existentes em relação às
periferias desenvolvidas no período que antecede os anos 1950.
Nessa perspectiva, seguindo a análise proposta pelo autor, as periferias não podem ser
diretamente associadas a um espaço desprovido e carente dos valores contidos na centralidade, uma
vez que possui qualidades ambientais e, portanto, correspondem complexos laboratórios sociais,
seja pela inovada forma de habitar criada pelo mercado imobiliário, seja por fatores de locomoção e
acessibilidade. Para Otani; Arraes; Verdi (2007), enquanto na Europa a situação das áreas
periféricas ou de transição rural-urbana encontra-se mais equilibrada dados os processos de inversão
demográfica, no Brasil, por sua vez, a expansão das áreas urbanas sobre as áreas rurais é um
fenômeno relativamente recente, notadamente, tem sido mais bem visualizada nas proximidades de
grandes centros urbanos, como as regiões metropolitanas.
Assim, tendo como base os trabalhos de Dematteis (1998), Otani; Arraes; Verdi (2007), Vale
(2006), Gualdani; Braga; Oliveira (2005), Souza (2005) e Entrena Durán (2003) é que o conceito de
espaço periurbano foi tomado como referência para compreender os processos e dinâmicas atuais
nas áreas de transição rural-urbana no Município de Jundiaí. De fato, muito próximo ao que definiu
os autores, as áreas de transição rural-urbana correspondem em complexos laboratórios sociais
resultantes dos processos urbanos cada vez mais intensos no período contemporâneo.
Com base na obra de Souza (2005), os espaços periurbanos são espaços preteritamente rurais
tomados por uma lógica urbana de uso da terra. Para Otani; Arraes; Verdi (2007), a principal
característica dos espaços periurbanos compreende a crescente complexidade e interdependência
entre o campo e a cidade. Vale (2006), por sua vez, lembra que não consenso entorno de uma
definição sobre as áreas de transição rural-urbana, existindo uma diversidade de conceitos e noções
explicativas, dentre os quais se destacam: rural-urban fringe; banlileue; franja urbana ou rurbana;
sombra urbana; e, espaço periurbano.
Seguindo a analise proposta por Otani; Arraes; Verdi (2007) verifica-se que o Município de
Jundiaí tem apresentado uma situação emblemática em relação ao crescimento das áreas de
transição rural-urbana ou, conforme opção teórica, de espaços periurbanos. Segundo esses autores
tal situação decorre principalmente por sua localização nas proximidades de eixos viários que ligam
duas regiões metropolitanas. Nas palavras dos autores as áreas situadas
[...] entre a RM de São Paulo e de Campinas estão ligadas por excelentes
vias de transporte e infra-estrutura, facilitando a locomoção da população
nessas regiões. Em alguns dos municípios da RMSP ainda resistem áreas de
parques e de atividade agrícola que compõem uma paisagem bucólica e
rural, atrativos que aliados à infra-estrutura estimulam a demanda por
moradia nas vizinhanças e aquece o mercado de construção, principalmente
de grandes condomínios (OTANI; ARRAES; VERDI, 2007, p. 08).
De acordo com Dematteis (1998), pressupõe-se que os processos de periurbanização,
associados ao contexto da urbanização difusa no Município de Jundiaí, estão diretamente ligados à
proximidade geográfica desse espaço urbano com centros urbanos mais complexos, cujo fator
elementar compreende as vias de acesso facilitando o deslocamento de pessoas a trabalho e o uso do
automóvel (ENTRENA DURÁN, 2003).
No caso específico da cidade de São Paulo é destacável o crescimento das áreas de segunda
residência no percurso dos principais eixos viários, como é o caso da Rodovia dos Bandeirantes e
Via Anhanguera. Para Souza (2005), alguns municípios, como Jundiaí, por exemplo, estão situados
Revista Formação, n.15 volume 1- p.85-96
91
numa área de espraiamento da metrópole que, somados a outros temas, como é caso da intensa
especulação imobiliária, do surgimento de condomínios irregulares e de alto padrão e a
mercantilização da paisagem rural ainda predominante em algumas áreas, adquirem novas
conformações urbanas.
Em relação aos loteamentos fechados, ou bairros fechados, pode-se perceber, por meio da
realização da entrevista junto à Secretaria de Meio Ambiente e Planejamento, que o principal fator
impulsionador é a proximidade do referido município com as áreas metropolitanas, assim como
também, sua localização num dos principais entroncamentos viários do Estado de São Paulo. Para o
secretário, o processo de desconcentração da cidade de São Paulo, iniciado no decorrer da década
de 1980, tem impulsionado de maneira significativa a expansão desse tipo de assentamento e/ou
habitat, cujo fator explicativo para tal fenômeno espacial é a pressão criada pelo mercado de
imóveis.
As primeiras iniciativas de loteamentos fechados no Município de Jundidatam de meados
dos anos 1960, bem antes da promulgação da Lei de Parcelamento do Solo Urbano Lei 6766 - e
que atualmente todos estão situados nos limites do perímetro urbano do referido município.
Segundo entrevistado na Secretaria de Meio Ambiente e Planejamento tais iniciativas devem ser
consideradas como um problema para a cidade, posto que além de segmentá-la, cria uma cidade em
que acessos são particulares e exclusivos.
Portanto, entende-se que os espaços periurbanos no Município de Jundiaí compreendem áreas
de transição rural-urbana complexas em que coexistem processos ligados: primeiro, pela expansão
de loteamentos fechados destinados às classes média e alta; segundo, pela proliferação de
loteamentos destinados à moradia popular que, em grande parte, são criados por políticas públicas
de habitação; terceiro, pelos conflitos e tensões em relação ao uso do solo entre as tidas ‘novas
atividades’, como é o caso dos estabelecimentos industriais e comerciais e as culturas agrícolas;
quarto, pela demanda por novos serviços urbanos, como é o caso do transporte público e
saneamento básico; e, quinto, pela ampliação dos problemas ambientais.
A proximidade com o núcleo urbano principal e a facilidade de locomoção são os dois fatores
que explicam a formação e a expansão dos espaços periurbanos no Município de Jundiaí. Os
processos especulativos, a demanda por moradia popular e a busca por tranqüilidade, associada ao
encontro com a natureza, compreendem outros elementos fundamentais. Essa afirmação corrobora a
conformação e/ou justaposição de três espaços interdependentes, a saber: o rural, o natural e o
urbano (VALE 2006; GUALDANI; BRAGA; OLIVEIRA, 2005 e ENTRENA DURÁN, 2003).
Por certo, as áreas de transição rural-urbana compreendem um mix, ou seja, um verdadeiro
espaço social diferenciado entre aquilo que comumente denominavam-se espaços rural e urbano.
Tal complexidade dos espaços periurbanos decorre das relações interdependentes entre o campo e a
cidade. Se no passado tal distinção se fazia prevalentemente a partir do uso do solo, no período
atual, esse recorte analítico não é mais coesivo. Para Entrena Durán (2003, p. 57), as áreas
periurbanas
[...] são caracterizadas por formas de urbanização dispersa em que, em geral,
é altamente complicada distinção clara entre campo e cidade. Isso acontece
em um contexto em que as periferias citadinas ou áreas periurbanas tendem
a aumentar sua extensão e, sobretudo, ter limites cada vez mais indefinidos
com respeito à área rural.
Dessa maneira, antes de esmiuçar alguns aspectos da urbanização difusa no Município de
Jundiaí, torna-se plausível esquadrinhar as implicações do processo de produção urbano. O ponto de
partida para tal análise é a constituição de um tecido urbano descontínuo para além do núcleo
urbano compacto até os anos 1980. Pela figura 03 é perceptível que tecido urbano compacto,
característico até o início da década de 1980, foi amplamente expandido de maneira descontínua,
atingindo as áreas localizadas na porção norte.
Revista Formação, n.15 volume 1- p.85-96
92
Além disso, é interessante observar que o período de maior crescimento das manchas urbanas
corresponde ao início dos anos 1980 e meados da década de 1990. Por certo, a figura 03 representa
uma síntese do processo de urbanização no Município de Jundiaí até o ano de 2004 e revela que o
município está dividido geograficamente em três principais áreas, a saber: a macrozona rural; a área
urbana; e, as áreas de preservação ambiental – Serra do Japi.
Figura 03: Município de Jundiaí, três áreas principais
A partir da figura 03 é oportuno analisar dois pontos: a) os reflexos dessa expansão das
manchas urbanas aos espaços rurais; e, b) os conteúdos dessas novas formas. Em relação aos
reflexos no espaço rural denota-se que a expansão do tecido urbano foi incisiva nesse período de
Revista Formação, n.15 volume 1- p.85-96
93
análise, apresentando como principal tendência o crescimento a partir das estradas e rodovias de
acesso. Tais áreas, ao se valorizarem com a criação de infra-estrutura básica, impulsionam a
especulação imobiliária. Dessa forma, sabe-se que o resultado desse tipo de ação é a pressão
exercida por distintos agentes de produção da cidade frente ao governo público municipal que, em
tese, deveria fiscalizar e organizar as políticas de planejamento urbano em consonância com o
espaço rural e os recursos naturais.
No que diz respeito ao conteúdo das formas urbanas atuais no Município de Jundiaí, este não
foge à regra dos centros urbanos situados nas proximidades das Regiões Metropolitanas de o
Paulo e Campinas. Por certo, os conteúdos tidos como novos aparecem de maneira mais intensa nas
periferias da cidade, criando um mix de usos do solo urbano em interação - não harmônica - com a
paisagem rural. Os conteúdos referem-se às novas formas de habitação que se reproduzem para
além da cidade e das áreas que o poder público define como zona de expansão urbana – ZEU –.
De certa forma, o resultado é a composição de uma estrutura urbana mais complexa, o que
exige a compreensão de outros parâmetros analíticos, dentre os quais, a pressão do mercado
imobiliário que ao apropriar-se desse ‘novo estilo de viver e habitar’ reforça a confusão entre desejo
e necessidade. Ao desenvolver esse tipo de estratégia, o mercado imobiliário cria uma ‘nova
cidade’: dispersa, pela possibilidade de locomoção e acessibilidade; e, sobretudo, fragmentada.
Para Roitman (2004), o novo conteúdo das periferias urbanas corresponde ao surgimento das
‘urbanizaciones cerradas’, ou seja, os condomínios fechados. Para ela, esse tipo de habitação tem-se
apresentado como um novo fenômeno urbano e decorre de distintos fatores econômicos, sociais e
também, pode-se assim dizer, culturais. Segundo Roitman (2004) o surgimento desse tipo de
‘habitar’, na maioria dos países, constitui-se, ainda, em um fenômeno recente (década de 1980).
Nessa perspectiva, a autora apresenta um conjunto de causas estruturais e de ação social que
impulsionam o surgimento desse tipo de forma urbana de morar.
Em relação às causas estruturais, Roitman (2004) evidencia o aumento da insegurança, o
fracasso do Estado e o aumento da ‘brecha’ existente entre ricos e pobres. A expansão dos bairros e
loteamentos fechados favorece, de forma ampla, a expansão de outros serviços, dando destaque ao
serviço de segurança particular realizado por empresas privadas. No que se refere às causas de ação
social, Roitman (2004) enfatiza a busca por um estilo de vida. Isso porque, para não enfrentar certos
problemas sociais, algumas famílias buscam a homogeneidade social, status e exclusividade.
No caso específico do Município de Jundiaí, a relação centro-periferia pode ser apreendida a
partir de duas dinâmicas inseridas no mesmo contexto econômico e social: a) o surgimento desses
novos ‘bairros fechados urbanos’, carregados de exclusividade social em que a natureza é vista
como uma mercadoria; e, b) a proliferação de loteamentos irregulares que extrapolam os limites do
perímetro urbano chegando ao campo. Na figura 04 é apresentada a localização dos loteamentos
irregulares no Município de Jundiaí no ano de 2004.
A figura 04 revela que a principal área de expansão de loteamentos irregulares corresponde à
porção norte do perímetro urbano que, segundo o Plano Diretor do Município, compreende a
macrozona rural. A partir de entrevista realizada junto ao Secretário de Planejamento do Município
de Jundiaí, constatou-se que tais loteamentos irregulares surgem a partir de iniciativas particulares,
ou seja, por meio do parcelamento do solo e venda de fração ideal da propriedade rural. Na
perspectiva do secretário, além de ser uma forma de burlar a legislação existente, tal iniciativa
resulta na irregularidade dos lotes.
A formação de bairros urbanos isolados condiz com o surgimento e amplitude de tal processo
de venda indiscriminada de lotes rurais. Segundo informações adquiridas junto à Secretaria de
Assuntos Fundiários, os bairros urbanos isolados têm origem na decomposição de antigas sedes de
fazendas, resultando, inicialmente, na junção e crescimento do número de residências e,
posteriormente, na expansão de serviços urbanos: iluminação pública, saneamento básico,
asfaltamento, transporte público e rede de saúde e escolar.
Revista Formação, n.15 volume 1- p.85-96
94
Figura 04: Loteamentos Irregulares no Município de Jundiaí – SP
As implicações dos processos de urbanização difusa resultam no surgimento de espaços
periurbanos, revelando que tanto a periferia quanto as áreas de transição rural-urbana são espaços
complexos de diferenciação social em que coexistem tensões, conflitos e também exclusividade. A
formação desses espaços no Município de Jundiaí tem apresentado conteúdos e significados
distintos do passado em que havia o predomínio da atividade agropecuária.
Revista Formação, n.15 volume 1- p.85-96
95
Conclusão
O processo de formação do espaço periurbano no Município de Jundiaí pode ser
compreendido a partir das mudanças estruturais ocorridas desde a década de 1980 nas áreas
próximas as regiões metropolitanas de São Paulo e Campinas. Por certo, tais mudanças associam-se
diretamente a conformação de uma complexa rede viária, o que possibilita a circulação e o acesso
rápido a trabalho e, sobretudo, pela atuação de um mercado imobiliário interessado nas
especificidades desses espaços, como é o caso da proximidade com a natureza.
O espaço rural no Município de Jundiaí tem se apresentado complexo em decorrência de sua
heterogeneidade em relação ao uso do solo e atividades desenvolvidas. A constituição de espaços
periurbanos dotados de uma complexidade espacial reitera tal constatação. De um lado, há a
permanência de territórios rurais tradicionais constituídos historicamente a partir do trabalho do
colono-imigrante e, certamente, pela presença significativa da produção agrícola familiar em regime
de pequena propriedade. De outro lado, essas áreas rurais passam a combinar conteúdos e
expressões tidos como urbanos. A propriedade privada da terra, as redes de circulação e de acesso
às áreas rurais, os distintos usos do solo, em conjunto, traduzem um ‘novo significado de rural’ para
além de um modo de vida e de um espaço em que a agricultura seja uma atividade exclusiva.
De fato, mudanças tornaram-se evidentes e o espaço rural vem sofrendo significativas
transformações, mormente em relação ao uso do solo, uma vez que o rural não pode ser mais
entendido como sinônimo de agrícola em decorrência de outros serviços e funções - moradia de
segunda residência, lazer periurbano, indústria, consumo da natureza e turismo rural -. O espaço
rural, nessa perspectiva de análise, é um híbrido de velhas e novas funções. A constituição de um
espaço periurbano é um exercício teórico de apreensão de tais mudanças ocorridas, conquanto,
ainda ocorrem. Portanto, o espaço periurbano é encarado enquanto devir, um complexo laboratório
social.
Referências Bibliográficas
DEMATTEIS, Giuseppe. Suburbanización y periurbanización, ciudades anglosajonas y ciudades
latinas. In: MONCLUS, F. J. La ciudad dispersa. Suburbanización y nuevas periferias, CCCB,
Barcelona, 1998.
ENTRENA DURÁN, Francisco. Cidades sem limites. In: MACHADO, Jorge Alberto (Org.).
Trabalho, Economia e Tecnologia. Novas perspectivas para a sociedade global. São Paulo:
Tendenz, p. 55 – 90, 2003.
GRAZIANO da SILVA, José. O novo rural brasileiro. 2. ed. Campinas: Ed. Unicamp: (Coleção
pesquisas), 1999.
GUALDANI, Carla; BRAGA, Roberto; OLIVEIRA, Bernadete Castro. Transformações do uso do
solo em área de transição rural-urbana no Município de Rio Claro - SP. In: Anais III Simpósio
Nacional de Geografia Agrária II Simpósio Internacional de Geografia Agrária, Jornada
Ariovaldo Umbelino de Oliveira, Presidente Prudente, 11 a 15 de novembro, 2005.
OTANI, Malimiria Norico; ARRAES, Nilson Modesto; VERDI, Adriana Organização e
sustentabilidade da agricultura familiar em espaços peri-urbanos: o caso da vitivinicultura de
Jundiaí. In: Anais do XLV Congresso da SOBER, Londrina, p. 01 - 15, 22 a 25 de julho de 2007.
ROITMAN, Sonia. Urbanizaciones cerradas: estado de la cuestión hoy y propuesta teórica. Revista
de Geografía Norte Grande, 32: 5 – 19, 2004.
SOUZA, Marcelo Lopes de. ABC do desenvolvimento urbano. Bertrand Brasil, segunda edição,
Rio de Janeiro, 2005.
SPOSITO. Maria Encarnação Beltrão. O chão em pedaços: urbanização, economia e cidades no
Estado de São Paulo. Tese (Livre Docência), Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade
Estadual Paulista, Presidente Prudente, 2004.
VALE, Ana Rute do. Definindo o conceito e descobrindo a plurifuncionalidade do espaço
periurbano. Texto da internet: www.igeo.uerj.br/VICBG-2004 (acesso em 17 de Julho de 2006).
Revista Formação, n.15 volume 1- p.85-96
96
WHITACKER, Arthur Magon. Cidade imaginada. Cidade concebida. In: SPOSITO; M. E. B.;
WHITACKER, A. M. (org.); Cidade e Campo relações e contradições entre urbano e rural.
Expressão Popular; Coleção Geografia em Movimento, p. 131 – 155, 2006.
Chapter
Full-text available
En nuestros días, muchas ciudades están experimentando unos procesos de creciente expansión de sus áreas periurbanas que pueden ser considerados como la expresión de unas tendencias hacia la progresiva preponderancia de un nuevo tipo de ciudad cada vez menos definido y centrado en un territorio específico. Una ciudad sin unos claros confines que la separen de lo rural. Estas tendencias están sucediendo en una situación en la que, desde una perspectiva territorial, estamos presenciando un paulatino reforzamiento de la competencia entre los territorios y un fortalecimiento del rol de las metrópolis. Las relaciones de los individuos con el territorio y la organización socio-territorial están pasando de tener lugar en zonas concretas a desarrollarse a través de redes cada vez más extensas y globalizadas. En este contexto, la ciudad está adquiriendo una función particularmente importante como nodo de una red que se expande sobre la base de un sistema jerárquico mundial de urbes. En la cima de esta jerarquía estarán unas pocas ciudades planetarias, así como un conjunto de ciudades internacionales o regionales que articularán las más importantes relaciones socioeconómicas a escala mundial. Se trata de un nuevo modelo de ciudad, escasamente jerarquizada y globalmente conectada, que es tipificado por Giuseppe Dematteis como “la ciudad difusa”. A medida que este modelo tiende a afianzarse, las viejas definiciones de ciudad están siendo relegadas como inservibles. Tales definiciones se basaban en la determinación de los umbrales y de las densidades relativas de población, pero hoy esto ya no resulta adecuado, dadas las crecientes dificultades de deslindar claramente entre lo rural y lo urbano, así como los continuos movimientos de la población, que hacen que zonas que en determinadas horas del día o estaciones de año se encuentran sometidas a una fuerte presión demográfica pudieran aparecer como de muy baja densidad poblacional, ya que en ellas no reside permanentemente una gran cantidad de población.
Novas perspectivas para a sociedade global
  • Economia Trabalho
  • Tecnologia
Trabalho, Economia e Tecnologia. Novas perspectivas para a sociedade global. São Paulo: Tendenz, p. 55 -90, 2003. GRAZIANO da SILVA, José. O novo rural brasileiro. 2. ed. Campinas: Ed. Unicamp: (Coleção pesquisas), 1999.
Organização e sustentabilidade da agricultura familiar em espaços peri-urbanos: o caso da vitivinicultura de Jundiaí
  • Adriana Verdi
VERDI, Adriana Organização e sustentabilidade da agricultura familiar em espaços peri-urbanos: o caso da vitivinicultura de Jundiaí. In: Anais do XLV Congresso da SOBER, Londrina, p. 01 -15, 22 a 25 de julho de 2007. ROITMAN, Sonia. Urbanizaciones cerradas: estado de la cuestión hoy y propuesta teórica. Revista de Geografía Norte Grande, 32: 5 -19, 2004.
ABC do desenvolvimento urbano. Bertrand Brasil, segunda edição
  • Marcelo Souza
  • Lopes De
SOUZA, Marcelo Lopes de. ABC do desenvolvimento urbano. Bertrand Brasil, segunda edição, Rio de Janeiro, 2005.
O chão em pedaços: urbanização, economia e cidades no Estado de São Paulo
  • Maria Encarnação Beltrão
Maria Encarnação Beltrão. O chão em pedaços: urbanização, economia e cidades no Estado de São Paulo. Tese (Livre Docência), Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente, 2004.
Cidade imaginada. Cidade concebida
  • Arthur Whitacker
  • Magon
WHITACKER, Arthur Magon. Cidade imaginada. Cidade concebida. In: SPOSITO;
Suburbanización y periurbanización, ciudades anglosajonas y ciudades latinas
  • Giuseppe Dematteis
DEMATTEIS, Giuseppe. Suburbanización y periurbanización, ciudades anglosajonas y ciudades latinas. In: MONCLUS, F. J. La ciudad dispersa. Suburbanización y nuevas periferias, CCCB, Barcelona, 1998.