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Janeiro-Junho, 2018
ISSN 2175-3709
Revista do Programa de
Pós-Graduação em Geograa e
do Departamento de Geograa
da UFES
Territórios alimentares e reinvenção das tradições na cozinha colonial
da Serra catarinense (SC): a experiência da associação de agroturismo acolhida na colônia
Páginas 263 a 283
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Antonio Hélio Junqueira
TERRITÓRIOS ALIMENTARES E REINVENÇÃO
DAS TRADIÇÕES NA COZINHA COLONIAL DA
SERRA CATARINENSE (SC): A EXPERIÊNCIA DA
ASSOCIAÇÃO DE AGROTURISMO ACOLHIDA NA
COLÔNIA
Food territories and reinvention of traditions on Serra Cata-
rinense (SC) colonial kitchen: the experience of the Associação de
Agroturismo Acolhida na Colônia.
Territorios alimentarios y reinvención de las tradiciones en la
cocina colonial da Serra Catarinense (SC): la experiencia de la
Associação de Agroturismo Acolhida na Colônia.
RESUMO
O estudo investiga dinâmicas e estratégias articuladas pelo projeto
de estruturação do turismo rural na região das Encostas da Serra
Catarinense (SC), pela Associação de Agroturismo Acolhida
na Colônia, na busca de reintroduzir práticas, saberes e fazeres
alimentares regionais. O texto decorre de pesquisa qualitativa
focada na coleta e análise discursiva de reportagens produzidas
por diferentes mídias, selecionadas e divulgadas pela associação
investigada e traz como resultado a validação da pertinência da
adoção tanto do conceito de invenção das tradições, quanto
das práticas de agenciamento da memória popular em prol da
reconstrução imaginária do território alimentar estudado.
Palavras-chave: Comida Regional; Territórios Alimentares;
Tradições
ABSTRACT
e study investigates the dynamics and strategies articulated by
the rural tourism structuring project in the region of the Serra
Catarinense (SC), by the Associação de Agroturismo Acolhida
na Colônia, in the search to reintroduce regional food prepartion
practices and knowledge. e text is based on qualitative research
focused on the collection and discursive analysis of reports
produced by dierent media, selected and disseminated by
the investigated association and results in the validation of the
pertinence of the adoption of both the concept of invention of the
traditions and the practices of agency of memory popular for the
imaginary reconstruction of the food territory under study.
Key words: Regional food; Food territories; Traditions
RESUMEN
El estudio investiga dinámicas y estrategias articuladas por el
proyecto de estructuración del turismo en ambiente rural en
la región de las Encostas de la Sierra Catarinense (SC), por la
Antonio Hélio Junqueira
Professor Doutor Colaborador do
Mestrado Prossional em Gestão
de Alimentos e Bebidas da Univer-
sidade Anhembi Morumbi (UAM).
Coordenador nacional do proje-
to “Circuitos Curtos de Produção
e Abastecimento de Alimentos
(CCPAA): integração de agentes,
construção social de mercados e
revalorização das identidades ali-
mentares territoriais” (UAM). Pós
doutorado CNPq/PPGCOM-ESPM.
helio@hortica.com.br
Artigo recebido em:
17/10/2017
Artigo publicado em:
26/06/2018
Janeiro-Junho, 2018
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Asociación de Agroturismo Acogida en la Colonia, en la búsqueda
de reintroducir prácticas, saberes y hacer alimentos regionales. El
texto deriva de una investigación cualitativa enfocada en la colecta y
análisis discursivo de reportajes producidos por diferentes medios,
seleccionados y divulgados por la asociación investigada y trae
como resultado la validación de la pertinencia de la adopción tanto
del concepto de invención de las tradiciones, como de las prácticas
de agenciamiento de la memoria popular para la reconstrucción
imaginaria del territorio alimentario en estudio.
Palabras clave: Comida regional; Territorios Alimenticios; Tradi-
ciones
sobre a experiência dessa asso-
ciação, ao longo das já quase
duas décadas de sua existência,
o presente artigo questiona o
conceito de “resgate cultural”
explorado pela mídia e pelo
senso comum, propondo em
seu lugar, como mais apropri-
ada e consistente, a abordagem
do imaginário e da invenção
da tradição (HOBSBAWN;
RANGER, 1984) como chaves
metodológicas para o entendi-
mento dessa tática (CERTEAU,
2003) de construção da identi-
dade territorial alimentar pelo
grupo social investigado, com
propósitos de atração turísti-
ca. Não por acaso, o conceito
de tática aplicado ao compor-
tamento social por Michel De
Certeau (2003) é aqui evocado.
Para esse pensador francês, a
tática congura movimentos de
apropriação e de reapropriação
do espaço social por aqueles
que não estão na posição de de-
tentores do poder. No contex-
to estudado, o trabalho posto
em marcha pela associação de
produtores rurais da Serra Ca-
tarinense insere-se adequada-
mente nessa perspectiva, posto
que objetiva através dos apelos
do turismo rural, recuperar
um lugar para a sua existência,
produção e reprodução social.
INTRODUÇÃO
A alimentação e as
relações estéticas, históricas
e socioculturais com a comi-
da, com o ato e com os modos
de cozinhar e de comer, bem
como com os diferentes gêneros
alimentícios revestem-se de
dimensões complexas, que
envolvem e enredam compo-
nentes materiais e simbólicos
signicativos (MONTANARI,
2008; ROSSI, 2013), os quais,
quando transpostos para a es-
fera das atividades turísticas,
agregam e conectam um am-
plo e diversicado conjunto
de agentes receptivos locais,
turistas viajantes e gestores de
destinos turísticos (GIMENEZ-
MINASSE, 2015).
No âmbito do turismo
em ambiente rural da agri-
cultura familiar, a Associação
de Agroturismo Acolhida na
Colônia, na região das Encos-
tas da Serra Catarinense (SC)
vem desenvolvendo signica-
tivo trabalho de rememoração,
reconstrução e reintrodução
de práticas alimentares e de
receitas da culinára colonial,
como elementos de força na
atração de turistas ao campo.
A partir de recuperação
de informações bibliográcas
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componente de maior expressão
e apelo na proposta turística
da comunidade observada é o
café colonial, experimentado
de maneira farta e diversicada
nas refeições da manhã ou do
meio da tarde.
A tradição do café co-
lonial apresenta-se coesamente
aderida às regiões de coloni-
zação alemã, não apenas em
Santa Catarina, mas também no
Rio Grande do Sul. Esse conjun-
to alimentar é frequentemente
reportado como elemento de
sustentação do trabalhador em
suas árduas lidas no campo.
Porém, não se pode deixar de
observar que sua expressão re-
gional também se conecta com
o imaginário colonial italiano –
frequente e expressivo na região
estudada – posto que a fartura
posta à mesa no âmbito do café
colonial representa simbolica-
mente a superação da miséria
dos desbravadores, dos colonos
pioneiros. Trata-se de um ritu-
al que celebra “a conquista da
cocanha (cuccagna), ou seja, do
paraíso, da terra prometida, da
abundância (SAVOLDI, 2001,
p.108).
O longo processo de
sedimentação e evolução da
produção agrícola familiar na
região das Encostas da Serra
Catarinense, em marcha desde
o século 19, foi marcado por
períodos de conformações,
crescimentos, esvaziamen-
tos, declínios e recuperações
constantes de atividades nem
sempre complementares e
sinérgicas e, muitas vezes, em
diferentes períodos, até mesmo,
contraditórias e mutuamente
excludentes. Certamente, du-
rante esse percurso, as práti-
cas, saberes e fazeres culinári-
Lugar já não mais existente.
Lugar a ser reinventado, a par-
tir da memória transgurada e
transformada, ou seja, a partir
da memória das suas próprias
tradições.
A culinária tradicional
catarinense resulta de uma com-
plexa mestiçagem entre as cul-
turas colonizadoras europeias
– principalmente as luso-aço-
riana, alemã, italiana, e polo-
nesa, entre outras –, com largos
reexos das contribuições dos
tropeiros, gaúchos, índios e ne-
gros. Na região das Encostas da
Serra Catarinense, a cozinha
rural à base do fogão de lenha,
se destaca no preparo campeiro
do arroz, feijão, carne de porco,
alimentos derivados do milho,
da mandioca e da batata e na
introdução do pinhão – fruto
da araucária típica da paisagem
regional – como ingrediente
fortemente identitário.
Entre os pratos
regionais típicos encontra-se o
entrevero, de origem tropeira,
composto por uma mistura de
carnes suinas e bovinas picadas,
salame, pimentão, tomate,
cebola e pinhão, preparado e
servido em panelas de ferro.
Outros muitos destaques são
de origem germânica, como o
kochckäse (espécie de queijo
azedo fervido), a platen küchen,
(cuca com farofa e fermento de
pão) e a gemüse, espécie de purê
de batatas com couve e carne de
porco defumada, que por ser
muito apreciada pelas famílias
locais acabou por inspirar a
Gemüsefest da cidade de Santa
Rosa de Lima – municípío sede
da Associação de Agroturismo
Acolhida na Colônia –, que
acontece a cada dois anos,
no mês de maio. Porém, o
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SOUZA; ELESBÃO, 2011).
Em realidade, o próprio rural
é contemporaneamente objeto
de disputa de sentidos, tendo
se transformado em arena na
qual ainda se buscam xar no-
vos conceitos e fronteiras frente
ao espaço urbano. No Brasil,
desde meados dos anos 1990,
teóricos propõem a adoção do
termo rurbano para designar
as zonas funcional e economi-
camente mistas entre o que
tradicionalmente se deniam
como campo e cidade (SILVA;
VILARINHO; DALE, 1998). O
espaço rurbano, mais do que
pelos seus aspectos geográ-
cos, se delimita por suas den-
sidades demográcas, níveis
e tipos de trabalho, ocupação,
renda, mobilidade e consumo
diferenciados em relação ao
rural típico (CAMPANHOLA;
SILVA, 1997; IICA, 2000). No
entanto, certas características
identitárias e organizadoras
do ambiente campestre ne-
les sobrevivem: predomínio
econômico da atividade agro-
pecuária, presença da paisagem
e dos elementos naturais e, em
nível social, prevalência das re-
des primárias de socialização e
sociabilidade (IRVING; AZE-
VEDO, 2002). Seguindo esta
orientação, a conceituação con-
temporânea do rural parte da
visão de que a ruralidade diz
respeito à forma pela qual se
organiza a vida social e leva em
conta, especialmente, “o acesso
aos recursos naturais e aos bens
e serviços da cidadania, a com-
posição da sociedade rural em
classes e categorias sociais, os
valores culturais que sedimen-
tam e particularizam os seus
modos de vida” (MIRANDA,
2017, p.34).
os, os gostos e preferências e
as memórias das cozinhas se
perderam, se alteraram, se so-
brepuseram, se anularam, se
amalgaram em diferentes sin-
cretismos e mestiçagens. Pouco
ou quase nada se manteve into-
cado.
Neste contexto, a
proposta de revigoramento da
economia endógena regional
a partir da dinamização do
turismo em espaço rural da
agricultura familiar – inicia-
do em 1999 – se defrontará
com a necessidade permanen-
te da reconstrução identitária
da cozinha colonial campesi-
na, projeto este que vem de-
mandando grande esforço de
recuperação de memórias de
práticas, receitas, saberes e
fazeres alimentares, em grande
parte de historicidade incerta
e até mesmo improvável, mas
de signicativo vigor para a
produção de “efeitos do real”
(BARTHES, 1988. p.145) so-
cialmente críveis e constituti-
vos de um novo Real, a partir
do fenômeno que Hobsbawn
e Ranger (1984) identicaram
como “invenção das tradições”.
As dinâmicas e estratégias dis-
cursivas desse fenômeno social
constituiram-se no objeto dessa
pesquisa.
TURISMO RURAL: EM
BUSCA DE UM CONCEITO
O termo turismo rural
é controverso, posto que re-
ete tensões complexas entre
diferentes abordagens possíveis
para o tema (BRASIL, 1994,
2006, 2008, 2010; OXINAL-
DE, 1994; CALS; CAPELLÀ;
VAQUÉ, 1995; TULIK, 1997,
2003; CANDIOTO, 2010;
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nutenção ativa da ação produti-
va e pela organização cotidiana
da existência dos agricultores
e de suas famílias no espaço
rural, as quais tornam-se com-
partilháveis com o turista
(GUZZATTI, 2003, 2010). A
estruturação, oferta e sobre-
vivência dessa modalidade
turística passa a ser garantida
pelo trabalho associativista dos
produtores familiares, o que lhe
confere características próprias
do turismo de base comunitária
(BARTHOLO; SANSOLO;
BURSZTYN, 2009; IRVING,
2009).
Frente à complexi-
dade desse quadro, diversos
pesquisadores têm preferido
adotar a expressão turismo em
espaço rural, para designar a
crescente procura e interesse
pelas paisagens, pelos modos
de vida e existência cotidiana
no campo por parte de popu-
lações urbanas, em busca de
relaxamento, repouso, paz e
tranquilidade pela fuga da vida
estressante e apressada das
poluídas e barulhentas cidades
contemporâneas. Em uma visão
mais abrangente, essa modali-
dade turística não se limita ape-
nas ao espaço geográco enten-
dido como rural, mas implica
o estabelecimento de estreitas
relações com as populações lo-
cais (GARCÍA CUESTA, 1996),
em suas atividades e vivências
cotidianas.
O turismo no espaço
rural tem sido apontado por di-
versos estudiosos do tema como
atividade portadora de poten-
cial dinamizador do crescimen-
to e desenvolvimento socioeco-
nômico endógeno (CAVACO,
1996), capaz, portanto, de es-
tancar ou reverter processos de
Contemporaneamente,
diferentes autores (PIRES, 1998;
VARENNES, 2004) vêm pro-
pondo a divisão do campo do
turismo de natureza rural em
setores diversicados e comple-
mentares, que podem ser iden-
ticados como: i) o turismo ru-
ral propriamente dito, enquanto
conceito denidor mais amplo
e abrangente, capaz de incluir o
conjunto das atividades de lazer
e estadia externas ao âmbito
urbano (SILVA; VILARINHO;
DALE, 1998); ii) o ecoturismo,
turismo “verde” ou ecológi-
co, focado essencialmente na
apreciação do ambiente natu-
ral ou protegido, das manifes-
tações da cultura popular, ou
dos modos de vida, saberes e
fazeres de populações tradicio-
nais (PIRES, 1998); iii) o agro-
turismo, no qual prevalece a
acolhida, a prestação direta de
serviços e o compartilhamento
das atividades dos agricultores
com os turistas, diretamente
em suas propriedades (VA-
RENNES, 2004; GUZZATTI,
2003, 2010).
No Brasil, este último
grupo tem sido designado, tam-
bém, como turismo rural na
agricultura familiar, denição
adotada tanto pelo Ministério
do Desenvolvimento Agrário
(BRASIL, 2004), quanto pelo
Ministério do Turismo (BRA-
SIL, 2008). Destaca-se que, nes-
ta visão, o compartilhamento
do modo de vida dos agricul-
tores, o resgate e revalorização
das culturas, identidades e
tradições do local e a preser-
vação dos patrimônios cul-
turais, paisagísticos e ambien-
tais adquirem centralidade. Tal
vitalidade é e deve ser perma-
nentemente garantida pela ma-
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2013), geralmente asssociadas
aos assim chamados circuitos
curtos de produção e de abas-
tecimento alimentar (CCPAA),
que acolhem feiras de produtor,
entregas domiciliares ou em-
presariais de cestas de alimentos
preferencialmente orgânicos,
comunidades que sustentam a
agricultura - CSAs (WORDEN,
2004), pequenas lojas de pro-
dutores locais, restaurantes em
empreendimentos de turis-
mo no meio rural, programas
governamentais e/ou institucio-
nais de aquisição de alimentos,
entre outros (DAROLT 2012;
DAROLT; LAMINE; BRAN-
DENBURG, 2013; DAROLT et
al, 2016). Distinguem-se dos
circuitos longos tradiciona-
is massivos e globalizados por
comportarem informações e
elementos de qualidade, pa-
drões e valores simbólicos de
natureza estética (HAUG, 1997)
(WILKINSON, 2002, 2008,
2010, 2011), política e social de-
marcadores da dimensão do lo-
cal (BECKERT; ASPERS, 2011).
No contexto dos
circuitos curtos de produção
e abastecimento alimentar
(CCPAA), entram em cena
não apenas necessidades, de-
mandas e expectativas dos con-
sumidores quanto à oferta de
alimentos mais saudáveis, ín-
tegros, frescos e naturais, mas
também formas alternativas
de organização dos circuitos
de distribuição agroalimentar
e expressões políticas ativas e
modos relativamente autôno-
mos de organização associativa
entre agentes do mercado. Tra-
ta-se do alinhamento de novas
táticas de produção e consumo
alimentar, em boa medida de-
sassociadas das grandes super-
êxodo rural, empobrecimento e
perda da identidade sociocul-
tural das populações do campo,
ao mesmo tempo em que fa-
vorece a gestão territorial (SIL-
VA;VILARINHO; DALE, 1998;
ALMEIDA;FROEHLICH;
RIEDL, 2000) e a preservação
da paisagem do campo (CALS;
CAPELLÀ; VAQUÉ, 1995). Ao
enfatizar o cotidiano, os saberes
e fazeres de populações tradi-
cionais em suas lidas diárias
com o trabalho campesino e em
suas correlações socio-históri-
cas de existência e convivência
com o meio natural, o turis-
mo em meio rural converte-se,
também, em potente elo es-
tratégico para a proteção do
meio ambiente e da biodiversi-
dade, para a valorização da pro-
dução, distribuição e consumo
locais dos gêneros alimentícios,
em circuitos curtos de pro-
dução e abastecimento de ali-
mentos (CCPAA) e favoráveis
à reconguração política,
educativa, estética e cultural
das conexões entre o cam-
po e a cidade (JUNQUEIRA;
GIMENEZ-MINASSE, 2017).
Internacionalmente, ações
desta mesma natureza têm
sido incentivados e promovi-
dos pelo Slow Food, movimento
criado na Itália, em 1986, pelo
ativista das causas alimentares,
Carlo Petrini, e que hoje já se
espalha por 160 países. A enti-
dade, presente no Brasil desde o
ano 2000, defente as diferenças
culturais territoriais e regionais
intimamente relacionadas às
heranças alimentares, revalo-
rizando a história e a cultura
dos diferentes grupos sociais,
estimulando a construção de re-
des de trocas recíprocas e equili-
bradas (SLOW FOOD BRASIL,
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de pessoas que vivem do
trabalho no campo. Observa-
se, que, apesar de ocuparem
apenas cerca de 24% do total
da área agrícola cultivada, os
estabelecimentos familiares são
importantes absorvedores de
mão de obra, comportando, em
média, o trabalho de 15 pessoas
a cada 100 hectares cultivados,
quantidade mais de quatro
vezes superior ao da agricultura
empresarial, ou não familiar
(BRASIL, 2009). Agregam
no seu universo tantos os
agricultores que produzem para
o mercado, trabalhando por
conta própria e contando ou não
com a ajuda de trabalhadores
assalariados, quanto aqueles
que apenas produzem para sua
subsistência e de sua família ¹.
Respondendo por 38%
do valor bruto da produção
agrícola brasileira, o trabalho
familiar rural é fundamental na
garantia da segurança alimentar
do País. Responde por 87% de
toda a mandioca produzida, por
70% do feijão, 59% dos suínos,
58% do leite e 50% das aves,
entre outros alimentos da cesta
básica alimentar. Além disso,
os estabelecimentos familiares
brasileiros detêm importante
participação nas receitas
geradas pela comercialização
de húmus (64%), produtos não
agrícolas como artesanato e
tecelagem (57%), produtos da
agroindústria (49%), prestação
de serviços (47%) e comércio de
animais (43%) (BRASIL, 2009).
Apesar de todos esses
indicadores que comprovam a
sua relevância sócio-econômi-
ca, a agricultura familiar no
Brasil é marcada por profun-
das vulnerabilidades sociais
e pela precarização das suas
fícies e plataformas logísticas,
organizadas e operadas a par-
tir da intensa padronização de
produtos e processos, da gestão
industrial das cadeias de supri-
mento e da maximização do lu-
cro (CASTRO, 2017).
Na dimensão ambiental
da sustentabilidade, destaca-se
que o turismo em meio rural
está apto a comportar ações de:
i) ocupação, produção e preser-
vação da paisagem campesina;
ii) conservação dos ecossiste-
mas e da biodiversidade; iii)
produção de recursos naturais,
cada dia mais escassos, como
água limpa; iv) combate à polu-
ição da água, do ar e do solo e
recuperação das áreas degra-
dadas (LABAT; PEREZ, 1994;
LEAL, 1995; SILVA; VILARIN-
HO; DALE, 1998).
Neste contexto, o
Ministério do Turismo brasile-
iro, com base na Organização
Mundial de Turismo (OMT),
passou a denir o turismo sus-
tentável como uma atividade
que “satisfaz as necessidades
dos turistas e as necessidades
socioeconômicas das regiões
receptoras, enquanto a integri-
dade cultural, a integridade dos
ambientes naturais, e a diver-
sidade biológica são mantidas
para o futuro” (BRASIL, 2010,
p.30).
A EXPERIÊNCIA DA
AGRICULTURA FAMILIAR
NO TURISMO NO ESPAÇO
RURAL
No Brasil, a agricultura
familiar responde por pouco
mais de 84 % dos cerca de 4,5
milhões de estabelecimentos
rurais existentes e pela ocupação
de 74,5% das 16,5 milhões
1 - A Lei n.º 11.326, de 24 de julho
de 2006 considera a possibilidade do
trabalho contratado no âmbito da
agricultura familiar, sem que este fato
venha a descaracterizá-la sob qualquer
ponto de vista ou para qualquer m.
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ASPECTOS METODOLÓGI-
COS
Para a consecução dos
objetivos propostos, a pre-
sente pesquisa se utilizou de
abordagem qualitativa, focada
na coleta e análise sistemática
de excertos de textos midiáti-
cos reproduzidos na página de
apresentação da Associação
de Agroturismo Acolhida na
Colônia na internet (http://
acolhida.com.br/), especial-
mente reportagem produzida
pelo programa Globo Repórter,
da Rede Globo de Televisão
(“Vale Europeu”, exibido em
19 de fevereiro de 2016), e
matérias publicadas nas revis-
tas “Época Negócios”, “Globo
Rural” e “Tam nas nuves”. Uti-
lizaram-se, ainda, textos dos
livros “Culinária colonial de
Santa Catarina”, volumes I e II
(ASSOCIAÇÃO; BRASIL, s/d).
A construção do corpus
da pesquisa seguiu os princípios
da relevância e da homogenei-
dade discursiva e textual, con-
forme propostos por Barthes
(1971), que prioriza a experiên-
cia e o conhecimento prévio do
pesquisador na seleção dos ma-
teriais considerados pertinentes
aos propósitos do estudo. Os
excertos de textos assim cole-
tados, devidamente seleciona-
dos, foram interpretados com o
suporte teórico-metodológico
da análise do discurso (OR-
LANDI, 2003).
TURISMO DE EXPERIÊN-
CIA NO ESPAÇO RURAL: A
ASSOCIAÇÃO DE AGRO-
TURISMO ACOLHIDA NA
COLÔNIA (SC)
No Brasil, o chama-
condições de vida, dadas a per-
sistente instabilidade na renda,
a frágil inserção nas relações
de mercado e a dependência da
ação de intermediários no pro-
cessamento e comercialização
de sua produção. Iniciativas
sociais focadas na rearticu-
lação e na reorganização das
conexões diretas entre pro-
dução e consumo de alimentos
têm ocorrido com frequência
e regularidade crescentes em
múltiplos continentes e países,
ao longo das últimas décadas,
sendo, também, registradas no
Brasil. Nelas, nitidamente se
reconhecem tanto elementos de
resistência dos consumidores
urbanos aos modelos tradicio-
nais, globais, massivos, impes-
soais e padronizados em larga
escala da produção e do supri-
mento dos gêneros alimentícios
(CASTRO, 2017), quanto
movimentos de construção de
possibilidades da reconexão lo-
cal entre o rural e o urbano, em
suas múltiplas dimensões agro-
ecológicas e socioculturais.
Neste contexto, o con-
sumo alimentar se reinscreve
como arena de disputa política
por novas práticas e sentidos
sociais, agregando diferentes
possibilidades de organização
e de modelos de negócios, em
que se destacam o formato as-
sociativo, o fortalecimento dos
laços sociais, a pequena escala,
o baixo nível de capitalização, o
uso preferencial da mão de obra
familiar e o estabelecimento da
conança como atributo estru-
turante das relações entre pro-
dutores e consumidores.
Janeiro-Junho, 2018
ISSN 2175-3709
Revista do Programa de
Pós-Graduação em Geograa e
do Departamento de Geograa
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da Serra catarinense (SC): a experiência da associação de agroturismo acolhida na colônia
Páginas 263 a 283
271
Antonio Hélio Junqueira
Turismo - MTur; Secretaria de
Estado do Turismo, Cultura
e Esporte de Santa Catarina;
Santa Catarina Turismo S.A.
- Santur; Ashoka Brasil; Inter-
American Foundation – IAF;
Fundação Diacomina; TAM
Linhas Aéreas; Bovespa Social
& Ambiental; Universidade
do Vale do Itajaí - UNIVALI;
Universidade Federal de Santa
Catarina - UFSC; Associação
de Agricultores Ecológicos
das Encostas da Serra Geral -
AGRECO; Centro de Formação
em Agroecologia das Encostas
da Serra Geral de Santa Catarina
- CEFAE; Centro de Estudos e
Promoção da Agricultura de
Grupo - CEPAGRO
Participam da experiên-
cia 25 municípios catarinenses,
a saber: Rancho Queimado,
Anitápolis, Santa Rosa de Lima
– município sede da Associação
–, Rio Fortuna, Gravatal, Grão
Pará, Urubici, São Joaquim,
Leoberto Leal, Imbuia, Itupo-
ranga, Aurora, Vidal Ramos,
Presidente Nereu, Witmarsun,
Apiúna, Rio do Sul, Agrolândia,
Agronômica, Imbituba, Ata-
lanta, Vitor Meireles, Ibirama e
Presidente Getúlio.
A experiência origi-
nou-se a partir das crises si-
multâneas da fumicultura e da
exploração regional do carvão
vegetal, que fez minguar as
oportunidades de renda, tra-
balho e sobrevivência de um
grande número de pequenos
agricultores familiares, inten-
sicando o empobrecimento
e o êxodo rural da população.
O processo de esvaziamento
econômico e demográco do
território decorrente dessas cri-
ses só passou a ser contido e,
em certa medida, revertido com
do turismo de experiência no
espaço rural da agricultura
familiar consiste especialmente
em uma adaptação do Slow
Travel, conforme proposto pela
Organização Não Governamen-
tal francesa “Accueil Paysan”,
originária da região dos Alpes
franceses e atuante desde 1987
(http://www.accueil-paysan.
com/en/). Concentra-se, desde
1999, nas regiões da Encostas
da Serra Catarinense e nos po-
los regionais de Ibirama, Vale
dos Imigrantes e Ituporanga, no
Estado de Santa Catarina, onde
agrega 180 famílias de agricul-
tores familiares participantes,
no âmbito do projeto “Acolhi-
da na Colônia”. Esses agentes
encontram-se organizados na
Associação de Agroturismo
Acolhida na Colônia (http://
acolhida.com.br/).
No âmbito desse projeto
os hóspedes – denominados de
acolhidos – são recebidos nas
próprias residências dos agri-
cultores, com os quais dividem
as principais refeições cotidi-
anas – cafés da manhã, almoços
e jantares produzidos quase que
totalmente com produtos ex-
traídos da propriedade – bem
como parte das atividades de
cultivo, manejo e colheita de
produtos agrícolas, sempre em
estrito respeito e observân-
cia das rotinas da vida rural
(ACOLHIDA NA COLÔNIA,
2000, 2010). Existem projetos
de expansão da modalidade
para os Estados de São Pau-
lo e Rio de Janeiro, nos quais
se registram cerca de 100 mu-
nicípios interessados.
O projeto tem,
como instituições parceiras:
Ministério do Desenvolvimento
Agrário - MDA; Ministério do
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princípios da agroecologia, de
proteção e de recuperação do
ambiente natural; organizar,
em parcerias, o desenvolvi-
mento de produtos agroturísti-
cos baseados em circuitos
locais e regionais; resgatar a
identidade cultural dos agri-
cultores familiares, enquanto
forte ingrediente de cidadania,
propiciando-lhes um clima fa-
vorável para exposição de seus
valores de cultura para a socie-
dade em geral (ACOLHIDA
NA COLÔNIA, 1999).
Do ponto de vista gas-
tronômico, o projeto “Acolhida
na Colônia” desenvolve, desde
a sua criação, intensos e signi-
cativos trabalhos de reconstitu-
ição da culinária rural tradicio-
nal catarinense, que conforme
consta na sua página de apre-
sentação na internet (http://
acolhida.com.br/receitas/)²
“está intimamente ligada ao
fogão à lenha, que por sinal é o
coração da casa, aquece no in-
verno garante a água quente nas
torneiras e o aroma da cozinha.
Marca um tempo diferente, um
tempo sem pressa… um prazer
cotidiano”. Para isso, produziu
e disponibiliza gratuitamente
dois livros digitais de receitas re-
gionais, estimulando o público
a experimentar executá-las em
seus domicílios e a compartilhar
suas avaliações e experiências
na fanpage da Associação no
Facebook (https://www.face-
book.com/Acolhida-na-Co-
lonia-310255658989002/)
ACOLHIDA NA COLÔNIA,
MINISTÉRIO DO TURISMO,
s/d).
A região das Encostas da
Serra Catarinense compõe im-
portante cenário no imaginário
do turismo brasileiro no Sul do
país, especialmente por suas
baixas temperaturas no inver-
o início da produção alimentar
em base orgânica para atender a
um contrato com supermerca-
do da cidade de Florianópolis,
pertencente à família oriunda
do município de Santa Rosa de
Lima, que resultou, em 1996, na
criação e posterior consolidação
da Associação dos Agricultores
Ecológicos das Encostas da
Serra Geral (Agreco), com a
participação de 12 famílias de
pequenos produtores famili-
ares locais (GUZZATTI, 2003,
2010). Segundo seu próprio es-
tatuto, a Associação Acolhida
na Colônia tem como objetivo
principal,
a promoção da integração
entre pessoas e organizações
do meio rural e da cidade,
estimulando a troca de ex-
periências, valorizando a cul-
tura e os modos de vida, esta-
belecendo relações comerciais
justas e preservando o meio
ambiente. A entidade [...]
deseja ser reconhecida pela
sociedade como uma organi-
zação que promove o desen-
volvimento rural sustentável
através do agroturismo e que
contribui, com seu trabalho,
para permanência digna dos
agricultores e agricultoras fa-
miliares no campo (ACOLHI-
DA NA COLÔNIA, 1999).
Entre seus objetivos
especícos, o documento
destaca os seguintes:
Contribuir para a melho-
ria da qualidade de vida dos
agricultores familiares, pela
organização de atividades de
agroturismo enquanto fon-
te complementar de renda;
valorizar as atividades dos
agricultores familiares, ofere-
cendo alternativas para que
permaneçam no meio rural,
resgatando sua história e sua
cultura e fortalecendo uma
prática produtiva dentro dos
2 -
Acesso em 12 de junho de 2017.
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te político, possui também um
forte componente espacial, pelo
poder simbólico atribuído aos
objetos geográcos naturais
ou construídos que estão em
relação direta com a existên-
cia humana”. Assim, “todo
imaginário social pode reve-
lar-se em imaginário geográ-
co” (CASTRO, 1997, p.177).
Note-se que a produção
identitária alimentar a que
aqui se busca reportar ocorre
em diferentes contextos so-
cio-históricos, culturais e espa-
ciais – que juntos amalgamam
a construção imaginária do ter-
ritório –, no interior dos quais
se processam progressivamente,
no tempo e no espaço, acúmu-
los, superposições, perdas,
exclusões, esquecimentos e
releituras de práticas, proces-
sos, produtos, saberes e fazeres
ligados à alimentação popular.
A sua investigação exige, por-
tanto, a reconstrução de car-
tograas sociais que permitam,
tanto a localização espacial dos
fenômenos correlacionados
às dietas e práticas de cultivo,
preparo e consumo de alimen-
tos, quanto a identicação das
relações de poder e das repre-
sentações simbólicas constitu-
tivas dos grupos sociais e das
culturas inscritas no território
(SANTOS; SILVA, 2015).
Ainda que frequente-
mente, nas linguagens da mídia
e do cotidiano, se busque asso-
ciar a ideia contemporânea de
“resgate” para o fenômeno da
reinstalação de determinadas
práticas alimentares no interi-
or de comunidades estimula-
das para o turismo na agricul-
tura familiar, tal terminologia
se mostra inadequada. De fato,
Flores (1997) chama a atenção
no e por sua excepcionalidade
enquanto local de incidência
de neve no Brasil, ainda que se
considere a raridade do fenôme-
no. No âmbito do turismo em
meio rural, desperta interesse
pela concentração agrícola no
cultivo da maçã, especialmente
na região da pacata cidade de
São Joaquim, e pela produção
dos chamados vinhos de alti-
tude. Nesta atividade, a região
atualmente já reúne 32 empre-
sas vinícolas, congregadas pela
Associação Catarinense dos
Vinhos de Altitude (Acavitis).
Grande parte desses empreen-
dimentos agrega aos vinhedos
e vinícolas, restaurantes rurais,
com menu compacto e operado
essencialmente à base de pro-
dutos frescos e sazonais, de ori-
gem local.
ALIMENTAÇÃO E IDENTI-
DADE TERRITORIAL: RE-
INVENTANDO TRADIÇÕES
Nos processos per-
manentes de construção e de
reconstrução da identidade
territorial da região abran-
gida pelo projeto Acolhida
na Colônia, a cozinha tradi-
cional das Encostas da Serra
Catarinense adquire grande
expressão e dimensão tática
relevante, no sentido propos-
to por Michel De Certeau
(1998). Neste contexto, a pro-
dução identitária se dá como
processo socio-histórico e
político articulado em sua
temporalidade própria, ao qual
se somam as dimensões e com-
ponentes geográcos espaciais
associáveis ao fenômeno. Pra
Iná Castro (1997, p. 177), “todo
imaginário social, da mesma
forma que possui componen-
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acreditamos que o tratamento
do tema sob as perspectivas
do imaginário e da represen-
tação identitária social e terri-
torial congura-se como opção
metodológica apropriada,
aderente e consistente.
O propósito visado por
tais investimentos sociais é o da
construção da imagem da região
como destino, representando
o conjunto das expectativas,
percepções e projeções que o
turista em potencial concebe
sobre o lugar visitável. Tais
imagens são construídas por
conteúdos midiáticos, trocas de
informações em redes sociais
on e oine, comunicações de
agentes e operadores turísticos,
entre outras fontes.
Na busca pela
reconstrução da culinária re-
gional, como elemento tático
(CERTEAU, 1998) da produção
identitária e territorial, a co-
munidade envolvida tem sido
estimulada a revisitar as dietas
e práticas alimentares dos pri-
meiros colonos cultivadores da
terra pelo sistema de coivaras
– derrubadas permanentes de
novas áreas e implantação da
rotação dos cultivos – no in-
terior do qual se destacavam
originalmente as culturas do
milho e abóbora, sequencial-
mente, adicionados da mandi-
oca e da batata – especialmente
produzidos para a alimentação
de porcos e outros animais
domésticos, base da economia
familiar territorial de então. Do
ponto de vista da alimentação
familiar, os alimentos produzi-
dos concentravam-se em pou-
cos itens como: feijão, amendo-
im e cará (MULLER, 2001).
Tal sistema se manterá
relativamente estável até início
para o fato de que o resgate
ou a recuperação de elemen-
tos culturais é fenômeno com-
plexo, senão mesmo inacessível,
posto que a própria cultura
– dimensão viva da sociedade
humana – constrói-se, descon-
trói-se e reconstrói-se dinâmi-
ca e incessantemente, alteran-
do-se e recongurando ordens,
signicados e sentidos sociais.
Assim, a cultura ali-
mentar da região catarinense
investigada decorre tanto das
possibilidades geográcas e
repertórios ancestrais que par-
ticiparam da conformação das
condições materiais e sim-
bólicas de existência cotidiana
dos primeiros colonos, quan-
to das forças socio-históricas
e econômicas posteriores que
lhes impuseram constantes re-
formulações, transformações
e recriações. Nessa direção,
destacam-se não apenas as
alterações da base agrícola da
agricultura familiar regional –
com a introdução de novos pro-
dutos e sistemas de produção,
como a integração na carne
suína e o cultivo comercial do
fumo e da exploração do carvão
vegetal, entre outras –, mas
também as mudanças decor-
rentes do empobrecimento e da
perda do dinamismo econômi-
co endógeno que lhes seguiram.
Ao aderirem à proposta
do agroturismo, as comunidades
envolvidas acreditam poder
superar suas contradições, in-
completudes e mestiçagens
alimentares contemporâneas,
na busca do “resgate” de sa-
beres e fazeres culinários e gas-
tronômicos ancestrais “puros”,
que imaginariamente sobre-
vivem intocados à passagem do
tempo socio-histórico. Por isso,
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dido pelos agricultores. Pelo
contrário, o avanço nesta di-
reção passou a exigir grandes
esforços e dedicação dos
acolhedores turísticos na re-
memoração, reconstrução e re-
introdução de saberes e fazeres
alimentares tradicionais, mui-
tos deles perdidos no tempo,
outros já transformados pela
miscigenação e aculturação.
Neste processo, emergem, in-
clusive, elementos constru-
tores de uma ancestralidade
imaginária de gêneros alimen-
ticios de importância dietética
local, receitas, práticas, saberes
e fazeres cuja historicidade é
questionável, senão mesmo im-
provável. Trata-se da emergên-
cia de um “efeito de real” (BAR-
THES, 1988.p.145), que se torna
discursiva e socialmente crível
e que permite a construção de
um novo Real.
Neste contexto
imaginário, a cozinha da região
das Encostas da Serra Cata-
rinense se tornará abundante,
farta e até mesmo redundante,
especialmente na montagem
e apresentação de seus afama-
dos cafés coloniais, no interi-
or dos quais se destacam e se
avolumam incríveis variedades
de pães (brot), de trigo, milho
e cará, doces, bolos, cucas
(kuchen) – especialmente as
de açucar (streuselkuchen), as
com cobertura de frutas da es-
tação (obstruchen) e as de co-
bertura de nata – biscoitos,
geléias, embutidos – salames,
morcelas, presuntos e salsichas
–, conservas, sucos e bebidas
estimulantes como cafés, chás
– com destaque para os de er-
va-cidreira (zitronengas) e de
hortelã (minze) – e chocolates,
entre outros itens.
da década de 1960, quando a
companhia Souza Cruz intro-
duziu o cultivo integrado do
fumo na região, cultura essa
que atingiu o seu apogeu nos
anos 1990 (PAULILO, 1990)
e que veio a carrear, também,
em seu bojo, a exploração
econômica do carvão vegetal.
Essa alteração da base agrícola
regional trouxe impactos con-
sideráveis sobre o meio ambi-
ente e culminou em forte der-
rocada socioeconômica com
a crise que se instalou na in-
dústria fumageira, nos anos da
década de 1990, com o cresci-
mento da competitividade da
fumicultura asiática, trazendo
pobreza, êxodo rural, perda de
identidade e de autoestima aos
pequenos produtores familares
desta região catarinense.
O estancamento e até
mesmo certa reversão desse
processo de esvaziamento so-
cioeconômico e cultural só
chegou anos mais tarde, con-
forme visto, com a introdução
de modelos agroecológicos de
produção, capitaneados pela
Agrego.
Como o processo de
implantação do agroturismo
ou do turismo na agricultura
familiar veio a se dar no con-
texto da reconversão agríco-
la, tornou-se em boa medida
compreensível que os alimen-
tos orgânicos, frescos e naturais
viessem a adquirir centralidade
material e simbólica e que a
cozinha rural se transformasse
em elemento de força na recon-
guração imaginária deste ter-
ritório. Contudo, ao contrário
do propagado pela mídia e pelo
senso comum, não se trata aqui
de um fenômeno natural ou
espontameamente empreen-
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e bebidas, em contraposiçao
aos trabalhos do esquecimento
intencional das tradições gaú-
chas (churrasco e chimarrão)
e italiana (massas alimentícias,
frango com polenta, saladas e
outras).
Cabe destacar que a
tradição é uma construção
simbólica (HOBSBAWN;
RANGER, 19824) permea-
da por narrativas históricas
continuadas e descontinua-
das (HANDLER; LINNEKIN,
1984). No seu interior predo-
mina o trabalho comunicativo
da naturalização das estéticas e
das práticas comunitariamente
incentivadas. Nesse sentido,
a criação das tradições recebe
uma orientação seletiva quanto
aos seus elementos constituti-
vos. Fazem parte dos elemen-
tos selecionados não apenas
determinados ingredientes
considerados tradicionais, cam-
pesinos, rústicos, mas também
nomes de pratos, especialmente
quando conotados por es-
trangeirismos e alusões a pro-
cedências e modos de prepa-
ro que remetem às matrizes
linguísticas multiculturais da
região. Há uma preocupação,
por exemplo, em vincular às re-
ceitas o nome de determinadas
pessoas da comunidade, que
imaginariamente se tornam os
zeladores e mantenedores das
tradições ancestrais.
Para Le (2016, p.311),
os imaginários sociais com-
preendem processos nos quais
estão arraigadas as inscrições
mais originárias da vida –
e para a vida – como dis-
posições mais duradouras que
se expressam em habitus: em
modos de pensar, em esque-
mas de práticas, em gestos e
comportamentos, em formas
Nesta reconstrução
imaginária do Real, ou de in-
venção da tradição, os os
condutores da mesa serão, por
um lado, as tipicidades das co-
zinhas coloniais germânica,
italiana, luso-açoriana, gaúcha
e indígena, principalmente e,
por outro, os alimentos mais
acessíveis aos primeiros habi-
tantes e lavradores; alimentos
esses responsáveis pela mis-
cigenação cultural alimentar
primitiva, que veio a impor
substituições relevantes aos
gêneros inacessíveis ou de
difícil cultivo regional. Assim,
mandioca, milho, cará e abóbo-
ra tomam largas parcelas do lu-
gar ancestralmente reservado
ao trigo e a outros cereais mais
conhecidos e valorizados no
continente europeu de origem
dos primeiros imigrantes re-
gionais.
A construção simbólica
dos territórios alimentares se dá
em contexto de disputas entre
tradições. Baseada na validação
e valorização do seu sincretismo
constituinte, a cozinha das En-
costas da Serra Catarinense não
padecerá, contudo, dos atritos
internos entre as suas diferentes
fontes de inuência – germâni-
ca, italiana, luso-açoriana, gaú-
cha, entre outras – como con-
temporaneamente ocorre em
muitas outras regiões do Estado
de Santa Catarina, onde pode se
observar ao longo dos últimos
anos, tentativas de reforço e
destaque para determinadas in-
uências culinárias, ao mesmo
tempo em que se busca o apaga-
mento de outras. Em territórios
típicos da colonização alemã,
por exemplo, registram-se es-
forços de por em relevo seus
alimentos, pratos, preparados
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por exemplo, o caso da polenta
e de outros preparados à base
do milho.
Para Le (2016, p. 415),
“as identidades se reconstituem
em um processo de ressigni-
cação e de reapropriação do
mundo”. Trata-se, portanto, de
reconhecer que o processo iden-
titário posto em marcha pela
associação em estudo é, antes
e acima de tudo, um processo
de retomada do seu território,
de recuperação de um lugar de
vida e de existência tanto mate-
rial, quanto simbólica. Para esse
autor, as identidades são rein-
ventadas no interior mesmo do
processo de reterritorialização
cultural.
Assim como as tradições,
os territórios são também
reinventados com o concurso
da força imaginativa, coletiva
e dialógica dos imaginários
sociais. Para Boudieu (1989), a
construção identitária de uma
região dá-se, discursivamente,
como performance coletiva.
E, como arma Le (2016, p.
336), “os imaginários sociais
são a raiz a partir de onde se
reinventam as identidades, a
fonte de onde os seres culturais
se transformam em atores
sociais para a reconstrução de
seus mundos de vida”. Para a
operação plena dos imaginários
sociais é imprescindível a
apropriação do patrimônio
cultural, a partir do que se
instaura o “processo reexivo
de recriação e reconguração
contínuas da trama da vida”
(LEFF, 2016, p. 334).
Entendemos, como
proposto por Roger Chartier
(2001), que o fenômeno
da apropriação pode ser
conceituado segundo duas
de vida instituídas dentro de
uma ordem cultural em suas
condições ambientais.
No processo da
reinstalação das práticas, sa-
beres e fazeres não são ape-
nas os alimentos e os pratos
culinários que entram em
movimentos de centralização
e de descentralização, de
rememorização e de esqueci-
mento. O próprio sujeito e os
coletivos sociais também são
reinterpretados. A denomi-
nação “colono”, por exemplo,
apontada como discriminatória
e aviltante para denotar pessoas
rústicas, simplórias, sem tra-
quejo social, neste novo contex-
to ganha status e valor simbóli-
co dignicante, contribuindo
para a recuperação da autoesti-
ma (SAVOLDI, 2001) dos agri-
cultores familiares regionais.
Na ordem dos desa-
os, há que se por em relevo
que a regularidade dos uxos
turísticos ao ambiente rural da
agricultura familiar acaba por
impor pressões de demanda
sobre determinados gêneros,
o que vem a contrariar a aco-
modação tradicional alimentar
dos ciclos sazonais naturais,
provocando necessidades de
importações de produtos de
fora do âmbito da produção
local (milho verde, morango
e outras frutas sazonais, por
exemplo). Observa-se que os
alimentos reservados às festas,
cerimônias e aos domingos
familiares ganham cotidiani-
dade e impõem novos ritmos
não apenas ao trabalho na co-
zinha, mas também à produção
agrícola. Os pratos despreza-
dos, por denotação de pobreza,
recuperam-se com o valor do
orgulho e da tradição, como é,
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Antonio Hélio Junqueira
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No percurso empreen-
dido no âmbito desta pesquisa,
consideramos que as identi-
dades se reconstituem em um
processo de ressignicação e de
reapropriação das práticas soci-
ais cotidianas e da permanente
luta pela reterritorialização cul-
tural. Nesse sentido, propuse-
mos reconhecer – e acreditamos
ter atingido tal propósito pre-
tendido – que o processo iden-
titário posto em marcha pela
Associação de Agroturismo
Acolhida na Colônia é, antes
e acima de tudo, um proces-
so dede retomada do seu ter-
ritório, de recuperação de um
lugar de vida e de existência tan-
to material, quanto simbólica.
Assim como as
tradições, os territórios são
também reinventados com o
concurso da força imagina-
tiva, coletiva e dialógica dos
imaginários sociais, processo
esse que exige, para sua ple-
na operação, a apropriação do
patrimônio cultural que, no
caso estudado, concentrou-se
sobre as práticas, saberes e
fazeres da cozinha colonial an-
cestral da região das Encostas
da Serra Catarinense (SC).
Apontamos, portan-
to, pela pertinência e pro-
priedade da articulação dos
conceitos da invenção das
tradições e do agenciamento da
memória e do imaginário pela
coletividade agrícola estudada
na reconstrução territorial de
sua existência, como método
consistente e produtivo para
o estudo da reconguração
e reinstalação dos saberes,
fazeres, cultura e identidade
alimentar na produção do espa-
dimensões. Na primeira delas,
o sentido está na tomada de
posse sobre algo, conforme
utilizado por Foucault (1979)
na descrição dos dispositivos
utilizados para o controle das
formas materiais da difusão
e circulação dos discursos.
Na outra, está o sentido
hermenêutico, “que consiste no
que os indivíduos fazem com
o que recebem, e que é uma
forma de invenção, de criação e
de produção desde o momento
em que se apoderam dos textos
ou dos objetos recebidos”
(CHARTIER, 2001, p.67). Para
o autor, a partir desta tensão
entre os dois sentidos possíveis,
apropriação pode então
signicar e misturar controle
e invenção, articulando a
imposição de um sentido, ou a
produção de novos sentidos.
Nesse contexto, ao
tornar cotidianos determinados
alimentos e pratos rituais ou
comemorativos, a demanda
turística pode contribuir para
a intensicação do uso da
mão de obra familiar rural,
permanentemente exigida na
produção do que antes era
connado a determinados
contextos sociais, nos quais,
muitas vezes, o trabalho era
compartilhado na forma de
mutirões, como por exemplo, na
preparação de alimentos à base
de milho verde – curau, bolo,
pamonha, ou nas preparações
dos banquetes nupciais, nas
quais se somavam, nas vésperas
dos casamentos, as múltiplas
mãos das mulheres da família
dos nubentes.
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