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XIV Congreso de la Asociación Latinoamericana de Investigadores de la
Comunicación (ALAIC)
Comunicación en sociedades diversas:
Horizontes de inclusión, equidad y democracia
San José, Costa Rica, 30, 31 de julio y 1 de agosto 2018
PLANTILLA PARA LA PRESENTACIÓN DE PONENCIAS
Ponencia presentada al GT o GI
GT 14 – Discurso y Comunicación / Discurso e Comunicação
Os personagens de Histórias em Quadrinhos e o consumo de
tatuagens
Comic books’ characters and tattoos’ consumption.
Personajes de cómic y el consumo de tatuajes
Matheus Eurico Noronha
1
Daniela Cunha Fernandes Miranda
2
José Carlos Rodrigues Pinto Filho
3
1
Matheus Eurico Noronha. ESPM, Mestrando em Comportamento do Consumidor, Brasil,
matheus.noronha@acad.espm.br.
2
Daniela Cunha Fernandas Miranda, ESPM, Mestranda em Comportamento do Consumidor, Brasil,
daniela.miranda@acad.espm.br
3
José Carlos Rodrigues Pinto Filho. ESPM, Mestrando em Comportamento do Consumidor, Brasil,
josecarlos.rodrigues@espm.br.
Resumen: Modificações e ornamentações corporais expressam uma série de propósitos
simbólicos individuais, comunicando situações de pertencimento a um grupo, organização
social, gênero, conduta e até classe. Este artigo, porém, buscou tratar do consumo de
tatuagens relacionado a personagens de histórias em quadrinho (HQ) e a apropriação de
sua imagem para transmitir representações simbólicas. Através de entrevistas em
profundidade com tatuadores e tatuados, identificou 5 grupos de motivações, explicitados
através de personas: (1) Nostálgico, (2) Geek, (3) Modista, (4) Transcedental e (5) Gamer,
que, embora não excludentes entre si, demonstram a preponderância de um indivíduo às
razões por trás da escolha de tatuagens contendo personagens de histórias em quadrinho
(Comic tattoos) como signo não apenas de uma representação mental, mas como uma
maneira de agir.
Palabras Clave: tatuagem, personagens, consumo.
1. Introdução
As modificações e ornamentações corporais expressam uma série de propósitos
simbólicos individuais que ao fazerem parte do indivíduo comunicam situações de
pertencimento a um grupo, organização social, gênero, conduta e até indicação de classe
(Marques, 1997, p.40). Uma das aproximações possíveis e bem estudadas do fenômeno de
modificação corporal por meio das tatuagens, é a construção de identidades através das
tatuagens e a sua conexão com as práticas adjacentes de consumo (Almeida, 2000).
O ato de tatuar-se e as intenções de escolha são compostas por diversas motivações
individuais, todavia, o que buscamos tratar neste trabalho é o consumo de tatuagens
relacionadas aos personagens de histórias em quadrinhos (Comic tattoos). Entre 80 mil
brasileiros, 9% afirmaram que possuem personagens tatuados (SUPERINTERESSANTE,
2013), representando uma parcela relevante da população que utiliza estes personagens
para transmitir representações simbólicas.
É considerável evidenciar que os personagens mencionados na pesquisa da revista se
estendem a diferentes universos e mundos, e a principal tratativa deste trabalho são os
personagens de quadrinhos (HQs) e mangás
4
que, genericamente, denominaremos como
Comics no decorrer do trabalho (McCloud, 2005, p.51) e nos relatos de 4 entrevistados: T1,
T2, T3 e T4.
2. Problema de Pesquisa e Objetivos
O presente trabalho parte da premissa que os personagens de histórias em
quadrinhos induzem o consumo de tatuagens do estilo Comics Tattoo. Deste modo,
procuramos compreender como o significado, por meio destas figuras que representam
sentimentos e ideias individuais ou coletivas, se torna relevante a ponto de ser consumido
como tatuagens.
Com base neste pressuposto, pretendemos responder às seguintes perguntas:
Como e porque os personagens de histórias em quadrinhos são consumidos em forma de
tatuagens? Qual é o perfil do portador deste tipo de tatuagem? Para atender o nosso
problema de pesquisa foram definidos dois objetivos principais: verificar como os
personagens de quadrinhos influenciam o consumo de tatuagens; e identificar alguns dos
comportamentos e discursos dos consumidores de Comics Tattoos.
Em primeira instância, priorizamos a realização de uma análise semiológica por meio
dos estudos sobre o signo de Peirce (2000), em seguida, uma observação comportamental
e discursiva contemplando teorias da ciência de comportamento do consumidor.
3. Fundamentação Teórica
Para compreender a transformação do personagem no consumo da tatuagem foi
necessário revisitar pesquisas antecedentes sobre o uso e as práticas da tatuagem e as suas
representações simbólicas. As pesquisas sobre a utilização da tatuagem predominam nas
ciências de psicologia, sociologia, antropologia, artes visuais e até comunicação (Cardoso,
4
Histórias em quadrinho de origem japonesa com estilo gráfico próprio.
2015, p.3). Diante destas abordagens, selecionamos uma perspectiva de comunicação para
analisar o objeto de estudo, a semiótica.
3.1 A tatuagem como signo de expressão
A semiótica é a ciência dos signos que se estabelece no interior da convivência social
(Pinto, 2014 p.505); assim, tudo pode ser um signo e que qualquer coisa que reverbera na
consciência humana tem as características de um signo (Santaella, 2002, p.12). Além destes
relatos, podemos compreender o signo não só como uma representação mental, mas como
uma maneira de agir (Peirce, 2000, p.168) ou uma experiência que pode gerar uma
qualidade de impressão.
A partir do trabalho de Falkenstern (2012), que define o sujeito como pessoa tatuada
e o objeto, a tatuagem, é possível identificar que a tatuagem como signo de expressão
remete a natureza expressiva do corpo e da mente da pessoa, envolvendo questões
pessoais e não pessoais na relação entre pessoa e o que representa o desenho no corpo.
Em paralelo a esta afirmação, ao utilizar o corpo como linguagem de expressão, as pessoas
com tatuagens recriam através de suas próprias narrativas o significado expresso em
desenhos (Cardoso, 2016). Deste modo, o veículo que carrega o desenho gera um sentido
diferente para o signo analisado pelo seu interpretante com, por exemplo, no discurso do
entrevistado T4 a representação dos personagens “Goku e Vegeta”, a ressignificação dos
desenhos sobre a perspectiva do portador da tatuagem.
“Recentemente eu fiz um Goku e um Vegeta, para dois amigos. Eles queriam uma
tatuagem que representasse a amizade deles... aí como eles gostavam de Dragon
Ball Z, decidiram fazer o Goku e o Vegeta. Não eram grandes fãs de mangá, mas
escolheram essa tattoo por causa do desenho e da amizade.”
Entrevistado T4
Figura 1: Tatuagem com representação dos personagens Goku e Vegeta. Entrevistado T4
Em alguns casos, as tatuagens também podem se estabelecer em grupos por fatores
de beleza e estética até modas e pertencimento. Osorio (2006, p.115), ilustra em sua
pesquisa uma mudança do publico da tatuagem apresentando as diferentes representações
de gênero no universo da tatuagem. A autora relata que os estilos de desenho podem ser
associados a uma pessoa famosa ou a influência televisa e utiliza o exemplo do desenho das
“estrelinhas” tatuadas na atriz Mel Lisboa. Este desenho estava entre os mais solicitados
para tatuar entre as mulheres do Rio de Janeiro (Osorio, 2006, p.131).
Com base em estudos anteriores sobre histórias em quadrinhos e semiótica e sua
ligação com o cinema (Dantas, 2012, p.6), podemos notar esta mesma relação acontecendo
em paralelo na indústria da tatuagem durante a fala do entrevistado T4.
“Quando tem algum filme de super-herói, aumenta muito a procura de tatuagens
sobre os heróis, às vezes por pessoas que nem conhecem profundamente o herói,
mas pelo fato do filme e o herói estarem em evidência.”
Relato de entrevista com “T4”.
Durante a entrevista com o pesquisado T1, foi possível identificar em sua tatuagem
signos que remetem a um contexto religioso e social. O pesquisado escolheu tatuar o “Goku
alado” para simbolizar uma entidade e manifestar uma crença em uma conduta de vida do
personagem Son Goku e como forma de suprir uma necessidade religiosa personificando a
conduta do protagonista do anime através das tatuagens e objetos.
“A maioria dos meus amigos tem tattoos que são de comics, ou em relação a jogos.
Sempre nesse meio Geek e Nerd. Eu cresci vendo isso e tenho também muitos
brinquedos e pôsteres do Goku ... O personagem foi muito presente na minha vida,
então acho que faço parte do grupo que realmente tem a tatuagem como uma
história, como uma extensão da vida... Existem alguns personagens que eu acho
mais legais que o Goku, mas eles não fizeram parte da minha vida e foram coisas
passageiras. O Goku representa para mim muito mais do que um personagem. É
como se fosse uma religião com os ensinamentos que ele passa, então, ele virou a
tatuagem porque dentre todos os desenhos que eu gosto, ele é o que representa
muito mais do que é...”.
Relato de entrevista com “T1”
Figura 2: Tatuagem com representação do personagem Goku Alado – Entrevistado T1
Quando o entrevistado afirma que o personagem “representa muito mais do que é”
significa uma representação signíca ligada aos valores, modo de ser e a conduta do
personagem através de uma narrativa.
Outro ponto identificado entre os entrevistados T1 e T2 foi justificar a tatuagem a
partir de ensinamentos dos personagens das HQs, porém, com imagens presas às suas
próprias narrativas e significado:
“No caso do Venom ele vai transmitir uma ideia contraria, só que pelo fato de
pertencer ao universo do Homem-Aranha, ele transmite uma ideia diferente. Fazer
uma tatuagem do homem aranha remete bastante ao “Grandes poderes, grandes
responsabilidades.”.
Relato de entrevista com “T2”
Figura 3: Tatuagem com representação do personagem Venom em aquarela –
Entrevistado T2
Em um prisma político, pode-se observar manifestações sociais em que as pessoas
se vestem com a máscara do personagem “V” do quadrinho “V de Vingança” (Cardoso,
2016, p.89). Neste contexto, o signo da máscara do personagem passa a representar um
símbolo de protesto contra os governantes e as políticas públicas.
Figura 4: tatuagem com representação da Máscara da narrativa “V de Vingança”
Ao transferir para o corpo uma tatuagem de um personagem em quadrinhos, os
tatuados acreditam que as qualidades referentes ao personagem, sejam de poder, força e
até de beleza, são uma forma de identificação de seus valores. É uma forma de mostrar
para os outros como ele percebe o mundo e a sociedade a sua volta e para que, de alguma
maneira, possam fazer a sua própria leitura do outro.
“Eu lia isso desde criança. Quando olho para o personagem na minha pele, eu me
lembro de uma fase boa da minha vida. Essa tatoo foi feita quando aconteceu
“isto” e me traz sensações e lembranças muito marcantes.”
Relato do entrevistado T2
Enquanto o sentido do consumo pode ser uma atividade de manipulação sistemática
de signos (Baudrillard, 1997), os hábitos e práticas formam agrupamentos sociais e, deste
modo, podemos entender o consumo como um poder simbólico e de diferenciação na
sociedade (Bourdieu, 1983).
Assim, os discursos sobre gostos trazem sentido as práticas sociais carregando
marcações distintivas em reação a diversos grupos sociais:
“Como eu convivo com pessoas com esse mesmo estilo de gosto e temos esse tipo
de convívio, então o pessoal acaba aderindo a ideia da tatuagem de comics.”
Relato de entrevista com “T2”
3.2 A tatuagem como extensão do ser
Para diversos autores contemporâneos, os indivíduos podem ser compreendidos a
partir das suas posses e do consumo, como, por exemplo, através do conceito de self (eu)
e self estendido (eu estendido) (Belk, 1988, p.139). Objetos podem ser incorporados ao self,
podendo ser posses pessoais, lugares, pertencimento de grupos e até marcações distintivas
em grupos de referência. Isto faz com que os consumidores apropriem objetos para
definição de seus papéis sociais (Solomon, 2014, p.200), ao passo que estas posses
representam e contribuem com a construção do self do consumidor, elas passam a fazer
parte do self estendido.
A escolha de um personagem envolve a experiência e o envolvimento no processo
de seleção do desenho; ressaltando, assim, a conectividade entre o sujeito e o objeto de
escolha. A escolha de um personagem de HQ, como apresentado e relatado por
pesquisados tatuados também apresenta um envolvimento com causas sociais (Cardoso,
2017). É neste momento que os personagens se materializam em tatuagens como uma
extensão pessoal corroborando com os estudos sobre o self estendido.
Durante a nossa pesquisa de campo, o pesquisado T4 apresentou um trabalho e
comentou sobre a modalidade e a personalidade de um dos participantes que tatuou para
a competição Tattoo Week SP 2017.
5
“Escolhi o (personagem) Magneto... O perfil da pessoa que tatua comics, histórias
em quadrinhos e heróis é uma pessoa bem despojada, comunicativa e bem pra
5
TWSP2017. Disponível em: http://www.tattooweek.com.br/phone/historia-twsp2017. Acessado: 29/11/2017
cima. Justamente pelo fato de gostar, ler e acompanhar heróis que é tido como
crianças e coisas da infância isso é algo que faz com que as pessoas sejam bem pra
cima.”
Relato de Entrevista com T4
Figura 5: Tatuagem com representação do personagem Magneto
Também é possível identificar nos discursos dos entrevistados que as tatuagens no
estilo Comics podem representar experiências de vida, grupos de referência, valores e
motivações que constituem o self estendido. E, mais do que isso, afirmar ainda as
suposições de Bourdieu (1983) na construção e reconstrução de uma identidade moldando
um estilo de vida que pode ser manifestado através do corpo e dos desenhos de histórias
em quadrinhos, levantando sensações, memórias e conexão com o passado:
“O primeiro motivo (da escolha da tatuagem) foi a questão da infância, a questão
de ter sido um marco para a minha infância. O segundo motivo que é um pouco
mais para mim do que aparente para os outro, é que pelo fato de eu ser ateu, os
ateus comparam muito Goku com Deus, então por isso que eu escolhi fazer o Goku,
porque falam que ele é um Deus. E o terceiro motivo da escolha do desenho foi
justamente ter feito o personagem quando ele morre, ele alado, em formato de
anjo. Como eu acredito que Deus seja uma figura fictícia por ser ateu, eu fiz o Goku
com esse significado. Se as pessoas acreditam em Deus e veem Deus como Deus, o
Goku pode ser um Deus para mim.”
Relato de entrevista com “T1” – 10 de novembro de 2017.
Em paralelo com a tatuagem e o self estendido deste entrevistado podemos
enxergar o consumo de tatuagens comics como uma prática idealista total (Baudrillard,
1997, p. 209), uma prática que ultrapassa de longe a relação com os objetos e a
interindividualidade para estender-se a registros históricos, da comunicação e da cultura.
“O objeto de consumo é assim exatamente aquilo no qual o projeto se “resigna” (Baudrillard,
1997, p.211).
4. Metodologia
A pesquisa, de natureza exploratória, foi realizada em uma cidade do litoral sul de
São Paulo no mês de novembro de 2017, com complementação de imagens e vídeos
realizadas no mês de dezembro. De forma a replicar uma metodologia de pesquisa
eficiente, para as entrevistas selecionamos pesquisados com, ao menos, 50% de suas
tatuagens com figuras de personagens de histórias em quadrinhos ou desenhos animados
advindos destas histórias e também consideramos um pesquisado com apenas uma
tatuagem no corpo inteiro, mas que era referente a quadrinhos (Cardoso, 2017, p.2).
A decisão de coleta de dados deu-se por meio de 2 roteiros de pesquisa com 21
perguntas para entrevistas semiestruturadas em 2 estúdios de tatuagem, Náutica Tattoo e
Thitta Tattoo e na casa de dois entrevistados. A utilização de dois roteiros diferentes foi
estabelecida para realização da entrevista com o tatuador e com o tatuado (Gerhardt &
Silveira, 2009, p.72).
Durante este trabalho, são apresentados dados coletados de 4 entrevistas: com um
estudante de Design de 21 anos (T1
6
); um ilustrador de quadrinhos e animações de 19 anos,
6
Entrevista realizada 10 de Novembro de 2017.
(T2
7
); um tatuador, cartunista, proprietário de estúdio, pai de 3 filhos e 40 anos, (T3
8
); e um
tatuador, desenhista, artista plástico com 2 filhos e 34 anos (T4
9
).
A coleta de dados por entrevistas semiestruturadas buscou levantar informações
sobre os tatuadores e portadores de tatuagens deixando que falassem livremente sobre os
assuntos que foram surgindo como desdobramentos do tema principal do roteiro de
pesquisa. Ademais, com o consentimento dos entrevistados foram registrados fotografias
e vídeos dos tatuados e tatuadores e foi possível observar a realização de uma sessão de
tatuagem de um personagem. As entrevistas foram todas transcritas e tabuladas para o
levantamento e análise de resultados.
Durante as entrevistas, procuramos identificar traços comportamentais e discursos
em comum entre os pesquisados. Além disso utilizamos uma análise semiótica, em que a
prioridade se voltou ao interpretante imediato, o potencial que o signo tem para comunicar
os sentidos pessoais ou não da tatuagem. Não foi detalhado o procedimento de acordo com
cada categoria pela necessidade do objeto de estudo, tendo como abordagem semântica
as classificações sígnicas propostas na gramática especulativa do primeiro ramo da
semiótica.
A escolha desses locais e entrevistados decorreu-se do convívio em estúdios de
tatuagens e indicação de tatuadores. As entrevistas semiestruturadas com apoio do roteiro
permitiram uma flexibilidade quanto à ordem ao propor as questões, trazendo uma
variedade de respostas ou até mesmo outras questões abordando seus hábitos, estilos de
vida, tipos de consumo e percepções em geral (Cathelat, 1993, p.85).
As entrevistas semiestruturadas foram o método principal para dar liberdade e
entender o perfil do portador deste tipo de tatuagem e como estes personagens
convertem-se em consumo nas tatuagens (Lima, 2000).
5. Principais resultados, reflexões e conclusões
7
Entrevista realizada 11 de Novembro de 2017.
8
Entrevista realizada 17 de Novembro de 2017
9
Entrevista realizada 17 de Novembro de 2017
A marcação corporal na forma de tatuagens faz parte da construção da identidade,
podendo ser aproximada dos estudos ligados ao consumo tanto na representação de
marcas e, consequentemente, apropriação de seus valores para o indivíduo, como na
preferência por imagens que reflitam diferentes anseios de expressão do tatuado, desde a
recriação de narrativas próprias (incluindo a tangibilização de valores e crenças),
externalização de anseios próprios de diferentes faixas etárias, validação do pertencimento
a um grupo social ou questões puramente estéticas e ligadas à temporariedade (moda).
Personagens de histórias em quadrinho entram no rol de opções dos símbolos utilizados
para tais construções.
A análise das entrevistas em profundidade trouxe evidências que as perspectivas de
consumo apresentadas por Baudrillard (1997) e Belk (1988) - e mesmo o senso de
pertencimento de Bourdieu (1983) - estão presentes na vida dos consumidores de Comics
tattoos e que o uso do meio de comunicação Comics, com seus componentes de linguagem,
heróis e jornadas são motivos relevantes que justificam a representação destes
personagens na pele.
Durante a análise, a análise do discurso dos entrevistados e a identificação de
padrões motivacionais para as imagens que carregam em seu corpo indicou a possibilidade
da representação e agrupamento de consumidores de Comics tattoos por meio de
personas, arquétipos construídos após observação profunda (Goodwin, 2009) e que
assumem os atributos dos grupos que representam. No caso deste projeto, baseada na
relação existente entre o consumidor e sua visão do personagem ficcional.
Respondendo ao objetivo de compreender os traços comportamentais dos
consumidores de Comics tattoos, foram criadas tais personas para segmentar e, assim,
facilitar a compreensão da sua jornada, identificando os seus pensamentos predominantes,
comportamentos extremos e expectativas relacionados ao consumo de tatuagens.
Foram identificadas cinco diferentes personas, definidas a partir das entrevistas de
campo: (1) Nostálgico, (2) Geek, (3) Modista, (4) Transcedental e (5) Gamer, abaixo
identificadas por seus pensamentos predominantes, comportamentos extremos e
expectativas ao realizar a tatuagem dos personagens de Comics.
Embora haja possibilidade de que um indivíduo transite por mais de uma persona,
há uma preponderância para uma delas, observado através das principais motivações que
levaram o entrevistado a fazer sua(s) tatuagem(ns) e como ele relaciona a tangibilização
dos valores deste símbolo com diferentes aspectos do seu dia-a-dia.
Persona
Modelo comportamental
Exemplos de citações
Gamer
• Não possuem conhecimento íntegro
sobre o personagem, mas conhecem
seus universos e os significados;
• Os jogos, séries, notícias são o
principal canal de informações;
• Não conhece a fonte da origem dos
personagens, mas busca
informações através de sites,
revistas e, principalmente, jogos
eletrônicos.
“Fico sabendo de tudo
sobre os personagens
através das séries, games,
revistas e internet.”
“Espero ser reconhecido no
meio (eventos de games,
animes e comics).”
Nostálgico
• Costuma buscar suas referências de
consumo nos próprios filhos, amigos
e família;
• Revisitador de memórias;
• As tatuagens estão ligadas a
momentos, sensações e questões
sempre do passado;
• Consome filmes, HQs e produtos de
personagens para relembrar ou se
conectar com alguma coisa que
passou.
“Eu lia isso desde criança.
Quando olho para o
personagem na minha
pele, eu me lembro de uma
fase boa da minha vida.”
“Essa tatoo foi feita
quando aconteceu “isto” e
me traz sensações e
lembranças muito
marcante”
Geek
• Conhece diversas histórias e
personagens de diferentes HQs;
• Costuma consumir diversos HQs e
produtos relacionados a
personagens e fala com propriedade
sobre essas histórias;
• Normalmente é líder de opinião
quando trata de assuntos
relacionados a HQs.
“Geralmente lidero as
conversas sobre HQs,
Games e Fimes.”
“Adoro compartilhar todo
o meu conhecimento sobre
os personagens.”
Modista
• Acompanha filmes e games que
relacionam os personagens;
• Não se interessa pelos HQs, prefere
conhecer as histórias resumidas;
• Escolhe a maioria das suas tattoos
como adorno corporal, não por
significado pessoal.
“Não gosto muito de HQs
ou Comics, prefiro
conhecer as histórias mais
resumidas.”
“Quando faço uma tattoo,
ela deve ser admirada
pelas pessoas.”
Transcedental
• É capaz de descrever e relacionar
características de um personagem
com sua personalidade;
• Encontra significações e motivos
relacionados a fé, crenças e modo de
ser de um personagem para justificar
sua tatuagem;
• Para ele, o personagem é mais que
um personagem, é uma entidade,
uma maneira de resgatar forças e se
sentir motivado.
“Isso é muito mais que
personagem, é quase uma
religião, me passa
ensinamentos.”
“Esse personagem me
ajuda a ter força e
motivação para a vida.”
Tabela 1: Personas de consumidores de Comic Tattoos
A compreensão destas personas possibilitará aos profissionais de tatuagem
repensarem o portfólio de imagens e definirem abordagens de comunicação que
contribuam na aquisição e retenção de clientes, possibilitando aos profissionais de
tatuagem repensarem os seus negócios a partir da perspectiva dos seus consumidores.
6. Bibliografia
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Disponível em <https://super.abril.com.br/comportamento/1o-censo-de-tatuagem-do-
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