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Contextos Clínicos, 7(2):229-239, julho-dezembro 2014
© 2014 by Unisinos - doi: 10.4013/ctc.2014.72.10
Resumo. A experiência de acompanhar um familiar internado em UTI ten-
de a ser vivenciada como uma situação de crise. Os estudos da Psicologia
Positiva têm especial interesse em investigar os potenciais de saúde de cada
sujeito que favorecem o enfrentamento e a adaptação às situações de crise,
dentre os quais é destacada a resiliência. Embora ainda sem uma defi nição
consensual, a resiliência tem sido reconhecida como a habilidade humana
para superar crises, enfrentar ou ser fortalecido por adversidades. Dada a re-
levância da investigação sobre o tema, o presente estudo foi realizado com o
objetivo de avaliar a resiliência de mães de crianças internadas em UTI e in-
vestigar a relação com esperança, otimismo e pessimismo, qualidade de vida
e humor deprimido. Para isso, este estudo foi realizado em uma Unidade de
Terapia Intensiva Pediátrica, com um total de 18 mães, que reponderam a
um protocolo de pesquisa elaborado para o presente estudo. Dentre os prin-
cipais resultados, foi possível observar correlações signifi cativas entre os ín-
dices de resiliência e esperança, entre qualidade de vida e otimismo, e entre
qualidade de vida e esperança. Ao comparar os resultados das escalas nos
grupos de depressão moderada/severa e mínima/leve, contrariando o que
se esperava, as mães mais resilientes não demonstraram, necessariamente,
menores índices de humor deprimido. De maneira geral, maiores índices de
esperança, otimismo e qualidade de vida relacionam-se negativamente com
a depressão, corroborando com conclusões de pesquisas semelhantes.
Palavras-chave: resiliência, UTI Pediátrica, Psicologia Positiva.
Abstract. The experience of accompanying a hospitalized family member in
ICU tends to be experienced as a crisis. Studies of Positive Psychology are
especially interested in investigating the potential health of each subject that
promotes coping and adaptation to crisis situations, in which resilience is
highlighted. Although still without a consensual defi nition, resilience has
been recognized as the human ability to overcome crises, confront or be
strengthened by adversity. Given the importance of researching this topic,
the present study aimed to evaluate the resilience of mothers of children
admi ed to ICU and investigate its relationship with hope, optimism and
pessimism, quality of life and depressed mood. In order to achieve such ob-
jective, this study was conducted in a Pediatric Intensive Care Unit with
a total of 18 mothers that answered a self-report protocol designed to the
present study. Among the main results, we observed signifi cant correlations
between the indices of resilience and hope, between quality of life and op-
Estudo sobre resiliência de mães em unidade
de terapia intensiva pediátrica
Study about resilience of mothers in pediatric intensive care units
Edna Moraes Aguiar Lima dos Santos, Caroline Tozzi Reppold
Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre. Rua Sarmento Leite, 245, 90050-170,
Porto Alegre, RS, Brasil. ednalimas@hotmail.com, carolinereppold@yahoo.com.br
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Estudo sobre resiliência de mães em unidade de terapia intensiva pediátrica
Introdução
Pesquisas apontam que, comumente, a ex-
periência de acompanhar um familiar interna-
do em UTI é vivenciada como uma situação
de crise (Almeida et al., 2009; Bettinelli e Erd-
mann, 2009; Freitas et al., 2012; Oliveira et al.,
2010; Silva e Santos, 2010; Urizzi et al., 2008).
A crise na família pode ser observada pela de-
sorganização das relações interpessoais, por
problemas financeiros, pela diminuição do
número de horas de sono, por distúrbios na
alimentação e pelo aumento no uso de medi-
camentos (como ansiolíticos, antidepressivos
e anti-hipertensivos) entre outros possíveis
impactos negativos na vida de seus membros
(Almeida et al., 2009; Bettinelli e Erdmann,
2009; Schneider e Medeiros, 2011; Urizzi et al.,
2008). Dentre os sentimentos observados nas
mães que acompanham um filho internado
em UTI Pediátrica estão o medo, o desespero,
a preocupação, a impotência, a solidão e a tris-
teza, além da alta prevalência de outros sinto-
mas depressivos e de ansiedade (Costa et al.,
2009; Guidolin e Célia, 2011; Morais e Costa,
2009).
Contudo, é movimentando-se entre seu
sofrimento e suas potencialidades que a mãe
acompanhante da internação de seu filho tem a
oportunidade de refletir e reorganizar as suas
ações diante da vida (Oliveira e Ângelo, 2000).
Isso porque a experiência de crise é modera-
da por recursos sociais e emocionais de que
o indivíduo dispõe para enfrentar situações
desfavoráveis. Portanto, é somente através das
respostas a uma determinada situação de crise
que cada indivíduo poderá classificar ou não o
evento como adverso (Bitsika et al., 2010; Pes-
ce et al., 2004). Nessa linha, a Psicologia tem
especial interesse em investigar os fatores de
risco e proteção ao desenvolvimento e, mais
recentemente, com os estudos da Psicologia
Positiva, os potenciais de saúde de cada su-
jeito (Dell’Aglio et al., 2006, 2011; Seligman e
Csikszentmihalyi, 2000).
Por muito tempo, a ciência psicológica
preocupou-se em investigar fenômenos como
depressão, agressividade, angústia e ansieda-
de, orientando sua prática para compreender
e tratar psicopatologias. No entanto, a partir
de 1998, ao assumir a presidência da Ameri-
can Psychological Association (APA), o psicólo-
go Martin Seligman passou a escrever artigos
mensais na revista American Psychologist na
tentativa de alertar a classe para uma visão
mais aberta e apreciativa dos potenciais, das
capacidades e das motivações humanas, dan-
do início ao movimento intitulado Psicologia
Positiva. O objetivo dessas publicações era
catalisar para uma mudança no foco da psi-
cologia, de uma preocupação quase exclusiva
com a psicopatologia e a reparação de danos,
oriunda da Segunda Guerra Mundial, para a
construção de qualidades positivas na vida
(Dell’Aglio et al., 2011; Seligman e Csikszent-
mihalyi, 2000, Sheldon e King, 2001). Dentre
as experiências subjetivas estudadas e avalia-
das no campo da psicologia positiva estão, por
exemplo: o bem-estar, o contentamento e a sa-
tisfação referentes ao passado, a esperança e o
otimismo em relação às expectativas futuras, e
a felicidade percebida no presente (Seligman e
Csikszentmihalyi, 2000). Esses aspectos, enten-
didos como virtuosos, têm sido relacionados a
fenômenos psicológicos que podem favorecer
a adaptação do indivíduo ao longo de sua tra-
jetória de vida, dentre os quais é destacada a
resiliência (Dell’Aglio et al., 2011).
Originariamente, o conceito de resiliência
surgiu da física e refere-se à capacidade de um
material absorver energia sem sofrer deforma-
ção permanente ou voltar à sua forma original
quando a pressão sobre ele é removida. Na
psicologia, o fenômeno resiliência é pesqui-
sado há cerca de três décadas, ganhando cada
vez mais espaço para discussões em encontros
internacionais nos últimos anos. Nas ciências
humanas e da saúde, esse construto tem sido
reconhecido como um aspecto importante na
promoção e na manutenção da saúde mental,
timism, and between quality of life and hope. When comparing the results
of the Scales in groups of moderate/severe and minimal/mild depression,
contrary to what was expected, the most resilient mothers did not necessar-
ily demonstrate lower levels of depressed mood. In general, higher levels of
hope, optimism and quality of life relate negatively with depression, corrob-
orating fi ndings of similar studies.
Keywords: resilience, Pediatric ICU, Positive Psychology.
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Edna Moraes Aguiar Lima dos Santos, Caroline Tozzi Reppold
pois reflete a habilidade humana para superar
crises, enfrentar ou ser fortalecido por adversi-
dades, embora ainda sem uma definição con-
sensual (Brandão et al., 2011; Dell’Aglio et al.,
2011; Yunes e Szymanski, 2001).
Dentre alguns dos fatores sociais e intrap-
síquicos que geralmente são encontrados em
indivíduos resilientes estão traços positivos,
como a capacidade de amar, a autoestima, a
flexibilidade, a coragem, a sensibilidade esté-
tica, a perseverança, o perdão, a espiritualida-
de, o altruísmo, a habilidade para resolução de
problemas, o bom relacionamento interpesso-
al e familiar e a disponibilidade para receber
suporte externo (Lopes e Martins, 2011; Pes-
ce et al., 2005; Seligman e Csikszentmihalyi,
2000). Ao utilizar esses recursos, uma pessoa
resiliente frequentemente consegue reduzir o
estresse e diminuir os sinais emocionais ne-
gativos (como ansiedade, depressão ou raiva)
de uma experiência desfavorável (Bonanno
et al., 2007; Castleden et al., 2011; Peres et al.,
2005). Importa salientar, também, que a resili-
ência é uma resposta individual e pode variar
de acordo com as circunstâncias da exposição
do indivíduo ao evento adverso. Por ser um
estado psicológico e não um traço de perso-
nalidade, o processo resultante do enfrenta-
mento de uma situação adversa com relativo
sucesso é que descreverá a resiliência do indi-
víduo (Reppold et al., 2012). Dessa forma, em-
bora ela represente a habilidade do indivíduo
superar adversidades, não significa que ele
saia ileso da crise (Bonanno, 2004; Dell’Aglio
et al., 2011; Yunes e Szymanski, 2001). Nesse
contexto, para avaliar a resiliência de mães de
crianças internadas em UTI, o presente estu-
do buscou relacioná-la aos seguintes constru-
tos: esperança, otimismo e pessimismo, qua-
lidade de vida e humor deprimido.
Nesta pesquisa, a esperança é entendida
como um dos princípios fundamentais do
funcionamento psíquico e da estruturação
da subjetividade, movendo o ser humano a
crer em resultados positivos para as circuns-
tâncias da vida (Rocha, 2007). Dessa forma, a
esperança está relacionada a eventos futuros
que o indivíduo deseja que aconteçam, sendo
composta de dois elementos: um afetivo e um
cognitivo. O componente afetivo está asso-
ciado a uma experiência agradável ou a con-
sequências positivas que são desejadas pelo
indivíduo para esses eventos. O componente
cognitivo está relacionado às expectativas so-
bre a probabilidade de o evento futuro ocor-
rer (Pacico et al., 2010).
Semelhante à esperança, o otimismo é en-
tendido como a tendência que o indivíduo tem
em acreditar que vai viver experiências boas
na vida com base nas expectativas que pos-
sui sobre os eventos futuros. Inversamente, o
pessimismo é a tendência a acreditar que suas
experiências serão ruins ou não tão positivas.
Essas expectativas que os indivíduos possuem
sobre seu futuro são, muitas vezes, reativas
a situações já vivenciadas no passado ou que
estão em vigência no momento. A qualidade
e a frequência dessas situações, somadas aos
recursos internos (psíquicos) e externos (apoio
social, recursos materiais, etc.) utilizados para
enfrentá-las e aos resultados obtidos, podem
estar relacionadas a uma postura mais otimis-
ta ou pessimista na vida (Soares et al., 2011;
WHO, 2005; Zanon et al., 2013). Avaliar essas
questões envolve uma percepção subjetiva, de
cada indivíduo, sobre o quanto ele acredita
que coisas boas acontecerão em sua vida, em
vez de coisas ruins (Bastianello et al., 2010).
Desse modo, a avaliação da esperança e do oti-
mismo possibilita verificar aspectos positivos
e perseverados do funcionamento psicológico
das pessoas, o que pode contribuir para uma
atitude resiliente.
Assim como a resiliência, a percepção so-
bre a qualidade de vida é um processo inte-
rativo entre a pessoa e seu meio. A qualidade
de vida está relacionada com a percepção do
indivíduo em relação a seus objetivos, suas ex-
pectativas, seus padrões e suas preocupações
a partir do contexto cultural e do sistema de
valores nos quais ele vive. Embora a definição
de qualidade de vida seja bastante ampla, ela
incorpora de forma complexa o estado psi-
cológico, a saúde física, as relações sociais, o
nível de independência, as crenças pessoais e
as relações com o meio ambiente, em três as-
pectos fundamentais: subjetividade, multidi-
mensionalidade e presença de fatores positi-
vos e negativos. A subjetividade implica que
a qualidade de vida só pode ser descrita pelo
próprio indivíduo a partir de suas perspecti-
vas e percepções sobre a realidade objetiva.
Por ser multidimensional, ela precisa levar em
conta vários aspectos da vida e do cotidiano,
como os aspectos físicos, mentais, sociais, am-
bientais, etc. Por fim, uma ‘boa’ qualidade de
vida tende a ser considerada quando os fatores
positivos (tudo aquilo que o indivíduo neces-
sita, valoriza e/ou deseja para sua vida) e os
fatores negativos (dificuldades e preocupa-
ções que o indivíduo busca evitar ou sanar em
sua vida) estão controlados ou em equilíbrio
Contextos Clínicos, vol. 7, n. 2, julho-dezembro 2014 232
Estudo sobre resiliência de mães em unidade de terapia intensiva pediátrica
com seus padrões e sistema de valores em que
vive (Fleck et al., 1999; Fleck, 2000; Fleck, 2008;
The WHOQOL Group, 1995). Nesse contexto,
é possível compreender que o indivíduo que
está satisfeito com a sua percepção sobre a sua
qualidade de vida possui atributos proteto-
res que contribuem para o desenvolvimento
de sua capacidade de resiliência (Pesce et al.,
2004). Ao mesmo tempo, indivíduos que se
mostram resilientes diante das adversidades
apresentam potenciais para desenvolver-se de
maneira adequada e saudável, alcançando ní-
veis aceitáveis de saúde, bem-estar e qualida-
de de vida (Lasmar e Ronzani, 2009).
Em relação ao humor, pessoas deprimidas
comumente apresentam déficits nas funções
interpessoais, psicológicas, físicas e laborais.
Além do humor deprimido ou irritável, po-
dem apresentar perda de interesse ou prazer
por quase todas as atividades acompanhado
de outros sintomas como alterações no sono,
no apetite ou na atividade psicomotora, sen-
timentos de desvalia ou culpa, dificuldades
para pensar, concentrar-se ou tomar decisões,
pensamentos recorrentes de morte ou ideação
suicida, planos ou tentativas de suicídio (APA,
2000). Esses sintomas podem surgir como re-
ações às situações desfavoráveis vivenciadas
por elas. Nesses casos, os eventos adversos
são percebidos como obstáculos individuais
ou ambientais e podem aumentar a vulnera-
bilidade do sujeito para resultados negativos
em sua vida. Alguns autores pontuam que sin-
tomas depressivos estão negativamente asso-
ciados com a resiliência. Estes sugerem como
potenciais alvos de intervenção terapêutica
com pacientes deprimidos o desenvolvimento
da capacidade de resiliência, autoconfiança e
otimismo (Bitsika et al., 2010).
Identifica-se, então, que sobre o impacto da
hospitalização de uma criança nos membros
de sua família, várias pesquisas buscaram es-
tudar os sentimentos decorrentes desse con-
texto (geralmente relacionados aos sintomas
depressivos e de ansiedade), as estratégias de
enfrentamento utilizadas e o relacionamento
com a equipe assistencial (Coletto e Câmara,
2009; Costa et al., 2009; Guidolin e Célia, 2011;
Morais e Costa, 2009; Oliveira e Ângelo, 2000;
Paes et al., 2009; Pinto et al., 2005; Schneider
e Medeiros, 2011). Assim como no presente
estudo, algumas outras pesquisas buscaram
estudar a resiliência relacionando-a com espe-
rança, otimismo, qualidade de vida e depres-
são, além de estudarem outras variáveis como
ansiedade, trauma, desastre, perda, doenças
crônicas, estresse, autoaprimoramento, ajusta-
mento diádico, vinculação e Psicologia Positi-
va, entre outros (Alves, 2012; Armando, 2010;
Bitsika et al., 2010; Bonanno, 2004; Bonanno
et al., 2005; Bonanno et al., 2007; Horton e
Wallander, 2001; Kashdan et al., 2002; Lloyd e
Hastings, 2009; Peres et al., 2005; Pinto, 2013;
Quiceno e Alpi, 2012; Yunes, 2003). Ainda so-
bre resiliência, também há estudo para com-
parar sua variação em sujeitos de diferentes
idades, ou seja, em distintas fases do ciclo
vital, que obteve como resultado níveis de
resiliência similares nas diferentes etapas de
vida (Guajardo e Paucar, 2008). Dessa forma,
ressalta-se a relevância do tema e justifica-se o
presente estudo que foi realizado com o objeti-
vo de avaliar a resiliência de mães de crianças
internadas em Unidade de Terapia Intensiva
Pediátrica (UTIP) e investigar sua relação com
esperança, otimismo e pessimismo, qualidade
de vida e humor deprimido.
Metodologia
Delineamento: Trata-se de um estudo
quantitativo e transversal, realizado em um
hospital pediátrico do sul do país, durante os
meses de setembro e outubro de 2013.
Participantes: Foram convidadas a partici-
par as mães das crianças internadas na UTIP.
Para tal, elas deveriam atender aos seguintes
critérios de inclusão: (a) considerar-se mãe
do paciente; (b) ter um filho internado nesta
UTIP; (c) estar acompanhando a internação
desde o início; (d) ter idade igual ou superior
a 18 anos; (e) estar em condições de participar
da pesquisa apresentando-se lúcida, orienta-
da e coerente; e (f) consentir com sua parti-
cipação assinando o termo de consentimento
livre e esclarecido – TCLE. Nesta pesquisa, o
tempo de internação da criança na UTIP e o
seu quadro clínico no momento da coleta de
dados (grave ou estável, crônico ou agudo),
não estavam entre as variáveis em estudo e,
portanto, não foram considerados critérios
para inclusão ou exclusão dos participantes,
tendo em vista atingir o objetivo desta pes-
quisa descrito acima. O acompanhamento
psicológico individual também não estava
entre os critérios de inclusão ou exclusão,
pois embora este hospital conte com um ser-
viço de psicologia que abrange a UTIP, no
momento da coleta de dados, nem todas as
mães já estavam em acompanhamento com
um psicólogo ou estagiário de psicologia. No
entanto, após o desenvolvimento da pesqui-
Contextos Clínicos, vol. 7, n. 2, julho-dezembro 2014 233
Edna Moraes Aguiar Lima dos Santos, Caroline Tozzi Reppold
sa, as mães que apresentaram sintomas de-
pressivos ou baixos índices de resiliência se-
guiram em acompanhamento pelo Serviço de
Psicologia. Ao final deste período de 2 meses,
a amostra foi composta por 18 mães.
Instrumentos: A Escala de Resiliência de-
senvolvida por Wagnild e Young (Pesce et al.,
2005) mede os níveis de adaptação psicosso-
cial positiva diante de eventos de vida impor-
tantes. Possui 25 itens, com respostas de tipo
Likert, variando de 1 (discordo totalmente) a
7 (concordo totalmente). Os escores da escala
oscilam de 25 a 175 pontos, indicando elevada
resiliência quanto mais altos forem os valores
obtidos. A Escala de Esperança que foi utiliza-
da neste estudo é baseada na Adult Dispositio-
nal Hope Scale, desenvolvida por Snyder e seus
colaboradores, um instrumento que possibilita
avaliar a esperança em adultos e adolescentes
com mais de 15 anos de idade. Foi adaptada e
validada para o Brasil por Pacico et al. (2010).
Possui 12 itens, com respostas de tipo Likert,
variando de 1 (totalmente falsa) a 5 (totalmen-
te verdadeira) para um escore final entre 12 e
60 pontos.
Para avaliar otimismo e pessimismo, foi
utilizada a Escala baseada no Life Orientation
Test Revised – LOT-R, um teste de autorrelato
que mede otimismo disposicional desenvol-
vido por Scheier e seus colaboradores, que foi
adaptada e validada para adolescentes e adul-
tos brasileiros por Bastianello e sua equipe
(Bastianello et al., 2010, 2012). A versão brasi-
leira desse instrumento contém 10 itens com
respostas de tipo Likert, variando de 1 (dis-
cordo plenamente) a 5 (concordo plenamente)
para um escore final entre 10 e 50 pontos.
O WHOQOL é o instrumento de avaliação
de Qualidade de Vida desenvolvido pela Or-
ganização Mundial da Saúde. Esse instrumen-
to está adaptado e validado para utilização
na população brasileira por Fleck e seus co-
laboradores (Fleck et al., 1999, 2000). Consiste
em 26 perguntas referentes a seis domínios:
domínio físico, domínio psicológico, nível de
independência, relações sociais, meio ambien-
te e aspectos espirituais, religiosos e crenças
pessoais. As respostas para as questões do
WHOQOL-Abreviado são dadas em escala do
tipo Likert, variando de 1 a 5 para intensida-
de (nada - extremamente), capacidade (nada -
completamente), frequência (nunca - sempre)
e avaliação (muito insatisfeito - muito satisfei-
to; muito ruim - muito bom). O escore final do
WHOQOL-Abreviado pode oscilar entre 26 e
130 pontos.
Para a avaliação do humor, foi utilizado
o Inventário de Depressão de Beck (BDI-II).
É um teste psicológico que busca medir a in-
tensidade da depressão em adultos e adoles-
centes. O BDI original foi publicado em 1961 e
sua revisão mais atualizada, o BDI-II, em 1996,
desenvolvido por Beck et al. (1996). O BDI-II
avalia sintomas depressivos de acordo com o
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtor-
nos Mentais (DSM-IV). Em 2010, essa versão
mais atualizada do inventário foi traduzida e
adaptada para a população brasileira por Go-
renstein et al. (2011). O Inventário contém 21
questões, com 4 possibilidades de resposta, às
quais são atribuídos valores de intensidade de
0 a 3. Através do escore obtido, o teste classi-
fica a depressão em 4 níveis: mínima (de 0 a
13), leve (de 14 a 19), moderada (de 20 a 28)
e severa (de 29 a 63). Quanto maior a pontua-
ção, maior o indicativo de depressão. No mo-
mento, o BDI-II está com parecer favorável no
Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos
(SATEPSI), que regula, avalia e define os testes
psicológicos aprovados para uso.
Procedimentos éticos e de coleta: Após o
parecer favorável dos Comitês de Ética em
Pesquisa vinculados a este estudo, sob os nú-
meros de protocolo 330.940 e 601.630-0, teve
início a coleta de dados. As aplicações dos ins-
trumentos foram realizadas em uma sala de
entrevistas da UTIP, garantindo o conforto do
participante e o anonimato das informações,
sendo que a coleta poderia ser iniciada a partir
de 24 horas de internação na unidade. Embora
todos os instrumentos fossem de caráter auto-
aplicativo, a residente pesquisadora acompa-
nhou todo o processo de coleta de dados, es-
clarecendo eventuais dúvidas.
Procedimentos de Análise de Dados: Os
dados foram analisados por meio de estatís-
tica descritiva e inferencial. Para verificar a
normalidade dos escores das escalas foi utili-
zado o teste de Shapiro-Wilk, que permitiu a
análise paramétrica dos dados, com a utiliza-
ção da correlação de Pearson para comparar as
médias das Escalas e o Teste t para comparar
os indicadores depressão com os resultados
das Escalas. O intervalo de confiança utilizado
neste estudo foi de 95%.
Resultados
As mães participantes deste estudo tinham
idades entre 21 e 44 anos, sendo a média de
30,4 anos (desvio padrão de 7,0). A maioria
era casada (77,8%) e tinha até 3 filhos (83,3%).
Contextos Clínicos, vol. 7, n. 2, julho-dezembro 2014 234
Estudo sobre resiliência de mães em unidade de terapia intensiva pediátrica
Grande parte delas não exercia atividade labo-
ral (61,1%) e tinha escolaridade entre Ensino
Fundamental incompleto até o Médio comple-
to (77,8%). A maioria possuía alguma crença
religiosa (94,4%).
Sobre as crianças internadas, filhos das
participantes do estudo, metade tinha idades
entre 1 mês e 1 ano de vida (50%), e a maior
parte estava internada por algum tipo de car-
diopatia congênita (72,2%). As mães passavam
em média 19,4 horas por dia na UTI (desvio
padrão de 6,1), sendo que 55,4% passavam 24
horas por dia como acompanhantes de seus
filhos. Em média, ficavam 6,3 dias por sema-
na na UTI (desvio padrão de 1,5), sendo que a
maioria ficava 7 dias por semana (72,2%).
Em relação às Escalas, as médias de espe-
rança, otimismo e pessimismo, resiliência e
qualidade de vida (WHOQOL-Abreviado) po-
dem ser verificadas na Tabela 1. Também são
apresentados os valores mínimos e máximos
obtidos em cada escala, seus respectivos valo-
res de referência e o desvio padrão. Para anali-
sar essas médias, foi utilizada a correlação de
Pearson, com a qual foram obtidas correlações
significativas entre os índices de resiliência e
esperança, entre qualidade de vida e otimis-
mo, e entre qualidade de vida e esperança,
conforme mostra a Tabela 2.
Sobre a avaliação do humor, 44,4% das
mães apresentaram indicadores de depressão
moderada, 33,3%, depressão mínima, 11,1%,
depressão leve e 11,1%, indicadores de de-
pressão severa no BDI-II. Para analisar as di-
ferenças entre os indicadores de depressão e
compará-los aos resultados obtidos nas Esca-
las, através do Teste t, os dados foram dividi-
dos em dois grupos: depressão moderada/se-
vera e de depressão mínima/leve. Na Tabela 3,
pode-se verificar que o grupo com indicadores
moderados/severos de depressão apresenta
uma média significativamente menor nessas
escalas. No entanto, os resultados da Escala de
Resiliência não mostraram diferença significa-
tiva no grupo com indicadores mínimos/leves
de depressão em comparação ao grupo com
indicadores moderados/severos de humor de-
primido.
Discussão
O presente estudo buscou estudar alguns
aspectos positivos e perseverados do funcio-
namento psíquico das mães de crianças inter-
nadas em uma UTIP, tendo como destaque a
resiliência, como possível fator de proteção ao
desenvolvimento destes sintomas negativos tão
relatados na literatura. Ao avaliar a resiliência
dessas mães, foi possível observar, de acordo
com os resultados obtidos nas Escalas, correla-
ções significativas entre os índices de resiliência
e esperança, entre qualidade de vida e otimis-
mo, e entre qualidade de vida e esperança.
Entretanto, contrariando o que se esperava,
as mães mais resilientes não demonstraram,
necessariamente, menores índices de humor
deprimido. Ao comparar os escores das Esca-
las nos grupos de depressão moderada/severa
e mínima/leve do BDI-II, os resultados obtidos
na Escala de Resiliência não demonstraram re-
lação estatisticamente significativa com os gru-
pos de depressão, sendo significativa essa re-
lação para as demais escalas. Essa discussão é
pertinente, pois, para a avaliação da resiliência,
além da importância de considerar como ela se
manifesta e diante de quais eventos adversos,
estudiosos reforçam a necessidade de atentar
para a controvérsia existente sobre a mensu-
rabilidade psicológica desse construto. Por se
tratar de um processo complexo de aprendiza-
gem e de desenvolvimento, relacional e con-
textual, é possível que a resiliência não possa
ser apropriadamente expressa através de um
instrumento que forneça uma medida escalar e
momentânea (Reppold et al., 2012). Assim, de-
vido à natureza interativa, desenvolvimental e
contextual desse construto, a atitude resiliente
dessas mães pode ter sido impactada por fato-
res não capturados pela escala utilizada, inter-
ferindo na mensuração dessa habilidade.
Embora os escores de resiliência não te-
nham relação significativa com os grupos
de depressão, foi possível observar, de uma
forma geral, que a depressão mínima/leve
apresenta-se no contexto dos maiores índices
médios obtidos em todas as escalas. Pesqui-
sas como a realizada nos Estados Unidos da
América com moradores de Nova Iorque seis
meses após o atentado de 11 de setembro de
2001 mostraram que os indivíduos com baixa
resiliência apresentavam alta prevalência de
sintomas depressivos. Os achados mostraram
que os níveis de depressão dos participantes
resilientes eram menores do que a média na-
cional para amostras não-clínicas e que esses
participantes também eram significativamente
menos propensos a adições, como fumar cigar-
ros ou usar maconha, ao compará-los com os
outros grupos (Bonanno et al., 2007). A trajetó-
ria resiliente foi o resultado mais comumente
observado entre esses sujeitos (Bonanno et al.,
2005). Outra pesquisa que buscou relacionar
Contextos Clínicos, vol. 7, n. 2, julho-dezembro 2014 235
Edna Moraes Aguiar Lima dos Santos, Caroline Tozzi Reppold
Tabela 1. Média dos índices obtidos nas Escalas.
Table 1. The average of the Scales scores.
Variável Média Desvio
padrão
Mínimo
(valor de
referência)
Máximo
(valor de
referência)
Esperança 46,11 6,83 33 (12) 57 (60)
Otimismo/Pessimismo 38,94 5,27 28 (10) 45 (50)
Resiliência 139,50 17,55 94 (25) 172 (175)
WHOQOL-Abreviado 90,22 13,20 69 (26) 114 (130)
Tabela 2. Correlações entre os índices obtidos nas Escalas.
Table 2. Correlations among the Scales scores.
Resiliência WHOQOL Otimismo/
Pessimismo Esperança
Resiliência
Correlação de
Pearson
p-valor
1
WHOQOL
Correlação de
Pearson
p-valor
,446
,064 1
Otimismo/
Pessimismo
Correlação de
Pearson
p-valor
,321
,194 ,532
,023 1
Esperança
Correlação de
Pearson
p-valor
,513
,029 ,649
,004 ,336
,172 1
Tabela 3. Teste t para comparação das médias dos grupos que apresentaram depressão mínima e
depressão moderada em relação às médias que obtiveram nas Escalas.
Table 3. T-test to compare the means of the minimal depression and moderate depression groups,
compared to average of the Scales scores.
Escore BDI-II
Escalas Mínima/Leve (n=8)
Média (desvio padrão)
Moderada/Severa
(n=10)
Média (desvio padrão)
p-valor
WHOQOL-Abreviado 101,62 (8,18) 81,10 (8,31) <,001
Esperança 50,50(4,50) 42,60 (6,45) ,010
Otimismo/Pessimismo 42,12 (2,17) 36,40 (5,72) ,013
Resiliência 145,50 (13,12) 134,70 (19,77) ,204
resiliência e depressão avaliou ainda a ansie-
dade. Seus resultados mostraram que os par-
ticipantes com ansiedade ou depressão clínica
também tiveram escores significativamente
mais baixos de resiliência do que seus colegas
com sintomas ansiosos e deprimidos não-clíni-
cos (Bitsika et al., 2010).
Uma pesquisa realizada com 60 casais he-
terossexuais (sendo 30 casais para o grupo
clínico – em que um dos cônjuges estava em
acompanhamento em uma Clínica Psiquiá-
trica – e 30 casais para o grupo de controle)
mostrou que o grupo clínico apresentou resul-
tados mais elevados de sintomatologia psico-
Contextos Clínicos, vol. 7, n. 2, julho-dezembro 2014 236
Estudo sobre resiliência de mães em unidade de terapia intensiva pediátrica
patológica e níveis mais baixos de resiliência,
qualidade de vida e ajustamento diádico. En-
tretanto, semelhante aos resultados do presen-
te estudo em relação ao humor deprimido, a
mesma pesquisa apontou que a correlação en-
tre as características de resiliência do doente e
a sua própria sintomatologia não se verificou
em todas as dimensões (Alves, 2012).
Dessa forma, uma importante contribuição
para os resultados do presente estudo seria
investigar as características depressivas ou a
existência de transtornos depressivos prévios
à internação do filho em uma UTI. Em um
estudo que buscou avaliar a prevalência de
sintomas de ansiedade e depressão em mães
que tiveram seus filhos internados na ala pe-
diátrica de um hospital universitário no sul do
Brasil, salientou-se, em seus resultados, que a
experiência prévia da mulher com internações
hospitalares da criança e a sua duração tam-
bém contribuíram para a constatação desses
sintomas. Além disso, a maioria das mães que
relataram diagnóstico anterior de depressão
pós-parto apresentou sintomas de ansiedade
nessa pesquisa (Guidolin e Célia, 2011). Outro
estudo publicado em 2005 e também realiza-
do no contexto do atentado terrorista mostrou
que os sobreviventes classificados com de-
pressão anterior ao atentado tinham pontua-
ções excepcionalmente baixas de autoaprimo-
ramento, o que pode dificultar a maneira com
a qual o indivíduo lida com a adversidade. De
acordo com estes pesquisadores, o autoapri-
moramento é uma característica prevalente em
indivíduos resilientes (Bonanno et al., 2005).
Ao correlacionar resiliência, otimismo e
depressão, um estudo realizado com pais de
crianças com deficiência (entendida como
qualquer perda ou anormalidade na estrutu-
ra anatômica ou na função fisiológica ou psi-
cológica) mostrou que as mães que apresenta-
vam níveis elevados de resiliência e otimismo
tinham níveis mais baixos de depressão e es-
tresse (Pinto, 2013). Essa correlação entre oti-
mismo e depressão também foi significativa
na presente pesquisa. As mães das crianças
internadas na UTI que apresentavam depres-
são mínima/leve tinham os maiores índices
de otimismo.
Da mesma forma, neste estudo, depressão
mínima/leve, otimismo e esperança relacio-
nam-se com melhores índices de qualidade de
vida. A associação entre os escores de resili-
ência, depressão e qualidade de vida também
tem sido relatada na literatura. Em um estudo
realizado com pacientes oncológicos, os resul-
tados encontrados mostraram que pacientes
com maiores índices de resiliência apresenta-
vam melhor qualidade de vida e baixos índi-
ces de depressão. Como sugestão, o autor con-
sidera a possibilidade de incluir a avaliação da
resiliência logo após o diagnóstico de câncer,
visando promover estratégias para trabalhar a
resiliência do paciente e, com isso, poder auxi-
liar no manejo de quadros depressivos e me-
lhorar a qualidade de vida (Armando, 2010).
Sobre a relação entre esperança e resiliên-
cia, pesquisas realizadas com pais de crianças
portadoras de alguma deficiência física ou
psicológica concluíram que a esperança pode
ser entendida como um fator promotor de re-
siliência nestes ambientes familiares (Horton e
Wallander, 2001; Kashdan et al., 2002; Lloyd e
Hastings, 2009). Em um desses estudos, a es-
perança estava positivamente relacionada com
o funcionamento psicológico dos pais no que
se refere a comportamentos e ambientes fami-
liares adaptativos para lidar com a gravidade
dos problemas apresentados por seus filhos
(Kashdan et al., 2002). Em outro estudo, altos
níveis de esperança foram relacionados com
baixos níveis de sintomas depressivos mater-
nos (Lloyd e Hastings, 2009). Ainda, a espe-
rança parece ser um fator de proteção contra
o estresse vivenciado por essas famílias que li-
dam com doenças crônicas na infância (Horton
e Wallander, 2001). Nos resultados da presente
pesquisa, também foi possível encontrar corre-
lações significativas entre os índices de resili-
ência e esperança.
No geral, as relações anteriormente relata-
das na literatura entre resiliência, otimismo,
esperança, qualidade de vida e depressão são
sustentadas pelos resultados desta pesquisa.
Nesse contexto, uma contribuição importante
iniciada por esses estudos é a investigação de
como a resiliência pode ajudar as pessoas a ter
atitudes mais adaptativas e saudáveis diante
de situações de adversidade.
Considerações fi nais
Os resultados deste estudo mostraram que
maiores índices de esperança, otimismo e qua-
lidade de vida relacionam-se negativamente
com a depressão, corroborando os resultados
de pesquisas semelhantes. Contudo, por se
tratar de um estudo transversal, esses dados
não permitem conclusões de causa e efeito.
Além disso, foi discutida a pertinência da
utilização de escalas para a mensuração da
resiliência, uma vez que se trata de uma ha-
Contextos Clínicos, vol. 7, n. 2, julho-dezembro 2014 237
Edna Moraes Aguiar Lima dos Santos, Caroline Tozzi Reppold
bilidade humana relacional, desenvolvimental
e contextual. Como sugestão, pesquisas nessa
área poderiam ser beneficiadas por estudos
que propusessem intervenções e controle de
variáveis, como ensaios clínicos randomiza-
dos. Entretanto, na atualidade, os pesquisado-
res da resiliência ainda carecem de instrumen-
tos, técnicas de intervenção e financiamentos
para planejar e executar tais estudos.
Dentre outras limitações desta pesquisa,
pode-se citar a utilização de um método de
amostragem não probabilístico, a amostragem
por conveniência, que leva a impossibilidade de
extrapolar, com confiança, as conclusões obtidas
para a população geral. Outra questão importan-
te e já mencionada anteriormente é de próximas
pesquisas considerarem o relato de eventos trau-
máticos prévios para a análise da resiliência.
Por fim, com as contribuições da Psicologia
Positiva, mostra-se de extrema importância o
papel do psicólogo, assim como dos demais
membros da equipe assistencial ao ampliar o
olhar sobre o sujeito, identificando, inclusive,
suas potencialidades diante das adversidades
de uma internação hospitalar. Dessa forma,
ao identificar os fatores de proteção presentes
na crise, o acesso ao psiquismo dos familiares
e dos pacientes torna-se ampliado, possibili-
tando o desenvolvimento de suas habilidades
para adaptar-se e superar os eventos de vida
difíceis.
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Aceito: 18/08/2014