Available via license: CC BY 4.0
Content may be subject to copyright.
Artigo recebido em 04/2008. Aceito para publicação em 10/2008.
1Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, R. Pacheco Leão 915, 22460-030, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
2Doutoranda ENBT-JBRJ; Bolsista CAPES.
3Pesquisador Titular; Bolsista de Produtividade CNPq.
Autor para correspondência: berechiavegatto@jbrj.gov.br
RESUMO
(Meriania (Melastomataceae; Merianieae) no Rio de Janeiro, Brasil) Apresenta-se o estudo taxonômico do
gênero Meriania no Rio de Janeiro, com chave para identificação das espécies, descrições, ilustrações e
comentários sobre distribuição geográfica e afinidades, bem como novos sinônimos. O gênero está representado
por oito espécies, todas encontradas em formações de mata atlântica de altitude: M. claussenii, M. excelsa,
M. glabra, M. glazioviana, M. longipes, M. paniculata, M. robusta e Meriania sp., uma nova espécie
recentemente coletada no sul do estado. Excetuando-se M. claussenii, M. glabra e M. paniculata, as demais
são endêmicas do Rio de Janeiro. Características do indumento, das folhas e das inflorescências se mostram
como as mais diagnósticas para o reconhecimento das espécies.
Palavras-chave: endemismo, flora, Mata Atlântica, novos sinônimos, taxonomia.
MERIANIA (MELASTOMATACEAE; MERIANIEAE) NO RIO DE J ANEIRO,
BRASIL
Berenice Chiavegatto1,2 & José Fernando A. Baumgratz1,3
INTRODUÇÃO
Na flora brasileira as Melastomataceae
são muito diversificadas com cerca de 67
gêneros e 1.500 espécies, amplamente
distribuídas em várias formações vegetacionais,
onde constituem grupos significativos em
diferentes ecossistemas, exceto na caatinga
s.s. (Baumgratz et al. 2006, 2007). No estado
do Rio de Janeiro estima-se 27 gêneros e mais
de 300 espécies, que ocorrem desde restingas
e matas de baixada até florestas pluviais alto-
montanas e campos de altitude (Baumgratz et
al. 2006, 2007; Santos Filho & Baumgratz
2008). Pouco ainda se conhece sobre a riqueza
das Melastomataceae nesse estado, não se
dispondo de informações taxonômicas
atualizadas sobre vários gêneros, pois os
últimos trabalhos monográficos foram
realizados há mais de um século (Cogniaux
1883-1888; 1891), com delimitações taxonômicas
imprecisas ou sobreposições de circunscrições,
evidenciando lacunas no conhecimento do
grupo para os dias atuais. Baumgratz et al.
2006, 2007 e Silva & Baumgratz (2008) ainda
assinalam os trabalhos sobre novas espécies
e outros que fazem uma abordagem florístico-
taxonômica, restritos a um município ou a um
grupo taxonômico, além de outros que
apresentam listas de espécies publicadas para
o estado, incluindo a ocorrência em Unidades
de Conservação.
No Rio de Janeiro, a tribo Merianieae
está representada, até o momento, por quatro
gêneros e 27 espécies (Baumgratz et al. 2007;
Santos Filho & Baumgratz 2008). Entre os
gêneros dessa tribo ocorrentes na flora
fluminense, apenas Meriania ainda não foi
revisado recentemente, nem abordado no
ABSTRACT
(Meriania (Melastomataceae) in Rio de Janeiro, Brazil) The taxonomic study of the genus Meriania in the
flora of Rio de Janeiro state is presented. An identification key, morphological descriptions, affinities,
geographical distribution and illustrations are presented, as well as new synonymous. The eight species
occur in altitudinal Atlantic forest: M. claussenii, M. excelsa, M. glabra, M. glazioviana, M. longipes, M.
paniculata, M. robusta and Meriania sp., a new species recently collected in the south of the state. Except
for M. claussenii, M. glabra and M. paniculata, all of them are endemic of Rio de Janeiro. Characters related
to the leaves, indumentums and inflorescences have shown as diagnostics for the recognition of the species.
Key words: endemism, flora, Atlantic forest, new synonymous, taxonomy.
900 Chiavegatto, B. & Baumgratz, J. F. A.
Rodriguésia 59 (4): 899-913. 2008
contexto florístico, pois a referência mais
recente é o trabalho de Pereira (1966), que
aborda somente duas espécies para o antigo
estado da Guanabara. Desse modo, objetivando
prosseguir no estudo das Melastomataceae
nesse estado, apresenta o tratamento
taxonômico de Meriania, reavaliando a
circunscrição das espécies, elaborando
descrições, uma chave para identificação das
espécies e ilustrações e comentando sobre o
estado de conservação dos táxons. Além disso,
apresenta-se uma chave para a identificação
dos gêneros que integram a tribo Merianieae.
MATERIAL E MÉTODOS
Realizou-se o levantamento das espécies
em literatura, nos herbários BR, C, F, FLOR,
GUA, HB, HBR, LZ, K, MBM, MO, NY, P,
R, RB, RBR. RFA, RFFP, SP, US e RUSU
(acrônimos segundo Holmgren et al. 1990), com
análise também de exemplares-tipo e imagens
digitalizadas de tipos e em coletas recentes.
As descrições dos táxons foram restritas
à área de estudo e a terminologia morfológica
está baseada em Radford et al. (1974),
Baumgratz (1985) e Weberling (1988). A
análise e o reconhecimento do estado de
conservação das espécies foram baseados nos
critérios da IUCN (2007). As características
fisiográficas do estado do Rio de Janeiro foram
obtidas em Veloso (1991) e IBGE (2007).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A tribo Merianieae pode ser distinta pelos
estames dimórficos, desiguais em tamanho ou
de dois tamanhos, com conectivo geralmente
não prolongado abaixo das tecas, às vezes
inconspícuo-prolongado, apêndice dorsal, raro
inapendiculado, frutos capsulares, nunca
obtriquetras, e sementes achatadas lateralmente
ou dorso-ventralmente, obtriangulares,
cuneadas, lineares, oblongas, elípticas ou
obovadas, aladas ou não, raro rostradas, com
testa áspera a granulada. Os gêneros e
respectivo número de espécies representados
no estado do Rio de Janeiro são Behuria (10
spp.), Bisglaziovia (1 sp.), Huberia (7 spp.)
e Meriania (8 spp.).
Chave para identificação dos gêneros da tribo Merianieae
1. Plantas arbóreas.
2. Flores pentâmeras; lacínias do cálice inconspícuas, irregularmente endenteadas, formando
uma bainha sinuosa; estames com apêndice ascendente; sementes não aladas ..............
.......................................................................................................................... Meriania
2’. Flores tetrâmeras, lacínias do cálice distintamente desenvolvidas, estames com apêndice
basal-descendente; sementes aladas .................................................................. Huberia
1’. Plantas arbustivas.
3. Flores pentâmeras; estames inapendiculados; ovário 5-locular ....................Bisglaziovia
3’. Flores hexâmeras, raro também pentâmeras; estames apendiculados; ovário 3–4-locular
.............................................................................................................................Behuria
Meriania Sw.
Árvores a arvoretas; indumento
glanduloso-pontuado e esparso-pubérulo,
furfuráceo-dendrítico e/ou tomentoso,
tricomas caducos ou persistentes. Folhas com
3-5 nervuras acródromas, as mais internas
suprabasais. Inflorescências terminais e/ou
pseudo-axilares; brácteas e profilos
geralmente cedo caducos. Flores 5-meras,
pediceladas; hipanto campanulado, crasso;
zona do disco glabra; cálice inconspícuo-
bilobado, com prefloração irregularmente
valvar e lacínias irregularmente denteadas, ou
cálice unilobado, truncado, com prefloração
inconspícuo-valvar, aparentemente circuncisa,
lacínias formando uma bainha sinuosa pós-
antese; corola cupuliforme, pétalas alvas,
eretas, oblongas a obovadas, ápice
Meriania no Rio de Janeiro
Rodriguésia 59 (4): 899-913. 2008
901
arredondado-assimétrico; estames 10,
dimórficos ou subisomórficos, desiguais em
tamanho, glabros, anteras curvas a
falciformes, uniporadas, ante-sépalas
menores, oblongas, antepétalas maiores, linear-
subuladas, conectivo inconspicuamente
prolongado abaixo das tecas, apêndice dorsal,
porção ascendente paralela à antera, porção
basal inconspícua; ovário praticamente livre
no interior do hipanto, 5-locular, 5-lobado;
estilete glabro. Velatídios cartilaginoso-
esponjosos, 10-costados, 5-valvares,
polispérmicos; sementes achatadas
lateralmente, obtriangulares, curto-rostradas ou
não, testa lisa ou áspera a granulada.
Meriania é neotropical, com cerca de
50 espécies distribuídas na América Central,
Antilhas, Colômbia, Venezuela, Guiana,
Equador, Peru, Brasil e Bolívia, principalmente
em formações florestais. Cogniaux (1891)
estabeleceu cinco seções, das quais apenas
Adelbertia e Davya têm representantes no
Brasil, abrangendo cerca de 14 espécies. Na
flora do Rio de Janeiro ocorrem oito espécies,
correspondendo a mais de 50% do total
encontrado no país, todas da seção Davya e
restritas a mata atlântica (Floresta Ombrófila
Densa Submontana e Montana). De acordo
com o presente estudo, esta seção se
caracteriza, por apresentar o cálice ou
inconspícuo-bilobado, com prefloração
irregularmente valvar e lacínias irregularmente
denteadas, ou cálice unilobado, truncado, com
prefloração inconspícuo-valvar, aparentemente
circuncisa, e lacínias formando uma bainha
sinuosa pós-antese.
Chave para identificação das espécies de Meriania no Rio de Janeiro
1. Folhas com margem nitidamente serreada na maior parte de seu comprimento.
2. Folhas com 5 nervuras acródromas; pétalas 14–19 mm compr.; velatídios 8–16,5 × 7–
8 mm........................................................................................................... M. claussenii
2’. Folhas com 3 nervuras acródromas; pétalas 26–30 mm compr.; velatídios 5–6 × 4–5 mm
........................................................................................................................ M. excelsa
1’. Folhas com margem inteira, sinuosa e/ou denticulada.
3. Inflorescências pêndulas, pedúnculo 11–15 cm compr.
4. Folhas membranáceas, base aguda a atenuada, margem denticulada .......................
......................................................................................................... M. glazioviana
4’. Folhas cartáceas, base arredondada, margem inteira a sinuosa ............M. longipes
3’. Inflorescências eretas, pedúnculo 1–3,5 mm compr.
5. Plantas aparentemente glabras (indumento glanduloso-pontuado)............M. glabra
5’. Plantas nitidamente pilosas (indumento furfuráceo-dendrítico ou tomentoso).
6. Folhas com 7 nervuras acródromas; brácteas espatuladas....Meriania sp. nov.
6’. Folhas com 5 nervuras acródromas; brácteas filiformes ou elípticas.
7. Folhas membranáceas; hipanto 3–5 mm larg.; pétalas 5–6 mm larg.; velatídios
4–6 × 3-5 mm ...................................................................... M. paniculata
7’. Folhas cartáceas; hipanto 7–9 mm larg.; pétalas 9–22 mm larg.; velatídios
9–12 × 8–10 mm ....................................................................... M. robusta
1. Meriania claussenii (Naudin) Triana,
Trans. Linn. Soc. Bot. 28(1): 66, tab. 5, fig. 55i.
1871. Tipo: Brasil, Rio de Janeiro, loco dicto
Nova Friburgo, Claussen 40 (holótipo P!-2ex).
Fig. 1
Meriania dentata Cogn. in A. & C. De
Candolle, Monogr. Phan. 7: 434. 1891. Tipo:
Brasil, Rio de Janeiro, ad Serra dos Órgãos,
16.VII.1888, fl., A.F.M. Glaziou 17531 (holótipo
BR!; isótipos B, destruído, foto em F!; C!-2ex;
G!-3ex; K!; P!-3ex; R!; RB!). Syn. nov.
Arvoretas a árvores 5–25 m alt.;
indumento dos ramos e folhas jovens também
furfuráceo-dendrítico, tricomas cedo caducos.
902 Chiavegatto, B. & Baumgratz, J. F. A.
Rodriguésia 59 (4): 899-913. 2008
muito jovens, se observa a presença de
inconspícuos tricomas e, nos mais adultos,
resquícios do indumento em nós dos ramos,
nas inflorescências e face abaxial das folhas.
Cogniaux (1891) distingue M. dentata de
M. claussenii principalmente pelas folhas com
cinco nervuras acródromas basais. As demais
características vegetativas e florais são muito
semelhantes e se sobrepõem, incluindo os
dados quantitativos, como já mencionado por
Baumgratz et al. (2007). Dessa forma, como
nas coleções-tipo dessas duas espécies, as
folhas são sempre 5-plinervadas, concorda-se
com estes autores de que ambas correspondem
a um único táxon, razão pela qual sinonimiza-
se M. dentata a M. claussenii.
2. Meriania excelsa (Gardner) Cogn. in
Mart. & Eichl., Fl. bras. 15(4): 28. 1886. Tipo:
‘In Brasiliae prov. Rio de Janeiro ad Serra
dos Órgãos’, G. Gardner 5709 (holótipo K!;
isótipos B, destruído, foto em F!; BM!; G!; P!-
2ex). Fig. 2
Arvoretas a árvores ca. 30 m alt.;
indumento dos ramos, pecíolos e face abaxial
das folhas também furfuráceo-dendrítico,
tricomas caducos. Folhas com pecíolo 1–3,5
cm; lâmina 5,5–11,5 × 2–4 cm, membranácea,
oblonga a obovada, base aguda, ápice agudo-
acuminado, margem 1/2–2/3-serreados para o
ápice, 1/2–1/3-inteiro para a base; 3 nervuras
acródromas, 3–7mm suprabasais. Cimóides ou
tríades, 2–5 cm, terminais, sésseis a 1cm
compr., pedunculadas; brácteas e profilos não
vistos. Flores com hipanto 5–7 × 3-4 mm; cálice
2–2,5mm, unilobado, truncado; pétalas 26–30
× 13–15 mm; estames ante-sépalos com
anteras ca. 6 mm, antepétalos com anteras
4–5 mm, ambos com filetes 5–6 mm, alvos,
anteras púrpuras, porção ascendente do
apêndice ca. 3 mm, espatulada, porção basal
calcarada; ovário 3–4 × 3–4 mm, 3/4 a
totalmente livres no interior do hipanto; estilete
10–12 mm, lilás. Velatídios 5–6 × 4–5 mm;
sementes 0,8–1 mm, testa granulada.
Material selecionado: Teresópolis: 17.III.1949, fl.,
fr., C. T. Rizzini 461 (RB, RBR).
Folhas com pecíolo 1,5–5,5 cm; lâmina 9–20 ×
3–9 cm, cartácea, estreito-elíptica, elíptica ou
ovada, base cuneada, atenuada ou aguda, ápice
agudo-acuminado, margem 3/4–4/5-serreados
para o ápice, 1/4–1/5-inteiro para a base; 5
nervuras acródromas, 0,5–2 mm suprabasais.
Tirsóides, cimóides e/ou tríades, 5,5–17,5 cm,
terminais e pseudo-axilares, sésseis a 1–5 cm
compr., pedunculadas; brácteas foliáceas a
crassas, estreito-elípticas a triangular-lineares;
profilos oblongos a triangular-lineares. Flores
com hipanto 3–5 × 4–6 mm; cálice 1–1,5 mm,
unilobado, truncado; pétalas 14-19 × 7–15 mm;
estames ante-sépalos com filetes 10,5–11,5
mm, anteras 4,5–5,5 mm, alvas, conectivo com
porção ascendente do apêndice 2,8–4 mm,
capitado-bilobada, antepétalos com filetes 7–
10 mm, anteras 6,5–8 mm, roxas, conectivo
com porção ascendente do apêndice 2–2,4 mm,
ambos com filetes alvos, conectivo alaranjado,
porção basal do apêndice calcarada; ovário 2–
4 × 2,4–3,5 mm; estilete 10–13 mm, lilás a
violeta. Velatídios 8–16,5 × 7–8 mm; sementes
0,7–1,2 mm, testa áspera a granulada.
Material selecionado: Itatiaia: 6.II.2007, fr., J. F. A.
Baumgratz 915 (FLOR, RB); Nova Friburgo:
9.VIII.1989, fl., L. C. Fogaça et al. 45 (RB). Macaé
de Cima: 16.VIII.1990, fl. e fr., J. F. A. Baumgratz et
al. 459 (RB). Teresópolis: 27.IX.2006, B.
Chiavegatto et al. 138 (RB).
Restrita à Região Sudeste, ocorrendo nos
estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São
Paulo, em encostas de florestas montanas e
alto-montanas, entre 800 e 1.100 m de altitude.
Na flora fluminense é encontrada na serra
da Mantiqueira, em áreas do Parque Nacional
do Itatiaia, e na serra do Mar, no Parque
Nacional da Serra dos Órgãos e na Reserva
Ecológica de Macaé de Cima. Pode ser
classificada como Vulnerável, considerando-
se o endemismo regional associado ao
pequeno número de indivíduos por população
(V–A1; B2a). Encontrada com flores e frutos
durante todo o ano.
O indumento diminuto e muito cedo
caduco tem levado, algumas vezes, a ser
descrita equivocadamente como glabra.
Entretanto, em estruturas vegetativas e florais
Meriania no Rio de Janeiro
Rodriguésia 59 (4): 899-913. 2008
903
Figura 1 – a-n. Meriania claussenii (Naudin) Triana – a. ramo florífero; b. botão floral; c. flor; d-f. estame ante-sépalo (d),
apêndice do conectivo (e), poro terminal-ventral(f); g-i. estame antepétalo (g), apêndice do conectivo (h), poro dorsal (i);
j. ápice do estilete e estigma; k. ovário, evidenciando os lobos inflados; l. secção transversal do ovário, evidenciando os
lóculos; m. velatídio; n. sementes (Fontoura 185).
2 mm
d
2 cm
4 mm
2 mm
0,5 mm
1 mm
2 mm
2 mm
2 mm
0,5 mm
4 mm
0,5 mm
1 mm
2 mm
a
e
fj
b
c
h
nlm
k
i
g
904 Chiavegatto, B. & Baumgratz, J. F. A.
Rodriguésia 59 (4): 899-913. 2008
Figura 2 – a-i. Meriania excelsa (Gardner) Cogn. – a. ramo florífero; b. botão floral; c. flor; d. estame ante-sépalo,
evidenciando o apêndice do conectivo; e. estame antepétalo, evidenciando o apêndice do conectivo; f. estilete e estigma;
g. secção longitudinal do hipanto e do ovário; h-i. sementes (Rizzini 461).
2 mm
a
2 mm
2 mm
0,5 mm
2 cm
2 cm
2 mm
b
g
fde
hi
c
Meriania no Rio de Janeiro
Rodriguésia 59 (4): 899-913. 2008
905
Endêmica do Parque Nacional da Serra
dos Órgãos, em formações florestais entre
1.100 e 1.500 m. de altitude. Devido ao
microendemismo e às coletas escassas, pode
ser considerada como Criticamente Ameaçada
(CR–B2a; D). Coletada com flores e frutos
em março.
Muito afim de M. claussenii, mas se
diferenciando, principalmente, pelas folhas com
três nervuras acródromas e maiores dimensões
das peças florais. O indumento muito cedo
caduco tem levado a uma interpretação
equivocada de ser uma planta glabra.
Resquícios do indumento podem ser observados
em ramos, inflorescências, base das nervuras
acródromas foliares e na região de inserção
do pedicelo floral. Devido a essa grande
afinidade, Triana (1871) sinonimiza-a com
M. claussenii, porém, Cogniaux (1886) a
restabelece, sobretudo pelas folhas 3-
plinervadas.
3. Meriania glabra (DC.) Triana, Trans. Linn.
Soc. Bot. 28(1): 66. 1871. Tipo: Brasil, v. s. in
h. mus. Par. (tipo não localizado). Fig. 3a-f
Meriania glabra var. parvifolia Cogn.
in Mart. & Eichler, Fl. bras. 14(4): 27. 1886.
Tipo: In sylvis ad Corcovado Luschanth 13 (B,
destruído), Martius Herb. Fl. Bras. 8 part. (G!),
L. Riedel 1250 (BR!), síntipos. Syn. nov.
Arvoretas a árvores 1,5–10 m alt.,
aparentemente glabras; indumento muito
esparso e tricomas muito cedo caducos. Folhas
com pecíolo 0,8–4 cm; lâmina 7–16,5 × 4–7,5
cm, cartácea, lanceolada, obovada ou elíptico-
oblonga, base agudo-atenuada, ápice
acuminado a agudo-acuminado, margem
sinuosa; 3–5 nervuras acródromas, basais a
2-6 mm suprabasais. Cimóides, corimbiformes
ou umbeliformes, ou tríades, 2–7 cm, terminais,
sésseis a 3cm compr. pedunculadas; brácteas
triangulares, cedo caducas; profilos filiformes.
Flores com hipanto 3–5 × 4–5 mm; cálice 2–
2,5 mm, unilobado, truncado; pétalas 15–17 ×
7-9 mm; estames ante-sépalos com filetes 7–
9 mm, anteras 6–9 mm, porção ascendente do
apêndice 2,5–3 mm, bilobada, antepétalos com
filetes 8–10 mm, anteras 4–5 mm, porção
ascendente do apêndice 2–2,5 mm, ligulada,
ambos porção basal do apêndice calcarada;
ovário 2–3,5 × 2–3 mm, 2/3-livres, estilete 7–
10 mm. Velatídios 5–7 × 4–7 mm, sementes
ca. 0,5 mm, testa rugosa.
Material selecionado: Rio de Janeiro: 10.III.2004, fl.,
C. A. L. Oliveira 2252 (GUA). Macaé: 22.X.1985, fr.,
M Leitman et al. 39 (RB). Piraí: 22.VIII.1989, E.
Fzerkrohn s.n. (RBR 8629). Parati: 27.VI.1995, fr., M.
G. Bovini et al. 821 (RB). Petrópolis: 6.III.1972, fl., P.
I. Braga et al. 2410 (RB).
Restrita à Região Sudeste, ocorrendo nos
estados do Rio de Janeiro e São Paulo, desde
florestas submontanas a alto-montanas, em
encostas acima de 300 m de altitude. É
encontrada em quatro Unidades de Conservação
– Parques Nacionais da Floresta da Tijuca, da
Serra dos Órgãos e da Serra da Bocaina e
Parque Estadual da Pedra Branca. Pode ser
classificada como Ameaçada de Extinção,
considerando-se o endemismo regional
associado ao pequeno número de indivíduos
por população (EN–B1a; C2ai; D2). Coletada
com flores e frutos durante o ano todo.
Meriania glabra var. parvifolia foi
estabelecida pelas menores dimensões dos
ramos, folhas e flores, além dos ramos
levemente nodosos e geralmente áfilos para a
base e pelas folhas patentes, às vezes reflexas,
e oblongo-elípticas (Cogniaux 1886).
Considerando-se a descrição original da
variedade típica (Cogniaux 1886), espécimes-
tipo (Martius 8 p.p., Riedel 1250) e várias
outras coleções, observa-se nítida
sobreposição dessas características, às vezes
em um mesmo espécime. Apesar de não ter
sido localizado o tipo de M. glabra, vários
espécimes (Glaziou 1089, 8351 13859,
Guillemin 721, Martius 8 p.p., Vauthier 59,
112) analisados por Cogniaux (1886) foram
também examinados no presente estudo e
corroboram a inconsistência de Meriania
glabra var. parvifolia. Além disso, parte da
coleção Martius 8 foi utilizada por este autor
para estabelecer esta mesma variedade. Desse
modo, sinonimiza-se Meriania glabra var.
parvifolia com M. glabra.
906 Chiavegatto, B. & Baumgratz, J. F. A.
Rodriguésia 59 (4): 899-913. 2008
Figura 3 – a-f. Meriania glabra (DC.) Triana – a. ramo florífero; b. profilo; c. estame antepétalo; d. estame ante-sépalo;
e. velatídio; f. semente (Marquete 322). g-o. Meriania paniculata (DC.) Triana – g. ramo frutífero; h. ramo: detalhe do
indumento; i. profilo; j. flor; k. estame antepétalo; l. estame ante-sépalo; m. hipanto, estilete e estigma; n. velatídio;
o. semente (Pereira 225).
2 mm
b
2 mm
2 mm
1 mm
0,5 mm
2 mm
2 cm
2 mm
1 mm
0,5 mm
2 cm
4 mm
ef
cd
h
no
a
g
m
i
j
kl
Meriania no Rio de Janeiro
Rodriguésia 59 (4): 899-913. 2008
907
4. Meriania glazioviana Cogn. in Mart. &
Eichl., Fl. bras. 15(4): 30. 1886. Tipo: Brasil,
Rio de Janeiro, Habitat ad Serra do Ariro,
A.F.M. Glaziou 2571 (holótipo BR!; isótipos
BR!-2ex; C!; K!; P!-2ex). Fig. 4a-f
Arvoretas a árvores 3–12 m alt.;
indumento dos ramos, pecíolos, inflorescências,
face abaxial das folhas, brácteas e profilos
também tomentoso, tricomas dendrítico-
papilosos. Folhas com pecíolo 0,5–1,5 cm;
lâmina 8,5–16 × 2,5–5,5 cm, membranácea,
elíptica ou oblonga a ovada, base aguda a
atenuada, ápice agudo-acuminado, margem
denticulada; 5 nervuras acródromas, 3–5 mm
suprabasais. Tirsóides, 17–29 cm, terminais,
pêndulos, 15–16,5 cm compr. pedunculados;
brácteas triangulares; profilos estreito-
triangulares. Flores com hipanto 3–4 × 2–4 mm,
10-costado; cálice 1–1,2 mm, unilobado,
truncado; pétalas 13–15 × 11–13 mm; estames
ante-sépalos com filetes 5–7 mm, anteras 6–9
mm, porção ascendente do apêndice ca. 2 mm,
bilobada, antepétalos com filetes 4,5–6,5 mm,
anteras 3,5–5 mm, porção ascendente do
apêndice ca. 1,5 mm, clavada, ambos com
porção basal do apêndice bi-tuberculada;
ovário 2–2,5 × 1,5–2 mm, 2/3-livres, estilete
9–12 mm. Velatídios, 3–4,5 × 2–4 mm,
sementes ca. 0,1 mm, testa rugosa.
Material selecionado: Angra dos Reis: 4.III.2002,
fl., A. A. M. Barros et al. 1428 (RB); Mangaratiba:
12.VII.1997, J. M. A. Braga et al. 4203 (USU).
Endêmica do município de Angra dos
Reis, na RPPN Rio das Pedras, litoral sul da
Serra do Mar, entre 400 e 500 m de altitude,
em florestas submontanas a alto-montanas de
encostas. Devido ao microendemismo e às
coletas escassas, pode ser considerada como
Criticamente Ameaçada (CR–A1; B2a).
Coletada com flores e frutos de março a julho.
Facilmente reconhecida pelas inflorescências
pêndulas, tomentosas e longamente pedunculadas,
características estas que muito a aproximam
de M. longipes. Entretanto, esta se distingue,
principalmente, pelas folhas cartáceas, com
base arredondada e margem inteira a sinuosa.
O indumento se destaca pela coloração creme,
com tricomas de textura aparentemente
esponjosa, aspecto espesso e translúcido, além
de apresentar diminutas projeções papilosas.
5. Meriania longipes Triana, Trans. Linn. Soc.
Bot. 28(1): 66. 1871. Tipo: Brasil, Rio de
Janeiro, in Engenho da Varge ad Agua do Serra
Mar, J.E.B. Pohl 5263. (holótipo W!; isótipo
W!). Fig. 4g-k
Árvores ca. 12 m alt.; indumento dos
ramos, pecíolos, inflorescências, face abaxial
das folhas, brácteas, profilos, hipanto e cálice
também tomentoso, tricomas dendrítico-
papilosos. Folhas com pecíolo 2–2,5 cm; lâmina
12–17 × 8–10 cm, cartácea, ovada, base
arredondada, ápice agudo, margem sinuosa; 5–
7 nervuras acródromas, 1–7 mm suprabasais.
Tirsóides compostos, ca. 38 cm, terminais,
pêndulas, ca. 11 cm compr., pedunculados;
brácteas e profilos oblongos. Flores com
hipanto 2-4 × 2–3 mm; cálice 0,8–1 mm,
unilobado, truncado; pétalas 9–11 × 3–5 mm;
estames, ante-sépalos com filetes 5,5–6 mm,
anteras 3,5–4 mm, porção ascendente do apêndice
1,5–2 mm, antepétalos com filetes 4,5–5mm,
anteras 4,5–5 mm, porção ascendente do
apêndice 2–2,5 mm, ambos com porção
ascendente do apêndice bilobada, porção basal
calcarada; ovário 1,3–1,5 × 1,1–1,2 mm, 2/3-
livres, estilete ca. 6,5 mm. Velatídios 2–4 × 2,5–
3 mm; sementes 0,5–1 mm, testa rugosa.
Material selecionado: Angra dos Reis: 16.IV.1925,
fl. e fr., F. C. Hoehne & A. Gehrt (SP 17359, RB).
Endêmica do sul do estado do Rio de
Janeiro, em Angra dos Reis, foi recentemente
coletada no Parque Estadual da Ilha Grande,
em florestas montanas de encostas. Devido
ao microendemismo e às coletas escassas,
pode ser considerada como Criticamente
Ameaçada (CR–A1; B2a). Coletada com
flores e frutos de abril a agosto.
À semelhança do observado em M.
glazioviana, à qual muito se aproxima, pode
ser facilmente reconhecida pelas inflorescências
pêndulas, longamente pedunculadas. Porém, se
diferencia pelas folhas cartáceas, com base
arredondada e margem sinuosa.
908 Chiavegatto, B. & Baumgratz, J. F. A.
Rodriguésia 59 (4): 899-913. 2008
Figura 4 – a-f. Meriania glazioviana Cogn. – a. ramo florífero; b. Ramo: detalhe do indumento; c. tricoma; d. folha,
evidenciando a margem denticulada; e. velatídio; f. sementes (Capanema s.n. RB 5191). g-k. Meriania longipes Triana –
g. ramo florífero; h. flor; i. estame ante-sépalo; j. estame antepétalo; k. sementes (Hoehne & Gehrt s.n. SP 17359).
k
1 mm
2 mm
2 mm
h
j
i
g
2 mm
0,5 mm
0,5 mm 2 mm
2 mm
f
d
e
c
b
1 cm
a
Meriania no Rio de Janeiro
Rodriguésia 59 (4): 899-913. 2008
909
6. Meriania paniculata (DC.) Triana, Trans.
Linn. Soc. Bot. 28(1): 66. 1871. Tipo: ‘In
provincia Brasiliae Rio de Janeiro, Martius
s.n.’ (holótipo M, não encontrado; isótipo G!).
Fig. 3g-o
Meriania paniculata var. parvifolia
Cogn. in Mart. & Eichl., Fl. bras. 14(4): 29.
1886. Tipo: In sylvis montosis ad Novo Friburgo,
prov. Rio de Janeiro, L. Riedel 425. (holótipo
LE; isótipos K!; P!-3ex). Syn. nov.
Arvoretas a árvores 3-6 m alt.; indumento
dos ramos, folhas, brácetas, profilos, hipanto e
cálice também tomentoso, tricomas brilhantes,
rugosos, persistentes. Folhas com pecíolo 0,3–
3,5 cm; lâmina 7,5–18 × 2,4–10 cm, membranácea,
ovada, elíptica ou lanceolada, base aguda a
arredondada, ápice acuminado, margem
sinuosa a 1/2-crenulado em direção ao ápice;
5 nervuras acródromas, 2–5 mm suprabasais.
Cimóides corimbiformes ou umbeliformes ou
tríades, 3–6 cm, terminais, eretos, 1–1,5 cm
compr. pedunculados; brácteas filiformes;
profilos filiformes. Flores com hipanto 3–5 ×
3–5 mm; cálice 2–3 mm, unilobado, truncado;
pétalas 12–15 × 5–6 mm; estames ante-sépalos
com filetes 6–7 mm, anteras 5–6 mm, porção
ascendente do apêndice 1,5–2 mm,
bituberculada, antepétalos com filetes 8–9 mm,
anteras 3–3,5 mm, porção ascendente do
apêndice 1,2–1,5 mm, ligulada, ambos com
filetes lilases, anteras amarelas, porção basal
calcarada; ovário 2–2,5 × 2-2,5 mm, 1/2-livre,
estilete 14–15 mm, alvo. Velatídios 4–6 × 3–
5 mm; sementes 0,8–1 mm, testa rugosa.
Material selecionado: Duque de Caxias: 4.IV.1993, fr.,
M. G. Bovini & J. M. Braga 42 (RB, RUSU).
Guapimirim: 7.VI.1995, fl., M. G. Bovini et al. 794
(RUSU). Petrópolis: 5.IX.1977, fr., L. Mautone et al.
385 (RB). Rio de Janeiro: 29.X.2002, fr., D. Fernandes
et al. 708 (RB); Rio Claro: 16.III.1978, fl. e fr., H. C.
Lima 263 (RB). Teresópolis: 27.IX.2006, fl. e fr., B.
Chiavegatto et al. 136 (RB).
Endêmica do estado do Rio de Janeiro,
ocorrendo em florestas atlânticas montanas e
alto-montanas de encostas da Serra do Mar,
entre 800 e 1.385 m de altitude. Tem sido
coletada em três Unidades Conservação – os
Parques Nacionais da Floresta da Tijuca e da
Serra dos Órgãos e o Parque Estadual da Ilha
Grande. Pode ser classificada como Vulnerável,
considerando-se o endemismo regional
associado ao pequeno número de indivíduos
por população (V–A1; B2a). Coletada com
flores e frutos durante o ano todo.
Meriania paniculata var. parvifolia foi
estabelecida pelos ramos geralmente áfilos em
direção à base, folhas patentes, às vezes
subreflexas, e pelas menores dimensões das
folhas e flores. Considerando-se a descrição
original da variedade típica (Cogniaux 1886),
o espécime-tipo Riedel 425 e várias outras
coleções recentes, observa-se nítida
sobreposição dessas características, às vezes
em um mesmo espécime, razão pela qual
sinonimiza-se M. paniculata var. parvifolia
sob M. paniculata.
7. Meriania robusta Cogn. in Mart. & Eichl.,
Fl. bras. 15(4): 605. 1888. Tipo: Brasil, Rio de
Janeiro, ‘habitat in sylvis primareis ad Macahé,
L. Riedel 424 in herb. Hort. Petropol.’ (holótipo
LE; isótipos B, destruído, foto em F!; K!; P!-
4ex). Fig. 5
Meriania pergamentacea Cogn. in
Candolle A. de & Candolle C. de, Monog. Phan.
7: 432. 1891. Tipos: in Brasiliae prov. Rio de Janeiro
A.F.M. Glaziou 13859 (G!; K!; P!-3ex; R!),
A.F.M. Glaziou 16822 (B, destruído, foto em
F!; C!; G!-2x; K!; L!; P!-3ex; RB!), sintipos.
Syn. nov.
Arvoretas a árvores 5–15 m alt.;
indumento dos ramos, folhas, inflorescências
e cálice furfuráceo-estrelado, tricomas
persistentes. Folhas com pecíolo 1,1–5,5 cm;
lâmina 7,5–19 × 3,5–12 cm, cartácea, obovada,
elíptica ou oblonga, base agudo-atenuada a
arredondada, ápice agudo-acuminado, margem
inteira a sinuosa; 5 nervuras acródromas, 1–3
mm suprabasais. Cimóides corimbiformes ou
umbeliformes, 5–10,5 cm, terminais, eretos,
sésseis ou ca. 3,5 cm compr. pedunculados;
brácteas estreito-ovadas ou elípticas; profilos
filiformes. Flores com hipanto 5–7 × 7–9 mm;
cálice 1,5–3 mm, inconspícuo-bilobado; pétalas
13–24 × 9–22 mm, estames ante-sépalos com
910 Chiavegatto, B. & Baumgratz, J. F. A.
Rodriguésia 59 (4): 899-913. 2008
Figura 5 – a-o. Meriania robusta Cogn. – a. ramo florífero; b. flor; c. lacínia do cálice; d. pétala; e-g. estame antepétalo (e),
apêndice do conectivo (f), poro dorsal (g); h-j. estame ante-sépalo (h), apêndice do conectivo (i), poro terminal-ventral (j);
k. ovário, evidenciando os lobos inflados; l. ápice do estilete e estigma; m. secção transversal do ovário, evidenciando os
lóculos; n. velatídio; o. sementes (Baumgratz 634).
k
2 mm
1 mm
1 mm
4 mm
0,5 mm
4 mm
2 mm
0,5 mm
4 mm
2 mm
0,5 mm
4 mm
2 mm
4 mm
3 cm
l
m
no
e
fg
h
j
i
d
a
b
c
Meriania no Rio de Janeiro
Rodriguésia 59 (4): 899-913. 2008
911
filetes 14–15 mm, anteras 6–7 mm, poro dorsal,
porção ascendente do apêndice 2,5–3 mm,
ligulada, antepétalos com filetes 10,5–12 mm,
anteras 9,5–11,5 mm, porção ascendente do
apêndice 2,6–3,5 mm, bilobada, ambos com
porção basal do apêndice calosa; ovário 2,5–3
× 2,5–3,4 mm, 2/3 a totalmente livre no interior
do hipanto, estilete 13–18,5 mm, alvo. Velatídios
7–13 × 8–10 mm, sementes 0,6–0,8 × 0,2–0,5
mm, testa granulada.
Material selecionado: Casimiro de Abreu:
23.IX.2005, fr., P. V. Prieto 880 (RB). Nova Friburgo:
21.III.2007, fl. e fr., J. F. A. Baumgratz et al. 959,
960 (FLOR, RB). Santa Maria Madalena: 22.VI.2001,
fr., F. C. Pinheiro 847 (RB, RFFP). Santo Antonio
do Imbé: IV.1932, fl., A. C. Brade & Santos Lima
11736 (RB).
Endêmica do estado do Rio de Janeiro,
ocorrendo ao norte da Serra do Mar, em
florestas montanas e alto-montanas, entre
1.050-1.200 m de altitude, preferencialmente
em encostas sombreadas, às vezes também
em locais parcialmente ensolarados.
Encontrada em três Unidades de Conservação
– Parque Estadual do Desengano, Reserva
Ecológica de Macaé de Cima e Reserva
Estadual da União. Pode ser classificada como
Vulnerável, considerando-se o endemismo
regional associado ao pequeno número de
indivíduos por população (V–A1; B2a).
Coletada com flores de dezembro a abril e
frutos de fevereiro a dezembro.
Cogniaux (1891) distingue M.
pergamentacea de M. robusta por
características com delimitações muito frágeis,
caracterizando a primeira como uma planta
glabra, com folhas pergamentáceas, estreito-
ovadas, ápice curtamente acuminado e base
arredondada, às vezes subaguda, e flores com
pedicelo articulado. Essas mesmas
características são observadas nos espécimes
das coleções-tipo de M. robusta. Demais
características vegetativas e florais, com
base nesse autor, também são muito
semelhantes e se sobrepõem, incluindo dados
quantitativos. Desse modo, sinonimiza-se
M. pergamentacea com M. robusta.
8. Meriania sp. nov.
Árvores ca. 8 m alt.; indumento dos
ramos, pecíolos, inflorescências, brácteas,
profilos e face abaxial das folhas também
furfuráceo-dendrítico, tricomas persistentes.
Folhas com pecíolo 1,5–6,5 cm; lâmina 8,5–19
× 4,5–10 cm, cartácea, ovada a elíptica, base
aguda a atenuada, ápice acuminado, margem
inteira a sinuosa; 7 nervuras acródromas, 1–
1,5 cm suprabasais; domácias marsupiformes
presentes. Cimóides corimbiformes, 4–7 cm,
terminais e pseudo-axilares, eretos, sésseis a
1,5–3 cm compr. pedunculados; brácteas
espatuladas e profilos largo-ovados. Flores com
hipanto 4-5 x 5–7 mm; cálice ca. 1 mm,
inconspícuo-bilobado; pétalas 22–27 × 18–20
mm; estames ante-sépalos com filetes 12–14
mm, anteras 12–14 mm, porção ascendente
do apêndice 3–4 mm, antepétalos com filetes
16–19 mm, anteras 5–8 mm, porção
ascendente do apêndice 2,5–3,5 mm, ambos
com filetes alvos, anteras alvas, conectivo
amarelo, porção ascendente do apêndice
bituberculada, porção basal calcarada; ovário
3–4 × 3–4 mm, 2/3-livres, estilete 15–18 mm.
Velatídios 6–7 × 6–7 mm; sementes 0,8–1 mm,
testa rugosa.
Material selecionado: Parati: 15.III.2006, fl. e fr., J.
F. Baumgratz et al. 891 (RB).
Endêmica do estado do Rio de Janeiro, onde
ocorre na extremidade sul da Serra do Mar, no
Parque Nacional da Bocaina, em floresta atlântica
de encosta adjacente ao litoral, em torno de
650 m de altitude. Devido ao microendemismo
e à única coleta, pode ser considerada como
Criticamente Ameaçada (CR–B2a). Coletada
com flores e frutos em março.
AGRADECIMENTOS
A CAPES e ao CNPq, pelas bolsas
concedidas ao primeiro e segundo autores,
respectivamente. À FAPERJ, pelo apoio
concedido à pesquisa. Ao IBAMA, pelo apoio
e autorização de coleta em Unidades de
Conservação. Aos diretores dos Parques
Nacionais e Reservas, pela disponibilidade da
infraestrutura. À ilustradora botânica Maria Alice
de Rezende, pela confecção das ilustrações. Aos
912 Chiavegatto, B. & Baumgratz, J. F. A.
Rodriguésia 59 (4): 899-913. 2008
Curadores dos herbários, pelo empréstimo de
material e envio de fotografias e imagens
digitalizadas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Baumgratz, J. F. A. 1985. Morfologia dos
frutos e sementes de Melastomataceae
brasileiras. Arch. Jard. Bot. Rio de Janeiro
27: 113-155.
Baumgratz, J. F. A.; Souza, M. L. D. R.;
Carraça, D. C. & Abbas, B. A. 2006.
Melastomataceae na Reserva Biológica
de Poço das Antas, Silva Jardim, Rio de
Janeiro, Brasil: aspectos florísticos e
taxonômicos. Rodriguésia 57(3): 591-646.
Baumgratz, J. F. A.; Souza, M. L. D. R. &
Tavares, R. A. M. 2007. Melastomataceae
na Reserva Ecológica de Macaé de Cima,
Nova Friburgo, Rio de Janeiro, Brasil. I -
Tribos Bertolonieae, Merianieae e
Micolicieae. Rodriguésia 58(4): 797-822.
Cogniaux, A. 1883-88. Melastomaceae. In:
Martius, C. F. P. & Eichler, A. G. Flora
brasiliensis. Monachii, Lipsiae Frid.
Fleischer, 14(3): 1-510, 14(4): 1-656.
Cogniaux, A. 1891. Melastomaceae. In:
Candolle, A. & Candolle, C. Monographiae
Phanerogamarum. Paris, G. Masson, v.
7, 1256p.
Holmgren, P. K.; Holmgren, N. H. & Barnett,
L. C. 1990. Index Herbariorum. Part I:
The Herbaria of the world. Regnum
vegetabile. 8 ed., New York, New York
Botanical Garden, 693p.
IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística). 2007. Disponível
em: [http://www.ibge.gov.br]. Acesso em
V.2007.
IUCN. 2007. Red List Categories and Criteria
Version 3.1. The world Conservation
Union. Disponível em: [http://iucn.org/
themes/ssc/redlists/RLcats2001booklet.html].
Acesso em V.2007.
Pereira, E. 1966. Flora da Guanabara – V.
Melastomataceae III (Final). Tribos:
Miconieae, Merianieae, Bertolonieae e
Microlicieae. Rodriguésia 25(37): 181-202.
Radford, A. E.; Dickison, W. C.; Massey,
J. R. & Bell, C. R. 1974. Vascular plant
systematics. Harper & Row, New York,
891p.
Santos Filho, L. A. F. & Baumgratz, J. F.
A. 2008. Melastomataceae. In: Programa
Diversidade Taxonômica/JBRJ (org.).
Checklist da flora do Rio de Janeiro.
Disponível em: [http://www.jbrj.gov.br/
pesquisa/div_tax/acessobd.php]. Acesso
em III.2008.
Silva, K. C. & Baumgratz, J. F. A. 2008.
Henriettea e Henriettella (Melastomataceae)
no estado do Rio de Janeiro, Brasil.
Rodriguésia 59(4): 887-897.
Triana, J. 1871. Les Mélastomacées.
Transactions of the Linnean Society of
London. Botany. London 28(1): 1-188.
Veloso, H. P.; Rangel Filho, A. L. R. & Lima,
J. C. A. 1991. Classificação da vegetação
brasileira, adaptada a um sistema
universal. IBGE, Rio de Janeiro, 116p.
Weberling, F. 1988. The architeture of
inflorescences in the Myrtales. Annals of
Missouri Botanical Garden 75: 226-310.
Lista de Coleções:
Ab, A.: 87 (6); 2274 (6). Adamek, D.M.: 212 (6), 213 (6), 214 (6), 215 (6), 216 (6), 217 (6), 218 (6), 219 (6), 220 (6),
221 (6), 222 (6), 223 (6), 224 (6), 225 (6), 226 (6). Aldenbit, W.: 311 (6). Almeida, A.L.: 26 (1), 29 (7). Anderson,
W.R.: 11695 (3). Andrade, A.J.: R 165941 (6). Araújo, D.: 1010 (3), Araújo, I.A.: 108 (1). Barbosa, A.: 215 (6).
Barros, A.A.M.: 1428 (4). Barros, D.: 1020 (1). Baumgratz, J.F.A.: 455 (1), 459 (1), 470 (7), 543 (7), 634 (7), 891
(8), 915 (1), 959 (7), 960 (7). Botelho, M.: GUA 38369 (3). Bovini, M.G.: 42 (6), 794 (6), 821 (3). Brade, A.C.: 9213
(6), 10672 (3), 11736 (7), 11952 (3), 16301 (6). Braga, J.M.A.: 4203 (4). Braga, P.I.: 2410 (3). Campos Porto, P.:
615 (3), 667(1), 1549 (1). Capanema: RB 5191 (4). Chiavegatto, B.: 133 (6), 136 (6), 137 (2), 138 (1). Claussen : 40
(1). Dionísio : RB 311 (7). Dreseni, P.: 782 (1). Duarte, A.P.: 133 (3), 297 (3), 4116 (3). Duarte, W.: RB 46860 (6).
Emygdio, L.: R 38563 (1), R 41557 (6). Farney, C.: 567 (3). Fernandes, D.: 631 (3), 708 (6). Fogaça, L.C.: 45 (1).
Meriania no Rio de Janeiro
Rodriguésia 59 (4): 899-913. 2008
913
Fontoura, T.: 185 (1). Forzza, R.C.: 2421 (6). Fromm, E.: 1124 (3). Fzerkrohn, E.: RBR 8629 (3). Gardner, G.: 5709
(2); Giordano, L.C.: 956 (3), 1721 (3). Glaziou, A.F.M.: 616 (6), 1089 (3), 2991 (3), 10759 (6), 11964 (6), 13859 (7),
16033 (6), 16814 (1), 16822 (7), 17531 (1), 17930 (6), 2571 (4). Gomes, V.L.: 01 (3). Guapiassú, M.: 11 (3). Guedes,
R.: 2115 (7), 2136 (7), 2358 (7). Hatschbach, G.: 11466 (6). Hoehne, W.: 410 (3), 5616 (3), SP 17359 (5). Kuhlman,
J.G.: 578 (3), RB 69115 (3), RB 102664 (3). Lanstyack, L.: 109 (1). Leitman, P.: 45 (7). Lima, H.C.: 263 (6), 1037
(7), 1060 (7), 3380 (7). Lobão, A.: 457 (3). Luschanth, : 13 (3). Marquete, R.: 89 (3), 131 (3), 322 (3). Martinelli, G.:
12378 (7). Martins, H.F.: 298 (3), Mautone, L.: 385 (6). Moura, J.T.: R 149601 (6). Nadruz, M.: 492 (3), 1890 (6),
1902 (6), 1913 (6). Occhioni, P.: 233 (3), 224 (3), 1026 (6), 4544 (3), 5995 (6), RB 51056 (3), 132034 (3), RFA 5307
(6). Oliveira, C.A.L.: 499 (3), 534 (3), 991 (3), 2252 (3). Pabst, G.: 4700 (6), 5653 (6), 6924 (3), 9137 (6). Paleria, M.:
8455 (6). Paula, C.H.R.: 633 (6). Pereira, E.: 225 (6), 403 (6), 3776 (3), 4479 (3), 4545 (3), RB 111524, (3), 1311 (7).
Pereira, T.S.: RB 296460 (1). Perón, M. : 789 (7), 801 (7). Pessoa, S.V.A.: 34 (6), 63 (3). Pinheiro, F.C.: 847 (7).
Pinto, R.: 01 (3). Pohl, J.E.B.: 5263 (5); Prieto, P.V.: 880 (7). Quinet, A.: 69 (7).Ramos, W.D.: 05, R 857 (1).
Ribeiro, R.: 66 (5), 946 (3), 1035 (3), 1130 (3), GUA 42357 (3). Riedel, L.: 424 (7); 425 (6); 1250 (3). Rivello, N.: 07
(3). Rizzini: 461 (2). Rocha, E.S.F.: 1085 (3). Rose, L.: 40 (6). Sampaio, A.J.: 2706 (6). Santos Lima, J.: 13231 (7).
Santos, M.: 19 (3). Schott: 4169 (3). Schwacke, C.A.W.: 4868 (6), 5963 (6). Silva, F.: 62 (3). Silva, S.A.S.: 10 (3).
Sodré, S.R.: 155 (3). Sucre, D.: 6453 (3). Sylvestre, L.S.: RB 293940 (1). Ule, E.: R 149602 (6), R 149606 (6), R
149570 (3), R 167064 (6). Vaz, A.F.: 557 (3), 642 (6). Velloso, H. : R 643 (7). Wesenberg, J.: 122 (6), 487 (6), 488 (6),
747 (6), 748 (6), 793 (6). Wildgren, J.F.: 1257 (3), 5692 (3).