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Versão em espanhol do Dossiê ABRASCO sobre o impacto dos agrotóxicos na saúde: muito mais que uma tradução

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Abstract

Resenha da versão em espanhol do Dossiê ABRASCO sobre o impacto dos agrotóxicos na saúde
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Versão em espanhol do Dossiê ABRASCO
sobre o impacto dos agrotóxicos na saúde:
muito mais que uma tradução
Sustentabilidade em Debate - Brasília, v. 9, n.1, p. 270-272, abril/2018 ISSN-e 2179-9067
Versão em espanhol do Dossiê ABRASCO sobre
o impacto dos agrotóxicos na saúde: muito
mais que uma tradução
Spanish version of the Dossier ABRASCO on the impact of
pescides on health: much more than a mere translaon
Resenha escrita por Elis Borde
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte (MG), Brasil.
End. Eletrônico borde.elis@gmail.com
doi:10.18472/SustDeb.v9n1.2018.29594
RESENHA – DOSSIÊ
CARNEIRO, Fernando Ferreira (Org.) Dossier ABRASCO: alerta sobre los impactos de los agrotóxicos en
salud / Organización: Fernando Ferreira Carneiro, Lia Giraldo da Silva Augusto, Raquel Maria Rigoo,
Karen Friedrich e André Campos Búrigo. Rio de Janeiro: EPSJV; São Paulo: Expressão Popular, 2016.
Disponível em hp://abrasco.org.br/dossieragrotoxicos/
Versão original em português:
CARNEIRO, Fernando Ferreira (Org.) Dossiê ABRASCO: um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos
na saúde / Organização de Fernando Ferreira Carneiro, Lia Giraldo da Silva Augusto, Raquel Maria
Rigoo, Karen Friedrich e André Campos Búrigo. Rio de Janeiro: EPSJV; São Paulo: Expressão Popular,
2015.
Depois de causar grande impacto com a primeira publicação em 2012 e com a nova edição em 2014,
o Dossiê Abrasco sobre Agrotóxicos ganhou uma versão em espanhol. A tradução do Dossiê Abrasco,
com 648 páginas, colorida e ilustrada, foi realizada numa parceria entre a Universidad Andina Simón
Bolívar (Sede Equador), a Universidad Nacional de Colombia, através do seu programa de Doutorado
em Saúde Pública, a Red Colombiana de Salud Colecva, a Associação Brasileira de Saúde Coleva
(Abrasco) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) , que apoiou a execução do projeto de tradução. Tal
documento é parte da iniciava de construção de um “Dossiê Lano-Americano sobre Agrotóxicos”,
idealizado em 2012 no XII Congresso Lano-americano de Medicina Social e Saúde Coleva, da
Asociación Lanoamericana de Medicina Social (Alames) em Montevidéu (Uruguai). De forma mais
concreta, o documento foi pensado na primeira reunião connental realizada em 2013 durante
o I Encontro Internacional de Ecologia de Saberes em Fortaleza (Brasil) e no XIII Congresso Lano-
americano de Medicina Social e Saúde Coleva em San Salvador (El Salvador) em 2014, como iniciava
da Rede de Saúde e Trabalho da Alames, do GT Saúde e Ambiente da Abrasco e a Rede de Saúde e
Ambiente da Alames.
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Elis Borde
Sustentabilidade em Debate - Brasília, v. 9, n.1, p. 270-272, abril/2018
ISSN-e 2179-9067
A publicação da versão em espanhol do Dossiê brasileiro, neste sendo, reete um esforço de
visibilizar e disseminar a obra no contexto lano-americano, reconhecendo a relevância da discussão
sobre a situação brasileira para os demais países lano-americanos. Também reete a contribuição
que o Dossiê Abrasco faz ao reunir evidência cienca sobre o impacto dos agrotóxicos na saúde e
no meio ambiente e experiências concretas de resistências e alternavas ao modelo do agronegócio
contra o silêncio sobre o emprego morfero dos agrotóxicos que caracteriza o modelo agroalimentar
dominante no Brasil e em outros países lano-americanos. A tradução do Dossiê Abrasco, assim, abre
o caminho para a urgente arculação regional de pesquisadores, técnicos, populações afetadas, tanto
trabalhadores como consumidores, e lideranças sociais nas áreas rurais e urbanas e além de contribuir
para a iniciava do Dossiê Lano-americano sobre o impacto de agrotóxicos, potencialmente esmula
iniciavas análogas às iniciavas brasileiras retratadas no Dossiê em outros países da região.
A versão em espanhol, uma co-edição da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio da Fiocruz e da
editora Expressão Popular, está disponível de forma gratuita num site especíco do “Dossier Abrasco
– Una alerta sobre los impactos de los agrotóxicos en la salud”, que espelha o site onde se encontra
a versão original em português e inclui novo material audiovisual e bibliográco sobre a temáca no
contexto lano-americano: hp://abrasco.org.br/dossieragrotoxicos/
A publicação desenvolvida pela Abrasco, em arculação com a “Campanha Permanente Contra Os
Agrotóxicos e Pela Vida” e com a “Arculação Nacional de Agroecologia” está organizada em quatro
partes: 1) Segurança alimentar e nutricional e saúde; 2) Saúde, ambiente e sustentabilidade; 3)
Conhecimento cienco e popular: construindo a ecologia de saberes; 4) A crise do paradigma do
agronegócio e as lutas pela agroecologia.
Na primeira parte, ‘Segurança Alimentar e Nutricional e Saúde’, são abordados resultados de pesquisas
ciencas sobre os riscos da ingestão de alimentos com agrotóxicos, o uso massivo de agrotóxicos
para a produção de alimentos no Brasil e os desaos para a ciência. Ainda são propostas dez ações
urgentes para o enfrentamento da questão do agrotóxico como um problema de saúde pública, tais
como: priorizar a implantação de uma Políca Nacional de Agroecologia, banir no Brasil os agrotóxicos
já proibidos em outros países e proibir a pulverização aérea de agrotóxicos. Na segunda parte, ‘Saúde,
Ambiente e Sustentabilidade’, a insustentabilidade socioambiental do agronegócio é abordada, assim
como as consequências do agronegócio para os povos do campo e das orestas.
A segunda parte naliza com exemplos das resistências e lutas de (re)construção dos territórios
e sustentabilidade. A terceira parte, ‘Conhecimento Cienco e Popular: construindo a ecologia de
saberes’, traz uma reexão críca sobre a saúde coleva como campo da ciência moderna, e defende
a necessidade de um novo paradigma de ciência. Nessa parte, estão ainda 15 cartas de comunidades
angidas pelos agrotóxicos, chamada Vozes dos territórios”, relatando suas experiências de resistência
e construção de alternavas. Na quarta parte, ‘A crise do paradigma do agronegócio e as lutas pela
agroecologia’, o Dossiê aborda a desregulamentação dos agrotóxicos no Brasil e problemaza a indústria
de dúvidas e venenos, problemazando a cooptação de pesquisadores, tanto de universidades quanto
de instuições de pesquisa públicas, para defesa dos interesses da indústria de agrotóxicos. A quarta
parte naliza analisando as trajetórias de lutas contra os agrotóxicos, principalmente apresentando a
luta pela agroecologia.
Nas quatro partes do dossiê, evidências ciencas sobre o impacto do uso indiscriminado dos
agrotóxicos na saúde e no meio ambiente são apresentadas, e se retratam as lutas pela redução
dessas substâncias e pela superação do modelo de agricultura químico-dependente do agronegócio,
comprovando a inviabilidade do “uso seguro” de agrotóxicos. Ainda oferece uma reexão sobre o
papel da ciência e desconstrói a ideia de neutralidade, mostrando como a evidência cienca sobre
os impactos nocivos dos agrotóxicos tem sido sistemacamente velada e desqualicada, bem como
o fato de como cienstas trabalhando com pesquisas sobre os impactos dos agrotóxicos têm sido
inmidados, inclusive judicialmente interpelados.
O livro convence pela quandade e qualidade do material reunido, se diferenciando de outros trabalhos
sobre a temáca por construir um verdadeiro diálogo de saberes, arculando diferentes saberes e
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Versão em espanhol do Dossiê ABRASCO
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muito mais que uma tradução
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vozes, juntando relatos detalhados das populações afetadas com resultados de pesquisas ciencas. O
livro se destaca também por oferecer, no nal de cada parte, propostas de ações urgentes, apontando
caminhos para a transformação da situação. O Dossiê em espanhol ainda responde à ausência de
material sobre os riscos do uso dos agrotóxicos na América Lana, predominantemente desatualizado
e dominado por quem produz os agrotóxicos ou é pago por quem produz.
Muitas das propostas são especícas do contexto brasileiro, se referindo a leis e regulamentações
nacionais, e exigem dos leitores de outros países lano-americanos uma capacidade de abstração e
releitura a parr das realidades locais. No entanto, não cabe dúvida sobre a pernência de traduzir o
Dossiê Abrasco e sobre a necessidade e urgência de disseminar essa importante obra na América Lana.
Para nalizar cabe um comentário sobre a própria tradução do português ao espanhol. De maneira
geral, a tradução conseguiu ser el à linguagem da obra original, respeitando os diferentes formatos
que marcam as partes que compõem o Dossiê. Ainda no que diz respeito à tradução, cabe dizer que
o Dossiê foi traduzido para um espanhol lano-americano e pela própria composição das equipes de
tradução (Universidad Nacional de Colombia, Red Colombiana de Salud Colecva e Universidad Andina
Simón Bolívar – Sede Equador) adotaram-se termos mais difundidos nos países andinos da América
Lana, sem comprometer a compreensão para leitores de outros países lano-americanos.
Diante da reprimarização da economia, da expansão das fronteiras agrícolas para a exportação de
commodies e da consolidação do modelo de agroalimentar químico-dependente na América Lana,
a versão em espanhol do Dossiê Abrasco faz uma importante contribuição à luta contra os agrotóxicos
e pela vida, viabilizando arculações e fortalecendo alianças transnacionais urgentes e necessárias,
tornando-se uma obra de leitura obrigatória para militantes sociais, estudantes, pesquisadores,
ambientalistas, prossionais de saúde e agricultores interessados e compromedos com a construção
de um outro modelo de desenvolvimento para o campo e uma promoção emancipatória da saúde.
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