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BENDER E DESENHO DA FIGURA HUMANA: EVIDÊNCIA DE VALIDADE POR GRUPOS EXTREMOS

Authors:

Abstract

O objetivo do estudo foi verificar evidência de validade para o Teste Gestáltico Visomotor de Bender em relação aos grupos extremos no Desenho da Figura Humana. Participaram 312 crianças de ambos os sexos, que cursavam de 1ª a 4ª série do Ensino Fundamental de uma escola pública do interior do Estado de São Paulo. Os teste foram aplicados de forma coletiva em sala de aula. No caso do Bender, foram avaliadas apenas as distorções e integrações de forma nas figuras A, 1, 2, 3, 4, 5 e 7. Para o Desenho da Figura Humana, foram utilizados 49 os critérios de Florence Goodenough. Os resultados evidenciaram que as crianças que apresentaram um pior desempenho no Desenho da Figura Humana apresentaram uma maior pontuação no Bender em todas as medidas estudadas. Concluiu-se que o Bender poderia ser um bom teste para avaliação do desenvolvimento cognitivo em crianças.
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Bender e desenho da figura humana: evidência de validade por grupos extremos
Psicol. Argum., Curitiba, v. 25, n. 48 p. 65-72, jan./mar. 2007.
BENDER E DESENHO DA FIGURA HUMANA: EVIDÊNCIA
DE VALIDADE POR GRUPOS EXTREMOS
Bender and Human Figure Drawing: evidences of validity
by contrasting groups
Fabián Javier Marín Rueda 1
Daniel Bartholomeu 2
Fermino Fernandes Sisto 3
Resumo
O objetivo do estudo foi verificar evidência de validade para o Teste Gestáltico Visomotor de Bender em
relação aos grupos extremos no Desenho da Figura Humana. Participaram 312 crianças de ambos os sexos,
que cursavam de 1.ª a 4.ª série do Ensino Fundamental de uma escola pública do interior do Estado de São
Paulo. Os testes foram aplicados de forma coletiva em sala de aula. No caso do Bender, foram avaliadas apenas
as distorções e integrações de forma nas figuras A, 1, 2, 3, 4, 5 e 7. Para o Desenho da Figura Humana, foram
utilizados 49 critérios de Florence Goodenough. Os resultados evidenciaram que as crianças que
apresentaram um pior desempenho no Desenho da Figura Humana apresentaram uma maior pontuação no
Bender em todas as medidas estudadas. Concluiu-se que o Bender poderia ser um bom teste para avaliação
do desenvolvimento cognitivo em crianças.
Palavras-chave: Bender; Desenho da figura humana; Inteligência; Instrumentos de medida.
1Psicólogo, Mestre em Psicologia e Doutorando do Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia da Universidade São
Francisco. Bolsista CAPES. Rua José Marciano Filho, 9 Vila Cristo redentor, Itatiba-SP, CEP:13251-420. E-mail:
marinfabian@yahoo.com.br
2Aluno do Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia da Universidade São Francisco. Bolsista CAPES.
3Doutor pela Universidad Complutense de Madrid, Livre-docente pela Unicamp e docente do curso de Psicologia e do Programa
de Estudos Pós-graduados em Psicologia, da Universidade São Francisco, Câmpus Itatiba-SP.
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Fabián Javier Marín Rueda; Daniel Bartholomeu; Fermino Fernandes Sisto
Psicol. Argum., Curitiba, v. 25, n. 48 p. 65-72, jan./mar. 2007.
Introdução
Inúmeros estudos indicam que o Teste
de Desenho de Figura Humana e o Teste Gestálti-
co Visomotor de Bender estão entre os mais utili-
zados e mais relevantes na avaliação psicológica
no Brasil (Alves, 2002; Noronha, 2002; Vendramini
& Noronha, 2002). O Teste Gestáltico Visomotor
de Bender (TGB) foi desenvolvido por Lauretta
Bender em 1938, tendo como referência os dese-
nhos elaborados por Max Wertheimer para definir
as leis de organização perceptual. Foram selecio-
nadas nove figuras consideradas pela autora como
as mais representativas para avaliar a ação sensó-
rio-motriz. Nesse sentido, Bender (1938) conside-
ra que a habilidade sensório-motora pode variar
em razão do nível maturacional do indivíduo além
de seu estado patológico funcional.
Bender (1938) utilizava os cartões com
finalidade clínica, não tendo criado um sistema
objetivo de correção que pudesse atribuir pontua-
ções aos desenhos, avaliando-os apenas qualitati-
vamente. Se, por um lado, isso dificultou a utiliza-
ção do instrumento, por outro, serviu de estímulo
para que diversos pesquisadores estudassem e
desenvolvessem novas propostas de correção e
interpretação dos desenhos, sendo alguns deles
passíveis de quantificação. No que concerne aos
principais sistemas de correção criados, Field, Bol-
ton e Dana (1982) destacaram que entre as déca-
das 50 e 60 foram desenvolvidos pelo menos oito
sistemas. No Brasil, os sistemas de correção mais
utilizados são o de Clawson (1982) e o de Santucci
e Pêcheux (1981).
Tendo por base o caráter evolutivo
associado à aprendizagem das funções gestálticas
visomotoras, Koppitz (1975) procurou distinguir,
dentre as distorções ocorridas nos desenhos, aque-
las relacionadas à imaturidade perceptiva e aos
fatores emocionais. Assim, o sistema de correção
desenvolvido parte da premissa de que o compor-
tamento visomotor é uma habilidade e sua mensu-
ração pode ser obtida pela reprodução de padrões
com distintos níveis de complexidade.
A tais aquisições de habilidades visomo-
toras estão relacionadas o desenvolvimento do con-
ceito do corpo pela criança. Assim, se determina-
das condições produzirem déficits visomotores,
possivelmente resultaria numa distorção do esque-
ma corporal (Evans, 1999).
Ao lado disso, sabe-se que os Desenhos
da Figura Humana (DFH) também refletem o con-
ceito que a criança possui do corpo. Em outros
termos, a criança, ao desenhar uma pessoa huma-
na, demonstra o que conhece do corpo humano,
e não somente o que vê no seu cotidiano (Goode-
nough, 1926; Harris, 1963).
Florence Goodenough (1926), precurso-
ra do DFH, considerava que a criança incluiria
detalhes realísticos nos desenhos à medida que
fosse se desenvolvendo intelectualmente. Assim,
desenvolveu um sistema de correção e avaliação
dos aspectos cognitivos para o desenho da figura
humana.Muito se tem utilizado o DFH na mensu-
ração das habilidades intelectuais de crianças. Nes-
ses termos, pode-se citar Utsugi e Ohtsuki (1955),
que encontraram correlações entre o desenvolvi-
mento intelectual e os níveis dos desenhos. Rue-
da, Bartholomeu e Sisto (2004) analisaram dife-
renças entre crianças com e sem dificuldades de
aprendizagem na escrita quanto aos indicadores
evolutivos dos DFH segundo os critérios de Goo-
denough. Os resultados mostraram que o escore
do Desenho da Figura Humana diferenciou o gru-
po de crianças com e sem dificuldades de apren-
dizagem na escrita na terceira série. O mesmo não
foi encontrado quanto às crianças de segunda sé-
Abstract
The aim of this study was to verify evidences of validity for the Bender Gestalt Visomotor Test in relation to
groups should by the Human Figure Drawing. 312 male and female, attending at the 1st to 4th grades of public
school Basic Education from the state of São Paulo have participated. The tests were collectively applied in
their classroom. Concerning to the Bender, distortions and integrations of form in the figures 1, 2, 3, 4, 5 and
7 were evaluated. Florence Goodenough 49 criteria were used to assess the Human Figure Drawing. The
results showed that the children with worse performances in the Human Figure Drawing greater scores in
the Bender Test in all studied measures. Results suggest that the Bender could be a good test for cognitive
development in children.
Keywords: Bender; Human figure drawing; Intelligence; Measure instruments.
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rie. Assim, a evidência de validade verificada foi
circunscrita a apenas uma situação, colocando em
dúvida a eficiência dos DFH na detecção de pro-
blemas de aprendizagem.
Por sua vez, Jing, Yuan e Liu (1999) in-
vestigaram diferenças entre QI de crianças com e
sem dificuldades de aprendizagem por meio do
DFH de Goodenough-Harris e do WISC. As corre-
lações encontradas entre esses instrumentos no
grupo de crianças com dificuldades de aprendiza-
gem foi baixa. No entanto, essas crianças diferen-
ciaram-se do grupo controle em relação a alguns
detalhes nos desenhos, sugerindo a possibilidade
de alguma desordem de habilidades cognitivas.
Nesse sentido, Fabry, Bertinetti e Joseph (1990)
administraram o DFH e o WISC-R em crianças de
seis a 10 anos. Dentre os resultados, constataram
que os escores do DFH correlacionaram-se mais
fortemente com o QI de performance do que com
o QI verbal.
Ao lado disso, Sisto (2000) investigou a
validade do DFH de Goodenough quanto à avali-
ação do desenvolvimento cognitivo de acordo com
as Provas Piagetianas em crianças. O Desenho da
Figura Humana apresentou correlações com as três
provas piagetianas de conservação de massa e
comprimento e de imagem mental, o que sugere a
possibilidade de encontrar padrões para avaliar a
tendência do desenvolvimento cognitivo baseada
nos modelos piagetianos por meio dos DFH.
Estudando pacientes com retardo men-
tal, Upadhyaya e Sinhá (1974) aplicaram o Teste
Gestáltico Visomotor de Bender (TGB) e o DFH,
encontrando que sujeitos com QI mais baixo no
DFH apresentaram maiores pontuações no Ben-
der. Os autores verificaram ainda que esses dois
instrumentos são freqüentemente utilizados para
se obter estimativas das capacidades cognitivas dos
indivíduos.
Uma breve revisão da literatura permitiu
identificar algumas pesquisas que relacionassem o
TGB com o DFH. Sob essa perspectiva, Koppitz,
Sullivan, Blyth e Shelton (1959) verificaram até que
ponto o TGB e o DFH administrados na primeira
série preveriam a realização escolar ao final do
ano, encontrando que ambos os instrumentos pos-
suem a habilidade de predizer o desempenho aca-
dêmico, e que o poder de predição é implementa-
do ao serem utilizados conjuntamente.
Ainda, Bandeira e Hutz (1994) inves-
tigaram a predição do rendimento escolar na
primeira série por intemédio do DFH, TGB e
Raven. Dentre os resultados, verificou-se que,
apesar de todos os testes apresentarem corre-
lações significativas com a medida de desem-
penho acadêmico, tomada ao final do ano leti-
vo, somente o Bender e os itens evolutivos do
DFH contribuíram na explicação da variância
do rendimento escolar. Assim, o TGB e o DFH
podem servir como instrumentos no diagnósti-
co precoce de dificuldades de aprendizagem.
Por sua vez, Rueda et al. (2005) inves-
tigaram as relações entre o TGB e o DFH em
crianças do Ensino Fundamental. Os resultados
indicaram correlações negativas e significativas
entre o DFH e o TGB. Desse modo, concluiu-
se que quanto melhor o desempenho das cri-
anças no DFH, menor a pontuação no Bender,
sugerindo uma melhor maturação visomotora.
Outra constatação foi que há elementos comuns
entre os instrumentos, apesar de mensurarem
constructos aparentemente distintos.
Tendo em vista esses aspectos consi-
derados, denota-se a importância da maturação
vis-motora no desenvolvimento conceitual ava-
liado pelos DFH. Assim, nessa pesquisa, será
investigado mais detidamente até que ponto
crianças com bom e mau desempenho no DFH
são discriminados nas medidas de integração e
distorção de forma avaliadas pelo TGB.
Método
Participantes
Participaram da pesquisa 177 crianças,
sendo 93 (52,5%) do sexo masculino e 84 (47,5%)
do sexo feminino, de 1.ª a 4.ª série do Ensino
Fundamental de uma escola pública do interior
do Estado de São Paulo. As idades variaram en-
tre 7 e 10 anos (média 8,62 anos e desvio-pa-
drão de 1,15).
Para dividir os grupos extremos de cri-
anças, separaram-se 25% de crianças com me-
nor e maior pontuação no DFH. Dessa forma, o
Grupo 1, referente aos 25% que apresentaram
menor pontuação, ficou com 45 crianças, com
uma média de idade de 8,34 (dp=1,07) e o Gru-
po 2, referente ao 25% com maior pontuação,
com 47 crianças com idade média de 8,87
(dp=1,19).
Bender e desenho da figura humana: evidência de validade por grupos extremos
Psicol. Argum., Curitiba, v. 25, n. 48 p. 65-72, jan./mar. 2007.
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Instrumentos
Teste do Desenho da Figura Humana
O Teste do Desenho da Figura Humana
propõe-se a avaliar aspectos cognitivos em crianças.
Neste estudo, optou-se por 49 itens a serem analisa-
dos segundo o critério de Florence Goodenough. A
correção foi feita por presença ou ausência dos itens,
atribuindo-se 1 para presença e 0 para ausência, sen-
do que a pontuação total por sujeito foi produto da
soma total das pontuações de cada item.
Teste Gestáltico Visomotor de Bender
O Teste Gestáltico Visomotor de Bender foi
construído para fornecer um índice de maturação per-
ceptomotora e consiste de nove figuras (A, 1, 2, 3, 4,
5, 6, 7 e 8) para serem copiadas da melhor maneira
possível sem qualquer tipo de auxílio mecânico.
Neste estudo, analisaram-se os itens referen-
tes à distorção e integração de forma nas figuras A, 1,
2, 3, 4, 5 e 7, sendo utilizados os critérios de Koppitz.
A correção foi feita atribuindo-se um ponto para cada
erro cometido pela criança.
Com base na correção dos itens, foram cria-
das medidas, produtos da soma de itens. A distorção
de forma, somatório dos pontos atribuídos às figuras
analisadas nesse quesito; a integração de forma, so-
matório dos pontos atribuídos às figuras analisadas
nesse quesito; e a pontuação geral, somatório das
medidas anteriores.
Procedimento
Os instrumentos foram aplicados coletiva-
mente em sala de aula. No Desenho da Figura Hu-
mana foi solicitado às crianças para desenhar uma
pessoa numa folha de papel sulfite da melhor forma
possível e com o máximo detalhes, informando-lhes
que era permitido o uso da borracha, a qualquer
momento, e que o desenho deveria ser feito a lápis.
No caso do Bender foi solicitado às crian-
ças para copiarem os desenhos apresentados numa
folha de papel sulfite da melhor forma possível, in-
formando que era permitido o uso de borracha a
qualquer momento. Entretanto, não foi permitida a
utilização de qualquer ajuda mecânica.
Resultados
Para análise dos resultados, foram formados
os grupos extremos de crianças em relação ao DFH.
Assim, o Grupo 1 ficou formado pelas crianças que
apresentaram menos de 19 pontos no teste e o Grupo
2, com aquelas que tiveram mais de 29 pontos. No
desenho da figura humana, as pontuações e freqüência
dos itens do Grupo 1 são apresentados na Figura 1.
Pontuação no Desenho da Figura Humana
40
30
20
10
-0
Freqüência de respostas
14
12
10
8
6
4
2
0
Figura 1 – Freqüências das Pontuações do Grupo 1 no Desenho da Figura
Humana.
Fabián Javier Marín Rueda; Daniel Bartholomeu; Fermino Fernandes Sisto
Psicol. Argum., Curitiba, v. 25, n. 48 p. 65-72, jan./mar. 2007.
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No Desenho da Figura Humana as crian-
ças do Grupo 1 apresentaram uma média de 16,33
pontos (dp=2,59). A moda foi 19 itens e a mediana
17, ou seja, 50% das crianças desse grupo dese-
nharam menos de 17 itens e o 50% restante entre
17 e 19 itens.
Os resultados obtidos e a distribuição das
freqüências dispostas na Figura 1 evidenciaram
ainda uma concentração de pontos entre 17 e 19
itens (57,8%). A porcentagem de crianças que de-
senharam menos de 17 itens foi de 42,2%. No caso
do grupo 2 no DFH, as pontuações e freqüências
são apresentadas na Figura 2.
Pontuação no Desenho da Figura Humana
50
40
30
20
10
0
Frequência de respostas
10
8
6
4
2
0
Figura 2 – Freqüências das Pontuações do Grupo 2 no Desenho da Figura
Humana.
As crianças do Grupo 2 apresentaram uma
média de 33,30 pontos (dp=4,33) no Desenho da
Figura Humana. A moda foi 29 itens e a mediana
33, ou seja, 50% das crianças do grupo desenha-
ram mais de 17 itens e o 50% restante entre 29 e
33 itens.
Com a finalidade de verificar possíveis
diferenças de média nas medidas estudadas no TGB
em relação ao desempenho no DFH, foi utilizada
a prova t de Student, adotando o nível de signifi-
cância de 0,05. Os resultados dessa análise encon-
tram-se na Tabela 1.
Bender e desenho da figura humana: evidência de validade por grupos extremos
Psicol. Argum., Curitiba, v. 25, n. 48 p. 65-72, jan./mar. 2007.
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Grupo Média DP t p
Distorção na figura A 1 0,42 0,50 3,328 0,001
20,13 0,34
Integração na figura A 1 0,06 0,25 0,054 0,957
20,06 0,25
Distorção na figura 1 1 0,08 0,29 -0,279 0,781
20,11 0,31
Integração na figura 2 1 0,02 0,15 1,022 0,309
20,00 0,00
Distorção na figura 3 1 0,44 0,50 1,457 0,149
20,30 0,46
Integração na figura 3 1 0,38 0,49 1,500 0,137
20,23 0,43
Integração na figura 4 1 0,22 0,42 2,625 0,010
20,04 0,20
Distorção na figura 5 1 0,44 0,50 -0,427 0,670
20,49 0,51
Integração na figura 5 1 0,02 0,15 -0,973 0,333
20,06 0,25
Distorção na figura 7 1 0,62 0,49 6,049 0,000
20,11 0,31
Integração na figura 7 1 0,33 0,48 3,425 0,001
20,06 0,25
Distorção de forma 1 2,02 1,29 3,512 0,001
21,13 1,15
Integração de forma 1 1,04 0,95 3,237 0,002
20,47 0,75
Pontuação geral 1 3,07 1,86 4,231 0,000
2 1,60 1,45
Tabela 1 – Média, desvio-padrão, valores de t e p entre grupos extremos na
pontuação no DFH em relação às medidas do Bender.
A Tabela 1 evidenciou que a distorção de
forma nas figuras A e 7, a integração de forma nas
figuras 4 e 7, a distorção e integração de forma
geral e a pontuação geral do Bender apresentaram
diferenças estatisticamente significativas entre os
grupos extremos. Os itens integração de forma nas
figuras A, 2, 3 e 5, assim como os itens de distor-
ção de forma nas figuras 1, 3 e 5 não apresenta-
ram diferenças estatisticamente significativas em
relação aos grupos extremos estudados. Deve-se
destacar que o Grupo 1 apresentou número mé-
dio de erros maior em todos os itens avaliados
pelo Teste de Bender que apresentaram resulta-
dos significativos.
Discussão
O presente trabalho objetivou analisar
qual a relação entre o desempenho no Teste Ges-
táltico Visomotor de Bender e grupos extremos na
pontuação do Desenho da Figura Humana. Assim,
verificou-se que sete medidas do TGB não dife-
renciaram tais grupos, enquanto as restantes qua-
tro medidas, assim como também a integração de
forma, distorção da forma e pontuação total apre-
sentaram diferenças significativas nos grupos com
melhor e pior desempenho no DFH. Estes acha-
dos poderiam indicar uma possível revisão da ava-
liação feita nas figuras do Bender, com a finalida-
Fabián Javier Marín Rueda; Daniel Bartholomeu; Fermino Fernandes Sisto
Psicol. Argum., Curitiba, v. 25, n. 48 p. 65-72, jan./mar. 2007.
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de de aprimorar os resultados finais fornecidos pelo
teste, para mensurar de uma melhor forma o cará-
ter maturacional que o instrumento se propõe a
medir. Pela análise realizada, verificou-se que as
crianças que apresentaram um pior desempenho
no DFH apresentaram também uma maior pontua-
ção no TGB em todas as medidas. Assim, pode-se
concluir que o Desenho da Figura Humana poderia
ser um bom preditor de crianças que podem vir a
apresentar algum atraso no desenvolvimento cog-
nitivo. Nesse sentido, os achados desta pesquisa
corroboram os resultados se Rueda et al. (2005), no
sentido de que quanto maior a pontução no DFH,
menor a pontuação no TGB.
Ainda, esta pesquisa também confirmou
os achados de Upadhyaya e Sinhá (1974), ou seja,
crianças que apresentaram um pior desempenho
no Teste Gerstáltico Visomotor de Bender apresen-
taram também uma idade mental menor no Teste
do Desenho da Figura Humana. Embora estes da-
dos não possam ser tomados como conclusivos, eles
indicam uma tendência que vem sendo verificada
pela literatura científica ao longo das décadas.
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Recebido em/received in: 14/03/2006
Aprovado em/approved in: 18/10/2006
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Examined validity of use of human figure drawing to evaluate cognitive development status using Piagetian tasks with 7- to 11-year-olds. Found that scores for children's drawings of a man and a woman correlated significantly with mental imaging, conservation of mass, and conservation of length, suggesting the possibility of finding patterns to assess cognitive development through human figure drawing. (Author/KB)
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23 14-21 yr old mental retardates, divided into 2 groups according to scores on the Stanford-Binet Intelligence Scale (IQs up to 40 and above 40, respectively) were administered the Bender Gestalt Test (BGT), the Human Figure Drawing Test (HFD), the Thematic Apperception Test (TAT), and the Rorschach Inkblot Test. As compared to higher IQ Ss, lower IQ Ss showed more signs of brain damage (BGT); obtained lower mental age (HFD); showed poor verbal productivity, had less interaction, perceived environment as more threatening, and had preoccupation with primary needs (TAT); and gave fewer shading and color responses, had lower mean range of content, and made fewer popular responses (Rorschach). Findings are discussed in the light of the applicability of these tests in cases of severe and moderate retardation. (PsycINFO Database Record (c) 2012 APA, all rights reserved)
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To assess whether the Human Figure Drawing Test provides an assessment of nonverbal cognitive maturity, correlations for 31 youngsters who ranged in age from 6-0 to 10-10 on the Human Figure Drawing Test and the Verbal, Performance, and Full Scale IQs of the Wechsler Intelligence Scale for Children--Revised (WISC--R) were examined. Significant correlations were observed for each of the scales, but the value of .69 for drawings and WISC--R Performance IQs was significant, suggesting the assessment that these tests are largely nonverbal. Implications for the role of language were posited.
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Quantified Bender-Gestalt protocols of 120 clients using the Hutt, Pascal-Suttell, and Pauker scoring systems. Scores were correlated with two criteria of psychopathology, diagnosis of psychiatric disability and self-reported anxiety, and age and IQ. The results suggest that: (a) Ratings of B-G protocols are highly reliable; (b) B-G scores are not predictive of global psychopathology; and (c) B-G scores are correlated moderately with age and IQ. This evidence does not support the validity of B-G scoring systems as indicators of psychopathology.
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Development of visuomotor competence might result in an internalized body concept in relation to the outside world. Figure drawing has been used in an attempt to access this concept in normal children and in children with spina bifida causing lower limb sensorimotor abnormalities. Compared with normal children, the figure drawings of spina bifida children showed no significant distortion of the proportion of the lower limbs in relation to the head and body. This is in agreement with other methods attempting to access the body schema in these children.