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A ESTRUTURAÇÃO DE REDES MULTI-STAKEHOLDERS PARA A SOLUÇÃO DE PROBLEMAS SOCIAIS COMPLEXOS

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Abstract and Figures

Os problemas ambientais e de saúde, causados pelo uso indevido dos agrotóxicos na agricultura familiar, vêm sendo discutidos em âmbito nacional e internacional. Nesse sentido, a pesquisa teve como objetivo propor uma rede multi-stakeholder que possa minimizar esse problema complexo que afeta a sociedade. A pesquisa empírica foi realizada em duas etapas, com abordagem qualitativa. A primeira, de natureza descritiva, consistiu em um estudo de caso de uma rede de stakeholders criada para minimizar um problema social relacionado à gestão de uma bacia hidrográfica. Esse modelo de rede serviu de inspiração para a segunda etapa da pesquisa, que consistiu na proposição de uma nova rede colaborativa capaz de minimizar os impactos do uso dos agrotóxicos. A principal contribuição da pesquisa está na proposição de um modelo de rede, identificando os stakeholders participantes e a forma de governança, cuja implementação tem o potencial de minimizar o problema dos agrotóxicos na agricultura familiar. A contribuição teórica do estudo está em descrever a estruturação de redes multi-stakeholders relacionadas a contextos que possuem complexidade social, ambiental e política.
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Revista de Gestão Social e Ambiental - RGSA, São Paulo, v. 12, n. 1, p. 00-00, jan./abr. 2018.
A ESTRUTURAÇÃO DE REDES MULTI-STAKEHOLDERS PARA A SOLUÇÃO DE
PROBLEMAS SOCIAIS COMPLEXOS
Roselaine Nunes de Oliveira Moscofian
Graduanda em Administração
Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS)
São Leopoldo Rio Grande do Sul - Brasil
roselainenoliveira@hotmail.com
Douglas Wegner
Doutor em Administração
Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS)
São Leopoldo Rio Grande do Sul - Brasil
dwegner@unisinos.br
Tatiane Pellin Cislaghi
Doutoranda em Administração
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul
Bento Gonçalves Rio Grande do Sul - Brasil
Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS)
São Leopoldo Rio Grande do Sul - Brasil
tatiane.cislaghi@bento.ifrs.edu.br
RESUMO
Os problemas ambientais e de saúde, causados pelo uso indevido dos agrotóxicos na agricultura familiar,
vêm sendo discutidos em âmbito nacional e internacional. Nesse sentido, a pesquisa teve como objetivo
propor uma rede multi-stakeholder que possa minimizar esse problema complexo que afeta a sociedade. A
pesquisa empírica foi realizada em duas etapas, com abordagem qualitativa. A primeira, de natureza
descritiva, consistiu em um estudo de caso de uma rede de stakeholders criada para minimizar um problema
social relacionado à gestão de uma bacia hidrográfica. Esse modelo de rede serviu de inspiração para a
segunda etapa da pesquisa, que consistiu na proposição de uma nova rede colaborativa capaz de minimizar
os impactos do uso dos agrotóxicos. A principal contribuição da pesquisa está na proposição de um modelo
de rede, identificando os stakeholders participantes e a forma de governança, cuja implementação tem o
potencial de minimizar o problema dos agrotóxicos na agricultura familiar. A contribuição teórica do estudo
está em descrever a estruturação de redes multi-stakeholders relacionadas a contextos que possuem
complexidade social, ambiental e política.
Palavras-chave: Agricultura familiar; Agrotóxicos; Governança; Multi-stakeholders; Redes colaborativas.
THE STRUCTURING OF MULTI-STAKEHOLDERS NETWORKS FOR THE SOLUTION
OF COMPLEX SOCIAL PROBLEMS
ABSTRACT
Environmental and health problems caused by improper use of pesticides in family farming have been
receiving increasing attention at local and global levels. In this regard, the research aimed to propose a multi-
stakeholder network to minimize this complex problem that affects society. The empirical research was
divided into two phases with qualitative approach. The first one consists in a qualitative case study that
describes a multi-stakeholder network created to minimize a social problem related to the management of a
watershed. This multi-stakeholder network was used as inspiration for the second phase, in which we
propose a new collaborative network able to minimize the impacts of the improper use of pesticides. Our
major contribution consists in the presentation of a framework that describes the stakeholders, their
interaction and the governance of a network that may reduce the problem of pesticides used in family
farming. As a theoretical contribution, the study describes the structuring process of a multi-stakeholders
network operating in a complex social, environmental and political context.
Key words: Collaborative network; Family farming; Governance; Multi-stakeholder; Pesticides.
RGSA Revista de Gestão Social e Ambiental
ISSN: 1981-982X
DOI: http://dx.doi.org/10.24857/rgsa.v11i3.1339
Organização: Comitê Científico Interinstitucional
Editor Científico: Jacques Demajorovic
Avaliação: Double Blind Review pelo SEER/OJS
Revisão: Gramatical, normativa e de formatação
A estruturação de redes multi-stakeholders para a solução de problemas sociais complexos
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Revista de Gestão Social e Ambiental - RGSA, São Paulo, v. 12, n. 1, p. 00-00, jan./abr. 2018.
1 INTRODUÇÃO
A solução de problemas sociais complexos exige novas abordagens do poder público e dos
stakeholders interessados. A complexidade das questões sociais, ambientais e políticas em pauta
nos debates em nível nacional e global demonstra a necessidade de encontrar soluções por meio de
iniciativas e políticas que envolvam a coletividade (Carneiro, Augusto, Rigotto, Friedrich & Búrigo,
2015). Problemas relacionados ao saneamento básico, à contaminação das águas e do solo, ao
descarte indevido do lixo, ao uso indevido dos agrotóxicos, às novas epidemias, são agravados pela
falta de informação e articulação de medidas preventivas e corretivas. A complexidade do tema
exige a atuação de parcerias multissetoriais, coordenadas na tentativa de minimizá-los ou solucioná-
los (Caporal, Costabeber & Paulus, 2005).
Dentre as questões mencionadas, o uso inadequado de agrotóxicos, em especial na
agricultura familiar, caracteriza-se como um problema grave e com sérias consequências. O
primeiro impacto do uso destes produtos é sobre os trabalhadores que realizam as aplicações de
agrotóxicos; o segundo é na população, que é atingida pela contaminação dos alimentos; e o terceiro
impacto é ao meio ambiente, pela contaminação do solo, das águas e do ar (Carneiro et al., 2015).
Além disso, o agricultor utiliza o agrotóxico como medida preventiva contra infestações e não como
ação corretiva, provocando problemas de saúde que perpassam a contaminação do alimento (Geremia,
2011). De acordo com o dossiê da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), os produtores
brasileiros estão entre os que mais utilizam agrotóxicos no mundo (Carneiro et al., 2015).
A solução para problemas complexos, que afetam múltiplos atores, tal como o uso
inadequado de agrotóxicos, pode estar no envolvimento destes mesmos em redes (Jacobi, 2008;
Roloff, 2008). Jacobi (2008) identifica a necessidade de envolver outros setores na elaboração e
implementação de políticas públicas e considera a governança realizada com a participação,
envolvimento e negociação de multi-stakeholders como forma de legitimar as decisões tomadas por
eles. Diversos estudos no contexto nacional (Calixto, 2009; Harrison, Freeman & Abreu, 2015;
Neutzling, Santos, Barcellos & Land, 2015) e internacional (Alvarez, Pilbeam & Wilding, 2010;
Airike, Rotter & Mark-Herbert, 2016; Kilelu, Klerkx & Leeuwis, 2013, Rolof, 2008) têm abordado
as possibilidades de organizar redes de multi-stakeholders. Entretanto, uma carência de estudos
que analisam como tais redes podem ser constituídas e como organizar sua governança para
alcançar os objetivos dos múltiplos participantes envolvidos (Klijn, 2014; Harrison et al., 2015;
Sandfort & Milward, 2014).
Com base nessa contextualização, a questão que norteia o estudo é: como estruturar uma
rede de multi-stakeholders para a solução de um problema social complexo o uso inadequado de
agrotóxicos na agricultura familiar e estabelecer seu modelo de governança? Para responder a esta
pergunta, o estudo teve como objetivos (a) mapear uma rede existente, com vistas a compreender
sua composição, modelo de governança e barreiras enfrentadas pelos atores, para então (b) propor a
criação e organização de uma rede multi-stakeholder visando minimizar o uso inadequado de
agrotóxicos na agricultura familiar. Nesse sentido, a pesquisa faz uso do conceito de redes multi-
stakeholder (Roloff, 2008) e utiliza a abordagem teórica da Teoria dos Stakeholders, que é
multifacetada e oferece a oportunidade de reinterpretar situações a partir de uma variedade de novas
perspectivas, que envolvem simultaneamente múltiplos atores (Harrison et al., 2015).
A rede estudada como etapa preliminar exploratória, foi criada para o gerenciamento da
bacia hidrográfica do Rio dos Sinos, no estado do Rio Grande do Sul. A escolha da rede se justifica
pela complexidade do problema social envolvido, os interesses múltiplos e conflitantes de seus
atores (setores produtivos, comunidade, Ministério Público, universidades, Organizações Não-
Governamentais (ONGs), órgãos governamentais, entidades de apoio setoriais, entre outros) e por
tratar-se de uma rede com 29 anos de existência. Esse caso, por sua vez, serviu como inspiração
para a segunda fase da pesquisa, em que se propõe uma nova rede multi-stakeholders, desta vez
com o objetivo de minimizar o uso inadequado de agrotóxicos na agricultura familiar.
Roselaine Nunes de Oliveira Moscofian, Douglas Wegner, Tatiane Pellin Cislaghi
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2 REDES MULTI-STAKEHOLDERS
Stakeholder é definido como qualquer grupo ou indivíduo que pode afetar ou é afetado pela
realização dos objetivos de uma organização (Freeman, 1984). Embora a literatura aponte variações
desta definição, nessa perspectiva os stakeholders relacionam-se com uma empresa focal e existem
relações dominantes de poder (Roloff, 2008). Os diálogos em que estão presentes vários grupos de
atores interessados (por exemplo, consumidores, trabalhadores, sindicatos, organizações não-
governamentais, entes políticos) e outras empresas, tais como concorrentes e fornecedores,
constituem a forma mais popular de gestão dos stakeholders (Roloff, 2008).
Na busca de ampliar o entendimento de como as empresas que colaboram em redes multi-
stakeholders organizam a sua gestão dos atores envolvidos, Roloff (2008) argumenta que podem
existir duas abordagens: uma com foco em organizações (em benefício de uma empresa focal, ou
seja, que possui o poder nas relações) e outra com a ênfase na solução de problemas. As principais
diferenças nas duas abordagens estão em seu ponto de referência e no modo de interação. A gestão
direcionada por uma organização focal coloca a empresa e seus objetivos no centro das atenções.
Propõe proteger a empresa por meio da implementação de uma gestão de relacionamento eficaz
com quem pode afetar ou é afetado por suas atividades. Em contrapartida, a gestão centrada em
problemas tem como objetivo abordar uma questão que é relevante para vários atores, a fim de
identificar e implementar um curso de ação compartilhado (Rollof, 2008; Scarlett e McKinney,
2016), como nessa pesquisa.
Múltiplos stakeholders ou múltiplos atores (indivíduos, unidades de trabalho ou
organizações) participantes são incorporados em relações sociais interligadas em redes
colaborativas, as quais oferecem ao mesmo tempo oportunidades de ganhos econômicos
(Williamson, 1993) e relacionais (Dyer & Singh, 1998). Uma rede pode ser descrita como um
conjunto de nós e de laços que representam relações (Brass et al., 2004) e podem variar de acordo
com a estrutura dessas relações. Considerando-se a perspectiva de governança interorganizacional
(Provan & Kenis, 2008), a rede é considerada uma unidade de análise determinante ao
entendimento das interações entre as organizações (Francisco, 2011) e a vantagem colaborativa
pode ser vista como um dos principais motivos para a união de atores em rede multi-stakeholders
(Airike et al., 2016; Rocha & Goldschmidt, 2010).
Nas redes multi-stakeholders, os participantes se reúnem para encontrar uma abordagem
comum a uma questão (problema) que afeta a todos eles. Apesar da variedade destes modelos de
redes, algumas características são compartilhadas: (a) geralmente são compostas por três categorias de
atores, representantes de negócios, sociedade civil e Estado; (b) surgem ou são iniciadas a partir de
um problema a ser solucionado ou minimizado; e, (c) no âmbito geográfico das redes e a dimensão
das questões abordadas, podem estender-se desde redes concentradas em locais específicos até redes
de abrangência global (Roloff, 2008).
Souza (2012), em seu estudo sobre redes de stakeholders, abordou o tema da participação
social na gestão das políticas públicas em uma unidade de conservação ambiental. Desenvolveu uma
abordagem dos conselhos gestores como plataforma multi-stakeholders para negociação de uso dos
recursos naturais e considerou a participação da sociedade fundamental para a conservação da
biodiversidade e proteção destas áreas. Esta estruturação possibilitou aos envolvidos a aprendizagem
coletiva em diferentes níveis, destacando a troca de experiências, promoção de articulações entre
atores e o fortalecimento da governança. O autor destacou ainda a importância do envolvimento das
universidades e institutos de pesquisa.
Kilelu et al. (2013), por meio de um estudo de caso no programa de Desenvolvimento do
Leite da África Oriental no Quênia, utilizaram o conceito de plataformas de inovação, usualmente
aplicado no campo agrícola, a fim de desvendar como as plataformas dão forma e contribuem para
os processos de inovação. O programa fornece uma plataforma para estimular a colaboração de
multi-stakeholders, visando melhorar a produtividade e os rendimentos das famílias de pequenos
produtores de leite. No estudo, plataforma de inovação, foi definida como uma configuração de
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múltiplos atores deliberadamente criada para facilitar e realizar diversas atividades em torno de
desafios e oportunidades de inovação agrícola identificados, em diferentes níveis nos sistemas
agrícolas (por exemplo, aldeia, país, setor ou cadeia de valor). Os achados da pesquisa
demonstraram como as plataformas de inovação são importantes mecanismos para estimular e
coordenar a coevolução da inovação. A variedade dos multi-stakeholders e a complementariedade
de competências dos atores é o que tornou a plataforma efetiva na coordenação da inovação.
Apesar das pesquisas e práticas destes modelos de rede, Milagres, Rezende e Gonçalves (2012)
destacam que a literatura ainda carece de clareza conceitual sobre o tema governança de redes
colaborativas, existindo uma lacuna entre a compreensão dessas estruturas e como acontecem as
interações entre o governo, as organizações e a sociedade civil. Dessa forma, a subseção 2.1 aborda a
governança de redes, considerando-se que as redes colaborativas estão cada vez mais em destaque nas
pesquisas da administração, enfatizando a crescente estruturação de parcerias entre governo e sociedade
civil com o objetivo de solucionar problemas sociais complexos.
2.1 Governança de redes
A pesquisa sobre governança de redes foca principalmente a complexidade da tomada de
decisão e os desafios para o alcance de resultados aceitáveis para problemas sociais em razão do
envolvimento de múltiplos atores (Klijn, 2014). Por sua vez, as redes têm sido amplamente
reconhecidas pelos estudiosos e gestores como uma importante forma de governança para
multiorganizações, tanto no setor público quanto no privado (Provan & Kenis, 2008).
Provan e Kenis (2008) propõem três formas de governança para as redes de empresas: (a)
governança compartilhada: os próprios membros da rede coordenam as ações exigindo
envolvimento e comprometimento de todos os partícipes; (b) governança por meio de uma
organização líder: as principais atividades em nível de rede e as principais decisões são coordenadas
por meio e por um único membro participante, atuando como uma organização líder. Assim, a
governança da rede torna-se altamente centralizada e intermediada, com relações de poder
assimétricas; e, (c) organização administrativa de rede: quando uma entidade administrativa
independente externa é criada especificamente para governar a rede e as suas atividades. Ainda, os
autores descrevem que a adoção bem-sucedida de uma forma particular de governança será com
base em quatro contingências estruturais e relacionais principais: confiança, tamanho (número de
participantes), consenso de objetivos e a natureza da tarefa (especificamente, a necessidade de
competências em nível de rede).
Rezende (2014) identifica e analisa, em sua pesquisa, como a estrutura relacional da rede
interorganizacional “A Cor da Cultura” influencia sua estrutura de governança. A rede é formada
por entidades governamentais, privadas e pela sociedade civil e seu modelo de governança
identificada é de “organização líder”, e está centrada na Fundação Roberto Marinho. Identificou que
o modelo de governança compartilhada será mais eficaz quando houver confiança generalizada
entre os membros e ressalta que os laços de confiança devem ser densos, de maneira que sejam
compartilhados por toda a rede. No modelo de organização líder, é essencialmente construída em
torno de uma “coleção de relações diádicas”, caracterizada pela centralidade num grupo da rede.
Neste caso, a confiança em toda a rede pode ser menor do que para a governança do modelo de
organização administrativa da rede, onde os membros são chamados a monitorar coletivamente
todas as atividades praticadas.
Outro exemplo é apresentado no estudo de Alvarez et al. (2010), que objetivou compreender
como e porque os mecanismos de governança evoluíram em uma iniciativa multi-stakeholder na
cadeia de suprimentos liderada pela Nespresso, o café especial da divisão da Nestlé. A unidade de
análise foi a rede do Programa AAA, incluindo as entidades que diretamente participam dela
(representantes atuais e passados, como comerciantes de café, ONGs e agricultores). Os resultados
da pesquisa traçaram a evolução do contexto e condições relacionais. O contexto associado a
mudanças externas (ambiente) e internas (atores específicos) evoluiu em termos de diminuição da
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incerteza e aumentou em termos de clareza no apoio a relação. Ao mesmo tempo, houve um
aumento na complexidade do número e tipos de intervenientes envolvidos. Associada a esta
evolução, ocorreram mudanças importantes observadas nas condições relacionais, e um aumento da
formalização dos mecanismos de governança na rede.
Apesar dos resultados positivos proporcionados por redes multi-stakeholders para a solução
de problemas complexos, também são identificadas dificuldades da atuação em rede. Moog et al.,
(2015) analisaram o Forest Stewardship Council, uma organização transnacional sem fins lucrativos
formada por diversos stakeholders com o objetivo de aperfeiçoar o manejo florestal e regular o
comércio de madeira. Um problema crônico identificado nessa rede é que a perspectiva de
stakeholders menos poderosos e com argumentos éticos mais radicais tende a ser sufocada. Isso
torna questionável se redes multi-stakeholders realmente representam um espaço real para
deliberação política ou acabam sendo direcionadas pelos interesses de grupos dominantes. Os
autores concluem que a dimensão política das redes precisa ser analisada para que seja efetivamente
possível compreender seu funcionamento e seus resultados.
Saffer et al., (2018) também lançam novas luzes sobre os desafios da governança de redes
multi-stakeholders. Embora conceitualmente essas redes sejam caracterizadas como formas
igualitárias de engajamento dos atores, formas sutis de poder são manifestadas por meio dos
padrões de comunicação e interação dos participantes. Os autores analisaram a Sustainable
Sanitation Alliance (SuSanA), uma rede internacional formada por 217 parceiros com o objetivo de
contribuir para a meta de tratamento sanitário da Organização das Nações Unidas. Os resultados
revelam que o status institucional e os recursos financeiros, cnicos e relacionais aportados pelos
parceiros afetam diretamente a dinâmica do poder em redes multi-stakeholders. Como
consequência, os autores destacam a importância de analisar previamente o poder dos atores que
serão incorporados à rede para evitar que “[...]a agenda de organizações com mais recursos possa se
tornar dominante em uma rede” (Saffer et al., 2018, p. 135).
Os resultados apresentados por esses estudos (Rezende, 2014; Alvarez et al., 2010; Moog et
al., 2015; Saffer et al., 2018) destacam o potencial das redes multi-stakeholders para a solução de
problemas sociais complexos, mas também indicam as dificuldades e os desafios que essas
iniciativas enfrentam. A literatura revisada serve como base para o estudo empírico apresentado nas
próximas seções e a proposição de uma rede com o objetivo de minimizar um problema social.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para alcançar o objetivo proposto, realizou-se uma pesquisa de natureza qualitativa e
descritiva em duas etapas. A primeira etapa consistiu em um estudo de caso de uma rede de multi-
stakeholders, com a finalidade de identificar os atores participantes e o modelo de governança
utilizado, além de dificuldades e principais desafios enfrentados pelos múltiplos atores. Essa fase
serviu como base para que, após análise dos dados, fosse estruturada e validada uma proposta de
uma rede de multi-stakeholders, para o contexto do agronegócio, com o objetivo principal de
auxiliar na solução de um problema complexo que afeta os ecossistemas e a sociedade - o uso
inadequado de agrotóxicos na agricultura familiar.
3.1 Etapa 1: Estudo de caso
O estudo de caso único (Yin, 2015) utilizou, como unidade de análise, o Comitesinos
(2016). A rede foi formada há 29 anos para o gerenciamento da bacia hidrográfica do Rio dos
Sinos, no estado do Rio Grande do Sul. A rede foi avaliada de acordo com alguns critérios:
formação da rede (atores, papéis e responsabilidades) e o seu modelo de governança, além das
principais dificuldades enfrentadas e resultados obtidos desde sua criação até o ano de 2016.
As técnicas de coleta de dados utilizadas foram: (a) dados do tio da rede (Regimento
Interno e atas das assembleias do período de 14 de março de 2013 a 11 de agosto de 2016), revistas,
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folders e jornais, (b) observação não-participante na assembleia do Comitesinos realizada no dia 11
de agosto de 2016 e entrevistas semiestruturadas com 11 representantes de diferentes categorias do
comitê (figura 1), no período de 20 de julho a 19 de setembro de 2016, totalizando 9h27min. A
seleção dos entrevistados foi realizada considerando-se categorias definidas a priori: poder de
negociação de cada stakeholder com o Comitê, a legitimidade - no seu relacionamento com o
Comitê e a urgência que o Comitê concede a cada um deles no atendimento de suas necessidades
(Lopes, 2015).
Figura 1: Stakeholders entrevistados na etapa 1 da pesquisa
Fonte: Elaborado pelos autores (2018)
O roteiro de questões foi separado em quatro blocos: Bloco 1 Formação e governança da
rede com sete perguntas, Bloco 2 Identificação dos stakeholders com cinco perguntas, Bloco 3
Dificuldades da rede com três perguntas e Bloco 4 Resultados alcançados até 2016 com cinco
perguntas. Todas as entrevistas foram gravadas e transcritas e, posteriormente, analisadas por meio
da técnica de análise de conteúdo (Bardin, 2010).
3.2 Etapa 2: Proposição e validação de uma Rede de Stakeholders
O estudo de caso da rede do Comitesinos serviu como base para a proposição de uma nova
rede direcionada para o problema social do uso indevido de agrotóxicos. O caso estudado permitiu
compreender que categorias de stakeholders precisam fazer parte de uma rede para minimizar um
problema social complexo, proposição de modelo de governança adequado ao contexto e quais
desafios serão enfrentados na implementação da rede. Nesse sentido, elaborou-se uma proposta
inicial que foi submetida à avaliação de representantes de quatro categorias, sendo: Órgão Estadual
de Apoio à Agricultura (E1), Sindicato dos Trabalhadores Rurais (E2), Universidade (E3) e
Categoria
ENTIDADE
Código
Grupo 1
Usuários da Água
Semae Serviço Municipal de Água e
Esgotos de São Leopoldo RS
E1UA
Meio Ambiente da Prefeitura
de Portão
E2UA
Defesa Civil de Portão
E3UA
Associação dos Arrozeiros de Caraá
E4UA
Aicsul - Associação das Indústrias de
Curtume do RS
E5UA
Grupo 2
Representantes da
População
Unisinos Universidade do Vale do Rio
dos Sinos
E6RP
Instituto Senai de Tecnologia Couro e
Meio Ambiente
E7RP
Mov. Ambientalista da Região das
Hortênsias
E8RP
Sind. dos Servidores Públicos de Portão
E9RP
Grupo 3
Rep.
Governo
Fundação Zoobotânica
FZB/Sema
E10RG
Grupo 4
Órgãos
Sistema
ÓRGÃO DE FISCALIZAÇÃO
Fepam Fundação Estadual de Proteção
Ambiental Henrique Luiz Roessler
E11OS
Roselaine Nunes de Oliveira Moscofian, Douglas Wegner, Tatiane Pellin Cislaghi
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Ministério Público (E4). Estes participantes foram selecionados em razão da sua importância para
a rede e pela sua capacidade de contribuir com a proposta.
Para a operacionalização desta etapa, foi apresentado a cada um dos entrevistados o desenho
da rede do Comitesinos e, em seguida, o desenho da proposta da nova rede e a sua sistemática. As
entrevistas foram realizadas entre 20 de outubro e 11 de novembro de 2016, totalizando 2h5min.
Com base nos comentários e nas sugestões desses entrevistados, elaborou-se a proposta final da
rede com o objetivo de minimizar o problema do uso indevido de agrotóxicos. Decidiu-se
segmentar a rede em regiões de acordo com a divisão dos Conselhos Regionais de Desenvolvimento
do Rio Grande do Sul (Coredes). Os Coredes são divididos em 27 regiões e, para a proposta da
rede, optou-se primeiramente, pela Região do Vale do Caí (Corede, 2010).
4 RESULTADOS DA PESQUISA
Na primeira parte da seção de resultados, apresenta-se o estudo de caso do Comitesinos,
com a origem da rede, os critérios de escolha e a forma de engajamento dos stakeholders, seguido
pelo modelo de governança utilizado e as dificuldades da rede. Na segunda parte, é apresentada a
proposta de uma rede de multi-stakeholders para minimizar o uso de agrotóxicos na agricultura
familiar.
4.1 A Rede Comitesinos
O movimento que deu origem ao Comitesinos surgiu em 1970 da união de interesses entre
grupos ambientalistas que faziam pressão para a recuperação do Rio dos Sinos, pesquisadores,
imprensa e servidores do Estado, conferindo legitimidade ao movimento. Foi criado no dia 17 de
março de 1988 pelo Decreto Estadual nº 32.774/1988, sendo o primeiro comitê de bacia do Estado e
modelo para a criação dos demais comitês do Brasil. É a rede responsável pelo gerenciamento da
bacia hidrográfica do Rio dos Sinos que abrange 32 municípios.
De acordo com as entrevistas, o principal objetivo do Comitesinos é fazer a gestão das
águas, garantir que haja água para o abastecimento da população e assegurar a manutenção da vida
silvestre que depende desta água. Estudos técnicos de monitoramento indicam os objetivos
alcançados e o que ainda falta ser feito para melhorar as condições do rio. O feedback das ações
realizadas pelo comitê é disponibilizado aos membros e à sociedade durante as assembleias e
também no site. As assembleias são públicas e qualquer pessoa tem direito em se manifestar e
opinar sobre os assuntos em pauta.
4.1.1 Critérios de escolha dos Stakeholders
Em 1978, durante o seminário realizado na Sede da Unisinos, o critério utilizado para a
formação do comitê foi a adesão espontânea dos participantes presentes ao evento (E11OS). Após a
Lei Estadual de Recursos Hídricos 10.350 de 1994, o comitê teve que se reestruturar para se
adequar ao Regimento Interno, foi então sistematizado o comitê de bacia por divisão em categorias
para que houvesse um equilíbrio entre os atores. Diante destas novas regras, aconteceram reuniões
para discutir a representatividade de cada categoria e a sua importância para a bacia do Rio dos Sinos.
O entrevistado E11OS cita a importância do equilíbrio entre eles, “[...] nenhum setor hegemoniza o
comitê, todos têm mais ou menos o mesmo poder, e isto faz com que ele tenha sempre que negociar
as coisas”.
De acordo com o Regimento Interno (2016), o comitê exerce as suas atribuições diretamente
ou por intermédio dos órgãos e entidades integrantes. Tem como membros as entidades ou
organismos representativos dos usuários da água, da população da bacia hidrográfica e dos órgãos
da administração direta, estadual e federal. A disposição das vagas para os representantes é
distribuída entre três grupos principais, sendo o Grupo 1 (Usuários da água, com 40% das vagas) e
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Grupo 2 (Representantes da população, com 40% das vagas), possuem direito a voto nas plenárias.
O Grupo 3 (representantes do Governo, com 20%) faz parte da plenária, mas não tem direito a voto.
O Grupo 4, que não consta no Regimento Interno, é formado por membros permanentes do
plenário, não tem direito a voto e atua como órgão de fiscalização do sistema, como, por exemplo, a
Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam).
Segundo os entrevistados, a posição e a importância que o Comitesinos foi adquirindo
perante a sociedade ao longo dos anos de existência o tornou foco de interesse de diversas
categorias que se candidatam a participar. Ou seja, a rede conquistou legitimidade, principalmente
por envolver múltiplos atores nas decisões tomadas (Jacobi, 2008; Lopes, 2015). A cada dois anos,
a própria categoria decide, por meio de votação, quem vai ocupar as vagas existentes para cada uma
delas. Essa sistemática está alinhada com os postulados de Klijn (2014), segundo o qual a união de
atores em parcerias público-privadas é necessária para que os problemas complexos de ordem
pública sejam resolvidos.
4.1.2 Governança do Comitesinos
A governança em rede enfatiza a complexidade da tomada de decisão e os desafios para o
alcance de resultados na solução de problemas sociais, contando com a participação de multi-
stakeholders (Klijn, 2014). No Comitesinos, o plenário aprova ou reprova toda a política do comitê e
fiscaliza a execução das ações. Os gestores da rede são eleitos entre os candidatos das categorias de
Usuários da Água e dos Representantes da Sociedade Civil. O Presidente, o Vice-Presidente e a
Secretaria Executiva formam o núcleo de gestão, “[...]que a direção, literalmente, do que vai ser
feito” (E11OS). As ações de monitoramento da rede são realizadas em conjunto entre os diversos
atores, e, desta forma, contribui para o fortalecimento das relações entre o Comitesinos, a sociedade e
o governo (Roloff, 2008). Em síntese, a tomada de decisões começa pela Direção, com o auxílio da
Comissão Permanente de Assessoramento (CPA), composta pela Secretária Executiva e por
representantes das entidades membro.
Outro ponto de destaque citado pelos entrevistados, é a importância de o comitê estar
localizado dentro da universidade. O entrevistado E1UA relata que a universidade proporciona um
respaldo importante, como, por exemplo, “[...] politicamente, tu pode bater o martelo e dizer ‘ah
vamos fazer’, e aí chega lá e diz ‘ah isso aqui a universidade não vai assinar, por esse e esse motivo
[...] a Unisinos é uma universidade boa, é uma universidade poderosa”.
4.1.3 Barreiras enfrentadas pela Rede
Entre as principais dificuldades enfrentadas pela rede, os entrevistados destacam a gestão
dos conflitos. Para a maioria dos entrevistados, o Comitesinos tem a característica de uma câmara
de gestão de conflitos. O Rio dos Sinos é relativamente pequeno e localiza-se em uma região com
uma grande densidade populacional. Possui em seu entorno uma significativa atividade econômica
e também uma área agrícola considerável para o tamanho da bacia, o que acaba gerando conflitos
pelo uso dessa água. São conflitos devido à poluição causada pela população, muitas vezes sem o
devido tratamento de esgotos, também citam os conflitos entre o setor agrícola, a indústria e o
abastecimento urbano e também entre os arrozeiros, ecologistas e as prefeituras.
Para os entrevistados E2UA, E3UA, E6RP e E8RP, os conflitos não dificultam as ações do
comitê. Comentam que ele foi criado para tentar, de alguma maneira, resolver os problemas que
atingem a bacia. Para o entrevistado E7RP, estes conflitos dificultam na medida em que as pessoas
não olham para a bacia como um todo, apenas para os seus interesses particulares ou de um pequeno
grupo. O entrevistado E11OS relata que, antes da criação do comitê, só ocorriam situações de
conflitos: “[...] os ecologistas reclamavam da poluição, os industriários diziam que os ecologistas
eram contra o progresso e não havia um espaço onde houvesse diálogo, era briga”. Somente após a
formação do comitê, os diálogos e as negociações começaram a ocorrer. Além disso, o Ministério
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Público age como um intermediador dos acordos entre os atores. Na próxima seção, apresenta-se a
proposta de uma nova rede multi-stakeholder com o objetivo de minimizar o uso inadequado de
agrotóxicos na agricultura familiar no estado do Rio Grande do Sul, mais especificamente na região
do Vale do Caí.
4.2 Proposição e validação de uma rede multi-stakeholders
O estudo de caso da rede de multi-stakeholders do Comitesinos serviu como base para a
proposição de uma nova rede, direcionada para o problema social dos agrotóxicos e submetida à
avaliação de representantes de quatro categorias de stakeholders: Órgão estadual de apoio à
agricultura (E1), Sindicato dos trabalhadores rurais (E2), Universidade (E3) e Ministério Público
(E4). Optou-se por elaborar uma proposta que, primeiramente, abrange um único Conselho
Regional de Desenvolvimento do Estado do Rio Grande do Sul, denominado de Vale do Caí. Essa
região é formada por dezenove municípios cuja produção de citros e morangos é a maior do estado.
No entanto, o uso dos agrotóxicos é abusivo e incorreto e o destino do lixo agrotóxico não é
realizado corretamente (Corede, 2010).
Sendo assim, procurou-se primeiramente identificar os stakeholders que fazem parte deste
cenário, tomando como parâmetro o modelo adotado pelo Estado. Neste modelo, os segmentos do
agronegócio são classificados segundo a sua posição em relação à atividade agropecuária, sendo
eles: segmento antes da porteira, dentro da porteira e depois da porteira (FEE, 2016). Nas seções
seguintes, serão descritos os processos para estruturação da rede por meio da representação gráfica,
identificando os grupos e as categorias de stakeholders, bem como o esquema de relação entre eles.
4.2.1 Formação da rede proposta
Identificou-se, na primeira etapa do estudo, a importância da iniciativa da universidade para a
formação do comitê. Sendo assim, propõe-se o envolvimento das universidades presentes na região para
auxiliar, juntamente com órgãos do governo, ONGs, associações de consumidores, jornais da região,
proporcionando assim, legitimidade ao movimento (Lopes, 2015).
O problema do uso inadequado dos agrotóxicos é discutido por diversas entidades, mas em
eventos isolados, não existindo uma integração entre os envolvidos neste contexto. A formação de
um comitê terá como objetivo reunir estas entidades para discutir o problema e encontrar soluções
para minimizar estes impactos. Para institucionalizar o Comitê, será necessário fazer uma proposta
juntamente com os órgãos do estado, municípios e representantes da sociedade legalmente
constituídos e encaminhá-la ao órgão superior do governo para aprovação. A rede será dividida em
seis grupos de stakeholders e suas interações estão apresentadas na subseção 4.2.2.
4.2.2 Stakeholders da rede proposta
Cada categoria de stakeholders elegerá seu representante no comitê. Como critérios de
escolha, de acordo com a fundamentação teórica, identificou-se os atributos de “poder, legitimidade
e urgência” de cada categoria, priorizando, assim, a forma de engajamento e a interação entre eles,
além de classificá-los por importância. A figura 2 apresenta a divisão em grupos de acordo com
atributos de cada stakeholder e as características da interação entre eles.
A estruturação de redes multi-stakeholders para a solução de problemas sociais complexos
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Grupos
Componentes
Características
ATRIBUTOS: PODER, LEGITIMIDADE E URGÊNCIA
Grupo 1
Produção
rural
Emater
Sindicatos rurais
cooperativas
agroindústrias e
distribuidores
Os produtores são o foco de mudança dentro do comitê e praticamente todas
as ações serão desenvolvidas para este grupo. A Emater, os Sindicatos
Rurais e as Cooperativas serão os órgãos de divulgação e captação dos
produtores rurais para dentro da rede.
Grupo 2
Empresas
Fabricantes
fornecedores
agropecuárias
inpEV
O Comitê pode regulamentar a venda do agrotóxico por meio da
padronização do acesso a este produto. O processo inicia no distribuidor,
depois passa para a agropecuária e depois para o agricultor. Criar uma
logística para o recebimento do agrotóxico pelo agricultor e para a
devolução das embalagens.
Grupo 3
Instituições
de Ensino
Universidades
escolas estaduais
e municipais
Senai
Emater
A parceria com as universidades pode proporcionar o intercâmbio de
profissionais das áreas que contemplam o comitê. Neste sentido, vão
beneficiar o comitê pela capacitação dos membros do Grupo 1 e do Grupo 2
e as universidades vão se beneficiar utilizando o comitê para objeto de
estudo.
ATRIBUTOS: LEGITIMIDADE E URGÊNCIA
Grupo 4
Representant
es da
sociedade
Associações
comunitárias e de
consumidores
Legislativos
ONGs
A responsabilidade deste grupo será de cobrar os resultados do comitê e, a
partir do momento que existe o Selo Produção Consciente do comitê, o
consumidor não comprará do agricultor que não possua este selo. Esta é
uma maneira de incentivar o produtor a fazer parte do comitê.
ATRIBUTOS: PODER E LEGITIMIDADE
Grupo 5
Representant
es do
governo
Secretarias
municipais,
Patram, Polícia
Rodov.
Este grupo participará do comitê para regulamentar as normas e fiscalizar
estas ações, juntamente com os órgãos de instância superior. Fazem parte, as
secretarias dos municípios, com competências para assessorar na elaboração
de propostas que visem minimizar os efeitos dos agrotóxicos na lavoura, na
saúde da população e ao meio ambiente.
Grupo 6
Órgãos do
Sistema
Ibama, Fepam
Vig. Sanitária
Este grupo irá fiscalizar as ações das entidades representantes do comitê.
Exemplo: Fiscalizar a venda de agrotóxicos e o uso destes produtos pelo
agricultor.
Figura 2: Identificação dos atributos e características de cada grupo
Fonte: Elaborado pelos autores (2018)
A Figura 3 representa o esquema do processo e interação dos stakeholders descritos na
subseção 4.2.2.
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Figura 3 Esquema do processo e interação dos stakeholder
Fonte: Elaborada pelos autores (2018)
Neste modelo de rede, o setor de Ensino e Pesquisa tem seu papel dividido em duas áreas
principais: prover informação ao Produtor Rural e à Indústria, ao mesmo tempo que coleta dados
para desenvolver pesquisas para novas soluções no âmbito dos agrotóxicos e áreas correlatas. A
Indústria, por sua vez, se torna parceira do Ensino e Pesquisa, e atua como um meio de
implementação no mercado das pesquisas desenvolvidas em âmbito acadêmico, se beneficiando do
caráter de gerar inovação no seu setor. A Agropecuária é fundamental na rede para a venda correta
do agrotóxico e serve de conexão entre a Indústria e o Produtor Rural. Portanto, as agropecuárias
que fazem parte da rede recebem o Selo Certificador de Venda Consciente e se beneficiam pela
chance de fidelização do agricultor participante do comitê. Além disso, é de responsabilidade das
agropecuárias retornar as embalagens vazias ao inpEV e, assim, cumprir o ciclo de vida do produto.
Depois que o agricultor participante do comitê recebeu o treinamento adequado, por meio do
setor de Ensino e Pesquisa, e adquiriu o produto correto para sua necessidade, ele está apto a
cultivar um plantio com a aplicação de agrotóxicos nos níveis adequados. Portanto, para que o
consumidor final tenha conhecimento do diferencial, o produto receberá o Selo de Produção
Consciente, informando que o alimento foi produzido respeitando os níveis limites de agrotóxicos.
Dessa forma, a rede proposta cumpre seu objetivo de oferecer ao mercado um produto mais seguro
ao consumidor, ao agricultor e ao meio ambiente, bem como gera um vínculo entre todos os
integrantes e cria um processo com benefícios a todos os setores envolvidos, garantindo o
engajamento dos mesmos. Os Representantes do Governo participam do comitê para regulamentar
as normas e fiscalizar estas ações.
A governança da rede terá o envolvimento dos diversos segmentos da sociedade no plenário,
legitimando as ações do comitê e fortalecendo o vínculo deste órgão com o governo e a
A estruturação de redes multi-stakeholders para a solução de problemas sociais complexos
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comunidade, tornando-a mais democrática e transparente. O comitê será normatizado pelo
Regimento Interno e o plenário é o órgão principal, instituindo, por meio de votação, todas as
decisões do comitê, elegendo os membros da Diretoria e as suas competências. O modelo de
governança, sugerido para o comitê, é o da organização administrativa da rede, proposto por Provan
e Kenis (2008), e que é utilizado no Comitesinos. Recomenda-se que os órgãos do governo e órgãos
do sistema não tenham direito a voto e não possam participar como membros da diretoria. O
principal instrumento de gestão do comitê deverá ser a elaboração do planejamento estratégico.
Projetos envolvendo a sociedade também serão fundamentais para o reconhecimento da importância
do comitê para a sociedade.
4.2.3 Resultados esperados para a nova rede multi-stakeholders
A rede demandará uma interação mais dinâmica entre os membros devido ao contexto dos
agrotóxicos. A necessidade desta interação se dará em razão dos processos de compra e venda dos
produtos pelas indústrias, agropecuária, agricultor, agroindústrias, centros de distribuição de
alimentos e com o consumidor final. Os procedimentos de comunicação entre os membros também
serão realizados durante as plenárias e pela secretaria executiva e assessor de imprensa. Manter um
bom relacionamento com os meios de comunicação é fundamental também para criação de valor
perante a sociedade. Os principais resultados da rede serão alcançados pela sistematização dos
processos para minimizar os impactos dos agrotóxicos. A rede deverá realizar periodicamente a
apresentação dos principais indicadores, a prestação de contas da gestão atual e o demonstrativo dos
resultados alcançados.
Envolver a sociedade nos processos de capacitação, será fundamental para o crescimento do
comitê (Roloff, 2008; Rocha & Goldschmidt, 2010). A Figura 4 representa a rede do Comitê para a
redução dos impactos dos agrotóxicos.
Figura 4 Representação gráfica do Comitê para redução dos agrotóxicos
Fonte: Elaborada pelos autores (2018)
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4.2.4 Validação da proposta
As quatro categorias de stakeholders entrevistadas para a validação da proposta (Órgão
estadual de apoio à agricultura (E1), Sindicato dos trabalhadores rurais (E2), Universidade (E3) e
Ministério Público (E4)) identificaram, de acordo com a sua percepção, a possibilidade de
implementação desta rede e as dificuldades que poderá enfrentar para ser estruturada. Eles também
foram questionados sobre os resultados que esta rede poderá alcançar e a sua eficácia para
minimizar os problemas relacionados ao uso inadequado dos agrotóxicos na região compreendida
pelo Vale do Caí RS. A proposta da rede foi considerada válida pelos agentes entrevistados.
Como sugestão, poderia ser integrada aos comitês de bacia, acrescentando os grupos de
stakeholders do contexto dos agrotóxicos, além de posicionar o Ministério Público como órgão
fiscalizador.
4.3 Discussão dos resultados
A formação de redes colaborativas envolvendo múltiplos stakeholders, vem sendo utilizada
para a solução de problemas sociais complexos tanto no Brasil (Calixto, 2009; Harrison, Freeman &
Abreu, 2015; Neutzling, Santos, Barcellos & Land, 2015) quanto no exterior (Alvarez, Pilbeam &
Wilding, 2010; Airike, Rotter & Mark-Herbert, 2016; Kilelu, Klerkx & Leeuwis, 2013). A premissa
subjacente é que esse modelo de rede é mais adequado para solucionar problemas ambientais e
sociais de maneira mais eficiente do que deixar a tarefa a cargo do Estado porque gera
aprendizagem dos envolvidos e soluções alinhadas com suas necessidades (Souza, 2012).
A estruturação de uma nova rede pode se beneficiar de experiências anteriores, tanto bem-
sucedidas (Alvarez et al., 2010) quanto aquelas que enfrentaram dificuldades (Moog et al, 2015;
Saffer et al, 2018). Assim, neste estudo as características do Comitesinos serviram de inspiração
para a proposta de uma nova rede, como apresentado na figura 5.
Critérios
analisados
COMITESINOS
Rede proposta
Evidências
Proposições
Formação
da rede
Surgiu em resposta a pressão da sociedade
devido a poluição no rio e conflitos quanto
ao uso da água no Rio dos Sinos.
Implantação de uma rede piloto em uma região
específica, como resposta ao uso indiscriminado de
agrotóxicos na agricultura familiar.
Composição
da rede
Stakeholders de diversos setores da
sociedade; Divisão em quatro grupos: 40%
usuários da água, 40% representantes da
população e 20% divididos entre
representantes do governo e órgãos do
sistema
Organização em seis grupos, organizado de maneira
democrática e não hierárquica: Produção rural,
Empresas, Instituições de Ensino, Representantes
da sociedade, Representantes do governo e Órgãos
do Sistema.
Governança
Modelo de governança: Organização
Administrativa da Rede; O plenário é o
órgão principal, elege o Presidente, o
Vice-Presidente, a Secretaria Executiva e
a Comissão Fiscal. Gestão descentralizada
e participativa; Ações baseadas em
estudos técnicos.
Modelo de governança: Organização
Administrativa da Rede. O plenário é o órgão
principal. Ele elege o Presidente, o Vice-Presidente,
a Secretaria Executiva e a Comissão Fiscal;
Mandato dois anos; Gestão descentralizada e
participativa; Ações baseadas em estudos técnicos.
Dificuldades
Conflitos de interesses; Dificuldades em
receber do Estado os recursos financeiros
para manter as despesas administrativas;
Os recursos do comitê são escassos; Pouco
Conflitos de interesse; Resistência de algumas
categorias em aceitar mudanças nos processos de
compra, venda e produção dos alimentos; Poderá
encontrar dificuldades em receber recursos do
A estruturação de redes multi-stakeholders para a solução de problemas sociais complexos
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apoio do Estado para as ações do comitê.
Estado para manter as despesas administrativas.
Resultados
Reconhecimento da força do comitê pela
sociedade e pelos agentes políticos;
Principais indicadores: qualidade e
quantidade da água da bacia, recuperação
da mata ciliar, capacitação em projetos,
presença nas assembleias; Inclusão da
sociedade e dos membros em todos os
projetos do comitê.
Selo de Venda Consciente e Produção Consciente
emitidos pelo comitê; Reconhecimento pela
sociedade da importância do comitê na redução da
contaminação pelos agrotóxicos; Principais
indicadores: redução do uso dos agrotóxicos,
capacitação em projetos, presença nas assembleias;
Inclusão da sociedade nos projetos do comitê.
Figura 5: Comparação entre as características do Comitesinos e a rede proposta
Fonte: Elaborado pelos autores (2018)
A proposta para a criação da nova rede tem como ponto de partida um problema social
complexo que, a exemplo do Comitesinos, necessita da articulação de diversos atores para
encaminhar possíveis soluções. A inclusão de seis categorias de atores (Produção Rural, Empresas,
Instituições de Ensino, Sociedade, Governo e Órgãos do Sistema) busca garantir que os interesses
dessas categorias estejam representados na nova rede. Essa é uma condição indispensável para que
as decisões obtenham legitimidade e sejam colocadas em prática, como destacado por Rollof (2008)
e Scarlett e McKinney (2016).
A opção por uma governança por meio de Organização Administrativa da Rede (OAR)
(Provan & Kenis, 2008) é adequada para redes com muitos participantes e que precisam de uma
estrutura mínima capaz de implementar as decisões. Ao contrário de redes em que há confiança
generalizadas entre os participantes, como no caso analisado por Rezende (2014), redes formadas
por atores com interesses divergentes e possíveis limitações de confiança terão maiores chances de
sucesso utilizando o modelo de OAR (Provan & Kenis, 2008).
De maneira similar às dificuldades relatadas por Moog et al (2015) e Saffer et al (2018), o
Comitesinos precisa lidar com conflitos de interesses entre os participantes. No caso da nova rede
proposta, os entrevistados preveem dificuldades relacionadas à aceitação de alguns stakeholders em
promover mudanças. Mudanças no padrão estão relacionadas diretamente à resistência dos
fabricantes e dos agricultores em reduzir o uso dos agrotóxicos. Neste caso, na concepção dos
fabricantes, a venda diminuiria e o agricultor correria riscos de prejudicar a sua lavoura em utilizar
o agrotóxico como medida corretiva. Para que haja o engajamento destes stakeholders, será
necessário apresentar os benefícios em investir em capacitação e inovação em produtos mais
seguros para a agricultura.
O papel da universidade é considerado muito importante para obter legitimidade junto aos
produtores. De acordo com os entrevistados E1 e E4, para que um empreendimento dessa natureza
tenha sucesso, é necessário que alguma instituição de ensino e pesquisa assuma a iniciativa,
evitando que prepondere a questão política. Esse resultado contribui para a discussão sobre a
formação de redes multi-stakeholder (Carneiro et al., 2015; Caporal et al., 2005), ao demonstrar que
a participação de instituições de pesquisa é relevante para gerar conhecimento técnico, promover a
legitimidade da rede e minimizar disputas políticas (Moog et al., 2015).
Para o entrevistado E4, a importância desse modelo de rede está na integração entre as
diversas categorias da sociedade e, desta forma, a comunicação fluirá e pode-se chegar a soluções
que não se consegue individualmente. O entrevistado E3 comenta que este modelo de rede é
importante para minimizar os problemas da sociedade, “[...]este modelo de rede, pra mim, é
fundamental que aconteça. Acho que sem isso não se consegue, realmente, encaminhar soluções
para os problemas que enfrentamos”. Esses resultados reforçam o papel de redes de atores para
solucionar problemas complexos, alinhado com os estudos de Alvarez et al. (2010), Airike et al.
(2016) e Kilelu et al. (2013).
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em relação ao problema de pesquisa que buscava responder como estruturar uma rede de
multi-stakeholders para a solução de um problema social complexo e estabelecer seu modelo de
governança, a pesquisa convergiu à demanda de Carneiro et al. (2015), Jacobi (2008) e Roloff
(2008) ao propor soluções ao uso inadequado de agrotóxicos na agricultura familiar. Fez-se uso de
uma iniciativa que envolvesse a coletividade por meio do Comitê para redução dos agrotóxicos, ou
seja, de uma rede multi-stakeholder.
Por meio da proposta da nova rede, o estudo atende ao chamado de demonstrar de maneira
empírica, tomando por base uma rede consolidada (Comitesinos), como estruturar sistematicamente
essa rede, bem como a forma de governança mais adequada para lidar com os objetivos e interesses
de múltiplas partes envolvidas em problemas complexos (Klijn, 2014; Harrison et al., 2015;
Sandfort & Milward, 2014). Evidenciou-se na proposta do novo modelo de rede, a forma de
governança da organização administrativa da rede (Provan & Kenis, 2008).
Ademais, se propõe o envolvimento da sociedade nos processos de capacitação, o que será
fundamental para o crescimento do Comitê (Roloff, 2008; Rocha & Goldschmidt, 2010). Cabe
salientar que, ao mesmo tempo em que o uso inadequado dos agrotóxicos é um problema social
complexo que exige a interação de um grande mero de stakeholders com interesses distintos, a
análise do caso específico da rede estudada como base, permite gerar novos insights para situações
similares em que a mobilização de redes multi-stakeholders se faça necessária.
Aponta-se o tempo como um fator limitador para a segunda etapa da pesquisa, de maneira
que se considera importante seguir com a proposta futuramente. Outro limitador foi a carência de
estudos relacionados à criação de redes de stakeholders, considerando importante desenvolver
estudos relacionados às interações entre as partes interessadas no sentido de desenvolver estruturas
em rede para solucionar problemas importantes para a sociedade. Destaca-se que esta proposta
poderá ser testada de maneira empírica e também usada como modelo para estruturar outras redes
colaborativas com o objetivo de minimizar problemas sociais complexos.
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Data da submissão: 13/05/2017
Data de aceite: 07/12/2017
... As organizações que incorporam a RSC transcendem as regulações sociais e ambientais (Albuquerque, Sousa, Lopes, Guimarães & Ponte, 2019). O maior desafio é harmonizar os interesses dos acionistas aos interesses dos stakeholders (Artiach, Lee, Nelson & Walker, 2010;Joseph, Gonçalves-Dias, Felsberg & Igari, 2018). ...
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Para se manter em posição estratégica no mercado, as organizações precisam controlar e gerenciar o comportamento dos custos. De forma concomitante, há o desafio de manter os investimentos em Responsabilidade Social Corporativa (RSC), mesmo em períodos de declínio nas receitas. A manutenção das ações de RSC, mesmo em períodos de crise, serve de estratégia para manter a imagem e reputação organizacional, revertidas em competividade no longo prazo. O objetivo da pesquisa é analisar a influência da Responsabilidade Social Corporativa no comportamento assimétrico dos custos em companhias de capital aberto, no contexto internacional. Para tanto, utilizou-se uma amostra de 4.935 empresas de 25 países ao longo de 10 anos, totalizando 39.487 observações analisadas por meio da técnica de regressão linear múltipla. De modo geral, o comportamento dos custos nas empresas com maiores ações de RSC se mantém assimétrico no momento de declínio das receitas. Isso decorre das escolhas dos gestores que, provavelmente, priorizam manter as ações de RSC para manter e/ou aumentar sua participação de mercado nos momentos de retomada econômica. Os achados sugerem que o desempenho satisfatório em RSC exige dispêndios financeiros para sua manutenção, muitas vezes mantidos no declínio de receitas. Os resultados reforçam a compreensão de que as ações de RSC precisam ser reconhecidas como investimento que trarão benefícios à continuidade do negócio além disso, o estudo contribui para o meio acadêmico, gestores e investidores, demonstrando a sua importância no gerenciamento dos custos e que a RSC tem sido prioridade para muitas organizações.
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This study analyzes the set of Brazilian scientific production in the themes Entrepreneurship and Gender associate to highlight the gender perspectives in these publications. A semi‐systematic literature review was carried out, according to the studies published until the year 2022, in the databases Spell, Scielo, and in the following scientific journals: International Journal of Gender and Entrepreneurship, Gender in Management, and Gender, Work and Organization. We selected 102 articles for reading. The studies were classified into five themes: (a) the impact of entrepreneurship on a woman's personal life; (b) aspects associated with management and entrepreneurship; (c) socialization and context; (d) gender and intersectionality; and (e) evaluation of the field of studies. An agenda for future studies is suggested. This research encourages Brazilian researchers to develop new studies and insights on the subject. In addition, it presents elements to guide policies and provide financial support to research aimed at understanding entrepreneurship and gender.
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Purpose: Working women are thriving and rising to prominence in the economy and business environment. Today's women make significant contributions to society's development. Theoretical framework: An empowered woman has more control over her life and her finances. Women's economic independence and self-sufficiency can be greatly aided by training them in the art of entrepreneurship. Growth in business entrepreneurship has the potential to improve women's financial, societal, personal, as well as political standing. Design/methodology/approach: The current study aims to investigate the relationship between female entrepreneurship and women's empowerment in the Chittoor district. Participants are 300 female entrepreneurs from both urban and rural areas. The researcher analyses the issues and difficulties women entrepreneurs experience in operating their enterprises, as well as the supportive elements for women business owners. Findings: Women's empowerment and female entrepreneurship are positively correlated. The majority of female business owners, whether in urban and rural areas, struggle with financial issues and job pressure. Governmental programmes and policies support female entrepreneurs by giving them training, funding, and marketing help. Research, Practical & Social implications: The entrepreneur alters the conditions of supply, combines already-existing resources in novel ways, and therefore establishes another generation of employment. Originality/value: Women's conditions are improved by entrepreneurship, which also helps them become fully involved in the growth and development of their country. This is one of the first studies to provide a detailed account of the women's entrepreneurship research in Chittoor, India.
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Objective: To investigate the economic and social impacts of the tíquete feira program on the lives of small rural producers in the Municipality of Franciscópolis, MG. Theoretical framework: A theoretical approach was conducted regarding public policies focused on family farming, solidarity economy, and social currency. Method: In the first stage, an analysis of secondary data published by the Municipality of Franciscópolis/MG was carried out. In the second stage, the IraMuTeQ software was used to analyze the content of publications on the subject. Results and conclusion: It was possible to observe that the implementation of the fair ticket helped these families who live from agriculture to partially guarantee their own livelihood and that of the family, allowing for food and nutritional security. In addition, there is the appreciation and stimulation of family farming, enabling its continuity, because, through the increase of resources, it makes possible the improvement of the products taken to the street market. Implications of the research: The study highlights the importance of addressing the solidarity economy, taking into account cultural diversity and seeking efficient solutions for the development of family farming and the local economy. It also emphasizes the implementation of public policies by the Municipality of Franciscópolis, MG, to support these goals. Originality/Value: This is a regionalized study about the solidarity economy promoted by a municipal entity in order to encourage family farmers, through its own social currency (ticket fair) and, at the same time, translates into a welfare public policy, insofar as the fair ticket is provided to local municipal employees and also to local families in situations of social vulnerability.
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Multistakeholder issue networks have been characterized as power-free, egalitarian forms of corporate–civil society engagement. Using a communication-centered conceptualization of power, our study finds that potential sources of power subtly manifest through communication and interaction patterns in multistakeholder issue networks. Our results indicate that organizations’ institutional status and resources are significant predictors of network power.
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Objective – This article provides a brief overview of stakeholder theory, clears up some widely held misconceptions, explains the importance of examining stakeholder theory from a variety of international perspectives and how this type of research will advance management theory, and introduces the other articles in the special issue. Design/methodology/approach – Some of the foundational ideas of stakeholder theory are discussed, leading to arguments about the importance of the theory to management research, especially in an international context. Findings – Stakeholder theory is found to be a particularly useful perspective for addressing some of the important issues in business from an international perspective. It offers an opportunity to reinterpret a variety of concepts, models and phenomena across may different disciplines. Practical implications – The concepts explored in this article may be applied in many contexts, domestically and internationally, and across business disciplines as diverse as economics, public administration, finance, philosophy, marketing, law, and management. Originality/value – Research on stakeholder theory in an international context is both lacking and sorely needed. This article and the others in this special issue aim to help fill that void.
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Objective: The aim of this paper was to identify the strategies developed for internationalization in order to create value in the artisanal cachaça sector of Brazil. Design/methodology/approach: A multiple-case study was applied in two artisanal cachaçarias. we carried out in-depth, semi-structured interviews with different stakeholders involved in supporting internationalization of these companies. To select the stakeholders we used snowball sampling. The content of the interviews was categorized and analysed according to accepted theory. Findings: Our study provides an overview of the organization and structure of the cachaçarias and reveals how internationalization is adding value to this network from a multi-stakeholder view. The support of the multi-stakeholder network is in an early stage, but it offers a promising future, since there is a consumer market being developed. Political power is needed to regulate the industry. Practical implications: Business internationalization of the handmade cachaça sector is a challenge, as most companies are small and do not have adequate financial resources or proper knowledge regarding international markets. Regulatory stakeholders support the cachaçarias in standardizing production and developing international strategies. The results can help to better understand the importance of collaboration embedded in stakeholder network relationships. Originality/value: Empirical research on internationalization in developing countries, especially in small and mediums sized firms is still very limited. We have shown that companies can benefit from specific organization structures when developing relationships within multi-stakeholder networks.
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Multi-stakeholder initiatives (MSIs) have become a vital part of the organizational landscape for corporate social responsibility. Recent debates have explored whether these initiatives represent opportunities for the ''democratization'' of transnational corporations, facilitating civic participation in the extension of corporate responsibility, or whether they constitute new arenas for the expansion of corporate influence and the private cap-ture of regulatory power. In this article, we explore the political dynamics of these new governance initiatives by presenting an in-depth case study of an organization often heralded as a model MSI: the Forest Stewardship Council (FSC). An effort to address global deforestation in the wake of failed efforts to agree a multilateral convention on forests at the Rio Summit (UNCED) in 1992, the FSC was launched in 1993 as a non-state regulatory experiment: a transnational MSI, administering a global eco-labeling scheme for timber and forest products. We trace the scheme's evolution over the past two decades, showing that while the FSC has successfully facilitated multi-sectoral determination of new standards for forestry, it has never-theless failed to transform commercial forestry practices or stem the tide of tropical deforestation. Applying a neo-Gramscian analysis to the organizational evolution of the FSC, we examine how broader market forces and resource imbalances between non-governmental and market actors can serve to limit the effectiveness of MSIs in the current neo-liberal environment. This presents dilemmas for NGOs which can lead to their defection, ultimately undermining the organizational legitimacy of MSIs.
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In this article we offer a view that suggests that a firm's critical resources may span firm boundaries and may be embedded in interfirm resources and routines. We argue that an increasingly important unit of analysis for understanding competitive advan- tage is the relationship between firms and identify four potential sources of interor- ganizational competitive advantage: (1) relation-specific assets, (2) knowledge- sharing routines, (3) complementary resources/capabilities, and (4) effective governance. We examine each of these potential sources of rent in detail, identifying key subprocesses, and also discuss the isolating mechanisms that serve to preserve relational rents. Finally, we discuss how the relational view may offer normative prescriptions for firm-level strategies that contradict the prescriptions offered by those with a resource-based view or industry structure view. Scholars in the strategy field are concerned fundamentally with explaining differential firm performance (Rumelt, Schendel, & Teece, 1991). As strategy scholars have searched for sources of competitive advantage, two prominent views have emerged regarding the sources of super- normal returns. The first-the industry structure view-associated with Porter (1980), suggests that supernormal returns are primarily a func- tion of a firm's membership in an industry with favorable structural characteristics (e.g., rela- tive bargaining power, barriers to entry, and so on). Consequently, many researchers have fo- cused on the industry as the relevant unit of analysis. The second view-the resource-based view (RBV) of the firm-argues that differential firm performance is fundamentally due to firm heterogeneity rather than industry structure (Barney, 1991; Rumelt, 1984, 1991; Wernerfelt, 1984). Firms that are able to accumulate re- sources and capabilities that are rare, valuable, nonsubstitutable, and difficult to imitate will achieve a competitive advantage over compet-
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The issue of “conflict minerals” has received global attention and various attempts have been made to resolve this issue. This qualitative study explored the multi-stakeholder collaboration approach for addressing complex corporate social responsibility issues in global supply chains, using the case of the electronics industry. Perceived corporate motives and challenges to engaging in multi-stakeholder collaboration and dialogue were explored based on empirical data obtained through in-depth, semi-structured interviews with management representatives for three case companies. The main motives expressed for participating in multi-stakeholder collaboration by representatives of the case companies were primarily linked to the complex nature of the conflict minerals problem and the fact that a diverse set of stakeholders is needed to achieve solutions. However, this diversity of stakeholders and perspectives also poses challenges for the case companies. Overall, the findings emphasise the importance of a collective approach when addressing complex social responsibility issues that reach beyond traditional company boundaries.
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The most important land and water issues facing North America and the world - including land-use patterns, water management, biodiversity protection, and climate adaptation - require innovative governance arrangements. Most of these issues need to be addressed at several scales simultaneously, ranging from local to global. They require action at the scale of large landscapes given that the geographic scope of the issues often transcends the legal and geographic reach of existing jurisdictions and institutions. No single entity has the authority to address these types of cross-boundary issues, resulting in gaps in governance and a corresponding need to create formal and informal ways work more effectively across administrative boundaries, land ownerships, and political jurisdictions. In response to this challenge, numerous models of "network governance" are emerging. These approaches vary in terms of purpose, spatial scale, composition, organization, and complexity. This article explains what network governance is, why it is emerging, how it compares to other models of natural resource governance, and the different ways in which it develops and evolves.