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BIB, São Paulo, n. 83, 1/2017 (publicada em fevereiro de 2018), pp. 43-72. 43
As ciências sociais nos desastres: um campo de pesquisa em construção
Victor Marchezini1
Introdução
Há quase 20 anos, o número 46 da Revista
Brasileira de Informação Bibliográca (BIB)
trouxe para debate o artigo de Júlia Guivant
(1998) sobre a trajetória das análises de risco,
área que não era novidade nas ciências sociais,
mas ainda incipiente no contexto acadêmico
brasileiro. Parte do extenso trabalho de pes-
quisa bibliográca para tal estudo foi realizada
durante o pós-doutorado dessa cientista social.
Sem pretender esgotar a riqueza dos trabalhos
produzidos, tampouco se deter nos inúmeros
estudos de caso realizados, Guivant (1998) per-
correu essa trajetória enfatizando três momen-
tos: a década de 1960, quando a antropóloga
inglesa Mary Douglas e colegas formularam as
primeiras críticas da teoria cultural dos riscos à
abordagem técnica-quantitativa dos mesmos;
a década de 1980, quando estudos sobre ris-
cos conguraram-se em uma área de pesquisa
bastante pulverizada em temas e teorias, para-
lelamente à linha da teoria cultural dos riscos,
e em intersecção com as sociologias ambiental
e da ciência; as ideias e o debate acadêmico
1 Doutor e mestre em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia (PPGS) da Universidade Federal de
São Carlos (UFSCar). Bacharel em Ciências Sociais pela UFSCar e Licenciado em Ciências Sociais pela Faculdade
de Ciências e Letras (FCL) da Universidade Estadual Paulista (Unesp). É pesquisador no Centro Nacional de
Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e
Comunicações (MCTIC), sendo sua linha de pesquisa a Sociologia dos Desastres. É autor de Campos de desa
-
brigados e de Processos de recuperação em desastres, bem como um dos organizadores de Sociologia dos desastres:
construção, interfaces e perspectivas no Brasil. E-mail: victor.marchezini@cemaden.gov.br
2 Optou-se pela expressão “ciências sociais nos desastres” em vez de “estudos sociais nos desastres” (LAVELL, 2005)
para delimitar o grande universo de pesquisas sociais que têm sido realizadas por diferentes prossionais das ciências
humanas.
que se originaram a partir de Beck e Giddens
(1997), que projetaram o tema dos riscos ao
centro da teoria social.
Assim, decorridos quase vinte anos desse
mapeamento da trajetória de análise dos riscos,
traz-se para debate outra área incipiente no
contexto brasileiro: a dos estudos feitos pelas
ciências sociais nos desastres2. O interesse por
essa área advém de minha trajetória acadêmi-
ca, da graduação ao doutoramento, quando,
de 2004 a 2013, formei-me “sociólogo dos
desastres” pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas
Sociais em Desastres (Neped) da Universidade
Federal de São Carlos (Ufscar). Parte do traba-
lho de pesquisa bibliográca para este estudo
foi realizada durante esse percurso de forma-
ção e pesquisa, em que pude conhecer, por
meio da revisão do estado da arte, os contextos
de criação do campo de estudos sociais sobre
desastres e os principais conceitos e debates
do tema a partir da década de 1970 (FAAS;
BARRIOS, 2015; GILBERT, 1998; LAVELL,
2005; LINDELL, 2011; QUARANTELLI;
1998; RODRÍGUEZ; QUARANTELLI;
DYNES, 2007).
44
Embora a utilização de números e esta-
tísticas sobre desastres seja um campo de luta
pela representação da realidade, pelo modo
como os dados são utilizados para enquadrar
nossa compreensão sobre o que é um desas-
tre (DESROSIÈRES, 1998; KONDO et al.,
2011; MARCHEZINI, 2014d; VALENCIO,
2017; WISNER; GAILLARD, 2009), é im-
portante apresentá-los para que inspirem novos
estudos críticos por parte das ciências sociais
no Brasil.
Os desastres relacionados à água torna-
ram-se um problema estrutural no Brasil,
como se pouco mais de um quarto do total
dos municípios brasileiros fossem passíveis,
anualmente, de sofrer destruição ou dani-
cação severa na base territorial sob sua
jurisdição (VALENCIO, 2010a, 2012). Os
desastres relacionados ao colapso de barra-
gens também apresentam um histórico de
pelo menos oitocentas ocorrências de rom-
pimento de 2001 a 2011 (GONÇALVES;
MARCHEZINI; VALENCIO, 2012).
Alguns estudos técnicos registram a história
recente de desastres no Brasil, reportada a
partir de dados contabilizados por proce-
dimentos institucionais de classicação de
danos e prejuízos. Em relação ao desastre
de 2008 em Santa Catarina, por exemplo,
o Banco Mundial (2012a) contabilizou
mais de 150 mortos em deslizamentos e
inundações, sendo o total de perdas e danos
estimado em R$ 5.32 bilhões.
O desastre em Santa Catarina foi pre-
cedido pela catástrofe na região Serrana
do Rio de Janeiro, noticiada no início de
janeiro de 2011. Nesse contexto, o Banco
Mundial (2012b), com base em dados da
Defesa Civil, reportou mais de 905 mortes
e 300 desaparecidos, dados dissonantes dos
enunciados por associações de atingidos e
estudos cientícos, que relataram cerca de
10 mil pessoas entre mortos e desaparecidos
(PINHEIRO, 2014, 2015), além de outros
conitos sociais que ainda permanecem invi-
sibilizados (VARGAS, 2013). É importante
mencionar que não somente os dados so-
bre mortes em desastres no Brasil são con-
testáveis (CARMO; ANAZAWA, 2014),
como também a temporalidade do desas-
tre (MARCHEZINI, 2014b; VALENCIO,
2012), com o incremento de danos e perdas
que não são contabilizados ocialmente. Para
além de um “dia do desastre” (VALENCIO,
2012), alguns estudos das ciências sociais de-
monstraram que impactos socioeconômicos
e psicossociais prolongam-se a longo prazo,
de modo que as populações são lançadas ao
abandono social (MARCHEZINI, 2014c,
2015a; VALENCIO; MARCHEZINI;
SIENA, 2011). Este processo se reproduz,
de forma silenciada e sem visibilidade, em
muitos países latino-americanos que viven-
ciam desastres que se tornam catástrofes
(MARCHEZINI, 2014a) e têm nos múl-
tiplos impactos associados ao rompimento
da barragem de rejeitos na Bacia do Rio
Doce – ocorrido em novembro de 2015 –
o seu exemplo mais recente de catástrofe
em curso (CALDAS, 2017; MILANEZ;
LOSEKANN, 2016; ZHOURI et al., 2016).
Diante dos danos humanos e dos prejuí-
zos econômicos em desastres, organismos in-
ternacionais, centros de pesquisa e governos
têm buscado criar estratégias para reduzir
os riscos de desastres por acordos interna-
cionais não vinculantes, como o Marco de
Ação de Hyogo (2005 a 2015) e o Marco de
Sendai (2015 a 2030) (UNITED NATIONS
INTERNATIONAL STRATEGY FOR
DISASTER REDUCTION, 2005, 2015).
Entre as recomendações destes marcos de
ação está o envolvimento da comunidade
cientíca na realização de estudos e pesquisas
que deem subsídios às ações de redução do
risco de desastres. A participação das ciências
sociais tem sido alardeada nesses fóruns mul-
tilaterais, como a Plataforma Global para a
45
Redução de Risco de Desastres ocorrida em
maio de 2017 no México.
No contexto internacional, algumas
iniciativas de cientistas sociais têm ocor-
rido, como o desenvolvimento, a partir da
década de 1970, de uma série de estudos
promovidos pela sociologia dos desastres
norte-americana, com ênfase na análise do
papel das instituições e dos comportamentos
das pessoas durante a fase de prevenção,
preparação, resposta e reconstrução aos de-
sastres; por alguns estudos realizados pela
antropologia americana; pelo surgimento da
escola inglesa que, a partir de abordagens de
economia política, elaboram análises críticas
sobre modelos de desenvolvimento, causas
de fundo e pressões dinâmicas que criam
condições inseguras, tornando alguns gru-
pos mais vulneráveis que outros, não sendo
os desastres, portanto, naturais; ainda no
contexto latino-americano, pela criação,
em 1992, de La Red de Estudios Sociales
en Prevención de Desastres en América
Latina (La Red), com estudos históricos e
antropológicos sobre a construção social do
risco nos diferentes contextos da América
Latina e do Caribe (LAC). E no contexto
brasileiro, como esse campo de pesquisa
tem se desenvolvido no âmbito das ciências
sociais? À luz do debate internacional, este
artigo tem por objetivo analisar a trajetória
recente de pesquisas no tema por parte das
ciências sociais no Brasil, complementando
trabalhos anteriores que analisaram, de 2000
a 2013, essa dinâmica na ciência nacional
(RODRIGUES et al., 2015) e no âmbito
da antropologia (TADDEI, 2014).
Este artigo está estruturado em quatro
seções que buscam contextualizar e apontar
os principais debates dos estudos das ciências
sociais nos desastres. Inicialmente, elabora-
-se uma breve trajetória do envolvimento
das ciências sociais com o tema a partir da
década de 1970, realçando os principais
conceitos e abordagens da área. Em segui-
da, aborda-se a emergência do conceito de
vulnerabilidade no campo de estudos sobre
desastres e as transformações ocorridas. Na
terceira seção, o contexto brasileiro é aden-
trado a m de analisar o histórico de de-
sastres e a história recente do envolvimento
das ciências sociais com o tema. Longe de
analisar e incluir toda a trajetória e todos os
estudos de caso que têm sido pesquisados
no Brasil, busca-se analisar esse campo de
pesquisa em construção, identicando os
principais conceitos, teorias e temas que
perpassam as ciências sociais nos desastres.
Por m, nas considerações nais, lançam-se
alguns desaos para pesquisas no tema.
O desastre como tema de análise
cientíca
Em um artigo publicado na enciclopé-
dia eletrônica da Associação Internacional
de Sociologia (AIS) a respeito do desen-
volvimento dos Disaster Studies, Lindell
(2011) relata que os registros históricos e
literários sobre desastres remontam a cen-
tenas de anos, mas que os primeiros insights
sociocientícos foram dados pelo lóso-
fo Rousseau ao discorrer que os impactos
ocorridos no terremoto de Lisboa em 1775
teriam sido reduzidos se a cidade não fosse
densamente povoada.
No campo das ciências sociais, o pri-
meiro estudo sistemático sobre desastres
foi desenvolvido em 1917 pelo sociólogo
canadense Samuel Prince, a partir de um
desastre tecnológico que envolveu o choque
entre dois navios e ocasionou a explosão de
um suprimento de munição, deixando mais
de dez mil mortos e feridos, além de vinte e
cinco mil desabrigados em Halifax, Canadá.
Prince acompanhou a reconstrução da ci-
dade durante aproximadamente dois anos e
meio após as explosões e, embora seu foco
46
fosse o modo como as ações de reabilitação
foram desenvolvidas no pós-impacto, suas
descrições sobre os impactos e as formas de
resposta a eles permitiram apreender deta-
lhes das mudanças sociais que são ensejadas
nas catástrofes (DYNES; QUARANTELLI,
1993).
O esforço por compreender as relações
entre as calamidades e as mudanças sociais
também foi objeto de estudo do sociólogo
russo Pitirim A. Sorokin em 1942. No pre-
fácio de Man and Society in Calamity (1942),
o autor questiona: de que formas a fome,
a doença, a guerra e a revolução tendem a
modicar nossa mente e nossa conduta, nossa
organização social e vida cultural? Seu obje-
tivo não era fazer uma descrição detalhada
dos efeitos desta ou daquela calamidade em
especíco, mas buscar os efeitos típicos, as
principais regularidades manifestadas durante
as calamidades.
No âmbito da antropologia, Faas e
Barrios (2015) salientam que os primeiros
estudos foram realizados na década de 1950
por Cyril Belshaw e Felix Keesing, que ana-
lisaram a organização social e as formas de
adaptação do povo Orokaiva ao desastre ocor-
rido após a erupção do Monte Lamington em
Papua Nova Guiné. Esses dois trabalhos eram
predominantemente descritivos e realçavam
o papel da cultura, da personalidade e da
organização social na adaptação ao desastre.
Mas foi provavelmente Anthony Wallace, em
1956, o primeiro antropólogo a criar um
forte engajamento com o tema de desastres.
Seu interesse era com as mudanças de per-
sonalidade e de saúde mental decorrentes da
vivência com situações de estresse e como
mudanças culturais eram catalisadas por ca-
tástrofes. Em seu modelo analítico, conside-
rou desastres como processos que possuem
3 Em 1985, o DRC foi transferido para a Universidade de Delaware.
dimensões espaço-temporais, o que permitia
a análise comparativa com diversos casos de
estudo. Outro estudo na área foi realizado por
Raymond Firth, que pesquisou as respostas
dos Tikopian a dois ciclones e subsequente
período de fome (FAAS; BARRIOS, 2015).
Contudo, foi no contexto da Guerra Fria
que pesquisadores norte-americanos come-
çaram a produzir pesquisas recorrentes na
área de desastres, focando-se particularmente
em estudos perceptivos e comportamentais
nesses eventos críticos. O nanciamento go-
vernamental tinha como principal objetivo
levantar questões sobre como as comunidades
norte-americanas poderiam responder aos
ataques aéreos inimigos (QUARANTELLI,
1998). Uma das principais contribuições
desses cientistas sociais foi compreender os
desastres não como fenômenos eminentemen-
te naturais, mas como resultantes de relações
sociais, desfazendo-se do pré-conceito de
que todos entram em pânico diante de uma
ameaça natural. Uma importante publicação
da época foi o ensaio escrito em 1961 pelo so-
ciólogo Charles Fritz (1961) sobre a denição
de desastre como a vivência de um estresse
coletivo, que compôs uma coleção organizada
por Robert Merton e Robert Nisbet, intitu-
lada “Problemas Sociais Contemporâneos”.
Ainda nesse contexto histórico, por
iniciativa de sociólogos da Universidade de
Ohio, criou-se, em 1963, o primeiro cen-
tro de estudos na área, o Disaster Research
Center (DRC)3. Inicialmente, as atividades
de pesquisa do centro voltaram-se à análise
da atuação das organizações nos períodos de
emergência. Uma das primeiras publicações
foi Organized behavior in disaster (1970), em
que Russell Dynes identicou quatro usos
comuns do termo “desastre”: o primeiro com
enfoque na descrição das ameaças naturais,
47
tais como furacão, explosão, inundação; o
segundo como dano físico, em termos de
estruturas e pessoas atingidas; o terceiro
como uma disrupção social que cria uma
série de problemas para as comunidades
e nações; por m, o seu uso mais comum,
como avaliação negativa, descrevendo as
situações e as pessoas como confusas, más,
desafortunadas e quaisquer outras combi-
nações de avaliações possíveis.
A ocorrência de grandes desastres nesse
período induziu novas pesquisas no âmbito
da antropologia. Em 31 de maio de 1970,
um terremoto de magnitude 7.9 na escala
Richter ocorreu na costa do Peru provocan-
do reexos na região dos Andes. Os tremores
provocaram uma avalanche de 50 milhões
de metros cúbicos que atingiu a cidade de
Yungay, deixando apenas 300 sobreviventes
entre os 4.500 moradores que ali existiam.
Como consequência do terremoto, aproxi-
madamente 70 mil pessoas morreram nos
escombros. No mesmo ano do terremoto, o
jovem antropólogo Anthony Oliver-Smith
preparava-se para fazer sua pesquisa de dis-
sertação em Yungay a respeito da economia
política dos mercados. Com a destruição
da cidade, seu tema de estudo passou a ser
a reconstrução após o terremoto, com foco
no modo como as pessoas lidaram com as
perdas de parentes e amigos, como recons-
truíram essas dimensões da vida diante da
dramática transformação do meio social,
natural e construído (FAAS; BARRIOS,
2015; OLIVER-SMITH, 1994, 2012).
A necessidade de olhar para os desas-
tres em outros contextos, tais como o do
Peru, também foi uma das recomendações
do estudo de Dynes (1970). Segundo este
autor, os referenciais culturais norte-ame-
ricanos tendiam a reduzir as explicações
aos níveis individuais, isolados de qualquer
contexto social. Diante dessa necessidade, os
norte-americanos começaram a estabelecer
contatos com pesquisadores ingleses, fran-
ceses e alemães, bem como se utilizaram de
outras estratégias para aumentar o interesse
e as parcerias entre os pesquisadores de de-
sastres em outras partes do mundo. Assim,
foram organizados workshops de pesquisa
em mais de 25 países. Os referidos contatos
contribuíram para promover a criação, em
1986, de um comitê de pesquisa em desas-
tres na AIS, bem como a organização do
International Journal of Mass Emergencies and
Disasters (RODRÍGUEZ; QUARANTELLI;
DYNES, 2007).
Rodríguez, Quarantelli e Dynes (2007)
destacam que não só a abrangência inter-
nacional é uma característica cada vez mais
marcante do campo de estudo, como tam-
bém as pesquisas em desastres têm sido con-
duzidas por uma variedade de disciplinas
e áreas do conhecimento, como geograa,
psicologia, economia, ciência política, co-
municação, administração pública, antropo-
logia, meteorologia, engenharias etc. Nesse
meio, duas tradições de pesquisa merecem
especial destaque: a pesquisa em natural
hazards (ameaças naturais) e a tradição que
se tem desenvolvido recentemente na análise
de risco.
A abordagem dos natural hazards ge-
ralmente utiliza a perspectiva da ecologia
humana, que lida com a interação entre
fatores humanos e não humanos em relação
ao risco. Gilbert White é creditado como
o expoente dessa abordagem com sua dis-
sertação sobre as adaptações humanas às
inundações, publicada em 1942. Segundo
Mattedi e Butzke (2001), em sua concep-
ção original, hazards eram descritos como
efeitos de processos geofísicos prejudiciais
às pessoas e causados por forças externas,
de modo que as pessoas impactadas eram
identicadas como vítimas desafortunadas
que possuíam baixa capacidade de reação
diante do fenômeno, ou seja, de adaptação.
48
Entretanto, a partir da década de 1970,
desastres passaram a ser compreendidos
como produtos da interação entre forças fí-
sicas e humanas cuja combinação determina
a signicância e o impacto do evento. Nesse
deslocamento para os fatores sociais, houve
enquadramento metodológico que passou
a focar os fatores que determinam o ajusta-
mento humano. Isto é, tal como os estudos
que nanciavam como as pessoas reagiam
em ataques aéreos repentinos, uma série
de modelos foi desenvolvida para analisar
a percepção das pessoas perante os hazards
e seus comportamentos antes, durante e
depois da ocorrência do evento. Entre esses
modelos, surge o modelo behaviorista, que
procura caracterizar, a partir da aplicação de
questionários e surveys com pessoas situadas
em áreas de risco, as percepções dos ambien-
tes e os tipos de comportamento, tendência
também identicada por Guivant (1998) na
análise da trajetória sobre estudos de risco.
Foi também no contexto das décadas
de 1970 e 1980 que a América Latina e o
Caribe registraram vários desastres cujas
ações de resposta e reconstrução foram,
segundo Lavell (2005), objeto de estudo
de cientistas sociais norte-americanos.
Nesse período, alguns cientistas sociais
latino-americanos também realizaram es-
tudos no tema, como antropólogos(as)
do Centro de Investigaciones y Estudios
Superiores en Antropología Social (Ciesas)
da Universidade Autônoma do México, tido
como referência na área de antropologia dos
desastres (TADDEI, 2014). Diversos estu-
dos e coletâneas foram organizados pela an-
tropóloga mexicana Virginia García Acosta,
com abordagens críticas sobre a construção
sócio-histórica dos riscos de desastres na
América Latina (ACOSTA, 1996, 1997,
2008). Essas coletâneas foram resultado
de trabalhos promovidos no âmbito de La
Red, que também organizou, de 1993 a
1998, a revista semestral intitulada Desastres
y Sociedad, com perspectivas críticas sobre a
abordagem da sociologia americana, histori-
camente centrada na análise comportamen-
tal e/ou institucional das ações de resposta e
reconstrução em desastres (LAVELL, 2005).
Também em contraposição à escola
americana e debruçando-se sobre a proble-
mática associada aos modelos de desenvol-
vimento, às secas e à pobreza em regiões da
África e da Ásia, cientistas ingleses desen-
volveram uma abordagem crítica em relação
aos desastres ditos “naturais” (O’KEEFE;
WESTGATE; WISNER, 1976), buscando
as causas de fundo e as pressões dinâmicas
que criam condições inseguras e tornam as
pessoas vulneráveis a vivenciar desastres.
Como veremos na seção seguinte, há um
longo debate sobre os conceitos de desastre
e de vulnerabilidade que as ciências sociais
no Brasil precisam reetir à luz dos desastres
que aqui ocorreram.
Tal como reportado há quase vinte anos
por Guivant (1998), nos últimos anos tem-se
impulsionado uma abordagem centrada na
análise de risco, que é fruto de várias disci-
plinas preocupadas com a identicação, me-
dição e avaliação do risco (RODRÍGUEZ;
QUARANTELLI; DYNES, 2007). A emer-
gência das discussões da teoria da sociedade
de risco, representada principalmente por
Beck (1997) e Giddens (1991), ensejou que
se começasse a romper “o pressuposto recor-
rente na literatura sobre perigos e desastres
de que haveria uma ‘vida normal’, um sta-
tus quo de normalidade” (MARANDOLA
JUNIOR; HOGAN, 2006, p. 34).
O conceito de sociedade de risco carac-
teriza uma fase no desenvolvimento da socie-
dade moderna cujos riscos sociais, políticos,
econômicos e individuais tendem, cada vez
mais, a se proliferar e escapar das instituições
responsáveis pelo controle e proteção da socie-
dade industrial (BECK,1997). Haveria duas
49
fases que distinguiriam esse novo contexto: um
estágio em que os riscos são residuais, ou seja,
os efeitos e as autoameaças são produzidos, mas
não se tornam centros de conitos públicos;
um segundo estágio em que os perigos da so-
ciedade industrial, produzidos e reconhecidos
enquanto tais pelas instituições, dominam os
debates, e os conitos em torno deles não são
só públicos como privados.
A generalização do observado no con-
texto europeu e a não consideração do que
ocorre em outras sociedades fora desse
eixo é uma das críticas empreendidas por
Bruseke (1997), Guivant (1998) e Costa
(2004), sobretudo quando Beck (1986 apud
BRUSEKE, 1997, p. 118) considera que
“ainda não vivemos em uma sociedade de
risco, mas também, não vivemos mais em
uma sociedade de escassez caracterizada por
conitos de distribuição”. Ao modular a es-
cassez de outra maneira, isto é, não por con-
itos de distribuição estruturalmente dados,
mas do ponto de vista da imponderabilidade
e imprevisibilidade de eventos, Beck enseja
que se pense num modo de prevenir perdas
e prejuízos causados pelos imponderáveis,
por meio da securitarização e monetarização,
estratégias que são o avesso do que se cons-
titui como um direito: o direito a ter uma
moradia em local seguro; o direito a receber
socorro, alimentação e abrigo num cenário
de desastre. Conitos de distribuição são
os que mais ocorrem em sociedades como a
brasileira, marcada pela desigualdade social
e injustiça ambiental (ACSELRAD, 2002,
2010; ACSELRAD et al., 2008).
Ainda na discussão sobre riscos, Giddens
(1991) considera que o processo de moderni-
zação fez que eles deixassem de ser acidentais
4 Os sistemas peritos constituem-se como “sistemas de excelência técnica ou competência prossional que organizam
grandes áreas do ambiente material e social” (GIDDENS, 1991, p. 36).
5 Para uma análise da trajetória da abordagem construcionista, vide Guivant (1998).
para se tornarem parte constitutiva da própria
modernidade, ou seja, riscos são produzidos
socialmente a partir da incisiva intervenção
humana sobre o meio. Estes são ocasionados
pelo próprio desenvolvimento cientíco e
tecnológico e sua especicidade estaria no
fato de a estimação ser um exercício cons-
tante, tanto de leigos quanto de peritos
4
.
Entretanto, tanto Giddens quanto Beck são
criticados por não incorporarem a diversidade
social envolvida nos processos discursivos,
sociais e políticos de “construção” dos riscos.
Conforme salienta Acselrad (2002, p. 4), não
há qualquer referência aos diferentes “modos
pelos quais os atores sociais evocam a noção
de risco, nem às dinâmicas da acumulação
que subordinam as escolhas técnicas, nem
tampouco ao trabalho de construção dis-
cursiva de que depende a conguração das
alianças no âmbito das lutas sociais”.
Ao confrontar as explicações técnicas
sobre os riscos, a abordagem construcionista
analisa-os no campo do debate político e
moral, uma vez que eles são vinculados às
escolhas de nossas instituições e ao modo
que queremos viver, são considerados se-
gundo o papel que possam ter nas diferen-
tes sociedades e culturas ao longo do tempo
(DOUGLAS; WILDAVSKY, 1982). Essa
orientação construtivista desenvolveu-se prin-
cipalmente a partir de 1980 e contribuiu
para a revitalização teórica dos estudos sobre
riscos – como por meio do debate sobre a
aceitabilidade dos riscos –, bem como dos
métodos cientícos empregados5.
Cada vez mais, a temática do risco passa
a ser incorporada em vários campos discipli-
nares, tanto na economia quanto na medi-
cina, passando pelas ciências sociais e pelos
50
estudos ambientais. No campo da aborda-
gem médica, por exemplo, a temática do
risco tem sido utilizada como precaução
para o controle de doenças, como as trans-
missíveis: os comportamentos passam a ser
classicados numa escala de maior ou menor
risco, criando-se, assim, “grupos de risco”
e “condutas de risco”. Implicitamente, há
tendência “de emprestar à noção de risco uma
conotação moral, em que se responsabilizam os
indivíduos pelas ‘opções’ assumidas em termos
de atitudes e comportamentos, classicados
como ‘perigosos’” (CARDOSO, 2006, p. 27).
Nesse processo, está presente a possibilidade de
estigmatização dos grupos sociais (VALENCIO;
MARCHEZINI; SIENA, 2009).
O campo de estudos sobre desastres
está envolto nessa imbricação de disputas
técnico-cientícas cujos conceitos e abor-
dagens diversas acabam sendo incorpora-
das pelas agências governamentais em seus
discursos e práticas no cenário de desastre
(DOMBROWSKY, 1998; MARCHEZINI,
2015a; VALENCIO, 2017). De um lado, a
tradicional abordagem dos natural hazards
que, ao enfocar parâmetros físicos de eventos
naturais que ameaçam a sociedade, delegam
a iniciativa de uma calamidade à natureza,
concebendo os desastres como um mundo à
parte, como uma desordem introduzindo-se
na “ordem” (HEWITT, 1983). De outro
lado, a abordagem da análise de risco que
enseja práticas preventivas e de mitigação,
mas que tem sido dominada por discursos
que valorizam abordagens quantitativas e
técnicas de mapeamento de risco como prá-
ticas de prevenção. Permanecem à margem
abordagens que buscam o campo dos sujeitos,
concebendo a natureza dos desastres no plano
da organização social, compreendendo-os
como um processo ligado à vulnerabilidade
social e aos modelos de desenvolvimento,
cujas causas devem ser explicadas como
problemas estruturais, devendo, portanto,
ser contextualizadas. Isto é, abordagens que
propõem questões críticas de pesquisa perante
desastres vivenciados no contexto brasileiro.
Como discorre Valencio (2017, p. 5), é pre-
ciso indagar-se: “como as coisas chegaram
a esse ponto? Qual é o processo social que
sujeita uma coletividade a tal vivência radical
de destituições?”.
A possibilidade de debater sobre essas
questões envolve campos de poder entre su-
jeitos com diferentes gradações de capital
econômico, político, cientíco etc. para se
fazer ouvir na luta pela imposição da visão
legítima do mundo social (BOURDIEU,
2004), isto é, de produzir suas verdades
sobre o desastre (MARCHEZINI, 2014d;
VALENCIO, 2015). Para Valencio (2017,
p.14), a construção interpretativa em torno
dos desastres no Brasil se baliza pelo escamo-
tear das injustiças ambientais e se “coaduna
com a mentalidade higienista das elites po-
líticas e econômicas, nas diferentes escalas
geográcas e de poder em que essas atuam
no controle da riqueza e do território”. Para
a referida autora, tem-se delineado e consoli-
dado uma nova arquitetura de poder, em que
atores do meio político, técnico, cientíco
e humanitário passam a constituir “redes de
poder orientadas para produzir e difundir um
tipo de pensamento normativo simplicador”
e harmonioso sobre a redução de riscos de
desastres (RDD), que nega a existência de
conitos sociais (VALENCIO, 2017, p.14-
15). Com essa simplicação dos processos
sociais suscita-se menos reexão pública sobre
o assunto, sobretudo no que se refere aos
processos sociais que tornam alguns mais
vulneráveis a desastres do que outros.
Ciências sociais, desastres e o
paradigma da vulnerabilidade
O termo “vulnerabilidade” deri-
va da palavra latina “vulnerabilis”, que
51
significa “ferir-se” (KUMAR-JHA, 2010).
Simplificadamente, o termo pode ser enten
-
dido como estar propenso ou suscetível a
danos ou prejuízos (ROMERO; MASKREY,
1993). O conceito assume significados di-
ferenciados para as várias agências e orga-
nizações e pode ser conceituado de dife-
rentes modos (PHILLIPS; FORDHAM,
2010). Wisner (2016) realizou uma longa
revisão da literatura internacional sobre
vulnerabilidade a desastres, identificando as
principais definições, métodos, abordagens
e formas de utilização do conceito pelos
diferentes atores que estão envolvidos nesse
campo de poder. No contexto brasileiro,
diversos estudos se dedicaram à revisão
da literatura nacional (MARANDOLA
JUNIOR; HOGAN, 2006; MARTINS;
TAVANTI, SPINK, 2016; VALENCIO,
2012; VALENCIO et al., 2006). Longe
de refazer todo esse percurso, para os pro-
pósitos de artigo é importante mencionar
algumas abordagens sobre o conceito de
vulnerabilidade que influenciam no modo
como se passa a conceituar o que são os
desastres. A sociologia americana tende a
compreender a vulnerabilidade como um
dado e não como um processo de construção
social que se altera no tempo e no espaço.
Isso implica duas principais formas de se
abordar o conceito de desastre: como evento
ou como processo.
Inicialmente, o campo de estudos so-
bre desastres não utilizava o conceito de
vulnerabilidade. Gilbert (1998) retrata que
o paradigma do desastre como expressão
social da vulnerabilidade começa a ganhar
corpo a partir de 1970, quando cientis-
tas sociais passam a criticar a vinculação
mecânica entre um hazard e o preceito de
que todos entram em pânico diante dele.
Nesse campo de estudos, existem quatro
principais abordagens em relação ao con-
ceito de vulnerabilidade (WISNER, 2001).
A primeira abordagem, inspirada por uma
ótica da engenharia, caracteriza-se pelo en-
foque direcionado ao potencial de dano ou
perda: os seres humanos são considerados
como um entre os vários elementos em graus
diferentes de situação de risco. Os riscos pre-
vistos assumem determinadas características,
tal como os elementos em risco possuem
diferentes graus de potencial de danos ou
perda. Nessa abordagem, a vulnerabilidade
social dos grupos de pessoas é ofuscada.
A segunda abordagem inclui tendências
que se referem à vulnerabilidade de grupos
sociais e está preocupada com as causas da
vulnerabilidade social. A partir de obser-
vações empíricas observa-se que, diante de
um mesmo evento, diversos grupos de seres
humanos sofrem diferentes graus de perdas,
bem como experimentam distintas grada-
ções de dificuldade, sucesso ou fracasso no
processo de recuperação. Dessa forma, a
abordagem empreende novas tipificações
dentro do conceito de vulnerabilidade –
tais como social, econômica, ambiental,
informacional etc. –, e incorpora novas
taxonomias com base nos resultados das
pesquisas empíricas, passando a considerar,
por exemplo, a vulnerabilidade de mulheres,
crianças, idosos, pessoas com deficiência,
minorias étnicas, raciais, religiosas, imi-
grantes ilegais etc.
Wisner (2001) considera que essa abor-
dagem taxonômica é um grande avanço
sobre o uso convencional do termo “vulne-
rável”, que lança uma rede de forma indife-
renciada sobre as coisas, sistemas e pessoas.
A partir da análise do contexto latino-ame-
ricano, Wilches-Chaux (1993) propôs um
modelo analítico para refletir sobre as dife-
rentes dimensões das vulnerabilidades que se
inter-relacionam, identificando onze tipos:
natural, física, econômica, social, política,
tecnológica, ideológica, cultural, educacio-
nal, ecológica e institucional (Quadro1).
52
Quadro 1 – Dimensões da vulnerabilidade
Dimensões da
vulnerabilidade Denição
Natural Intrínseca aos próprios limites ambientais da vida.
Física Localização em zonas suscetíveis a ameaças e/ou deciência das estruturas físicas para absorver
os impactos.
Econômica Dependência econômica, ausência de investimento, falta de diversicação da base econômica,
desigualdade social, pobreza.
Social Baixo grau de organização e coesão interna para prevenir, mitigar e responder a situações de
desastre.
Política Alto grau de centralização na tomada de decisão e na organização governamental.
Tecnológica Inadequadas técnicas de construção de edifícios e de infraestrutura.
Ideológica Relacionada às representações sobre o mundo e sobre o meio-ambiente, sendo que
passividade e fatalismo são identicados como exemplos.
Cultural Expressa na forma como indivíduos se veem, como os meios de comunicação veiculam
imagens estereotipadas sobre o meio ambiente e os desastres.
Educacional Ausência de programas de educação no tema e grau de preparação da população para
enfrentar situações de desastre.
Ecológica Relacionada à perspectiva adotada pelos modelos de desenvolvimento em relação ao meio
ambiente.
Institucional
Reetida na obsolescência e rigidez das instituições, na prevalência de decisões políticas sobre
critérios técnico-cientícos, no predomínio de critérios personalistas na tomada de decisão
etc.
Fonte: Elaboração própria com base em Wilches-Chaux (1993) e Lavell (1993).
Essas dimensões da vulnerabilidade
têm gerado debates no âmbito das ciências
humanas e sociais. Em relação à vulnerabili-
dade institucional, a prevalência de decisões
políticas sobre critérios técnico-cientícos
traz como indagação de “qual ciência está
se falando?” (VALENCIO, 2017), pois não
é possível “ver a natureza de forma neu-
tra através do conhecimento cientíco”
(GUIVANT, 1998, p.6). As ações relacio-
nadas à vulnerabilidade educacional também
são questionadas, uma vez que podem exis-
tir programas educativos para a preparação
diante desastres e, em um mesmo contexto,
os projetos de desenvolvimento não men-
surarem os processos de vulnerabilização
que podem ser induzidos pela construção
de empreendimentos, como pressão sobre
áreas de proteção ambiental, aterramento de
manguezais, impermeabilização excessiva do
solo, impactos sobre a drenagem urbana etc.
Nessa disjunção, construímos socialmente
os riscos para depois desenvolver pedagogias
voltadas a ensinar a como conviver com
eles e mitigá-los (MARCHEZINI, 2015b).
Outro amplo debate se refere à dimensão
cultural, com diversas críticas, por exemplo,
ao modo como as instituições se apropriam
do conceito de cultura em seus discursos e
práticas (BENADUSI, 2014).
O terceiro tipo de abordagem vai além das
taxonomias e centra-se na análise situacional.
O ponto central não é o tipo de grupo a que
uma pessoa ou família pertence, mas a natu-
reza de sua vida cotidiana, as contingências
que enfrenta. A vulnerabilidade social não é
propriedade permanente de uma pessoa ou
grupo, mas as mudanças – diárias, sazonais
ou anuais – em relação ao acesso aos recursos
e poder.
53
A quarta abordagem é bem diferente das
demais, uma vez que as comunidades e os
grupos se apropriam do conceito de vulnera-
bilidade para investigar sua própria exposição
a perdas e danos, elaborando-se mapas, in-
ventários, calendários sazonais e cronologia de
desastres: o conceito se torna uma ferramenta
na luta por recursos que são alocados politi-
camente. Para Wisner (2001), apesar da di-
culdade em “falar por” outros seres humanos,
muitos dos trabalhos em vulnerabilidade social
tentam romper com os discursos do desastre,
fornecendo espaço para alternativas, histórias
e vozes subalternas. Esses estudos utilizam o
conceito de vulnerabilidade como ferramenta
para o empoderamento e o autoconhecimento.
Contudo, o que precisa ser pesquisado é a forma
como grupos de pessoas podem ser motivados a
redescobrir seu próprio conhecimento local ou
a gerá-lo em um ambiente cultural em que são
chamados pela sociedade como “ignorantes”,
“supersticiosos”, “incapazes”, “sem percepção
de risco” etc. Outros processos em destaque
são a vitimização das pessoas vulneráveis a
eventos naturais extremos e mesmo o ato de
“culpar a vítima” pela destruição ambiental que
é precursora de ocorrências de inundações e
deslizamentos (SIENA, 2006).
A partir da década de 1980, estar em risco
passou a ser visto não somente como uma
questão de estar no lugar errado e na hora
errada. Isto é, a vulnerabilidade não era algo
dado, mas resultado de processos sociais que
criam condições inseguras. Os sistemas sociais
geram condições diferenciadas de exposição ao
risco, tornando certas pessoas mais propensas
a desastres que outras. É a partir de uma visão
processual e de estudos críticos sobre modelos
de desenvolvimento que cientistas ingleses
desenvolvem uma abordagem crítica acerca
6 Para um exemplo dessa análise das causas de fundo da vulnerabilidade no contexto haitiano, pré e pós-terremoto
de 2010, vide Oliver-Smith et al. (2017). Para exemplos no contexto brasileiro, vide Marchezini e Wisner (2017).
dos desastres ditos “naturais” (O’KEEFE;
WESTGATE; WISNER, 1976), debruçan-
do-se sobre casos de desastres para identicar
as causas de fundo/básicas da vulnerabilidade
e as pressões dinâmicas – inclusive oriundas
da dinâmica global – que tendem a acentuar
a criação de condições inseguras que levam a
desastres (WISNER et al., 2004). A partir de
diferentes casos de estudos em regiões da África
e da Ásia, elaboraram-se várias tipologias sobre
essas causas de fundo/básicas da vulnerabilida
-
de associadas a: estrutura social e econômica,
na forma como se dá a distribuição de poder,
riqueza e recursos; ideologias existentes, como
o nacionalismo, militarismo, neoliberalismo,
consumismo etc.; aspectos históricos e cultu-
rais, por exemplo, a herança colonial e pós-co-
lonial, as fragilidades decorrentes da guerra e
do pós-guerra, as formas como as tradições,
religiões e crenças concebem a ideia de desas-
tres, entre outros aspectos
6
. Além dessas causas
básicas, as pressões dinâmicas, geralmente
associadas a ciclos econômicos, contribuem
para criar e intensicar as condições insegu-
ras que tornam as pessoas vulneráveis. Entre
essas pressões dinâmicas, incluem-se rápida
urbanização, desmatamento, utuações dos
preços de commodities, atividades de minera-
ção, especulação imobiliária, dívida externa,
corrupção, falta de governança, falta de liber-
dade de imprensa etc. As condições inseguras
que decorrem dessas causas básicas e das pres-
sões dinâmicas são expressas por condições de
saúde frágeis, falta de acesso à terra arável e à
água, falta de acesso à moradia segura, falta de
serviços de saneamento básico e outros serviços
sociais, infraestruturas mal construídas e/ou
localizadas em áreas suscetíveis a inundações,
deslizamentos e outros perigos socioambientais
(WISNER et al., 2004).
54
Muitas das causas básicas da vulnerabilida-
de e das pressões dinâmicas que a intensicam se
aplicam à realidade de desastres vivenciados no
país, como o ocorrido durante as inundações de
2009 em Manaus e na Região Serrana do Rio de
Janeiro em 2011 (MARCHEZINI; WISNER,
2017). Na realidade de grande parte dos mu-
nicípios brasileiros, a injustiça ambiental e os
riscos cotidianos expressam-se na superposição
espacial de problemas sociais e ambientais, que
revelam a coexistência dos piores indicadores
socioeconômicos com a exposição a inunda-
ções e deslizamentos de terra, bem como um
ambiente intensamente poluído e serviços so-
ciais (quando existem) extremamente precários.
Assim, compõem-se as chamadas “hiperpe-
riferias” (ALVES; TORRES, 2006), onde se
convive com situações de extrema pauperização,
péssimas condições sociais e exposição cumu-
lativa a diversos tipos de risco. Tais condições
de exposição e de vulnerabilidade a desastres
não decorrem de fenômenos naturais, mas de
processos de vulnerabilização (ACSELRAD,
2006a), ou seja, de processos sociais, históricos e
territorialmente circunscritos cujas práticas eco-
nômicas e políticos-institucionais concorrem
para tornar vulneráveis determinados grupos
sociais, ou seja, vulnerabilizá-los (VALENCIO;
MARCHEZINI; SIENA, 2009).
Os mecanismos de produção dessa vul-
nerabilidade e “exposição desproporcional
dos socialmente mais desprovidos aos riscos
das redes técnico-produtivas da riqueza ou
sua despossessão ambiental pela concentração
dos benefícios do desenvolvimento em poucas
mãos” (ACSELRAD, 2010, p.109) se ma-
nifestam sob a forma de proteção ambiental
desigual, como também pelo acesso desigual
7 Para a denição de aglomerado subnormal, vide Instituto Brasileiro de Geograa e Estatística (2013).
8 A aclividade/declividade moderada foi classicada entre 5% (2,9 graus) e 30% (16,7 graus) de inclinação. A
aclividade/declividade acentuada como igual ou superior a 30% (16,7 graus) de inclinação (Instituto Brasileiro
de Geograa e Estatística, 2013).
aos recursos ambientais (ACSELRAD et al.,
2008). Assim, quando a implementação de
políticas ambientais e/ou sua omissão diante
das forças de mercado gera(m) riscos ambientais
desproporcionais aos agentes com menor capital
econômico e político, pode-se dizer que a pro-
teção ambiental é desigual. Essa desigualdade
também se expressa no acesso aos recursos am-
bientais. Os mais ricos têm condições de escapar
dos riscos ambientais residindo em áreas mais
protegidas, cujo solo tem mais valor. Aos mais
pobres, restam condições ambientais de existên-
cia mais degradadas, por um duplo mecanismo
(ACSELRAD et al., 2008). Nesse duplo meca-
nismo, as fontes de risco ambiental e de grande
impacto ecológico, bem como as populações de
menor renda, são empurradas para áreas com
menos infraestrutura e desprovidas de interesse
e possibilidade de exploração econômica pelo
capital imobiliário como, de modo geral, as
encostas, os mananciais e as áreas de proteção
ambiental (ACSELRAD, 2006b). Os municí-
pios de Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro,
por exemplo, somam mais de um milhão de do-
micílios situados em aglomerados subnormais
7
,
sendo que mais de 630 mil destes (59,66% do
total) estão em áreas com aclividade/declividade
moderada e alta
8
(INSTITUTO BRASILEIRO
DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2013;
CARMO, 2014).
Desde a adoção do paradigma do desas-
tre como expressão social da vulnerabilidade,
muitas pesquisas foram realizadas nesse campo
de estudo em diversos países do mundo, entre-
tanto, Drabek (1986) salienta que um número
baixo de pesquisadores lidou com a denição do
que seria um desastre. Para Quarantelli (1998),
a falta de consenso sobre o conceito de desastre
55
impediria o avanço no debate cientíco, posto
que haveria ênfase nas discussões de estudos
de casos de desastres em detrimento de um
aprimoramento teórico para a compreensão
dos fenômenos como um todo. Em outras
palavras, haveria muita pesquisa empírica e
pouca reexão teórica. Longe de defender
uma visão hegemônica sobre o termo, seria
necessário, segundo o autor, um consenso
mínimo, posto que o conceito é um referente
central para a área de estudo.
Ao empreender uma retrospectiva das
contribuições cientícas da coletânea What
is a disaster? Perspectives on the question
(QUARANTELLI, 1998), Perry (2005)
identicou alguns signicados comuns em
relação ao que seria um desastre: eventos so-
ciais ocorridos em tempos sociais, que são
disruptivos porque rompem as rotinas e que
devem ser entendidos em um contexto de
mudança. Esses signicados comuns podem
ser resumidos em duas ideias: desastres são
inerentemente um fenômeno social e desas-
tres são fundamentalmente moldados pela
estrutura social e reflexo de processos de
mudança, ou seja, estão para além dos ele-
mentos e dimensões naturais e, portanto, não
seriam desastres “naturais” (MARCHEZINI,
2009; O’KEEFE; WESTGATE; WISNER,
1976; OLIVER-SMITH et al., 2016, 2017;
ROMERO; MASKREY, 1993; VALENCIO,
2012; WISNER et al., 2004).
Diferentemente de Quarantelli (1998),
Kroll-Smith e Gunter (1998) defendem a
necessidade de um dissenso a respeito da de-
nição do que seria um desastre, uma vez
que seria impossível reduzir um estado de
desordem às denições cientícas. Para esses
autores, cada vez mais se tem dados sobre os
desastres e cada vez menos certeza sobre o
que são. Questionar-se sobre o que é desastre
implicaria acompanhar o debate do que é a
sociologia, isto é, os dois debates não poderiam
ser dissociados. Ainda, deveria se interrogar
“como é (ou foi) o desastre”, valorizando uma
dimensão interpretativa acerca do tema, pois
muitas das denições elaboradas pelas insti-
tuições de emergência foram construídas sem
considerar as experiências daqueles que viven-
ciaram o desastre em outros pontos de vista.
Dombrowsky (1998) também critica as
denições organizacionais construídas pelas
instituições atuantes em cenários de emer-
gências. Ao analisar conceituações de desastre
no interior das diferentes instituições, tais
como a Cruz Vermelha, algumas empresas
de seguro, instituições de emergência, gover-
nos etc., o autor considera que muitos dos
que denem o que é desastre, na verdade,
acabam declarando aquilo que pretendem
fazer em relação a um processo social chamado
desastre. As organizações denem o desastre
dentro de um mecanismo solução-problema
que visa sua autopreservação. Nesse caso, os
elementos que deniriam o que é desastre
não são orientados a partir dos problemas
apresentados pelas vítimas, mas pelas soluções
que as instituições possuem para lidar com
ele. Entretanto, como as ciências sociais têm
debatido esse tema no Brasil?
Desastres e as ciências sociais no
Brasil
Com o objetivo de mapear, entre os anos
de 2000 e 2013, os grupos de pesquisa que
trabalham com o tema de desastres e que es-
tão cadastrados no Diretório dos Grupos de
Pesquisa (DGP) do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq), Rodrigues et al. (2015) identica-
ram 17 grupos, a maioria (12) constituída a
partir de 2008, ano em que o desastre no Vale
do Itajaí (SC) teve grande repercussão nacional
(MARCHEZINI, 2014d). O mapeamento re-
velou predominância das áreas das geociências
(41%) e engenharias (29%). Também foram
encontrados “outros 36 grupos de pesquisa, de 15
56
diferentes áreas de conhecimento, que, embora
não possuam o termo ‘desastre’ no nome do
grupo, utilizam-no para identicar uma linha de
pesquisa”. Desse conjunto, 7 (19%) pertencem
à área das engenharias e 10 (28%) de geociên-
cias (RODRIGUES et al., 2015, p. 64). Para
além desses números e estatísticas, é importante
desenvolver novas pesquisas que considerem o
campo de poder que se estrutura entre essas
ciências, os discursos veiculados, os conceitos e
as abordagens – aspectos que já foram colocados
em debate (VALENCIO, 2015, 2017).
Em relação à pesquisa sobre as teses e disser-
tações disponibilizadas no banco de teses e dis-
sertações da Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior (Capes), no por-
tal Domínio Público e na Biblioteca Digital
Brasileira de Teses e Dissertações, embora as
autoras não tenham xado um marco temporal
inicial para o levantamento, as teses identi-
cadas são posteriores ao ano 2000. Apesar
de identicarem uma série de problemas em
relação à temporalidade dos registros nessas
bases de dados, foram identicados, ao todo,
90 trabalhos, sendo 16 (18%) teses de douto-
rado e 74 (82%) dissertações de mestrado. A
análise do levantamento também revelou “que
a produção anual de teses e dissertações começa
a ser mais expressiva a partir de 2008, sendo
que o número de trabalhos defendidos entre
2008 e 2013 representa 92% (83) do total”
(RODRIGUES et al., 2015, p.68) – período
em que o Brasil vivenciou desastres que ganha-
ram repercussão nacional, como a catástrofe
da Região Serrana do Rio de Janeiro. Desse
conjunto de 90 teses e dissertações, sociologia,
antropologia e ciência política são responsáveis
por 9 trabalhos (10%). É importante considerar
que, muitas vezes, algumas teses e dissertações
podem ter sido vinculadas a determinadas áreas
de conhecimento por razões institucionais (por
exemplo, nas ciências ambientais), embora seu
conteúdo possa estar associado à outra área do
conhecimento, como a antropologia.
Ainda é preciso considerar que algumas
áreas do conhecimento podem conferir pouca
importância cientíca ao tema. Bourdieu et al.
(2007, p. 41), ao discorrer sobre a prossão do
sociólogo, armam que muitos “[…] deixam
de apresentar [problemas] porque a tradição
prossional não os reconhece como dignos de
serem levados em consideração”. Sobre esse
aspecto, Taddei (2014) atentou para a ausência
do tema de desastres na produção antropológica
brasileira. Ao realizar, em novembro de 2013,
uma breve análise dos 7 periódicos mais bem
avaliados na antropologia em língua portugue-
sa ou editados no Brasil (qualicação A1 na
Capes), o autor aponta que, de um universo de
mais de 1.300 artigos, foram obtidos apenas 14
estudos no tema (cerca de 1% do total). Dos
14 resultados encontrados, 13 estão ligados ao
conceito de risco e um ao de mudança climá-
tica. O autor ressalva que apesar do “método
utilizado não ser apropriado para caracterizar
todo o campo da antropologia no Brasil, ele tem,
pelo menos, a virtude de focar nos periódicos
que possuem a capacidade de denir tendên-
cias na comunidade antropológica brasileira”
(TADDEI, 2014, p.31). Ao buscar hipóteses
explicativas para tal fenômeno, salienta a forma
como se deu a institucionalização da antro-
pologia brasileira e o modo como conceitos
teóricos fundacionais das ciências sociais re-
duzem a saliência de fenômenos considerados
extraordinários. Entretanto, o autor considera
que, nos últimos dez anos, tem havido um
processo de reversão dessa ausência do tema de
desastres na antropologia brasileira, em razão
de três principais fatores: a grande visibilidade
de desastres ocorridos na região Sudeste do
Brasil, que ocasionaram transformações no
aparato estatal ligado ao tema; a ocorrência de
desastres internacionais de grandes dimensões;
uma série de desenvolvimentos na área de teo-
rias sociais que colocam a questão dos desastres
em novas chaves de análise, tal como reportado
brevemente nas sessões anteriores deste artigo.
57
No Brasil, uma das primeiras teses das
Ciências Sociais no tema foi As enchentes como
tragédias anunciadas: impactos da problemáti-
ca ambiental nas situações de emergência em
Santa Catarina, de autoria de Marcos Mattedi
(1999). Ao realizar uma análise documental da
construção sócio-histórica da problemática das
enchentes em Santa Catarina, o autor destacou
o modo como governos e a sociedade civil
lidaram com as inundações que ocorrem em
Blumenau(SC) desde a época da fundação do
município em 1880. Foi a partir do padrão
de ocupação do espaço geográco entre o li-
toral e o planalto e das formas de manejo dos
recursos dessa região que passam a se registrar
os primeiros casos de situação de emergência,
que ocasionavam dois tipos de problemas: o
isolamento, em função da interrupção dos
meios de comunicação entre a comunidade
e as outras localidades, pela interdição de
estradas, “destruição de pontes e perda de
navegabilidade dos rios e, ao mesmo tempo,
o esgotamento da reserva de alimento ou a
diculdade de acesso a ele em função do iso-
lamento” (MATTEDI, 1999, p.140). De um
ponto de visto histórico, as estratégias de con-
frontação dos riscos em Blumenau não foram
implementadas em função de sua adequação
ao problema, mas visaram estimular a lógica
de reprodução socioeconômica (MATTEDI,
1999). Isto é, os desastres não foram trata-
dos como um problema em si, mas para a
instrumentalização política e externalização
de interesses. O atendimento das reivindica-
ções era determinado, principalmente, pelas
relações de poder existentes na região e pelos
processos decisórios. O que prepondera no
caso do Vale do Itajaí(SC), segundo Mattedi
(1999, p.157), é o “monopólio de contato com
o poder público exercido pela elite econômica
da região, que restringe tanto a organização das
reivindicações desses setores como também os
canais de encaminhamento das demandas dada
a vocação autoritária e clientelista”.
Esse padrão de construção social do ris-
co e a ocorrência de desastres marcaram a
história brasileira ao longo do século XX. Na
década de 1960, testemunhamos a tragédia
de 1966 no estado da Guanabara (atual Rio
de Janeiro) e no estado de Pernambuco, e as
catástrofes de 1967 na Serra das Araras (RJ)
e no município de Caraguatatuba (SP). Em
Caraguatatuba (SP), historiadores relataram
algumas memórias sobre o desastre, contes-
tando o número ocial de mortes: “Impossível
dizer-se o número verdadeiro dos habitantes
mortos […] Famílias inteiras [de caiçaras]
caram soterradas sob toneladas de lama, sem
que se saiba, até hoje, quem eram as pessoas,
ou que nome tinham! Falou-se em 500 [mor-
tes], mas sabe-se que foram muitos, muitos
mais…” (SANTOS et al., 2000, p.376-377).
Nas décadas de 1970 e 1980, desastres
“ociais” foram reportados em Contagem
(MG) (1971), Pernambuco (1975), na
grande seca na região Nordeste, nas inun-
dações do estado de Santa Catarina (1983),
Petrópolis (RJ) (1988) e Salvador (BA)
(1989) (INSTITUTO BRASILEIRO DO
MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS
NATURAIS RENOVÁVEIS, 2002). A dé-
cada de 1980 ainda testemunhou o desastre
radioativo do césio 137 em Goiânia, analisado
pela antropóloga Telma Camargo da Silva, em
sua tese Radiation illness representation and
experience: the aftermath of the Goiânia radio-
logical disaster (SILVA, 2002). A antropóloga
desenvolveu um longo trabalho etnográco,
com diversas publicações sobre o tema. Entre
os trabalhos recentes decorrentes desse longo
percurso está a análise das formas de silen-
ciamento impostas sobre grupos sociais que
vivenciam, por longos anos a o, situações
de desastre e os novos estigmas que surgem
no decorrer dessa memória traumática, como
as diferentes gerações das “persona césio” do
desastre radioativo de Goiânia, situado o-
cialmente em 1987 (SILVA, 2002, 2017). A
58
autora reporta-se à Veena Das (1987, 1998),
para quem o silêncio das vítimas é uma das
formas de expressão de agência em contex-
tos de dor e eventos críticos. É a partir desse
referencial teórico que Silva (2017) entende
o silêncio dos jovens, vítimas do desastre de
Goiânia, como uma forma particular de lin-
guagem e resistência. Entretanto, a autora
ressalva que o fato de o antropólogo enquadrar
seu objeto como evento crítico tem impli-
cações de ordem metodológica: a necessária
coleta de narrativas; a questão da inserção do
antropólogo no campo; a demanda de uma
“agência” pós-escrita etnográca; a articulação
das relações entre os aspectos macro e micro
dos eventos estudados. O olhar antropológico
deve captar o sofrimento engendrado nessa
tessitura entre o contexto macro e as experi-
ências que os indivíduos vivenciam em seus
cotidianos, a singularidade dos sujeitos que,
ao serem impactados pelas violências impe-
tradas pelo Estado, “reelaboram e rearticulam
as suas experiências cotidianas e suas relações
interpessoais em seu dia a dia [de modo a]
interpretar como estas ressignicações e estes
modos de viver são traduzidos nas narrativas
construídas no/pelo encontro etnográco”
(SILVA, 2010, p. 18).
A partir da década de 2000, novas trans-
formações ocorreram nessa trajetória de de-
sastres vivenciados no Brasil e nos estudos
realizados pelas ciências sociais. No campo
da pesquisa social em desastres, a produção
cientíca do Neped/Ufscar) impulsionou o
debate sobre o tema a partir da publicação
de quatro volumes da coletânea Sociologia
dos Desastres: construção, interfaces e perspec-
tivas no Brasil (VALENCIO, 2010b; 2013;
VALENCIO; SIENA, 2014; VALENCIO et
al., 2009). As atividades de pesquisa e extensão
e as publicações cientícas daí decorrentes di-
versicaram o rol de problemáticas analisadas,
tecendo interfaces com diferentes tipos de
vulnerabilidade diante de desastres, tais como:
dimensões objetivas e subjetivas da vulnerabi-
lidade socioespacial, considerando os recortes
de classe, etário, de gênero, religioso, de pes-
soas com deciência e populações tradicionais
(EVANGELISTA, 2009; GERALDI, 2009;
KOGA, 2009; SARTORI, 2014; SIENA,
2006, 2009). Também se buscaram interfa-
ces com o tema de educação para a redução
de desastres (PAVAN, 2009; VALENCIO
et al., 2008) e vulnerabilidade institucional
do Estado brasileiro na redução dos de-
sastres (GONÇALVES; MARCHEZINI;
VALENCIO, 2012; VALENCIO, 2009,
2012; VALENCIO et al., 2005, 2006).
Outro recorte importante da produção
cientíca no tema se refere às pesquisas reali-
zadas no âmbito das diferentes “fases de um
desastre”, ou seja, no contexto da prevenção,
preparação, resposta e recuperação. Embora
seja muito difícil separar um processo com-
plexo a partir de fases, essa distinção é muita
utilizada no meio acadêmico internacional. No
âmbito da resposta a desastres, encontram-se
os estudos sociológicos feitos por Siena (2009)
e Marchezini (2010, 2014b) a respeito dos
abrigos temporários, que focaram na análi-
se dos desastres da Região Serrana do Rio
de Janeiro (2007) e do desastre de 2008 no
Vale do Itajaí (SC). Em sua dissertação em
sociologia, Siena (2009) analisou os conitos
entre gestores(as) e abrigados(as) a partir da
perspectiva de gênero e as diferentes formas
de violência que não ganham visibilidade.
O desastre em Santa Catarina também foi
analisado no âmbito da antropologia. Silva
(2013) analisou as narrativas da experiência
de vitimização, vulnerabilidade e sofrimento
conformadas na memória dos habitantes que,
diante das diferentes formas de racionalidade
cientíca, burocrática e tecnicista dos órgãos
do Estado, tecem suas formas de resistência.
Essas narrativas da continuidade do desastre
se prolongam nos “campos de desabrigados”
(MARCHEZINI, 2010, 2014b), uma zona
59
de indistinção entre o público e o privado,
um espaço que conna um estado de exceção
(AGAMBEN, 2004), isto é, um “estado da lei
em que, de um lado, a norma está em vigor,
mas não se aplica (não tem ‘força’), e em que,
de outro lado, atos que não têm valor de lei
adquirem sua força” (AGAMBEN, 2004, p.
61). Estado de exceção é a regra quando se
analisam desastres no Brasil. Ao regressarem,
em 2011, nos cenários de desastres de Jaboatão
dos Guararapes (PE) (2005), Vale do Itajaí (SC)
(2008), União dos Palmares (AL) e Barreiros
(PE) (2010) e Região Serrana do Rio de Janeiro
(2011), Valencio, Marchezini e Siena (2011)
identicaram múltiplas dimensões de sofri-
mento social vivenciadas pelos “abandonados
nos desastres
9
”, como a paulatina desassistência
social, a vivência em condições insalubres, ado-
ecimento, entre outros aspectos. Essas formas
de abandono não se restringem ao período de
reconstrução e recuperação, mas também se
aplicam a políticas de prevenção e resposta,
embora alguns desses desastres sejam negligen-
ciados (WISNER; GAILLARD, 2009), como
a inundação histórica de Manaus em julho de
2009, quando mais de 400 mil moradores dos
igarapés da capital amazonense estavam à espera
de socorro, tendo que viver com cobras, ratos,
riscos de eletricação e as águas “até o pescoço”
(VALENCIO et al., 2012).
No tema da reconstrução e recuperação em
desastres, ainda encontram-se estudos feitos no
âmbito da sociologia (MARCHEZINI, 2013;
SIENA, 2012; VARGAS, 2013) e da antropo-
logia (SILVA, 2002; SILVA, 2013). Ao analisar
as lógicas de poder, os discursos e as práticas
dos sujeitos no processo de recuperação após
a inundação de São Luiz do Paraitinga (SP),
Marchezini (2013, 2014c, 2015a) identicou
um conjunto de técnicas, mecanismos de poder
e dispositivos de segurança que compõem a
9 Diversos casos de estudo sobre essas formas de abandono em desastres podem ser encontrados em Valencio (2012).
biopolítica do desastre: desastres são inseridos
numa série de acontecimentos prováveis, pas-
sam por cálculos de custo, elaboram-se métodos
de observação, técnicas de registros de informa-
ções e dados, ou seja, entram numa estatística.
Ainda, desenvolve-se um conjunto de técnicas,
mecanismos de poder e dispositivos de seguran-
ça no intuito de tentar gerenciar os que estão
no cenário de desastre e os problemas que se
apresentam: produzem-se classicações para
criar discursos de verdade, tornando a realidade
produzida como administrável e quanticável,
objetivando, assim, enquadrar a complexidade
dos problemas sociais revelados na cena em
algo propício à gestão técnica, dando ênfase a
aspectos dessa realidade que possam ser “solu-
cionáveis”. Essas técnicas, mecanismos de poder
e dispositivos de segurança permitem, num
primeiro momento de emergência, fazer crescer
as forças do Estado por declarações de estado
de exceção (AGAMBEN, 2004), como situação
de emergência, estado de calamidade pública,
estado de sítio, entre outros mecanismos.
Nesse período de emergência, a ênfase nas
ações de resgate, busca e salvamento, doações
de alimentos, organização de abrigos tempo-
rários, trabalho voluntário e a solidariedade
da sociedade civil compõem essas formas de
“fazer viver” a vida em seu sentido biológico.
Entretanto, em dado momento, a emergência
cessa e o desastre não é mais noticiado, a as-
sistência social se esvai, assim como o trabalho
voluntário e a solidariedade. Nesse processo
de “deixar morrer”, o desastre persiste na vida
cotidiana dos atingidos com diferentes formas
de sofrimento social e tentativas de resistência.
No caso de São Luiz do Paraitinga, embora
ninguém tenha morrido durante as inundações
de janeiro de 2010, há diversos relatos locais
e pesquisas que apontam para processos de
adoecimento, depressão e sofrimento social,
60
sobretudo de idosos, que vieram a falecer no
decorrer da reconstrução (MARCHEZINI,
2013; SANTOS, 2015; SARTORI, 2014).
São vários discursos e práticas cujas análi-
ses pelas ciências sociais revelam as narrativas
de sofrimento social e resistência, os jogos de
poder e as lutas pelas classicações em torno
das denições do que é o desastre. As catás-
trofes da Região Serrana do Rio de Janeiro
e o rompimento da barragem em Mariana
(MG) – que atingiu a Bacia do Rio Doce e
se estende da sua foz pelo Oceano Atlântico,
sendo difícil precisar a área atingida – são os
exemplos mais recentes desses desaos postos
às ciências sociais nos desastres. Ao analisar o
caso serrano de Teresópolis (RJ), Vargas (2013)
realça a formação do campo de forças entre os
múltiplos agentes e suas interpretações que,
pertencentes a posições e racionalidades diver-
sas, expressam as tensões e disputas nas lutas
pelas classicações em torno dos desastres.
Nesses jogos de poder, há formas de imposição
monofônica do conhecimento cientíco e
técnico, além de tentativas de silenciamento
da vocalização das expressões de resistência
dos afetados. Lógica que também se repro-
duz, porém de formas diferenciadas e mais
amplas, nas diversas territorialidades atingidas
pela lama tóxica da barragem colapsada em
Mariana (MG) (CALDAS, 2017; MILANEZ;
LOSEKANN, 2016; ZHOURI et al., 2016).
Os lugares e modos de vida das inúmeras
comunidades ribeirinhas na bacia do Rio Doce
foram se constituindo historicamente, mas
somente com a posterior inserção do mega-
empreendedor minerário no território é que
seus lugares foram transformados em “áreas
de risco”, sujeitas a catástrofes (ZHOURI et
al., 2016). Segundo Zhouri et al. (2016), com
base em dados de Viana (2012), o desastre
provocado pela Samarco já era temido pelos
moradores antes do rompimento: 68% dos
entrevistados no distrito de Bento Rodrigues
relataram medo em relação ao rompimento das
barragens; 94% reclamaram quanto à poluição
das águas causada pelas operações da Samarco;
64% temiam que suas propriedades pudessem
ser desapropriadas pela empresa. Com o rom-
pimento da barragem, aqueles que já eram
afetados pela operação do complexo minerário
sofreram perdas de vida e a deterioração de
sua saúde, além de bens materiais e do com-
prometimento permanente de seu território.
De atingidos passaram a vítimas, com o pleno
direito de compensação pelos danos materiais
e morais. Entretanto, diversos jogos de poder,
classicações e ações adotadas por parte do
Estado e das empresas têm sido desenvolvidos
no sentido de gerir o desastre tecnológico a
partir da “resolução negociada de conitos”
(ZUCARELLI, 2016), que, sob o manto da
mediação e do acordo, por vezes propõem
uma espécie de barganha de medidas repara-
tórias e compensatórias, operam imposições
excludentes e exibilizam direitos já garantidos
pela Constituição Federal. Zhouri et al. (2016)
alertam não somente para as assimetrias de
poder entre os envolvidos – órgãos do Estado,
empresas, comunidades atingidas etc. –, mas
também sobre as formas de participação e
marginalização das mobilizações locais dos
atingidos. Salientam que não se pode perder de
vista a construção das narrativas empresarial,
governamental e técnica sobre o que é um
desastre, porque são dinâmicas e irão denir
a forma como a crise social irá se desdobrar,
uma vez que é frequentemente intensicada
pelos encaminhamentos institucionais que
são empreendidos.
A respeito da narrativa empresarial,
Zhouri et al. (2017) atentam para o modo
como as reivindicações das vítimas do desastre
são tolhidas e recodicadas pelas taxinomias,
racionalidades e técnicas do gerir corporativo
que denem as formas de reparação dos danos,
bem como os modos de reconstrução do viver.
Lógica semelhante, mas em um menor grau
de complexidade, foi vericada no desastre de
61
São Luiz do Paraitinga (SP), onde as vítimas
tiveram seus danos enquadrados segundo a ra-
cionalidade governamental e seus formulários
de Avaliação de Danos (Avadan) – atualmente
em uma versão mais simplicada, intitula-
da Formulário de Informação de Desastre
(Fide) (MARCHEZINI, 2013, 2015a;
MARCHEZINI; SARTORI; GONÇALVES,
2017).
Também não se podem perder de vista
as dinâmicas de ação coletiva dos afetados, a
construção de suas reivindicações e estraté-
gias de resistência, principalmente a longo
prazo. Ao circunscrever sua análise sobre os
afetados pelo rompimento da barragem da
Samarco na porção capixaba da Bacia do Rio
Doce, Losekann (2017) apresentou emer-
gentes processos de mobilização cujos meca-
nismos emocionais têm importante papel na
construção da ação coletiva. Muitos desses
processos podem ser identicados como estra-
tégias de resistência, embora vários discursos
governamentais tentem enquadrá-los sob um
dispositivo de segurança não conitivo, atual-
mente ornamentado sob o nome de resiliência
(MARCHEZINI, 2015c). Futuros estudos
das ciências sociais precisam analisar novas
dinâmicas sociais nesse campo de poder que
envolve o tema dos riscos e desastres.
Considerações nais
Diante da intensicação de diferentes
tipos de vulnerabilidades e das mudanças
ambientais globais, diversas agências da
Organização das Nações Unidades (ONU) e
seus respectivos fóruns multilaterais – Marco
de Ação de Sendai (2015), Acordo de Paris
(2015) e Nova Agenda Urbana Habitat III
(UNITED NATIONS CONFERENCE
ON HOUSING AND SUSTAINABLE
URBAN DEVELOPMENT, 2016) – reco-
mendam a urgência em promover que o foco
da descoberta cientíca se direcione para
a resolução de desaos de desenvolvimen-
to urgentes, com vistas a reduzir os riscos
de desastres e as inúmeras perdas e danos
que ocasionam no curto, médio e longo
prazo – como consequência das mudanças
ambientais globais. As ciências sociais têm
muito a contribuir com o debate, embora
sua participação cientíca brasileira no tema
ainda seja incipiente. Desastres são fruto de
estratégias falhas de desenvolvimento, mas
também podem acentuar problemas crôni-
cos como a desigualdade social, a injustiça
ambiental, a violência, a pobreza (LAVELL;
MASKREY, 2014). Embora tais processos
complexos também ensejem mudanças po-
sitivas, não se pode fechar os olhos para di-
nâmicas socioambientais urgentes que estão
em curso, como fruto da interação entre a
crescente degradação e superexploração do
meio ambiente e as mudanças climáticas
antropogênicas (OLIVER-SMITH et al.,
2016).
Em busca de novas questões de pesquisa às
ciências sociais, espera-se que novas disciplinas
sobre a temática de desastres e mudanças am-
bientais globais possam ser criadas no âmbito
da graduação e nos cursos de pós-graduação,
além de organização de eventos e números
especiais em revistas cientícas. Ademais, seria
importante que agências de fomento criassem
editais para impulsionar pesquisas das ciências
sociais nessa área. Uma recomendação impor-
tante é que as ciências sociais se mobilizem
para considerar o tema como algo que não é
de domínio exclusivo das ciências naturais,
mas que criticamente colaborem para des-
naturalizar o desastre “natural” (O’KEEFE;
WESTGATE; WISNER, 1976; OLIVER-
SMITH et al.; 2016), assim como pesquisem
as causas básicas dos desastres e as pressões
dinâmicas que colaboram para a construção
social do risco de um desastre (WISNER et al.,
2004). Ademais, seria frutífero reunir esforços
para uma agenda de pesquisa no tema, tal
62
como proposto por Taddei (2014) e Rodrigues
et al. (2015), além de pôr em debate meto-
dologias e formas de relacionar-se com outras
ciências (LAVELL, 2005; VALENCIO, 2017)
quando nos deparamos com desaos comuns
e complexos, tais como os desastres e as mu-
danças ambientais globais.
Agradecimentos
A pesquisa foi nanciada com recursos da
Fapesp e do CNPq. As opiniões, conclusões e
recomendações expressas neste material são do
autor e não necessariamente reetem as visões das
instituições de nanciamento e ao qual pertence.
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Resumo
As ciências sociais nos desastres: um campo de pesquisa em construção
O envolvimento cientíco das ciências sociais com o tema “desastres” ocorre principalmente a partir da década
de 1970, com o desenvolvimento da sociologia dos desastres nos Estados Unidos da América e também de outras
vertentes que criticam a concepção de desastres “naturais”, como alguns cientistas britânicos e outros da La Red de
Estudios Sociales en Prevención de Desastres en América Latina (La Red). No Brasil, de que modo as ciências sociais
têm se envolvido com o tema “desastres”? Este estudo objetiva reetir sobre essa questão, contribuindo com pesquisas
anteriores que analisaram o envolvimento da antropologia brasileira e da produção cientíca nacional no período entre
2000 e 2013. Os resultados mostram que o envolvimento de cientistas sociais brasileiros nesse tema é recente, embora
haja histórico de desastres no país.
Palavras-chave: Desastres Socioambientais; Vulnerabilidade; Sociologia dos Desastres; Antropologia dos Desastres;
Risco.
Abstract
Social sciences applied to disasters: a research eld under construction
Social sciences began studying disasters in the 1970s, when sociology of disasters was founded in the United States
of America, such as other approaches that criticize the idea of “natural” disasters developed by the Latin American
Network for the Social Study of Disaster Prevention (La Red) and some British scholars. How do Brazilian social
studies develop the “disaster” eld? is study aims to reect about this question, and contributes with previous
researches that analyzed the eld of disasters’ anthropology in Brazil and the Brazilian scientic production about
this theme from 2000 to 2013. e results showed that Brazilian social scientists started studying this theme recently,
although the country has historical records about disasters.
Keywords: Social-environmental Disasters; Vulnerability; Sociology of Disasters; Anthropology of Disasters; Risk.
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Résumé
Les sciences sociales dans les catastrophes: un domaine de recherche en construction
La participation scientique des sciences sociales avec le thème «catastrophes» arrive surtout à partir des années 1970,
avec le développement de la sociologie des datastrophes aux États-Unis, et aussi d’autres dimensions qui critiquent la
conception de catastrophes «naturels», comme quelques chercheurs britanniques et autres de La Red De Estudios
Sociales en Prevencion de Desastres en America Latina (La Red). Au Brésil, comment les sciences sociales travaillent le
thème «catastrophes»? Cet article a comme but de rééchir sur cette question, en aidant des recherches précédentes
qui ont analysé la participation de l’anthropologie brésilienne et de la production scientique national dans le période
entre 2000 et 2013. Les résultats montrent que la participation de spécialistes brésiliens en sciences sociales dans ce
thème est récente, bien qu’il y eût historique de catastrophes dans le pays.
Mots-clés: Catastrophes Socio-environnementales; Vulnérabilité; Sociologie des Catastrophes; Anthropologie des
Catastrophes; Danger.
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